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NEGO-FUGIDO
Manifestação da Alegria
Salvador – BA – 2010
MOISÉS ELVISMAR PADILHA
mepadilh@hotmail.com
NEGO-FUGIDO
Manifestação da Alegria
Salvador – BA – 2010
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 4
2. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA 5
3. O NEGO-FUGIDO 7
4. A BRINCADEIRA DO NEGO-FUGIDO 8
5. CONCLUSÃO 12
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13
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1. INTRODUÇÃO
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Atividade ritual que se expressa como manifestação coletiva composta de elementos
dramático, musical e coreográfico. O folguedo integra dimensões festivas, musicais, estéticas e
dramáticas. O componente dramático, nem sempre explicitamente encenado, é sempre
identificável nos trajes especiais, na organização de danças, cantorias, embaixadas, cortejos e na
existência de personagens. As apresentações ocorrem em ruas e praças públicas, ou em terreiros
e estádios, especialmente nos dias de festas do calendário litúrgico ou profano.
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Designa os artistas populares dedicados aos folguedos tradicionais; onde podem cantar,
dançar, tocar instrumentos, etc.
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2. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA
3. O NEGO FUGIDO
Não se sabe bem ao certo quando e nem onde começou esta encenação teatral
popular, que conta com características carnavalescas, caricaturas de um passado
organizado a partir das narrativas populares e suas impressões sobre a escravidão e tudo
regado das pluraridades das versões da realidade vivenciadas durante todos esses anos.
Sob uma perspectiva não oficial, o nego-fugido passa a ter uma característica
de documento que reconstitui o passado escravocrata que perdurou no Brasil, e
especificamente em Santo Amaro, Bahia até o ano de 1888 com a assinatura da Lei
Áurea.
Como tudo que é mantido pela oralidade e memória visual, o nego-fugido
sofreu modificações e adequações no decorrer dos anos, porém nada que retirasse suas
características básicas que o tornam instrumentos possibilitadores da identificação do
momento histórico que inspirou sua criação, específicos e únicos até hoje.
As impressões populares pós-escravidão sobre o mundo escravista são
sintetizadas numa versão acupense, trazendo personágens teatralizados que constituiam
a organização social da época: o rei, o capitão-do-mato, o escravo, o soldado, o povo, o
senhor e a madrinha que representa nos tempos atuais, o papel de protetora dado à
Princesa Isabel.
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4. A BRINCADEIRA DO NEGO-FUGIDO
pessoas que estão assistindo e com a boca escorrendo aquela baba vermelha, dando um
tom de dramaticidade, começam a pedição.
Os pedidos são para que os espectadores libertem-os, pedem dinheiro e
oferecem seus serviços num lamento coletivo, demonstrando toda a sensibilização
através do jogo simbólico, já que as contribuições não são obrigatórias, mas não são
negadas por ninguém, isso se repete por todos os lugares por onde passam até que a
angariação se reflita na quantia apropriada para a compra de sua carta alforria3. Assim
que é arrecadado o dinheiro dado pelas pessoas, os caçadores os levam à presença do
Rei que está cercado pelos soldados que vestem calças azul marinho, camisas de
mangas curtas azul claro, quepes, botas e na cintura, revólveres de brinquedo.
Vale destacar a presença suntuosa do personagem que representa a figura do
Rei, vestido de branco, com um manto que cobria seu tronco de cores vibrantes em
vermelho, azul e dourado, assim como a coroa que trazia na cabeça com as mesmas
cores e símbolos do manto. Traz ainda, pendurada na cintura, uma espada de madeira e
uma bolsa de couro onde é colocado o dinheiro arrecadado pelos negos.
A representação do poder real detentor da possibilidade de alforriar,
mediante pagamento, fica evidente quando da aproximação das “negas”, que solicitam a
liberdade após os cumprimentos obrigatórios feitos de joelhos, mostrando nesse
momento a submissão perante uma autoridade.
Após o Rei guardar o arrecadado em sua bolsa, ordena a libertação dos
fugitivos e num ciclo é retomada toda a encenação, passando toda a tarde numa
circularidade de ações: fuga, batuque, chegada dos caçadores, captura, pedição, ida até o
Rei, pagamento, liberdade e volta ao batuque.
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Documento de libertação de escravos no Brasil e em outras colônias européias. Os escravos
poderiam conseguir a carta de alforria através da livre vontade dos seus senhores ou através de
quantia em dinheiro oferecida pelo escravo ao senhor. Muitas vezes este acordo era
desrespeitado pelos senhores de engenho e por isso houve casos de escravos que conseguiram
uma espécie de tutor, que os representassem na justiça contra seus senhores, para conseguirem
através de uma intervenção estatal, a liberdade que fora negada por seus proprietários.
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5. CONCLUSÃO
Comprovadamente o Nego-fugido tornou-se parte viva da memória dos
antepassados da comunidade de Acupe. Com todas as transformações ocorridas durante
os anos, manteve-se graças aos moradores, preservando as principais características do
início do século.
Os elementos constitutivos do Nego-fugido causam furor e despertam na
consciência coletiva a necessidade da preservação da memória de fatos que ocorreram
muitos anos atrás. A identidade resgatada durante as apresentações nos domingos do
mês de Julho, época escolhida para “ocupar o tempo” ocioso até o momento pelo
defeso, reaparece forte nas caras e línguas pintadas, nas expressões corporais, nos
cantos e danças típicas da época da escravidão. Torna-se, com tudo isso, elemento
essencial para o divertimento e o lazer de toda uma comunidade, transmitida de geração
em geração através da memória oral e visual.
A experiência de assistir ou conversar com os integrantes desse folguedo
revela toda a paixão demonstrada nos olhares, nas falas e nos gestos de cada um dos
participantes, mesmo quando não estão caracterizados. Também aqueles moradores que
não participam diretamente das apresentações envolvem-se totalmente com a
rememoração e a criação desse momento lúdico único.
Vale à pena destacar as crianças que representam o Nego que foge para o
lazer, a brincadeira, a dança e o namoro, incluidas na manifestação muito tempo depois
através de releituras. Mesmo com o passar dos anos, as novas tecnologias sendo cada
vez mais acessíveis e as distâncias diminuídas pelas facilidades de transporte e
comunicação, observa-se uma grande participação infantil em todas as apresentações.
Essas participações são motivadas pelos avôs, pais, tios e irmãos que também bricaram
ou ainda brincam de Nego-fugido em todas as oportunidades, tornando-se um
importante legado e que possibilita a continuidade dessa prática.
Há de se resaltar a sustentabilidade dada pelas comissões formadas pelos
próprios participantes, capitaneada pelos mais experientes e fortalecida pelos mais
jovens. Com a formação dessas comissões pôde-se verificar uma organização que está
garantindo a existência e valorização do Nego-fugido, a ampliação do público, que hoje
ultrapassa os limites regionais, levando a alegria, simpatia, generosidade e hospitalidade
caracteríscas do Recôncavo Baiano para todos os povos.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS