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Co '&üil
O -' C & 1C S7-
AMARlUO GONÇALVES TA
VARES, filho de José Gonçalves
Leite e Lfdia Alves Tavares, nasceu
em Aurora-CE, a 07 de agosto de
1922. Seus avós paternos foram
Manuel Gonçalves Ferreira e Josefa
Leite de Macedo. Pelo lado materno,
é neto de Sebastião Alves Pereira
e Rosa Alves Tavares. Vindo para
Fortaleza, em 1937", fez seu s estu
dos básicos no Colégio Castelo
Branco e no Liceu do Ceará. Iniciou
a sua vida bancária em Fortaleza, no
Banco dos Proprietários, em 1941.
Aprovado em concurso do Banco do
Brasil, foi trabalhar em Natal, em
meados de 1945, servindo, a seguir,
nas agências de Senador Pompeu,
Crato e João P essoa. Nesta s e apo
sentou, em 1975, e escreveu o livro
"A Outra Face da Moeda". Em João
P esso a , onde fixou residência, ba-
*arelou-se em Direito pela UFPB,
.urma de 1977, É casado com Tere-
sinha de Sá Barreto Gonçalves, Li
cenciatura Plena em Educação Ffei-
ca, Professora da Disciplina no Co
légio Estadual - Liceu Paraibano.
A publicação deste livro contou cora
Opiniões sobre A OUTRA FACE
o apoio da Prefeitura Municipal de Au
DA MOEDA.
rora, administração Alcides Jorge
“O livro é um misto de memória Evangelista Ferreira^ 'e do deputado
e romance, em que o autor narra a s Antônio Tavares.
pectos de sua vida bancária, num
painel de trinta anos. Uma narrativa
envolvente que nos conduz a um la
birinto de p e sso a s dos mais diver
so s caracteres. Uma visão cômica
do mundo bancário. Descrição de
episódios pitorescos. Rico em infor-
Dedicatória
In Memoriam
de boa cepa.
S U M Á R I O
Página
INTRODUÇÃO ............................................. 9
1. ORlGENS DO NÜCLEO URBANO .......................... 12
7. O a l g o d Ao E AS MAQUINAS DE DESCAROÇAR................ 71
- DIVERSÕES ....................................... 94
12. RELIGIOSIDADE - MISTICISMO - AS FESTAS RELIGIOSAS . 102
I N T R O D U Ç Ã O
de expansão da cidade.
9
os produtos da roça e da pecuária, cuja produção leiteira é lacuna, no que diz respeito à divulgação da história de nos
notável pelo fabrico de queijos, que são famosos até fora do sa cidade. Nele procurei mostrar, de forma clara e concisa,
observa-se, desde os primórdios, que o trabalho de coloniza ri ; o desbravamento do território, as famílias pioneiras, a
ção do território aurorense foi dirigido para as atividades agricultura e a criação, o comércio, cafés antigos e bares,
agropastoris, quais sejam, a criação de gado e a agricultura religiosidade, folguedos, algumas curiosidades do lugar, algo
Conquanto não figure entre as maiores do Ceará, Auro quisas orais junto a uma dezena de informantes, dentre os
ra é uma cidade que já foi palco de acontecimentos de relevan mais antigos do município, esta obra não tem a pretensão de
te valor histórico. Como as suas co-irmãs da região, Aurora ser completa nem acabada. Dificuldades outras impossibilita
tem uma história para contar. Basta que nos reportemos ãs ram a obtenção de dados mais ricos e ilustrativos. A não ser
duas primeiras décadas deste século, um período de grande tur um capitulo - o de no 18 - do livro "Padre Cícero, Mito e Rea
l
bulência, em que a população viveu dias de duras provações. En lidade", de Otacllio Anselmo, em que deblatera contra a fac
tre as brumas do passado, ressaltam os trágicos acontecimen ciosa demarcação das terras do Coxá e a rumorosa Q fizitã o d z í,
tos de dezembro de 1908, e a primeira metade de 1909, quando bem como um relato sumário do historiador Joaryvar Macedo so
a então Vila de Aurora foi invadida e saqueada por bandolei bre as origens do núcleo urbano e das famílias Leite e Macedo,
ros, a mando de potentados do Cariri. pouco ou nada se publicou sobre o que aconteceu em Aurora.
Malgrado os desditosos anos que se seguiram àquela in Por outro lado, o livro representa uma contribuição
vasão e que foram de atraso para o progresso do município, o ao estudo da história da cidade que nos serviu de berço; e
povo aurorense soube superar o infortúnio, mostrando-se heró^ embora seja uma obra puramente regional, espero que possa in
co diante da adversidade. Mas o tempo do bacamarte já passou. teressar não só o leitor aurorense, como também qualquer es
Aquilo são coisas do passado, e hoje Aurora é uma cidade onde tudioso da nossa região.
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vrense Joaryvar Macedo, em seu livro "Temas Históricos Regio
sobre a fundação e o fundador da cidade cearense de Aurora. onde realizava batizados e outros oficios religiosos, fato
/o)
A povoação que deu origem ã cidade propriamente dita que evidencia a presença de pessoas habitando por ali. '
e que, primitivamente, se chamou "Venda", teve origem na anti Do mesmo modo que discordam os historiadores sobre o
ga fazenda "Logradouro", do Pe. Antônio Leite de Oliveira, a fundador de Aurora, existe também divergência de opiniões so
qual por sua morte ficou pertencendo aos herdeiros, alferes bre qual teria sido o primeiro templo fundado no local. De
João Luís Tavares e Davi Cardoso dos Santos. Segundo a tradi acordo com Renato Braga - Dicionário Histórico e Geográfico
ção, o arraial teria sido fundado por Francisco Xavier de Sou do Ceará - o primeiro foi a capela que Francisco Xavier man
za, cearense de Aracati, que, tendo chegado ã região por vol dou erigir no ano de 1837, em sua fazenda "Logradouro", dedi
ta de 1831, casou-se com Maria dos Santos Xavier, filha do ci cada ao Senhor Menino Deus, atual padroeiro da Matriz de Au
tado Davi Cardoso dos Santos. Por morte deste, a parte que ti rora, tendo doado trezentas braças de terra para formação do
nha na referida fazenda transmitiu-se, por herança, ao genro seu patrimônio. A citada capela foi erigida no mesmo local da
Francisco Xavier, que, para cumprir voto de sua mulher, man atual Igreja Matriz.
dou edificar em sua fazenda uma capela dedicada ao Senhor Me Todavia, na opinião dos historiadores Antônio Martins
nino D e u s . ^ Filho e Raimundo Girão, a primeira capela teria sido levanta
A denominação de "Venda" prende-se ao fato de que, da por um preto chamado Benedito José dos Santos, com esmolas
precisamente no local da Aurora Velha, existia antigamente tiradas entre os moradores da ribeira do Salgado, tendo São Benedi
uma taberna de comestíveis e bebidas, cuja proprietária teria to por padroeiro. Já o escritor Renato Braga afirma que esta ca
sido uma mulher chamada Aurora. A Venda era um ponto estraté pela data do Segundo Império (1840-1889), sendo posterior ã da
gico para pousada e reabastecimento, colocada ã beira da es fazenda "Logradouro". O pesquisador Deoclécio Leite de Macedo
trada que do Icó demandava o Carirí. parece esposar essa opinião quando escreve: "Capela de Sao Be
Entretanto, o nome "Venda" é anterior ã chegada ali nedito, na Aurora Velha, hoje desaparecida, construída em mea
de Francisco Xavier de Sousa. Conforme registra o escritor la
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numa sala do Hospital de Aurora.
dos do século XIX".
A lógica dos fatos nos conduz a essa dedução. Se o Quanto áo padroeiro Menino Deus, da Matriz de Aurora,
Mestre Benedito, conforme reza a tradição, originário da pro a primeira imagem era de gesso e veio da França. A atual, que
víncia da Bahia, chegpu à nossa região por volta de 1845, co se acha no altar-mor, é de madeira e foi esculpida em 1954,
mo escravo alforriado, obviamente que a construção de sua ca por um escultor português, de nome Joaquim de Sousa, residen
te no Rio de Janeiro.
pela foi posterior ã da fazenda "Logradouro", que data de
1837. Se a capela de São Benedito fosse anterior à do Menino Próximo da Igreja Matriz, pelo lado esquerdo, ainda
Deus, como podemos entender que aquela somente fosse conclui, existe o sobradinho que o Cel. Xavier mandou edificar em 1831,
da muitos anos depois, ou- seja, quando Mestre Benedito regres. no qual residiu até mudar-se para o Crato, ande faleceu em 1847.
do Paraguai. No Rio de Janeiro, o lealdoso preto conseguiu fa e meio de largura, também são de cedro, tendo sido essa madei^
lar com o imperador, e este, após ouvir Benedito, presenteou ra tirada nas proximidades, entre o cemitério e o rio, numa
a capela com algumas imagens, alfaias e paramentos necessá evidência de que era sobremodo rica a flora da região.
rios à celebração de ofícios religiosos. Deu-lhe também um s^ Como vimos, dois fatores concorreram para a formação
no com o brasão do Império, retratos a óleo dos soberanos e do núcleo urbano: um de natureza religiosa - o oratório e as
Em torno da capela de São Benedito, é verdade, for pela quitanda/pousada de dona Aurora.
mou-se o vilarejo, para o que contribuiu o "barracão" de d. Au O representante do fator religioso vem a ser o Pe. An
rora, existente nas proximidades. Quando a "Comissão Cientí tônio Leite de Oliveira, que exercera as funções sacerdotais
fica de Exploração" por ali passou, em 1859, integravam o po na Paróquia de Missão Velha, ora como pároco interino - de no
voado a Capela de São Benedito e as casas adjacentes, ou seja vembro de 1805 até agosto de 1808 -, ora como vigário, de ago£
a "Aurora Velha". Da referida capela, que se erguia entre o to de 1808 até novembro de 1809, e que figura em documentos
rio e a estrada, restam o sino, que se encontra na Igreja M a de 1817 e 1818, como oficiante de batizados, em seu Oratõtio
dos Remédios, estando a primeira na Igreja Matriz e a segunda O fator sõcio-econõmico é representado pela Venda
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V i n d a
que, como se sabe, foi iniciativa do Cel. Xavier. A propósi
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do pela Lei nQ 2.141, de 29 de julho de 1889. Em 1931, um maj.
2, FORMAÇÃO POLÍTICA. RELIGIOSA E ADMINISTRATIVA Aurora, suprimindo a sua autonomia, sendo o seu território
Em sua formação política. Aurora passou por altos e Carneiro de Mendonça, que fez restaurar, junto com outros, o
baixos, por isso que o município foi extinto ’duas vezes e município de Aurora, através do decreto nO 1.156, de 4 de de
duas vezes foi restaurado. zembro de 1933, constando, em sua divisão administrativa, dos
(7)
Antes de se tornar município, o passo inicial foi a distritos da sede, de Ingazeiras e Boa Esperança. ' Com boa
criação, em 1858, do Distrito Policial de Venda, fazendo par extensão territorial, o município de Aurora limitava-se com
te do Termo de Lavras. Em outubro de 1870, em virtude ãâ Lei Vãrzea-Alegre, Lavras da Mangabeira, Missão Velha, Milagres,
no 1.318, foi criado o Distrito de Paz da Venda, integrado ao Alagoinha, Cajazeiras e Jatobá de Piranhas, os dois últimos
Termo de Lavras, mas já com limites definidos pela Câmara Mu na Paraíba.
nicipal. Tendo em vistji o desenvolvimento satisfatório da po- Pelo decreto no 448, de 20 de dezembro de 1938, Auro
voação, o Dr. sátiro de Oliveira Dias, presidente da Provínr- ra conquistou os foros de cidade. Em virtude da criação do iíiu
cia do Ceará, sancionou a Lei no 2.047, de 10 de novembro de nicípio de Barro, em novembro de 1951, Iara (ex-Boa Esperan
1883, criando o município com sede na Povoação da Venda, en ça) foi desmembrada de Aurora, passando, com Cuncas, a compor
tão elevada ã categoria de Vila, com a denominação oficial de o novo município. Atualmente, o município de Aurora é compos
O município foi instalado a 30 de maio de 1885, oca Consoante notícia existente no Livro do Tombo da Pa
sião em que foi empossada a sua primeira Câmara Municipal, róquia, a história religiosa de Aurora deve ser contada a par
composta dos seguintes membros: tir da Capela mandada construir, em 1837, por Francisco Xa
.I
Presidente: Manuel Leite de Oliveira; vier de Sousa, ao lado de sua residência, na fazenda "Logra
nio Leite Teixeira Neto, Francisco Bezerra de Medeiros, João A atual Igreja Matriz advém da antiga capelinha, que
Francisco Leite e José Antônio de Carvalho Rios. passou por sucessivas ampliações e reformas. Ocorrendo a mor
A autonomia teve duração efêmera, visto que, a 12 de te do Cel. Xavier, em 1847, a capela passou a ser. administra
dezembro de 1885, era extinto o município, para ser restaura- da pelo Ten. Manuel Joaquim Carneiro, que, auxiliado pelo po-
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vo, procurqu dar maior acréscimo ao pequeno Templo. A primei ração de Jesus, São Sebastião, N. S. das Dores, N. Senhora da
ra melhoria ocorreu em 1864, quando, na condição de Cura - o Conceição, N. S. do Carmo, N. Senhora dos Remédios, N. S. do
primeiro -, apareceu o Pe. Agostinho Afonso Ferreira, que em Perpétuo Socorro, Santa Margarida e Santa Teresinha.
preendeu alguns acréscimos, contantes de corredores, pequeno 0 atual vigário da Matriz ê o Pe. Vicente Luís dos
Consistório e um Cemitério nos fundos da Igreja, como era de Santos, que conta no vicariato com a colaboração do Pe. José
costume antigo. Vinte anos depois, acrescentaram os arcos e Gonçalves Landim.
alguns altares. Quanto à formação judiciária, teve início com a cria
Mesmo depois de declarada a sua emancipação política, ção do Termo de Aurora, ao mesmo tempo da do município, em no
em novembro de 1883, eclesiasticamente Aurora continuou subor vembro de 1883. Com a extinção do município, em dezembro de
dinada à Freguesia de São Vicente Férrer de Lavras, como sim 1885, foi também supresso o Termo, reduzido a Distrito. Anos
ples capela filial. Até que, atendendo às súplicas que lhe depois, ou seja, em junho de 1891, veio a supressão da Comar
dirigiram os habitantes do lugar, através dos irmãos da Con ca de Lavras, passando Aurora, com aquela, a constituir Termo
Joaquim José Vieira, por provisão de 27 de junho de 1893, Em 10 de janeiro de 1922, com base na Lei no 1949, de
resolveu criar a Paróquia do Menino Deus de Aurora, compreen 23 de dezembro de 1921, Aurora foi erigida em Termo Judiciá
dendo em seu território partes desmembradas das Freguesias de rio, contando com um Juiz Municipal Togado e três suplentes
/
Lavras, Missão Velha e Milagres, e nomeando seu primeiro vi leigos, subordinados à Comarca de Lavras. Até pouco antes de
gário o Pe. Vicente Pinto Teixeira, que atuou de 1893 até 1947, Aurora era Termo da Comarca de Lavras. Tendo em vista
1898.
a Reforma Juidicãria do Estado, efetuada pela Lei no 213, de
Ao Pe. Vicente Pinto Teixeira sucederam, no paroquia- 09 de junho de 1948, que transformou em Comarca todos os Ter
to, os seguintes vigários: Pe. Vicente Augusto Bezerra, de mos Judiciários, Aurora ficou classificada como Comarca de 1®
1906 a 1954; Pe. Francisco Luna Tavares, de 1954 a 1971; Pe. Entrãncia. O 10 Juiz do Termo Judiciário foi o dr. Walter
Francisco França, de 1971 a 1987; e Frei Jeremias Teles, de Spindola. O dr. Francisco Augusto de Oliveira foi o último
1987 a 1989.(8) Juiz Municipal e o primeiro da Comarca (1948). Atualmente Au
A última e substancial reforma foi realizada pelo Pe. rora é Comarca de 2® Entrãncia, composta dos Distritos da Se-
Francisco Luna, com o fito de aumentar o espaço para os , . (9)
de, de Ingazeiras e Tipi.
fiéis. Mas a Igreja ficou privada dos altares, onde se entro- Até ã nomeação de um Juiz Togado, a justiça era miniss
nizavam as imagens de São Francisco, São Vicente de Paulo, Co trada pelos suplentes de Juiz Substituto. Não havia bacharéis
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para ocupar os cargos âe Juiz Togado. Os cargos eram bxerci José Gonçalves Leite de 1956 a 1960
dos por cidadãos escolhidos entre os letrados e de boa repu Antônio Gonçalves Pinto 1960 1962
tação. Em Aurora, foram suplentes de Juiz Substituto: José Francisco Bezerra.Santos 1962 1966
Leite de Oliveira, Reinaldo Leite, Cândido Ribeiro Campos, Ma Anastácio Pinto Gonçalves 1966 1970
nuel Gonçalves Ferreira, José Francisco de Sales Landim, Se Teotõnio Gonçalves Neto 1970 1972
bastião Alves Pereira, Justino Alves Feitosa, Antônio Pinto Francisco Bezerra Santos 1972 1976
PREFEITOS DB AURORA
0 atual prefeito é o dr. Alcides Jorge Evangelista Ferreira,
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percurso de 162 kmf.
tudo isso formando uma imensa bacia, cobrindo uma área de meiras sesmarias, ou seja, no início do século XVIII.
10. 500 kma, e que se constitui de terras propícias para agri No que diz respeito ã ribeira do Médio Salgado, as
cultura e criação. O Rio Salgado - o maior afluente do Jagua— sesmarias, em sua maior parte, foram concedidas na primeira
ribe - começa no município de Crato e segue banhando as cida metade do século XVIII, e tinham origem no mencionado rio. Os
des de Missão Velha, Aurora, Lavras da Mangabeira e Icõ, num motivos alegados pelos requerentes eram, quase sempre, a ne-
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asendentes-' e desendentes e receberah mce."
cessidade de tejrras para "acomodar seus gados vacuns e cava-
Eis a carta de concessão:
lares" como diziam nas petições.
"Hej por bem de conceder (como pela presente o faço),
Para conhecimento do leitor, transcrevemos alguns dei»
em nome de sua Magestade q DE goarde, as terras que os Supli
ses Registros, encontrados no "Livro de Datas e Sesmarias",
cantes pedem em sua petisam, não prejudicando a terceiro, aqual
mandado publicar em 1920 pelo dr. João Thomé de Saboia e Sil
lhes dou e concedo para as suas criaçons com todas as agoas,
va, presidente do Estado do Ceará. Vale lembrar gue as sesma
campos, matos, testadas, logradouros, e mais uteis que nellas
rias ora transcritas foram as localizadas na ribeira do Médio
se acharem, das quais pagaram dizimo a DE dos fruitos q nel
Salgado e, portanto, faziam parte dos antigos territórios de
las houverem, goardando em tudo as ordens de sua Magestade e
Lavras e Icó, considerando que a região "das Ingazeiras para
por ellas darão caminhos livres ao Concelho para pontes, fon
baixo" — expressão encontrada em alguns registros — perten
tes e pedreyras etc."
cia àquelas Freguesias.
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e Lima, em 7 de setembro de 1733.
"NO 36 - Rezisto de Datta de Sesmaria dos ajudantes
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objeto da doação foram três léguas de comprido por uma de lar III
guaribe. Denominada de 'Fazenda do Juiz', a Data de Sao Bento Aqueles que adquiriram pedaços de sesmOs e sobras de
era uma grande área, abrangendo vários sítios que hoje têm datas foram os primeiros povoadores do município. E a criação
as denominações de Várzea Redonda, Mocós, Juiz, Maracajã, Can de gado foi a primeira atividade dos colonizadores. No Médio
jica, Volta, Carro Quebrado, Cabrito e Pavão. Salgado, lavra de cana e criação de gado eram atividades con-
A referida gleba havia sido antes doada, por Sesmaria sorciadas. Os primeiros núcleos de colonização foram as fazen
de 1702, ao citado Gil de Miranda e Antônio Mendes Lobato pe das de criar. Sítios com os nomes de Logradouro^ Curral Quei^
lo Capitão-Mor da Capitania do Ceará, 'em nome de sua Majesta mado, Curralinho, Boiada, Malhada Funda e Malhada Vermelha in
de, que Deos guarde'. Reza a escritura de doação: 'que hora dicam ser bastante antiga a exploração pecuarista. Posterior
por bem deste instrumento público, na melhor forma que em Di mente, vieram as lavouras de cana, de algodão e cereais, estas
tido, pelo sobredito Sam Bento Patriarcha, Pai dos Religio As estirpes pioneiras do desbravamento do território
sos, o haver ajudado athé o presente tempo, e daqui por dian compreendido pelo atual município de Aurora foram os Leites e
te o esperava ajudasse em todos os seus bens e pessoa...' 'que os Gonçalves Ferreira, cujos patriarcas, Antônio Leite Teixei
ria que elle outhorgante que valesse esta Escriptura de Doa ra, conhecido como Leite Velho ou Vavá, e Antônio Gonçalves
ção como se presente estivera para aceitar por si, e em nome Ferreira, foram os primeiros a chegar e sentar moradia nesses
dos Religiosos do dito Convento que rogava mais além disto ao tratos do Salgado, fundando fazendas de criar e de plantar.
reverendo Padre Collegial e Theologo Frei Luiz do Rosário, Ao apresentar uma breve notícia biográfica desses dois
que presente estava, quizesse aceitar pela sua parte e dos colonizadores do território aurorense, comecemos por Antonio
Religiosos do dito Convento esta forma de doação.' Leite Teixeira, considerado o fundador da família Leite. De
Seguem-se as assinaturas dos outorgantes, testemunhas onde e de quem procedia Vavá?
e do tabelião Crispim de Sousa Caspo."*11* Para responder esta pergunta, precisamos remontar ao
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1830, transfere-se para a povoação da Venda, onde adquire meia
de Portugal -, moveu perseguição aos jesuítas e seus seguido
légua de terras, de um lado e outro do Rio Salgado,
res, expulsando-os daquele reino, sob a alegação de cumplici
sentando moradia no Sítio Santo Antônio. Trabalhador e econô
dade naquele atentado.
mico, adquiriu mais terras.
Diz a tradição que, por aquele tempo, procurando fu
Posteriormente, as terras de Vavá passaram para os
gir da perseguição de Pombal, emigraram para o Brasil dois ir
seus descendentes, tiveram outros donos e outras denomina
mãos e um primo, fugitivos do Colégio dos Jesuítas, tendo apor
ções, como, a seguir, vão descritas:
tado e desembarcado em Aracati, província do Ceará. Eram mari.
Pela margem direita do Rio Salgado:
nheiros brancos, de olhos azuis. E por serem brancos como lei
Cachoeira (Manoel Homem), Santa Bárbara (Né Tavares), Barro
te, çontrastando com as castas da terra, na maior parte de
Vermelho (de um e outro lado do rio) , Santo Antônio (Carneiro
crioulos, mestiços e pardos, os nativos os apelidaram de Lei
Leite).
te. Como eram fugitivos e perseguidos pela justiça do Mar
Pela margem esquerda do mesmo rio:
quês de Pombal, trataram de encobrir as verdadeiras identida
Califórnia (Zuza Leite), Várzea da Cruz (João Leite), Barra
des e adotaram os nomes de Antônio Pereira Barbosa, Paulino
do Jenipapeiro (Antônio Leite) e Santo Antônio (Joaquim Mi
de Campos Dias e Anastácio do Rego, respectivamente. Os três
guel) .
adentraram a província do Ceará, localizando-se em Crato, on
Antonio Leite Teixeira casou-se duas vezes. A primei
de foram mascates.
ra foi com Rosa Maria de Brito, paraibana de Sousa, quedes
Ao cabo de alguns anos, o mais velho dos irmãos —
frutava elevado conceito, pelo fato de ser irmã de três pa
aquele que se autonomeou de Antônio Pereira Barbosa — foi mo
dres. Em segundas núpcias, casou-se com uma viúva de nome Isa
rar na Freguesia de Flores, província de Pernambuco, e ali ca
bel Macedo (Zabilinha), tendo sido este o primeiro casamento
sou-se com uma das filhas do Barão de Pajeú (Andrelino Perei
de um Leite com uma Macedo. Foram filhos de Vavá: Barnabé,
ra) . 0 nome Leite viria aparecer, pela primeira vez, no pri
José Maroto, Ana, Paulina, Ioiô, Maria, Reinaldo, Valdevino
mogênito de Antônio Pereira Barbosa, registrado com o nome de
e Vicente Leite Teixeira (Alferes). Falecendo a primeira espo
José Pereira Leite, o qual ganhou do pai uma boiada, com a re
sa e aberta a sucessão hereditária, todos os filhos receberam
comendação de que fosse vendê-la e arranjasse um casamento.
herança. Entretanto, por morte da segunda esposa, só quem her
E assim fez. Cavalgou muitas léguas, vendeu o gado e
dou foi um neto de Vavá - Antônio Leite Teixeira Neto -, em
fixou-se na Freguesia do Icõ, onde se matrimoniou com uma m o
virtude de este haver casado com a enteada do patriarca,de
ça da família Teixeira. Do casal, proveio Antônio Leite Tei
nome Ana Isabel de Macedo (dona Naninha) .
xeira. Ao alcançar a maioridade, o moço Antônio, por volta de
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32
Os filhos de Antônio Leite Teixeira casaram-se e se
mosteiro, resolveram tentar, como muitos outros portugueses, a
estabelecerem» no município, dando formação ã família Leite,
vida no Brasil, para onde emigraram na segunda metade do sécu
tida como a mais numerosa de Aurora. Verificou-se u m constan
lo 18.
te entralaçamento dos Leites com outras famílias pioneiras
Antônio Gonçalves Ferreira, antes de vir para o Cea
Gonçalves, Macedo, Xavier, Tavares e Santos — , de tal forma
rá, adentrou a província da Paraíba, estabelecendo-se, por ajl
que podemos considerar os aurorenses como sendo uma só famí
guns anos, no sertão de Pombal. Supostamente envolvido em que^
lia.
tão de sangue, viu-se perseguido pela justiça, fato que o le
vou a retirar-se em direção à fronteira com a província do
Família Gonçalves
Ceará. A forma de livrar-se da perseguição seria atravessando
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Capitão Sinhôzinho, era natural de Aurora, onde nasceu a 6 de Tavares), também vindo de Misaão Velha para o Tipi;
janeiro de 1839, e ali faleceu em 1904. Foi presidente da Câ - Joaé Franciaoo de Sales Landim, que se casou com Joana Lei
mara de Lavras, de 1887 até 1889. Sinhôzinho era casado com te Landim. Foi suplante de juiz, em substituição a Manuel
Orsula Tavares de Jesus, filha de Manuel Joaquim Carneiro e Gonçalvea, apóa a destituição do intendente Totonho Leite;
Maria Tavares de Jesus. D. Orsula era neta do alferes João - Antônio João da Cruz, caaado com a aurorense Joaquina de Je
Luis Tavares, um dos herdeiros do Pe. Antônio Leite de Olive^i aua Tavaraa. Não morou no município.
ra, na Fazenda Logradouro. Do seu casamento com Sinhôzinho, Cazuzinha do Tipi era o décimo-quinto filho do casal
advieram os seguintes filhos: Maria (Sinhara), Antônio, José, Manuel Antônio de Macedo e laabel Maria da Conceição. Irmão
Ana, Manuel, Vitória, Gregório, João, Moisés, Paulo, Joaquim, de Cazuzinha era Joaquim Antônio de Macedo, sogro de Totonho
Maria e Esperança. do Monte Alegre, que d. Marica derrubou da Intendência, em
Outra família que também deu sua contribuição ao po ra, foi João Antônio de Macedo (Vigário Macedo), iniciador de
voamento do município de Aurora foi a dos Macedos, os quais destacado ramo familiar, tendo casado três vezes. João Antô
se localizaram em terras banhadas pelos riachos do Tipi e Bor nio eatudou no seminário para ser padre. Não se ordenou, de-
dao de Velho. Oriundos da Missão Velha, chegaram ao município cidiu-se pelo casamento e ganhou o apelido de Vigário. 0 ca
aurorense, nos dois últimos decênios do século passado. sal Cazuzinha/Marica Macedo teve os seguintes filhos: Rai
A Matriarca da família chamou-se Maria da Soledade mundo (Mundooa), Augusto, João, Silvino, Felinto, Antônio e
Landim (Marica Macedo) , casada com José Antônio de Macedo, co Joana, os quais Be casaram com pessoas dos Leites, Gonçalves
nhecido por Cazuzinha do Tipi. Foi figura central do hediondo e Santos.
episódio de dezembro de 1908.- Cessada a rumorosa questão, a
referida matriarca passou a exercer o seu domínio sobre a po Família B atista/Santos
lítica de Aurora, como verdadeira mandona até 1924, ano do
seu falecimento. Natural de Missão Velha, d. Marica era filha 0 desbravamento da parte sul do município, ou seja, a
de João Manuel da Cruz - Joca da Gameleira -, que também era região de influência de dois importantes afluentes do rio Sal
pai dos seguintes: gado - os riachos de Antas e dos Cavalos - deu-se com a fixa
- Amâncio João da Cruz (casado com a aurorense Maria de Jesus ção, ali, das famílias Santos e Saraiva, que, gradativamente,
36 37
foram-se mesclando com Fernandes, Feitosa, Macedo e Ribeiro sé Pereira, do sítio Várzea de Contas. Mulher de temperamento
Campos. De início, estabeleceram-se os Santos nos sítios An forte, tdrnou-se famosa, por ser mãe dos Paulinos: Antônio
tas e Taveira, na divisa com o município de Milagres, e os (1885-1942), João (1886-1927), Zim (José) (1888-...) e Fran
0 mais antigo do clã foi Manoel dos Santos, originá e se fixando nos lugares hoje denominados Antas, Espinheiro,
rio do baixo Jaguaribe, que chegou ao nosso município por vol Coxã, Diamante, Grossos, Baixa Verde, Volta, Patos, Carro Que
ta de 1830, assentando moradia no sítio Antas. Eram filhos de brado, Maracajã, Marimba, Canjica, Cabrito, Mocós, Santa Cruz,
Manoel dos Santos: José, João, Justino e Antônio, todos com Várzea Redonda e Pavão.
o sobrenome de Batista dos Santos. O de mais prestígio na família foi o "coronel" Cândi
José Batista dos Santos, conhecido por "capitão" José do Ribeiro Campos (1861-1936), natural do sítio Antas, sendo
dos Santos, do Taveira, era natural do município de Aurora, filho do casal Matias Fernandes da Silva e Antônia da Encarna
onde nasceu em 1831 e faleceu em 1918. Casou-se com Severina ção Monteiro. Por ocasião de "qualificar-se" para tirar o tí
Saraiva, natural de Cajazeira do Farias, havendo desse casa tulo de eleitor. Cândido achou de mudar o sobrenome, substi
mento os seguintes filhos: José dos Santos Filho, João, Ma tuindo o Fernandes da Silva por Ribeiro Campos. Quanto ao pai
noel, Antônio (da Caneira), Raimundo e Raimunda, todos, exce Matias Fernandes, era pedreiro, tendo trabalhado na ampliação
to o primeiro, assinando com Saraiva dos Santos. Filhos de da igreja de Aurora, ocorrida em 1864.
João Saraiva dos Santos eram Francisco e Miguel Saraiva. Ao casar-se com Ana dos Santos, conhecida como Nani-
João Batista dos Santos, irmão do "capitão" José dos nha. Cândido Ribeiro instalou-se no sítio Martins, em terreno
Santos, também era natural das "Antas", onde faleceu em 1904, do tio João Monteiro. Em 1902, mudou-se para o sítio Pavão,
com a idade de 72 anos. Eram seus filhos: Agostinho, Saturni da Data de São Bento. Durante vários anos, foi encarregado da
no, Manoel, Joaquim e José Batista dos Santos, vulgo Zé <3a cobrança dos dízimos dos que ocupavam terras da Data de São
Bestinha. João Batista era pai das seguintes mulheres: Maria Bento, na época em poder do padre Cícero Romão Batista. Essa
Cota, que se casou três vezes, a primeira com Normando Feito— grande fazenda, que pertenceu ao Mosteiro de São Bento de
sa, procedente dos Inhamuns. Normando Feitosa fez a campanha Olinda, media três léguas de comprido por uma de largura, de
da Guerra do Paraguai, da qual participou como Alferes; Ana, um e outro lado do Rio Salgado, e estendia-se do riacho dos
que se casou com o agricultor Cândido Ribeiro Campos; Tereza, Mocós até o do Juiz.
casada com Manoel Raimundo, e Idalina, casada com Paulino Jo- Por força da amizade com o padre Cícero, Cândido Ri-
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beiro conseguiu do mesmo o arrendamento do sitio Pavão, na
40 41
• Vicente Pinto Teixeira; as de Antônio Leite Gonçalves, Barna-
Voltemos ao Quadro. Com vista para o nascente, ao la
bé Leite Teixeira (o antigo), Joaquim Gonçalves Ferreira (Joa
do da Matriz, -da qual é separado por um beco, ergue-se o so
. quim Miguel) e Vicente Bernardo. Ai existia um beco que dava
brado mandado edificar pelo Cel. Xavier, tendo sido o primei
acesso ã rua do Comércio, conhecido como Beco da Teimarinda.
ro prédio construido em Aurora. Neste sobrado residiram, su
ApÓB o beco, que foi alargado, havia as residências de Antô
cessivamente, os srs. Cazuza Clemente e Paulo Gonçalves.
nio Leite Teixeira Neto (Totonho do Monte Alegre) , na qual
Anos depois, instalou-se ali o sr. Napoleão Quesado, com o
residência morou posteriormente o filho Vicente Leite de Ma
cedo, de Manoel Leite de Oliveira (Né Leite) , do padre Vicen Cartório. Por algum tempo, a Prefeitura ocupou o andar supe
te Augusto Bezerra e mais uma casa de pessoa da família Al rior, e em baixo funcionaram as Escolas Reunidas. No mesmo
No sul do Quadro, os prédios então existentes eram o tião Alves e dos herdeiros do finado Manoel Joaquim Carneiro.
de Cândido Ribeiro Campos, o do quartel do destacamento de Tempo depois, esta casa foi adquirida e reformada por Gregó-
policia e cadeia, o do Cartório - este foi incendiado por oca rio Gonçalves e sua irmã Maria Gonçalves. A da esquina, no ãn
sião do ataque de 1908 -, as casas de Silvino Macêdo, José guio formado pelo beco, era uma das casas mais antigas de Au
Soares de Albuquerque, Antônio Pinto, João Coelho e de João rora, que pertenceu, primeiramente, a Manoel Homem de Figuei
Paulino dos Santos, a qual casa, apôs a morte do dono, foi redo, passando depois a pertencer a Manoel Teixeira Leite. A
vendida pela viúva Tapuia, e a de Joaquim Alves, que foi toma casa em apreço era onde se hospedava o padre Agostinho FerreáL
da pelo Estado em pagamento de um débito fiscal, tendo sido ra, quando vinha "curar" a paróquia. Nela residiu, por algum
posteriormente demolida para no local ser construida a Cole- tempo, a sra. Amélia de Alencar Araripe, e ali nasceu Jaime
toria Estadual. Seguiam-se as residências do padre José Gon Alencar Araripe, que chegou a desembargador, na Corte de Jus
çalves e de Joaquim Antônio Gonçalves. tiça do Ceará. Até há pouco tempo, foi sede da agência do
Prosseguindo pelo lado direito da Matriz e entrando Correio. Foi demolida recentemente, para alargamento do beco.
pelo beco - atual rua São Vicente - iamos encontrar duas ca A rua do Comércio mudou de nome várias vezes. Primi
sinhas baixas e escuras, onde moravam as beatas Donana Carnei^ tivamente, foi batizada de rua Nova, e depois, das Flores.
ro e Nininha (Ana Saburá) . As duas casinhas eram de taipa, co Não faz muito tempo, chamou-se Santos Dumont, tendo sido, re
bertas de telhas, e foram demolidas para dar lugar à Casa Pa centemente, rebatizada de pref. Antônio Landim de Macedo. Ne
roquial. As casas seguintes, da rua São Vicente, pertenciam la havia poucas casas, quase todas de taipa, isso até o final
a João Batista Neto (João Cândido), José Ribeiro Campos, João do século passado. Com o passar do tempo, foram sendo substi
Cândido (Preto) e Justino Alves Feitosa. tuídas por construções de alvenaria de tijolos, cobertas de
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telhai. Na primeira década deate aéoulo, aa casas exietentea
onde Be vendiam cereais e "variedades", ficavam o quarto de
eram de "Major" Torquato Gonçalves, Cícero Calixto, Alexan
José Lourenço, o de Francisco Torres, e as bancas de Antônio
dre Correia e Manoel Teixeira Leite, na qual oaaa morou o gan
Duarte (artigos de couro) e de José Romeiro (José Quirino),
ro Antônio Landim da Macedo, todaa olhando para o naacente.
vendedor de miudezas, raizes e temperos.
Maia adiante, localizavam-ae caaaa pertencentea a Joaquim Gon
A parte externa do mercado formava um quadrilátero
çalvaa, Moiaéa Vilela e Firmino Valdevino Leite.
com vários quartos, onde funcionavam lojas, cafés e bodegas.
Quanto ao Mercado Público, façamos uma descrição à
Pelo lado da Santos Dumont, a começar do beco, ficavam a loja
parte. Com duaa frentes - uma para a rua Santos Dumont e ou
de Cícero José do Nascimento (Cícero Cecé), as bodegas de Ca
tra para a Cel. Xavier - erguia-ae o, velho mercado, que poa-
zuza Gregório, de João Sabino, e, na esquina, ao norte, a far
aula vários quartos onde negociavam pequenos comerciantes. Ha
mãcia de Edson Zinet. Dal, pelo lado norte, localizavam-se o
via um setor para venda de carnes, e outro com pequenas barra
Café de Maria Gabino, a mercearia de Mundoca França, a loja
caa onde eram vendidos cereais, frutas e "variedades".
de sapatos de Tonheta França e a bodega de Zeca Tavares. No
Na ala que dava para a rua Santos Dumont, localiza
lado sul, ficavam a garapeira de Sinhô Arruda, a oficina de
vam-se as lojas de Sebastão Alves Pereira e Antônio Leite de
artesanato de couro pertencente a Antônio Duarte, a bodega de
Oliveira, iaso no começo do presente século. Continuando, na
Manoel Gregório e a citada loja de Cícero Cecé:
mesma rua ficavam as antigas casas de Antônio Leite Gonçalves
Na gestão do prefeito Antônio Vicente de Macedo (Cel.) ,
e de José do Valle Júnior. Bate, em 1902, mantinha ali uma es,
o mercado recebeu a terceira e substancial reforma.
cola de primeiras letras e era escrivão da coletoria esta
Nos anos 40, a rua Santos Dumont ou rua do Comércio
dual, sendo coletor Manuel Antônio Leite de Macedo.
sediava os principais estabelecimentos comerciais da cidade.
O referido mercado passou por três reformas. A primei
De frente para o leste, descendo, contavam-se os seguintes es
ra foi ralizada em 1942, no tempo em que foi prefeito biôni
tabelecimentos: lojas de tecidos de Solon Alves e de Vicente
co o sr. Raimundo Raul C. Lima.(16)
Gonçalves; a padaria de Antônio Padeiro (AntOnio Leandro), a
Em 1948, o prefeito Antônio Jaime Araripe procedeu ã
quem sucedeu José Leite Teixeira; na esquina, ao lado, a far
segunda reforma, que, na verdade, foi conclusão da anterior.
mácia de Barbosa Lima; continuando, encontravam-se a loja de
Após essa reconstrução, a situação do mercado ficou assimi
tecidos de Sebastião Alves, o bar de Elvira Sã, a loja de João
o setor norte ficou reservado ã venda de carnes, cujas ban
Leite e a de Vicente Tavares; a partir do beco, íamos encon
cas eram de João Aleijado, Antônio Grande - depois Beu filho
trar as casas de residência de Antônio Macedo e de Joaquim de
Mandu -, Cícero das Cobras e Joaquim Pisco. No outro setor,
Lira, o bazar de Cícero Calixto, que tinha de tudo um pouco,
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da ferragem ao tecido, do papel ao livro didático; o bar de ocupar os espaços da Boulevard Joaquim Távora,a saber: o pré
Júlio Carvalho e a Casa Pernambucana. dio da usina de beneficiamento de algodão da Exportadora Cea
A atual avenida Antônio Ricardo, que, primitivamente, rense, a casa ào gerente da mesma (Augusto Jucá), a da usina
se chamou senador Epitácio Pessoa, mudado, tempo depois, para elétrica de Antônio Pinto, a casa de Emídio Cabral - esta foi
Bouvelard Joaquim Távora, praticamente não existia, no come adquirida por José Gonçalves Leite, que nela passou a resi
ço deste século. Começou a se desenvolver a partir de 1918, dir -, a do Correio, a de Ana Tavares de Aquino, a da profes
quando estavam construindo a estrada de ferro. Até 1918, as sora Nazaré Brígido, a de Vicente Pereira e a pensão de Toi-
casas existentes naquela rua eram as de José do Valle Júnior nha Rodrigues. A última das casas citadas foi demolida para,
(Tabelião e professor primário), de Nenenzinha Alves, Solon no local, ser construído o Colégio Paroquial.
Alves e a de um cidadão de Várzea-Alegre, casa esta que foi
que antes morava no Quadro, fez construir uma casa que tinha
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Guarda Nacional - localizou-se, inicialmente, na antiga rua
5. 0 COMÉRCIO: APOGEU E DECLÍNIO esse tempo, teve como sócio o genro Paulo Gonçalves. Pouco de
Antigos Negociantes - Meios de T ran sp orte pois de 1930, transferiu o estabelecimento para a rua Santos
De pouca expressão, o comércio de Aurora, no inicio péus e calçados, e a de secos e molhados. Na primeira, havia
deste século. Limitava-se a duas lojas de tecidos, uma dezena fazendas para todos os gostos e posses: casimiras, linhos,
de mercearias ou bodegas, onde se vendiam estivas, cereais brancos e cáqui (o famoso Rock-smith), sedas, voiles, brim
e bebidas, duas boticas, uma alfaiataria e meia dúzia de ca Jofre, cáqui Floriano, mescla Jangada, riscado Ceará, chitas,
0 mercado se chamava "arapuca" , um barracão onde os palhinha e de massa, das marcas Prado e Ramenzoni. Na seção
marchantes Antônio Grande, João Aleijado e Joaquim Pisco ti de secos e molhados, o freguês podia comprar desde louça chi
nham bancas de vender carne. Dentro da "arapuca" havia umas nesa à bacia de agath, dos vinhos Ramos Pinto e Pedro II ã
termo, foi Sebastião Alves Pereira (1866-1948). Nasceu no lu Até 1920 - ano de inauguração da estrada de ferro -,
gar Serra do Mato, município de Missão Velha, procedente de eram muito precários os meios de transporte entre o sul e o
uma família de agricultores, tendo sido seus pais Manuel Rai norte do Estado. Viajar, naqueles tempos, era um sacrifício.
mundo Alves Pereira e Maria Joaquina de Santana. .Trazido para Viajava-se a cavalo, por caminhos que não tinham mais do que
a povoação da Venda, quando tinha apenas onze anos, trabalhou dois metros de largura. Num livro sobre estradas antigas, o
com o pai na agricultura, no sítio Várzea do Meio, região da historiador paraibano Sabiniano Maia descreveu, assim, uma
Caiçara, perto do Rio Salgado. Logo cedo, iniciou-se no comér viagem com animais de carga, em meados do século 18: "Os ani
cio, trabalhando na pequena loja de Manuel Leite de Oliveira, mais marchavam um atrás do outro, sendo que o da frente, cha
de quem adquiriu o negócio, por volta de 1890. De grande tino mado de guia, devia trazer ao pescoço uma campa. Isso evita
comercial, conseguiu, em poucos anos, desenvolver a sua casa va que os animais andassem emparelhados, abalroando a carga
comercial, que chegou a ser uma das mais afamadas da região. com os arvoredos da beira do caminho, tal a estreiteza deste,
A loja do Major Sebasto - ele tinha essa patente da enquanto que o toque da campa do guia evitava o impasse do en
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I
contro de duas tropas, em sentido contrário, numa curva fe tempo, em que tudo era atraso, muito concorreram para o desen
As mercadorias eram transportadas, ora em carros de portes daquele tempo, Sebastião Alves foi um dos propulsores
boi, ora em costas de animais, sendo acoridicionadas em sur- do progresso de Aurora, dada a iniciativa de manter uma loja
rões de couro e cangalhas de albarda. Os produtos exportáveis com tão variado acervo de mercadorias. Para ir â Fortaleza,
eram algodão, fumo e rapadura, que eram vendidos nas praças viajava a cavalo, fazendo-se acompanhar de dois comboieiros,
de Icó, Russas e Aracati. Dentre os antigos vendedores desses a tanger os burros carregados de sacos de algodão e rolos de
produtos, destacaram-se os seguintes: Antônio Leite Teixeira fumo, que Major Sebasto vendia em Quixadã e na capital cearen
Netto, que levava para vender em Fortaleza, ã firma Leite Bar se. Em suas primeiras viagens, tomava o trem na estação de
bosa, a pluma produzida em sua bolandeira; Justino Feitosa, Canoa, hoje Aracoiaba. A medida que os trilhos avançavam na
que também possuía bolandeira, levava idêntico produto para direção sul do Estado, foram diminuindo as caminhadas a cava
vender em Aracati, que era porto movimentado, onde atracavam n a lo. Passou a apanhar o trem em Quixadã e, depois, em Senador
vios ingleses; Antônio Leite Gonçalves, que comercializava o Pompeu, nesta a partir de julho de 1900. A partir de 1910, em
fumo produzido em suas terras, bem como o que lhe vinham ven barcava na estação de Iguatu. Na viagem de regresso, os ani
der os lavradores de Aurora e até de outros municípios. Condu mais de Major Sebasto vinham carregados daquelas mercadorias
zia o produto para Aracati, vendendo-o ã firma Costa Lima 6 necessárias ao sortimento da sua loja.
Myrtil, especialista na compra de fumo e algodão para os in Um acontecimento da maior significação para o municí
gleses. Outros exportadores foram Joaquim Bernardo de Albu pio foi a inauguração, em meio ã grande festa, da estação da
querque e Joaquim Moreira, que, na década de 20, levavam fumo estrada de ferro, no dia 7 de setembro de 1 9 2 o .
para vender em Russas, Limoeiro e Aracati. Antônio Pereira Lo Com as pontas dos trilhos em Aurora, o comércio tomou
bo levava aguardente para vender naquelas cidades. No regres^ notável impulso, para o que concorreu também a instalação,
so, esses negociantes traziam querosene e sál, produtos que nos anos 20, de duas usinas de beneficiamento de algodão, sen
faltavam em Aurora. Vicente Leite de Macedo negociava com ga do uma de Paulo Gonçalves Ferreira e outra da Exportadora Cea
do e algodão. No interior do Piauí, comprava "partidas" de no rense. Teve início, então, a fase de apogeu do comércio auro-
vilhotes e bois de ano, que eram soltos nos campos do Bordão rense, que passou a contar com nove lojas de tecidos, uma lo
de Velho e adjacências, para "reformarem" e serem vendidos na ja de calçados, várias mercearias, dois bazares de miudezas
Paraíba (Campina Grande e Capital) . e ferragens, uma livraria/papelaria, duas farmácias, duas pa
Mais do que em outras épocas, os comerciantes daquele darias, duas alfaiatarias, um pequeno salão de barbeiro, dois
50 51
I
hotéis, vuna ferraria/funilaria, uma carpintaria e um curtume,
cia uma
„festa", com tropas de burros transportando o produto
José Inácio de Souza, vulgarmente conhecido como Zé Inácio do
cultura era o algodão, mas foi dizimado pela praga do "bicu "No Cearã, como em outras unidades federativas, o su
do . Começou, então, o desemprego, e muitos aurorenses emigra^ premo poder político concretizava-se na pessoa do chefe do
ram para o sul do pais e para a capital do Estado. partido situacionista. O próprio presidente do estado nada f a
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poucos, auxiliavam, incondicionalmente, com seus parentes e dor vitorioso.
amigos, os mandões locais, não sõ nas eleições, mas também Analisando o quadro sócio-político da época, escreveu
nas lutas armadas". ,20) 0 fato é que, não se podendo fazer pe Joaryvar Macedo: "Ã época em que, no Ceará, se instalou a ol_i
i
lo voto, num tempo em que as eleições eram a "bico de pena", garquia aciolina, os municípios cearenses, como, de resto, os
por força dos entrechoques de interesses pessoais, as mudan do Nordeste, não passavam de valhacoutos de cangaceiros, onde
ças de chefias municipais eram feitas "ao fragor das balas o prestígio dos chefes, geralmente rudes e protetores de ban
dos bacamartes e trabucos". Assim sendo, era com esse deside- didos, dependia da cangaceirada de que dispunham. Foi quando,
rato que os coronéis de fazenda armavam de rifles e bacamar no sul do Ceará, recrudesceu o banditismo, atingindo a sua fa
tes os cabras que habitavam nas suas terras, na condição de se apoteótica, com o mais visível prejuízo do progresso de
(21 )
moradores ou agregados, ou contratavam cangaceiros profissio muitas de nossas comunas". '
nais, como fizeram os "coronéis" Antônio Joaquim de Santana e Prossegue Joaryvar Macedo: "Naquela quadra tenebrosa
José Inãcio de Sousa, responsáveis pela deposição, a bala, em de nossa história, era a terra o sertão das deflagrações san
1901, do seu correligionário Antônio Róseo Jamacaru, e em grentas e das surpresas dolorosas; sertão esquadrinhado dos
1908, do chefe situacionista de Aurora, Antônio Leite Teixei espíritos turbulentos e infestado de elementos exaltados;
ra Netto. A ambição maior era a conquista do poder municipal, sertão de assaltos e conflitos, pondo em desassossego a popu
e, movidos por essa ambição, brigavam entre si os correligio lação; sertão do troar do famoso bacamarte e do pestanejar da
nários do mesmo partido dominante, naquele momento. lâmina do punhal; sertão das emboscadas sinistras e do desre^
Em Aurora, foi exemplo dessas brigas a do "Coronel" peito à propriedade alheia; sertão de bandidos e
de coitei-
- * (22 )
Antônio Leite Teixeira Netto, conhecido como Totonho do Monte ros; sertão sem polícia, sem justiça e sem autoridade".
Alegre, com d. Marica Macedo (Maria da Soledade Landim) , que Na região sul do Ceará, como, de resto, nos sertões
apoiavam a mesma facção, no âmbito estadual. do Nordeste, imperava o primitivismo político e a prepotência dos
A época dos acontecimentos que vitimaram a então Vila chefes locais. Era o tempo do mandonismo, em que tais chefes pro
de Aurora, o Ceará vivia sob o jugo oligárquico do comendador curavam resolver as questões de toda natureza através do po
Antônio Pinto Nogueira Aciõli, instalado no poder desde 1896. der das armas, para eles o poder que realmente prevalecia.
Ê certo que Nogueira Aciõli prestigiava os detentores de che Ao analisar o comportamento de chefes do cangaço, co
fias municipais, mas quando qualquer deles era derrubado pela mo Antônio Silvino, Lampião e Sinhô Pereira - os dois primei
força das armas, o oligarca, que foi apelidado de Babaquara, ros favorecidos, algumas vezes, com acoitamento por Antônio
dada a sua fraqueza de caráter, passava a dar apoio ao conten Joaquim de Santana, do Cariri cearense, e o terceiro, aliado
54 55
do "major" José Inácio, do Barro - o historiador Frederico matar e roubar representam as maiores violações da lei penal,
Pernambucano de Melo, em seu livro "Guerreiros do Sol", afir podemos concluir que os cangaceiros representavam a total ne
mou: "há que se mencionar a formação de alianças entre chefes gação da ordem e da lei.
de cangaceiros e chefes políticos, valendo salientar que esse Quanto às formas de cangaço, adotamos a classificação
relacionamento não estabelecia vínculo de subordinação para feita pelo citado historiador pernambucano, cingindo-nos ãs
qualquer das partes". Mais adiante, ele acrescentou: "O que duas modalidades que nos pareceram de maior freqüência no Nor
prosperava era uma tradição de simbiose entre as figuras do deste, quiçá no sul do Ceará: o cangaço meio-de-vida, ou pro
cangaceiro e do coronel, representada por gestos de constan fissional, e o cangaço de vingança. Esta modalidade, em que
te auxílio recíproco". "Por força dessas alianças, não poucas a ação dos seus militantes se voltava basicamente para o ob
vezes o bando se colocava a serviço do fazendeiro ou chefe po jetivo de vingança, foi de ocorrência menos freqüente. 0 can
lítico". gaço meio-de-vida, de surtos endêmicos no Cariri, foi tipo de
Em seu estudo acerca da origem do cangaço, o citado maior freqüência, praticado por aqueles que o adotaram como
escritor esclarece que o fenômeno encontrou habitat natural meio de superar os problemas de sobrevivência, para uns, e de
na região serteneja do Nordeste, estando presentes fatores de ascensão sócio-econômica, para outros. Foi o banditismo de
desorganização social, tais como revoluções, disputas locais, profissão, com aspirações de ganhos materiais ou notoriedade,
agitações de fundo místico ou político ou social, lutas de fa que teve em Antônio Silvino e Lampião os seus maiores repre
mílias e as longas estiagens causadoras de ociosidade ou de sentantes.
semprego. (24) Acrescente-se a isso a impunidade que, e m rela Os moradores ou agregados eram, na realidade, dabras
ção ao banditismo, campeava no Nordeste, particularmente no ou guarda-costas dos seus patrões, desempenhando, quase sem
sul do Ceará.
pre, mandados de ordem defensiva. 0 agregado, pela ocupação
Por oportuno, trazemos algumas noções que considera da terra, pagava ao patrão com auxílio de seu braço e de sua
mos necessárias para melhor entendimento do fenômeno cangaço, arma, quando chamado a defendê-lo. Na opinião do escritor
que é muito falado, mas pouco conhecido. Podemos defini—lo Ariano Suassuna, não raro o cabra é o morador, mas o perfil
como sendo a atividade específica dos bandoleiros, que, durari deste - desempenhando, quase sempre, mandado de ordem defen
te várias décadas, infestaram os sertões do Nordeste, rouban siva - evoluiu para o jagunço ao executar mandados de ordem
do, matando e seqüestrando, enfim, trazendo o desassossego as ofensiva.
populações sertanejas, Uma atividade em que prevalecia a vio O historiador Frederico P. de Melo faz distinção entre
lência, cuja marca registrada eram a morte e a rapina. Como o jagunço.e o cabra. Agrupado em exército particular e tendo
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escolhido o ofício das armas como meio de vida, o jagunço é z a f Raimundo Cardoso dos Santos, padre Augusto Barbosa de Me
um cangaceiro, só que se inclui na categoria do cangaço subor nezes, Gustavo Correia Lima e Cândido Ribeiro Campos.
dinado. Segundo o citado autor, a característica principal do Sendo um documento em que o seu idealizador. Padre Cí
cangaceiro é a ausência de patrão. No mais, o jagunço se con cero, procurou "firmar seu prestígio junto à oligarquia dos
funde com o cangaceiro, entendido que a ação de ambos envolve Aciolys", o famigerado pacto, entre outros artigos, continha
sa. A ação do cangaceiro pressupõe maldade e torpeza, o que "Nenhum chefe procurará depor outro chefe, seja qual
não é comum ocorrer com o jagunço. O capanga e o cabra atua for a hipótese".
vam mais comumente na esfera municipal, enquanto o jagunço "Cada chefe, a bem da ordem e da moral política, ter
chegou mesmo a ser empregado em movimentos de plano estadual, minará por completo a proteção a cangaceiros..."
como o que ocorreu em 1914, no Cearã, depondo o governo cons Observe o leitor o quanto havia de incoerente no citado convê
tituído do coronel Franco Rabeloi2®* No caso específico de Au nio: os "coronéis" assumiram o compromisso de que nenhum che
rora, atacada que foi por elementos de outros municípios, eles fe devia depor•outro chefe, somente depois que por eles ti
eram jagunços e cangaceiros, não se sabendo qual dos dois ti nham sido depostos, de 1901 a 1909, os intendentes de se.te
Como sabemos, o município de Aurora está encravado na Pelo exposto, o leitor pode fa?er idéia da força e do
Par^e sul do estado do Ceará, uma região onde recrudescia o poder que possuía o Padre Cícero, a cujo aceno prestava obe
banditismo, cuja fase apoteótica foi atingida quando o Padre diência imediata todo o Juazeiro e redondezas, e cuja influên
Cícero Romão Batista reuniu todos os prefeitos, presidentes cia se fazia sentir por dezenas de léguas em derredor. Sem
de Câmaras e demais chefes eleitorais da região, em número de aquiescência do "Patriarca", não se movia uma palha, no âmbi
dezessete, para assinatura de um curioso "pacto da paz", que to dos seus domínios.
ficou conhecido como "pacto dos coronéis". O interessante nes "Em termos mais precisos, a influência e dominação do
sa historia, é verificarmos que, aa lista» dos que assinaram o Padre Cícero, através de tantos outros chefes políticos subor
referido pacto, no dia 4 de outubro de 1911, isto é, três dinados a ele, se lançava sobre os municípios de Missão Ve
anos após o ataque ã Aurora, constam os nomes de oito "Coro- lha, Crato, Araripe, Jardim, Santana do Cariri, Assaré, Vár
neis“, dentre os dez que forneceram armas e jagunços para o re zea Alegre, Campos Sales, Caririaçu, AURORA, Milagres, Portei^
ferido ataque, a saber: Antônio Joaquim de Santana, João Rai cas, Lavras, Barbalha, Quixará e Brejo dos Santos".
mundo de Macedo, Domingos Leite Furtado, José Inácio de Sou- Aurora estava cercada de maua vizinhos: no Barro, in^
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■
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lha, dr. Gomes de Matos, dr. Floro conseguiu que fosse reali mento de que fora vítima um correligionário do "Cel." Toto
zada a singular "audiência de demarcação", para garantia da nho, de nome José Gonçalves Pescoço, praticado por dois fi
qual o "n\ajor" José Inácio esteve presente com uns cinqüenta lhos de d. Idalina dos Santos, cunhada de "Seu" Cândido do Pa
cangaceiros. O restante do trabalho - medição e colocação dos vão, revidando agressão sofrida tempos atrás. Ante a queixa
marcos - ficou a cargo do agrimensor Adolfo, e assim que fos apresentada por Gonçalves Pescoço, o delegado Róseo Torquato
se concluído o trabalho deste, a "demarcação" seria levada ao fez o processo e tratou de prender os Paulinos. O "Cel." Do
Juiz para "homologação". Nesse ínterim, Antônio Joaquim de mingos Furtado, de Milagres, veio em auxílio do "Cel." Cândi
Santana e Domingos Furtado irrompem subitamente na questão pa do, que transferiu os sobrinhos para o Sítio Taveira, onde o
ra (lo suplente de Juiz) e Róseo Torquato Gonçalves (Delega Em dezembro de 1908, observou-se movimentação de ja
do) , e que já faziam plano de cercar o Taveira, tendo em vis gunços na faixa Taveira/Coxã, em vista do trabalho de "demar
ta a prática, por pessoas dali, de agressões, ora ãs pessoas, cação" coordenado por dr. Floro Bartolomeu. Por esse tempo,
ora ao patrimônio de correligionários do "Cel." Totonho - re correram rumores de que os homens reunidos no Taveira prepara
pita-se, essas autoridades não tinham mais o que esperar, dian vam-se para atacar Aurora, ém represália ã ofensa causada a
te do esbulho causado pela "demarcação" do Coxá. Além disso, Joaquim dos Santos. As autoridades da vila foram avisadas. Ma
devemos considerar dois incidentes de natureza pessoal, envol nuel Gonçalves chamou Róseo Torquato e lhe disser "Antes que
vendo pessoas "ligadas" ao "Cel." Cândido Ribeiro Campos, vul^ eles venham tomar o café aqui, vamos tomar lá”. Tempos atrás,
go Cândido do Pavão. dada a incômoda intromissão de Domingos Furtado nos assuntos
0 primeiro foi o ataque ao sítio Pavão, empreendido de Aurora, Manuel Gonçalves lhe havia enviado um bilhete em
pelo Delegado de Aurora e pelo lo suplente de Juiz, acima re que dizia; "Domingos:, Veja o erro que está cometendo. Tire o
feridos, cumprindo diligência de que resultou a prisão de Joa paninho dos olhos, para enxergar que Aurora é dos Leites e
quim dos Santos, pessoa influente da família Santos. Este in- dos Gonçalves". Domingos ficou irritado.
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cidente acirrou o ôdio dos inimigos (Santos e Paulinos). O número de capangas a serviço de Totonho Leite era
O outro incidente - este mais grave - foi o espanca- insignificante. Sem um número suficiente de guarda-costas com
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os quais pudesse enfrentar um inimigo que se sabia ser extra Conquanto o número dos que estavam no Taveira fosse
ordinariamente forte, Teixeira Netto pediu e conseguiu do pre inferior ao dos atacantes, ali havia farta munição. A diligên
sidente Nogueira Acioli a vinda dos destacamentos policiais cia que saiba de Aurora tinha, como dissemos, setenta homens,
de Iguatu e Lavras, num total de 62 praças, sob o comarido do mas pouca munição, que logo se esgotou. Avisado do conflito,
tenente Florêncio. A pretensão do "Cel." Totonho era capturar, Zé Inácio partiu para o Taveira, conduzindo cerca de 50 canga
os homens que haviam espancado seu correligionário Gonçalves ceiros. Lá chegando, ãs duas da tarde, já os atacantes haviam
Pescoço e que se achavam refugiados no Taveira, em casa do batido em retirada. Na marcha de retorno, ao passarem pela
"cap." José Batista dos Santos. Furna da Onça, ouviram tocar a corneta. Era a tropa de José
Preparou-se a diligência que iria cercar o Taveira. Inácio, que se aproximava do Taveira.
Para lá seguiram a força de polícia comandada pelo tenente A morte do filho, naquelas circunstâncias, desenca
Florêncio e um grupo de oito civis, tendo à frente Manuel Gon deou a fúria de d. Marica, que, incontinenti, foi se valer
çalves e o delegado Róseo Torquato, perfazendo um total de se de dr. Floro, que se encontrava nas imediações. Dr. Floro foi
tenta homens armados. com d. Marica até a presença de Domingos Furtado, alegando
D. Marica Macedo - peça chave do episódio - foi avisa Floro que o seu município, Milagres, tinha sido invadido por
da pelo genro, Vicente Leite de Macedo, de que a sua proprie elementos de Aurora, e que ele, Domingos, reagisse. Num ges
dade Tipi seria atacada. Retirou-se com a família, a cavalo, to de ignorância e truculência, Domingos Furtado fez que se
para o Cariri, pernoitando no Taveira. Quando a força poli redigisse um telegrama para o presidente do Estado, Nogueira
cial chegou no Taveira, na madrugada do dia 17 de dezembro, Acióli, no qual despacho, comunicando a morte do filho de d.
foi recebida a bala. Houve um tiroteio que durou <las três ho Marica e ferimento em José dos Santos, os signatários pediam
ras da manhã até uma da tarde. Não conseguiram prender os Pau a retirada da força estacionada em Aurora. No referido tele
linos. o "fogo" coincidiu com a "demarcação" do Coxá. Ali per grama, que foi assinado por Domingos Furtado, José Inácio e
to, no lugar chamado hoje "Barracas", estavam dr. Floro com Antônio Joaquim de Santana, os signatários não pediam - exi
müitos jagunços e o "conde" Adolfo, encarregado da medição. giam, uma vez que o seu propósito — isso eles revelaram no
No tiroteio houve um grave incidente: ferido a bala, veio a despacho - era destruir a sede do município. Imediatamente,
falecer o filho de d. Marica Macedo, de nome José Antônio, na mais evidente demonstração de pusilanimidade, Nogueira
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A Invasão (Pe. Augusto Barbosa de Menezes).
Por ordem do presidente Acióli, a tropa foi evacuada
Por sua vez, d. Marica Macedo, no Cariri, contava com na manhã do dia 23 de dezembro, de modo que, ás 4 horas da
o irrestrito apoio dos seus parenteB Antônio Joaquim de Santa tarde, um verdadeiro exército de bandoleiros pôde facilmente
na e João Raimundo de Macedo, bem como dos amigos Domingos entrar na sede municipal, sob o comando do "major" José Iná
Leite Furtado e Zé Inácio do Barro, junto aos quais instou pa cio, tendo como subchefes Raimundo dos Santos, Neco do Bate
ra que atacassem Aurora e derrubassem da chefia municipal o dor, Praxedes, Belo Lacerda, Firmino Pescoço, cândido Ribei
"Cel." Teixeira Netto, devendo, para esse fim, reunir o maior ro Campos e Francisco Pereira de Lucena, o já citado Chico
dessa região com áreas de fronteira dos Estados de Paraíba e resistência. E não podia encontrar. Com a retirada do contin
Pernambuco, possuíam muitos cangaceiros; mas quando queriam gente policial, o intendente Teixeira Netto, em via de ser
mais, era só mandar buscar nas ribeiras do Navio e do Pajeú. deposto, não tinha condições de enfrentar aquele exército de
0 cabrual do riacho do Navio, por exemplo, era bastante famo bandoleiros armados até os dentes.
so. De grande atividade durante a última década do século pa£ Um esclarecimento: a vila de Aurora tinha uma popula
sado e nas duas primeiras do presente, ele atuava não só em ção de pouco mais de mil pessoas, distribuída pelos seus du
sua ribeira de origem como em todo o vale do Pajeú e nas viz^L zentos e poucos fogos, valendo notar que a maior parte da po
nhanças, inclusive sul do Ceará, penetrando por Belmonte, Ma pulação morava nos sítios e fazendas. No dia da invasão, pou
capá, Jardim e Brejo dos Santos. cas pessoas estavam na vila. A situação de abandono era tão
Assim sendo, na véspera do ataque â Aurora, estavam evidente que, quando os cangaceiros entraram na Igreja, onde
concentrados no Barro cerca de 600 homens armados — do cabra passar iam a morar, só encontraram uma beata e uma gata. Os
ao cangaceiro - vindos dos valhacoutos do Cariri, a saber: atacantes entraram em Aurora atirando. Como não havia contra
Milagres (Domingos Furtado) , Missão Velha (Antônio Joaquim de quem atirar, deram descargas para fazer "fita", numa demons
Santana), Barbalha (João Raimundo de Macedo, vulgo Joca do tração dé euforia de quem conquista uma presa fácil, no caso,
Brejão) , Barro (José Inácio de Souza), Juazeiro (Floro Barto- a vila indefesa.
lomeu) , Brejo dos Santos (Chico Chicote), Porteiras (Raimundo Foi muito fácil ocupar o lugarejo. A começar daí, im
Cardoso dos Santos) , Santana do Cariri (Felinto da Cruz Ne plantou-se um regime de terror em Aurora, "totalmente entre
ves) , Lavras (Gustavo Correia Lima) e São Pedro do Cariri gue ã sanha, ã fereza e ã bestialidade de uma multidão de cr_i
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Ceará, havia três lojas de tecidos e variedades, pertencentes
minosos".*37^
Verificada a impossibilidade de resistir, Totonho Lei a Sebastião Alves Pereira, Paulo Gonçalves e Antônio Leite de
te, com a sua gente, cuidou de fugir, o mesmo fazendo as pes Oliveira, as quais foram impiedosamente saqueadas. A loja de
soas representativas do lugar. ^38^ major Sebasto era a mais sortida; nela havia um bom estoque
Manuel Gonçalves, genro do "Cel" Totonho, permaneceu de vinhos e cerveja, que os saqueadores beberam, deixando os
na Vila até um pouco antes da invasão. Pensou em resistir, mas "cascos" espalhados pelo chão. Antes de ter a sua loja invadi,
viu que seria inútil, ao ser informado por Róseo do número de da. Sebastião Alves conseguiu salvar parte das mercadorias,
invasores. Retirou-se com a família para o sítio Tunga, anti que ele transportou em costas de animais, quando se retirou
ga moradia dos Gonçalves, e dali saíram para São Francisco, com a família para o Carirí.
hoje Quitaiús. Aconselhado pela família, pois havia ordem do Depois do assalto, apareceram pessoas ostentando lu
inimigo para matá-lo, Manuel Gonçalves resolveu mudar-se para xo, pessoas com roupas de fazendas que, antes, não podiam com
a capital do Estado. De Fortaleza, onde morou cerca de seis prã-las. A louça chinesa do major Sebasto, retirada de sua lo
meses, emigrou para o Estado do Pará, a fim de cumprir o exí ja, foi vista na casa de um conhecido invasor. As principais
Ocupada a Vila pela jagunçada, começaram as persegui Joaquim Miguel e Antônio Leite, foram arrombadas. Nada esca-
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ções aos parentes e amigos do intendente deposto. Os invaso pou a sanha e a fereza dos bandoleiros.
res entregam-se ã rapina e ã pilhagem, em ações próprias de A Igreja se tornou morada de cangaceiros, de onde
cangaceiros, pois se revestem de maldade e torpeza. Os bando saíam para dançar samba na casa de Zé Pretinho, na estrada do
leiros não se limitam ao furto, pois destróem e depredam o Jatobá. Dançavam com as filhas de Zé Pretinho, que eram qua
que não podem conduzir. tro morenas faceiras, elas com as asas que os bandidos haviam
O primeiro ato dos invasores foi varejar as casas dos tirado dos anjos da Igreja.
mais abastados, no intuito de se apoderarem de objetos de va "Mas o terror não se restringiu ã vila", — escreveu
lor, de amas, de munição e até de gêneros alimentícios. Con o historiador Otacílio Anselmo — "estendeu-se ã zona rural,
forme escreveu Otacílio Anselmo, houve assaltos a residências onde foram depredadas, pilhadas e varridas por incêndio, nada
e casas comerciais, cujas portas foram arrombadas a coices de menos de vinte e cinco fazendas, em cujo número se incluíam
rifle e a golpes de machado, convindo salientar que os roubos todas as propriedades do Chefe local, Antônio Leite Teixeira
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proprietário do município, foi o mais prejudicado pelo canga
Com a deposição de Antônio Leite Teixeira Netto, as Cultivado secularmente em nossa região, onde as con
sumiu a intendência municipal o sr. Cândido Ribeiro Campos, dições de clima quente e seco lhe são favoráveis, foi o algo
pessoa da confiança de Domingos Furtado e representante da dão, durante muitos anos, a base da economia cearense, e em
parcialidade agressiva. Estava consumada a vingança dos inimi particular, do município de Aurora. Numa região que, de tem
gos de Teixeira Netto, na verdade, uma vingança muito despro pos em tempos, é castigada pelo flagelo das secas, o algodão
porcional à ofensa de que dona Marica se considerava vitima. era uma garantia contra os efeitos dessa calamidade. 0 serta
0 processo pelo qual se fez a substituição do inten nejo que possuía uma área cultivada com essa matéria-prima ve
dente de Aurora, conquanto fosse violento e ilegítimo, para getal, podia considerar-se imune ao flagelo climático. E os
os invasores foi tido como um ato político normal, que sõ en agricultores que se diziam abastados eram os que possuíam gran
des roças de algodão.
contraria respaldo na lei do fato consumado. A chefia munici
pal foi tomada pela força, pondo-se em prática um "modus fa- Semeava-se o algodoeiro nas duas variedades conheci
ciendi" bem ao gosto da tradição política e ao estilo dos das: o "branco" ou herbáceo, nos terrenos frescos ou baixios;
1908, foi uma invasão. Um ato de violência que fez submeter Em tempos remotos, descaroçava-se o algçdão em maqui-
a vila a uma ocupação infame, com toda aquela seqüência de nismos de madeira (bolandeiras). Estas eram puxadas por uma
selvagerias, sem que, contra tal estado de coisas, fosse toma junta de bois. Eis a sua descrição: "A bolandeira se compunha
da qualquer providência. A ocupação somente terminaria graças de uma roda dentada, feita de braúna, de cerca de vinte pal
ã irtterveniência de uma autoridade religiosa, o Bispo Coadju— mos de circunferência, e de outra menor, da mesma madeira, me
tor de Fortaleza, D. Manuel Antônio de Oliveira Lopes, que, dindo quatro ou cinco palmos, cujos dentes se engrenavam com
ao passar por Aurora, em agosto de 1909, em visita pastoral os da primeira. As almanjarras — dois paus compridos de pau-
ao sul do Estado, "exortou os bandidos a que abandonassem o d'árco a que se, atrelava a junta de bois - fixavam-se um pou
(43) co acima da bolandeira, a roda maior. Esta girava em torno de
infeliz lugarejo, o que conseguiu com admirável habilidade'.'.
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um eixo, o "gigante", também de braúna. A roda menor era liga tes na cidade, levando ao desemprego centenas de pessoas. Atu
da por um varão de madeira, chamado "sarilho", a uma peca de almente, a •agricultura do município se resume às lavouras de
madeira, o "zabumba", a que se adaptava uma correia de sola. subsistência, basicamente milho e feijão, e em menor escala,
Esta correia, que era ligada a uma polia de ferro, acionava cana-de-açúcar, arroz e mandioca.
o descaroçador. A prensa era acionada pela força de dois ho
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Monte Alegre; de Nelo Pereira dos Santos, nas Antas, também
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Olho D'Âgua.
ras e aguardente.
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O mais antigo boticário foi Luiz Gonçalves Maciel,
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WL
mente louvados em prosa e em verso. Incutia-se nos filhos o
culto pela valentia. Era assim com dona Idalina Santos, mae
14. A CRÔNICA DOS PAUL!NOS dos Paulinos. Quando estes eram rapazolas e vinham para a fei
INTRODUÇÃO lhes recomendava: "Vocês vão pra rua de Aurora, evitem bri
Quem escrever a história de Aurora não pode deixar de nhar, quando chegar aqui apanha de novo". Conselho dado, con
dedicar algumas páginas às estripulias dos Paulinos. selho tomado. E assim, começaram as estripulias.
Na opinião do historiador Joaryvar Macedo, que escre Numa fase tenebrosa de nossa história, o cangaço era
veu um pouco sobre esse assunto, "os Paulinos formavam uma uma atividade criminosa, mas bastante tolerada. Digamos que
irmandade numerosa, que se constituiu, por bastante tempo, no chegou a ser uma atividade profissional, assim adotada por
terror não só de Aurora, mas também dos municípios vizinhos". bandoleiros famosos como Antônio Silvino e Lampião, que fize
A fama de sua valentia vinha do tempo em que eram co ram do oficio das armas um meio-de-vida. Quanto aos "guerrei
nhecidos como "Os Idalina", um grupo inicialmente composto de ros" das Antas, a vocação para o oficio das armas deve ter
quatro irmãos - Antônio, João, Zim (José) e Francisco — mas despontado na juventude. Mas não consta que os Paulinos te
que no auge da contenda entre eles e Isaías Arruda, os Pauli nham exercido a atividade do canqaço no sentido estrito da pa
nos e seuB fâmulos já eram quinze ou mais que isso. Consti lavra. O cangaço profissional envolvia, naturalmente, açoes
tuindo uma família numerosa e muito coesa em suas ações — le de rapina, e não consta que qualquer deles tenha praticado
gltimas ou não — , os Paulinos mourejavam na agricultura, em ação desse tipo. Eram homens voltados para os trabalhos de la
pequenaB propriedades localizadas na zona de influência do voura, em pequena escala, sim; mas sendo destemidos e turbu
Riacho das Antas, a ribeira que ficou famosa pela valentia lentos, andaram metidos em estripulias, como veremos a se
dos seus filhos.
guir. Deste modo, a vida dos Paulinos foi uma sucessão de ri
Na família Paulino/Santos, ser valente era um atribu xas, confrontos, tiroteios, emboscadas e mortes.
to sobremodo valorizado, o indivíduo tinha que ser corajoso, Como a maioria dos que habitavam a ribeira das Antas,
ser bom na pontaria do rifle e no manejo do punhal. Assim os Paulinos eram dispostos, porém violentos e vingativos, não
sendo, o homem se tornava alvo da admiração dos parentes e deixando passar nada... Qualquer intriga ou desfeita era moti
amigos. Ali se apreciava ouvir as façanhas de cangaceiros fa vo de briga, mesmo entre os parentes, como aconteceu em 1918,
mosos, como Antônio Silvino, Lampião e Sinhô Pereira, ampla- quando houve uma briga envolvendo seis pessoas da família,
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das quais três perderam a vida. sor que ia embora dali, mas voltaria para se vingar. Nesse ín
Da famosa irmandade, Antônio Paulino era o mais des terim, uma família que ia para o Parã levou o rapaz para aque
temido, de uma valentia racional. João era o mais briguento e le estado do norte. Antônio tinha 22 anos, quando voltou do
e o de mais prestigio na família. Valentão afamado, toda oca Pará, no começo de 1908, trazendo um rifle e um facão (terça
sião era válida para exibir a sua valentia, ele que tinha do) - Alguém foi avisar a José Gonçalves: "Antônio de Idalina
gosto pelas soluções violentas. Qualquer motivo era bastante chegou, tenha cuidado". Foi então que Antônio juntou-se ao
para um confronto, a bala. irmão João, foram ao sitio Baixa Grande, onde morava José Gon
João Paulino era analfabeto, mas tinha Beus ditos çalves, e lhe deram uma surra, tio violenta que o surrado fi
chistosos, como essa tirada característica: cou rouco.
"0 cavaleiro que arrisca, trisca, petisca e belis
ca... 0 cavaleiro arriscando, triscando, petiscando e belis M orte do c a p ." Jose dos Santos e de Zé da B estinha
cando. .. arriscou, triscou, petiscou e beliscou. Mas é mio
que o cavaleiro arrisque, trisque, petisque e belisque". Francisco Saraiva, genro de Zé da Bestinha, havia for
Moral da história: é melhor beliscar do que ser beliscado. mado um adjunto" - calculadamente de 15 homens - para desman
Segue-se um relato dos principais episódios. cerca divisória entre a sua terra e a de Raimundo dos
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trado no açougue-, derrubando uma banda de boi que estava pen
nha, e grita para este: "Pai, se abaixe, que Raimundo vai
durada ã sua passagem. E havia parado na banca de Francisco
atirar". Nisto, Zé da Bestinha se abaixa, e o tiro disparado
Torres, a quem havia entregue, para guardar, o revólver e a
por Raimundo vai atingir o próprio pai, que morre ali mesmo.
faca ponta-de-espada.
Zé da Bestinha se livra dos tiros e salta sobre Raimundo, to
Após haver sido admoestado pelo sargento, João Pauli
mando deste o rifle, com ajuda de Chico Paulino. Neste momen
no foi rearmar-se. Voltou ã banca de Torres e lhe disse: Me'
to, chega Zuza dos pantos, que, de faca em punho, fere Zé da
dê o meu "mocotó de bode" e o meu "espim de mandacaru" era
Bestinha e Chico Paulino, ocasião em que Raimundo aproveita
assim que ele chamava os seus apetrechos de combate.
para fugir. De posse do rifle de Raimundo, com a última bala,
No meio do Mercado, reencontrando Assis Nonato, João
Zé da Bestinha atira nele, mas não mata. No final, a briga
amparou-se num pilar e passou a trocar tiros com o militar.
resultou na morte dos dois José Batista dos Santos e de um ca
Com uma bala, arrancou o distintivo do quepe do sargento.
bra de Raimundo dos Santos.
Quando acabou a munição dos dois, chegou o soldado Beija-Flor,
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A rixa entre Isaias Arruda e os Paulinos Ao deflagrar-se a contenda de Missão Velha, João Pau
Começou quando "esquentou" a questão entre o "Cel." tas, como seu defensor, no caso de ataque por parte de Isaías.
Manuel Dantas de Araújo, conhecido como Sinhô Dantas, líder Bastou isso para que Isaías declarasse guerra aos Paulinos.
político em Missão Velha, e Isaías Arruda de Figueiredo, lí Sucedeu que, no começo de 1926j chefiando um grupo de
der em Aurora. doze homens armados, João Paulino atacou José Gonçalves de F_i
Antes, da querela, os Paulinos eram amigos de Isaías, gueiredo, primo de Isaías, no lugar Morro Dourado, entre as
muito embora^no começo dos anos vinte, tenham se verificado estações de Ingazeiras e Missão Velha. Durante a refrega, foi
alguns atritos pessoais que denotavam certa rivalidade entre baleado um cabra de João Paulino, de nome Saturnino de Lima,
João Paulino-— o mais ousado da família — e Isaías, sendo que foi acabar de morrer na casa de Antônio Cândido, no sí
este membro de outra família temida — os Arrudas. tio Várzea Redonda* "O ataque se constituiu em evidente desa
Em 1921, Isaías Arruda era delegado de polícia em Au fio ao novo prefeito de Missão Velha". Assim escreveu Joary-
rora. Após a tumultuada eleição daquele ano, em que dissol var Macedo, em sua obra citada, concluindo: "Ficou, destarte,
veu, a bala, a seção eleitoral, Isaías foi refugiar-se em Juêi selada a rumorosa rixa entre Paulinos e Arrudas, que acarre
zeiro. Dali, passou a residir em Missão Velha, então dominada tou mais desassossego ãs populações das duas localidades, mui
por Sinhô Dantas, eleito prefeito. Na época, contendiam dois to mais, porém, à de Aurora".
partidos: o democrata e o conservador, sendo este o que aca
bara de subir, com o desembargador José Moreira da Rocha na Emboscada em Várzea de Contas
presidência do Estado.
Em Missão Velha, Isaías Arruda granjeou prestígio, Em represália ao ataque de Morro Dourado, Isaías Ar-
cresceu na política e passou a conta- com o apoio de Moreira da e seus parentes, José Gonçalves de Figueiredo e José Car
da Rocha. Este confiou a Isaías a missão de derrubar da che os°. Passaram a preparar emboscadas para dar cabo de João
fia de Missão Velha o "Cel." Sinhô Dantas, até por meio de Paulino.
armas, caso preciso fosse. 0 dia escolhido para a deposição Uma dessas tocaias foi posta por José Cardoso no lu
foi o da inauguração da estação ferroviária de Missão Velha: gar Várzea de Contas, por onde, segundo se previa, João Pau
10 de setembro de 1925. Houve uma luta que durou meses, ter lino deveria passar. Acompanhado do irmão Zim e do cabra João
minando com a queda de Sinhô Dantas e com Isaías Arruda assu Vieira, João Paulino havia saído do sítio Baixa Verde, nas An
mindo a prefeitura de Missão Velha. as, com destino a Missão Velha, a fim de tentar uma acomoda-
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ção com Isaías Arruda. Atendia ao chamado de Sinhõ Dantas, Arruda viria de Missão Velha com a sua cabroeira para atacar
que queria acabar com a rixa entre João e Isaías, tendo dado Aurora, o "Cel." Cândido mobilizou cerca de duzentos homens
como prêmio ao primeiro um touro mestiço de Zebu. Sucedeu armados, recrutados entre amigos do Barro, de Juazeiro, La
que, na entrada de Aurora Velha, João Paulino foi emboscado, vras e Milagres, para a defesa da cidade. Na oportunidade,
mas conseguiu furar o cerco. No cavalo em que ia, com o pé apareceu um mediador na pessoa do Cel. Antônio Luiz Alves Pe
enganchado no estribo, João furou o cerco, atirando e gritan queno, chefe político do Crato, que, através de entendimen
do: "Viva o Menino Deus de Aurorai". No tiroteio de Várzea de tos com as partes, conseguiu evitar que se realizasse o san
Contas, morreu João Vieira, capanga de João. Não obstante ha grento confronto. (Irineu Pinheiro, 0 JuazeÁAo do Pe. CZeeAo e a
ver sido emboscado, João Paulino estava querendo fazer acor Revo&tçao de. 1914, pp. 185/186).
nio Macedo, a esse tempo aliado aos Arrudas. O acordo não se A Morte de João Paulino
que por parte de Gonçalves de Figueiredo aos Paulinos, em In- O plano era dar cabo de João Paulino, o quanto antes,
Ataque a Ingazeiras cabras João Marinho, Manoel Antônio, Zé Pemba, Chico Cae
Em dias de junho de 1926, chefiando elementos forne rruda, um total de vinte cabras, entregues ã chefia de José
cidos por Isaías Arruda, José Gonçalves de Figueiredo atacou çalves de Figueiredo, para que, juntamente com Benjamin Fi^
os Paulinos entrincheirados na povoação de Ingazeiras, conse g eiredo e José Cardoso preparasse emboscadas para abater João
guindo expulsá-los dali, depois de br,:ve luta. Tomado o luga aulino. Foram armadas duas tocaias: uma na catacumba velha,
rejo, os atacantes saquearam os estabelecimentos comerciais que ficava na estrada do Diamante para a Serrota, e a outra
Pedro. Na refrega, foi morto um marchante de nome João Da Joao Paulino havia saído com o filho José, para pro
niel. curar uma vaca (de bezerro), que havia fugido, indo encontrá-
Vencidos, os Paulinos refugiaram-se em Aurora, ã som la na Baixa-Verde. Deste sítio, acompanhado do filho José e
bra do prestígip de seu tio, o "Cel." Cândido Ribeiro Campos, do irmão Francisco, João Paulino retirava-se conduzindo a va
então prefeito do município. Diante da ameaça de que Isaías ca, na direção do Estado da Paraíba, pois o seu propósito era
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postaram-se na calçada da estação.
esconder-se no sitio Riacho do Padre, perto do povoado de Ca-
Ao parar o comboio, às duas e meia da tarde, Isaías
tingueira, hoje Cachoeira dos índios. Naquele sítio^ os Pau-
linos tinham amigos, e ali costumavam esconder-se quando se foi inopinadamente agredido a tiros de revólver, disparados
No começo da noite, João Paulino caiu na tocaia arma charam sete tiros. No momento, Isaías achava-se na platafor
da na Serrota, um sítio perto da Vila de Boa Esperança. José ma, com um pé apoiado no carro de ia classe e o outro firmado
e Chico Paulino correram para dentro de um cercado. Ao trans no carro de segunda, conversando com Nenéu Leite. Era o dia
por um passadiço, o rifle de Chico caiu. Gravemente ferido, de agosto de 1928. O ataque foi feito de surpresa, quase ã
João Paulino ainda pôde arrastar-se por uns vinte metros, che queima roupa. Apesar de estar armado com um revólver, o ofen
gou perto da cerca onde estava José e disse: "Não deixem me dido nenhuma ação pôde fazer, porquanto teve logo o braço es
matar". José nada pôde fazer. E quando João Paulino, morren querdo rebentado por dois tiros deflagrados contra si. Feri-
do, pediu água, o cangaceiro lhe ofereceu sangue na caneca de o, ainda pôde descer do carro pelo lado do poente e andar al.
zinco. guns passos, indo cair na'calçada de Cícero Ferreira. Foi en
O trágico fim de Isaías Arruda Como é que não me avisaram que meus inimigos estavam aqui?"
A morte de João Paulino gerou grande revolta no seio Vicente de Oliveira travou luta corporal com Francisco Pauli
dos irmãos restantes, os quais juraram vingança. no, tentando tomar-lhe a arma; não pôde fazê-lo, por haver An
Após haver passado alguns dias em Fortaleza, t Isaías t o m o lhe apontado o revólver. José Vicente correu na direção
Arruda empreende a viagem de volta ã Missão Velha, onde era lmoxarifado da R.V.C. , com os irmãos Paulino perseguindo-
prefei.to municipal, tomando o trem de sexta-feira (3 de agos fazendo com que ele saltasse um muro e se pusesse em fu
(Nezinho de Milica) . De Fortaleza, avisando a viagem de Isaías, Da calçada, onde caíra baleado, Isaías foi transporta
alguém passou para Antônio Paulino o seguinte telegrama: "An do para a residência de Augusto Jucá. No dia seguinte, foi a s
tônio, algodão hoje sobe". sistido pelos médicos Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos, mas
Na tarde do dia seguinte (sábado), .como de costume, o estes pouco puderam fazer no sentido de salvar a vida de
povaréu se aglomerava na estação de Aurora, ã espera do trem. Isaías, que terminou falecendo no dia 8 de agosto, pelas 6
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Após abaterem Isalas Arruda, os irmãos Paulino evadi-
tônio Jaime Araripe) , com base no qual o referido Juiz decre
ram-se para a Várzea do Martins, a meia légua de distância da
tou a prisão preventiva dos acusados, ordenando que se expe
cidade, de onde mandaram avisar ao tenente Antônio José dos
disse o competente mandado de prisão. Vale lembrar que os
Santos, delegado militar de Aurora, que ali se achavam e que
indiciados livraram o flagrante.
queriam entregar-se ã Justiça. No dia seguinte, domingo, às
Em 31-08-1928, o promotor-adjunto de justiça (João
16 horas, o tenente Santos prendeu-os e os recolheu ã cadeia
Gonçalves Sobrinho) apresentou denúncia contra os irmãos Pau
de Aurora. Na ocasião, Chico Paulino entregou ao tenente a
lino, como incursos no art. 294 § 1Q do Código Penal da Repú
sua arma: um revólver Smith & Wesson, calibre 38, de seis ti
blica (homicídio do 10 grau) . Julgando procedente a denúncia,
ros, no 215.614.
o Juiz Raimundo Carvalho Lima pronunciou os indiciados. Por
(Dados extraídos do processo-crime contra os irmãos Paulino,
despacho de 09^-05-1932, estando os réus foragidos, o Juiz An-
arquivado no 10 Cartório de Aurora, Ceará; titular: Vicente
tonio Galeno determinou que fossem os mesmos submetidos a jul
Jerônimo da Silva).
gamento na próxima sessão do júri, de acordo com a Lei n°
Recapitulemos algumas passagens do famoso processo. 1932, somente Francisco Paulino esteve presente, pois se en
No dia 4 de agosto de 1928, o então Secretário de Po contrava preso na cadeia de Aurora. Mesmo estando ausente, An
lícia e Segurança Pública do Ceará, dr. Mozart Catunda Gon- tônio Paulino foi julgado na mesma sessão de júri, tendo em
dim, designou o 20 delegado de polícia da Capital para se vista o que dispunha a lei processual supracitada. 0 júri foi
transportar, de trem, ã Aurora, com o escrivão daquela dele presidido pelo dr. Antônio Galeno da Costa e Silva, tendo fun
gacia, para dar início ãs diligências e proceder ao inquéri cionado na acusação o promotor de justiça Stênio Gomes da Sil
va. A defesa dos réus foi feita pelo advogado José Bernardino
to. Foram arroladas as seguintes testemunhas: João Viana R.
Carvalho Leite. Francisco Paulino foi condenado a vinte e no
Monteiro, Manoel Furtado de Figueiredo, Manoel Leite Teixei
ra, José Vicente de Oliveira, Vicente Férrer de Oliveira, ve anos de prisão simples (art. 294 do Código Penal da Repú
blica) , e Antônio a vinte e dois anos. Foi designada a cadeia
Waldery Botelho, Eduardo da Silva Leite, Moisés Vilela de Oli
pública de Aurora para cumprimento da sentença. Houve apela
veira. Cândido Ribeiro Campos e José Gonçalves Leite.
ção para o Superior Tribunal do Estado, e o júri foi anulado.
No dia 9 do mesmo mês, o delegado especial entregou o
Os réus foram levados a novo júri no dia 02 de dezem-
seu relatório ao 1Q suplente de Juiz Municipal de Aurora (An-
bro de 1932; como da vez anterior, somente compareceu Fran-
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levá-la ao cunhado Antônio Paulino. Este entendeu a mensagem:
cisco Paulino, que se achava preso em Lavras. Desta vez, os
-feijão vai descer", significava que a polícia ia levar Chico
réus foram defendidos pelo advogado Manoel Fernandes Tãvora.
Paulino para Fortaleza. "Fazer adjunto para apanhar feijão",
Ambos foram condenados a sete anos de prisão, tendo sido de
q ia dizer que juntasse um grupo de homens para tirá-lo da
signada a cadeia pública de Fortaleza, para cumprimento da pe
cadexa. Decifrada a mensagem, Antônio Paulino cuidou de cum-
na. Francisco Paulino ficou preso na cadeia de Lavras, enquan
P ' issão, partindo para Lavras com cinco homens armados.
to aguardava ser transportado para a Capital.
o chegar perto da cadeia, por volta de seis horas da
O júri teve lugar no salão de um prédio público situa
•manhã, Antônio Paulino mandou Osório Batista, trajado de tra-
do ã rua Santos Dumont, hoje no 32. Por ocasião do júri, acon
de roça e com uma enxada no ombro, passar por trás
teceu um incidente grave. Na calçada, frente ao citado pré
P ~o, para se certificar de que Chico Paulino estava den
dio, Vicente Arruda alteroou com José Paulino, que estava ali
fora da cela. Osório olhou e viu que Chico estava var-
dando cobertura ao tio Francisco. José Paulino deu em Vicente
corredor da cadeia, vigiado por um soldado. Chico viu
uma bruta facada, que quase lhe atinge o coração. Enquanto Vi
lhador e o reconheceu. Ficou de frente para o solda-
cente Arruda era socorrido pelo farmacêutico Barbosa Lima, o
m as mãos nas costas, fez sinal com três dedos, dizen
agressor saiu correndo pela rua do Comércio, na direção do
q antos soldados estavam ali. Foi então que Chico Paulino
rio, e conseguiu atravessã-lo sem que a polícia pudesse de
tê-lo. 9 tOU‘ Ban<3idos I Querem me matar 1" A uma ordem de Antônio
Paulino, os cinco elementos do grupo - amigos de Chico, ê
gar 'preço'.
Em dias do ano de 1937, viajando num trem de carga,
A carta chegou ãs mãos da destinatária, que logo foi
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chegou a Ingazeiras o tenente Alfredo Dias, a fim de prender mandada pelo tenente Antero, da mesma fazendo parte os sargen
Antônio Paulino, indo encontrá-lo no café da irmã, Amélia Me tos Josias Pedrosa e João Pereira de Sousa, vulgo João Vaquei^
deiros. O militar da polícia tinha fama de agarrar cangaceiro ro, bem como dezoito soldados, todos em treje de vaqueiro,
a unha. Chega para Antônio Paulino e lhe diz: "Você não preci que foram distribuídos pelas estradas das Antas. Para o sitio
sa estar fugindo. Eu vou resolver a sua situação. Vamos comi Patos, onde se sabia encontrar-se Antônio Paulino, foram o
Era uma cilada. Os dois foram para uma casa vizinha so, Manoel Calangro, Osório Batista e Antônio Ismael.
ao café; ao mesmo tempoj duas sobrinhas de Antônio — R. A. e Antônio e o irmão Chico Paulino haviam passado a noi
R. D. — vieram nas pontas dos pés e ficaram encostadas na te no mato. As cinco da manhã, tendo o rifle a tiracolo e o
cerca, pelo lado de fora, espreitando. Os dois estavam de có pequeno pote na mão, Antônio caminhava em direção ao curral,
coras, um de frente para o outro, quando, de súbito, o tenen para tirar o leite da vaca. Vinha por uma elevação do terre
te saltou sobre Antônio, tentando segurá-lo pelas bitáculas. no, beirando o córrego. Antes da cerca, o caminho se bifurca
Na luta corpo a corpo, os revólveres de ambos caíram ao chão, va: uma vereda dava para a cancela, uma outra para o passadi
sendo recolhidos pelas duas moças. Os dois já estavam cansa ço. Ao transpor o passadiço, Antônio deparou-se com o grupo
dos, quando chegou Amãncio Pereira para separá-los, ocasião de soldados, no momento chefiados pelo sargento Josias. Este
em que Antônio aproveita para fugir na direção das Antas, dê perguntou: "Quer ir nas cordas pra cadeia, ou na rede pro ce
onde voltaria mais tarde... Neste ínterim', Alfredo Dias foi mitério?" Antônio Paulino respondeu: "Morto, sim; preso, não ,
aconselhado a deixar Ingazeiras. E quando Antônio Paulino vol^ e saltou para o córrego, onde tombou com vários balaços, sem
tou, acompanhado de alguns parentes, e procurou o tenente Al ter tido tempo de fazer uso da arma que conduzia. Tinha 57
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to — tinha em mente assaltar a agência local do Banco do Bra
15. LAMPIÃO NO MUNICÍPIO DE AURORA de Lampião que chegou à Aurora era composto de uns cinqüenta
Era virtude da amizade com o "coronel" Isaías Arruda, tados por José Cardoso. De Aurora, Lampião levou José de Lú
na verdade um dos grandes coiteiros de Lampião no Ceará, o cio, José de Roque e José Cocô (José dos Santos Chumbim) , todos
Rei do Cangaço., como era chamado, esteve, mais de uma vez, no naturais da região de Antas, tendo sido incluídos no subgrupo
rense, o bandoleiro se açoitava na fazenda Ipueiras, de José No dia 13 de junho de 1927, Lampião ataca a cidade de
Uma dessas vezes foi nos primeiros dias de Junho de Após quarenta minutos de fogo, jã tendo tomado duas ruas,
1927. Na fazenda Ipueiras, onde já se encontrava Massilon Lampião ordena a retirada. Fracassara o seu maior plano".
Leite, que chefiava pequeno grupo de cangaceiros, Lampião foi Após o frustrado ataque à cidade norte-riograndense,
incentivado a atacar a cidade norte-riograndense de Mossoró Lampião bate em retirada, entrando no Ceará pela cidade de Li
— um plano que o bandoleiro poria em prática no dia 13 do ci moeiro, onde não é importunado. Ali fez dois reféns a resgate
tado mês. Em razão do incentivo, Lampião adquiriu do "coro pessoas idosas e de destaque social — e teve a petulância
nel" um alentado lote de munição de fuzil que, de mão beija de, com seu grupo, posar para uma foto, no dia 16 daquele
des) , quando este promoveu farta distribuição de armas a "co Ante a ameaça de invasão das cidades da zona jaguari-
ronéis" "para alimentar o combate dos 'batalhões patrióti bana e já havendo um plano de combate ao famigerado bando, jun
cos' ã coluna Prestes".*54* taram-se contingentes policiais de três estados — Ceará, Rio
Presente àquela negociação, que rendeu ao "coronel" Grande do Norte e Paraíba — numa quixotesca campanha contra
Isaías a considerável quantia de trinta e cinco contos de Lampião, tendo sido nomeado "comandante geral das forças em
réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa influên operações" o oficial cearense, Moisés Leite de Figueiredo (ma
parativos tiveram lugar na fazenda Ipueiras. Consta que Mas No dia 16 de junho, a força paraibana havia seguido
silon Leite — associado a Lampião no sinistro empreendimen- para Limoeiro, mas ao chegar ali, Lampião já tinha levantado
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no lugar Olho D'Agua das Éguas. E que ali perto, no lugar Ri
acampamento. Prosseguindo em sua retirada pelo território cea
beiro, já se encontravam as forças dos tenentes Agripino Li
rense, com o grupo reduzido a trinta e poucos homens, em vir
ma, José Guedes e Manoel Arruda — o primeiro, da polícia do
tude da morte de dois dos mais temíveis cangaceiros — Jarara
Rio Grande do Norte, e os dois últimos, da polícia paraiba-
ca e Colchete — e das deserções que se seguiram ao malogrado
na — , valendo salientar que tais contingentes totalizavam
ataque, inclusive a de Massilon Leite e seu sub-grupo, Lam
"cerca de duzentos homens, bem aparelhados", no dizer do ma
pião é perseguido por volantes, com as quais trava combates.
jor Moisés. A tropa que teve encontro com os bandoleiros foi
Dentre estes, o mais intenso foi o travado no dia 25 de ju
a do tenente Arruda, empiquetada no sítio Ribeiro, onde acon
nho, na Serra da Macambira, município de Riacho do Sangue, no
teceu um fato tão misterioso, quanto engraçado: não obstante
qual Lampião, mais uma vez, provou a sua invencibilidade. En
o lugar se achar "bem guarnecido", ao clarear a barra, "o gru
frentando uma força de mais de trezentas praças, sob o coman
po de bandoleiros, sem sofrer o menor revés, passou entre as
do exclusivo do tenente Manoel Firmo, este sendo auxiliado
trincheiras, nas quais os soldados dormiam, para só desperta
por nove tenentes — José Bezerra, õzimo de Alencar, Luís
rem depois, com cerrada fuzilaria, quando os bandidos não es-
David, Veríssimo Alves, Antônio Pereira, Germano Solon, Gomes
tavam mais ao alcance da pontaria da polícia". 0 grupo ocul
de Matos, João Costa e Joaquim Moura, Lampião pôs-se em fuga,
tou—se no vale do Bordão de Velho. Do local onde estava, Lam
incólume, deixando quatro soldados mortos. Seguiram-se comba
pião enviou dois cabras à casa de João Cabral, morador aÜ
tes menores em Cacimbas (Icõ) , Ribeiro, no vale do Bordão de
perto, convidando-o a vir à sua presença. João Cabral aten
Velho, e Ipueiras, os dois últimos no município de Aurora,
deu, e Lampião disse-lhe estar com fome e sede, pedindo ali
com o Rei do Cangaço levando a melhor.
mento e água para o grupo, no que foi atendido.
No dia 28 de junho, Lampião contorna a serra do Perei^
Marchando pelo pé da serra da Várzea Grande, Lampiao
ro, passando pelas serras Vermelha, Michaela e Bastiões — o
chega à fazenda Malhada Funda, onde faz "alto", sendo recebi
grupo marchava a pé, por veredas e nunca por estradas — ten
do por Gregõrio Gonçalves, que, após saber com quem estava fa
do a tropa em seu encalço. É aí que Lampião resolve derivar
lando, perguntou a Lampião em que podia servi-lo. Este respon
para o lado do Cariri e continuar a retirada em direção ao mu
deu: "Só quero comida para a minha rapaziada". Gregõrio man
nicípio de Aurora, onde esperava encontrar refúgio no valha-
dou matar o boi que estava no curral, e duas ou três ovelhas.
couto do seu "amigo" Isaías Arruda.
Os cangaceiros estavam com tanta fome, que não esperaram: co
Em seu livro "Lampião no Ceará", narra o major Moisés
meram as carnes sapecadas. Os quartos de ovelha, eles coloca
Leite de Figueiredo que, no dia 10 de julho de 1927, Lampião
ram nos bornais sobressalentes, junto com farinha e rapadura.
com seu grupo estacionava no alto da serra da Várzea Grande,
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Ao retirar-se, Lampião levou João Teófilo como guia. Este saiu
operações", chegava em Aurora o contingente comandado pelo te
montado num burro que o bandoleiro havia tomado de um cidadão
nente Agripino de Lima, que conduzia trinta e quatro animais
que estava comprando rapaduras. O bando saiu na direção sudes^
de montaria, tomados a fazendeiros de Icó, Pereiro e Jaguari-
te do município. Lá muito adiante, o guia foi substituído por
be. Quando o major pensava que o oficial vinha em seu auxí-
outro de nome David Silva, tendo Lampião recomendado a João
nente Agripino comunicava-lhe que resolvera abando-
Teófilo para só voltar quando escurecesse, e que não fosse
ampanha e voltar para o Rio Grande do Norte. Diante
pelo mesmo caminho.
o Major Moisés apreendeu os referidos animais, entre-
Continuemos a narrativa, baseados no livro do major.
s ao sr. Vicente Leite de Macedo, com a recomendação
"Em sua marcha, Lampião procurou a Serra do Coxá, na
aos respectivos donos. Além dos animais toma-
divisa do município de Aurora com o de Milagres, burlando a
ejos, o major Moisés constatou outras irregulari
vigilância dos policiais, de tal modo que estes se afastavam
dades na tropa do tenente Agripino, como a venda de munição
do ponto em que estavam os bandidos, tomando o rumo de Boa Es>
P Praças e muitas destas se entregando à embriaguez.
perança. Serrote do Cachimbo, Riacho dos Cavalos, Ingazeiras
de do tenente Manoel Firmo, viajando para Jua-
e Milagres". Como se vê, Lampião era vim perito em estratégia
Crato, arrastando o grosso da tropa e quatro tenen-
militar. Uma de suas táticas consistia em ludibriar a polícia
o comandante Moisés "num mato sem cachorro". 0
que andava no seu encalço, como fez, quando procurou a Serra
na contingência de pedir ajuda — imagine o lei
do Coxá. Deste modo, tornou-se inócua a providência do major
tor a quem — ao "coronol '• t
1 Isaias Arruda, o mesmo que, tempos
Moisés, designando o tenente Caminha para colocar piquetes
atrás, havia .coitado h ™ pii0 , qu._ ,JO„ _ ds
nas estradas, uma vez que, por estas, não passaria o grupo de
perseguidor do bandoleiro, po„d„ oitenta e-sete cabra, à dis-
bandidos. Enquanto Lampião ficava escondido na Serra do Coxá,
posição do major Moisés e~
• no combate travado com os bandi—
o tenente Manoel Firmo seguia para o lado oposto, isto é, com
da Macambira, havia cerca de 400 praças, como
a sua tropa, passava de trem por Aurora, em demanda ao Cari-
o major Moisés levado para Ipueiras apenas quir»
ri, sem dar satisfação ao seu chefe, major Moisés, que naque ze soldados?
les dias se encontrava em nossa cidade, em tratamento de saú
erto o paradeiro de Lampião no alto da serra do
de. Com o tenente Manoel Firmo, viajavam os tenentes Luís Le^
caram-se elementos de confiança para, aproximando-
te, Laurentino, Moura e Germano, em passeio a Juazeiro e Cra-
se do grupo, conhecerem melhor a sua posição, dentre eles Mi-
to, totalmente despreocupados com os bandidos.
tio de um dos bandoleiros e morador nas proxi^
Para piorar a situação do "comandante das tropas em
então que o major Moisés e Isaías Arruda conce-
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beram um estrategema, que consistiria em preparar um almoço tado livro. Entretanto, existe outra versão para o episódio.
para Lampião e seus cabras, na casa de José Cardoso, em Ipue^ Segundo nos contaram os velhos Róseo Ferreira e Vicente Ri—
ras, e, juntos, abaterem o bandido na hora conveniente. "Mi carte que» na época, moravam nas proximidades da fazenda
guel Saraiva se faz acompanhar de oito homens que se apresen Ipueiras, a coisa aconteceu assim:
tam a Lampião, fingem que são perseguidos pela policia; e pa O major Moisés Leite e o "coronel" Isaías Arruda com
ra melhor comover o chefe dos bandoleiros, lamentam e choram binaram um plano de acabar com Lampião, assim que este chegas^
a sua desgraça, tentando,com isso, infiltrar-se no bando. Al se em Ipueiras, pois sabiam que o grupo vinha desmuniciado e
guns bandoleiros aceitaram a presença dos novos companheiros, bastante desfalcado, em conseqüência da derrota sofrida em
mas Lampião logo fez sentir que não acolhia em seu grupo pes Mossoró e das deserções que se seguiram ao frustrado ataque
soas que lhe fossem estranhas". Os oito homens de Miguel Sa àquela cidade norte-riograndense.
raiva tinham recebido instruções para atacar os bandidos na Lampião ficara na manga com a cabroeira. Convidado pa
hora em que o grupo "descançasse" as armas para almoçar. Si ra almoçar na casa de José Cardoso, na citada fazenda Ipuei—
multaneamente, os soldados e jagunços puseram-se discretamen ras, o Rei do Cangaço compareceu com alguns dos seus "rapa
te em volta da casa, prontos para fechar o cerco aos bandi zes . Quando Miguel Saraiva chegou e pôs sobre a mesa o algui
dos, no momento oportuno. Mas o ardil fracassou, porque Lam dar contendo o almoço envenenado, Lampião tirou do bornal uma
pião, sagaz, arisco e desconfiado, chegou e rejeitou o almoço colher de latão e meteu-a na comida. Quando puxoü a colher,
oferecido por Miguel Saraiva. E colocou sua gente em pontos o bandido notou mudança <fe cor e deu alarme: "Ninguém come des
diversos e estratégicos. ta comida. Esta comida está envenenada 1". Nisto, Lampião e os
Eis como o major Moisés descreveu o tiroteio: seus cabras conseguem romper o cerco de um cordão de jagun
"Conhecido o fracasso do estrategema, fomos impelidos ços e soldados ã paisana que se formara em volta da casa, e
a atacar os bandidos, com ímpeto, de sorte que, em pouco tem correm para a manga onde ficara a maior parte da cabroeira.
po, estavam debaixo de cerrada fuzilaria. A luta teve início sendo atacados pelos cabras de Isaías e soldados do major Moi
pouco mais ou menos às 12 horas do dia 7 de julho, tendo uma sés. Ao mesmo tempo em que estrugiu a fuzilaria, os atacantes
duração de mais de três horas; terminou, infelizmente, porque lançaram fogo na manga, por todos os lados do local em que es^
os bandidos caíram em fuga, e no campo deixaram dois mortos: tavam os cangaceiros. Lampião investiu várias vezes contra
um queimado, que recebeu vários ferimentos, e o outro também os atacantes, conseguindo, por fim, escapar por um corredor*
morto na ocasião em que fugia". Lampião perdeu dois cangaceiros: um queimado e ferido por oca
Essa foi a história narrada pelo major Moisés, no c i sião do ataque. O outro, com ferimento no ouvido, ficou em
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Ipueiras, em tratamento, mas os coiteiros acabaram de matã-
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-
miio pegou nos frutos e disse: quadra para Maria Pinto:
O Delegado e a Prosódia
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53 - Hino do Nascimento de Jesus:
Videte - Regem Angelorum": ANSELMO, Otacílio. Pad/Lí CZceao, Mito e Realidade.. Rio de Janei
Ivonete Leite
54 - Frederico Pernambucano de Mello, op. cit. p. 32.
Maria Beatriz Gonçalves
210
211
ífl
2 ^ ' vwaiçtes o u sa d a s, o ^vro e único ifo
gênero. Até então, ninguém havia
relatado, com tanto realism o e e s p i
rito critico, certos fatos q u e ocorre
ram nos bastidores d e um B a n co , a
que deu o nome de “B a n co da Na
ção”. Uma obra útil s o b vários a s
pectos: tanto pode servir d e orienta
ção a elem entos n o v o s, co m o s e
destina a melhorar a m entalidade de
certos dirigentes”. (R ev ista d a A s
sociação d os Antigos Funcionários
do Banco do Brasil).
“. . . narrativa até certo ponto
memorialista, à qual o autor deu tra
tamento rom anesco com um a forte
dose de sátira sobre o qu e s e p a ssa
nos bastidores de um b an co. É esta
a sua visão do universo bancário:
um mundo povoado d e p e s s o a s que
s e movem em p ersegu ição a dois
objetivos: dinheiro e notoriedade".
(José Rangel, jornal O Povo,
07/03/89).
“. . . o autor faz, com bastante
realismo, alternado por humor e sáti
ra, uma narrativa no melhor estilo li
terário". (Jornalista João Manoel de
Carvalho, O Norte, 0 5 /0 3/89).
“Considero o livro de Amarflio
Gonçalves de uma leitura rica em
informações o u sad as, onde o autor
consegue, usando de uma lingua
gem própria dos bancários, atingir
seu s objetivos de comunicação,
contando experiências vivencladas
multas v e z e s difíceis demais para
driblar e vencer". (Jornalista Cristia-
ne Silveira, Jornal de Natal,
03/04/89).