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HISTÓRIA

DE
ARAUCÁRIA
CIDADANIA
ESPAÇO

ESPAÇO MEMÓRIA

CULTURA

POR RAFAEL DE JESUS ANDRADE DE ALMEIDA


1- Tempo presente
2- Tinguis
3- Luso-brasileiros
4- Negros
5- Tropeiros
6- Tindiquera, Freguesia do Yguassú, Araucária
7- Imigrantes
8- Erva-mate
9- Madeira
10- Antigas Fábricas
11- Lugares da memória
Onde estamos?
De onde viemos?
Para onde vamos?
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1-TEMPO PRESENTE
Esta é a cidade e eu sou um dos cidadãos.
Tudo que interessa aos outros me interessa: política,
guerras, mercados, jornais, escolas, o prefeito e a câmara
municipal, bancos, tributos, barcos, fábricas, reservas,
armazéns, bens móveis e imóveis.
(WALT WHITMAN, Song of myself, 42)

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ARAUCÁRIA,
TERRA DOS
MIGRANTES

Construção do conjunto Moradias Tayrá no bairro Cachoeira, em 1992.


Foto Cinthia Filetti. Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Gente de todo o Brasil! Migrantes de um
número incontável de cidades brasileiras e até
mesmo de outros países, convivendo,
divergindo, trabalhando, debatendo,
sobrevivendo, enriquecendo, casando,
construindo, fabricando, comprando,
vendendo, escrevendo, militando, estudando,
vivendo e conjugando muitos outros verbos no
gerúndio.
Vista aérea da região do Tupy, foto de 2015. Secretaria Municipal de Comunicação
Social.
Pessoas de lugares tão diferentes entre si,
que seria inimaginável até o final da
década de 1960, que, num único
município, tanta diversidade étnico-racial,
tantos sotaques, hábitos alimentares e
visões de mundo se fariam presentes de
uma só vez.
Inauguração
do Terminal
Rodoviário,
1976
De uma cidadezinha com pouco mais de 17 mil
habitantes em 1970, Araucária, em menos de
meio século se converteu numa cidade industrial
com mais de 151 mil habitantes. Araucária agora
é a Terra dos Migrantes!
Observação: as estimativas do IBGE em 2022
apontavam para 146 mil habitantes, uma
diferença de 5 mil habitantes.
A Repar é atualmente a maior indústria em porte do sul do
Brasil ocupando uma área de 10 milhões de metros
quadrados. Ela processa por dia 33 mil metros cúbicos de
petróleo.
Sozinha ela é responsável por 12% de toda a
produção nacional de derivados de petróleo, como:
diesel, gasolina, GLP, coque, asfalto, óleos
combustíveis, QAV, propeno, óleos marítimos e
outros. Da produção total, 85% atende aos mercados
de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e sul
do estado de São Paulo, os outros 15%, atende a
outros estados do Brasil ou são exportados para
outros países.
A refinaria é responsável pela metade do ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)
arrecadado pelo município de Araucária. É a maior
contribuinte individual de impostos de todo o estado
do Paraná. Só a arrecadação em ICMS gira em torno de
1 bilhão de reais, sendo que 600 milhões vão para o
governo do estado do Paraná e 400 milhões para o
município de Araucária.
Dezenas de bairros, conjuntos habitacionais e
loteamentos surgiram no rastro do progresso
industrial. Infelizmente nem todos os munícipes
conquistaram o sonho da casa própria ou
conseguiram a regularização dos seus imóveis.
Estima-se que mais de 30 mil araucarienses vivem
em moradias irregulares, isso sem contar o citado
déficit habitacional que aflige tantas outras famílias.
FACEBOOK. Divulgação da
Prefeitura de Araucária.
25/05/2022
A Terra Prometida dos imigrantes poloneses
continua como promessa para muitos
migrantes que aqui se estabeleceram desde a
década de 1970. O sonho de um bom emprego
ou da abertura de seu próprio negócio, que
garanta condições dignas de vida, para que pais
e mães possam criar seus filhos e filhas com
algum conforto, parece distante para muitos.
Vista aérea da região da
avenida Manoel Ribas, 2015.
SMCS.
Os desafios são imensos: qualificação profissional
que garanta empregabilidade aos nossos
munícipes, regularização de imóveis, melhorias da
infraestrutura urbana, criação de novos espaços de
moradia, cuidados com o meio ambiente e
incremento dos investimentos em saúde, educação
e segurança pública são apenas alguns dos
principais desafios que devemos superar nos
próximos anos.
2-TINGUIS
Pesquisas arqueológicas, realizadas no espaço do atual
reservatório do Rio Passaúna pelos professores Igor
Chmyz, João Carlos Gomes Chmyz e Eliane Sganserla,
mostraram a presença do homem na região do atual
Município de Araucária desde 2.000 a.C., ou seja, há
aproximadamente 4.000 anos. Durante o trabalho de
pesquisa, foram descobertos vários sítios arqueológicos
e, através deles, pode-se saber que os grupos mais
antigos moravam em pequenas aldeias e se ocupavam
da caça e da coleta de alimentos pelas matas.
ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. Agricultura e Indústria: memória do trabalho em Araucária. Araucária:
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 2010, p. 14-15.
Gravura
retratando os
Tinguis,
produzida por
Ulricho Shmidel
em sua viagem
pelo Brasil em
1552.
Os sítios arqueológicos, encontrados na área do atual
reservatório do Passaúna, mostram a presença de diferentes
grupos indígenas tupi-guarani nestas paragens muito tempo
antes da chegada dos primeiros europeus. Essas populações
autóctones viviam da caça e da coleta. Habitavam pequenas
aldeias, situadas às margens dos rios Barigui, Iguaçu e
Passaúna, que cortam a região. Entre esses grupos, destacam-se
os índios Tinguis, cuja presença majoritária levou a região a ser
conhecida como Tindiqüera, ou seja pertencentes aos Tingüis, de
acordo com a língua tupi-guarani.
ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. A construção de uma História: a presença étnica em Araucária. Araucária: Secretaria Municipal de Cultura e
Turismo, 2010, p. 10.
KOEHLER, Ana Luiza.
Disponível em:
https://revistapesquisa.
fapesp.br/wp-
content/uploads/2017/
02/078_Proto_02_252.
jpg - Acessado em
27/09/2022 às 11h46.
Infográfico disponível no endereço
eletrônico:
https://www.thinglink.com/scene/76
7474124837617666?buttonSource
=viewLimits
Acessado em 21/01/0219 às
13h56.
Toponímia é o estudo dos nomes próprios dos lugares, rios e
outros elementos geográficos, da sua origem e evolução. Por
isso é uma parte da linguística tão ligada à história, à
arqueologia e à geografia. A toponímia pode nos ajudar a
garimparmos informações importantíssimas sobre a formação
de um determinado lugar.
Etimologia é o estudo da origem das palavras, da sua história,
identificando as línguas das quais essas palavras derivam, como
elas mudaram e quando passaram a fazer parte da nossa língua.
O dicionário especializado que nos traz essas informações é
chamado de Dicionário Etimológico.
Iguaçu, Passaúna, Tindiquera, Boqueirão,
Barigui, Sabiá, Tayrá e Tupi. Basta uma breve
olhada sobre os mapas de bairros, conjuntos
residenciais, ruas e rios de Araucária para
percebermos de pronto a presença indígena
em muitos dos seus nomes. Você sabia que
Tindiquera significa local onde habitam os
Tinguis? E que Iguaçu significa rio grande?
Você já chamou alguém de piá? Seus familiares chamam
os meninos de piazada? Você conhece a origem da
palavra piá? Pois bem, saiba que o substantivo piá
significa menino e era a forma como as mães tinguis se
referiam aos seus filhos meninos. E como foi que esse
substantivo chegou até nós? Homens de origem
europeia se uniram às mulheres tinguis que aqui viviam,
tiveram filhos e filhas que ficaram conhecidos como
caboclos. Por isso caboclo significa procedente do
branco, filho do homem branco, mestiço de branco e
indígena. Portanto quando a mãe tingui ou cabocla
falava “vem cá meu piá” ela também estava dizendo “vem
cá meu filho”
Fragmentos do livro A Saga de Araucária do professor, escritor e
pesquisador Romão Wachowicz.
Quando voltavam da igreja de carroça e encontravam miseráveis
famílias de Tinguis, que iam não se sabia para onde, em busca de algum
socorro sem esperança, e quando o cacique saudava os imigrantes que
viajavam, estes nem sequer se dignavam de olhar para os índios, mas
continuavam sentados firmes sobre a carroça, em silêncio, o olhar
errante fixado na frente. Fingiam que não os viam [...].
Não podia haver maior desprezo e humilhação [...]. (O autor destas
linhas tomou parte num triste encontro desses, quando tinha oito anos,
e essa lembrança lhe traz remorsos. O fato deu-se em 1915, no
quilômetro 5 de Araucária em direção à Lapa, na Estrada do Imperador,
em Bela Vista). WACHOWICZ, Romão. A Saga de Araucária. Curitiba: Gráfica Vicentina Ltda., 1975, p. 12-16
3-LUSO-BRASILEIROS
LUSOS-BRASILEIROS
• 1532: Fundação oficial de São Vicente, por
Martim Afonso de Souza;
• 1534: Criação das Capitanias Hereditárias. As
Capitanias de São Vicente e Sant’Ana,
passavam por território que é hoje parte do
Paraná;
• No que hoje é o Paraná viviam em torno de
200 mil indígenas.
• 1554: Fundação de São Paulo de Piratininga
(hoje São Paulo) e de Ontiveros no lado
espanhol do atual território do Paraná.

Mapa Capitanias Hereditárias, Luiz Teixeira, 1574


O Paraná e o século XVI
Foi nas proximidades de Paranaguá, que
significa Grande Mar Redondo em tupi-
guarani, que foi encontrado o primeiro
ouro do Brasil, dando início ao
povoamento do território do atual estado
do Paraná. Por volta de 1550 a ilha de
Cotinga passou a ser um ponto de
referência para a prospecção aurífera.
As atividades até então ali exercidas eram
praticamente nômades, e foi somente com a notícia
do descobrimento de ouro nos ribeiros da baía de
Paranaguá, que para aí se dirigiu grande número
de habitantes vindos de Cananeia, S. Vicente,
Santos, S. Paulo e até do Rio de Janeiro, atraídos
pelo alvoroço levantado com o descobrimento de
ouro na baía de Paranaguá.”(WACHOWICZ, 2016,
p. 54-55).
Foi com a fundação da vila de São Paulo de
Piratininga, em 1554 pelos Jesuítas, que as
coisas se tornam mais difíceis para os
nativos de Tindiquera. Os Paulistas, como
eram chamados naquele tempo, ou
Bandeirantes, como são mais conhecidos
atualmente, procuravam remédios para a
sua pobreza nos sertões do que hoje
chamamos de Brasil. E os remédios para a
sua pobreza, pensavam os paulistas, eram
pedras preciosas (como diamantes, rubis e
esmeraldas), metais nobres (como ouro e
prata) e indígenas para escravizarem.
Oscar Pereira da Silva - Combate de Botocudos em Mogi
das Cruzes, Acervo do Museu Paulista da USP.
Em 1646 é erigido o pelourinho de
Paranaguá, sendo que em 1648 é fundada a
Vila de Nossa Senhora do Rocio de
Paranaguá, sendo nomeado Gabriel de Lara
capitão povoador e fundador de Paranaguá,
cidade mais antiga do Paraná.
O ouro era pouco, por isso alguns povoadores
resolveram subir a serra em busca do precioso
metal. Em “1646, o capitão povoador Gabriel de
Lara havia descoberto cinco ribeiros que
continham ouro de lavagem” nos Campos de
Curitiba (ARAUCÁRIA, 2010, v. 5, p. 13). Em
1654 Eleodoro Ébano Pereira comandou a
expedição que deu origem ao primeiro povoado
da região dos Campos de Curitiba.
- 1614: Primeira Sesmaria do Paraná obtida por Diogo de Unhate, onde hoje
fica Guaraqueçaba;
- 1617: Gabriel de Lara instalou uma povoação na ilha da Cotinga;
- 1639: Eleodoro Ébano Pereira encontrou ouro no Planalto de Curitiba;
- 1646: Instalação Pelourinho em Paranaguá;
- 1648: Paranaguá torna-se Vila;
- 1649: Eleodoro Ébano Pereira nomeado em 1648 Administrador das Minas e
Capitão das Canoas de Guerra dos Mares do Sul, liderou a primeira expedição
aos Campos de Curitiba, onde registrou a existência de ouro;
- 1650: Ébano Pereira, na sua segunda expedição aos Campos de Curitiba,
encontrou um pequeno povoado às margens do rio Atuba, vivendo da
mineração;
- 1652: mudança da sede do povoado da Vilinha para onde hoje fica a Praça
Tiradentes;
FUNDAÇÃO DE CURITIBA
Óleo
sobre tela
que
retrata a
lenda da
fundação
de
Curitiba,
pintada
por
Theodoro
de Bona,
1947.
Em 1668 Gabriel de Lara ergueu o pelourinho do
povoado que passou a se chamar Nossa Senhora
da Luz dos Pinhais, atual Curitiba. No mesmo ano,
Domingos Roiz da Cunha e sua família solicitam a
Gabriel de Lara uma Sesmaria na região que hoje
conhecemos como Araucária, mas que na época
era conhecida como Tindiquera e que fazia parte
da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
Com o passar dos anos outros povoadores foram
atraídos para a região de Tindiquera. Eram
sesmeiros que estavam interessados na posse da terra
e na exploração do trabalho escravo, especialmente dos
indígenas que aqui viviam ou que para aqui eram
trazidos à força. Acontece que parte desses povoadores
eram mestiços, caboclos, ou seja uma mistura de
brancos com indígenas. De certa forma eram
descendentes de determinados povos indígenas
escravizando outros povos indígenas.
Soldados índios da província de Curitiba escoltando
selvagens, tela de Jean Baptiste Debret de 1830.
Era uma vida difícil, contando apenas
com uma picada que ligava Tindiquera
ao centro da Vila de Curitiba. Eram
pobres e estavam desiludidos com as
pretensões de enriquecimento fácil por
meio da exploração aurífera. Precisavam
desesperadamente de uma saída.
4-NEGROS
Criado em 1º de novembro de 2018 pela lei municipal
número 3.380/2018, o Conselho Municipal de Promoção
da Igualdade Racial, COMPIR, veio em boa hora. Há
muito tempo esperado, o Conselho tem por missão
maior, na letra da lei: garantir à população negra a
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos
direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o
combate à discriminação e às demais formas de
intolerância étnica e racial (ARAUCÁRIA, Lei nº
3.380/2018).
Cerimônia de criação do COMPIR (Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial)
em 1º de novembro de 2018 pela lei municipal número 3.380/2018.
Dentre as 20 competências do COMPIR, podemos
destacar:
VII. zelar pela diversidade cultural da população
paranaense e araucariense, especialmente pela
preservação da memória e das tradições africanas
e afro-brasileiras, constitutivos da formação
histórica e social da população local e regional;
(IDEM).
Depoimento do prefeito Hissam:

Eu me lembro que há uns trinta anos havia um gerente


negro na agência do Banestado aqui da cidade e, do nada,
ele foi transferido. Quando perguntei porque ele havia
saído aqui de Araucária, me disseram que era por conta
da cor dele. Muitas pessoas brancas simplesmente não
gostavam dele só porque ele era negro e pediram para
que ele fosse transferido
(O Popular, 12/11/18).
A necessidade de uma lei que cria
um conselho especializado na luta
contra a desigualdade étnico-racial
diz muito sobre a história da nossa
cidade, do nosso estado, do nosso
país. Especialmente quando A Fotografia dentro da
fotografia. Exposição Negros no
percebemos que essa lei tem uma Paraná com fotografia de
Fernanda Castro, realizada em
setembro de 2017, no museu
preocupação maior com um grupo Tingüi-Cuera. Foto: Carlos
Polly/SMCS.
específico, os negros.
De onde
viemos?
Durante mais de três
séculos foram
transportados para o
continente americano
entre 8 e 11 milhões
de africanos, sendo
que quase 5 milhões
tiveram como destino
certo os portos do
Brasil.
Durante séculos o tráfico negreiro foi a
atividade econômica mais lucrativa do
Brasil. Transportados em navios que
ficaram conhecidos como tumbeiros,
em condições tão precárias, que hoje
em dia até os animais têm regras mais
dignas de condução. A mortalidade era
altíssima! Maquete do interior de um navio negreiro – Kenneth
Lu, 2010.

Por tratar-se de uma relação forçada de trabalho, a escravidão


sempre esteve ligada à violência. Os castigos físicos eram comuns
e qualquer tentativa em descrevê-los causa náuseas naqueles que
têm o menor respeito pela dignidade humana.
Reduzidos invariavelmente à escravidão,
esses seres humanos passaram a ser
considerados mercadorias, cabendo aos
seus donos decidir sobre sua vida e
morte.
Inferno dos negros, o Novo Mundo se
converteu para essas pessoas em Tráfico Negreiro: 1502-1886.
In FGV. Atlas Histórico do
sinônimo de trabalho forçado nas
Brasil.
lavouras, minas, transporte, serviços
domésticos e tudo aquilo que fosse muito,
muito pesado.
Mesmo em regiões pobres do Brasil, como o Paraná, havia
pessoas escravizadas. De acordo com o historiador Fábio Bacila
Sahd: Em 1798, nas cidades de Antonina, Castro, Curitiba,
Guaratuba, Lapa, Paranaguá e São José dos Pinhais foram
relacionadas “20.999” almas, das quais 4.273 eram escravos,
aproximadamente uma em cada cinco pessoas (SCHMIDT,
2008, p. 25). Naquela época Araucária ainda era chamada de
Tindiquera e fazia parte de Curitiba.
- Em 1674 já eram encontrados trabalhadores negros em
Paranaguá;
- Nas fazendas dos Campos Gerais e de Curitiba havia a presença
de negros nas condições de feitores, encarregados e
escravizados;
- Nas tropas era considerável a presença de negros tropeiros;
- Na atividade ervateira era imensa a participação de negros.

Jean Baptiste Debret


- Com a lei de 1831 Paranaguá
passou a ser um porto
procurado pelos traficantes;
- Em 1850 o cruzador Britânico
Cormorant adentrou a baia de
Paranaguá para capturar
traficantes que chegaram a
afundar um dos navios,
matando afogados todos os
negros da embarcação. O
cruzador chegou a ser
atacado pelos moradores de
Paranaguá, quando voltavam
com as embarcações
apresadas.
No Arquivo Nacional do Rio de Janeiro é possível conhecer
uma antiga petição elaborada pelos moradores de Tindiquera
em 29 de outubro de 1823. Naquele tempo nossa terra
contava com 1.128 almas, sendo que dessas, 78 eram
escravizadas. Um dos fazendeiros relacionados possuía 13
escravizados.

Arquivo Nacional do Rio de Janeiro – 2018.


É preciso esclarecer que Araucária nunca
teve muitas pessoas escravizadas. No
censo populacional realizado em 1854,
por ocasião da emancipação do Paraná
(19/12/1953), dos 1652 habitantes da
capela do Yguassú, 71 eram negros
escravizados. Por ser relativamente
pobre, poucos possuíam recursos para
adquirir a mercadoria mais cara do país.
Sabe-se, contudo, que desde tempos
remotos recorria-se à escravização dos
povos indígenas.
Fragmento do relatório feito a pedido do primeiro presidente
da província do Paraná, Zacarias de Góes e Vasconcellos
(1815-1877), publicado no jornal O Dezenove de Dezembro
(que circulou entre 1854 e 1890). Tratava-se de um censo
com o levantamento da população da recém-criada província
do Paraná, emancipada em 19 de dezembro de 1853, daí o
nome do periódico. De acordo com o relatório, à época o
Paraná contava com 62.258 habitantes.
Atualmente, além do Arquivo
Histórico Archelau de Almeida
Torres, outros dois lugares em
Araucária mantém
documentos históricos
esclarecedores sobre a vida
dos negros em nossas terras
no século XIX, os arquivos do
1º Tabelionato de Notas de
Araucária (o antigo Cartório Escritura pública de venda de escravizado, lavrada
no ano de 1873, às folhas 17 do livro nº 02, no
Pimpão) e os livros de Tabelionato da Cidade de Araucária, que na época
batizado da Capela do chamava-se Freguesia do Iguassú e pertencia ao
município de São José dos Pinhais. Foto: Everson
Yguassu. Santos. O Popular 09/05/2019.
Trecho digitalizado e transcrição do livro de batizado da Capela do Iguassú
de 1852. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

Arcenia = filha legítima dos cônjuges José escravo de Dona Maria


Joaquina de Jesus e de Maria Tereza liberta, nasceu ao dia 1º de abril
de 1851. Foram padrinhos Joaquim Antonio Matozo, e Domingas
Rosa dos Santos. Foi por mim batizada e pondo-lhe os santos óleos
aos 26 de maio de 1852 nesta Capela Curada de Iguassú = Frei
Samuel de Lodi Capelão.
O DIA SEGUINTE

Lei Imperial número 3.353 mais


conhecida como LEI ÁUREA, sancionada
em 13 de maio de 1888 extinguiu a
escravidão no Brasil. Foi aprovada na
Câmara Geral (deputados) e no Senado
(Senadores), sendo sancionada pela
Princesa Regente do Brasil Dona Isabel.
Áurea significa feita de ouro, magnífica,
de muito valor e luz.
Em 31 de julho de
1888 há poucos
quilômetros do
centro da Freguesia
do Iguassú, em
Curitiba, o deputado
provincial Domingos
Cunha, em discurso
na Assembleia
Provincial do Paraná,
assim se referiu ao
fim da escravidão no
Brasil:
[...] vou tratar do assunto mais importante da atualidade[...] Era de
supor, [...] que estando tudo calmo, como estava, não haveria
necessidade da denominada lei áurea de 13 de maio. Esta lei áurea,
como a chamam, sobre o elemento servil, não devia ser votada tão
precipitadamente, devia ser feita com toda calma, com todo critério
possível: não devia ser feita no meio de manifestações anárquicas,
como o fizeram. Nós vamos [...] para um estado calamitoso; por
hora tudo tem sido festa e flores, mas as consequências, Deus
permita que eu erre, hão de amargar para esse país. Estes homens,
os ex-senhores, eram os que mais contribuíam para as despesas do
Estado.[...] Aqueles homens que, com o trabalho do escravo,
aumentaram a nossa exportação, ficando abandonados em suas
fazendas, sem braços para o trabalhos, como poderão ir buscar o
dinheiro no estrangeiro para as despesas do Estado? (CUNHA,
1888).
[...] E continuou em pensamento: as
mulheres do governo do Imperador
D. Pedro II intrometeram-se em seu
governo e ele permitiu. Expulsaram
os escravos de suas terras e ele
permitiu. E agora?.... As fazendas
tornaram-se desertas. As casas
caíram. De que se há de viver? [...] É
verdade que os negros trabalham,
mas exigem somas polpudas. Tudo
regride, tudo está ficando em trapos.
Nos campos tudo esta estagnado...
(WACHOWICZ, 1997, p.104).
[...] Hoje os negros são livres, mas a sua sorte mudou pouco.
Trabalham da mesma forma. Quando escravos eram acuados
por capatazes, mas os fazendeiros alimentavam-nos melhor,
para que tivessem forças e produzissem mais. Conquistaram a
liberdade almejada, mas defrontaram-se com problemas
inesperados. A liberdade garantida por lei não lhes permitia
todavia dormir à sombra de árvores ou aquecer-se ao sol
durante o inverno. Viam-se forçados a trabalhar para
conquistar a duras penas os miseráveis vinténs. Desafeitos de
calcular receita e despesa, atravessavam pobreza e sofrimento.
WACHOWICZ, Romão. Homens da Terra. Curitiba: Vicentina, 1997, p.25.
Cracks de ébano, estrelas de ébano,
players de cor, malabaristas no
jogo de football, era assim que os
jornalistas esportivos se referiam
aos jogadores negros da seleção
brasileira que participava da Copa
do Mundo de 1938, realizada na
França entre 4 e 19 de junho. Era
na participação de jogadores
negros como Leônidas da Silva, o
Diamante Negro, que os jornalistas
esportivos depositavam grande
parte da esperança de vitórias na
copa.
Propagandeado pelo governo de
Getúlio Vargas (1930-1945) o
futebol passou a ser considerado
por muitos um retrato da
democracia racial, símbolo de uma
unidade nacional que se
sobrepunha às desigualdades entre
negros e brancos. Aqui em nossa
cidade, assim como na França, o
futebol arte também tinha seu
crack de ébano, Aristides Ferreira,
apelidado de Maravilha de Ébano.
Uma das melhores defesas do Araucária
em 1938. Julio, Aristides (ao centro) e
Narciso. O Goleiro Aristides Ferreira
foi cognominado de Maravilha do
Ébano, nasceu em Curitiba no dia
30/12/1913 e veio para Araucária em
1937. Em 1936 casou com Isaura Costa
Ferreira e teve 7 filhos. Foi funcionário
da Prefeitura Municipal de Araucária,
exerceu as funções de coveiro no
Cemitério Municipal e zelador da praça
central. Foi goleiro do Araucária F.C. e
também participou de uma banda de
músicos de Araucária. Faleceu em
23/05/1986 com 72 anos.
Fotos do Jardim Iguaçu Futebol Clube na
década de 1960. Em pé, da esquerda para
a direita, é possível identificar o jogador
Aramis, filho do ex-goleiro do Araucária
Futebol Clube, Aristides Ferreira.
Também é possível identificar outro
jogador negro Ismael, agachado, da
direita para a esquerda, terceiro jogador.
Por contar com a presença de jogadores
negros o Jardim Iguaçu Futebol Clube
chegou a ser apelidado de Navio
Negreiro por alguns torcedores de outros
times. Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Slide anterior, diploma de
Árbitro de Ademir Manoel
Ferreira. Nesse slide, fotos de
Ademir Manoel Ferreira em
jogos do campeonato
paranaense, também filho do ex-
goleiro do Araucária F. C.,
Aristides Ferreira. Arquivo
Histórico Archelau de Almeida
Torres.
Fragmento do artigo do professor e historiador da UFPR,
Magnus R. de Mello Pereira, com o título Uma Praça para
Maria Agueda:
O episódio que chamou a atenção para Maria Águeda ocorreu
numa quarta-feira, 15 de agosto de 1804, dia santo de Assunção
de Maria, em frente à Igreja Matriz da Vila de Curitiba. Maria
Águeda, moradora do bairro de Tinguiquera, era uma qualquer
entre os presentes. Devido à sua baixa condição social, recebeu
uma ordem das filhas da mais ilustre elite curitibana:
– Vá buscar brasa para acendermos nosso aquecedor. Maria
Águeda respondeu com um redondo não.
– Não vou. Mandem suas escravas.
Por que uma Praça Maria Águeda em Araucária?
Homenagear Maria Águeda, dando seu nome a uma praça, é
reverenciar a firmeza de caráter de uma mulher do povo, mulata
e pobre, como a maior parte da nossa gente. Por si só, esse
gesto não compensa o secular costume de homenagear apenas
os integrantes das elites locais. Praça Maria Águeda é apenas um
logradouro contra milhares de outros a quem foi dado o nome
de pessoas da elite, muitas delas de indiscutível valimento,
outras nem sempre meritosas, como ditadores truculentos ou
presidentes americanos que financiaram a quebra da
democracia no Brasil. Praça Maria Águeda é um belo gesto
simbólico, um começo.
Artigo completo disponível em:
https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/2018/04/03/uma-praca-para-maria-
agueda/ - Acessado em 25/10/2021 às 16h09.
5-TROPEIROS
Jean Baptiste Debret
A partir de 1694 uma notícia há
muito esperada começou a
circular pela América Portuguesa
(hoje Brasil), bandeirantes, ou
melhor dizendo paulistas,
encontraram ouro às margens
dos rios na região que acabou se
tornando a Capitania de Minas
Gerais (1720), nome dado
Lavagem do minério de ouro. Proximidades da
porque as minas eram muitas e
montanha de Itacolomi, Johann Moritz de imensa variedade de metais.
Rugendas, aquarela sobre papel, 30 x 26 cm,
1835.
A mineração deu novo ânimo à economia da colônia. Muita
gente vitimada pela auri sacra fames, ou seja, pela fome de
ouro, abandonou tudo e foi tentar a sorte nas Geraes, muitos
vieram de Portugal e a população da colônia em pouco mais
de um século multiplicou-se por 11.
Como todos estavam ocupadíssimos com a mineração, muitas
vezes faltava comida, sendo que nessas circunstâncias,
mineradores cheios de ouro eram obrigados a comer vermes,
formigas e sapos. A carne na região era vendida por preços
exorbitantes, chegando a ser 60 vezes mais cara do que no
resto da colônia.
Enquanto isso, aqui nos Campos de Curitiba
e no que é hoje o Rio Grande do Sul havia
criações de gado vacum. No caso da futura
Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul
o gado criava-se selvagem na região da
Vacaria do Mar.

Moradores de Montevidéu e Buenos Aires caçavam esses animais


para retirar o couro que era exportado de navios para a Europa,
deixando a carne apodrecendo no campo. Isso mesmo, a-po-dre-
cen-do!
Outra coisa que você precisa saber é que
naquele tempo não existiam veículos
automotores, portanto tudo era
transportado por pessoas, quase sempre
escravizadas, ou por cavalos, bois e mulas.
A mula é um animal híbrido, resultado do
cruzamento entre uma égua e um
jumento. Os argentinos criavam mulas e as
exportavam para a Bolívia e por meio de
contrabando para o Brasil, como
pagamento recebiam ouro, prata e até
mesmo pessoas escravizadas.
E é aqui que nós entramos nessa história. O primeiro gado que
foi levado para São Paulo para dali ser levado para abastecer a
região das minas saiu dos Campos de Curitiba, da nossa região.
Portanto estávamos ajudando a saciar os famintos
mineradores.
Entre 1728 e 1733 foram abertos caminhos ligando o Rio
Grande do Sul, os Campos de Curitiba e a feira de Sorocaba,
em São Paulo. Naquele tempo os Campos de Curitiba
tornaram-se região de Invernada, ou seja, de engorda dos bois
e mulas antes de seguirem viagem para a feira de Sorocaba,
onde eram vendidos e depois revendidos à região das minas.
Surge então um dos sujeitos mais importantes da história
do Brasil, o Tropeiro. O tropeirismo era uma atividade
econômica que consistia em conduzir tropas de gado
vacum (bois e vacas), cavalar (cavalos e éguas) e muar
(mulas e machos), entre outras mercadorias, das regiões
produtoras às regiões consumidoras.
O Caminho mais famoso percorrido pelos tropeiros era a
Estrada da Mata, que ligava os campos de Viamão no Rio
Grande do Sul à feira de Sorocaba em São Paulo, que
também é chamada de Estrada Viamão Sorocaba ou
simplesmente Caminho das Tropas.
Jean Baptiste Debret, travessia entre os Campos de Curitiba e o atual estado de São Paulo.
Também havia outros
itinerários percorridos pelos
tropeiros como no transporte
de mercadorias cruzando a
serra do mar rumo aos portos
de Paranaguá e Antonina. Era
uma travessia perigosa, que
vez ou outra fazia vítimas
fatais.
Aquarela do artista franco-brasileiro Jean Léon Pallière (1823-1887). Conhecida como Tropa carregada de erva
mate descendo a serra, essa gravura faz parte da obra Álbum de Cenas Americanas, publicada em 1864.
Um efeito significativo sobre a vida dos moradores de
Tindiquera foi a valorização da Terra e a criação de novas
ocupações ligadas ao tropeirismo.
Ao longo da Estrada da Mata havia pedágios, que eram
estrategicamente instalados nas passagens dos rios
conhecidas como vaus, ou seja, locais de passagem dos rios
que eram rasas e com águas relativamente calmas para a
travessia dos animais. Acontece que os pontos possíveis de
se vaudear eram raros e as autoridades sabiam disso, por
isso os tropeiros eram obrigados a pagar um imposto por
cada animal que passava por aquelas vaus dos rios que eram
pedagiadas. A cobrança de pedágio chegou a ser uma das
principais fontes de arrecadação da Capitania de São Paulo.
Grosso modo podemos dizer que o
ciclo do troperismo foi de 1731 até
1897, sendo que a partir de 1870 o
mesmo entra em declínio por conta
das construções de ferrovias, o trem
substituirá a mula. Contudo há de se
considerar que os tropeiros atuaram
em nossa região até a década de 1950.
Acima: Aquarela da primeira ponte sobre o rio Iguaçu, construída pelo inglês
Walter Joslin e inaugurada em 1879. Abaixo: Aquarela da primeira coletoria
da antiga Freguesia do Yguassú, instituída em 1880 pelo imperador D. Pedro
II em benefício do inglês Walter Joslin. O quadro original pintado em 1881 é
de autoria de Hugo Calgan, sendo que, a obra reproduzida abaixo, trata-se de
uma cópia feita em 1918 pelo cap. Walter Lorenzo.Acervo do Arquivo
Histórico Archelau de Almeida Torres.
6- TINDIQUERA, FREGUESIA DO YGUASSÚ E ARAUCÁRIA
Explicação do professor Ruy Wachowicz sobre a petição acima,
em artigo publicado no Jornal dos Pinheirais, fevereiro de 1980.
A região oeste da vila de Curitiba foi rapidamente povoada.
Muitas outras sesmarias foram ali requeridas e concedidas. Toda
essa população, que com o correr do tempo tornava-se cada vez
mais numerosa, foi chamada pelo juiz ordinário Manoel de S.
Payo, em 1726, de “assistentes do recôncavo” que incluíam a
população de Tindiqüera, eram obrigados a comparecer à sede da
paróquia, ao menos uma vez ao ano, para a tradicional
“desobriga” (confissão) pela qual pagavam 4 vinténs.
Para os moradores de Tindiqüera e Campo Redondo, era penosa
esta desobriga. Queixavam-se eles, em 1823, que a distância que
os separava da matriz de Curitiba era bastante longa (4 léguas) e
que, para cumprirem a desobriga, tinham necessidade de
atravessar dois rios (Iguaçu e Birigui) e que tinham necessidade
de usar canoas para atravessar um deles. Esta é a razão alegada,
em 1823, quando estes moradores pediram a sua elevação à
categoria de freguezia, o que aliás não foi atendido de imediato.
É o seguinte o teor do documento em que os moradores de
Tindiqüera e Campo Redondo solicitam ao imperador a sua
elevação à categoria de freguezia, observando-se a grafia original
do documento:
“Aos pés de V.M.I. Se prostão Os Moradores do
Bairro de Tindiquera e Campo Redondo contidos
na Lista que junto oferessem a S.M.I. Supplicando
com lagrimas que já vivem cansados de marxar
inumeras legoas só afim de cumprirem com os
preceitos da Santa Igreja: Motivo por onde querem
formar freguezia de Coritiba de onde são freguezes
e que para este dezejado fim/ Visto a necessidade
que lhes asiste, esperão que V.M.I. estenda
piedosamente Suas Vistas na confirmação da justa
Suplica de que rogarão a Deos pela Vida e Saude de
V.M.I. pois todos são do Bispado de S. Paulo.”
Desde os primórdios do aparecimento da povoação, a região de Tindiqüera foi
sempre considerada como sendo local de refúgio de pessoas que tinham
questões com a justiça. Se alguém se desentendia em Curitiba, era quase
certo que se refugiava nas matas de Araucária. Estes foragidos se
estabeleciam de preferência do outro lado do rio Iguaçu ou, como diz um
documento: “de outro lado do mesmo rio” para dificultar a chegada de
patrulhas com o fim de efetivar as prisões, bem como para facilitar a fuga dos
envolvidos mais para o sertão. Esta é a razão principal pela qual, mesmo antes
da criação da freguezia do Iguaçu, nas margens do mesmo rio, o Juiz de Paz da
Capela Curada de Tindiqüera recebia permissão da Câmara Municipal de
Curitiba, para alugar uma casa particular, a fim de que servisse de prisão, tal
era o número de pessoas à espera da mesma. Depois da primitiva capela de
Nossa Senhora da Luz de Tindiqüera, foi a cadeia o segundo edifício público da
localidade. WACHOWICZ, Ruy. Evolução Política de Araucária. Jornal dos Pinheirais. V.2, n.31,
p.6, fevereiro de 1980. Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Explicação histórica adaptada do livro Agricultura e Indústria: memória do
trabalho em Araucária.
Por ocasião da Independência do Brasil, os moradores de Tindiquera e Campo
Redondo, aproveitando-se das circunstâncias da organização do Império
Brasileiro, requereram ao governo a elevação da localidade à categoria de
freguesia. Para tanto, organizaram uma lista nominativa de todos os seus
habitantes. O levantamento efetuado à época constatou a existência de 232
famílias com 1.128 pessoas livres e 78 escravos.
Em 1837, a capela de Nossa Senhora da Luz de Tindiquera foi elevada à capela
curada. Um ano depois, foram estabelecidas as primeiras divisas do bairro.
A transferência gradativa da população para as margens do rio Iguaçu fez com
que, no final da década de 1840, a sede do curato de Tindiquera fosse
transferida para o local em que estava à capela de Nossa Senhora dos
Remédios de Yguassú.
Logo após a emancipação política da província do Paraná, a Freguesia do
Iguaçu foi criada através da Lei Provincial nº 21, de 28 de fevereiro de 1855.
Nesse ano, a capela curada do Iguaçu foi elevada à categoria de paróquia.
Em 1868, a Freguesia do Iguaçú foi desligada da administração de Curitiba e
anexada como distrito de São José dos Pinhais durante 20 anos.
Em 1888, essa freguesia é desligada de São José dos Pinhais, voltando a ser
administrada por Curitiba, ficando subordinada a ela até sua emancipação
política, fato ocorrido em seguida à Proclamação da República.
Em 11 de fevereiro de 1890, um acontecimento marcante ocorre na vida do
povoado. Através do Decreto nº 40, a Freguesia do Iguaçu é elevada à
categoria de vila com a denominação de Araucária, conforme solicitação dos
seus moradores. ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. Agricultura e Indústria: memória do trabalho em
Araucária. Araucária: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 2010, p. 37-9.
Aquarela da
primeira ponte
sobre o rio
Iguaçu,
construída
pelo inglês
Walter Joslin
e inaugurada
em 1879.
Acervo do
Arquivo
Histórico
Archelau de
Almeida
Torres.
Aquarela da primeira
coletoria da antiga
Freguesia do Yguassú,
instituída em 1880 pelo
imperador D. Pedro II
em benefício do inglês
Walter Joslin. O quadro
original pintado em
1881 é de autoria de
Hugo Calgan, sendo
que, a obra reproduzida
abaixo, trata-se de uma
cópia feita em 1918
pelo cap. Walter
Lorenzo
HISTÓRICO DA PREFEITURA DE
ARAUCÁRIA ELABORADO PELA EQUIPE
DO ARQUIVO HISTÓRICO
Pelo Decreto Estadual N° 40, de 11 de
fevereiro de 1890, foi criado o Município de
Araucária, que teve seu nome sugerido
pelo Dr. Victor Ferreira do Amaral.
O primeiro administrador de Araucária,
como intendente, foi o Major Sezino
Pereira de Souza.
A primeira eleição municipal realizou-se no
dia 22 de setembro de 1892, sendo o
primeiro Prefeito eleito de Araucária o Sr.
Manoel Gonçalves Ferreira.
RELATO DO DOUTOR VICTOR FERREIRA DO AMARAL SOBRE O
NOME ARAUCÁRIA PARA A FREGUESIA DO IGUAÇU QUANDO DA
ELEVAÇÃO PARA VILA
Por solicitação do meu velho amigo Major Sezino pedi ao governador para
elevar também à vila a então Freguesia do Iguassú, mais conhecida por
Tindiquera. O governador exigiu que eu lhe apresentasse um abaixo
assinado dos moradores idôneos da Freguesia. O Major Sezino, que era
chefe político aí, pediu que eu redigisse o requerimento dando um novo
nome a vila, por não convir o Iguassú, para não confundir com a Nova
Iguassú, nas proximidades do Rio de Janeiro. Ele não queria também o
nome Tindiquera porque fazia lembrar valentões e truculentos que haviam
perturbado a paz e a ordem do distrito anos atrás. Propus, então, a
denominação de Araucária, nome botânico do nosso pinheiro, a Araucária
Brasiliense.
AMARAL, Victor F. do. Correspondência a Odorico Franco Ferreira em 28 de julho de 1938.
Fragmentos do
Almanach do
Paraná,
publicado em
1902, edição
número 5,
página 235.
Com dados
estatísticos,
organizados
pelo historiador
Romário Martins
sobre a
população de
Araucária entre
1858 e 1900.
7-IMIGRANTES

Terra Prometida de Theodoro de Bona, 1934


O LINISMO De exportador de farinha de
Logo após a emancipação mandioca o Paraná passou a
política do Paraná, importador, em pouco tempo as
ocorrida em 1853, a famílias mais pobres passaram a
jovem província passou a conviver com a ameaça da fome.
viver uma crise de
abastecimento de
produtos agrícolas tendo
como consequência mais
visível o aumento dos Curitiba (Corytiba) em 1855, com a Igreja Matriz, ao centro,
preços dos alimentos. ilustração de J.H. Elliot.
Curitiba em 1855, aquarela J.H. Elliot

Naquele tempo a maioria da população tradicional da província


estava voltada para a produção e comercialização de erva mate ou
para a invernagem e comercialização de gado, atividades
consideradas mais fáceis e lucrativas.
As principais autoridades da Província, dentre
as quais os seus Presidentes, passaram a
defender a vinda de imigrantes europeus
para suprir essa carência. Para tanto
defendiam que era necessária a criação de
núcleos coloniais de pequenos proprietários,
que receberiam a terra por doação ou por
aquisição a partir de preços baixos.
Nessa conjuntura destacou-se o Presidente da Província do Paraná
entre 1875-1877, Adolfo Lamenha Lins.
POLONESES
As políticas de atração de imigrantes europeus
implementadas pelo governo da Província do Paraná vieram
ao encontro dos anseios dos poloneses que sonhavam em
conquistar seu pedaço de terra. O presidente da província
Aufredo Taunay chegou a apresentar o Império e o Paraná
como terra da promissão, numa clara referência aos
escritos bíblicos. Os Polacos, religiosos que eram, viram na
adesão a esse grande projeto a possiblidade de finalmente
terem seus dias de dádivas, como nas sagradas escrituras.
A propaganda governamental não contou toda a verdade.
Os desafios, esses sim eram de proporções bíblicas.
Aqui na antiga Freguesia do
Iguaçu a colônia Thomaz Coelho
progredia a olhos vistos, dos 98
lotes em 1876 saltou para 270
lotes em 1879. Dos primeiros 739
imigrantes saltou para 1274
colonos em 1882. Esses lotes
tinham em torno de 6 hectares (60
mil metros quadrados) e os
colonos contraíam uma dívida de
500 mil réis que deveria ser
quitada no prazo de 10 anos.
“Ao chegar aos núcleos,
sobretudo no sul do país, os
imigrantes tratavam de desmatar
parte da floresta e construir suas
primeiras casas de pau a pique,
permanecendo então no mais
absoluto isolamento e sem
Instalações de colonos em qualquer tipo de assistência.Isso
Tomás Coelho. De acordo com a originou muitos casos de
professora Zuleika Alvim: desequilíbrio mental, sobretudo
em mulheres.” (ALVIM, p. 245)
Vista aérea da região da Igreja de São Miguel. Ao fundo a Repressa do
Passaúna, onde hoje encontra-se submerso boa parte da antiga Colônia de
Thomaz Coelho. O atual nome do bairro vem do santo de devoção da igreja.
São Miguel era o antigo
centro da Colônia Thomaz
Coelho. A Colônia Thomaz
Coelho tinha recebido esse
nome em homenagem ao
então ministro da agricultura,
Tomás José Coelho de
Almeida.
Foto: SMCS – Acervo: Arquivo Histórico Archelau de A. Torres, 2015.
Entre 1885 e 1886 o Paraná passou a ter
como Presidente Alfredo d’Escragnolle
Taunay (ao lado). Escritor, músico,
professor, engenheiro, político, historiador
e nobre, Taunay percebeu o valor dos
princípios linistas e os retomou a fim de
estimular a imigração para o Paraná.
Incentivou os poloneses que aqui estavam
a escreverem cartas para seus
compatriotas na Polônia e convencê-los a
emigrarem para o Paraná.
Aqui na antiga Freguesia do Iguaçu novas levas de imigrantes
poloneses chegaram e novos núcleos coloniais foram criados. Em
1885 foi criada a Colônia Barão de Taunay com 255 poloneses e
italianos, sendo que o seu nome foi dado em homenagem ao
então Presidente da Província.
Atualmente esse antigo núcleo
colonial é o Bairro Costeira. Na
mesma época foram fundadas as
Colônias de Alice e Cristina com
mais ou menos 500 imigrantes.
Vista aérea da região da Avenida Manoel Ribas – 2015. Foto: SMCS – Acervo: Arquivo Histórico Archelau de A. Torres.
Carroções e arados foram duas inovações introduzidas pelos
poloneses em nossas terras que contribuíram muito para o
desenvolvimento econômico de Araucária.
Antes dos carroções, as mercadorias levadas e trazidas do litoral
eram transportadas em lombo de mulas. Entre 1872-1873 o
governo da província finalmente concluiu a construção da
Estrada da Graciosa que, como nos ensinou o professor Romão,
deu ao planalto curitibano novo alento econômico. Os caboclos
que aqui viviam sofreram por muito tempo com a falta de uma
via de transporte adequada.
Carroções
na Praça
Vicente
Machado.
Sem Data,
sem autor.
Arquivo
Histórico
Archelau de
Almeida
Torres.
Por outro lado, os imigrantes que aqui se
estabeleceram a partir de 1876 deram
mais sorte. Some-se a isso a introdução
dos Carroções Eslavos, também
chamados de Carroças Polacas, feitos
pelos imigrantes poloneses e alemães-
russos. Eram veículos com quatro rodas,
puxados por três parelhas de cavalos que
substituíram, com grande vantagem, as
tropas de mulas na ligação feita entre o
litoral e as nossas terras.
Fotografia
de
agricultor
arando,
acervo Ruy
Wachowicz
, sem data,
local ou
autoria.
Foto 1: Casa de Troncos. Sem data, local e autoria. Acervo do Arquivo
Histórico Archelau de Almeida Torres.
Foto 2: Pierogi. Divulgação da Secretaria Estadual do Esporte e do
Turismo.
Foto 3: Interior de uma casa polonesa em São Miguel. Decoração com
quadros de santos e enfeites coloridos, década de 1980. Foto de João
Urban. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Alemães, italianos,
franceses, ingleses,
portugueses, ucranianos,
japoneses, judeus e árabes.
Uns atraídos pelo trabalho
na agricultura, outros pelas
oportunidades de negócios
no comércio, na indústria e
na prestação de serviços,
muitos preocupados com o Bodas de José Hütner (alemão) e Angelina Déa
(italiana) em 1960. Coleção Família Hütner. Acervo
futuro dos seus familiares. do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Casamento de
Eduardo Raksa
(ucraniano) e Iria
Rachinski
(polonesa), na
década de 1960.
Coleção Celso
Ternoski. Acervo do
Arquivo Histórico
Archelau de
Almeida Torres.
ITALIANOS
Desde antes de 1886 já havia italianos vivendo em Araucária. De
fácil integração aos moradores brasileiros, os italianos se
dedicaram ao comércio, à indústria e à agricultura.

Ao lado: Coleção Família


Cantelle. Fotografia das
bodas de prata de Manoel
Fernandes Luiz e Bertha
Cantelle celebradas em 1947.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de
Almeida Torres.
Ficou famosa a história de João
Esperandio que, em 1893,
montou uma serraria em Campo
Redondo, ajudando assim a
atrair outras famílias italianas
para o município, que com o
tempo passaram a viver em
localidades espalhadas por todo
João Sperandio e grupo de moradores junto
nosso território, como Espigão ao primeiro automóvel de Araucária.
Alto, Campina da Barra, Estação, Conhecido como Velho Barbão, Sperandio
se tornou para os araucarienses em sinônimo
Lagoa Grande, Centro, entre de imigrante vencedor, nesse sentido a foto
outras. acima é emblemática. Acervo do Arquivo Histórico
Archelau de Almeida Torres.
UCRANIANOS
Em 1895, reimigrantes ucranianos
vindos de São José dos Pinhais se
estabeleceram nas localidades de
Ipiranga e Guajuvira, convertendo-se no
segundo maior grupo imigratório em
Araucária em termos numéricos,
perdendo apenas para os poloneses.
Eram cristãos ortodoxos e ainda hoje
muitos dos seus descendentes mantém
suas tradições nas festas religiosas.
Pêssanka em exposição de 1997 na Casa da Cultura. Sendo
um ovo colorido à mão, simboliza a páscoa e a ressurreição
de Jesus Cristo.
Porém, ontem e hoje, em alguns casos, seus descendentes
são confundidos com imigrantes de outras nacionalidades
por conta da situação da Ucrânia à época da imigração, que
se encontrava sob o domínio dos Impérios Austríaco e
Russo. Como os primeiros ucranianos que aqui se
estabeleceram eram da Galícia, domínio do antigo Império
Austro-Húngaro, foram considerados austríacos. Por serem
eslavos, às vezes são confundidos com os Poloneses.
ÁRABES
Almeida, açúcar, alface, alfaiate, alfândega, algarismo, algodão,
almanaque e alvará são apenas alguns exemplos de palavras da
língua portuguesa começadas com A e AL que têm origem árabe.
Lógico, temos também muitas outras palavras que se iniciam com
outras letras do alfabeto como leilão, oxalá, tâmara, tarifa e xarope,
com a mesma origem.
Para além das palavras, muito antes do
primeiro Árabe pisar em solo araucariense,
elementos culturais tão diversos como
costumes, conhecimentos matemáticos,
culinária e arquitetura, já faziam parte do
cotidiano dos primeiros moradores dessas
paragens. Para ficar em pouquíssimos
exemplos podemos citar o consumo de
café, açúcar, laranja, arroz, cravo e canela;
o uso dos algarismos indo-arábicos; o jogo
de xadrez e a prática da caligrafia.
Foi a presença dos mouros e árabes
na Península Ibérica entre os séculos
VIII e XV que derramou sobre a
Europa medieval todas essas dádivas.
Espanha e Portugal se formaram
durante as guerras de reconquista
desses territórios e ainda hoje trazem
em seu DNA a herança árabe.
Por isso quando os primeiros colonizadores portugueses aqui se
estabeleceram traziam consigo todo esse legado cultural.
Em Araucária as primeiras famílias árabes se estabeleceram na
década de 1910. Muitas saíram da sua terra natal em decorrência
do domínio que o Império Turco Otomano exercia sobre o
Oriente Médio até 1918 ou por conta da confusão causada pelo
fim desse mesmo Império, fazendo daquela região palco de
infindáveis conflitos.
Eram procedentes da Síria e do
Líbano, alguns já tinham tentado
ganhar a vida em outras cidades, até
que viram aqui melhor sorte.
Família Saliba na década de 1930. Coleção Tadeu Saliba.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Enfrentando uma longa viagem
para terras desconhecidas,
contando com uma pequena,
porém dedicada, rede de apoio
familiar e fraternal de
conterrâneos, muitas vezes
sonhando em juntar dinheiro e
voltar à terra natal. Quis o
O casal Salomão Jorge e Estanislava
destino que fincassem alicerces Karpinski Jorge, em foto da década de
em nossa cidade. Os detalhes da 1920, ele de origem árabe e ela
descendente de ucranianos. Coleção
viagem não saem da mente de Celso Tenoski. Acervo do Arquivo
quem vivenciou a grande Histórico Archelau de Almeida Torres.
travessia.
Nasci em Beyruth, a capital do Líbano, no dia 21 de março 1949. Meu pai
se chama Hussein Ali Dehaini (in memorian) e minha mãe Adle Dehaini,
ambos também nasceram em Beyruth. Meu pai veio para o Brasil, em
1950, e minha mãe chegou 5 anos depois (1955).
Meu irmão e eu ficamos em nosso país
de origem. Quando meu pai deixou o
Líbano, tinha meu irmão mais velho
chamado Ali e eu, dez anos depois,
quando cheguei ao Brasil em 1961,
tinha nascido em São Paulo, meu irmão
Hissan, já com 6 anos, e minha irmã
Uhayla com 6 meses, nascida em Belo
Beirute, capital do Líbano no ano em que os jovens Hassan
Horizonte. e Ali deixaram o país rumo ao Brasil para reencontrar seus
pais e conhecer seus irmãos mais novos, 1961.
Transatlântico Giulio Cesare em
foto de 1970 de um antigo cartão
postal. Nesse navio os jovens
Hassan, de 11 anos, e seu irmão
mais velho Ali, de 13 anos,
vieram para o Brasil reencontrar
a família.
Saímos do Líbano, passamos pelo Egito e na Itália embarcamos no navio
de nome Júlio Cezar, que era uma embarcação enorme, até hoje é uma
embarcação enorme, eu tinha 11 anos e meu irmão tinha 13. Levamos
19 dias para chegar ao Porto de Santos. Meu pai que havia enviado as
passagens nos aguardava. [...] Tudo era novidade. Nós éramos crianças,
[...] e iríamos conhecer outros países. Por ser um navio italiano, [...]só
tinha massa de macarrão para comer (ALMEIDA, p.135-6 ).
[...] durante a época da primeira Como bem observou o renomado
imigração em 1918 a Turquia historiador Bóris Fausto: Não é
dominava o Líbano, a Síria, o Egito e ocasional o fato de que muitos
a Jordânia, consequentemente os imigrantes lembrarão detalhes da
imigrantes vinham com passaporte viagem – nome do navio, a comida,
turco. [...]. Então é por isso que a mansidão do oceano e as
começaram a nos chamar de turco. tempestades, os portos
Mas na verdade, nós não somos intermediários em que se desce a
turcos, somos libaneses, falamos terra e, sobretudo, a
idioma árabe. A Turquia, não tem chegada.(FAUSTO, p.15).¹
nada a ver com o Líbano, [...] lá se - Quais passagem das memórias do
fala o turco, hoje isto já está claro na senhor Hassam corroboram com as
cultura do povo (HASSAN, IN: observações do professor Boris
ALMEIDA, p.136 ). Fausto?
JAPONESES
Os primeiros japoneses chegaram ao Brasil em 1908, vieram a bordo
do navio Kasato Maru. O discurso realizado pelo deputado japonês
Gonta Doi aos 781 emigrantes deixa claro o espírito da emigração
nipônica que seria imperativo à mentalidade desses homens,
mulheres e crianças:
Vocês estão indo para outro país e não devem esquecer que cada
um representa o Japão. É necessário que todos se encarreguem de
não manchar a honra japonesa e o nome de sua pátria. Se não
forem capazes de viver condignamente, não pensem em voltar.
Tenham vergonha e morram por lá.
Discurso de Gonta Doi aos 781 emigrantes do Kasato Maru no porto de Yokohama,
próximo à Tóquio, em 28 de abril de 1908, às 17:55.
Até a década de 1930 a emigração
japonesa para o Brasil foi incentivada pelo
próprio Estado japonês em comum
acordo com o Brasil. Companhias
japonesas de emigração particulares
negociavam com os governos brasileiros
e contavam com recursos do Estado
japonês para subsidiar a vinda e
estabelecimento desses colonos,
especialmente nas lavouras de café do
estado de São Paulo.

Cartaz de companhia de emigração particular japonesa com propaganda que


procurava seduzir possíveis candidatos à emigração para o Brasil.
As condições de trabalho a que os primeiros imigrantes japoneses
foram submetidos eram absurdas. Foram enganados pela
propaganda das Companhias de Emigração que muitas vezes
chegaram a se apropriar das poucas economias dos emigrantes
durante a viagem de vinda. As condições de habitação,
alimentação, trabalho e a administração das fazendas fizeram cair
por terra as ilusões desses trabalhadores e trabalhadoras. Por isso
os japoneses só podiam emigrar em família de no mínimo 3
pessoas. As autoridades queriam evitar a fuga dos imigrantes das
fazendas, queriam forçá-los ao cumprimento de contratos
aviltantes.
Muitos abandonaram as
fazendas, alguns poucos
voltaram para o Japão. Para
aqueles que ficaram no Brasil foi
fundamental a união. Por meio da
poupança reuniram recursos que
investiram na compra de
pequenas e médias
propriedades, normalmente
voltadas à policultura, tornaram-
se re-imigrantes.

Mulher Japonesa alimentando aves numa granja da Fazendinha. Foto da décade de 1960.
Coleção Toshio Tanaka. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Procuravam viver em comunidades
como no caso da Fazendinha em
Araucária, onde até hoje vivem
famílias de japoneses e
descendentes de japoneses
dedicadas à produção de
hortifrutigranjeiros. Plantações de
Membros da Família Tanaka batatas, tomates, pêssegos e
trabalhando na seleção de granjas de aves, organizadas de
tomates. Foto de 1959. Coleção acordo com a propalada eficiência
Toshio Tanaka. Acervo do
japonesa, passaram a compor a
Arquivo Histórico Archelau de
Almeida Torres. paisagem do município.
Comemoração no Clube Nipo-Brasileiro na Fazendinha,
década de 1970.
Nesse antigo clube eram
realizadas festas com comidas
típicas japonesas, organizadas
atividades esportivas,
encenadas peças teatrais e os
jovens contavam com aulas
de japonês.
Na fotografia,
candidatas a
Rainha da
Festa, década
de 1970.
8- ERVA-MATE
Os caingangues e tupis a chamavam de congonha, palavra
que significa “o que mantém o ser”. Por muito tempo foi
assim que os luso-brasileiros se referiam a erva mate, o chá-
americano que era consumida pelos índios guaranis,
caingangues, carijós, xetás, guairás, charruas e até mesmo
pelos incas desde tempos imemoráveis.
Planta nativa de partes dos territórios do
Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Paraguai e
Argentina, recebeu o nome científico do
Ilex paraguariensis do grande botânico
Auguste de Saint-Hilaire em 1820. Não
demorou muito para que o cientista
viajante se arrependesse da
nomenclatura. Logo descobriu que é aqui,
no Paraná, que a planta se desenvolve
mais e em maior quantidade. Se retratou
dizendo que a planta deveria se chamar
Ilex brasiliensis.
O termo "mate" tem origem
no idioma dos incas, o
quíchua, através do vocábulo
mati, significando "cuia,
recipiente" e designando a
cabaça na qual até hoje se
bebe a infusão de erva-mate.
O termo "porongo", que
nomeia a planta que fornece
a cuia usada para beber o
mate, também vem do
quíchua [...] (WIKIBOOKS).
No início da
colonização, os
jesuítas
consideravam o
mate uma bebida
alucinógena, diziam
que os índios
estavam viciados,
então proibiram o
seu consumo nas
missões sob sua
administração.
Missão Jesuítica
1. Praça
2. Igreja
3. Colégio
4. Oficinas
5. Cemitério
6. Hospital
7. Habitações
8. Capela
9. Horta
10. Moinho
11. Olaria
12. Curral
13. Lavoura
Logo mudaram de ideia por três motivos.
Em primeiro lugar porque o consumo do
chimarrão combate o alcoolismo que tanto
mal causava aos índios e colonos. Os
religiosos também perceberam que o
inverno exigia uma bebida revigorante
capaz de aquecer os corpos nas manhãs
frias das terras meridionais. Já o terceiro e
mais forte motivo veio com o tempo, a
comercialização da erva-mate se mostrou
muito, muito lucrativa.
Consumida por indígenas,
mestiços, hispânicos e lusos em
diversas regiões do Brasil,
Paraguai, Chile, Bolívia, Argentina
e Uruguai, a erva-mate, de um
produto de consumo local, se
tornou precursora de uma
indústria que atende a um amplo
mercado internacional.
Aqui nos tempos de Tindiquera,
até 1820, a erva-mate era
preparada em rústicos pilões de
soque por negros e índios
escravizados. Depois era
transportada em lombos de
mulas pela arriscada serra do
mar até o litoral, onde era
trocada por produtos
necessários à sobrevivência dos
nossos antigos moradores.
A partir da década de 1820
modernas técnicas de
beneficiamento e comercialização
da erva-mate deram novo fôlego ao
negócio ervateiro. Os mercados
platinos e chilenos passaram a ser
atendidos por engenhos de erva-
mate construídos em Antonina,
Morretes, Paranaguá e Curitiba.
Contudo a falta de uma estrada
adequada continuava sendo um
problema de difícil solução.
A própria emancipação política
do Paraná em 1853 deve muito
ao ciclo econômico da erva-
mate. Não é por acaso que os
brasões do estado passaram a
ostentar ramos da erva-mate e
do pinheiro. Na natureza as
duas plantas estão juntas e a
sombra do pinheiro torna a
erva-mate mais saborosa.
Em 1873, a conclusão
da Estrada da Graciosa
deu novo alento ao
comércio ervateiro.
Carroções passaram a
transportar o produto
serra abaixo, o produto
ganhou em quantidade
e qualidade do
beneficiamento.
O grande impulso para a economia ervateira
estava chegando: a conclusão da estrada de
Ferro Curitiba-Paranaguá em 1885. Obra prima
da engenharia concebida pelo engenheiro
afrodescendente Antônio Rebouças Filho, a
ferrovia elevou a economia da erva-mate aos
patamares de uma verdadeira indústria, capaz
de fabricar a primeira burguesia industrial do
Paraná.
Até a década de 1940, a
indústria ervateira
edificaria fortunas ainda
hoje rememoradas por
antigas residências em
Curitiba, que outrora
foram moradas de
algumas das famílias
mais abastadas da
capital.
Por outro lado, as condições
de trabalho dos caboclos e
colonos dedicados à
economia da erva-mate
pouco mudaram ao longo
dos anos. Antes de chegar
aos engenhos o
beneficiamento da erva-
mate já havia passado por
quatro etapas, a saber:
corte, sapeco, secagem e
cancheamento.
O trabalho da coleta começa logo pela manhã, após o sol secar o
orvalho das folhas. O corte dos ramos é feito na diagonal por
meio de instrumentos como facões, foices e tesouras. Logo a
seguir os ramos são submetidos ao sapeco. Ao tostar levemente
a erva evita-se que ela fermente, assim, desidratada, ela fixa cor
e sabor. Ainda no mesmo dia ela deverá ser levada ao barbaquá
onde a erva passa pelos processos de secagem e cancheamento.
Na secagem a erva-mate é submetida por meio de um duto
subterrâneo ao calor de uma fogueira. No cancheamento a erva-
mate é triturada por um cancheador movido por força motriz
animal.
Cancheador de
erva-mate
movido à força
animal. Acervo
Arquivo
Histórico
Archelau de
Almeida Torres.
Foto Sidney
Dored.
Durante muito tempo essa erva-
mate cancheada era embalada em
sacos e transportada até os
engenhos em Curitiba por carroções
que vinham da Lapa. O
beneficiamento feito nos engenhos
transformava a erva-mate em um
produto de qualidade superior.
Acondicionada em barricas, com
lindos rótulos na tampa, a erva-mate
era transportada de trem até
Paranaguá, donde ganhava os
mercados do Uruguai, Argentina,
Paraguai e Chile.
9-MADEIRA
O doutor Vitor Ferreira do Amaral (1862-1953) não
poderia ter escolhido nome melhor para a nossa cidade.
Araucária, cidade símbolo do Paraná! Araucaria
angustifolia, nome científico do nosso pinheiro.
No reino das Araucárias muitas outras árvores faziam
desse canto da terra um lugar cobiçado: Aroeiras,
Bracatingas, Bugreiros, Cedros, Erva-Mate, Gabirobeiras,
Guamirins, Imbuias, Ipês-Amarelos e tantas outras.
A excelência do Pinheiro do Paraná,
assim como a excelência da imbuia,
cedros e outras madeiras de lei,
condenou nossa mata nativa à queda
dos gigantes.
Os colonizadores precisavam de terras
para o cultivo. Os madeireiros
precisavam de matéria prima para a
sua indústria.

Descrição anatômica de partes da Araucaria angustifolia por Siebold & Zuccarini,


em Flora Japonica, 1870.
Muitos viam na floresta um estorvo,
principalmente por causa dos
pinheiros. Outros viram na floresta
uma mina de riquezas infindáveis.
Ambos estavam equivocados.
Foi então que se deu início a uma das
atividades econômicas mais
importantes da história do Paraná e
especialmente de Araucária, a
extração madeireira.
Serraria do senhor Buschamann, no Guajuvira, década de 1920
O trabalho na atividade madeireira está entre os mais
pesados e perigosos de toda história humana. Da derrubada
das árvores, passando pelo transporte até o beneficiamento
nas madeireiras, tudo era pesado, tudo era perigoso. Naquele
tempo mesmo os donos e seus filhos estavam absorvidos
pelo trabalho braçal que a atividade exigia.
Hoje em dia muitos idosos que no passado trabalharam na
atividade madeireira são testemunhas vivas desse esforço
titânico. Problemas de coluna, quebraduras mal curadas e
dores difíceis de se diagnosticar, a saúde de muitos desses
senhores explica muita coisa.
Fotografia da Serraria de Emílio Voss, década de 1890, doada
por Cecília Voss ao acervo do Arquivo Histórico Archelau de
Almeida Torres.
Em primeiro
plano é possível
identificar o
vapor que fazia o
transporte de
toras e, atrás, o
sistema utilizado
para içá-las até a
serraria.
Riqueza de uns, trabalho duro de
muitos! Entre as décadas de 1870 e
1930 a economia madeireira
construiu fortunas, empregou
muitos homens e remodelou a
paisagem do nosso município de
maneira irreversível.
Serraria do senhor
Buschamann, no Quando ficou claro que as nossas
Guajuvira, década de matas nativas estavam sendo
1920. erradicadas do mapa, muita gente
deixou o município.
Entre as décadas de 1920 e 1940 a população média de
Araucária caiu de 11.280 para 10.805 habitantes. Essas
quedas no número de habitantes são muito incomuns e
normalmente estão ligadas à catástrofes ou ao fim de um
arranjo econômico, no nosso caso, num arranjo econômico
muito dependente da extração madeireira.
Somente a partir da década de 1950 a população do
município voltou a crescer, contudo, muito lentamente até a
década de 1970, quando a instalação da refinaria deu novos
rumos ao município.
Rótulos de palitos de
fósforos das marcas Aurora
e Campos Gerais atestando
a sua fabricação na
localidade de Guajuvira.
Notem que ambas as
marcas pertencem a uma
mesma família, tratando-se
portanto de uma mesma
fábrica. Acervo do Arquivo
Histórico Archelau de
Almeida Torres.
Adentrando o Parque Cachoeira pelo portão do Museu
Tingui-Cuera, contando dezoito passos a partir do ponto
indicado na imagem, você poderá conhecer dois tesouros
da ciência a serviço da preservação ambiental. À direita e
à esquerda, dois pinheiros de proveta, um de cada lado.
Técnica desenvolvida pelo pesquisador e professor da
UFPR, Flavio Zanetti, o pinheiro de proveta foi obtido em
laboratório. A reprodução dirigida consiste em retirar o
pólen de um pinheiro macho e depositá-lo em um
pinheiro fêmea.
10-ANTIGAS
FÁBRICAS
Trabalhadores,
adultos e crianças,
em oficina
mecânica de
Araucária, década
de 1930.
Antiga Usina de Luz
de propriedade de
Rodolpho Voss,
década de 1930. Essa
usina se localizava
na avenida Victor
Ferreira do Amaral,
onde atualmente se
localiza o Arquivo
Histórico Archelau
de Almeida Torres.
Quem diria que de um costume culinário presente na cozinha de
muitos araucarienses, especialmente na cozinha dos descendentes
de italianos, a massa de tomate se converteria numa atividade
econômica tão importante para a história do nosso município?
Somente entre 1933 e 1949 foram registrados 164 pedidos na
prefeitura para a instalação de estabelecimentos industriais
voltados à produção de massa de tomate.
“Eram pequenas fabriquetas, entre dois e cinco empregados
quase sempre dentro do âmbito familiar, que produziam entre
quinhentos quilos e três toneladas, anualmente.” (ARAUCÁRIA,
vol. 4, p. 29).
Plantação de
tomates nos
arredores da
Indústria
Torres. Foto
doada por
Acyr de
Almeida
Torres ao
Acervo
Histórico.
A matéria prima, ou seja, os tomates e os pimentões eram
produzidos no próprio município, pelas mesmas famílias
proprietárias das fabriquetas. Como nos ensinou o senhor
Waldomiro Gayer Junior:
“Araucária teve muita fama pela produção de massa de tomate [...] era
exportada para São Paulo [...] era praticamente produzida por todas as
famílias que plantavam tomates. Entrava na composição da massa o
pimentão. Todos tinham uns grandes tachos de cobre onde se fazia a
massa [...] era um trabalho artesanal, familiar [...]. Faziam massa aos
poucos, acumulavam e vendiam partidas maiores à indústria do
Archelau Torres ou diretamente a compradores; vinham compradores
de São Paulo para aquisição de massa de tomate aqui.” (ARAUCÁRIA,
vol. 1, p. 51).
Propaganda da Massa de
Tomate Archelau de
Almeida Torres. Notem
que a fábrica e escritório
localizava-se em
Araucária, no entanto, o
depósito ficava em
Curitiba, em área
privilegiada do centro.
Foi a produção de massa de tomate que criou o primeiro grande
industrial de Araucária, Archelau de Almeida Torres, não por
coincidência nome de uma escola municipal, do arquivo histórico
da cidade e de uma importante avenida. O museu Tingui-Cuera
localiza-se nas antigas instalações da fábrica.
Entre 1939 e 1945 o mundo viveu um período muito triste, foi o
tempo da Segunda Guerra Mundial. As companhias de
beneficiamento de linho instaladas no Brasil enfrentaram grande
dificuldade para conseguirem a matéria-prima que vinha da
Europa.
Foi então que Araucária se converteu numa solução para essas
companhias. No início da década de 1940 a Companhia de
Beneficiamento de Linho São Manoel, fundada pelo novo grande
industrial de Araucária, Alfredo Charvet, se instalou na cidade,
fornecendo matéria prima para a Companhia São Patrício,
instalada em São Paulo pelo mesmo industrial.
Alfredo Charvet nasceu na França em 1910, veio para o Brasil em
1936 e fundou no Brás, em São Paulo, a Companhia São Patrício.
Em 1947 o senhor Charvet trouxe a própria São Patrício para
Araucária. Outras trinta companhias vieram no seu rastro,
criando em nossa cidade novas oportunidades de emprego.

Fotografias da colheita manual de linho, década de 1940. Foto doada por Waldomiro Gayer Jr. Vista interna dos teares da Companhia
São Patrício, década de 1950. Companhia São Patrício, década de 1950.
A retomada da atividade
industrial na Europa no
período pós-guerra e a
entrada dos tecidos
sintéticos foram dois
golpes fatais à indústria de
tecidos de linho em
Araucária. Por mais de 20
anos, o linho, a vestimenta
de Cristo, foi garantia de
emprego e renda para
Fotografia da sala de penteação da Companhia São Patrício, década
de 1940. As indústrias de linho em Araucária eram marcadas pela muitos dos nossos
forte presença feminina. ascendentes.
11-LUGARES DA MEMÓRIA
Museu Tingui-Cuera
“Inaugurado em 1980, foi transferido em 1982 para o endereço
atual, no antigo prédio que abrigava a indústria de massa de tomate
e farinha de milho, que pertenceu à família Torres. É um museu
histórico e seu acervo reúne objetos do trabalho e do cotidiano dos
antigos moradores do município. Possui: sala de reserva técnica e
auditório Julio Grabowski.”
O POPULAR. Guia Comercial Tudo Araucária. Araucária: Editora O Popular do Paraná, 2015, p. 256
PORTAL POLONÊS
Aqui em Araucária nós temos um lindo Portal Polonês, ele localiza-se no bairro Barigui,
para ser mais exato na Avenida das Araucárias.
Inaugurado em 9 de abril de 2000, esse lindo portal multicolorido marcou o encerramento
do IV Congresso Polônico da América Latina.
No Portal foi deixada uma urna com dados históricos daquele dia e uma placa que convida
às pessoas do ano de 2500 a testemunharem o que lá foi depositado.
O Portal pretende representar no seu projeto, duas fases distintas da arquitetura do
imigrante polonês, combinando elementos arquitetônicos da casa de tronco da segunda
metade do século XIX à arquitetura das casas de tábuas de Araucária.
Podemos ainda observar os lambrequins, recortes na madeira usados para adornar as
abas do telhado.
Casa do Cavalo Baio
“[...] a casa foi tombada em 26 de dezembro de 1978 pela Secretaria de
Estado da Cultura. Edificada em 1870 para a família Suckow, teve como
construtor responsável Walter Joslin. Por muito tempo foi um
estabelecimento comercial, onde se trocavam mercadorias que vinham
em carroças e tropas, sendo negociadas entre colonos e comerciantes. Em
1943, a propriedade foi vendida para a família Chavet. Segundo a
advogada Maria Luiza Charvet, a casa ficou conhecida como “Cavalo
Baio”, porque a família possuía muitos cavalos que ficavam do lado de
fora da casa, sendo que um deles se destacava pelo porte e beleza. Era um
cavalo baio que passou a servir de referência para o local.
O POPULAR. Guia Comercial Tudo Araucária. Araucária: Editora O Popular do Paraná, 2013, p. 207.
Memorial da Imigração Polonesa situado no Parque
Romão Wachowicz. Criado pela Prefeitura Municipal
em 27 de julho de 1995 com o objetivo de preservar
a memória da imigração polonesa, hoje é
reconhecido como uma linda homenagem à colônia
Thomaz Coelho, que foi a maior colônia de
imigrantes poloneses da região de Curitiba. No local
ainda podemos conhecer a Capelinha de São Miguel,
um mirante para a barragem do Passaúna, um
bosque, um pomar, um anfiteatro e uma trilha que
contorna o parque. Se localiza na Avenida
Centenário 1.105, na localidade de São Miguel,
Araucária.
Memórias submersas
“Acompanhando o crescimento das cidades estava o conforto,
mas também os problemas, e a cidade precisava arcar com novas
necessidades, como luz elétrica, água e esgoto, garantidos
também para as indústrias. A água, no entanto, já começava a ser
racionada, principalmente em épocas de estiagem, e era preciso
construir uma nova represa. Foi escolhido, então, em 1974, como
local para a construção da nova barragem a bacia do rio Passaúna,
localizada no coração da colônia Thomaz Coelho, tendo sido
iniciadas as obras no ano de 1982 e concluídas em 1990.
Foi, então, considerada de utilidade pública a desapropriação de 10 km²
de terras na bacia do Passaúna para a construção da represa. Eram
propriedades de colonos poloneses, que pertenciam às suas famílias
havia gerações. [...] “Thomaz Coelho vê seu final com a chegada das
águas” foi o título de uma reportagem especial publicada no Jornal do
Estado, no dia 01 de fevereiro de 1987, que tratava da triste saída dos
colonos, muitos deles ainda sem saber para onde ir e como sobreviver. O
vale do rio Passaúna constituía-se como a região mais povoada da
colônia, pois, assim que chegaram da Polônia, os colonos procuraram
residir o mais próximo possível da água, para facilitar sua busca. E foi
justamente esse núcleo o principal atingido pelo represamento das águas
do rio.” Texto de Luciane Czelusniak Obrzut para o Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Armazém e galpões da família Czelusniak
em início de alagamento da represa
Passaúna, 1989. Foto João Urban.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rafael de Jesus Andrade de. Araucária, nossa história: povoamento e trabalho. Araucária:
Prefeitura Municipal de Araucária, 2022.
ALVIM, Zuleika. Imigrante: a vida dos pobres do campo. In: SEVCENKO, Nicolau (org.). História da vida
privada no Brasil, vol. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 215-287.
ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. A construção de uma história: a presença étnica em Araucária. Coleção
História de Araucária, vol. 5. Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 2010.
ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. Agricultura e Indústria: memória do trabalho em Araucária. Coleção
História de Araucária, vol. 1. Araucária: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 2010.
ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. Da madeira ao aço: a industrialização de Araucária. Coleção História de
Araucária, vol. 4. Araucária: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1999.
WACHOWICZ, Romão. A Saga de Araucária. Curitiba: Gráfica Vicentina Ltda, 1975. p. 119-120.
WACHOWICZ, Romão. Homens da Terra. Curitiba: Vicentina, 1997.
WACHOWICZ, Ruy. Evolução Política de Araucária. Jornal dos Pinheirais. V.2, n.31, p.6, fevereiro de 1980.
WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.
WACHOWICZ, Ruy. Tomas Coelho – Uma comunidade camponesa. Curitiba: Real Artes Gráficas Ltda, 1977.

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