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Por uma história de

Niterói pelo olhar negro e


indígena
Uma atividade de formação a favor de uma cultura de Direitos
baseada nas leis 10.639/02 e 11.645/08
Produzindo histórias

● História ≠ história
● A História pesquisa os fatos marcantes da história - Mas
quem define?
● A História produz o passado na pesquisa, preservação e
divulgação - Que passado queremos?
Uma história milenar
● Os vestígios dos povos originários da nossa cidade que
viveram na costa brasileira remontam a até 8.000 anos atrás.
● Essa presença humana tão antiga foi comprovada por meio
de aglomerados de conchas e ossos que formavam
amontoados de variados tamanhos, alguns chegando a
trinta metros de altura. Esses montes foram chamados de
“sambaquis”, que em língua tupi quer dizer “amontoado de
conchas” ( tãba (conchas) e ki (amontoado).
Uma história milenar

● Sobre o fim dos povos sambaquieiros em torno de dois mil


ou mil e quinhentos anos atrás. Hipóteses:
● Morte pelo contato com outras culturas, como a dos
tupis-guaranis, vindos do interior do território e que se
estabeleceram no litoral brasileiro.
● Miscigenação e trocas culturais entre os sambaquieiros e os
outros povos indígenas.
As etnias e os troncos linguísticos
Tupinambás
(tamoios),
Temiminós,
Tupiniquins e
são do tronco
linguístico
Tupi-Guarani
“Botocudos”
(20 povos),
“Tapuias”
(genérico/port
ugueses) ou
“Aimorés”
(tupi-guarani)
Povos chamados genericamente de
“botocudos”:
● aranãs; ● nacnenuques;
● bacuéns; ● nacrerrés;
● caingangues; ● naques-nhapemãs;
● cracmuns; ● nepes-nepes;
● krenak (343 ● panhames;
parentes); ● pejaeruns;
● guticraques; ● pojixás;
● jiporoques; ● tacruques-craques;
● maconis; ● xetás;
● malalis; ● xoclengues (do estado de
● minhajiruns; Santa Catarina)
● mokuriñs;
Os sambaquis de Itaipu e Camboinhas
Os sambaquis de Itaipu e Camboinhas
Museu de Arqueologia de Itaipu

https://museudearqueologiadeitaipu.museus.gov.br/
Resistência indígena: ontem e hoje

A aldeia indígena Tekoa Mboʼyty foi fundada em 2008 por índios Tupi Guarani na praia
de Camboinhas, lugar considerado sagrado por eles devido aos sambaquis. Por
questões de segurança, foram para o município de Maricá em julho em 2013.
Antes da invasão europeia
● 6 a 8 milhões falantes de cerca de
1000 línguas diferentes.

Hoje
● 800 mil parentes
● 255 povos e 160 línguas
● Uma queda de 98% da população
desde 1500
Niterói: colonização portuguesa e povos indígenas
como agentes históricos

● É comum que os indígenas sejam descritos como inocentes


que foram enganados pelos europeus.
● Entretanto, os povos indígenas negociaram, resistiram,
fugiram e lutaram a partir de seus próprios interesses.
● As alianças entre portugueses e vários povos indígenas foi
fundamental para a consolidação da conquista.
Niterói: colonização portuguesa e povos indígenas
como agentes históricos
● Em 1555, os franceses ocuparam a região da Baía de Guanabara e a
chamaram de França Antártica.
● Os portugueses conseguiram expulsar os franceses, mas não
tinham pessoas suficientes para ocupar o local e impedir a
retomada francesa, principalmente após eles se aliarem aos
tupinambás.
● O povo temiminó habitava a ilha de Paranapuã ou Maracajás (atual
Ilha do Governador), mas o local havia sido tomado pelos
tupinambás e os temiminós migraram para a capitania do Espírito
Santo.
Niterói: colonização portuguesa e povos indígenas
como agentes históricos
● Araribóia era liderança dos temiminós e seu povo mantinha
uma relação de amizade com os colonizadores portugueses.
● Nesse contexto de luta por território, os temiminós se aliaram
aos portugueses para expulsarem os franceses e tupinambás.
● Após a vitória temiminó e portuguesa, Araribóia reivindicou
como recompensa pela ajuda as terras do outro lado da Baía
de Guanabara, as quais foram dadas pela coroa portuguesa
em forma de sesmarias para o chefe indígena.
Niterói: colonização portuguesa e povos indígenas
como agentes históricos
● Araribóia ainda teve que travar batalhas
contra franceses e tamoios até Cabo Frio.
● A cerimônia de posse do líder temiminó,
que se converteu ao cristianismo e mudou
de nome para Martim Afonso de Souza,
ocorreu no dia 22 de novembro de 1573,
data que ficou conhecida como a fundação
da cidade de Niterói.
O bairro de São Lourenço dos Índios

● Fundado a partir da aldeia de


temiminós nas terras da
sesmaria dada a Arariboia
● Até hoje vivem descendentes
que contam histórias sobre os
primeiros habitantes do local
Igreja de São Lourenço dos Índios.
Construída em 1627, é a mais antiga da
cidade.
Desmistificando ideias sobre os indígenas

“Por isso, é importante desassociar a identidade do indígena à


imagem divulgada pela colonização.” (FREIRE, 2002)
Influência indígena nos nomes de lugares
● Tanto o nome da cidade de Niterói, ● Mas é importante destacar que,
quanto o nome de alguns de seus mesmo com essas referências nos
bairros tem origem no Tupi. nomes e no brasão, as imagens que
● Esses bairros nomeados em Tupi se que são construídas pelas histórias
baseiam na descrição das principais oficiais são estereotipadas,
características dos lugares. fatalistas e, muitas vezes, apagadas.

● Niterói, por exemplo, vem do Tupi ● Não se tem um apagamento por


“água escondida”. E em seu brasão, meio do silêncio absoluto sobre a
há recursos de imagem que remetem cultura e história indígena, e sim
às culturas ameríndias com a por imagens padronizadas
utilização do cocar e das flechas. produzidas pela história oficial.
Brasão da cidade de Niterói
Influência indígena nos nomes de lugares

Bairros de Niterói:
● Icaraí = “águas santas/sagradas”
● Itaipu = “pedra que canta” (fonte, nascente)
● Itacoatiara = “pedra pintada/esculpida”
● Piratininga = “secagem de peixe”
● Jurujuba (vem de yuri-yba) = pescoço amarelo (referência a um papagaio
que havia no local)
● Sapê = “algo iluminado, aquecedor” (a utilização do capim chamado de
sapê era usado na construção das casas indígenas e é de fácil combustão)
● Matapacas = local que havia caça de pacas
● Gragoatá = Gravatá = Bromélia
Ararajuba Oca de Sapê Paca

Bromélia
Passado e Presente: Segregação Racial

“A circulação da população negra “Tem essa coisa de que você


na cidade era controlada por deve continuar no seu lugar. Ir
espécie de passaporte concedido para o centro significa que você
pela Delegacia de Polícia à será perseguindo por ter o corpo
pedido do seu ‘senhor’, já os negro”
livres deveriam apresentar sua
carta de alforria.”

O que mudou um século depois da abolição? Qual o


lugar que é reservado a população negra na nossa
sociedade? Onde conseguimos avançar?
Juventude negra, violência policial e
segregação racial
● Em Niterói, 60% de todas as mortes violentas ocorridas em
2019 foram cometidas por agentes policiais do Estado do Rio.
88% dessas mortes eram de pessoas negras.
● A segregação racial é um dos problemas enfrentados em
Niterói, que, apesar do apelido de “cidade sorriso”, promove
uma perseguição constante sobre o corpo negro,
principalmente à juventude.
● Precisamos compreender as origens históricas dessa
segregação racial
Influência negra nos bairros de Niterói
● Cubango: Tem origem na junção dos nomes indígena e africano. Inicialmente
denominada “U-Bang-u”, mas com a chegada dos colonizadores portugueses e a
ocupação dos africanos, o nome foi adaptado para Cubango, que tem semelhante
sonoridade com um importante rio e província de Angola. O bairro era um ponto
de venda de pessoas escravizadas, que quando fugiam se concentravam no Largo
do Marrão. Maior número de população afrodescendente de Niterói.
● Engenho do Mato: veio do loteamento da Fazenda do Engenho do Mato que foi
fundada no final do século XVIII. Como resistência e cultura negra é importante
destacar o Quilombo do Grotão que origina-se da necessidade de garantir a
permanência na terra com as transformações urbanas que chegaram à região
oceânica com maior intensidade a partir das décadas de 1980 e 1990.
Influência negra

● Cafubá: devido a presença de um tipo de gado cinzento


de origem africana que era abundante nessa área.

● Maria Paula: originou-se da fazenda que foi doada por


D.Pedro II, a sua ama de leite, ex escrava, que atendia
pelo nome de Maria Paula.
Marcas históricas negras de Niterói
Estátua Zumbi
São Domingos
● Região ocupada por comerciantes
escravistas no século XIX
● Um dos principais atracadouros
do Rio de Janeiro
● Criação da escola para negros em
1881: Clube dos Libertos de Niterói
Estátua de D.
Pedro II
Marcas históricas negras de Niterói
Icaraí
● Região ocupada pelos temiminós no
período colonial
● Igreja de Nossa Senhora do Rosário:
exercia grande influência e servia de apoio
para negros libertos ou escravizados que
lutavam contra o sistema escravocrata
brasileiro.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito de Icaraí, atual Santuário das
Almas no século XX.
A História do bairro mais negro da cidade
● Cubango: chamado pelos povos
nativos de U-bang-u (terra
escondida)

● Ocupação portuguesa: venda de


africanos escravizados no largo
que hoje é conhecido como
“venda das mulatas”

● Negros cativos: rebatizaram o a


terra de Cubango pois seria o
nome de uma região de onde
eles teriam vindo,
Cuando-Cubango
Cubango/U-bang-u
Cubango e o Largo do Marrão

● Cubango: resultado da fusão de


dois radicais, “Ubang” (barreira) e
“o”, escuro em tupi, a letra “c”
veio na adaptação ao português

● Largo do Marrão: ponto de fuga


para os escravizados vendidos na
região
Cubango: “barreira escura”, ou
● Marrão: forma de chamar o negro
fugitivo “anteparo negro”
O Catolicismo, os negros e Niterói

Além da cultura negra, o Cubango


também foi importante para
formação do catolicismo
sincrético em Niterói, não à toa a
Paróquia do Bairro leva o nome
dos principais santos padroeiros
dos negros cativos, N.S do
Rosário e São Benedito, o santo
negro.
Grêmio Recreativo Escola de Samba
Acadêmicos do Cubango

● “Mais querida do Povo”:


Acadêmicos do Cubango é
uma das principais escolas
de samba da cidade
● O bairro, se tornou, um dos
maiores difusores da cultura
negra para a região
Enredo:
Cubango, a realeza africana
de Niterói! (2015)
O Samba como lugar de resistência

Samba-enredo do Carnaval de 2015:


“Seus filhos vem no ritmar da sua mítica magia te celebrar!
Hoje somos todos negros e clamamos em seu louvor!
Cubango, vestida de realeza africana, faz desse desfile um
ato de amor e respeito, e convida o mundo a te coroar,
porque tu és o grande berço de civilizações e deuses, de
força de trabalho e cultura, a grande Majestade Negra, a
Árvore da Vida!”
Jaime Cezário
Autor e Carnavalesco
Niterói também tem um lugar que mistura a resistência
ancestral dos Quilombos e a força cultural africana do
samba:

O Quilombo do Grotão
Mais de 70 anos de história
● 1920: Manoel Bonfim e sua
esposa Maria Vicência,
descendentes de pessoas
escravizadas no estado do
Sergipe, chegaram aqui em
Niterói
● Vieram para trabalhar na Fazenda
Engenho do Mato, responsável
pela produção em larga escala de
banana prata e
hortifrutigranjeiros da cidade.
Mesmo no século XX, a escravidão
continuava
● "condições análogas à
escravidão":
● Trabalhavam na Fazenda
Engenho do Mato, não
recebiam salário, só pouca
comida e um pequeno lugar
para morar, e não podiam
sair de lá
Começa a luta pela terra
● 1940: a fazenda faliu e
Manoel e Maria receberam
seis alqueires de terra e 2 mil
mudas de bananas como
indenização
● A luta para garantir a terra e
pelo direito à moradia
ganhava um novo capítulo:
começava a construção do
Quilombo do Grotão
A resistência continua
● Com cerca de 60 pessoas, o
quilombo foi reconhecido em
2016 pela Fundação Cultural
Palmares, certificando a
autenticidade da comunidade
tradicional que se autodefine
como quilombola

● Atualmente, o Quilombo do Grotão


promove atividades que vão desde
oficinas com ervas medicinais para
a produção de sabonetes, até aulas
de percussão, capoeira e artesanato
As histórias do
movimento negro em
Niterói são plurais e
marcantes para além
do periodo colonial
A luta pela inserção na Universidade Pública
● O Grupo de Trabalho André Rebouças (1975-1995) era um
grupo composto por estudantes negros da Universidade
Federal Fluminense (UFF). Estes realizavam pesquisas,
trabalhos e seminários sobre a questão racial no Brasil.
Defendendo a inserção do negro não só no corpo
estudantil mas no conteúdo curricular e nas políticas de
permanência da Universidade.
● Maria Beatriz Nascimento foi uma das criadoras do GTAR e
se tornou uma professora e pesquisadora influente no
tema de relações raciais
O primeiro parlamentar negro do
Claudino José
Brasil era morador no morro do da Silva Filho
Estado, em Niterói
● Filiado ao PCB e ao Movimento Operário, foi preso e
torturado inúmeras vezes durante a Era Vargas.
● No contexto da redemocratização, foi eleito
deputado constituinte pelo PCB, em 1945. Era o
único parlamentar negro na Assembléia
Constituinte.
● Sua atuação parlamentar foi focada principalmente
na denúncia e punição de práticas racistas no país.
Hip Hop: Resistência e Cultura Negra em
Niterói hoje
● O movimento hip hop é
atualmente um instrumento
de manifestação e resistência
da população negra,
sobretudo jovem. Niterói é
palco de diversos eventos e
berço de muitos MCʼs.
Roda Cultural
da Cantareira: Batalhas de Rima
Hip Hop: Resistência e Cultura Negra em Niterói hoje

Black Alien:
Mister Niterói
Em Niterói também tem funk
No funk também tem resistência

● Esse funk da Mc Carol é um


apelo por um ensino que
contemple a História dos negros
e dos indígenas. As leis
10.639/03 e 11.645/08 foram
criadas com esse intuito, mas
essa História ainda é muito
pouco disseminada. Precisamos
continuar na luta! MC Carol de Niterói:
“Não Foi Cabral”
Os Bailes Black

● Os bailes Black foram conhecidos


espaços de confraternização,
festejo e até mesmo de formação
política dos negros e negras no
Brasil. Nesses espaços se ouvia,
sobretudo, música Soul de astros
norte americanos como James
Brown, mas também, de cantores
brasileiros como Gerson King
Combo e Toni Tornado. Movimento Black-Rio
Em Niterói tem som de preto e favelado
“Final da década de 70 (...), a gente pregava na época o fim da ditadura nos bailes,
a igualdade. E o movimento black era discriminado. Diversas vezes, também,
nesses bailes, você tinha a presença da PE [Polícia do Exército]. Às vezes a PE na
porta também, monitorando ali. (...). Sempre nos finais do baile, ou no início (...) a
viatura parava lá na porta. (...). Eles não olhavam a gente com bons olhos porque
era um movimento que crescia, que pregava sempre a transformação, alertava,
sinalizava ao povo que precisava de mudança. Os bailes, quando ia lá o Toni
Tornado, Gerson King Combo, o negócio fervia, e sempre tinha lá, viaturas que
chegavam e ficavam ali monitorando para ver se ia haver algum excesso, alguma
coisa parecida. (...) Uma vez a gente foi ao Caramujo, lá em Niterói. Saímos de lá a
base de porrada” - José Fernandes, o Xavante, sobre as violências sofridas em
bailes black.
Qual a relevância dos bailes black para
Niterói?
● Símbolo de promoção da cultura na cidade
● Espaço de formação política dos negros, na periferia da cidade, já
que o relato mais conhecido do Baile Black na cidade foi no
Caramujo
● Construção de uma cidade mais fervilhante culturalmente para
além das expressões culturais da classe média branca.
● Precursores de uma nova expressão cultural da periferia que é o
baile funk
A política de remoção
da população negra
pela ditadura
BNH NITERÓI E SÃO GONÇALO
O BNH
● Pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, foi instituído o Plano
Nacional da Habitação e criado o Banco Nacional da Habitação. O
banco deveria ser o gestor e financiador de uma política destinada
a promover a construção e aquisição da casa própria,
especialmente pelas classes de menor renda, bem como a ampliar
as oportunidades de emprego e dinamizar o setor da construção
civil.
● A partir de 1967, o Órgão tornou-se responsável pelo
gerenciamento do FGTS, o que intensificou o seu poder de atuação.
O Banco contava com o apoio de parceiros para a construção de
seus conjuntos, fossem eles do ramo privado ou do público.
COHAB-RJ

● No estado do Rio de Janeiro, o BNH exercia suas construções em


parceria com a Companhia de Habitação Popular (COHAB-RJ).
Esta, por sua vez, era uma Companhia de capital misto, sendo
49% de controle acionário de empresas do ramo imobiliário.
● Coube a COHAB-RJ a responsabilidade de erradicar as favelas do
Rio de Janeiro, através da construção de habitações em áreas
periféricas das cidades ou em locais de baixo valor imobiliário.
Favela do Contorno

● Localizava-se próxima às
atuais cabines de
cobrança do pedágio da
ponte Rio-Niterói e da
Avenida do Contorno.
Quem eram os moradores?
● A favela possuia cerca de 140 famílias residentes, das quais eram em sua maioria
compostas por “biscateiros” (trabalhadores informais) do centro de Niterói,
como lavadeiras, pescadores, carregadores, passadeiras.
Negociação
● Os moradores do Contorno propuseram ao governo o pagamento de uma
indenização, ou ao menos a doação de um terreno para construírem suas
residências. Contudo, o governo rejeitava a proposta sob a alegação de que as
terras eram públicas, portanto, apenas ele tinha direitos sobre a mesmas.
Claramente, uma política de higienização da cidade. Neste momento, Niterói
contemplava o projeto criação da “Nova Niterói”, conforme expresso em seu projeto
urbano.
● A única saída dada pela COHAB-RJ foi o deslocamentos para o BNH que era
construído no Jardim Catarina - São Gonçalo. Ou seja: ʻʼDeixe ou deixeʼʼ
Problemas
A mudança para o Jardim Catarina mostrava-se
custosa para os moradores. As residências do BNH
tinham um valor - 120 prestações de 14 % do
salário mínimo - além disso, teriam custos com
transporte. Segundo o jornal O Fluminense, 95%
das famílias não tinham condições para comprarem
uma das casas.

Para facilitar o pagamento dos imóveis do J. Dessa maneira, ficara programado a


Catarina, os moradores do Contorno receberiam transferência dos moradores para
financiamento do Departamento Nacional de 1970. Porém, a empreiteira
responsável pela construção atrasou
Estradas de Rodagem. Este, por sua vez, permitiu
a entrega da conclusão da mesma.
o pagamento das residências em 10 anos, bem Somente no ano seguinte, em
como permitiu que os 2 primeiros anos ficassem 01/1971, os moradores puderam
como carência. receber seus novos imóveis.
De onde saíram

Cabeceira da ponte Rio-Niterói Avenida do Contorno


Para onde foram

Foto área Jardim Catarina em 1975 Planta do Conjunto Habitacional


Favela da Maveroy

● Localizava-se próximo ao
12° Batalhão de Polícia
Militar e a Rio Decor de
Niterói.
Quem eram os moradores?
FAMÍLIAS: 433 PESSOAS

ORIGEM QUANTIDADE

ESPÍRITO SANTO 41
NITERÓI 38
1830
BOM JESUS DE ITABAPOANA 53
MINAS GERAIS 49
PARAÍBA 41
A terra
● Uma parte da comunidade, ao menos
juridicamente, era propriedade particular de
Ady Rodrigues do Valle e, a outra parte,
pertencia ao governo, sendo cedida por esse
para o 1° Batalhão de Corpo de Bombeiros.
Ady Rodrigues do Valle havia requisitado a sua
propriedade na justiça, pois almejava
construir um estacionamento automotivo na
localidade. Já os bombeiros, construíriam seu
batalhão no local.
Violência e repressão
● Ady Rodrigues do Valle recorreu à justiça para
que 40 famílias fossem expulsas de sua
propriedade. Contudo, não satisfeita e
almejando o quanto antes construir seu
estacionamento automotivo, recorreu a meios
extrajudiciais: o seu procurador, José Cândido
Lourenço, pm aposentado, adentrava a
comunidade com proposta de suborno a alguns
moradores e ameaça de morte a outros.
● Durante a fase de negociação com os
moradores da Maveroy, policiais militares
instalaram um posto de comando na região. O
objetivo, conforme observado pelos
moradores, era claro: coagi-los.
Violência e repressão
● A COHAB-RJ enviava assistentes sociais e
advogados às comunidade a fim de que
negociassem os despejos com os moradores.
Porém, nem sempre os residentes eram
respeitados. O jornal O Fluminense transcreveu um
dos casos em que os favelados do Contorno foram
tratados de maneira violenta: ʻʼO governo não tem
nada com o problema de vocês. Ninguem mandou
que fincassem a favela onde estáʼʼ.
● Cabe destacar que não era somente com a
construção de áreas militares que a Ditadura
expandia seu poder e a sua repressão, mas também
pelo controle ideológico das mentes. Em 1970, os
moradores do Maveroy, que viriam a ser expulsos,
foram auxiliados pelos assistentes sociais à noções
de higiene e de civismo.
Desfecho

O conjunto habitacional no Salgueiro ficou pronto em meados de


1972, porém, só pôde ser habitado no ano seguinte, em
decorrência da ausência de água e luz. Moradores alegam que o
conjunto habitacional nunca teve acesso a água encanada. Em
13/02/1973, o local recebeu seus primeiros moradores: 43 famílias
do Maracanãzinho e, posteriormente, os expulsos da Maveroy.
Para que os residentes conseguissem quitar seus financiamentos,
o governo federal ampliou o prazo de pagamento de 20 para 25
anos e reduziu para 11 % as taxas de juros.
Segregação racial
● De acordo com a reportagem do Jornal Nexo intitulada “O que o
mapa racial do Brasil revela sobre a segregação no país” é possível
ver, através de um gráfico por eles apresentado que nos informa
que, em 2015, Niterói era a cidade mais segregada do Brasil.
● Logo essa cidade fundada por um indígena, com diversas
influências da cultura negra e indígena. E isso precisa acabar.
● Com essa segregação, de acordo com o professor Paulo Roberto
Soares que foi entrevistado pelo jornal já citado, só faz aumentar
a intolerância racial, religiosa e culturais.
Em Niterói os negros
representam 35,77% de
toda a população, a menor
proporção da região
metropolitana, segundo o
censo de 2010 do IBGE. O
percentual médio na região
ficou em 52,78%..
● Como construir uma pesquisa sobre a história local
da comunidade escolar e do seu entorno por meio
do olhar negro e indígena?

● Que estratégias de pesquisa e reflexão podemos


construir com nossos estudantes, familiares e
moradores em geral?
Material produzido pelo Núcleo do PIBID-História UFF há dois meses sem receber suas
bolsas do Governo Federal

Ana Letícia de Oliveira Felippe


Ana Luíza Guimarães Ribeiro
Carolina da Fonseca Schlaepfer
Fabrício Lucas Sampaio Moreira Almeida
Isabela Orichio Mello Appel
Leandro Silva Machado dos Santos
Luciana de Sá Guigues Almeida
Matheus Ferreira de Jesus
Rhuan Vetuani Nogueira Pereira
Rodrigo Dias Teixeira
Referências:
Abreu, Mauricio de Almeida. Um quebra-cabeça (quase) resolvido: os engenhos da capitania do Rio
de Janeiro (séculos XVI-XVII). Scripta Nova 218 (32), ago. 2006. Disponível em:<
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-32.htm>. Acesso em: 19 nov. de 2020.

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HISTÓRIA FM 043: Racismo estrutural: como ele opera em nossa sociedade? Entrevistadores: Icles
Rodrigues e Luanna Jales. Entrevistado: Sílvio Almeida. [S.l.] Leitura ObrigaHISTÓRIA, 16 nov. 2020.
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De Oxalá, Pai Paulo. A Força da Palavra: Axé! Globo.com/Extra. [S.I.] out 2012. Disponível em:
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Dias, Fabiana. Candomblé: A religião africana mais praticada no mundo. Educa+ Brasil, [S.I.] dez
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Rock, Edi; Santos, Ale. De onde eu venho. De onde eu venho, [S.I.] nov 2018. Disponível em
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Referências:
Cezário, Jaime. Acadêmicos do Cubango. Galeria do samba, [S.I.] 2015. Disponível em:
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16 nov. 2020

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