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O Rio Grande do Sul é uma das vinte e sete unidades federativas do Brasil. Com
um território de 282.064 m², é o estado mais populoso da região sul, possuindo mais de
onze milhões de habitantes, ou cerca de 5,4% da população brasileira. Tem por limites
o estado de Santa Catarina, Argentina e Uruguai, além do Oceano Atlântico. O clima é
subtropical e a economia baseia-se na agricultura, pecuária e indústria.
Todo o seu território está abaixo do Trópico de Capricórnio e possui quatro
unidades geomorfológicas: Planalto Norte-Rio-Grandense (Planalto Meridional),
Depressão Central, Planalto Sul-Rio-Grandense (Serras de Sudeste) e Planície Costeira.
Os povos indígenas são distinguidos em três ciclos distintos por Laytano (1984),
dividindo a cultura indígena rio-grandense:
Guaranis
A tribo Guarani habitava a região leste do Rio Uruguai, as serras do planalto rio-
grandense e principalmente os vales do rios e margens das lagoas, onde a caça e a pesca
eram mais abundantes e o solo fértil, favorável ao cultivo, onde também construíam
suas aldeias para facilitar as tarefas da pesca e da agricultura formadas geralmente por
3 a 6 ocas. Os Guaranis, definidos como guerreiros, dividiam-se em Tapes, Arachanes e
Carijós, como também Patos, que ocupavam a planície litorânea (QUEVEDO, 2003).
Jês
O povo Jê, por volta do século XVI, ocupava os campos do planalto rio-grandense
e a encosta da serra. Coletores nômades, estavam divididos em Guarás, Guaianás,
Coroados e Kaingans. Caçavam utilizando tacapes e plantavam mandioca, abóbora,
milho e batata-doce. Das matas próximas onde viviam, coletavam os frutos silvestres, o
pinhão e o mel, os quais eram levados à aldeia em cestas de fibras vegetais, feitas pelas
mulheres da tribo. A política, a religião e a cura eram tarefas exercidas pelo pajé, onde
o mesmo consultava as divindades e ordenava quando caçar e guerrear (QUEVEDO,
2003).
Moravam em casas subterrâneas para se proteger do frio. Cavavam buracos no
chão de aproximadamente dois metros de profundidade, cobertos por um telhado feito
de galhos de árvores e ramos de palmeiras. Os Jês foram quase dizimados por pestes de
origem europeia e também pela ação dos bandeirantes. A maior parte dos indígenas
que vivem hoje no Rio Grande do Sul são Kaingangs (POVOS INDÍGENAS NO BRASIL,
2014).
Pampeanos
Os Pampeanos, subdivididos em Charruas, Minuanos, Guenoas, Iarós e
Guaicurus, ocupavam o sul e o sudeste do estado. Habitavam principalmente o pampa
rio-grandense, onde havia água, e, consequentemente, abundância de recursos, como
a pesca e a caça. Diferentemente das demais tribos, os Pampeanos não praticavam a
agricultura, viviam da coleta, da caça e da pesca. Os cavalos lhes serviam como meio de
transporte e o gado bovino de alimento. Considerados exímios lanceiros e cavaleiros,
desenvolveram a prática de laçar o animal utilizando a boleadeira, e, na guerra,
dispunham da lança.
Inventaram uma espécie de poncho para se protegerem do frio, pois viviam em
uma área de temperaturas baixas, com invernos rigorosos e faziam sinais de fumaça
para a comunicação com os demais guerreiros espalhados pelo pampa gaúcho.
Reuniam-se em famílias, alojadas nas tolderias (habitações ocupadas pelos nativos).
Os Pampeanos obrigaram-se a ir cada vez mais para o interior com a ocupação
de suas terras por portugueses e espanhóis, devido à guerras, epidemias e fome causada
pela escassez de recursos. Muitos deles foram trabalhar nas fazendas dos colonizadores
europeus, e os que restaram foram massacrados por tropas uruguaias na década de
1830 (POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2014).
Em 1626 foi efetivada a redução indígena dos guaranis, onde fundaram dezoito
reduções distribuídas na Bacia do Rio Jacuí. Introduziram o gado vacum, ovino e cavalar,
abastecimento alimentício do território. As reduções do Tape foram grandes
representantes na dilatação das missões do Paraguai para o Rio Grande do Sul
(QUEVEDO E TAMANQUEVIS, 1999).
As reduções do Tape
Colônia do Sacramento
A Figura a seguir mostra a localização dos sete povos das Missões no território
gaúcho.
Segundo Quevedo (2003), em 1682, deu-se início à segunda fase das reduções
jesuíticas, com o objetivo de defender a fronteira espanhola do avanço português na
região do Rio da Prata, além de que, era preciso criar novos espaços de moradia e
plantio, visto que a população da margem ocidental crescia aceleradamente e os jesuítas
necessitavam ampliar o espaço missioneiro. Em virtude disso, foram fundadas,
primeiramente, duas reduções: São Borja e São Nicolau, e em pouco mais de vinte anos,
foram constituídas as outras cinco.
A forma de organização e a estrutura urbana das reduções eram semelhantes.
No conjunto, elas formaram comunidades progressistas que obtiveram notável
desenvolvimento econômico e cultural. O modelo urbanístico inspirava-se na forma do
“plano damero” (sistema de construção das cidades hispano-americanas em que ruas
paralelas centralizavam para a praça) e baseava-se em toda uma legislação que abrangia
recomendações para fundação dos povoados (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2019).
As reduções eram basicamente um conjunto de comunidades que reuniam os
índios guaranis em uma experiência de civilização sem antecedentes, porém, o sistema
não foi uma inovação trazida pelos jesuítas. Os guaranis tinham seus costumes, os quais
foram aproveitados. A agricultura manteve o trabalho em grupo, mas não era coletiva.
Cada bloco das tribos mantinha o seu cacique. O idioma guarani aproximou os padres
dos nativos, que admitiam apenas o uso de chás pelos pajés (índios curandeiros) e o
chimarrão curou a embriaguez (QUEVEDO, 2003).
Porém, Quevedo (2003) reforça que, a mudança principal foi a estipulação dos
jesuítas de trabalhos regrados, a proibição da poligamia, junto com a antropologia e a
magia. Os nativos não eram mais tratados como escravos, mas como gente.
Juntamente com o desenvolvimento do barroco, deu-se o período de
desenvolvimento das reduções, e decaiu em 1767, com o rompimento cultural ocorrido
devido à invasão portuguesa e a administração dos espanhóis, fazendo com que a língua
guarani deixasse de ser falada no Rio Grande do Sul até o último quartel do século XIX
(FAGUNDES, 1997).
Guerra Guaranítica
As charqueadas
Desde o século XVIII, a base da economia do Rio Grande do Sul era a pecuária,
que intensificou-se com a produção de charque, produto esse que abastecia o mercado
interno brasileiro. Porém, houve redução dos impostos da importação do charque
produzido no Uruguai pelo governo brasileiro, o que prejudicou a economia gaúcha, que
mantinha impostos altos (QUEVEDO, 2003).
Foi então que, em 1832, fundaram a corrente liberal moderada (chimangos), que
queria mudanças de leis, e a corrente liberal exaltada (partido farroupilha), que
desejavam a revolução.
Assim, Bento Gonçalves avança sobre Porto Alegre com cerca de 200 “farrapos”
em 19 de setembro de 1835 e, em 11 de setembro de 1836 foi proclamada a república
rio-grandense, por Souza Neto (SAVARIS, 2008).
A revolta era liderada por Bento Gonçalves, Antônio de Souza Neto, Onofre Pires
entre outros, como o italiano Giuseppe Garibaldi.
A partir de 1839, a república rio-grandense enfrentou problemas quando não
possuía mais portos para o escoamento da produção do charque e a comercialização de
armas e munições e em julho deste ano os revolucionários ocuparam a Laguna em Santa
Catarina e fundaram a República Juliana, comandada pelo general David Canabarro, que
foram derrotados por terra e mar, ocasionando no fim da República Juliana, em 1840.
Em 1842, o Barão de Caxias assume a presidência da Província do Rio Grande de
São Pedro do Sul, com a missão de cessar a revolução.
Bento Gonçalves renuncia à presidência da república rio-grandense e o comando
do exército farroupilha em 1843, matando Onofre Pires em um duelo.
Contudo, a revolução teve duração de dez anos, sendo a revolta mais longa do
período imperial, e, em 1845 é assinado o Tratado de Ponche Verde pelo barão Duque
de Caxias e o general David Canabarro, em 28 de fevereiro, restaurando a paz, que
reintegra a província ao Brasil, liberta os escravos participantes da guerra e indeniza os
senhores de terras envolvidos no conflito (QUEVEDO E TAMANQUEVIS, 1999).
Em suma, com o passar do tempo, os demais imigrantes foram chegando ao Rio Grande
do Sul, como os poloneses, judeus e espanhóis, cada qual contribuindo com sua cultura.
Manuel D. Júnior enfatiza:
A interpenetração cultural vem-se fazendo, ao lado do cruzamento étnico, sem
nenhuma resistência ao desenvolvimento do País; ao contrário: com a aceitação ou a
permuta de padrões ou valores culturais, dentro do espírito cristão de tolerância e de
fraternidade que o brasileiro se arraigou como a mais legítima herança espiritual do
português colonizador (MARQUES et al, 1998 apud JÚNIOR, 1980).
“Gaúcho” é a denominação gentílica dada aos filhos do Rio Grande do Sul, que
nasceram no seio dos grupos gaudérios errantes, mestiços, charruas, minuanos,
guaranis, jarros, mesclados com as chinas dos ranchos. É uma raça originada do pampa,
na figura do primitivo peão. Gaúcho, acima de tudo, é o peão campeiro (LAMBERTY,
2004).
Amigo dos amigos, vivia pelos galpões das estâncias. Saboreava um chimarrão,
enquanto preparava um churrasco no espeto, num fogo de chão. Suas cantigas
galponeiras mostravam o lado triste do andarilho, com saudade da querência, misturada
às façanhas do dia que ficou para trás (LAMBERTY, 2004, p. 16).
Era tão valente soldado, que Giuseppe Garibaldi, o Herói dos Dois Mundos, após
pelear na Revolução Farroupilha, em uma fracassada batalha na Itália, lembrou de seus
soldados e bradou:
– Dai-me um esquadrão de Cavalaria Rio-Grandense e eu vencerei o mundo!
(LAMBERTY, 2004, p. 16).
O ciclo dos fandangos vigorou de 1800 a 1880, gerando diversos ritmos, danças
e sapateados tradicionalistas, acompanhados por viola e rabeca, cultuados até hoje
pelos Centros Tradicionalistas (MARQUES, 1998).
Fogo de Chão
O fogo de chão foi descoberto pelas primitivas tribos indígenas nas noites frias
e longas de inverno, onde as famílias se reuniam ao redor do fogo, próximos às suas
ocas, em que os homens contavam às crianças suas aventuras do dia-a-dia e as mais
belas lendas nativas.
Segundo Lamberty (2004), o fogo de chão aquecia o sentimento nativo do
mestiço, projetando-se no ideal campeiro do gaúcho. Ao seu aconchego, cultuavam
histórias da formação do nosso Pago, o gado, o cavalo, as tropeadas e carreteadas
entre outras. Os mais nativos usos e costumes foram aquecidos pelo fogo de chão,
germinando o núcleo do nosso Folclore Gaúcho, transmitido entre gerações.
Foi ao redor do fogo que nasceu a charla, mais especificamente, conversas
informais, por onde os campeiros reuniam-se como nas rodas de chimarrão, passando
o mate um a um. Com a tradição do fogo de chão é que surgiram os galpões crioulos,
construídos de pau-a-pique, tábuas ou costaneiras, chão batido e coberturas de capim.
O fogo de chão, a charla, o chimarrão e o galpão formam o quadrinômio de
sustentação da simplicidade gauchesca (LAMBERTY, 2004).
Chama Crioula
Danças Tradicionalistas
Conforme Lamberty:
Outras danças foram surgindo com o passar do tempo, todas de pares enlaçados,
onde, em fandangos, danças com pares soltos foram ficando incomuns.
Atualmente, já são corriqueiras as apresentações de danças estilizadas, com
alterações na coreografia, muitas vezes vindo a descaracterizar as mesmas, e as antigas
danças tradicionais, consideradas Folclore Histórico, são apresentadas na forma original
somente em demonstrações artísticas ou programas de televisão, sem o mesmo valor
obtido nos primitivos bailes campeiros do gaúcho.
O primeiro instrumento musical existente na região foi a viola, nos séculos XVIII
e XIX, parecida com o violão atual, porém, contendo 10 ou 12 cordas, com as laterais
confeccionadas em couro e as cordas com crina de cavalo. Atualmente é produzido com
madeira e suas cordas podem ser de aço ou nylon, sendo um dos instrumentos mais
tocados atualmente (SAVARIS, 2008).
A rabeca é uma espécie de violino artesanal, de confecção crioula, com timbre
baixo gerado por quatro cordas de tripa.
Com a Guerra do Paraguai, surgiu a gaita de boca, criada pelo austríaco Daminem
Buselman, em 1829 e a gaita de botão, também chamadas hoje de cordeonas,
diatônicas, em tom maior e com sons diferentes ao abrir e fechá-la. Na década de 1920,
chegaram as gaitas-piano, fabricadas por descendentes de italianos, com escala
cromática, ou seja, mesmo som ao abrir e fechar o fole (SAVARIS, 2008).
Ademais, vários outros instrumentos fazem parte da cultura rio-grandense,
como o reco-reco, marimbau, flauta, serrote, duas cuias, machacá etc. Apesar de
nenhum dos instrumentos hoje tocados no Sul terem sido inventados aqui, são eles que
fazem acontecer a música gaúcha nos bailes e fandangos, Rio Grande do Sul afora. A
Figura a seguir apresenta alguns destes instrumentos utilizados nos bailes gaúchos.
Comidas típicas do Rio Grande do Sul
De acordo com Barreto (1950), o chimarrão ou mate amargo foi descoberto pelos
espanhóis, 54 anos após o descobrimento do Brasil. Nasceu no Rio Grande do Sul, como
símbolo de hospitalidade, gesto de cordialidade ao receber um visitante.
Ao redor dos fogos de chão, nas charlas galponeiras (conversas de galpão), havia sempre
a presença de um mate amargo nas estâncias gaúchas, onde também eram tomadas as
mais importantes decisões do curso da nossa história.
Hoje em dia, ele é servido de diversas maneiras, bem como com a utilização de
chás e outras ervas, para saborizar a água (BARRETO, 1950).
Indumentária gaúcha
Seguidamente à Braga, entre os anos de 1820 a 1865, foi usado outro tipo de
chiripá em algumas regiões dos pampas, com a função de proteger o gaúcho sem
atrapalhar suas atividades campeiras. Era um retângulo de tecido transpassado entre as
pernas, com o cumprimento até os joelhos, amarrado à cintura. Acompanhavam chapéu
de aba estreita, camisa sem botões, lenço de seda, jaleco, ceroulas com franjas, faixa,
guaiaca e botas russilhonas. Já as prendas, sob influência europeia, usavam vestido de
seda ou veludo, travessa nos cabelos, leque, bombachinha, meias brancas, botinha
fechada e xale. (TRIBUNA, 2005, p. 13-16; LAMBERTY, 2004, p. 100-101).
E, por fim, Fagundes (1997) conclui que a indumentária do gaúcho atual definiu-
se definitivamente a partir de 1865, com a simples bombacha, camisa, lenço, faixa na
cintura, guaiaca, colete, casaco, chapéu e botas. Muitos ainda utilizam a alpargata, o
pala, o poncho e a capa campeira. E a mulher vestiu-se de forma variada, sofrendo
influências dos povos que chegavam, com o atual vestido de prenda produzido em uma
única peça, sendo adotado apenas com o surgimento do Movimento Tradicionalista
Gaúcho. “Era o ressurgimento dos modelos antigos, que melhor caracterizavam a
sobriedade e a beleza da mulher gaúcha” (LAMBERTY, 2004).
Vestido de chita, bombachinha até o joelho, saia de armação, meias brancas,
sapato simples e enfeite no cabelo, formam a originalidade das prendas gaúchas da
atualidade.
É vedado o uso de decotes, cores luminosas, tecidos sintéticos (FAGUNDES,
1997), e todos os “floreios reluzentes”, que acabam por descaracterizar o padrão e a
simplicidade da indumentária tradicionalista.
Em 1989, o atual Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande
do Sul, o Deputado Algir Lorenzon, cria a Lei nº 8.813, que oficializa a indumentária
denominada “Pilcha Gaúcha” como traje oficial, de honra e de uso preferencial no Rio
Grande do Sul, para ambos os sexos (RIO GRANDE DO SUL, 1989).
Jogos tradicionalistas
Nesse sentido, cada jogo tradicional foi desenvolvido ao longo de uma história e
de uma cultura, dependendo das condições espaciais do seu entorno, em conformidade
com os hábitos de vida das pessoas que o desenvolveu.
O Rio Grande do Sul sofreu fortes influências das colonizações vindas da Europa
e da África, e, portanto, cada uma delas implantou seus próprios modos de efetuar os
jogos, que, apesar destas influências, suas práticas independem delas para acontecer
(PARLEBAS, 2001).
Dentre os variados jogos tradicionais adotados pelos sul-rio-grandenses, temos
a bocha, de origem espanhola, que consiste basicamente em arremessar bochas (bolas)
de madeira ou resina sintética sobre uma cancha de terra batida, com o objetivo de
chegar o mais próximo possível do “balim” (Figura a seguir).
Ademais, temos a carreira de cancha reta, designado antigamente como o
esporte e jogo de preferência do homem do pampa. Nos primeiros tempos, as carreiras
eram disputadas com os cavalos de trabalho, os cavalos Crioulos (GOLIN, 1999),
apresentado na Figura a seguir.
O Jogo do Osso (Tava) também obtém destaque, devido a toda uma longa
trajetória pelo tempo e espaço, a começar pelo menos há três séculos (Figura 14). De
origem asiática, consiste no arremesso do osso do garrão de rês vacum. O jogo é apenas
de sorte.
Por fim, o Truco, sendo o jogo tradicional de cartas mais jogado atualmente, entre dois
a quatro parceiros.
Outrossim, não menos importantes, integram-se à diversão, o jogo das cinco-
marias, bola de gude, pião, e os jogos do folclore infanto-juvenil, como pandorga,
bilboquê, bruxa de pano, gado de osso, arapucas e caroços de pêssego.