Você está na página 1de 8

O NOME O vocábulo guató apareceu grafado pela primeira vez nos Commentarios do

espanhol Alvar Núñez Cabeza de Vaca, escrito na primeira metade do século XVI.
Em 1901, Schmidt registrou a palavra maguaato, usada para denominar uma ave
conhecida como frango d´água, por ele grafada de maneira semelhante à auto-
denominação étnica. Por conta disso, Susnik (1978) afirmou que o termo guató
corresponderia a maguaato.
É possível, por exemplo, que guató seja uma derivação de guatá, verbo que em
Guarani significa andar, caminhar, circular, viajar e transitar, anotado dessa maneira
no início da conquista Ibérica para indicar um povo canoeiro com grande
mobilidade espacial. No decorrer dos anos, guatá acabou sendo pronunciado e
escrito como guató, incorporado como denominação e autodenominação étnica em
um contexto sociolingüístico marcado por intensos contatos interétnicos.
A LOCALIZAÇÃO
A ocupação guató, limitada exclusivamente à região pantaneira, permaneceu
relativamente inalterada até meados do século XIX, quando se intensificou o
processo de ocupação da região do alto Paraguai, especialmente após a Guerra do
Paraguai (1864-1870), com a presença de ex-soldados, militares e fazendeiros.
Assim, a área de ocupação guató situa-se inteiramente na região pantaneira, a
maior parte em território brasileiro, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
havendo ainda uma porção inclusa em terras bolivianas. Destacam-se dessa área
alguns exemplo de extensões ocupadas por esse povo: curso principal do rio
Paraguai, rio Paraguai-Mirim e rio Alegre.
Atualmente, existem três núcleos guató, um deles em Mato Grosso do Sul (aldeia
Uberaba, Ilha Ínsua) e dois em Mato Grosso, nos municípios de Barão de Melgaço e
Poconé. Nestes, encontra-se a Terra Indígena Baía dos Guató (aldeias Aterradinho
do Bananal e Aterro São Benedito), juntos aos rios Perigara e Cuiabá. O terceiro
núcleo, em Mato Grosso, fica próximo à Cáceres, no entanto ainda são necessários
estudos antropológicos para identificar a população guató que ali reside e delimitar
o território por eles ocupado.
A POPULAÇÃO
A população guató que residia em 2008 em Mato Grosso do Sul e Mato
Grosso é de 175 e de 195, respectivamente (Funasa, 2008).
Apesar dos vários encontros de viajantes e cronistas com a população guató, os
dados numéricos registrados nessas expedições abrangeram sempre apenas
parte da população indígena. Isso ocorreu em função da dispersão do grupo
pela região pantaneira. Antes da Guerra do Paraguai, Florence, em 1825,
calculou em cerca de 300 pessoas o total da população guató na região do alto
Paraguai, não tendo acesso, contudo, à população da lagoa Gaíba que, segundo
relatos de moradores das redondezas, era bastante numerosa e poderia chegar
a 2 mil índios.
Eles são em torno de 419 (Siasi/Sesai, 2014).
Até a década de 1960, a língua Guató permaneceu classificada como língua isolada.

A LÍNGUA Apesar de estar filiada ao tronco Macro-Jê, a língua Guató não pertence, ao menos segundo consta
na literatura, a nenhuma família lingüística a ele relacionada, inclusive a família Jê. Esta situação por
certo é fruto da ausência de maiores estudos sobre o parentesco das línguas indígenas no Brasil.
Entretanto, levando em conta as propostas apresentadas por Montserrat (1994), acredita-se que a
língua Guató pode ser alternativamente considerada como uma família lingüística de um só membro,
pertencendo ao tronco Macro-Jê, de acordo com o esquema que segue:
Tronco Macro-Jê
Família Guató
Língua Guató
Mas se hoje em dia a família lingüística Guató possui apenas um único membro, no passado talvez
tivesse tido mais representantes. Esta avaliação leva em conta o fato de ter havido muitos povos
indígenas na região do Pantanal, ao menos até o período colonial.
Nos dias de hoje, a língua Guató está praticamente extinta. Até o começo de 2008, havia 5 falantes
no núcleo de Corumbá, mas com o falecimento de Francolina, que tinha mais de 100 anos de idade, o
número ficou reduzido a quatro. Existe mais um único falante do Guató na região de São Lourenço/
Cuiabá.
Há, em toda a região pantaneira, apenas 5 falantes da língua indígena. Apesar desse triste quadro,
existem hoje tentativas de revitalizar a língua e estimular o seu uso na escola indígena.
A HISTÓRIA
Os Guató, considerados o povo do Pantanal por excelência, ocupavam praticamente toda a
região sudoeste do Mato Grosso, abarcando terras que hoje pertencem àquele estado, ao estado
de Mato Grosso do Sul e à Bolívia. Podiam ser encontrados nas ilhas e ao longo das margens do
rio Paraguai, desde as proximidades de Cáceres até a região do Caracará, passando pelas lagoas
Gaíba e Uberaba e, na direção leste, às margens do rio São Lourenço. No interior deste vasto
território sua presença foi registrada desde o século XVI por viajantes e cronistas.
Foi entre 1940 e 1950 que se iniciou de modo mais intenso a expulsão dos Guató de seus
territórios tradicionais. O gado dos fazendeiros invadia as roças dos índios e os comerciantes de
peles dificultavam a permanência dos Guató na ilha Ínsua e arredores. Acuados, migraram para
outros pontos do Pantanal ou se dirigiram para as periferias de cidades, como Corumbá, Ladário,
Aquidauana, Poconé e Cáceres etc. Foram poucas as famílias que permaneceram na ilha Ínsua. A
partir da década de 50, os Guató foram considerados extintos pelo órgão indigenista oficial e
assim, foram excluídos de quaisquer políticas de assistência. Foi somente em 1976 que
missionários identificaram índios Guató vivendo na periferia de Corumbá. Aos poucos o grupo
começou a se reorganizar e a lutar pelo seu reconhecimento étnico. Hoje, são os últimos
canoeiros de todos os povos indígenas que ocuparam as terras baixas do Pantanal.
AS FESTAS
Nas festas, consumia-se o vinho da palmeira acuri também
conhecido como chicha e realizavam o cururu: faziam uma roda e
dançavam durante várias horas ao som da viola de cocho e do
caracaxá (ganzá). Ainda hoje, a viola de cocho (sendo que
antigamente era utilizada corda de tripa de bugio na viola) e o
caracaxá (ganzá) acompanham e animam as festas guató.
A DEMARCAÇÃO DE
A “redescoberta” dos Guató deu início a uma luta pela recuperação do
TERRAS território tradicional desse povo, especialmente da ilha Ínsua, situada entre as
baías Gaíba e Uberaba.
O processo de identificação da TI Guató teve, porém, o interesse explícito
de reunir na ilha Ínsua todos os grupos familiares espalhados pelo Pantanal,
motivo pelo qual nunca foi levada em conta a situação fundiária dos outros
núcleos conhecidos. Assim, ainda que os Guató dos rios São Lourenço/ Perigara
e Cuiabá tenham conhecimento da existência de outros Guató na região do
Caracará, com eles não tiveram muito contato e afirmam não terem a intenção
de sair da área onde vivem hoje. Os Guató sempre ocuparam uma extensa faixa
de terras pantaneiras, englobando as bacias dos rios Paraguai, São Lourenço e
Cuiabá.
Atualmente esse povo tem a sua terra demarcada.

Você também pode gostar