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Texto Fichado: PORRO Antônio.

História indígena do alto e médio Amazonas: Séculos XVI


a XVIII. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo:
Cia das Letras, 1992. p. 175-196.
Autor do Fichamento: José Borges dos Santos Júnior

“Nessa perspectiva, este capítulo quer oferecer uma síntese do panorama etnográfico das
margens do alto e médio Amazonas brasileiro, identificando e delimitando, na medida do
possível, as principais províncias descritas pelos cronistas dos séculos XVI e X\'II,
assinalando os seus traços culturais mais significativos e procurando acompanhar o processo
histórico da sua desagregação e metamorfose.” (P. 175)

“Nos parágrafos anteriores falou-se repetidamente em margens do Amazonas e em


populações ribeirinhas, o que já define, em linhas gerais, o nosso âmbito geográfico. A
delimitação não é aleatória, mas corresponde com certa aproximação à segunda das duas
grandes regiões naturais da bacia amazônica: a terra firme e a Várzea” (P. 176)

“obra de Chantre y Henvra. composta após a expulsão dos jesuítas espanhois contem
numerosas informações sobre as tribos acima mencionadas que, nos primeiros anos do século
XVIII, foram atraídas para as missões do Huallaga e do Maranon. Em condições ainda mais
adversas foi escrito o Tesouro de João Daniel, verdadeira enciclopédia da economia
amazônica do período neo-indígena. Para uma exegese destas e de outras fontes, consulte-se
Porro 1993.” (P. 180/181)

“Do alto para o baixo Amazonas, a primeira província era a de Aparia, que algumas fontes
quinhentistas chamam também Carari. Estendiase por mais de seiscentos quilómetros desde o
baixo Napo até a região de São Paulo de Olivença, entre o Javari e o Içá. Cerca de vinte
povoados com até cinquenta casas grandes sucediam-se pelas duas margens do rio, separados
por extensas roças de milho e mandioca. Aparia Grande, ou de Aparia o Grande, o povoado
principal, situava-se próximo ou algo acima da foz do Javari” (P. 181)

“Depois de um longo trecho despovoado a jusante dos Omágua e que compreendia as barras
do Jutaí e do Juruá, tinha inicia no século XVI, aquela que as crônicas denominaram a
província de Machiparo (ou Machifaro) e que no século seguinte seria habitada pelos
Curuzirari ou Aisuari. Estendia-se pela margem direita do Amazonas desde a foz do Tefé até
a do Coari (mais de 220 km) e pela margem esquerda numa extensão indeterminada. Os seus
povoados sucediam-se sem interrupção” (P. 182)

“Em 1651 os Yoriman foram alcançados pela expedição de Bartolomeu Bueno de Ataide em
busca do Rio do Ouro (o Japurá ou um de seus braços) e em 1670 pela primeira tropa de
resgate, diante da qual "retiraram-se para o mato e não deram escravos nenhuns" (Betendorf).
Vinte anos depois estavam 300 km rio acima, convivendo com os Aisuari na periferia do
território omágua e também espalhados pela terra firme ao sul” (P. 185)

“O último trecho do Amazonas acima da barra do rio Negro, e de cuja etnografia não há
notícias quinhentistas, era habitado no século. XVII por uma grande diversidade de tribos. Na
margem direita viviam, entre outros, os Caripuna e Zurina, conhecidos pelos excelentes
entalhes em madeira. Na margem esquerda, estendendo-se pelos lagos de Manacapuru e pelas
terras ao norte em direção ao baixo rio Negro, vivia um conjunto de tribos conhecidas
coletivamente como Carabuyana.” (P. 186)

“Em 1639, quando a expedição de Pedro Teixeira, de regresso do Equador, chegou à foz do
Tapajós, encontrou a tropa de Bento Maciel preparando-se para ir à caça de índios naquele
rio. Por esta época o suprimento de mão-de-obra já estava se esgotando nas regiões mais
próximas a Belém; os índios sobreviventes às primeiras incursões, tendo aprendido as
amargas lições do contato, fugiam dos rios mais frequentados e se refugiavam cada vez mais
longe pelo interior Os mais aguerridos ofereciam ferrenha resistência em seus territórios, que
acabavam sendo evitados pelos portugueses; estes, por sua vez, haviam percebido que as
tribos ainda virgens de contato constituíam presa muito mais fácil. Iniciaram-se então viagens
cada vez mais longas pelo Amazonas acima, em busca de novos viveiros humanos.” (P. 189)

“A maioria dos povos indígenas que viviam ao longo do rio Amazonas à chegada dos
europeus estão extintos ou destribalizados há mais de duzentos anos. O seu conhecimento
depende essencialmente do que foi escrito pelos primeiros exploradores, viajantes e
missionários. Essas fontes diretas são completadas (e às vezes substituídas, porque muitas
delas se perderam) por obras de compilação e historiografia antiga.” (P. 195)
Texto Fichado: TAYLOR, Anne Christine. História pós-colombiana da alta Amazônia. In:
CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das
Letras, 1992. p. 213-238.
Autor do Fichamento: José Borges dos Santos Júnior

“Finalmente, a própria natureza conspira para esvaziar a densidade sociológica e histórica das
sociedades da Alta Amazónia; tudo o que a geografia tem de espetacular, diversificada e rica
de sentido, a paisagem humana tem de sóbria, monocromática, desencorajadora por sua
uniformidade cultural e sua proliferação étnica incompreensível. A tentação de explicar uma
pela outra ou até substituir insidiosamente a sociologia pela topografia explica a importância
desmedida por muito tempo atribuída às determinações "naturais" na apreensão antropológica
dos grupos do oeste amazônico.” (P. 213)

“O passado pré-colombiano da alta amazônia ainda está mergulhado em trevas, por falta de
trabalhos arqueológicos adequados," o que torna impossível ligar com segurança o passado
pré e pós-colombiano numa mesma trama narrativa. A antiguidade será, assim, evocada de
modo retrospectivo, a partir da história colonial, e num nível temático mais do que
cronológico.” (P. 216)

“Isso posto, sabe-se, no entanto, o suficiente para afirmar que no momento da conquista es-
panhola essa região tinha uma configuração étnica e cultural sensivelmente diferente da que
tem hoje” (P. 216)

“A expressão ciudades que se utilizava para qualificar tais povoados deixa bem claro o peso
cultural do modelo urbano entre os espanhóis, mas traduz mal a realidade física desses
vilarejos sórdidos e efémeros. Além disso, o fenómeno de urbanização intensa e precoce na
Amazónia não deve fazer perder de vista o caráter extraordinariamente móvel da população
colonizadora que, apesar da hostilidade do meio, vagava por toda a região deixando sua marca
de devastação, tanto para procurar novos locais de garimpo quanto para capturar escravos. Por
isso tais vilas e seus ocupantes tiveram um efeito desproporcional em relação ao seu papel
económico e à sua importância demográfica.” (P. 217)

“Foi justamente a questão da obtenção e adaptação da mão-de-obra indígena que forneceu aos
missionários a ocasião de se implantarem numa região até então entregue aos interesses dos
encomenderos, que não tinham meios de controlar de maneira eficaz uma população — ainda
que bastante desfalcada — rebelde ou fugitiva. De qualquer modo, o desenvolvimento local
de uma frente missionária se inscreve, evidentemente, numa dinâmica comum a todas as
zonas marginais da colónia. Sabe-se que um processo idêntico ocorre pela mesma época no
baixo Maranon, em Mojos, no Paraguai e nos llanos da Venezuela.” (P. 219)
“Em primeiro lugar, como pano de fundo, o choque epidemiológico e suas consequências
indiretas, uma profunda desestruturação sociológica e psicológica que multiplicava e
prolongava o efeito das doenças. Em seguida, os ataques escravagistas e as entradas
evangélicas, operações cuja frequência, dimensões e extensão geográfica não devem ser
subestimadas.” (P. 221)

“Qualquer que seja a versão da lenda jesuítica, a partida dos missionários em 1768 não
precipitou de uma hora para outra a ruína da Alta Amazónia. Na verdade, a missão já estava
moribunda e os estabelecimentos civis em que se apoiava, mais ainda. O final do século
XVIII se caracteriza pela decadência da frente pioneira colonial e uma quase interrupção dos
fluxos comerciais que a atravessavam ou dela provinham. Os portugueses ocupam sem
resistência os territórios dos religiosos controlados pela Audiência, o clero secular
encarregado de assumir as missões acaba de arruiná-las com sua imperícia e seu absenteísmo,
e as guerras de independência concentram a atenção das populações crioulas. Entre 1760 e
1850, os povoados amazônicos perdem, em média, dois terços de sua população e ao longo de
todo o Piemonte equatorial, das margens do Napo até o Mayo, a população não indígena não
passa de quinhentas pessoas até 1850, segundo a estimativa mais otimista” (P. 224)
Texto Fichado: FARAGE, Nádia; SANTILLI, Paulo. Estado de sítio: territórios e identidades
no vale do rio Branco. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no
Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1992. p. 267-278.
Autor do Fichamento: José Borges dos Santos Júnior

“O presente capítulo trata da história dos povos indígenas na região de campos e serras do
médio e alto rio Branco — que representa hoje a porção nordeste do estado de Roraima,
fronteiriça à República da Guiana —, com especial referência à ocupação de suas terras.
Nesta área, habitam atualmente os Macuxi, Wapixana, Ingarikó e Taurepang, com uma
população estimada em 20 mil habitantes (CEDI, 1986). Seus territórios — que, em grande
parte, não foram ainda objeto de demarcação — encontram-se invadidos por inúmeras
fazendas de gado, que ali começaram a se estabelecer desde fins do século passado.” (P. 267)

“Segundo o cronista (Lobo D'Almada, 1861 [1787] :674 ss.), os Paravilhanos, Aturahis e
Amaribás localizavam-se entre as cabeceiras do rio Tacutu e o Rupununi. Os Macuxi
ocupavam território contíguo, nas serras que se estendem do Rupununi em direção ao oeste,
até as ver- tentes do rio Surumu. Os Wapixana, por sua vez, ocupaxam as serras das vertentes
do rio Maú até as do rio Parimé.” (P. 268)

“Os Caribes e Caripunas habitavam a região da serra Makarapan, no rio Rupununi;


encontravam-se sob a influência holandesa, e não haviam sido aldeados pelos portugueses até
então.” (P. 268)

“Os Waicás, continua o cronista, habitavam as serras entre os rios Amajari e Parimé. Nesta
região localizavam-se ainda os Acarapis, nas cabeceiras do rio Parimé, e os Tucurupis, na
serra Cunauaru. Nas cabeceiras do rio Amajari, mais especificamente na serra Curauti,
habitariam os Arinas; observa o cronista que "estes tapuyas são desertados das aldeias dos
espanhóis".” (P. 268)

“Na região do rio Uraricoera, habitavam os Quinhaus e Procotós, estes últimos no igarapé
Tactu, afluente do Uraricapará. Além destes, havia ainda os Macus — "tapuyas de corso, sem
habitação certa" — e os Guimaras, lo- calizados nas cabeceiras do rio Maracá.” (P. 268)
A margem direita do médio e baixo rio Branco era igualmente populosa: os Aoaquis
localizavam-se no rio Caumé; os saparás no rio Mucajahi, e os Tapicaris, nas cabeceiras desse
rio; os Pauxianas, na serra de S. Felipe; e, por fim, os Parauanas no rio Catrimani.” (P. 268)

“Após uma grande revolta nos aldeamentos indígenas em 1790, a ocupação portuguesa se
desorganiza no rio Branco: relata o cronista E X. Rodrigues Barata, que atravessa os campos
do rio Branco em direção ao Suriname em 1798, haver encontrado as povoações quase
desertas; no Forte São Joaquim, um destacamento de índios, proveniente do rio Negro, se
revezava mensalmente. A experiência dos aldeamentos não se repetiria no século XVIII, nem
haveria no século XIX iniciativa comparável.” (P. 271)

“Um vácuo administrativo certamente se fazia sentir na virada do século. Porém, dado o
interesse estratégico na região, por sua condição de fronteira, aliado ao fato de que o alto rio
Branco não propiciava o extrativismo — que então dominava a economia amazônica —, o
projeto de estabelecer aldeamentos indígenas e colónias militares, enquanto forma de
preservação territorial, continua presente, ao menos retoricamente, durante o Império.” (P.
271)

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