Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
5 CARUARU E A FEIRA
“De tudo que há no mundo, nela tem pra vendê, na feira de Caruaru”.
São esses os versos da canção eternizada pela voz do inesquecível Luiz
Gonzaga, lançada em 1957 no LP “O Reino do Baião. Trazia de um lado “A
Feira de Caruaru” e do outro a “Capital do Agreste”, esta última encomendada
por Luiz e que homenageava o centenário da cidade caruaruense, ambas
compostas pelo compositor caruaruense Onildo Almeida. O disco vendeu 100
mil cópias, entre março e maio daquele ano, configurando o primeiro grande
recorde musical do Nordeste, como informa o importante Dicionário Cravo Albin
da MPB, um dicionário online de iniciativa do Instituto Cravo Albin em parceria
com o Ministério da Cultura e a Academia Brasileira de Letras (DICIONÁRIO
MPB, 2002 – 2021), a música também concedeu ao cantor seu primeiro Disco
de Ouro da carreira.
A Feira de Caruaru
Onildo Almeida
A Feira de Caruaru,
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra ‘vendê’,
Na feira de Caruaru.
PÁG 41 - E sobre a ‘carça de arvorada’”... Onildo: “Nessa Feira, as coisas importantes e curiosas
e que hoje, hoje nós podemos derivar a origem, por exemplo, a maior Feira da Sulanca da
região: Caruaru. Nasceu aonde? Na Feira de Caruaru. Por que nasceu na Feira de Caruaru?
Porque, naquela época, já se vendia roupa feita na feira. Sempre vendeu. ‘Carça de arvorada...
nylon ou cortiça pra matuto num andar nu’. Quer dizer, o que é ‘carça de arvorada’? É o jeans
de hoje. Como é o jeans, se o jeans foi o americano que inventou, foi...mas é... é um pano
característico similar, só que o... o... a... o brim, a alvorada, que era a calça de alvorada.
Alvorada é um brim, um brim feito uma lona, resistente a sol e chuva. O matuto comprava
uma capa, uma calça daquela, ia pra roça com ela, lavava e vinha pra feira, quer dizer, era a
roupa eterna dele, ele passava o ano todinho com aquela roupa, e a roupa forte, não rasgava
facilmente, que era uma lona, então dali a semelhança do jeans, porque a cor do jeans é
exatamente a cor da calça de alvorada, entendeu? É a mesma cor, essa calça que você tá
vestindo, é o mesmo que você tá vendo um brim de alvorada. A juventude hoje, as novas
gerações pra cá desconhecem porque desapareceu a alvorada, parece que ficou o jeans. E ali
na feira de roupa vendia lençol, vendia toalha, vendia blusa, vendia vestido de chita, redes,
então, é a feira de confecções, aquilo que tinha nas lojas tinha na Feira.”
FILLIPE, Pedro. ENTREVISTA COM ONILDO ALMEIDA. Youtube, 22 jun. 2017. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=shvvLs5wdjU. Acesso em: 06 abr. 21.
ASSEMBLÉIA, Tv. TV ASSEMBLÉIA AL – CAFÉ COM POESIA ENTREVISTA COM ONILDO ALMEIDA
EM 15/02/18. Youtube, 16 fev. 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=Ahh0grN4-7Y. Acesso em: 07 abr. 21.
G1. ‘A Feira de Caruaru’ completa 60 anos e Onildo afirma: ‘minha maior obra’, 21 mar. 17.
Disponível em: http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2017/03/feira-de-caruaru-
completa-60-anos-e-onildo-afirma-minha-maior-obra.html. Acesso em 07 abr. 21.
que continuam vivos no comércio de gado e dos produtos de couro, nos brinquedos
reciclados, nas figuras de barro do Mestre Vitalino, nas redes de tear, nos utensílios de
flandres, no cordel, nos poetas e repentistas, nas bandas de pífanos, nas gomas e farinhas de
mandioca, nas flores, ervas e raízes medicinais. Sem a dinâmica social e o mercado que a Feira
proporciona, esses saberes e fazeres já poderiam ter desaparecido. Portanto, nada mais justo
que a inscrição da Feira de Caruaru no Livro de Registro de Lugares, destinado a englobar
locais que, independentemente de valores arquitetônicos, urbanísticos, estéticos ou
paisagísticos, constituem suportes fundamentais para a continuidade das práticas e atividades
que abrigam.
Livro de Registro dos Lugares - Nele são inscritos os mercados, feiras, santuários
e praças onde se concentram e/ou se reproduzem práticas culturais coletivas. Os
Lugares são aqueles que possuem sentido cultural diferenciado para a população local,
onde são realizadas práticas e atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto
excepcionais, tanto vernáculas quanto oficiais. Podem ser conceituados como lugares
focais da vida social de uma localidade, cujos atributos são reconhecidos e tematizados
em representações simbólicas e narrativas, participando da construção dos sentidos de
pertencimento, memória e identidade dos grupos sociais.
MIRANDA, 2009, P. 21