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Comunidades Indígenas Tupi Guarani

Sociologia
Escola Estadual Joaquim Murtinho
Alunos: Endrio Gabriel, João Victor, Enillyn
Professor(a):Denise
02/06/2022
  Histórico do contato
Investigações arqueológicas mostram que a cultura guarani
tem origem nas florestas tropicais das bacias do Alto Paraná,
do Alto Uruguai e extremidades do planalto meridional
brasileiro (Schmitz: 1979,57). No século V (anos 400 d.C.) esta
cultura já teria se diferenciado da tupi e estaria estruturada
com características observáveis no século XVI, bem como nos
dias de hoje. Os mesmos arqueólogos sugerem que sua
gestação seria de aproximadamente um milênio. As
populações "proto-guarani", que deram origem aos Guarani
da época da conquista (1500) e de hoje (Susnik: 1975), têm
uma história marcada por intensos movimentos de traslados
dentro dos espaços por eles considerados apropriados como
territórios de ocupação.

Na chegada do europeu as populações que ficaram conhecidas como guarani ocupavam extensa região litorânea que
ia de Cananéia (SP) até o Rio Grande do Sul, infiltrando-se pelo interior nas bacias dos rios Paraná, Uruguai e
Paraguai. Da confluência dos rios Paraná e Paraguai espalhavam-se pela margem oriental deste último e nas duas
margens do Paraná. O Rio Tietê, ao norte, e o Paraguai a oeste, fechavam seus territórios.

Os estudos arqueológicos indicam ainda que nos anos 1000/1200 d.C., expandindo-se ao sul, a partir de regiões hoje
localizadas no oeste brasileiro (cabeceiras dos rios Araguaia, Xingu, Arinos, Paraguai), grupos de cultura guarani
ocuparam territórios compreendidos pelo atual sul do Brasil, norte da Argentina e a Região Oriental do Paraguai (Cf.
Smith, 1978; 1975; 1979-80).

A partir da chegada de portugueses e espanhóis no XVI e até o XVIII a história dos Guarani será marcada pela
presença missionária jesuítica que os queria catequizar, e pelo assédio de "encomenderos" – a “encomienda”, no
sistema colonial espanhol, permitia que o colonizador escravizasse os indígenas sob o disfarce oficial de proteção –
espanhóis e bandeirantes portugueses que pretendiam escravizá-los.

Origem do nome
A nomenclatura referente aos Guarani, a exemplo de outros aspectos de sua tradição de conhecimento, é tema de
difícil abordagem dada a variedade de nomes que podem assumir. Viajantes dos séculos XVI e XVII os classificaram
de modo genérico como “índios de la generación de los guarani” (Cabeza de Vaca 1971; Azara 1969; MCA, 1952) e
apresentaram uma enorme lista de nomes utilizados para designar os povos dessa “nação", que se agrupavam,
segundo descrição desses primeiros colonizadores, em pequenos grupos ou divisões que tomavam o nome do líder
político-religioso local ou, ainda, o nome do lugar por ele ocupado. Sob uma mesma denominação podiam ser
identificadas diferentes “comunidades” que viviam ao longo de um rio ou próximo de fontes de água e mato,
assumindo, cada uma delas, denominação particular, razão pela qual há uma diversidade muito grande de nomes
dados aos Guarani pelos conquistadores, tais como mbiguas, caracara, timbus, tucagues, calchaguis, quiloazaz,
carios, itatines, tarcis, bombois, curupaitis, curumais, caaiguas, guaranies, tapes, ciriguanas (cf. Azara, 1969:203)
Cultura dos Guarani
A organização social e os cantos estão entre as mais evidentes manifestações culturais do
povo guarani. Para eles, a terra, tekoha, é parte integrante da família.

Os cânticos guaranis são entoados como uma forma de demonstrar aos deuses que existem
sobre à terra.

Sua música também é utilizada para o controle das forças da natureza, como falta ou excesso
de chuva. Os cantos são entoados ao som de cabaças, transformadas em instrumentos
musicais.

Situação territorial atual do povo Guarani


O povo Guarani tende a ter algumas das dificuldades, ex: expectativas e reivindicações de comunidades do
Povo Guarani que vivem no Rio Grande do Sul, de modo especial na região metropolitana de Porto Alegre.
E a questão principal relaciona-se à luta pela terra, considerando que estas comunidades estão
submetidas a uma vida de privações e desigualdades, resultante do confinamento em pequenas porções
de terras às margens das estradas, em áreas compradas pelo Estado ou cedidas por particulares

Os Guarani ocupam tradicionalmente as terras que abrangem partes do Rio Grande do Sul (Missões,
Pampa, Planalto, Litoral), Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso do
Sul e regiões da Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai. Neste amplo território, ao longo dos séculos, eles
foram perseguidos por colonizadores, caçados, escravizados, exilados e tiveram suas terras invadidas,
saqueadas e ocupadas. Nesse processo a Igreja, a serviço dos estados da Espanha, Portugal e depois do
próprio Brasil, procurou catequizá-los e torna-los "almas convertidas" e, ao mesmo tempo, "corpos dóceis"
para o trabalho, nos moldes do projeto que então se estruturava. A base das relações com os povos
indígenas sempre foi colonial, ou seja, sempre se indagou qual a utilidade destes povos e quais as
melhores maneiras de explorar sua força produtiva e seus territórios.

A resistência do Povo Guarani às frentes de ocupação e colonização foi dramática. Milhares de pessoas
acabaram assassinadas em guerras, epidemias, confrontos, perseguições, confinamentos religiosos e
territoriais. No entanto, apesar dessa prolongada história de desrespeito e violências os Guarani mantêm
formas coletivas de vida e práticas culturais que os distinguem. Dispersam-se em núcleos familiares,
formando pequenas comunidades por diferentes regiões, em contínuo movimento e ocupando de
maneiras diversos seus territórios tradicionais. Se antigamente eles eram donos de toda a terra,
gradativamente foram empurrados, com uso da violência, para pequenas áreas, mas isso não significa que
os vínculos territoriais tenham sido desfeitos.

Localização e Tekoha
Habitando a região sul do Mato Grosso do Sul, os Kaiowa distribuem suas aldeias por
uma área que se estende até os rios Apa, Dourados e Ivinhema, ao norte, indo, rumo
sul, até a serra de Mbarakaju e os afluentes do rio Jejui, no Paraguai, alcançando
aproximadamente 100 Km em sua extensão leste-oeste, indo também a cerca de 100
Km de ambos os lados da cordilheira do Amambaí (que compõe a linha fronteiriça
Paraguai-Brasil), inclusive todos os afluentes dos rios Apa, Dourados, Ivinhema,
Amambai e a margem esquerda do Rio Iguatemi, que limita o sul do território Kaiowa e
o norte do território Ñandeva, além dos rios Aquidabán (Mberyvo), Ypane, Arroyo,
Guasu, Aguaray e Itanarã do lado Paraguaio, alcançando perto de 40 mil Km2. O
território Kaiowa ao norte faz fronteira com os Terena, e ao leste e sul com os Guarani
Mbya e com os Guarani Ñandeva (v. Meliá, 1986: 218). Algumas famílias kaiowa
também vivem, atualmente, em aldeias próximas às Mbya no litoral do Espírito Santo e
Rio de Janeiro.

O território Ñandeva atual toma parte dos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná,
estendendo-se também ao Paraguai oriental. Migrações Ñandeva do início do século XX
oriundas do Paraguai cristalizaram assentamentos no estado de São Paulo, interior e
litoral, assim como em Santa Catarina, no interior do Paraná e do Rio Grande do Sul.
No Paraguai, concentram-se na região compreendida entre os rios Jejui Guasu,
Corrientes e Acaray, tendo por vizinhos ao sul os mbya, ao norte os paï-kaiowa e a leste
os Aché. O território atual dos Ñandeva compreende os rios Jejui Guasu, Corrientes e
Acaray, no Paraguai, e, no Brasil, o Rio Iguatemi e seus afluentes, sendo encontrados
também nas proximidades da junção deste com o Paraná. Bartolomé (1977) fala de um
"habitat histórico" localizado ao sul do Jejui Guasu, ao longo do Alto Paraná e ao sul do
Iguasu. Há também assentamentos Ñandeva no interior do Paraná e de São Paulo, e no
litoral deste último.

Tekoha: a territorialidade guarani


Os Guarani hoje em dia denominam os lugares que ocupam de tekoha. O tekoha é,
assim, o lugar físico – terra, mato, campo, águas, animais, plantas, remédios etc. – onde
se realiza o teko, o “modo de ser”, o estado de vida guarani. Engloba a efetivação de
relações sociais de grupos macro familiares que vivem e se relacionam em um espaço
físico determinado. Idealmente este espaço deve incluir, necessariamente,
o ka’aguy (mato), elemento apreciado e de grande importância na vida desses
indígenas como fonte para coleta de alimentos, matéria-prima para construção de
casas, produção de utensílios, lenha para fogo, remédios etc. O ka’aguy é também
importante elemento na construção da cosmologia, sendo palco de narrações
mitológicas e morada de inúmeros espíritos. Indispensáveis no espaço guarani são as
áreas para plantio da roça familiar ou coletiva e a construção de suas habitações e
lugares para atividades religiosas.

Deve ser um lugar que reúna condições físicas (geográficas e ecológicas) e estratégicas
que permitam compor, a partir da relação entre famílias extensas, uma unidade
político-religiosa-territorial. Idealmente um tekoha deve conter, em seus limites,
equilíbrio populacional, oferecer água boa, terras agricultáveis para o cultivo de
roçados, áreas para a construção de casas e criação de animais. Deve conter, antes de
tudo, matas (ka'aguy) e todo o ecossistema que representa, como animais para caça,
águas piscosas, matéria-prima para casas e artefatos, frutos para coleta, plantas
medicinais etc.
Necessário considerar devidamente as condições históricas nas quais os índios
constroem suas categorias, incluindo-se à de tekoha. A situação dos diferentes
subgrupos nos últimos 40 anos em relação à terra evidencia a necessidade de
negociação de espaços a serem demarcados. As reduzidas terras legalizadas estão
ligadas às dificuldades de suplantar obstáculos gerados pela sociedade não indígena.
Em comparação aos territórios ocupados no passado, verifica-se drástica redução em
relação à própria morfologia social dos grupos, com terras exíguas e desproporções na
relação famílias/espaço disponível. Na constituição de um tekoha e na sua conceituação
nativa, os fatores históricos de intervenção neocolonial são fundamentais, pois
interrompem a continuidade territorial com a qual os índios estavam acostumados a
lidar.

A situação histórica imposta pelo contato tipificam as relações entre os índios e os


brancos a partir das primeiras décadas do século XX, quando há esforços por parte do
Estado em territorializar (Oliveira 1998) índios, constrangendo-os a espaços limitados e
em fronteiras fixas. A imposição de regras de acesso e posse territorial por parte do
Estado brasileiro, alheias às especificidades da territorialidade dos índios, teve
conseqüências significativas na organização espacial guarani, em suas elaborações
culturais e no gerenciamento das políticas de relacionamento interétnico. Segundo
Oliveira, entre os fatores mais significativos decorrentes de processos de
territorialização, temos, entre os indígenas, o estabelecimento de papéis formais
permanentes de mediação com o Estado e a re-elaboração da memória do passado.
Terras indígenas

Aldeia kaiowa. Foto: Egon Shaden, 1949.

Com a criação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) em 1910, que em 1967 se
transforma em Fundação Nacional do Índio (Funai), o Estado brasileiro passa a ter um
organismo específico para executar sua política frente às populações indígenas do país.
Uma das principais medidas do SPI foi transferir a 5a. Inspetoria Regional,
originariamente em Bauru, para Campo Grande (hoje MS), objetivando assim atender
“uma quantidade imensa de indivíduos Caiuás" (noção genérica para designar tanto os
Kaiowa quanto os Ñandeva), que viviam "espalhados pelos ervais, sem residência fixa”,
como escreve um funcionário (Estigarribia, 1927).

Orientado pela perspectiva de “integrar” as populações indígenas ao mundo ocidental, o


SPI cria oito “reservas” destinadas aos Kaiowa e Ñandeva do Mato Grosso do Sul. Serão
criadas reservas ñandeva também em São Paulo e Paraná.

Os “aldeamentos”, conhecidos já no século XVI e agora temperados por uma visão


positivista, tornaram-se, no século XX, em Postos Indígenas, destinados a educar e
orientar os índios ao trabalho. Estes, como se pensava, progressivamente “evoluiriam”
até a incorporação e assimilação total ao mundo ocidental. Os critérios e a escolha das
áreas onde seriam implantados os PIs para os Guarani no MS foram definidos por
funcionários do SPI já que a ótica fundiária do organismo indigenista não respeitou
nem considerou padrões étnicos de ocupação do habitat tradicional nem as concepções
territoriais dos indígenas. A “aldeia” torna-se uma unidade administrativa, sob controle
de funcionários federais (Cf. Relatório de Inspetoria, SPI, 1924).
Os resultados não se fizeram esperar. Um dos primeiros Diretores do SPI já em 1913,
ponderava que "a prostituição que se nota em tão alta escala nas aldeias fundadas por
nós, é a conseqüência forçosa do aldeamento, que (traz) à vida sedentária (...) homens
que não têm as artes necessárias para viver nela" (Magalhães, 1913:142).

Oito áreas foram demarcadas para os Kaiowa e Ñandeva do atual MS. Apesar de já
diminutas (cf. Correia Filho, 1924), pois cada uma foi decretada (entre 1915 e 1928) com
3.600 ha., já no ato de demarcação sofreriam reduções, algumas drásticas, em função
de arranjos entre agentes de governo e interesses regionais: a área guarani-ñandeva do
PI Pirajuy, definida pelo Decreto No. 835, de 14.11.1928 com 3.600 há, foi demarcada,
em 1930, com 2.000 ha.; sua localização foi definida por funcionário do SPI em 1927
que escolheu uma outra área "na região de Ypehü”, duas ou três léguas de Pirajuy,
destinada aos mais de 500 “caiuás, sem residência ou não aldeados” (cf. Estigarribia,
1927). A comunidade ñandeva deste lugar, autodenominada Potrero Guasu, ali
permaneceu até os anos 1960; foram então impingidas a se “aldearem” no PI Pirajuy e
só retomaram aquelas terras em 1998 depois de sua identificação em 1997.

Assim, desde meados da década de 1920 se processa uma contínua desapropriação de


terras guarani. Nas décadas seguintes e até poucos anos atrás a existência dos Guarani
se materializa com a derrubada de matas para implantação de empresas agropecuárias.

Quando descobertos, ou eram expulsos imediatamente ou após a utilização de sua força


de trabalho na formação da fazenda. A expulsão podia vir precedida de avisos e
ameaças de uso de força; se ineficazes, visitas sinistras de homens armados com
eventuais espancamentos e humilhações, atestavam a veracidade das intenções. Em
caso de resistência procedia-se à expulsão: indivíduos não raros armados, constrangiam
e forçavam homens, mulheres e crianças aos caminhões que os despejariam nas
proximidades de algum PI ou na beira de estradas.

No Mato Grosso do Sul, não obstante a prática de constrição em espaços estabelecidos


pelo Estado, inúmeros grupos macro familiares envidaram esforços para
permanecerem nas áreas de florestas – não raro nos fundos de fazendas que toleram
sua presença. O desmatamento dos anos 1970 levou os indígenas fora das reservas,
considerados pelo organismo indigenista oficial como “desaldeados”, a se deslocarem
continuamente, fugindo de áreas ecologicamente descaracterizadas e da hostilidade do
branco. Em fins dessa década, já com exíguas matas onde pudessem manter-se
isolados, não foi mais possível evitar conflitos frontais com os brancos que os queriam
expulsar para as áreas de Postos Indígenas, o que levou Ñandeva e Kaiowa a se
organizarem e reivindicar espaços territoriais perdidos. Isso tudo teria levado os
Guarani do MS a uma reflexão inexorável sobre as condições territoriais e se
empenharem em elaborar culturalmente as condições do presente no sentido de
construir relações com o passado através da organização da memória dos vários grupos
macro-familiares e da percepção dos espaços por estes ocupados no correr do tempo,
reforçando o próprio sentimento de autoctonia.

Daí decorrem as reivindicações fundiárias que os Guarani do MS com grande ênfase vão
manifestando nestas últimas décadas. São reivindicações precisas no tocante à
vinculação direta entre as famílias extensas e espaços territoriais específicos. Neste
sentido, pode-se dizer que em primeiro lugar os tekoha reivindicados representam a
soma de espaços de ocupação tradicional sob jurisdição de determinadas famílias
extensas onde serão estabelecidas relações políticas comunitárias e a partir dos quais se
determinarão laços intercomunitários numa região mais ampliada.

Assim, de 1977 para cá constata-se uma disposição pertinaz dos Paï-kaiowa e Ñandeva
do MS em garantir suas terras, não só relutando em sair dos lugares tradicionais onde
estão, como mobilizando-se, a partir de onde estão, para recuperar terras
compulsoriamente abandonadas no passado. Nem todas as áreas ocupadas estão em
sua totalidade nem todas estão definitivamente legalizadas; há muitas pendências
judiciais, algumas que se desenrolam há anos. Até 2003, 16 tekoha foram recuperados,
totalizando 24 áreas ocupadas por Guarani, superando os oito Postos Indígenas que até
então existiam.

Trata-se de um processo de luta renhida, que tem exigido inúmeras e rebuscadas


articulações entre comunidades, gestões e pressões junto ao governo federal, expulsões
e retomadas de terras, inúmeros processos judiciais e muita perseverança, paciência,
habilidade política e diplomacia por parte dos indígenas que têm, contudo, avançado
consideravelmente em suas formas de organizar-se para garantir terras a que têm
direito. Com a abertura destas novas áreas, observa-se impactos positivos, com a
diminuição no número de famílias em alguns Postos Indígenas antes densamente
povoadas.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani_Kaiow%C3%A1

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