DIRETORIA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL
Equipe: Carlito Lopes e Roberta dos Santos
PROPOSTA DE TOMBAMENTO DA FARINHA DE SURUÍ ENQUANTO
PATRIMÔNIO IMATERIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
A mandioca, raiz de tantos nomes e usada de norte a sul do país, é o
ingrediente que mais representa a culinária brasileira. De acordo com Serpa (2000, p. 37) “a técnica de plantio da mandioca e da produção de sua farinha é um legado indígena” que foi assimilado pelos europeus em território brasileiro. Coroada como a rainha do Brasil pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo (2011, p. 93) e também conhecida como “pão dos pobres'', a mandioca é base da alimentação para muitas famílias brasileiras, principalmente com menor poder aquisitivo. Tem sua importância na economia do país e como construtora da identidade coletiva do nosso povo.
Na cidade de Magé, a farinha de mandioca e seus subprodutos são
produzidos e distribuídos a partir dos engenhos localizados no distrito de Suruí e representam um símbolo de resistência e identidade para a população local. Historicamente, os registros de produção da farinha de mandioca Suruí remontam ao século XVIII.
A produção de farinha em Suruí além de ser uma das atividades
econômicas mais importantes da região, é uma tradicional prática cultural que mantém, em alguns engenhos, o processo de fabricação artesanal. Os engenhos são espaços de sociabilidade que materializam memórias coletivas e marcaram gerações através das farinhadas.
Ao longo das freguesias de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim,
São Nicolau de Suruí e na Nossa Senhora da Piedade da Vila de Magé, durante o século XIX, as plantações de mandioca estavam presentes e formavam a paisagem. O conjunto de caminhos que integrava o agrário e o urbano possibilitava o escoamento dos produtos. Como aponta Nielson Bezerra (2011), um dos principais destinos da produção de farinha oriundas de Magé atravessavam o oceano Atlântico com destino ao porto de Calabar, na baía de Biafra, atual Nigéria.
A partir do porto de Suruí, uma das principais freguesias produtoras de
farinha, contava com 17 barcos navegando para a corte e, além desses, iam outros mais carregar no mesmo porto durante parte do século XIX.
A fama da farinha durante o Oitocentos era tanta que inspirou, agora no
século XX, o poema de Oswald de Andrade, chamado Relicário, onde diz que “No baile da Corte/Foi o Conde d’Eu quem disse/pra Dona Benvinda/Que Farinha de Suruí/Pinga de Paraty/Fumo de Baependi/É comê, bebê, pitá e caí”. Além da relevância cultural, a qualidade da farinha de Suruí ocasionou em transformar a mesma em sinônimo de farinha de mesa.