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Texto e discurso
Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha
Descrição
Os conceitos de texto e de discurso, a distinção e a complementaridade entre eles, bem como uma
caracterização dos gêneros textuais e alguns cuidados necessários na produção e leitura de textos.
Propósito
Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para identificar estratégias e cuidados
necessários à elaboração e à leitura de um texto.
Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
A elaboração do texto
Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual.
Módulo 3
Gêneros textuais
Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos.
Introdução
A escrita e a leitura são duas práticas fundamentais na vida acadêmica e profissional. Vivemos num
mundo letrado, em ambientes físicos ou virtuais que são povoados por textos. Cada texto
desempenha uma determinada função, atende a um objetivo, está relacionado com certa prática
social ou situação de comunicação e interação.
Escrevemos textos para serem lidos e lemos textos que foram escritos com determinadas intenções.
Tudo isso nos conduz à relação entre texto, discurso e gêneros textuais. Por isso, vamos estudar
esses conceitos e conhecer algumas recomendações para ler e escrever melhor.
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Introdução
Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há sempre uma intenção ao falar ou ao
escrever.
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Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que aconteceu no trabalho, uma situação
ocorrida que lhe deu muita esperança de ser promovido.
Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando nosso ato de comunicação a partir
delas, por isso devemos concluir que há diversas formas de organizar o discurso. Isso também implica dizer
que existem diversos gêneros textuais, além daquelas modalidades que você deve ter aprendido na escola,
como narração, descrição e dissertação.
No diálogo acima, qual modalidade você acha que Rodrigo utilizou para contar o fato
ocorrido?
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Narração
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Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma promoção, ele utilizou aspectos
característicos da narração, que é um tipo específico de se organizar o discurso, assim como nós
fazemos comumente no dia a dia.
Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos típicos da narração,
como: personagem, espaço, tempo etc.
Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da língua, você aprenderá os
conceitos de discurso e de texto para, então, verificar como o conhecimento dos diferentes gêneros textuais
o ajudará a escrever e a ler melhor.
A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou mesmo o estranhamento diante de
tal resposta ocorre porque a intenção de quem pergunta não é obter uma informação sobre o conhecimento
ou não do horário, mas pedir um dado que traga sentido, referência e clareza.
Enunciação
O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em funcionamento
por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou
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se escreve).
A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa hipotética situação de comunicação,
pode-se imaginar a presença explícita dessa enunciação do seguinte modo:
É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja, a enunciação pode estar implícita.
Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o texto, entendê-lo e perceber as intenções do autor. Teremos, então,
uma decodificação desse texto.
Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por meio da linguagem, temos sujeitos
que interagem em determinado tempo ou contexto a partir de um texto ou mensagem.
Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros no texto, a produção textual
envolve os seguintes elementos da enunciação:
intenção;
interlocutores; e
contexto.
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A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma primeira caracterização de texto e de
discurso. Segundo Abreu (2004), podemos dizer que:
O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas vezes, com algumas marcas da
enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo.
O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de codificação e só
termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. Por isso, também se afirma que o
discurso é histórico.
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Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo acabado e estático. No
entanto, o discurso teve seu início juntamente com o texto e vai se completando à medida que o texto vai
sendo lido por seus leitores. Por isso, Abreu nos afirma que o discurso
As concepções de texto e de discurso nos permitem, então, mais do que fazer uma distinção, perceber que
eles são complementares.
É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral, embora enfatizemos na maioria das vezes o texto
escrito. O discurso também pode se realizar tanto a partir de um texto escrito quanto de um texto oral.
Atenção
Não confunda discurso com a fala de um orador!
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Compreendendo texto e discurso
O professor Luís Cláudio Dallier e o linguista Antônio Suárez Abreu retomam o conceito de texto e discurso
com alguns exemplos práticos.
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Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou falamos temos um texto que se realiza
como discurso. Isso acontece porque quem fala e escreve tem uma intenção ou objetivo contido na
mensagem e até na forma de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa decifrar (compreender) a mensagem e a
sua intenção a partir do próprio conhecimento de mundo e, claro, do próprio texto.
Para que serve definir texto e discurso, além de fazer a distinção entre eles? Qual a
utilidade desses conceitos?
Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na continuidade deste material. Mas, antes,
verifique se você de fato aprendeu o que é um texto e um discurso realizando as atividades a seguir.
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Questão 2
Texto e discurso são conceitos que devem ser compreendidos como distintos e ao mesmo tempo
complementares porque
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2 - A elaboração do texto
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar aspectos da
distinção entre texto e discurso na produção textual.
Em relação à leitura, você deve lembrar que o discurso é um conceito relacionado com as intenções
presentes no texto (de forma explícita ou implícita) e outros elementos da comunicação como:
quem escreve;
quem lê;
em que contexto o texto foi produzido; e
o momento em que o texto é lido.
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Isso quer dizer que o discurso é algo situado, ou seja, ele é produzido por alguém, com determinada
intenção, em algum contexto e tendo em vista o interlocutor.
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Cuidados na elaboração do texto
O linguista Antônio Suárez Abreu fala sobre cuidados na elaboração do texto a partir da noção de discurso.
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critica outros etc. Esses fatores explicam por que algo foi dito [...] e qual é o
sentido do que foi dito.
Você certamente percebeu o quão importante é a construção do discurso e a relevância de refletir sobre ele.
Mas sejamos um pouco mais práticos, trataremos agora da elaboração do texto.
Elaboração do texto
Ao elaborar um texto, você deve ter em mente que não escreve para si mesmo, pois seu texto é produzido
para que outros o leiam, ele se transformará em discurso. Por isso, deve haver cuidado na elaboração, na
forma pela qual suas intenções estarão marcadas ou presentes na mensagem.
Se escrevemos e falamos para que outros nos entendam ou mesmo atendam aos objetivos de nossa
comunicação, precisamos nos esforçar para irmos além da simples expressão do que temos em mente.
Isso tem a ver com um importante mecanismo da comunicação, que foi resumido pelo professor Blikstein
(1990), em seu livro Técnicas de comunicação escrita. Estes seriam os princípios do mecanismo da
comunicação:
Toda comunicação escrita deve gerar uma resposta a uma determinada ideia ou necessidade
que temos em mente.
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A comunicação escrita será correta e eficaz se produzir uma resposta igualmente correta.
Resposta correta é a que esperamos, isto é, aquela que corresponde à ideia ou necessidade
que temos em mente.
Para avaliarmos a correção e a eficácia de uma comunicação escrita, temos que verificar
sempre se houve uma resposta e se ela corresponde à ideia ou necessidade que queremos
passar ao leitor.
Veja o exemplo:
É preciso, então, cuidado em relação a vários aspectos no uso da língua nas situações de comunicação.
1. Vocabulário
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Devemos optar por palavras e expressões que, além de expressar o que pensamos, ajudem o leitor ou
ouvinte a identificar a nossa intenção ou o objetivo do texto. Palavras pouco conhecidas ou rebuscadas,
termos técnicos e vocabulário restrito a uma área diferente da do nosso interlocutor podem oferecer alguma
dificuldade.
O vocabulário sempre deve estar adequado ao contexto em que comunicamos nossa mensagem e ao
nosso interlocutor. Se precisarmos usar uma palavra difícil ou pouco conhecida, é recomendável que ela
venha acompanhada de alguma explicação, evitando deixar o texto pedante ou pretensioso. Não é um
vocabulário excessivamente formal ou com preciosismos que vai demonstrar nosso domínio da língua.
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Se o objetivo, por exemplo, for escrever um manual com procedimentos e orientações para o uso de um
celular, o texto deverá ter um estilo que respeite a língua culta, mas que seja simples, objetivo e claro, com
predomínio de verbos no imperativo ou infinitivo, além de descrições e outras características desse gênero
textual.
Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na elaboração do texto em função
de seu gênero.
Se queremos elaborar uma mensagem objetiva e que demande uma resposta clara
do nosso leitor, é melhor colocar as orações na ordem direta, sem muita inversão, e
reservar para cada parágrafo uma ideia ou um aspecto do que queremos tratar.
Escrever e falar sem incorreções gramaticais também contribui para o melhor entendimento da mensagem,
além de dar credibilidade ao autor em virtude do seu domínio da língua padrão.
Há outros cuidados na elaboração do texto que destacamos para ajudá-lo a escrever melhor. São aspectos
que o auxiliarão a perceber características que devem estar presentes em todos os textos e, além disso, a
aprender uma outra forma de definir o que é um texto. Vamos, então, conhecer quatro importantes
recomendações que você precisa considerar ao escrever e ao ler um texto:
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Um texto deve ser um todo orgânico com encadeamentos que interliguem as suas partes. Isso im‐
plica, na leitura, que não devemos tomar as frases ou partes do texto isoladamente, sem considerar
o seu contexto.
Se o texto é um todo orgânico, então sua compreensão não pode se basear apenas em um
fragmento isolado do contexto.
Os professores Fiorin e Savioli (2003, p. 17) nos lembram, em seu livro Lições de texto: leitura e
redação, que o texto deve ser “delimitado por dois espaços de não sentido, dois brancos, um antes
de começar o texto e outro depois”, ou seja, tem início e fim, está delimitado num determinado
espaço. Isso implica uma organização textual. Se o texto é uma unidade, ele deve ter começo, meio e
fim.
O que você escreve tem que fazer sentido para quem vai ler. Caso isso não aconteça, não se
produzirá um discurso, o texto não se realizará.
Os sentidos têm de ser marcados pela coerência; devem ser, também, confirmados a partir de seu
contexto.
De acordo com Fiorin e Savioli (2003, p. 17), o texto é o produto de um sujeito que pertence “a um
grupo social num tempo e num espaço”, alguém que expõe em seus textos as ideias, os anseios, os
temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social.
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Assim, é necessário entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi
produzido para não correr o risco de compreendê-lo de maneira distorcida.
Esses cuidados na elaboração do texto correspondem a uma forma de entender o que é um texto. Por isso,
é hora de apresentar a seguinte definição:
Essa definição nos ajuda a perceber que um texto tem que fazer sentido e possui princípio e fim, mesmo
que ele seja um texto muito pequeno.
Ou vamos supor que uma professora, diante de uma sala de aula muito barulhenta, escreva numa lousa a
palavra: “Silêncio”.
Nos dois casos temos um exemplo de texto, por menor que seja sua estrutura. Isso acontece porque nessas
situações de comunicação existe uma unidade linguística delimitada e que produz sentido a partir da
intenção de quem fala ou escreve.
Linguística
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Estudo científico da linguagem e das línguas naturais. A utilização deste termo depende das perspectivas
metodológicas, das teorias e das disciplinas que estudam os diferentes fenômenos.
Compreender que o texto é um todo orgânico que produz sentido também traz como desdobramento
estabelecer correspondência e articulação entre suas partes. As frases não podem ser soltas ou
simplesmente amontoadas numa sequência sem sentido e sem unidade.
Dica
A palavra texto está relacionada, em sua origem, com a palavra tecido. Daí que podemos falar na "tecitura
de um texto", em "tecer um texto". É preciso tecer os fios, ou tecer as palavras, de tal forma que o texto se
apresente coeso e orgânico: uma unidade articulada.
O processo de articulação do texto, que permite a integração entre suas partes, é chamado de
encadeamento semântico (semântico = sentido). Ele é que produz a textualidade ou a “trama semântica”. A
coesão, segundo Abreu (2004), é exatamente esse processo de encadeamento que produz a textualidade,
que cuida da estruturação da sequência superficial do texto.
Conforme nos ensinam Fiorin e Savioli (2003, p. 370), podemos também dizer que a coesão textual é a
ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto, por meio de “elementos
formais que assinalam o vínculo entre os componentes do texto”. Quando um conteúdo escrito apresenta
repetições desnecessárias, retomando uma palavra ou ideia sempre com o mesmo termo, temos um caso
de falta de coesão. O exemplo a seguir, retirado do livro Curso de redação, do professor Antônio Suárez
Abreu, é uma boa oportunidade para verificar a falta de coesão num texto.
Se você levar em conta que o termo “revendedoras de automóveis” pode ser substituído por agência,
concessionária ou loja, e “automóveis” pode ser substituído por carros, veículos, produto ou mercadoria, é
possível reescrever o texto estabelecendo a coesão. Veja:
"As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os carros para vendê-
los mais caro. O cliente vai lá com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro
pelo produto, desiste e as agências têm prejuízo."
Nesse exemplo, na oração desiste de comprar o automóvel, foi omitido o complemento da forma verbal
“desiste”, sem prejuízo à compreensão do texto. Também se substituiu o termo “os automóveis” na frase
para vender os automóveis mais caro pelo pronome oblíquo átono junto ao verbo vender: “para vendê-los
mais caro”. Outro mecanismo de coesão utilizado foi a retomada do termo “revendedora de automóveis”
valendo-se de um advérbio, no caso, o advérbio de lugar “lá”: “o cliente vai lá...”. Há diversas outras formas
de articular as partes de um texto, as sentenças ou frases que formam cada período ou parágrafo,
garantindo a coesão textual.
Se queremos, por exemplo, articular duas sentenças com o sentido de oposição, podemos usar conectores
ou articuladores como:
Mas
Porém
Contudo
No entanto
Todavia
Se a ideia for articular sentenças diferentes com o sentido de causalidade, usaremos articuladores como:
Porque
Uma vez que
Já que
Visto que
Devido a
Por causa de
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Perceba que duas informações iniciais estão articuladas com a ideia de oposição: a convocação e o não
comparecimento de quem foi convocado. Em seguida, apresenta-se a causa para o não comparecimento: a
forte chuva. A coesão também se manifesta ao se evitar a repetição desnecessária da expressão “os pais e
os responsáveis” na oração: porém poucos compareceram, além de se retomar o termo “escola” pelo
sinônimo “colégio” na última oração.
Tudo isso deve deixar claro que, quando escrevemos, precisamos nos preocupar com a forma como nosso
leitor vai receber o texto.
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Entendendo a coesão textual
Confira outras explicações e exemplos sobre coesão textual com o linguista Antônio Suárez Abreu.
Dica
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É voltado para todos que querem melhorar ou apenas testar o seu conhecimento na língua portuguesa, além
de educadores e alunos da área.
Compreender que o texto é um todo organizado que produz sentido implica afirmar que, na leitura e na
produção textual, é recomendável
não identificar como texto aquelas produções muito curtas, de apenas uma única
B palavra, como no exemplo em que alguém grita “Fogo!”, diante de um princípio de
incêndio.
D dar pouca ou mesmo nenhuma importância à forma como o leitor vai receber o texto.
E
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não delimitar o texto escrito num determinado espaço, pois a organização textual pouco
importa.
Questão 2
O texto bem escrito deve ter suas partes articuladas adequadamente, ou seja, deve ter a marca da
coesão textual. No texto abaixo, há graves problemas de coesão textual.
A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da escola para uma reunião de
pais e responsáveis dos alunos ontem à tarde, por isso poucos compareceram, porém, uma forte
chuva inundou os principais acessos ao colégio.
A diretora convocou para uma reunião ontem à tarde, pois uma forte chuva inundou os
A
acessos à escola, uma vez que poucos compareceram.
A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da escola para uma
B reunião ontem à tarde na escola, mas poucos pais e responsáveis dos alunos da escola
compareceram, porque uma forte chuva inundou os principais acessos à escola.
A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para uma reunião
C ontem à tarde, porque poucos compareceram, mas uma forte chuva inundou os
principais acessos ao colégio.
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Uma vez que a diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para
D uma reunião ontem à tarde, poucos compareceram, porém, uma forte chuva inundou os
principais acessos ao colégio.
A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para uma reunião
E ontem à tarde, mas poucos compareceram devido a uma forte chuva que inundou os
principais acessos ao colégio.
3 - Gêneros textuais
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de
gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos.
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A noção de gêneros textuais foi desenvolvida por um pensador russo, Bakhtin (1895-1975), no começo do
século XX. Ele usou a palavra gêneros para se referir aos textos orais ou escritos que elaboramos nas
diversas situações de comunicação.
Exemplo
Um bilhete que alguém deixa para sua mãe, uma piada que se conta na mesa de um bar, uma ata redigida
durante uma reunião ou um artigo de opinião publicado nas redes sociais são exemplos de gêneros textuais,
pois apresentam um conjunto de características sociocomunicativas e uma estrutura específica.
Sociocomunicativas
Diz-se daquilo que está inserido em um contexto social e tem função comunicativa.
Há gêneros textuais que são típicos da vida acadêmica. Se você tiver que apresentar os resultados de um
trabalho acadêmico ou de uma pesquisa realizada ao final do curso, provavelmente terá de escrever uma
monografia ou um artigo acadêmico, que constituem também exemplos de gêneros textuais. Caso queira
apresentar os resultados de uma visita técnica ou de uma inspeção que tenha realizado, poderá elaborar um
relatório, outro exemplo de gênero textual. O e-mail enviado a um colega também faz parte de um gênero
textual. A lista de exemplos poderia se estender bastante.
O importante é perceber que cada texto exemplificado possui sua estrutura e suas características comuns,
que são linguística e socialmente reconhecidas.
Cada texto se relaciona com determinadas intenções comunicativas que, por sua
vez, correspondem a características ou estilos próprios.
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Agora que você já sabe o que é um gênero textual, tenha cuidado para não cair numa confusão muito
comum que alguns estudantes fazem entre gêneros e tipos textuais. Para ajudá-lo a compreender a
diferença entre eles, veja o quadro a seguir:
Marcuschi, 2002.
De certo modo, nossa experiência de estudo da língua portuguesa na escola está mais relacionada com os
tipos de textos, também denominados tipos textuais. Mas precisamos ter cuidado para não achar que
escrever ou ler um texto se resume a compreender os aspectos gramaticais e linguísticos relacionados com
um número limitado de tipos textuais.
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Na escola, escrevemos narrações; na vida, lemos notícias, relatamos nosso dia, recontamos um filme, lemos
romances (gêneros textuais).
Na escola, redigimos uma "composição à vista de gravura" (descrição); fora dela, contamos como
decoramos nosso apartamento, instruímos uma pessoa sobre como chegar a um lugar desconhecido.
Na escola, dissertamos sobre um tema dado; na vida, lemos artigos de opinião, apresentamos nossa
pesquisa ou relatório, escrevemos uma carta de leitor discordando de um articulista.
Os gêneros de texto, portanto, não são classes gramaticais para classificar textos. São entidades da vida,
dão nome a uma "família de textos".
Os gêneros textuais podem ser tanto escritos quanto orais. Há gêneros textuais que são bem tradicionais,
como os sermões, as cartas e os diários pessoais, como podemos ver nos exemplos a seguir:
Carta pessoal
Numa carta pessoal encontraremos um remetente escrevendo a um destinatário sobre
assuntos variados, numa linguagem mais afetiva, estilo menos formal e, às vezes, num tom
confessional.
Carta comercial
Já numa carta comercial, a finalidade da mensagem impõe linguagem e aspectos formais
como a disposição da data e do local; a maneira de se dirigir ao destinatário (como escrever o
vocativo ou que forma de tratamento escolher); uso de expressões características da área ou
até mesmo jargões profissionais; a forma de o remetente assinar etc.
Outros gêneros são mais recentes, resultado das tecnologias digitais. O e-mail, por exemplo, é um gênero
textual digital que nos remete às cartas ou aos bilhetes, enquanto o blog se aproxima mais dos diários
pessoais ou mesmo das crônicas.
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Vamos supor que você tenha uma página e poste um texto sobre uma viagem que tenha realizado.
Provavelmente haverá um trecho com relato de algum “perrengue” pelo qual você tenha passado (narração),
outra parte com detalhes dos brinquedos de um parque sensacional que você conheceu (descrição) e, ao
final, a defesa da ideia de que viajar é uma das melhores coisas da vida (argumentação). Nesse exemplo, a
postagem contém texto narrativo, descritivo e argumentativo.
Vamos praticar?
Que tal ir a alguma de suas redes sociais e fazer dois posts? Em um deles, utilize os seguintes tipos
textuais: narração, descrição e argumentação. No outro, escolha apenas uma dessas tipologias.
Em seguida, avalie qual dos dois posts produziu mais interações, como likes e comentários.
Atente para o fato de que o texto para mídias sociais é um gênero textual digital
muito próximo de gêneros como o diário pessoal e a crônica. A vantagem de estar
num meio digital é a possibilidade de usar não somente a escrita, mas se valer
também de sons, imagens, animações e outras linguagens.
Todas essas informações e exemplos sobre os gêneros textuais servem para deixar muito claro que
deveremos ter estratégias de leitura adequadas a cada gênero textual, pois eles possuem estrutura,
intenções e estilos próprios.
Uma estratégia adequada de leitura passa pela expectativa correta em relação ao texto ou seu gênero
textual. Um leitor competente deve possuir conhecimentos prévios sobre cada gênero textual para
identificar no texto características próprias de cada gênero. Você não deve ler um e-mail como lê um blog. A
prática de leitura de um romance é distinta da leitura de uma notícia ou de um artigo no jornal. Não se deve
ouvir um sermão na igreja do mesmo modo que se ouve alguém numa conversa ao telefone.
Quando lemos um texto, precisamos identificar o gênero textual ao qual ele pertence. Ninguém deve
procurar instruções sobre procedimentos e informações precisas num gênero textual como o conto ou o
poema, assim como não se deve ler uma receita culinária procurando expressões poéticas sobre os
sentimentos ou mesmo tentando entender algum enredo de uma história.
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Um gênero textual como o anúncio publicitário, por exemplo, tem como intenção influenciar o leitor,
persuadi-lo a consumir determinado produto ou levá-lo a aderir ao que está sendo anunciado. Para atrair a
atenção e a adesão do leitor, além de usar verbos no imperativo e trabalhar com efeitos criativos como os
de humor ou de ironia, as mensagens publicitárias se valem de elementos visuais e outros recursos para
“fisgar” o leitor.
O efeito que a peça publicitária provoca está relacionado não somente com o risco no trânsito, ao se
dirigir sob efeito do álcool, mas se vincula ao próprio contexto do carnaval. A campanha vai além do mote
“Se beber, não dirija!” para mostrar que o incentivo a brincar no carnaval não se aplica ao brincar no
volante.
Esse tipo de cuidado em relação ao gênero textual pode ajudar a evitar interpretações equivocadas na
leitura de um texto.
Atenção!
Não se deve buscar uma verdade ou fato histórico num texto ficcional, como no caso de um romance, já
num texto científico ou numa bula de remédio, não é apropriada uma leitura imaginativa e de
entretenimento.
Ao ler uma anedota ou piada, nossa expectativa deve ser encontrar algum efeito de humor. Ao ler o manual
de um celular, devemos esperar descrições objetivas das características do aparelho, assim como
procedimentos sobre sua utilização.
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Alguns textos que pertencem a determinado gênero apresentam uma configuração típica de outro gênero
textual, ou seja, assumem a forma de outro gênero buscando maior impacto sobre o leitor ou efeitos que
não são tão comuns. O nome que se dá a essa fusão de gêneros textuais é intergenericidade ou
intertextualidade de gêneros.
Um poema pode ser escrito como se fosse uma notícia de jornal. Aliás, isso é o que encontramos no poema
de Manuel Bandeira:
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no Morro da Babilônia num barracão sem
número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, M. Antologia poética. 12. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1981. p. 73)
Renato Russo também nos dá um interessante exemplo de fusão de dois gêneros distintos: letra de música
e receita culinária. Estamos nos referindo à canção a seguir:
Os anjos expand_more
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Outro exemplo interessante de fusão de diferentes gêneros textuais pode ser identificado numa campanha
de mídia realizada pelo Ministério do Turismo nas redes sociais. Veja:
Trata-se de um post, gênero textual digital, que simula um bilhete manuscrito, com linguagem característica
desse tipo de gênero.
Além disso, ao final há uma intertextualidade com o conhecido meme do “bilete”, nascido de um bilhete
escrito de forma muito rudimentar por um menino de 5 anos que não queria ir à escola.
Questão 2
6. (ENEM – 2013)
A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha,
tou podre. Outro dia a gente vamos.
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho.
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
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Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com
base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido.
Assim, o texto A diva
Considerações finais
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Quando temos familiaridade com os diferentes gêneros textuais, as possiblidades de leitura se ampliam e
se tornam mais aderentes com as características formais e sociocomunicativas do texto que estamos
lendo. Por isso, quanto mais textos diferentes e leituras diversas, mais enriquecido ficará seu repertório e
suas novas leituras. É o círculo virtuoso da leitura!
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Podcast
Neste podcast, temos uma conversa entre os especialistas sobre os principais tópicos abordados sobre
texto e discurso.
Referências
ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004.
ASSIS, J. A. Enunciação, enunciado. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C.
(org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores [on-line]. Belo Horizonte:
CAELE, 2014. Consultado na internet em: 25 mar. 2022.
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2003.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.;
BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.
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POSSENTI, S. Discurso. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C. (org.). Glossário
CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores [on-line]. Belo Horizonte: CAELE, 2014.
Consultado na internet em: 25 mar. 2022.
ROJO, R. Gêneros e tipos textuais. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C.
(org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores [on-line]. Belo Horizonte:
CAELE, 2014. Consultado na internet em: 25 mar. 2022.
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Para se aprofundar na compreensão dos gêneros textuais, conhecer mais exemplos e entender como
eles se realizam inclusive a partir das tecnologias digitais, leia o artigo Gêneros textuais: definição e
funcionalidade, do professor e linguista Luiz Antônio Marcuschi.
Você pode aprender mais sobre a articulação entre as partes de um texto estudando alguns mecanismos
de coesão textual.
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