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14/03/2023, 01:02 Texto e discurso

Texto e discurso
Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha

Descrição

Os conceitos de texto e de discurso, a distinção e a complementaridade entre eles, bem como uma
caracterização dos gêneros textuais e alguns cuidados necessários na produção e leitura de textos.

Propósito

Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para identificar estratégias e cuidados
necessários à elaboração e à leitura de um texto.

Objetivos
Módulo 1

Conceitos de texto e de discurso


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Distinguir os conceitos de texto e de discurso.

Módulo 2

A elaboração do texto
Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual.

Módulo 3

Gêneros textuais
Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos.

Introdução
A escrita e a leitura são duas práticas fundamentais na vida acadêmica e profissional. Vivemos num
mundo letrado, em ambientes físicos ou virtuais que são povoados por textos. Cada texto
desempenha uma determinada função, atende a um objetivo, está relacionado com certa prática
social ou situação de comunicação e interação.

Escrevemos textos para serem lidos e lemos textos que foram escritos com determinadas intenções.
Tudo isso nos conduz à relação entre texto, discurso e gêneros textuais. Por isso, vamos estudar
esses conceitos e conhecer algumas recomendações para ler e escrever melhor.

Vamos aos estudos!

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1 - Conceitos de texto e de discurso


Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir os conceitos de
texto e de discurso.

Introdução
Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há sempre uma intenção ao falar ou ao
escrever.

Dependendo dessa intenção ou da finalidade do ato de comunicação, haverá maneiras diferentes de


construir sua fala e sua escrita, ou seja, você acabará usando modos específicos para se expressar ou
interagir por meio da língua.

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As formas características do uso da língua se manifestam em determinadas


estruturas, isto é, dito de outra forma, aparecem em modos peculiares de organizar
o discurso ou o ato de comunicação. Independentemente da finalidade, sua escrita
ou sua fala se organizam a partir de estruturas definidas, que muitas vezes até
passam despercebidas.

Vejamos a seguinte situação:

Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que aconteceu no trabalho, uma situação
ocorrida que lhe deu muita esperança de ser promovido.

Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando nosso ato de comunicação a partir
delas, por isso devemos concluir que há diversas formas de organizar o discurso. Isso também implica dizer
que existem diversos gêneros textuais, além daquelas moda­lidades que você deve ter aprendido na escola,
como narração, descrição e dissertação.

No diálogo acima, qual modalidade você acha que Rodrigo utilizou para contar o fato
ocorrido?

Digite sua resposta aqui

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Narração

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Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma promoção, ele utilizou aspectos
característicos da narração, que é um tipo específico de se organizar o discurso, assim como nós
fazemos comumente no dia a dia.

Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos típicos da narração,
como: personagem, espaço, tempo etc.

Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da língua, você aprenderá os
conceitos de discurso e de texto para, então, verificar como o conhecimento dos diferentes gêneros textuais
o ajudará a escrever e a ler melhor.

Conceitos de texto e de discurso


Para distinguir texto e discurso, primeiramente é preciso conceituá-los, além de identificar a utilidade dessa
distinção. Mas, em vez de começar logo com uma definição, vamos pensar um pouco sobre a prática, ou
seja, vamos considerar uma situação concreta de uso da língua. Imagine que alguém diga a um colega o
seguinte:

A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou mesmo o estranhamento diante de
tal resposta ocorre porque a intenção de quem pergunta não é obter uma informação sobre o conhecimento
ou não do horário, mas pedir um dado que traga sentido, referência e clareza.

A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim


como a forma como o texto é recebido pelo enunciatário.

Enunciação
O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em funcionamento
por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou

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se escreve).

O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da linguagem, o conceito de


enunciação, assim como tantos outros, apresenta variações na forma como é definido, conforme a
abordagem teórica em que seja tomado.

A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa hipotética situação de comunicação,
pode-se imaginar a presença explícita dessa enunciação do seguinte modo:

É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja, a enunciação pode estar implícita.
Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o texto, entendê-lo e perceber as intenções do autor. Teremos, então,
uma decodificação desse texto.

Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por meio da linguagem, temos sujeitos
que interagem em determinado tempo ou contexto a partir de um texto ou mensagem.

Os aspectos relacionados com a pessoa (quem fala/ouve ou quem escreve/lê) e


com o tempo (em que momento ou contexto a comunicação se dá) também fazem
parte da enunciação.

Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros no texto, a produção textual
envolve os seguintes elementos da enunciação:

intenção;
interlocutores; e
contexto.

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Sobre a enunciação, Antônio Suárez Abreu diz o seguinte:

O entendimento do texto implica a decodificação da intenção de quem o


produziu, por isso mesmo, às vezes, pode-se perguntar: mas o que é que você
quis dizer com isso?

Temos, assim, uma pergunta sobre a enunciação.

(ABREU, 2004, p. 10)

A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma primeira caracterização de texto e de
discurso. Segundo Abreu (2004), podemos dizer que:

O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas vezes, com algumas marcas da
enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo.

O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de codificação e só
termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. Por isso, também se afirma que o
discurso é histórico.

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Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo acabado e estático. No
entanto, o discurso teve seu início juntamente com o texto e vai se completando à medida que o texto vai
sendo lido por seus leitores. Por isso, Abreu nos afirma que o discurso

[...] é sempre dinâmico e pode ser repetido infinitamente, sempre de formas


diferentes, dependendo dos repertórios de seus leitores.

(ABREU, 2004, p. 12)

As concepções de texto e de discurso nos permitem, então, mais do que fazer uma distinção, perceber que
eles são complementares.

Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo a público e se realizando.

É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral, embora enfatizemos na maioria das vezes o texto
escrito. O discurso também pode se realizar tanto a partir de um texto escrito quanto de um texto oral.

Atenção
Não confunda discurso com a fala de um orador!

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Compreendendo texto e discurso
O professor Luís Cláudio Dallier e o linguista Antônio Suárez Abreu retomam o conceito de texto e discurso
com alguns exemplos práticos.

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Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou falamos temos um texto que se realiza
como discurso. Isso acontece porque quem fala e escreve tem uma intenção ou objetivo contido na
mensagem e até na forma de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa decifrar (compreender) a mensagem e a
sua intenção a partir do próprio conhecimento de mundo e, claro, do próprio texto.

Mas, você pode se perguntar:

Para que serve definir texto e discurso, além de fazer a distinção entre eles? Qual a
utilidade desses conceitos?

Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na continuidade deste material. Mas, antes,
verifique se você de fato aprendeu o que é um texto e um discurso realizando as atividades a seguir.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

A enunciação é um conceito importante para compreender o que é um discurso, além da distinção e


complementaridade entre texto e discurso. Sobre a enunciação, é correto afirmar que

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refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em funcionamento


A por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele
para quem se fala ou se escreve), produzindo um enunciado.

a intenção tem pouca importância na produção do texto e, consequentemente, na forma


B
como ele será lido.

a intenção é um de seus elementos, estando sempre presente no texto de forma


C
explícita.

D o produto da enunciação é chamado enunciatário.

no campo dos estudos da linguagem, assim como tantas outras noções, a de


E enunciação apresenta uma única forma de ser apresentada, sendo resumida a dois
elementos: enunciador e enunciatário.

Parabéns! A alternativa A está correta.


A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim como a forma como o
texto é recebido pelo enunciatário. O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em
que a língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em
vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve). O produto da enunciação é chamado
enunciado. No campo dos estudos da linguagem, o conceito de enunciação, assim como tantos outros,
apresenta variações na forma como é definido, conforme a abordagem teórica em que seja tomado.

Questão 2

Texto e discurso são conceitos que devem ser compreendidos como distintos e ao mesmo tempo
complementares porque

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A o texto é a parte abstrata e o discurso é a parte concreta.

B o texto é escrito e o discurso é oral.

C o discurso é o texto em atividade comunicativa, vindo a público e se realizando.

D o texto é dinâmico e indefinido enquanto o discurso é estático e definitivo.

o texto pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo da


E bagagem cultural de seus leitores, já o discurso pode ser considerado algo acabado e
estático.

Parabéns! A alternativa C está correta.


O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo. O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia
quando o emissor realiza o processo de codificação e só termina quando o destinatário cumpre sua
tarefa de decodificá-lo. O discurso é histórico. Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor,
pode ser considerado algo acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu início juntamente com o
texto e vai se completando à medida que o texto vai sendo lido por seus leitores. Por isso, o discurso “é
sempre dinâmico e pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do
repertório de seus leitores” (ABREU, 2004, p. 12).

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2 - A elaboração do texto
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar aspectos da
distinção entre texto e discurso na produção textual.

Cuidados na elaboração do texto


Compreender a relação entre texto e discurso deve levá-lo a determinados cuidados na produção do texto e
na sua leitura.

Em relação à leitura, você deve lembrar que o discurso é um conceito relacionado com as intenções
presentes no texto (de forma explícita ou implícita) e outros elementos da comunicação como:

quem escreve;
quem lê;
em que contexto o texto foi produzido; e
o momento em que o texto é lido.

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Isso quer dizer que o discurso é algo situado, ou seja, ele é produzido por alguém, com determinada
intenção, em algum contexto e tendo em vista o interlocutor.

Para a compreensão ou interpretação adequada do texto, será preciso considerar


também esses elementos ou aspectos, muitas vezes escondidos nas entrelinhas.

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Cuidados na elaboração do texto
O linguista Antônio Suárez Abreu fala sobre cuidados na elaboração do texto a partir da noção de discurso.

Uma longa tradição escolar analisou textos ou enunciados sem considerar


quando foram proferidos, por quem o foram, contra ou a favor de quais outros
enunciados. Isso implicava basicamente uma análise da forma do texto e de
seu conteúdo. Mas levar em conta a situação e o contexto histórico permite
compreender melhor como um texto funciona — o que significa, se apoia ou

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critica outros etc. Esses fatores explicam por que algo foi dito [...] e qual é o
sentido do que foi dito.

Considerar o discurso é contrapor-se a só considerar o texto e os elementos


que o compõem: quantos parágrafos tem? a qual gênero pertence? Ou a só
perguntar pelos sentidos gerais do texto: em ‘o menino leu o livro’, o que fez o
menino? quem leu o livro? O principal efeito pedagógico desta concepção é ir
além da leitura do conteúdo expresso para descobrir o que eventualmente está
implícito no texto: se é uma informação, uma resposta, a quem se dirige [...].

(POSSENTI, 2014, n. p., grifo do autor)

Você certamente percebeu o quão importante é a construção do discurso e a relevância de refletir sobre ele.
Mas sejamos um pouco mais práticos, trataremos agora da elaboração do texto.

Elaboração do texto
Ao elaborar um texto, você deve ter em mente que não escreve para si mesmo, pois seu texto é produzido
para que outros o leiam, ele se transformará em discurso. Por isso, deve haver cuidado na elaboração, na
forma pela qual suas intenções estarão marcadas ou presentes na mensagem.

Se escrevemos e falamos para que outros nos entendam ou mesmo atendam aos objetivos de nossa
comunicação, precisamos nos esforçar para irmos além da simples expressão do que temos em mente.
Isso tem a ver com um importante mecanismo da comunicação, que foi resumido pelo professor Blikstein
(1990), em seu livro Técnicas de comunicação escrita. Estes seriam os princípios do mecanismo da
comunicação:

Toda comunicação escrita deve gerar uma resposta a uma determinada ideia ou necessidade
que temos em mente.

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A comunicação escrita será correta e eficaz se produzir uma resposta igualmente correta.

Resposta correta é a que esperamos, isto é, aquela que corresponde à ideia ou necessidade
que temos em mente.

Para avaliarmos a correção e a eficácia de uma comunicação escrita, temos que verificar
sempre se houve uma resposta e se ela corresponde à ideia ou necessidade que queremos
passar ao leitor.

Veja o exemplo:

É preciso, então, cuidado em relação a vários aspectos no uso da língua nas situações de comunicação.

Vejamos três deles:

1. Vocabulário

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Devemos optar por palavras e expressões que, além de expressar o que pensamos, ajudem o leitor ou
ouvinte a identificar a nossa intenção ou o objetivo do texto. Palavras pouco conhecidas ou rebuscadas,
termos técnicos e vocabulário restrito a uma área diferente da do nosso interlocutor podem oferecer alguma
dificuldade.

O vocabulário sempre deve estar adequado ao contexto em que comunicamos nossa mensagem e ao
nosso interlocutor. Se precisarmos usar uma palavra difícil ou pouco conhecida, é recomendável que ela
venha acompanhada de alguma explicação, evitando deixar o texto pedante ou pretensioso. Não é um
vocabulário excessivamente formal ou com preciosismos que vai demonstrar nosso domínio da língua.

2. Adequação da linguagem às situações e aos


leitores que temos em vista
O estilo e o nível de linguagem que usamos em nossa escrita ou fala devem estar adequados ao contexto
da comunicação, ao objetivo ou à intenção da nossa mensagem e ao interlocutor (o receptor, a pessoa com
quem nos comunicamos):

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Se o objetivo, por exemplo, for escrever um manual com procedimentos e orientações para o uso de um
celular, o texto deverá ter um estilo que respeite a língua culta, mas que seja simples, objetivo e claro, com
predomínio de verbos no imperativo ou infinitivo, além de descrições e outras características desse gênero
textual.

Se escrevermos um bilhete ou enviarmos um recado por um aplicativo de mensagens, usaremos uma


linguagem mais coloquial, um tom pessoal e talvez algumas abreviaturas, entre outras características.

Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na elaboração do texto em função
de seu gênero.

3. Construção das fra­ses e correção gramatical


Organizar cada parágrafo do texto, os períodos e as frases que o compõem é uma forma de deixar o texto
claro, coeso e coerente.

Se queremos elaborar uma mensagem objetiva e que demande uma resposta clara
do nosso leitor, é melhor colocar as orações na ordem direta, sem muita inversão, e
reservar para cada parágrafo uma ideia ou um aspecto do que queremos tratar.

Escrever e falar sem incorreções gramaticais também contribui para o melhor entendimento da mensagem,
além de dar credibilidade ao autor em virtude do seu domínio da língua padrão.

Há outros cuidados na elaboração do texto que destacamos para ajudá-lo a escrever melhor. São aspectos
que o auxiliarão a perceber características que devem estar presentes em todos os textos e, além disso, a
aprender uma outra forma de definir o que é um texto. Vamos, então, conhecer quatro importantes
recomendações que você precisa considerar ao escrever e ao ler um texto:

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Não confunda texto com a mera soma ou aglomerado de frases expand_more

Um texto deve ser um todo orgânico com encadeamentos que interliguem as suas partes. Isso im­‐
plica, na leitura, que não devemos tomar as frases ou partes do texto isoladamen­te, sem considerar
o seu contexto.

Se o texto é um todo orgânico, então sua com­preensão não pode se basear apenas em um
fragmento isolado do contexto.

Delimite o seu texto! expand_more

Os professores Fiorin e Savioli (2003, p. 17) nos lembram, em seu livro Lições de texto: leitura e
redação, que o texto deve ser “delimitado por dois espaços de não sentido, dois brancos, um antes
de começar o texto e outro depois”, ou seja, tem início e fim, está delimitado num determinado
espaço. Isso implica uma organização textual. Se o texto é uma unidade, ele deve ter começo, meio e
fim.

Faça com que seu texto seja um gerador de sentido expand_more

O que você escreve tem que fazer sentido para quem vai ler. Caso isso não aconteça, não se
produzirá um discurso, o texto não se realizará.

Os sentidos têm de ser marcados pela coerência; devem ser, também, confirmados a partir de seu
contexto.

Esteja atento a elementos do contexto durante a produção expand_more

De acordo com Fiorin e Savioli (2003, p. 17), o texto é o produto de um sujeito que pertence “a um
grupo social num tempo e num espaço”, alguém que expõe em seus textos as ideias, os anseios, os
temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social.

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Assim, é necessário entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi
produzido para não correr o risco de compreendê-lo de maneira distorcida.

Esses cuidados na elaboração do texto correspondem a uma forma de entender o que é um texto. Por isso,
é hora de apresentar a seguinte definição:

o texto é um todo orgânico gerador de sentido.

Essa definição nos ajuda a perceber que um texto tem que fazer sentido e possui princípio e fim, mesmo
que ele seja um texto muito pequeno.

Imagine que alguém, diante de um princípio de incêndio, grite: “Fogo!”.

Ou vamos supor que uma professora, diante de uma sala de aula muito barulhenta, escreva numa lousa a
palavra: “Silêncio”.

Nos dois casos temos um exemplo de texto, por menor que seja sua estrutura. Isso acontece porque nessas
situações de comunicação existe uma unidade linguística delimitada e que produz sentido a partir da
intenção de quem fala ou escreve.

Linguística

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Estudo científico da linguagem e das línguas naturais. A utilização deste termo depende das perspectivas
metodológicas, das teorias e das disciplinas que estudam os diferentes fenômenos.

(Portal da Língua Portuguesa)

Todo falante de uma língua tem a capacidade de distinguir um texto coerente


de um aglomerado incoerente de enunciados e essa competência é linguística
[...] O texto consiste, então, em qualquer passagem falada ou escrita que forma
um todo significativo independentemente de sua extensão.

(FÁVERO, 1998, p. 6-7)

Compreender que o texto é um todo orgânico que produz sentido também traz como desdobramento
estabelecer correspondência e articulação entre suas partes. As frases não podem ser soltas ou
simplesmente amontoadas numa sequência sem sentido e sem unidade.

Dica
A palavra texto está relacionada, em sua origem, com a palavra tecido. Daí que podemos falar na "tecitura
de um texto", em "tecer um texto". É preciso tecer os fios, ou tecer as palavras, de tal forma que o texto se
apresente coeso e orgânico: uma unidade articulada.

O processo de articulação do texto, que permite a integração entre suas partes, é chamado de
encadeamento semântico (semântico = sentido). Ele é que produz a textualidade ou a “trama semântica”. A
coesão, segundo Abreu (2004), é exatamente esse processo de encadeamento que produz a textualidade,
que cuida da estruturação da sequência superficial do texto.

Conforme nos ensinam Fiorin e Savioli (2003, p. 370), podemos também dizer que a coesão textual é a
ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto, por meio de “elementos
formais que assinalam o vínculo entre os componentes do texto”. Quando um conteúdo escrito apresenta
repetições desnecessárias, retomando uma palavra ou ideia sempre com o mesmo termo, temos um caso
de falta de coesão. O exemplo a seguir, retirado do livro Curso de redação, do professor Antônio Suárez
Abreu, é uma boa oportunidade para verificar a falta de coesão num texto.

"As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os automóveis para


vender os automóveis mais caro. O cliente vai à revendedora de automóveis com
pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro o automóvel, desiste de comprar o
automóvel e as revendedoras de automóveis têm prejuízo." (ABREU, 2004, p. 24).
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Se você levar em conta que o termo “revendedoras de automóveis” pode ser substituído por agência,
concessionária ou loja, e “automóveis” pode ser substituído por carros, veículos, produto ou mercadoria, é
possível reescrever o texto estabelecendo a coesão. Veja:

"As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os carros para vendê-
los mais caro. O cliente vai lá com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro
pelo produto, desiste e as agências têm prejuízo."

Perceba que, além de evitar a repetição de “revendedoras de automóveis” e da palavra “automóveis”,


substituindo esses termos por sinônimos, foram utilizados mecanismos de coesão como a elipse, ou seja,
omissão de um termo.

Nesse exemplo, na oração desiste de comprar o automóvel, foi omitido o complemento da forma verbal
“desiste”, sem prejuízo à compreensão do texto. Também se substituiu o termo “os automóveis” na frase
para vender os automóveis mais caro pelo pronome oblíquo átono junto ao verbo vender: “para vendê-los
mais caro”. Outro mecanismo de coesão utilizado foi a retomada do termo “revendedora de automóveis”
valendo-se de um advérbio, no caso, o advérbio de lugar “lá”: “o cliente vai lá...”. Há diversas outras formas
de articular as partes de um texto, as sentenças ou frases que formam cada período ou parágrafo,
garantindo a coesão textual.

Se queremos, por exemplo, articular duas sentenças com o sentido de oposição, podemos usar conectores
ou articuladores como:

Mas
Porém
Contudo
No entanto
Todavia

Se a ideia for articular sentenças diferentes com o sentido de causalidade, usaremos articuladores como:

Porque
Uma vez que
Já que
Visto que
Devido a
Por causa de

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Veja o exemplo a seguir:

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para uma


reunião ontem à tarde, porém poucos compareceram, já que uma forte chuva
inundou os principais acessos ao colégio.

Perceba que duas informações iniciais estão articuladas com a ideia de oposição: a convocação e o não
comparecimento de quem foi convocado. Em seguida, apresenta-se a causa para o não comparecimento: a
forte chuva. A coesão também se manifesta ao se evitar a repetição desnecessária da expressão “os pais e
os responsáveis” na oração: porém poucos compareceram, além de se retomar o termo “escola” pelo
sinônimo “colégio” na última oração.

Tudo isso deve deixar claro que, quando escrevemos, precisamos nos preocupar com a forma como nosso
leitor vai receber o texto.

Se o texto é mal escrito, cheio de repetições desnecessárias, com ideias truncadas


e sem uma articulação adequada, teremos problemas na sua compreensão ou
mesmo uma má vontade na leitura do texto, já que ele aparenta certo descuido com
a língua e falta de preocupação com o interlocutor.

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Entendendo a coesão textual
Confira outras explicações e exemplos sobre coesão textual com o linguista Antônio Suárez Abreu.

Dica
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O Quiz de Português é um aplicativo de perguntas e respostas que abrangem as divisões da gramática e as


regras gerais de construção textual, como os recursos de coerência e coesão.

É voltado para todos que querem melhorar ou apenas testar o seu conhecimento na língua portuguesa, além
de educadores e alunos da área.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Compreender que o texto é um todo organizado que produz sentido implica afirmar que, na leitura e na
produção textual, é recomendável

basear a leitura em fragmentos e partes isoladas do texto, sem levar em conta o


A
contexto.

não identificar como texto aquelas produções muito curtas, de apenas uma única
B palavra, como no exemplo em que alguém grita “Fogo!”, diante de um princípio de
incêndio.

estabelecer correspondência e articulação entre as partes do texto, pois as frases não


C podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa sequência sem sentido e sem
unidade

D dar pouca ou mesmo nenhuma importância à forma como o leitor vai receber o texto.

E
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não delimitar o texto escrito num determinado espaço, pois a organização textual pouco
importa.

Parabéns! A alternativa C está correta.


A opção A está incorreta porque a leitura do texto não deve se basear em fragmentos ou partes
isoladas, sem levar em conta o contexto. As alternativas B e E estão incorretas porque textos não se
definem por serem grandes ou pequenos, mas por serem delimitados em algum espaço e produzirem
sentido. A opção D está incorreta porque a forma como o leitor recebe o texto tem sua importância na
produção textual. A resposta correta é a C por primar pela coesão textual.

Questão 2

O texto bem escrito deve ter suas partes articuladas adequadamente, ou seja, deve ter a marca da
coesão textual. No texto abaixo, há graves problemas de coesão textual.

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da escola para uma reunião de
pais e responsáveis dos alunos ontem à tarde, por isso poucos compareceram, porém, uma forte
chuva inundou os principais acessos ao colégio.

Assinale a alternativa que apresenta o restabelecimento da coesão textual.

A diretora convocou para uma reunião ontem à tarde, pois uma forte chuva inundou os
A
acessos à escola, uma vez que poucos compareceram.

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da escola para uma
B reunião ontem à tarde na escola, mas poucos pais e responsáveis dos alunos da escola
compareceram, porque uma forte chuva inundou os principais acessos à escola.

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para uma reunião
C ontem à tarde, porque poucos compareceram, mas uma forte chuva inundou os
principais acessos ao colégio.

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Uma vez que a diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para
D uma reunião ontem à tarde, poucos compareceram, porém, uma forte chuva inundou os
principais acessos ao colégio.

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para uma reunião
E ontem à tarde, mas poucos compareceram devido a uma forte chuva que inundou os
principais acessos ao colégio.

Parabéns! A alternativa E está correta.


A alternativa correta é a única que apresenta uma versão do texto em que as repetições desnecessárias
são evitadas, o sentido de oposição entre a primeira e a segunda parte é estabelecido e a articulação
com sentido de causa e efeito é recuperada entre o último e o segundo período.

3 - Gêneros textuais
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de
gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos.
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Conhecendo os gêneros textuais


Você já aprendeu que, ao falar ou escrever, a intenção e outros aspectos se fazem presentes no ato
comunicativo, correspondendo a um modo característico de construção do discurso. Esse modo específico
de organizar o discurso se constitui num conjunto de características relativamente estáveis, configurando
diferentes textos ou gêneros textuais.

A noção de gêneros textuais foi desenvolvida por um pensador russo, Bakhtin (1895-1975), no começo do
século XX. Ele usou a palavra gêneros para se referir aos textos orais ou escritos que elaboramos nas
diversas situações de comunicação.

Exemplo
Um bilhete que alguém deixa para sua mãe, uma piada que se conta na mesa de um bar, uma ata redigida
durante uma reunião ou um artigo de opinião publicado nas redes sociais são exemplos de gêneros textuais,
pois apresentam um conjunto de caracte­rísticas sociocomunicativas e uma estrutura específica.

Sociocomunicativas
Diz-se daquilo que está inserido em um contexto social e tem função comunicativa.

Há gêneros textuais que são típicos da vida acadêmica. Se você tiver que apresentar os resultados de um
trabalho acadêmico ou de uma pesquisa realizada ao final do curso, provavelmente terá de escrever uma
monografia ou um artigo acadêmico, que constituem também exemplos de gêneros textuais. Caso queira
apresentar os resultados de uma visita técnica ou de uma inspeção que tenha rea­lizado, poderá elaborar um
relatório, outro exemplo de gênero textual. O e-mail enviado a um colega também faz parte de um gênero
textual. A lista de exemplos poderia se estender bastante.

O importante é perceber que cada texto exemplificado possui sua estrutura e suas características comuns,
que são linguística e socialmente reconhecidas.

Cada texto se relaciona com determinadas intenções comunicativas que, por sua
vez, correspondem a características ou estilos próprios.

Marcuschi oferece a seguinte conceituação de gêneros textuais:

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[...] textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que


apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica

(MARCUSCHI, 2002, p. 22)

Agora que você já sabe o que é um gênero textual, tenha cuidado para não cair numa confusão muito
comum que alguns estudantes fazem entre gêneros e tipos tex­tuais. Para ajudá-lo a compreender a
diferença entre eles, veja o quadro a seguir:

Tipos textuais Gêneros textuais

Definem-se por propriedades linguís­ticas


São realizações linguísticas concretas definidas por
que vão caracterizar os gêneros:
propriedades sociocomunicativas, ou seja, dentro de
vocabulário, relações lógicas, tempos
um contexto cultural e com função comunicativa.
verbais, construções frasais etc.

Exemplos: telefonema, sermão, carta comercial, carta


Exemplos: narração, argumentação, pessoal, aula expositiva, romance, reunião de
descrição, injunção (ordem) e exposi­ção condomínio, lista de compras, conversa espontânea,
(texto informativo). entrevistas, cardápio, receita culinária, inquérito policial,
blog, e-mail etc.

Correspondem a um conjunto pratica­mente ilimitado de


Podem variar entre cinco e nove tipos. características deter­minadas pelo estilo do autor,
conteúdo, composição e função.

Marcuschi, 2002.

De certo modo, nossa experiência de estudo da língua portuguesa na escola está mais relacionada com os
tipos de textos, também denominados tipos textuais. Mas precisamos ter cuidado para não achar que
escrever ou ler um texto se resume a compreender os aspectos gramaticais e linguísticos relacionados com
um número limitado de tipos textuais.

Estes tipos de texto mais conhecidos — descrição, narração, dissertação/argumentação, exposição e


injunção — vem sendo ensinados e solicitados pela escola há pelo menos uma centena de anos, o que faz
deles também gêneros escolares, que somente na escola circulam, para ensinar o "bem escrever".

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Na escola, escrevemos narrações; na vida, lemos notícias, relatamos nosso dia, recontamos um filme, lemos
romances (gêneros textuais).

Na escola, redigimos uma "composição à vista de gravura" (descrição); fora dela, contamos como
decoramos nosso apartamento, instruímos uma pessoa sobre como chegar a um lugar desconhecido.

Na escola, dissertamos sobre um tema dado; na vida, lemos artigos de opinião, apresentamos nossa
pesquisa ou relatório, escrevemos uma carta de leitor discordando de um articulista.

Os gêneros de texto, portanto, não são classes gramaticais para classificar textos. São entidades da vida,
dão nome a uma "família de textos".

Os gêneros textuais podem ser tanto escritos quanto orais. Há gêneros textuais que são bem tradicionais,
como os sermões, as cartas e os diários pessoais, como podemos ver nos exemplos a seguir:

Carta pessoal
Numa carta pessoal encontraremos um remetente escrevendo a um destinatário sobre
assuntos variados, numa linguagem mais afetiva, estilo menos formal e, às vezes, num tom
confessional.

Carta comercial
Já numa carta comercial, a finalidade da mensagem impõe linguagem e aspectos formais
como a disposição da data e do local; a maneira de se dirigir ao destinatário (como escrever o
vocativo ou que forma de tratamento escolher); uso de expressões características da área ou
até mesmo jargões profissionais; a forma de o remetente assinar etc.

Outros gêneros são mais recentes, resultado das tecnologias digitais. O e-mail, por exemplo, é um gênero
textual digital que nos remete às cartas ou aos bilhetes, enquanto o blog se aproxima mais dos diários
pessoais ou mesmo das crônicas.

Um gênero textual pode conter diferentes tipos textuais.

Vejamos a seguinte situação:

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Vamos supor que você tenha uma página e poste um texto sobre uma viagem que tenha realizado.
Provavelmente haverá um trecho com relato de algum “perrengue” pelo qual você tenha passado (narração),
outra parte com detalhes dos brinquedos de um parque sensacional que você conheceu (descrição) e, ao
final, a defesa da ideia de que viajar é uma das melhores coisas da vida (argumentação). Nesse exemplo, a
postagem contém texto narrativo, descritivo e argumentativo.

Vamos praticar?

Que tal ir a alguma de suas redes sociais e fazer dois posts? Em um deles, utilize os seguintes tipos
textuais: narração, descrição e argumentação. No outro, escolha apenas uma dessas tipologias.

Em seguida, avalie qual dos dois posts produziu mais interações, como likes e comentários.

Atente para o fato de que o texto para mídias sociais é um gênero textual digital
muito próximo de gêneros como o diário pessoal e a crônica. A vantagem de estar
num meio digital é a possibilidade de usar não somente a escrita, mas se valer
também de sons, imagens, animações e outras linguagens.

Todas essas informações e exemplos sobre os gêneros textuais servem para deixar muito claro que
deveremos ter estratégias de leitura adequadas a cada gênero textual, pois eles possuem estrutura,
intenções e estilos próprios.

Uma estratégia adequada de leitura passa pela expectativa correta em relação ao texto ou seu gênero
textual. Um leitor competente deve possuir conhecimentos prévios sobre cada gênero textual para
identificar no texto características próprias de cada gênero. Você não deve ler um e-mail como lê um blog. A
prática de leitura de um romance é distinta da leitura de uma notícia ou de um artigo no jornal. Não se deve
ouvir um sermão na igreja do mesmo modo que se ouve alguém numa conversa ao telefone.

Quando lemos um texto, precisamos identificar o gênero textual ao qual ele pertence. Ninguém deve
procurar instruções sobre procedimentos e informações precisas num gênero textual como o conto ou o
poema, assim como não se deve ler uma receita culinária procurando expressões poéticas sobre os
sentimentos ou mesmo tentando entender algum enredo de uma história.

Vejamos um exemplo de gênero textual: o anúncio publicitário.

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Um gênero textual como o anúncio publicitário, por exemplo, tem como intenção influenciar o leitor,
persuadi-lo a consumir determinado produto ou levá-lo a aderir ao que está sendo anunciado. Para atrair a
atenção e a adesão do leitor, além de usar verbos no imperativo e trabalhar com efeitos criativos como os
de humor ou de ironia, as mensagens publicitárias se valem de elementos visuais e outros recursos para
“fisgar” o leitor.

O efeito que a peça publicitária provoca está relacionado não somente com o risco no trânsito, ao se
dirigir sob efeito do álcool, mas se vincula ao próprio contexto do carnaval. A campanha vai além do mote
“Se beber, não dirija!” para mostrar que o incentivo a brincar no carnaval não se aplica ao brincar no
volante.

Esse tipo de cuidado em relação ao gênero textual pode ajudar a evitar interpretações equivocadas na
leitura de um texto.

Atenção!
Não se deve buscar uma verdade ou fato histórico num texto ficcional, como no caso de um romance, já
num texto científico ou numa bula de remédio, não é apropriada uma leitura imaginativa e de
entretenimento.

Ao ler uma anedota ou piada, nossa expectativa deve ser encontrar algum efeito de humor. Ao ler o manual
de um celular, devemos esperar descrições objetivas das características do aparelho, assim como
procedimentos sobre sua utilização.

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Alguns textos que pertencem a determinado gênero apresentam uma configuração típica de outro gênero
textual, ou seja, assumem a forma de outro gênero buscando maior impacto sobre o leitor ou efeitos que
não são tão comuns. O nome que se dá a essa fusão de gêneros textuais é intergenericidade ou
intertextualidade de gêneros.

Vamos conhecer alguns exemplos de intergenericidade!

Um poema pode ser escrito como se fosse uma notícia de jornal. Aliás, isso é o que encontramos no poema
de Manuel Bandeira:

Poema tirado de uma notícia de jornal expand_more

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no Morro da Babilônia num barracão sem
número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, M. Antologia poética. 12. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1981. p. 73)

Renato Russo também nos dá um interessante exemplo de fusão de dois gêneros distintos: letra de música
e receita culinária. Estamos nos referindo à canção a seguir:

Os anjos expand_more

[...] Hoje não dá


Hoje não dá
Não sei mais o que dizer
E nem o que pensar
Hoje não dá
Hoje não dá
A maldade humana agora não tem nome
Hoje não dá
Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira

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Coloque tudo numa forma


Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
As dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça: antes de levar ao forno
Temperar com essência de espírito de porco,
Duas xícaras de indiferença
E um tablete e meio de preguiça [...]”.
(Os anjos, de Renato Russo e Dado Villa Lobos, 1993)

Outro exemplo interessante de fusão de diferentes gêneros textuais pode ser identificado numa campanha
de mídia realizada pelo Ministério do Turismo nas redes sociais. Veja:

Trata-se de um post, gênero textual digital, que simula um bilhete manuscrito, com linguagem característica
desse tipo de gênero.

Além disso, ao final há uma intertextualidade com o conhecido meme do “bilete”, nascido de um bilhete
escrito de forma muito rudimentar por um menino de 5 anos que não queria ir à escola.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Os gêneros textuais devem ser corretamente identificados com


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textos presentes em nosso dia a dia e que apresentam características


A sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e
composição característica.

um conjunto limitado de características deter­minadas por propriedades linguísticas e


B
gramaticais.

a classificação que tipifica os textos em narração, descrição, argumentação, injunção e


C
exposição.

D os textos exclusivamente produzidos por meio da escrita.

E os textos exclusivamente orais.

Parabéns! A alternativa A está correta.


As opções B e C correspondem a características dos tipos textuais. As alternativas D e E estão
incorretas porque os gêneros textuais se realizam tanto em textos escritos quanto em orais.

Questão 2

6. (ENEM – 2013)

A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha,
tou podre. Outro dia a gente vamos.
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho.
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.

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TEATRO! E os cacos voaram


sem nenhum aplauso.
Perfeita.

(PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999)

Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com
base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido.
Assim, o texto A diva

A narra um fato vivido por Maria José.

B surpreende o leitor pelo seu efeito poético.

C relata uma experiência teatral profissional.

D descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.

E defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.

Parabéns! A alternativa B está correta.


A cena descrita no poema narrativo A diva leva o leitor a imaginar a experiência teatral através do
diálogo expresso no texto. Ao chegar ao final do poema, o leitor é surpreendido pela função poética,
que transforma a simples Maria José em uma diva pela sua atuação dramática espontânea.

Considerações finais
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Quando temos familiaridade com os diferentes gêneros textuais, as possiblidades de leitura se ampliam e
se tornam mais aderentes com as características formais e sociocomunicativas do texto que estamos
lendo. Por isso, quanto mais textos diferentes e leituras diversas, mais enriquecido ficará seu repertório e
suas novas leituras. É o círculo virtuoso da leitura!

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Podcast
Neste podcast, temos uma conversa entre os especialistas sobre os principais tópicos abordados sobre
texto e discurso.

Referências
ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004.

ASSIS, J. A. Enunciação, enunciado. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C.
(org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores [on-line]. Belo Horizonte:
CAELE, 2014. Consultado na internet em: 25 mar. 2022.

BLIKSTEIN, I. Técnicas de comunicação escrita. 8. ed. São Paulo: Ática, 1990.

FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 8. ed. São Paulo: Ática: 1998.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2003.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.;
BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.

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14/03/2023, 01:02 Texto e discurso

POSSENTI, S. Discurso. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C. (org.). Glossário
CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores [on-line]. Belo Horizonte: CAELE, 2014.
Consultado na internet em: 25 mar. 2022.

ROJO, R. Gêneros e tipos textuais. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C.
(org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores [on-line]. Belo Horizonte:
CAELE, 2014. Consultado na internet em: 25 mar. 2022.

Explore +
Para se aprofundar na compreensão dos gêneros textuais, conhecer mais exemplos e entender como
eles se realizam inclusive a partir das tecnologias digitais, leia o artigo Gêneros textuais: definição e
funcionalidade, do professor e linguista Luiz Antônio Marcuschi.

Você pode aprender mais sobre a articulação entre as partes de um texto estudando alguns mecanismos
de coesão textual.

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