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PRONUNCIAMENTO DO SR.

DEPUTADO PAULO ROCHA


NA SESSÃO DO DIA 11 DE MAIO DE 2005

172 ANOS DE CACHOEIRA DO ARARI

Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Deputados
Quero render minhas homenagens, neste dia 10 de maio, aos
moradores de um dos mais tradicionais municípios da Ilha do Marajó,
no Pará: Cachoeira do Arari que completa 172 anos de emancipação
política. Impossível falar desse município sem fazer referência ao
romance “Chove nos Campos de Cachoeira”, do escritor Dalcídio
Jurandir que, apesar de não ser cachoeirense, passou toda a sua
infância e juventude naquela cidade que lhe inspirou uma de suas
maiores obras.
Não poderia deixar também de fazer referência ao escritor
cachoeirense João Viana e ao padre italiano Giovanni Gallo cujas vidas
e obras marcaram a história da cidade. Autor de “A Fazenda
Aparecida” e “Capitão Colodino”, João Vianna, premiado e membro da
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Academia Paraense de Letras, escreveu os usos e costumes de sua
gente assim como o romance de Dalcídio e o livro-reportagem de
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Giovanni Gallo que mostram faces diversas e complementares.


O padre Gallo é aquele marajoara que nasceu na Itália, e veio a
Cachoeira do Arari se naturalizar da maneira a mais radical, na vida e
na morte. Virou estrela. Homem-instituição a ponto de não se saber
mais se o Museu do Marajó, sua maior obra, que ele inventou no lugar
o mais absurdo para tal instituição, é expressão da personalidade de seu
criador ou se o homem encarnou o museu a ponto de se tornar a “peça”
mais saliente do acervo.
Dalcídio Jurandir dispensa comentários. No Marajó, ele continua
sendo o filho do capitão Alfredo Nascimento Pereira, mas, para o
Brasil, e até no exterior, o autor de “Chove nos Campos de Cachoeira”
é o mais importante romancista da Amazônia.
Por tudo isto, a escola de musica João Vianna, o Museu do
Marajó e a casa de Dalcídio Jurandir acabaram se tornando patrimônio
marajoara inalienável. Constituem hoje um conjunto histórico não só
da cidade de Cachoeira, mas, também do Marajó inteiro, do Pará e do
Brasil.
Não é de estranhar que um município tão pequeno da distante
Ilha do Marajó parisse filhos tão célebres. Cachoeira do Arari tem uma
história que começa há 258 anos com a velha Freguesia de N.S. da
Conceição da “Cachoeira do rio Arari”, de 1747, centro histórico da
cidade em torno da igreja matriz de N. S. da Conceição, berço da Villa
da Cachoeira, emancipada em 1833.
Situada na grande ilha do Marajó com seus doze municípios,
distribuídos ao longo de 50 mil quilômetros quadrados (maior do que
os Países-Baixos, ou o estado de Sergipe) Cachoeira compõe o
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contexto histórico e geográfico da área geocultural da bacia Arari,
constituída também pelos municípios de Ponta de Pedras e Santa Cruz
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do Arari, cujo eixo de integração é com tudo que ela contém em


matéria de povo, cultura, natureza, riquezas e paisagem.
A área Arari oferece ao Marajó, ao Pará e ao Brasil a civilização
neotropical Marajoara. Temos assim, no ano 1000 a.C., a fase
arqueológica Ananatuba, a mais antiga conhecida até hoje. Por volta de
1400, acontece a invasão dos Aruãs (última fase arqueológica, segundo
o esquema mais difundido que compreende ainda as fases Mangueira,
Formiga e Marajoara) dada como extinta em 1820, aproximadamente.
Esta história, anterior à presença dos europeus, - apenas há pouco
começou a ser vislumbrada com auxílio da antropologia e da
arqueologia – que os brasileiros desconhecem, é objeto de estudo do
Museu do Marajó.
A partir de 30 de janeiro de 1500, os primeiros navegadores
espanhóis, como Vicente Pinzon, já começavam a seqüestrar os
primeiros escravos indígenas do Brasil, na contracosta da ilha do
Marajó, provavelmente na aldeia dos Aruãs (Chaves).
Terminada a expulsão dos estrangeiros em mais de vinte anos de
peleja (de 1623 até 1647) restou aguerrida resistência dos Aruãs,
Anajás, Mapuás e outras etnias marajoaras à colonização portuguesa.
Foi neste contexto que emergiu a área geocultural Arari. Da
capitania hereditária da ilha grande de Joanes (1660) seguiu o regime
de sesmarias donde o capitão-mor Fernandes Gavinho, preposto do
donatário Antônio de Sousa de Macedo, secretário de estado d’El-Rei;
deu lugar ao primeiro curral de gado levantado por Francisco
Rodrigues Pereira, no Rio Mauá, tributário do Arari, no ano de 1680.
Daí surgiria a fazenda de Florentino da Silveira Frade, que deu terreno
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à Freguesia de N.S. da Conceição da Cachoeira do rio Arari, em 1747.
Neste contexto, a microrregião Arari chega até nossos dias,
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devido à dificuldade de transporte e comunicação desmembrada de


Monsarás, enquanto a navegação do rio Arari iria favorecer o
abastecimento de Belém com a pesca no Lago Arari e a pecuária dos
campos do Marajó, na relação histórico-geográfica entre a Ilha e o
Continente.
Antes de encerrar, gostaria de registrar meu próprio empenho no
sentido da conservação do patrimônio histórico e cultural de Cachoeira
do Arari, principalmente a escola de musica João Vianna, o Museu do
Marajó e a casa de Dalcídio Jurandir. Tenho conseguido sensibilizar e
obter ajuda e recursos com o que podemos sonhar com o uso
sustentável de todo esse patrimônio para a geração de emprego e renda,
e o bem-estar de nossa gente.
Era o que tinha a dizer

Paulo Rocha
Deputado Federal PT/PA

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