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04/03/2024, 10:55 Prefeitura Municipal de Macaé

Cronologia de Macaé
MACAÉ: A MÉMORIA DA HISTÓRIA – Dos primórdios até 1960 (¹)

Vilcson Gavinho (²)

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“Penso como Gaston Bardet [1907-1989, arquiteto e urbanista


francês] quando diz que as cidades não são apenas agrupamentos de
ruas e casas... as cidades são obras de arte, feitas por gerações de
habitantes, acomodando-se mais, ou menos, àquilo que existia antes
delas. As cidades retratam muito da personalidade coletiva de seus
moradores... todos, mesmo inconscientemente, guardam um pouco de
memória da História.” NAZARETH, Gilson Caldwell do Coutto
(1936-2016) - Doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ),
Museólogo, Genealogista, membro de antigas famílias
macaenses: depoimento [set. 1995]. Entrevistador: Vilcson
Gavinho. Rio de Janeiro-RJ. 1 fita K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Estudiosos de Arqueologia estimam que por volta de 8000 a.C.,


ainda no período glacial, no chamado Pleistoceno Final, a região
sudeste do Brasil começou a ser povoada, incluindo o território do
atual município de Macaé. O recuo do mar, nesse estágio, formou
uma extensa orla de terra seca a leste da barreira da Serra do Mar e
esta, por seus relevos sinuosos, pelas baixas temperaturas e escassez
de vida animal, constituía-se em grande empecilho para que grupos
humanos se expandissem do interior para o litoral. Muitos defendem
a tese de uma migração, do sul para o norte, de bandos que
empreenderam longas viagens estabelecendo-se na costa
fluminense. O nível do mar estava abaixo do atual e as ilhas do
Arquipélago de Santana provavelmente pertenciam à costa litorânea,
formando pequenos montes, preservando ossada humana, com
peculiaridades científicas, além de vestígios de interesse para a
Paleontologia e a Malacologia, respectivamente o estudo de vegetais,
amimais fósseis e de moluscos.

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“Por causa da oscilação do nível oceânico muito do material


arqueológico produzido em Macaé foi arrasado ou encontra-se
submerso [...] Acredito que os sítios arqueológicos macaenses, mereçam
estudos mais detidos... muita coisa boa está por vir. Aquele Arquipélago
[de Santana] é precioso!” ALTAMIRANO ENCISO, Alfredo José
(1940) - Doutor em Paleopatologia (FIOCRUZ), Arqueólogo com
estudos realizados em Macaé: depoimento [nov. 1999].
Entrevistador: Vilcson Gavinho. Cabo Frio-RJ. 1 fita K-7 (60 min.)
¾ pps stereo.

Análises sistematizadas desses sítios permitiriam o esclarecimento da


pré-história do homem “macaense”, trazendo luz à sua estrutura
social e colocando Macaé dentre as comunidades que podem
orgulhar-se de contribuir para compreensão e engrandecimento da
trajetória civilizatória da Humanidade. Aqueles foram sucedidos pelos
grupos indígenas, da tradição tupi-guarani, que habitaram nosso
território: Os Sacurus, na região serrana, viveram praticamente
isolados, sendo os últimos a terem contato com brancos
catequizadores, legando muitos costumes, principalmente na
culinária. Os Tamoios, na margem direita do Rio Macaé, foram os
ameríndios que melhor assimilaram a cultura europeia, embora
tenham confrontado os portugueses em sangrentas batalhas, sendo
aliados dos franceses. Do lado esquerdo do rio, a planície, estavam os
Goitacás, descritos como bárbaros, porém com capacidade
intelectual superior a da maioria dos silvícolas, nunca se entenderam
com os europeus, impedindo o sucesso da Capitania de São Tomé.

“Numa leitura bairrista poderíamos dizer que o personagem Peri,


protagonista do romance ‘O Guarani’ [de José de Alencar], era
macaense (Risos!). Sim, ele é descrito como um ‘chefe goitacá’. Sua
ligação com a fidalga Ceci representa a síntese racial do povo
brasileiro. Eu mesma, pelo lado Rocha, descendo de uma índia goitacá
com um padre! (Risos!)” UCHÔA, Yolanda de Souza (1912-1999) -
Macaense, Professora, Poetisa, membro de uma tradicional
família do antigo distrito de Carapebus: depoimento [out. 1991].
Entrevistador: Vilcson Gavinho. Rio de Janeiro-RJ. 1 fita K-7 (60
min.) ¾ pps stereo.

Já em 1557, na obra “As Singularidades da França Antártica, também


Nomeada América e de Mais Terras e Ilhas Descobertas de Nossos
Tempos”, o frade francês André Thevet relatou o seu desembarque na
barra do Rio Maqué, sendo recebido por indígenas. Em 1578, outro
francês, Jean de Léry, publicou o livro “História de uma viagem feita à
terra do Brasil, também dita América”, com referência ao nome
Macaé e observações sobre a região. Desde então surgiram registros
equivocados sobre o significado do nome, como: “arara-verde”, “rio-
fundo” e “rio-salgado”, porém o erro mais comum é “rio-dos-bagres”,
pela abundância do pescado. Quanto à origem do termo, não resta
dúvidas tratar-se de vocábulo indígena, procedente da corruptela
“maca-ê”, que significa “coco-doce”, produzido pela palmácea
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macabaíba.

“Lembro bem do tempo em que se escrevia Macaé com ‘agá’,


Macahé. Fui alfabetizado escrevendo assim, no colégio de Dona Irene
[Meirelles]. Com a reforma ortográfica [1943] caiu o ‘agá’. Meu pai [o
farmacêutico José Siqueira da Silva] sempre se recusou a escrever do
jeito novo. Aquela gente antiga ficou revoltada (Risos!).” SIQUEIRA,
Jair Picanço (1925-2007) - Macaense, Médico, Empresário,
Colecionador: depoimento [jun. 1991]. Entrevistador: Vilcson
Gavinho. Macaé-RJ. 1 fita K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Desde o achamento oficial do Brasil, a costa marítima macaense foi


uma espécie de ancoradouro natural, onde aportavam naus,
pertencentes ao consórcio privado liderado pelo cristão-novo
Bartolomeu Marchioni, agraciado pela coroa portuguesa com o
direito de escravizar índios e extrair a grande riqueza da terra, o pau-
brasil, cobiçado por indivíduos de diversas nacionalidades. Já no ano
de 1614, o Conde de Gondomar, embaixador em Londres, ciente de
que piratas, patrocinados pela coroa britânica, contrabandeavam o
ouro-púrpuro produzido em terras macaenses, alertou El-Rei Filipe II,
que ordenou o estabelecimento de duzentos índios aculturados em
aldeamento às margens do Rio Macaé, missão confiada a Amador de
Souza, filho do célebre Araribóia, surgindo então o primeiro núcleo
oficial de povoamento. Nesse tempo, foi edificada a Fortaleza de
Santo Antonio do Monte Frio, onde hoje está o Forte Marechal
Hermes.

“Essas receitas [Vinho do Macaé, Fartel, Doce do Uso das Feitorias


do Macaé, etc.] são do tempo de [Bartolomeu] Marchioni... da época
do Descobrimento [do Brasil]... são nossos vínculos com os pioneiros...
os primeiros macaenses. Precisam ser repassadas... praticadas...
preservadas. É uma responsabilidade nossa.” THOMAZ, Alzira Rosa
dos Santos Gavinho (1939) - Macaense, Colecionadora,
descendente de antigas famílias coloniais: depoimento [dez.
1993]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 1 fita K-7 (60
min.) ¾ pps stereo.

Pouco tempo depois, em 1627, um grupo de militares portugueses,


com serviços prestados à Coroa, especialmente na expulsão dos
franceses da Baía de Guanabara, foi agraciado com imensa sesmaria
que se estendia da barra do Rio Paraíba do Sul até a do Macaé,
devendo pagar foro aos donatários ausentes da Capitania de São
Tomé e dízimo à Ordem de Cristo. Conhecidos como os Sete Capitães,
empreenderam importantes expedições, fundando povoados e
conferindo topônimos. Em Macaé não encontraram gente de maior
consideração, apenas agradáveis mamelucos residindo em choupanas
cobertas de palhas, ocupados da pesca de bagres, liderados pelo
administrador Domingos Leal, que fazia às vezes de governo.

“Seja verdadeiro ou falso, o fato é que o Roteiro [dos Sete Capitães]


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é a mais antiga pista manuscrita sobre tentativas de povoamento nesta


região. Ainda que fruto de interesses escusos, acho que deve ser
acatado em seus aspectos antropológicos, etnográficos... Eu o respeito
como fonte.” QUEIRÓS MATTOSO, Gilberto de (1947-1996) -
Historiador, Genealogista, Publicitário, membro de tradicionais
famílias macaenses de Quissamã: depoimento [fev. 1991].
Entrevistador: Vilcson Gavinho. Quissamã-RJ. 1 fita K-7 (60 min.)
¾ pps stereo.

Outra cobiçada sesmaria, compreendendo todos os campos entre os


rios Macaé e Leripe, o rio-das-ostras, foi concedida em 1630 aos
padres da Companhia de Jesus. A Fazenda de Macahé, importante
entreposto pecuário, foi durante todo o período colonial um núcleo
com influência determinante, mesmo após o confisco dos bens
jesuíticos, em 1759, pelo Marquês de Pombal. Colocadas à venda em
hasta pública, todas as terras que atualmente compõem o perímetro
urbano macaense foram arrematadas, em 1761, pelo mestre-
caldeireiro Gonçalo Marques de Oliveira, que empreendeu melhorias,
tornando-se sócio do capitão Bento José Ferreira Rebello. Em 1798
aconteceu a primeira divisão de terras, sendo rebatizadas como
Fazenda Velha de Sant’Anna, propriedade da família Ferreira Rebello, e
Fazenda de Imboassica, dos Nunes Pereira.

No ano de 1810, em 29 de agosto, foi criada uma nova comandância,


da Barra do Furado até a Barra do São João, com terras retiradas de
Campos e Cabo Frio, graças às artimanhas do sargento-mor João Luís
Pereira Viana, grande proprietário de terras, ligado aos Ferreiras
Rebello, apadrinhado pelo poderoso Bispo-Capelão-Mor Dom José
Caetano da Silva Coutinho, que aqui esteve em agosto de 1812.
Finalmente, em 29 de julho de 1813, Sua Alteza Real o Príncipe
Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé,
conferindo-lhe autonomia político-administrativa. Cumpridas as
exigências legais - acomodações públicas e pelourinho - no ano
seguinte, em 22 de janeiro, foram empossadas as primeiras
autoridades municipais - juízes, vereadores, etc.

“Você já viu o livro da fundação do Município? Acho o documento


mais importante da nossa história... A transcrição do Alvará Real... os
termos de posse das primeiras autoridades, com assinaturas. É a
certidão de nascimento de Macaé! Está no Gabinete [do Prefeito],
naquela caixa com um ‘leão’ na tampa”. QUEIRÓS MATTOSO,
Eleosina Pereira de (1917-1993) - Macaense, Bibliotecária,
Arquivista, Funcionária Pública, Colecionadora: depoimento [set.
1990]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé/RJ. 1 fita K7 (60
min.) ¾ pps stereo.

De fato, na primeira metade do Dezenove, grandes personalidades


internacionais prestigiaram o território macaense; a primeira, em
1815, foi o príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, líder de
uma histórica expedição científica; em 1817, veio o célebre
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naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire; e em 1832, ninguém


menos que o cientista inglês Charles Darwin, o pai da teoria da
evolução das espécies. Pouco depois, em 1837, o engenheiro
português Henrique Luís de Niemeyer Bellegarde, a pedido da
Câmara Municipal, demarcou ruas e praças, conferindo ângulos retos
e ordenados ao perímetro urbano. Nesse tempo, a intelectualidade
macaense estava bem representada por nomes como José Carneiro
da Silva, depois Visconde de Araruama, autor do primeiro livro sobre
a história regional, publicando estudos socioeconômicos, sendo o
grande propositor do Canal Campos-Macahé, articulou a aprovação
da lei provincial de 1844 que autorizou a construção, com projeto do
engenheiro inglês John Henry Freese.

Tamanho progresso, fez com que no ano de 1846, em 15 de abril,


fosse registrada no Livro da Legislação Provincial, uma minúscula lei,
de número 364, com apenas um artigo, que elevou a Villa à categoria
de Cidade, com o mesmo título. Tal condição era almejada há tempos,
sendo conquistada pelos esforços políticos de Aureliano de Souza e
Oliveira Coutinho, futuro Visconde de Sepetiba, um dos homens
públicos mais conceituados do Império, que a sancionou, com
aprovação da Assembléia Legislativa da Província do Rio de Janeiro.
Agora, como promissora urbe, Macaé estava pronta para ser a
primeira cidade do norte fluminense a receber o Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, Sua Majestade o Senhor
Dom Pedro II, que aqui chegou em março de 1847, hospedado pelo
comendador Francisco Domingues de Araújo.

“Dom Pedro [II] veio à Macaé em várias ocasiões [1847, 1875,


1877]. Adorava Quissamã! Aqui ele caçou pela primeira e única vez na
vida... ficou muito bem impressionado com nossa água, retirada da
restinga... chamou de ‘água cor de vinho’... chegou recomendar à
Princesa Isabel [em 1868]”. SILVA, Anna Francisca; Anicota (1908-
1999) - Macaense de Quissamã, Tabeliã, Memorialista,
Colecionadora, Bibliófila: depoimento [fev. 1991]. Entrevistador:
Vilcson Gavinho. Quissamã-RJ. 1 fita K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Representantes do Município exerceram relevantes cargos eletivos na


Capital. Grandes casas de negócios foram fundadas nas ruas da Praia,
Direita, do Collegio, e da Boa-Vista - hoje Presidente Sodré, Rui
Barbosa, Télio Barreto e Roberto Silveira - em maioria por imigrantes
portugueses e franceses. O agronegócio - pecuário, cafeeiro e
açucareiro -, teve grandes empreendedores: os Araújos e os Silvas
Porto, na cidade; os Carneiros da Silva, em Quissamã; os Pereiras
Rabello e os Gavinhos em Carapebus; os Coelhos Antão e os Almeidas
Torres, na região serrana; os Amados de Aguiar e os Figueiredos, em
Macabu; os Sousas Meirelles, no Barreto; os Carvalhos e Mello e os
Ribeiros Basto, em Barra de São João, dentre outros. Prédios públicos
e particulares exibiam apurados recursos arquitetônicos, a exemplo
do Theatro Santa Izabel, Solar dos Araújos (Palácio do Legislativo),
Sobrado de Chico Diogo (Casa & Roupa), Sobrado Ribeiro de Castro
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(Palácio dos Urubus), Solar de Monte Elízio (Instituto Salesiano) -


obras de grandes mestres-constructores, como o português Filomeno
Borges e o alemão Antonio Becher. O comércio negreiro
movimentava vultosas somas, tendo em Macaé o maior mercado da
região Norte Fluminense, liderado pelo ardiloso Bernardino José de
Sá.

“Era muito velha aqui [referindo-se à avó paterna escrava], de


modos que contava d’um pau grande [tronco] que tinha pro meio
desse terrerão aí fora, aonde os preto que não trabalhava direito eram
preso com uns ferro [grilhões], dispois [depois] vinha um homi
[homem - feitor] e lascava eis [eles]. O avô do finado Adamastor
Rodrigues [seu marido] era dessa função aí... fazia malvadeza aqui, ele.
[sic].” RODRIGUES, Levina Candido (1918-2000) - Macaense de
Quissamã, Lavradora, neta de escravos da Fazenda Machadinha:
depoimento [out. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho.
Quissamã-RJ. 1 fita K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Nem mesmo a lendária praga proferida por Manoel da Motta


Coqueiro - último civil branco condenado à pena capital no Brasil,
seguido de, no mínimo, 16 livres, 30 cativos e 5 militares -, enforcado
aqui, em 6 de março de 1855, impediu um apogeu social, econômico
e cultural. A imprensa chegou em 1861 com a fundação do
Macahense, seguido do Monitor Macahense, O Telegrapho, O Seculo,
O Lynce e muitos outros. Nas artes a Sociedade Philo-Scenica
Macahense, criou o Theatro Santa Izabel, em 1866, recebendo artistas
renomados, como a cantora lírica italiana Augusta Candiani. O
telégrafo, implantado em 1869, estabeleceu pronta comunicação
com a Capital. Em 1º. de maio de 1871, é inaugurada a Casa de
Caridade - fruto da generosidade post mortem de Antonio Joaquim
d’Andrade, o Casculeiro -, sendo sua mantenedora, a Irmandade de
São João Baptista de Macahé, criada em 22 de maio de 1872; ano de
surgimento do transporte público urbano, com implantação dos
bondes puxados a burros, marcando época.

“Nunca esqueço o bondinho. Quando acabou [1930] eu era moça.


Lembro de ir à Rua Direita [Rui Barbosa], em pequena, ver as noivas
desfilarem nos vagões enfeitados com flores e fitas. O povo jogando
arroz (Risos!). Um sonho! (Emocionada) Era uma tradição antiga.”
RAMOS, Lília; Lilinha (1909-2005) - Macaense, autônoma,
membro de uma tradicional família macaense: depoimento [set.
1990]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé/RJ. 1 fita K7 (60
min.) ¾ pps stereo.

As sociedades musicais Nova Aurora, de 1873, e Lyra dos


Conspiradores, 1882, baluartes culturais, resistiram aos percalços e
permanecem até os dias atuais. A lavoura da cana de açúcar, o ouro-
branco ou ouro-doce, teve seu auge com a fundação da Cia. Engenho
Central de Quissaman, inaugurada em 1877, primeira do gênero
instituída no Brasil, prestigiada pelo próprio Imperador, que
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sentenciou: - Hoje, Macahé é a sala de visitas do Império Brasileiro! O


Porto de Imbetiba, sexto em volume de exportação no País, recebia
riquezas produzidas na região através do Porto do Limão, no Rio
Macaé, do Canal Campos-Macahé e da Cia. Estrada de Ferro Macahé-
Campos, sucedida pela Cia. Estrada de Ferro Leopoldina, em 1889. A
criação da Alfândega, em 1896, encerrou de forma gloriosa os
oitocentos, marcados por tão opulentas efemérides.

Nos primórdios do século XX, um macaense, Dr. Alfredo Augusto


Guimarães Backer, presidia o Estado do Rio de Janeiro, criando por
decreto de 15 de fevereiro de 1910 a Prefeitura Municipal, sendo
primeiro prefeito o Dr. João Francisco Moreira Netto, responsável
pelas comemorações do Centenário, com implantação de obelisco no
Parque Oliveira Botelho, hoje Praça Veríssimo de Mello. No ano
seguinte, 1914, foi inaugurado o serviço de abastecimento d’água,
vinda do manancial da Atalaya. No mês de maio de 1916 foi fundada
a Associação do Commercio, Industria e Lavoura de Macahé, depois
convertida em Associação Comercial e Industrial de Macaé - ACIM. Em
1917 surge o Fluminense Futebol Clube; e a energia elétrica passa a
ser distribuída com a instalação de um gerador na extinta Praça da
Luz.

Foram destaques nas artes: o desenhista e caricaturista Álvaro Marins,


o Seth, atuando nos principais órgãos da imprensa carioca, publicou
obras importantes como o álbum O Brasil pela Imagem; o pintor
Hindemburgo Olive, premiado pela Sociedade Brasileira de Belas
Artes e pelo Salão Nacional de Belas Artes, perpetuou vistas e
personagens da terra macaense; o compositor e flautista Benedicto
Lacerda, marcou época na música popular brasileira; e a cantora
Angela Maria, a Sapoti, começou cantando em igrejas locais,
alcançando o estrelato nacional como Rainha do Rádio.

“A família da minha mãe toda cantava nos cultos protestantes, isso


em [Conceição de] Macabu e, às vezes, na cidade [Macaé]. O meu pai
[Albertino Coutinho da Cunha] mais tarde foi pastor. Saímos de Macaé
pobrinhos, pobrinhos... mas éramos felizes. Quando voltei [28/07/1959]
já era famosa, rica, Rainha do Rádio [1954]... paparicada pelo Prefeito
[Eduardo Serrano] (Risos!)... foi uma vitória!” CUNHA, Abelim Maria
da; Angela Maria (1928-2018) – Macaense de Conceição de
Macabu, Cantora, Atriz, Rainha do Rádio: depoimento [nov.
2007]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Rio de Janeiro-RJ. MP3
Player DVR (23 min.).

Aquele seria o século de importantes empreendimentos urbanos, a


Fabrica de Gelo, Fabrica de Phosphoros Veado, Ribeiro Xavier, Lessa &
C., Taboada & Cia., A Constructora, Casa Chaloub, Fabrica de Bebidas
Prince, depois Lynce, fabricante de dois ícones macaenses: o licor
Pesseguete e o refrigerante Moranguinho – hoje Moranguitto. A
concorrida Praia de Imbetiba, com areias monazíticas, atraía turistas
endinheirados, hospedes do Grande Hôtel Balneário na Imbetiba,
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luxuosa propriedade do historiador Alberto Lamego. O Café Belas


Artes foi ponto de encontro de intelectuais, artistas, políticos,
jornalistas... A imprensa, por décadas, esteve bem representada pelos
periódicos: O Autonomista, O Regenerador, A Razão, Gazeta de Macaé,
O Rebate, dentre outros.

Na década seguinte, as lentes mágicas do artista-photographico Luís


Sólon de Sá Vasconcellos registraram nova onda progressista. Em
1920, passou a funcionar no antigo prédio da Beneficência
Portuguesa, o tradicional Grupo Escolar Raul Veiga, hoje Mathias
Netto; e o macaense Afrânio Costa foi o primeiro brasileiro a
conquistar uma medalha olímpica. Em 1923, foi fundado, pelo
advogado Dr. Camillo Nogueira da Gama, o Gymnasio Macahense,
primeiro com curso secundário e formação de professores. Graças à
competência do prefeito, Cel. Sizenando Fernandes de Souza,
surgiram ruas pavimentadas, redes de esgoto e novas estradas
vicinais. No final de 1927, véspera do Natal, desembarcou em Macaé,
como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, o
Excelentíssimo Senhor Dr. Washington Luís Pereira de Sousa,
acompanhado de todos os ministros, honrando seu berço natalício, o
qual nunca esqueceu.

“Ele [Washington Luís] era um homem lindo! Alto... elegantíssimo,


num terno de casimira inglesa verde garrafa [...] Na ocasião
[18/12/1927], num banquete, falou à minha mãe [Evangelina Nunes
de Souza] que era mais macaense do que pensavam... que saiu daqui
lendo e escrevendo... e que ainda tinha muito do menino Xiton
[apelido de infância].” SANTOS MOREIRA, Laurita de Souza (1923-
2010) - Macaense, Poetisa, Memorialista, membro de uma
tradicional família do antigo distrito de Carapebus: depoimento
[mai. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 2 fitas K-7
(120 min.) ¾ pps stereo.

A vida social esteve ligada aos clubes recreativos, destacando-se o


exclusivíssimo Tênis Clube de Macahé, de 1928, palco dos mais
requintados acontecimentos, promovendo memoráveis competições
esportivas, concursos, bailes carnavalescos e sociais. Em 1929 surge o
Clube de Regatas Almirante Barroso, sucessor dos extintos Cristovão
Colombo e Macahense; e nesse mesmo ano o potencial hidrográfico
passa a ser aproveitado com a inauguração da Uzina de Glycerio. O
serviço telefônico urbano começou, finalmente, em 1931, mas as
chamadas interurbanas eram feitas há dois anos. Naquele mesmo
ano, foram concluídas as obras do Cine-Theatro Taboada, idealizado
pelo capitalista Manuel Guilherme Taboada, projeto grandioso
assinado pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira,
responsável por obras históricas: Casa das Sete Janelas, Câmara-
Prefeitura Municipal, Usina Ayris, Asilo da Velhice Desamparada,
Colégio Luiz Reid.

“Fui à inauguração do [Cine-Theatro] Taboada [05/04/1931]. Foi a


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primeira vez que vesti um longo (Risos!). Era maravilhoso! Fecho os


olhos e vejo [sic] as frisas, os camarotes... tantos artistas: [Heitor] Villa
Lobos, Procópio Ferreira, Itália Fausta, Bidu Sayão... O cenógrafo
[Ângelo] Lazary freqüentava nossa casa [o atual Solar dos Mellos].
Sabe que chorei, quando fecharam [1981]!?!” MELLO, Noêmia da
Costa (1916-2001) - Professora, Artesã, membro de uma
tradicional família macaense: depoimento [nov. 1992].
Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé/RJ. 1 fita K7 (60 min.) ¾
pps stereo.

O município de Macaé não ficou ileso à crise mundial provocada pela


quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Empresários, fazendeiros,
comerciantes, abriram falência e a população amargou um longo
período de recessão econômica, agravada pelos efeitos da Segunda
Guerra Mundial.

“Durante a [Segunda] Guerra tivemos a ‘Lei do Blackout’. Sabe o


que foi isso? Os moradores eram obrigados a permanecer na total
escuridão. Diziam que era para evitar bombardeios. Imagina!?!
Bombardeios... (Risos!) Em nossa casa colocávamos panos nas frinchas
das portas, das janelas, evitando a passagem da luz. [...] Ninguém
tinha dinheiro... muito rico ficou pobre... tempos horríveis!”
MACHADO, Hilda Ramos (1913-1995) - Macaense, Mito do
Magistério, Professora de Língua Francesa: depoimento [fev.
1989]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 1 fita K-7 (60
min.) ¾ pps stereo.

Por decreto municipal, de abril de 1941, foi criada a Biblioteca Pública


Municipal Dr. Télio Barreto, que permanece, assim como o Rotary Club
de Macaé, de 1942. O renascimento da economia local começa em
28 de maio de 1943, com a inauguração da Rodovia Amaral Peixoto,
hoje RJ-106, ligando Niterói a Campos, passando por Macaé, visitada
na ocasião pelo Presidente da República, Getúlio Vargas, recebido
com lauto almoço nas dependências do Clube dos Abaetés, depois
Ypiranga Futebol Clube, onde funcionava a Rádio Emissora de Macaé.
Em janeiro de 1950 entrou em funcionamento a Usina Hidrelétrica
Central de Macabu, com obras iniciadas nos anos trinta. Em 1953
surge a primeira empresa têxtil, as Indústrias Bariloche S.A. O
professor Antonio Alvarez Parada, o Tonito, dá os primeiros passos
em seus estudos sobre o passado macaense, colecionando fontes,
publicando colunas em jornais e lançando, em 1958, seu primeiro
livro: Coisas e Gente da Velha Macaé.

“Nesse tempo [década de 1950] a cidade reviveu. Havia uma


inocência... um romantismo. O Footing aos domingos na Rua Direita
[Rui Barbosa]... rapazes nas calçadas... moças desfilando belos vestidos,
antes do cinema [Taboada]. Quem ia à sessão das 19h desfilava depois,
quem ia à das 21h, desfilava antes (Risos!). Não era a cidade do
petróleo... era a cidade das bicicletas... cidade do amor... dos
macaenses!” GARCIA, Maria Magdalena Pereira; Magdá (1918-
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04/03/2024, 10:55 Prefeitura Municipal de Macaé

2003) - Macaense, Socialite, Empresária, Memorialista:


depoimento [out. 1992]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-
RJ. 1 fita K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Macaé... cidade do amor... dos macaenses... cidade dos sonhos de


quem vive aqui.

(1) Texto de Vilcson Gavinho para o livro “MACAÉ MEMÓRIAS


RECENTES”, organizado por Marilena Garcia e Meynardo Rocha de
Carvalho. Macaé, RJ: Prefeitura Municipal de Macaé, 2019, p. 20-6.
(2) Fundador do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada,
integrado ao Solar dos Mellos - Museu da Cidade de Macaé. Perito
Documental da Primeira Vara Civil da Comarca de Macaé-RJ. Sócio-
Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Macaé. Sócio-
Fundador do Instituto Histórico e Genealógico do Norte Fluminense
(SJB-RJ); Sócio-Correspondente do Colégio Brasileiro de Genealogia
(RJ), etc. Autor e/ou Coordenador de obras literárias sobre História de
Macaé.

REFERÊNCIAS:
ACERVO AUDIOVISUAL. Collecção D. Rosa Joaquina, Macaé-RJ.
ALTAMIRANO, Alfredo J. Os proto-tupi: Construtores de sambaquis
(Apostila 5). II Fórum de Arqueologia em Cabo Frio, 16-17 de
novembro de 1999.
CARVALHO, Augusto de. Apontamentos para a Historia da
Capitania de S. Thomé. Campos: Typ. e Lith. de Silva, Carneiro &
Comp., 1888.
FROSSARD, Larissa; GAVINHO, Vilcson (Org.). Macaé, Nossas
Mulheres, Nossas Histórias. Macaé, RJ: Macaé Offshore, 2007.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e o Brejo. Rio de Janeiro:
Editora Lidador Ltda., 2.a Ed.,1974.
LIMA, Tânia Andrade. Ocupações Pré-Históricas em Ilhas do Rio de
Janeiro. In: BELTRÃO, Maria [et al], Org., Arqueologia do Estado do
Rio de Janeiro. Niterói: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro,
1995, p. 95-104.
LÔBO JÚNIOR, Dácio Tavares [et al]. Macaé Síntese Geo-Histórica.
Rio de Janeiro: 100 Artes Publicações, 1990.
PARADA, Antonio Alvarez. Coisas e Gente da Velha Macaé. São
Paulo: EDIGRAF, 1958.
_______. Histórias Curtas e Antigas de Macaé. Rio de Janeiro: Artes
Gráficas, 1995, vol. I e II.
_______. Histórias da Velha Macaé. Macaé (RJ): Ed. do Autor, 1980.

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