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Jucá Acácio, Mara; Oliveira, Márcia S. Duarte. 2022.

O português falado pelos Tembé do


Rio Guamá: novas luzes sobre o contato linguístico em áreas afro-indígenas. In
Oliveira, Edna dos Santos; Vasconcelos, Eduardo; Sanches, Romário. (Orgs.).
Estudos Linguísticos na Amazônia, vol. 2, p. .. São Paulo: Pontes.
Obs: esta é uma versão semi-final do texto. Para devidas citações, ver o texto
publicado no livro.

O português falado pelos Tembé do Rio Guamá − novas luzes


sobre o contato linguístico em áreas afro-indígenas

Mara Sílvia Jucá Acácio


Márcia Santos Duarte de Oliveira

1 Palavras Iniciais

Este trabalho está centrado em resultado de pesquisa realizada com os Tembé do Rio
Guamá que estão localizados na Terra Indígena Alto Rio Guamá, mais exatamente, no
município de Santa Luzia do Pará (JUCÁ ACÁCIO, 2020). Os Tembé do Guamá estão
inseridos em multilinguismo e assentados em uma área historicamente plurilíngue; são,
portanto, exemplares de áreas geolinguísticas enfocadas pela linguística de contato:

[...] assumimos – de acordo com um conjunto de especialistas – que a Linguística de Contato é um ramo
de estudos que enfoca áreas geolinguísticas que atestam, no mesmo locus, línguas distintas umas das outras
e com “poucos” representantes (falantes) em cada uma delas – no presente ou no passado em que se deu
(ou que ainda se dá) a formação do espaço sociocomunicativo. Nestas áreas verifica-se, portanto, uma
situação de multilinguismo/ plurilinguismo e de hibridismo cultural que caracterizou vastas áreas do globo
em fins do século XV, estendendo-se até o século XIX, ou seja, um período de pelo menos quatro séculos
no qual se deu a formação de áreas geolinguísticas que são conhecidas como “Novo Mundo”. (OLIVEIRA,
ZANOLI & MÓDOLO, 2019: 308).

Como centenas e centenas de comunidades indígenas no Brasil e em outras partes do


globo, o povo conhecido como Tembé do Guamá foi marginalizado pelo sistema colonialista
que o direcionou a mudar seus padrões de multilinguismo, apreendendo cada vez mais uma
segunda língua que veio a se tornar, no pós-colonialismo, sua primeira língua: o português.1
Nosso objetivo nas páginas que se seguem é corroborar a proposta de Jucá Acácio (2020:
268-269) de que os Tembé do Guamá estão em processo de language shift da língua tembé-
tenetehar para o português, visando ainda fortalecer a hipótese de que o português falado por
esse grupo indígena seja uma variedade de português rural que pode ser enquadrada como
“português afro-indígena” (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 267-272).
O trabalho está dividido em 5 seções que incluem essa introdutória e as referências
bibliográficas. Na seção dois, após essas palavras iniciais, inserimos algumas considerações
sobre os Tembé do Guamá: aspectos de sua história e localização e de seu contexto

1
Para detalhes sobre multilinguismo, colonialismo e pós-colonialismo, ver Deumert (2011).
comunicacional. Na seção três, revisitamos o conceito de português afro-indígena (uma
variedade de português brasileiro rural) apresentado na literatura especializada, inserindo o
português falado pelos Tembé do Guamá na definição revisitada do termo e como parte do
conjunto de variedades de português afro-indígena. Na seção 4, dedicamo-nos, também
ancoradas em Jucá Acácio (2020), a apresentar alguns fenômenos linguísticos do português dos
Tembé do Guamá que, como advogamos, confirmam ser essa variedade rural de português do
tipo afro-indígena. A seção cinco é dedicada às palavras finais.

2 Os Tembé do Guamá

Nesta seção, apresentamos algumas considerações sobre os Tembé do Guamá: um


pouco de sua história e localização no Norte do Brasil e aspectos do contexto comunicacional
dessa área indígena.

2.1. Os Tembé-tenetehar e sua localização

Na história dos povos indígenas do norte do Brasil, atestam-se duas grandes etnias que
falavam (falam) línguas bem próximas: os Guajajara e os Tembé, ligados a uma língua de
ancestralidade que esses povos denominam de tenetehar. Assim, os Guajajara (habitantes do
atual Maranhão) e os Tembé (habitantes do atual Pará) se auto identificam como povos
tenetehar (RICARDO, 1985: 182).2 A cisão desses povos se deu no século XX.
Em Jucá Acácio (2020), a partir de mapa etno-histórico da região nordeste do Pará −
Nimuendaju ([1944] 2017) −, apontam-se áreas históricas dos Tembé e dos Guajajara. A partir
do mapa de Nimuendaju (op. cit.), Jucá Acácio (2020: 29-32) atesta oito grupos tembé em
deslocamento na região do rio Guamá e do lado esquerdo do rio Gurupi (no atual Estado do
Pará). Esses grupos formariam mais tarde os atuais grupos tembé conhecidos como Tembé de
Tomé-açu, Tembé de Paragominas, Tembé do Gurupi e Tembé do Guamá.

[...] após a delimitação da Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG) em 1945, a Fundação Nacional
do Índio (Funai) ordenou a transferência dos Tembé que residiam do lado esquerdo do rio Gurupi
para o rio Guamá; no entanto a maioria deles se recusou a migrar.
[...] A Terra Indígena Alto Rio Guamá, doravante TIARG, foi identificada em 1945, mas só foi
homologada em 1993 pelo Decreto s/nº de 4.10.1993. (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 37).

Atualmente, os Tembé habitam quatro áreas distintas localizadas do lado esquerdo do


rio Gurupi no Estado do Pará: (i) Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG), (ii) Terra Indígena
Tembé, (iii) Terra Indígena Turé-Mariquita, (iv) Reserva Indígena Turé-Mariquita II – Ricardo
& Ricardo (2011: 407). Abaixo, na Figura 1, observa-se a localização da TIARG: a área tembé
que é focalizada neste trabalho:

Figura 1: Localização da TIARG

2
Importante mencionar que na história da ocupação do Brasil, os Guajajara e os Tembé localizavam-se em uma
área geopolítica que, no século XVII, era conhecida como Província do Grão-Pará − ver Santiago (2012: 1),
Moretti (2014: 1). Os indígenas da nação tembé estão localizados na Província do Grão-Pará desde o século XVIII
– Nimuendaju ([1944] 2017: 121), Valadão ([1952] 2001: n.p). Para mais detalhamentos sobre a Província do
Grão-Pará, ver Jucá Acácio (2020: 26-28).
Fonte: Jucá Acácio (2020: 37; mapa 4); o título, modificado, é nosso.

A TIARG está localizada na mesorregião nordeste do Estado do Pará entre a margem


direita do rio Guamá e a margem esquerda do rio Gurupi na fronteira com o Estado do Maranhão
(a ocupação dessa área é atestada desde o século XIX (SOUSA, 2018: 11)). Com uma área total
de 279.897 hectares, a TIARG abriga 1,9 mil indígenas, em sua maioria da etnia tembé; outros
indígenas habitando essa área são das etnias Timbira, Guajajara, Ka’apor, Munduruku e, em
menor número, Wajãpi, Amanayé e Kayapo – Valente & Kahwage (2017: 318), Kahwage &
Marinho (2011).
A TIARG insere-se em dois municípios paraenses: Nova Esperança do Piriá,
Paragominas (onde vivem os Tembé conhecidos como “Tembé de Paragominas”), Santa Luzia
do Pará (onde residem os “Tembé do Guamá” (VALENTE & KAHWAGE, 2017: 33); essa
área indígena faz fronteira com os municípios de Garrafão do Norte, Capitão Poço, Viseu e
Cachoeira do Piriá. Em seu limite sul, a TIARG faz fronteira com a Terra Indígena Alto Turiaçu,
localizada no Maranhão (onde vivem os Tembé conhecidos como “Tembé do Gurupi”).
Na parte norte da TIARG, há dezesseis aldeias que se subdividem em três polos,
segundo Dias (2010: 38). A pesquisa de Jucá Acácio (2020), que é fonte para este trabalho, foi
realizada em seis aldeias tembé do Guamá: Sede, Itwaçu, São Pedro, Pinawa, Ita Puty’r e
Frasqueira, situadas no município de Santa Luzia do Pará cerca de dez quilômetros do
município de Capitão Poço como se observa na Figura 2.

Figura 2: A pesquisa de Jucá Acácio (2020) centrada em seis aldeias da TIARG

Fonte: Jucá Acácio (2020: 39; mapa 5); o título, modificado, é nosso.
Como se observa na Figura 2, as seis aldeias em destaque estão localizadas bem próximas umas
das outras − para detalhes da área, ver Jucá Acácio (2020: 42-53).

2.2 Contexto sócio comunicacional dos indígenas do Pará, destacando-se os Tembé do Rio
Guamá

Como já apontado na seção introdutória, a área geopolítica do Estado do Pará é


atestadamente uma área plurilíngue, habitada por inúmeras pessoas bilíngues/multilíngues.3
Dezessete etnias indígenas habitam esse Estado do norte do Brasil e sua população fala línguas
classificadas em três famílias linguísticas: (i) tupi-guarani: línguas tembé, anambé, araweté,
assurini do Xingu, munduruku, parakanã, sataré-mawe, suruí e zo’é (puturu); (ii) macro-jê:
línguas menkrangnoti (kayapó), parkatejê (jê timbira) e xikrin; (iii) karib: línguas wai wai,
aparaí (apalaí), arara do Pará, hixkaryana, wayana − ver Jucá-Acácio (2020: 73-74; quadro 4).
Em grande parte das áreas indígenas paraenses, além das línguas indígenas, o português
também é falado. Na TIARG, entre os Tembé, são faladas as línguas tembé e português.
Entre os anos de 2003 a 2018, Mara Sílvia Jucá Acácio pôde observar de perto a situação
de uso de línguas indígenas em sete áreas indígenas localizadas no Estado do Pará: Waiwai
(aldeia Mapuera em Oriximiná-PA), Tapajós-Arapiuns (em Santarem-PA), Kayapó (em São
Felix do Xingu-PA), Parkatejê e Kyikatejê (na Terra Indígena Mãe Maria em Bom Jesus do
Tocantins-PA), Suruí-Aikewara (na Terra Indígena Sororó em Bom Jesus do Tocantins-PA),
Tembé do rio Gurupi e Tembé do rio Guamá (na Terra Indígena Alto Rio Guamá no nordeste
do Pará); Mara Sílvia Jucá Acácio atua desde 2003 como professora em áreas indígenas
paraenses − para detalhes sobre a situação sociocomunicativa dessas sete áreas indígenas, ver
Jucá Acácio (2020: 71-93).
Em razão do escopo deste trabalho, a seguir, centramo-nos em questões
sociocomunicativas dos Tembé do Guamá, que têm a língua tembé-tenetehar como língua de
ancestralidade; essa língua é classificada na literatura especializada como: “língua da etnia
Tembé, pertencente ao ramo IV da família linguística tupi-guarani, do tronco Tupi [...].” (JUCÁ
ACÁCIO, 2020, p. 37).
Os Tembé do Guamá, que têm um histórico de intercâmbio com a língua portuguesa por
mais de um século, estão em processo de language shift (mudança de língua)4 da língua tembé-
tenetehar para o português como argumenta Jucá Acácio (2020) em sua pesquisa.5 A autora (op.
cit.), baseando-se na história sociocomunicativa dos Tembé do Guamá e em fenômenos
linguísticos dessa variedade de português (descritos e analisados em JUCÁ ACÁCIO, 2020:
197-265), advoga que o português falado pelos Tembé seja resultado de processo de mudança
de língua “rápida por parte de uma grande e prestigiosa minoria”, atestando interferência
moderada da língua tembé-tenetehar − ver Jucá Acácio (2020: 268-269).

3
O termo “bilíngue” pode definir indivíduos que possuem duas línguas −Megale (2005: 02). No entanto, segundo
a autora (op. cit.): “[...] deve-se incluir entre estes, indivíduos com diferentes graus de proficiência nessas línguas
e que muitas vezes fazem uso de três, quatro ou mais línguas” (MEGALE, 2005: 03).
4
“Acerca de language shift – a ‘situação B’ de línguas de contato atestadas em Winford (2003: 208-264) –, trata-
se de um fenômeno do contato linguístico estritamente ligado à aquisição de uma segunda língua – daqui em
diante, SLA [second language aquisition; “aquisição de 2a. língua” (L2)]. No entanto, não se está falando em
processos de SLA envolvendo ‘indivíduos’, mas sim de SLA de um grupo “inteiro” que adquire uma nova língua:
uma target language (TL; língua alvo)”. (OLIVEIRA, ZANOLI & MÓDOLO, 2019, p. 309).
5
“Atualmente, nas aldeias Tembé do rio Guamá, não se atestam mais falantes fluentes da língua tembé-tenetehar.
Alguns poucos idosos ainda guardam um vocabulário restrito de palavras e expressões [...]. Ao longo das últimas
décadas, a língua portuguesa se tornou a primeira língua dos indígenas do rio Guamá que é, atualmente, a língua
de comunicação diária desse grupo em casa, na escola e também em eventos diversos dentro e fora da Terra
Indígena”. (JUCÁ ACÁCIO, 2020: 266).
Observe o excerto abaixo que resume uma das questões da pesquisa de Jucá Acácio
(2020), enfatizando o processo de language shift da língua tembé-tenetehar para o português
em meio à comunidade de fala tembé do Guamá:

Ao objetivar uma descrição de aspectos etnolinguísticos do povo Tembé do rio Guamá, da situação
sociocomunicativa da área, da educação escolar indígena desse grupo e da descrição e análise de
aspectos da variedade de português vernacular dos Tembé do Guamá, busquei contribuir para o
alargamento da compreensão de que dezenas de etnias indígenas, como os Tembé do rio Guamá, se
encontram no processo de “language shift” (ou já realizaram o processo). Espero que este estudo
possa contribuir ainda para o aumento de pesquisas centradas em variedades de português faladas
por grupos indígenas ligados ao contato linguístico com comunidades de matriz africana, as
chamadas quilombolas, e ligados ainda a outras línguas indígenas e ao português do entorno em que
se localizam. (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 275; o grifo é nosso).

Do excerto acima, chamamos a atenção para o fato de o português falado pelos Tembé do
Guamá estar associado ao contato linguístico e ligado a:

(i) variedade de fala de português de matriz africana: as chamadas comunidades


quilombolas, que, por sua vez, estão ligadas a fenômenos do português do entorno
da área Tembé. Chamamos a atenção para o caso específico da comunidade
quilombola “Narcisa”, localizada na fronteira com a TIARG, cuja população
mantém estreito contato interétnico com os Tembé do Guamá (ver JUCÁ ACÁCIO,
2020, p. 111-112). Aspectos da ligação dos quilombolas de ‘Narcisa’ com os Tembé
do Guamá serão abordados na seção 3.
(ii) línguas indígenas, em especial a interferências da língua tembé como se atesta em
várias partes do trabalho de Jucá Acácio (2020) (ver, por exemplo, JUCÁ ACÁCIO,
2020, p. 233).

A seguir, enfocamos aspectos etnolinguísticos da comunidade de fala dos Tembé do


Guamá, objetivando corroborar a proposta de Jucá Acácio (2020: 267-272) de que a variedade
de português falada por esse grupo indígena seja classificada como “português afro-indígena”.

3. Corroborando o conceito de português afro-indígena a partir da comunidade de fala


‘Tembé do Guamá’

Nesta seção, revisitamos o conceito de português afro-indígena, inserindo o português


falado pelos Tembé do Guamá como um exemplar dessa variedade rural de português do Brasil.

3.1 O conceito de português afro-indígena revisitado

Como resultado dos desdobramentos acerca de questões etnolinguísticas apontadas em


Oliveira & Praça (2013) e Praça, Araújo e Oliveira (2013), o conceito de “português afro-
indígena” foi revisitado pela primeira vez em Oliveira et al (2015) e em seguida em Oliveira
(2018). Abaixo, no Quadro 1, a partir desses textos e centradas nos estudos etnolinguísticos de
Jucá Acácio (2020), propomos uma terceira revisitação do conceito de português afro-indígena:

Quadro 1 - O “português afro-indígena” − 3ª. revisitação

O “português afro-indígena” se trata de uma variedade vernacular rural de


português brasileiro língua 1 (L1) falada por comunidades envoltas em miscigenação afro-
indígena e que selecionam politicamente os termos: (i) afro, assumindo serem quilombolas;
(ii) afro, não assumindo serem quilombolas, (iii) indígena. Como exemplar de comunidade
de fala que se auto identifica como “afro” e como quilombola, apontamos a comunidade de
fala de Jurussaca/PA (OLIVEIRA et al, 2015); como exemplar de comunidade de fala que
se auto identifica como “afro”, mas não aceita o rótulo ‘quilombola’, citamos Mazagão
Velho/AP (OLIVEIRA, E., 2015); como exemplar de comunidade de fala que se auto
identifica como “indígena”, acrescentamos, além de Almofala-Tremembé/CE (OLIVEIRA
& PRAÇA, 2013), a comunidade de fala de português dos Tembé do Guamá (JUCÁ
ACÁCIO, 2020).
Além da característica de se falar “português L1” nas comunidades de fala de
português afro-indígena, observam-se ainda outras duas características nessas áreas
etnolinguísticas que são: (i) as festas de sincretismo religioso, que, segundo Oliveira & Praça
(2013), são festas com fortes marcas cristãs-católicas ligadas ao Brasil Colônia escravocrata;
(ii) linguagens cerimoniais, que podem apresentar palavras do português quinhentista,
palavras do latim, palavras do português moderno, palavras de línguas africanas, palavras
de línguas indígenas (PRAÇA, ARAUJO & OLIVEIRA, 2013):
(i) Festas de sincretismo religioso que se subdividem em subtipos até então
definidos como: (i.a) subtipo “ladainhas” como se atesta em “Jurussaca”/PA
(ver CECIM, 2014); (i.b) subtipo “batuque e marabaixo” como se atesta em
Mazagão Velho/PA (ver Oliveira, E., 2015); (i.c.) subtipo “torém/torén”
como se observa em “Almofala/Tremembé” (ver OLIVEIRA & PRAÇA,
2013); (i.d.) subtipo “ritual Wyra’u-how” como se dá entre os Tembés do
Guamá (ver MIRANDA & RODRIGUES, 2015).
(ii) Linguagens cerimoniais como as ladainhas, a música cantada na dança do
torém/torén, os “ladrões” no marabaixo e as palavras ritualísticas da festa
“wyra’u-how”.
A variedade de português afro-indígena compartilha com as variedades de
português afro-brasileira (LUCCHESI, BAXTER & RIBEIRO, 2009) e indígena
(FERREIRA, AMADO & PROTTI, 2014) a característica de se localizarem no extremo [+
Marcado] de uma proposta de continuum de variedades brasileiras de português − ver
Campos (2014:182), Mattos (2019: 33), quadro 2 neste trabalho; no entanto, o português
afro-indígena difere da variedade indígena, por esta ter, por definição, o português como
segunda língua (L2). O português afro-indígena se difere também da variedade de português
chamada de afro-brasileira porque, na definição desta variedade, não se contempla o traço
de miscigenação indígena.

Fonte: elaborado pelas autoras; adaptado de Oliveira et al (2015) e Oliveira (2018).

Importante ressaltar que, apresentamos o português afro-indígena no Quadro 1 pelo


termo genérico “variedade”, evitando o uso da palavra “dialeto”. Como apontado por Fasold
(2005: 697), em textos da literatura especializada em Linguística Geral e em Sociolinguística,
verifica-se que os conceitos de “língua” e de “dialeto” não são noções exclusivamente
linguísticas, mas envolvem fatores sociais e políticos. Porém, alguns textos de Sociolinguística
apontam que, de maneira bem limitada e em um dado continuum, o termo “dialeto” refere-se a
uma cadeia de falas similares e de inteligibilidade mútua enquanto “variedade” são os falares
colocados nos extremos desses continuum e sem inteligibilidade mútua (DEUMERT,2011, p.
261). Assim, assumimos o termo “variedade de português” como falares brasileiros que se
encontram [± distantes] da variedade padrão de português do Brasil − ver Quadro 2 abaixo.
Embora o termo “variedade” também envolva fatores sociais e políticos, corroboramos que seja
um termo sociolinguístico que abarca o contato linguístico;6 não nos comprometemos, no

6
Segundo Mattos & Oliveira (2020: 1), o termo “variedades” pode se referir a comunidades de fala de português
em geral, a comunidades de fala com relações genealógicas com o português ou baseadas em contato com o
português como um conjunto de línguas crioulas.
entanto, com a questão de “inteligibilidade mútua” ao nos referirmos a “variedades de
português” em um dado continuum.
Como se observa no Quadro 1, uma característica importante das variedades de fala de
português afro-indígena é que o português falado nessas áreas linguísticas é “português L1”, ou
seja, o português é língua materna. Chamamos a atenção para esta característica, pois, em
algumas áreas de fala afro-indígena, a comunidade pode ter até perdido completamente a
memória de sua língua de ancestralidade, como é o caso da comunidade indígena de Almofala-
Tremembé/CE (SERAINE, 1955; OLIVEIRA & PRAÇA, 2013). Outras comunidades, embora
se considerem remanescentes de povos de fala africana, não mencionam terem falado outra
língua a não ser o português, como é o caso dos quilombolas de Jurussaca/PA (CAMPOS,
2014). Em comunidades como a dos Tembé do Guamá, o português é língua 1 (L1); embora
um pequeno conjunto de pessoas mais idosas ainda fale o tembé-tenetehar, essa língua indígena
não é mais a língua de comunicação do povo Tembé do Guamá, que reside em Santa Luzia do
Pará. Segundo o Quadro 1, é importante ainda afirmar que o conceito de português afro-
indígena é uma caracterização sócio-histórico-linguística que não está atrelada a questões de
auto identificação das comunidades que arrolamos como exemplares desse tipo de variedade
rural de português. No caso dos Tembé do Guamá, por exemplo, sua auto identificação é
indígena.

3.2. Os Tembé do Guamá: um exemplar de português afro-indígena

Neste trabalho, corroboramos a proposta de Jucá Acácio (2020: 267-272): o português


falado pelos Tembé do Guamá, que se encontram no município de Santa Luzia do Pará, é um
exemplar do português afro-indígena. Essa variedade de português pode ser enquadrada como
parte do conjunto de variedades brasileiras de português rural que estão mais distantes da norma
brasileira como se observa no Quadro 2 abaixo:

Quadro 2: A variedade de português afro-indígena dos Tembé do Guamá no continuum


de variedades de português do Brasil

Variedades Rurais de Variedades Regionais e Urbanas


Português do Brasil de Português
Brasileiro

Menos normatizadas Mais Normatizadas

Português Afro-Brasileiro Português Brasileiro


Português Indígena Padrão
Português Afro-Indígena

Português dos Tembés


do Guamá

Fonte: elaborado pelas autoras − adaptação de Mattos (2019: 33); o título é nosso.

Como se apresenta no Quadro 2, ressaltamos a existência de variedades de português do


Brasil mais/menos distantes da norma brasileira. A variedade de português afro-indígena (assim
como as variedades de português afro-brasileiras e indígenas) é mais distante da norma
brasileira. Assim, ainda sobre o Quadro 2, é preciso dizer que assumimos a definição da língua
portuguesa como uma língua pluricêntrica no sentido de Stewart (1968): o português é uma
língua que atesta diferentes normas que existem simultaneamente (STEWART, 1968, p. 534).
A variedade padrão de português de Portugal (ver RAPOSO et al, 2013)7 e a variedade padrão
de português do Brasil (ver CASTILHO, 2015)8 atestam normas distintas e têm alto prestígio
dentro de suas limitações territoriais. Há, no entanto, distintas variedades que se aproximam ou
se afastam da norma do português do Brasil ou do português de Portugal; no Quadro 2,
apresentamos um conjunto de variedades rurais que atestam fenômenos linguísticos distantes
da norma do português do Brasil (“português brasileiro padrão”).9
Ao final da seção 2, apontamos que o português falado pelos Tembé do Guamá no
município de Santa Luzia do Pará é resultado de processo praticamente consolidado de
language shift da língua tembé para o português. Importante ressaltar que o português falado
pelos Tembé do Guamá é uma variedade de português inserida em contato linguístico; Jucá
Acácio (2020: 107-109), após ter apresentado questões ligadas ao plurilinguismo de “macro
ancestralidade indígena” no Pará, aborda acerca da “macro ancestralidade africana” na região
amazônica e em especial na região do Pará.10
Os contatos interétnicos e linguísticos dos Tembé do Guamá com outros grupos são bem
conhecidos. Citando Salles ([1931] 2004: 33-54) e Freire (2011: 212-216), Jucá Acácio (2020:
108) atesta que, no processo de ocupação do Alto Rio Guamá no nordeste paraense, observa-
se, desde o século XVIII, a presença de negros, de colonos nordestinos, de caboclos paraenses
e de vários grupos indígenas na região. Assim, em termos sócio-históricos e etnolinguísticos,
essa área amazônica pode ser considerada afro-indígena.
Em especial, sobre o contato dos Tembé do Guamá com “quilombolas”, Jucá Acácio
(2020: 109) afirma que a presença de negros no nordeste paraense já era atestada na segunda
metade do século XIX e a comunidade ‘Narcisa’ é prova desse contato próximo entre indígenas
e quilombolas na macro área dos Tembé do Guamá.
A comunidade ‘Narcisa’ está localizada na Vila de Capitão Poço, no nordeste paraense,
em um perímetro limítrofe às aldeias dos Tembé do Guamá; os negros dessa comunidade
participaram ativamente do processo de ocupação e desenvolvimento da região do rio Guamá
juntamente com os Tembé, mas nem sempre aparecem nas narrativas locais, nem na literatura
sobre o processo de ocupação da região.

Conforme Sodré (2015: 145), o contato de negros com indígenas observa-se na relação entre os
remanescentes quilombolas de Narcisa e os indígenas tembé do Guamá, em razão das relações entre
índios e quilombolas que foram sendo amenizadas com o passar do tempo, abrindo espaço (sic)

7
Em Portugal, a variedade de português falada em áreas urbanas de Lisboa e de Coimbra são referidas como
“português padrão” − Raposo (2013: 401–428).
8
No Brasil, como resultado do Projeto NURC (Norma Urbana Culta) que foi criado nos anos 70 (ver SILVA,
1996), surgem gramáticas que objetivam publicar acerca do “português culto brasileiro”. Uma das referências que
apontamos é Castilho (2015), texto que introduz o primeiro volume da republicação (revista) da Gramática do
Português Culto Falado no Brasil.
9
Para detalhes sobre o português como língua pluricêntrica, ver Baxter (1992).
10
Sobre macro ancestralidades indígenas e africanas, Jucá Acácio (2020: 107) baseia-se em Oliveira, Zanoli &
Módolo (2019: 319).
alianças matrimoniais estabelecidas entre os dois grupos étnicos. Segundo a autora (op. cit. p. 145)
(sic) são observadas uniões conjugais em várias gerações entre os negros de Narcisa e os índios da
etnia Tembé, localizados na Reserva Indígena Alto Rio Guamá [...] (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 112).

Jucá Acácio (2020: 270), citando Luz (2013) que disserta sobre as aldeias Frasqueira e
Itaputyre da TIARG, enfatiza o forte traço de miscigenação afro-indígena dos Tembé do
Guamá:
Os índios das aldeias Frasqueira e Itaputyre apresentam uma aparência física muito peculiar, cujas
características denotam o processo de miscigenação que caracterizou a sociedade brasileira. O traço mais
marcante, no entanto, parece ser de indivíduos de descendência afro-indígena, devido os intensos contatos
que estes tiveram com as populações de negros do Maranhão, que há algumas décadas passadas contraíram
matrimônio com os índios tembé, resultando numa população com características multiétnicas, apesar de
se reconhecerem como descendentes das tradições e da ancestralidade do povo tembé-tenetehara. (LUZ,
2013: 48; o grifo é nosso.)

Assim, corroboramos o enquadramento dos Tembé do Guamá do município de Santa Luzia do


Pará como uma comunidade afro-indígena que se auto identifica como uma comunidade
indígena de ancestralidade tembé-tenetehar (JUCÁ ACÁCIO, 2020: 271).
Com relação às festas de sincretismo religioso que são festas com fortes marcas cristãs-
católicas ligadas ao Brasil Colônia escravocrata e que são uma das características de áreas
etnolinguísticas afro-indígenas (ver Quadro 1), Jucá Acácio (2020) atesta a forte influência do
catolicismo na região dos Tembé do Guamá:

Segundo relatos da auxiliar linguística ATB, quanto às festas de sincretismo religioso, atestam-se nas
aldeias do Guamá festas que comprovam sincretismo religioso, a exemplo das festas: (i) São Pedro que
acontece no mês de setembro na aldeia São Pedro; ii) o Círio de Nossa Senhora de Nazaré que ocorre no
mês de novembro na aldeia Sede; iii) Procissão da Via Sacra que acontece na época da Semana Santa,
momento em que são realizadas rezas nas casas dos indígenas; (iv) Festa de São Raimundo Nonato (santo
preto cultuado no catolicismo). Essa última também é encontrada no quilombo de Narcisa. (JUCÁ
ACÁCIO, 2020, p. 271).

Essas festas de sincretismo religioso atestadas na área dos Tembé do Guamá possivelmente se
devem aos intensos contatos que os Tembé tiveram com populações negras ainda na atual área
do Maranhão quando, junto aos Guajajara, formavam (antes de sua fusão como dois povos no
século XX) uma única nação (Tenetehar). Cunha & Araujo (2011) dissertam acerca das
comunidades quilombolas no Maranhão e sua relação sincrética com o catolicismo:

Ao contrário dos grupos cujo primeiro contacto com o cristianismo ocorreu através de missões, como os
grupos indígenas brasileiros, as comunidades quilombolas possuem uma relação com o catolicismo que,
muitas vezes, teve início em África (se pensarmos nos chamados Bantos que travam contacto com o
catolicismo português por volta do século xv, antes mesmo da “descoberta” do Brasil, e posterior tráfico
escravista para o Novo Mundo [...] o que faz com que o modo como reelaboram as práticas cristãs seja
específico. (CUNHA & ARAUJO, 2011, p. 330).

Atreladas às festas de sincretismo religioso nas áreas afro-indígenas, estão as “línguas


cerimoniais” (ver Quadro 1); Oliveira & Praça (2013) afirmam que uma das características de
comunidades afro-indígenas é atestarem essas “línguas”. Assim, as línguas cerimoniais
integram a ‘tradição oral’ das comunidades afro-indígenas e têm como característica
fundamental uma língua marcada por ritmo.11 Oliveira & Praça (2013), citando Calvet (2006),
afirmam que os textos orais são marcados “[...] por uma pontuação ritmada que facilita para o
intérprete a memorização e para o público a compreensão [...]”. (CALVET, 2006, p. 41). Como
já apontado, várias comunidades afro-indígenas, que têm o português como L1, perderam por
completo a memória de sua língua de ancestralidade; as línguas cerimonias, têm, portanto, o
papel importante de vincular a comunidade a seus vínculos de ancestralidade como é o que
ocorre no rito da dança do “torém” dos Tremembé de Almofala:12

“[...] Desconhecem êles (sic) por completo o idioma de seus antepassados; falam e se expressam em todos
os atos de sua vida como os demais caboclos da região, e as únicas sobrevivências linguísticas que acusam
se encontram nos textos poéticos-musicais do seu folguedo [...]. (SERAINE,1955: 86).

Para Praça, Araujo & Oliveira (2013), as línguas cerimoniais são variedades de “línguas
híbridas” que podem apresentar palavras do português quinhentista, palavras do latim, palavras
do português moderno, palavras de línguas africanas, palavras de línguas indígenas e ainda
serem influenciadas pelo ambiente ecolinguístico da comunidade.
Quanto às linguagens cerimoniais entre os Tembé do Guamá, Jucá Acácio (2020: 271-
272) apresenta uma das mais famosas tradições desse povo: um rito de passagem conhecido
como “wyra’u-how”. Esse rito de passagem se divide em um conjunto de outros, cujo objetivo
é atestar a passagem da infância para a puberdade entre as meninas e meninos das aldeias.13 Em
meios à ritualística que compõe o “wyra’u-how”, atesta-se a língua cerimonial como se observa
no relato de Miranda & Rodrigues (2015), centrado em pesquisa na aldeia Itaputyr na TIARG:

A música é tocada e cantada por um grupo de homens adultos coordenados pelo Pajé juntamente com
o cacique da aldeia e com a participação de outros caciques de diversas aldeias na condição de convidados.
Sentam-se na Ramada formando uma coluna com as mulheres posicionadas atrás, cujo canto se caracteriza
como uma segunda voz. Na mitologia Tenetehara a música ritual resultou de uma troca com o mundo
sobrenatural. (MIRANDA & RODRIGUES, 2015: 40306).

Sobre as festas de sincretismo em comunidades rurais e sua ritualística, que inclui as


línguas cerimoniais, é importante ressaltarmos o trabalho de Oliveira, E. (2015). A autora (op.
cit.), baseando-se em princípios de análise linguística, pensados em termos de estrutura da
língua, propõe que a definição de traços culturais como festas, danças, música e mais
especificamente os cantos orais permitem a caracterização de uma dada área (etno)linguística
(OLIVEIRA, E., 2015, p. 193-194). Dessa forma, apesar de apontar diversidade cultural no
modo como as comunidades rurais do Amapá se expressam, a autora (op. cit.) enfatiza que as
manifestações de batuque e de marabaixo estão presentes em todas essas comunidades rurais,
destacando ainda que o batuque e o marabaixo só ocorrem em áreas amapaenses; Oliveira, E.
(2015: 195) afirma que o batuque e o marabaixo não são atividades culturais atestadas no Estado
vizinho, o Pará, ainda que, historicamente, o Pará e o Amapá tivessem feito parte de uma única

11
“Ritmo pode ser descrito como um movimento coordenado, uma repetição de intervalos musicais regulares ou
irregulares, fortes ou fracos, longos ou breves, presentes na composição musical”. (SANTIAGO, 2021).
12
Para maiores detalhes sobre os Tremembé de Almofala, CE, ver Nascimento (2001).
13
Jucá Acácio (2020: 272) afirma, com relação a um dos elementos ritualísticos da festa conhecido como “Tocaia”
(período em que os adolescentes ficam reclusos por alguns dias), que essa prática se assemelha ao ritual de reclusão
para iniciação nas religiões de matriz africana como no candomblé.
província colonial: a do Grão Pará. Assim, o trabalho de Oliveira, E. (2015) evidencia que
atentar para os “tipos” de festas realizados por uma dada comunidade pode nos permitir traçar
o “ecossistema cultural” de uma determinada área, que pode estar difundido, inclusive, em áreas
geográficas que não estão contidas em um único Estado demarcado geopoliticamente. Esse é o
caso da manifestação cultural chamada de “torém/toré” que marca as relações interétnicas de
indígenas do nordeste brasileiro − De Oliveira (1998: 35-64); Messender (2017: 72); esse é
ainda o caso da festa “wyra’u-how” entre os Tenetehar.
De acordo com Ives-Felix, Nakayama & Barros (2018: 7), consideramos que a festa e a
língua cerimonial que integram os ritos do “wyra’u-how” são laborações etnolinguísticas
vibrantes dos Tenetehar, que englobam não apenas os Tembé do Rio Guamá e os Tembé do
Gurupi, mas também os Guajajara. Segundo os autores (op. cit.):
[...] as fronteiras Tentehar estão bem abertas, o trânsito de pessoas e de saberes é constante, e o Rito de
Iniciação Feminina Tentehar surge ressignificado, com a inclusão de novos elementos de acordo com o
contexto socioeconômico e histórico, a qual o grupo estar (sic) inserido. Consideramos que embora o povo
Tentehar e sua cultura se situem em um contexto fronteiriço, fluído e hibridizado, as linhas demarcatórias
entre eles e os outros estão bem demarcadas e as identidades social e cultural mantidas com certa autonomia
[...] (IVES-FELIX, NAKAYAMA & BARROS (2018: 7).

Assim, os festejos do “wyra’u-how” presentes entre os Tembé do Guamá, que falam


português L1, os auxiliam na manutenção da memória de sua ancestralidade tenetehar: um
ecossistema cultural de matriz indígena singular que se expande e se ressignifica em distintas
áreas dos atuais Estados do Maranhão e do Pará.

4. Apresentando alguns fenômenos linguísticos que corroboram o português falado pelos


Tembé do Guamá como português rural afro-indígena

Jucá Acácio (2020, p. 267), ao propor que a variedade de português falada pelos Tembé
do Guamá esteja inserida no tipo de contato linguístico chamado de “language shift”, advoga
que essa prestigiosa minoria se encontra em um estágio rápido de mudança de língua (do tembé-
tenetehar para o português). Segundo a autora (op. cit.), atesta-se interferência moderada da
língua tembé-tenetehar (a língua de substrato) nessa variedade de português. Jucá Acácio
(2020) atesta ainda outras interferências no português dos Tembé do Guamá.
Sobre o conceito de “interferência”, apresentamos excerto de um texto clássico do contato
linguístico:

O termo interferência implica no rearranjo de certo padrão que é resultado da


introdução de elementos estrangeiros nos domínios mais estruturados de uma língua,
como grandes partes do sistema fonêmico, morfológico e sintático e ainda de algumas
áreas do vocabulário. (WEINREICH ([1953] 1968, p. 1, traduzido).14

Nesta seção, selecionamos alguns dos fenômenos linguísticos do português dos Tembé
do Guamá descritos e analisados por Jucá Acácio (2020, p. 197-265). Nosso objetivo é enfatizar
o contato linguístico nessa área de fala de português, corroborando o português falado pelos
Tembé do Guamá residentes em Santa Luzia do Pará, como um tipo de português rural afro-

14“The term interference implies the rearrangement of pattern that result from the introduction of foreign elements
into the more highly structured domains of language, such as the bulk of the phonemic system, a large part of
morphology and syntax, and some areas of the vocabulary […]”. Weinreich ([1953] 1968: 1).
indígena; evidenciamos, portanto: (i) o contato da língua portuguesa com a língua tenetehar,
destacando um tipo de interferência da língua tenetehar atestado no sistema fonológico do
português dos Tembé do Guamá; (ii) o contato do povo Tembé com escravizados africanos,
apresentando interferência lexical da língua kikongo no português dos Tembé do Guamá; (iii)
o contato desse grupo com o português, possivelmente desde o Brasil colônia, ressaltando
palavras do português arcaico na variedade; (iv) apresentamos ainda a estreita ligação do
português dessa área indígena com o português rural do entorno.

4.1. “Interferência” da língua tenetehar no sistema fonológico do português dos Tembé


do Guamá

Jucá Acácio (2020, p. 227, 228) apresenta possíveis casos de interferência da língua
tembé-tenetehar no português dos Tembé do Guamá; no entanto, nesta subseção, evidenciamos
a interferência do tembé-tenetehar em um padrão silábico do português afro-indígena dos
Tembé do Guamá.
Jucá Acácio (2020, p. 231-232) atesta uma restrição do padrão silábico CVC15 quando a
última consoante deste padrão é preenchida pelo fonema rótico /x/. A autora (op. cit.) observa
que o rótico na posição silábica de coda no padrão CVC é pronunciado pelo fonema /x/ em
variedades de português faladas no Pará; é este fonema, nessa posição específica do padrão
silábico CVC, que os falantes de português Tembé do Guamá evitam pronunciar por
interferência do quadro fonológico do tembé-tenetehar nessa variedade de português. Em Jucá
Acácio (2020, p. 2010-2011), observa-se que o sistema fonológico da língua tembé-tenetehar
não atesta o fonema /x/.16
No excerto abaixo, exemplifica-se a restrição do padrão silábico CVC no português
Tembé do Guamá quando a última consoante do padrão é o fonema rótico /x/; observe que a
restrição se dá em todas as posições desse padrão silábico na palavra:

• Restrição do padrão CVC com rótico /x/ na coda em posição inicial da palavra:
Ex.: (1) protuguês /pɾotugueꭍ/ < português [pox.tu.ˈgues]

• Restrição do padrão CVC com rótico /x/ na coda em posição medial na palavra como em:
Ex.: (2) embagando /eNbagaNdu/ < embargando [ẽ.bax.gã.du]

• Restrição do padrão CVC com rótico /x/ na coda em posição final de palavra como em:
Ex.: (3) entende /iNteNde/ < entender [ĩ.tẽ.dex]
(JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 232, dados renumerados; o negrito é nosso)

Observa-se que, no exemplo (1), o rótico /x/ na posição final da primeira sílaba CVC da
palavra “português” [pox.tu.ˈgues] não é pronunciado pelos falantes do Tembé do Guamá que
fazem uma transposição desse rótico para dentro da mesma sílaba; esse fenômeno de
transposição de um dado som em uma mesma sílaba é conhecido como “metátese”:17 protuguês
/pɾotugueꭍ/. Da mesma forma, no exemplo (2), o rótico /x/ na posição final da sílaba medial

15
C(onsoante)V(ogal)C(onsoante).
16
O quadro fonológico das consoantes e vogais do tembé-tenetehar apresentado em Jucá Acácio (2020: 210-211)
é baseado em Duarte (2007: 26).
17
Ver Jucá Acácio (2020: 231, nota 73).
CVC da palavra “embargando” [ẽ.bax.gã.du] também não é pronunciado. Em (2), os falantes
optam por apagar o fonema rótico /x/, pronunciando a palavra como: “embagando”
/eNbagaNdu/; ocorre uma mudança da estrutura silábica nesse caso: de sílaba CVC para CV.
O rótico /x/ em posição final de sílaba CVC em final de palavra também não é pronunciado
como se observa no vocábulo “entender” [ĩ.tẽ.dex] em (3) que é pronunciado como: “entende”
/iNteNde/; nesse exemplo também se atesta uma mudança de estrutura silábica CVC para CV.
A descrição e análise da restrição do padrão silábico CVC no português Tembé do Guamá
quando a última consoante do padrão é o fonema rótico /x/ (observada por JUCÁ ACÁCIO,
2020) é ancorada por um conjunto de palavras pronunciadas por diferentes auxiliares
linguísticos moradores das seis aldeias pesquisadas da TIARG, o que perfaz 100% da área
geolinguística pesquisada.18
Ressaltamos que a restrição apontada no excerto acima no português dos Tembé do
Guamá não está diretamente ligada ao padrão silábico CVC da língua tembé-tenetehar − nessa
língua, esse padrão silábico é atestado − nem a esse mesmo padrão no português e na variedade
de português falada pelos Tembé do Guamá, que também atestam o padrão CVC. Essa restrição
no sistema fonológico dessa variedade de português afro-indígena se deve ao fonema rótico /x/
na posição de coda do padrão CVC por interferência da língua tembé-tenetehar que não atesta
o rótico /x/. (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 233).

4.2. “Interferência” da língua africana kikongo na área lexical do português dos Tembé
do Guamá

Como já apontado na subseção (3.2), o contato dos Tembé com escravizados africanos
e seus descendentes já ocorria na área do Maranhão e antes da separação dos Tenetehar em dois
povos: os Guajajara e os Tembé. A área do atual Maranhão − que no século XVII pertencia a
uma área geopolítica denominada de Grão-Pará (ver nota 2) − é uma área de contato afro-
indígena como se atesta em vários textos (ver MIRANDA, 2018, p. 156, entre outros).
Como em outras áreas brasileiras, é difícil se apontar com certeza a proveniência dos
escravizados exportados para o Brasil e, no caso específico, para o “Grão-Pará”; no entanto,
segundo Bonvini (2008a: 30), a área austral africana limitada à costa oeste da África19 e só mais
tarde estendendo-se à costa leste (representada pelo atual Moçambique), representa as línguas
mais faladas no Brasil escravocrata e pelo maior número de escravizados. Ainda, segundo
Bonvini (2008a: 30-31), essa área é conhecida como a área das línguas do subgrupo banto que,
embora numéricas, são línguas tipologicamente homogêneas. Entre as línguas bantas trazidas
para o Brasil, e para o Grão-Pará, está o kikongo, uma língua do grupo banto congo, H. 10

18
Jucá Acácio (2020), dissertando sobre o português falado pelos Tembé do Guamá, que chama de PVTG
(português vernacular dos Tembés do Guamá), afirma o seguinte: “[...] os auxiliares linguísticos que produziram
os exemplos [...] atestam a faixa etária dos jovens (2 do sexo masculino e 5 do sexo feminino), adultos (3 do sexo
masculino e 1 do sexo feminino) e dos (sic) 2 idosas (do sexo feminino) o que corrobora ainda mais a hipótese de
que há uma restrição do padrão silábico CVC no PVTG quando a coda nesse padrão é o fonema rótico /x/.” (JUCÁ
ACÁCIO, 2020: 234).
19
A área austral africana limitada à costa oeste africana é representada atualmente pelos países: Congo, República
Democrática do Congo e Angola − Bonvini (2008a: 30).
(BONVINI, 2008a, p. 30). Jucá Acácio (2020) atesta 4 palavras do kikongo no português falado
pelos Tembé do Guamá que apontamos no Quadro 3 abaixo:

Quadro 3: interferência lexical do kikongo no português falado pelos Tembé do Guamá

Ex.: (4) *MPTB: “Essa uma tá jita, pega outra pra ela”.
Ex.: (5) *RCTB: “Essa tua roupa tá jikita”.
Ex.: (6) *GJRTB: “Sai do sol mais essa cangula, menino”.
Ex.: (7) *RSTB: “Naquele tempo, os kupê num entravo nas nossas terra”.

Fonte: elaborado pelas autoras; adaptado de Jucá Acácio (2020: 253; quadro 19, exemplos
renumerados).

Jucá Acácio (2020: 255), baseando-se em Schuveter (2010: n.p), afirma que jita (4) em
kikongo significa “reverenciar”, “honrar”. Jucá Acácio (op cit) informa, no entanto, que o
significado de jita em português dos Tembé do Guamá é distinto do significado em kikongo,
pois refere-se a uma adjetivação: “pequena”, “miúda”.
Quanto à palavra jikita (5), seguindo também Schuveter (2010: n.p), Jucá Acácio (2020:
255) aponta o significado dessa palavra em kikongo: “fazer as tranças”, afirmando que, em
português dos Tembé do Guamá, jikita significa “justa”, “apertada”; assim, o significado de
jikita no português dos Tembé do Guamá tem relação com o campo semântico de jikita em
kikongo: “trança” relaciona-se a “apertada”.
O termo cangula (6), dicionarizado como kangula em kikongo (SCHUVETER, 2010:
n.p), significa “desfazer”, “desprender” nessa língua angolana; em português dos Tembé do
Guamá, cangula significa “pipa” (“papagaio”). Nota-se, portanto, que o significado de cangula
em português dos Tembé do Guamá também se aproxima do significado da palavra em kikongo:
“pipa” liga-se ao campo semântico de “desprender” (o significado de cangula em kikongo).
A palavra kupê (7) está dicionarizada em kikongo − segundo Jucá Acácio (op cit), que
segue Schuveter (2010: n.p) − como “calção”, “calça curta”; em português dos Tembé do
Guamá, kupê significa “não indígena” ou “pessoa branca”. Assim o significado de kupê no
português dos Tembé do Guamá pode estar ligado ao do kikongo pelo fato dos indígenas
poderem ter associado a vestimenta “calção” a pessoas não indígenas. Essa vestimenta
possivelmente não era usada pelos indígenas à época que a palavra kupê passou a ser usada
pelos Tembé. Quanto a kupê é importante ainda ressaltar que essa palavra: “[...] extrapola a
variedade de português falada pelos Tembé do rio Guamá [...].” (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p.
254). Segundo a pesquisadora (op cit), kupê é uma palavra falada entre outras etnias indígenas.
Na variedade de português falada pelo povo Gavião Parkatejê e Kyikatejê, o termo kupê é
pronunciado como kupẽ, também com o significado de ‘não indígena’ ou ‘branco.’” (JUCÁ
ACÁCIO, op cit).
Os termos em kikongo atestados no português dos Tembé do Guamá (Quadro 3) foram
identificados no corpus da pesquisa de Mara Jucá Acácio em gravações de fala produzidas por
indígenas pertencentes a duas das seis aldeias representadas na investigação. Segundo Jucá
Acácio (2020: 254): “A faixa etária dos falantes que produziram esses dados insere-se entre
dois jovens (do sexo feminino) e dois idosos (1 do sexo masculino e 1 do sexo feminino).”
Com relação aos vocábulos da língua kikongo atestados no português dos Tembé do
Guamá e descritos acima, achamos pertinentes destacar as palavras de Bonvini (2008b):
[...] no português falado hoje no Brasil, os vocábulos emprestados das línguas
africanas, pelo menos aqueles cujo empréstimo é mais antigo, foram submetidos a um
profundo remanejamento tanto no plano formal quanto no plano semântico. [...]
No plano semântico, a configuração semântica (semema) do empréstimo foi
submetida conjuntamente a dois fenômenos somente na aparência contraditórios, pois
na realidade são complementares: de um lado, certa perda em relação à semântica de
partida, de outro, uma reestruturação em profundidade, que geralmente chegou a um
enriquecimento real, tanto no nível do próprio semema quanto no das formas
derivadas. O que é atestado hoje no Brasil não é mais a realidade semântica africana
de partida, mas uma semântica nova, específica ao Brasil, e por isso “brasileira”.
Trata-se, além de tudo, de uma semântica evolutiva e inovadora ao mesmo tempo.
(BONVINI, 2008b, p. 142-143).

Em Jucá Acácio (2020), não se apresenta uma discussão maior acerca das quatro
palavras da língua kikongo atestadas no português dos Tembé do Guamá (Quadro 3) e esses
vocábulos merecem, de fato, uma maior investigação. Chamamos a atenção do leitor, ao final
desta subseção, para uma questão: os vocábulos do kikongo apresentados no Quadro 3 como
parte do vocabulário dos Tembé do Guamá não são atestados em levantamento de vocábulos
de origem africana no português brasileiro (PB) registrado por estudiosos dos séculos XIX e
XX; Alkmim & Petter (2008) apresentam um panorama do registro desses vocábulos. As
autoras (op cit) apresentam ainda um corpus lexical que foi organizado por elas a partir de uma
pesquisa do uso atual dos termos de origem africana no PB com fins de comparação com os
registros anteriores de vários estudiosos. O que nos intriga neste trabalho, centradas em Alkmim
& Petter (op cit), é que as quatro palavras da língua kikongo atestadas no português dos Tembé
do Guamá (Quadro 3) não estão arroladas no levantamento de palavras africanas no PB
realizado por estudiosos dos séculos XIX e XX; tampouco essas quatro palavras da língua
kikongo atestadas no português dos Tembé do Guamá estão inseridas no corpus lexical do uso
atual dos termos de origem africana no PB, apresentados por Alkmim & Petter (2008). Assim,
essas palavras africanas (Quadro 3) presentes no português dos Tembé do Guamá precisam de
maior investigação.

4.3. “Interferência” do português arcaico na área lexical do português dos Tembé do


Guamá

A história dos povos indígenas brasileiros − logo, a história dos Tembé do Guamá − está
ligada a contatos linguísticos com distintas línguas indígenas e africanas e também com línguas
europeias; a língua portuguesa é parte desse contexto plurilinguístico desde o período da
colonização. Jucá Acácio (2020, p. 251-252) apresenta interferência lexical do português
arcaico no português falado pelos Tembé do Guamá como se observa no Quadro a seguir:
Quadro 4: interferência lexical do português arcaico no português falado pelos Tembé do Guamá

Ex.: (8) *MPTB: “Eles num acredita mais na erva, dá uma dor, corre pá butica (botica)
Ex.: (9) *RSTB: “A gente ficou só bispando pra vê se a onça já tinha ido”.
Ex.: (10) *RSTB: “Perto do igarapé havia uma fronquera (tronqueira) grande.

Fonte: elaborado pelas autoras; adaptado de Jucá Acácio (2020: 251; quadro 18, dados renumerados).
Jucá Acácio (2020, p. 251) − que se apoia em Nascentes [1966] (2011) − descreve acerca dos
termos do português arcaico apresentados no Quadro 4. A palavra butica (botica) (8) é um
termo do português antigo, atestado entre alguns idosos Tembé Guamá com o significado de
“farmácia”. Bispando (bispar) (9) está relacionado ao temo “bispo”: aquele que vigia (suas
ovelhas). A palavra fronquera (tronqueira) (10) está dicionarizada como “passagem estreita na
estrada ordinária onde ficam os madeiros laterais de uma cancela”. Os Tembé do Guamá usam
o termo para se referir a uma reentrância de um tronco de árvore muito grande − como a da
árvore amazônica samaumeira − que é usada como proteção do sol e da chuva.20 (JUCÁ
ACÁCIO, 2020, p. 251-252).
Em Jucá Acácio (2020), não se apresenta uma discussão elaborada sobre os termos
destacados no Quadro 4. Como apontamos na subseção acima, pensamos ser necessário que se
amplie o estudo sobre essas palavras; seria importante, por exemplo, uma pesquisa maior a fim
de melhor se especificar o que a pesquisadora chama de “português arcaico”.

4.4. “Interferência” do português rural do entorno no português dos Tembé do Guamá

No processo de ocupação do Alto Rio Guamá, os Tembé atestam ligações com colonos
nordestinos, com caboclos paraenses, com quilombolas que saíram do Maranhão e também se
estabeleceram na região do Alto Rio Guamá. Assim, Jucá Acácio (2020, p. 207, 210, 26, 217,
255), ao descrever e analisar fenômenos linguísticos do português falado pelos Tembé do
Guamá, aponta interferências de variedades de português do entorno, além de ressaltar
fenômenos que são bem atestados em variedades diversas de português faladas no Brasil. Nesta
subseção, no entanto, chamamos a atenção para dois fenômenos linguísticos evidenciados em
áreas do entorno do português falado pelos Tembé do Guamá: (i) o alteamento de vogais e (ii)
as proformas pronominais esse um/ essa uma/ aquela uma.

• Alteamento de vogais

Observe exemplos de alteamento das vogais posteriores em posição de sílaba tônica no


português falado pelos Tembé do Guamá no trecho a seguir:

(i) Elevação da vogal média-alta /o/ que, em posição pretônica, se realiza como vogal alta
/u/, em ambiente nasal, como no exemplo:

Ex.: (11) apuntá /apuN’ta/ > apontar [a.põʊ.tax]

(ii) Elevação da vogal média-alta /o/ que, em posição de sílaba tônica, se realiza como vogal
alta /u/, em ambiente nasal, como nos exemplos:

Ex.: (12) canua /ka’nʊa/ < canoa [ka’noa]

(JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 216, 217, dados renumerados.)

Jucá Acácio (2020, p. 217), ancorando-se na literatura especializada, observa que o


alteamento de vogais posteriores em posição tônica é uma marca dialetal do português regional

20
Ver imagem de uma samaumeira em Jucá Acácio (2020, p. 251).
paraense; no caso de vogais pretônicas, como exemplificado em (11), a elevação pode ou não
se dar nas variedades paraenses.

• Proformas pronominais esse um/ essa uma/ aquela uma

Campos & Do Valle (2018), em trabalho centrado na área quilombola afro-indígena de


Jurussaca no Pará, apresentam as proformas pronominais esse um/ essa uma/ aquela uma,
evidenciando aspecto bastante interessante sobre o comportamento morfossintático dessas
expressões que descrevem e analisam como categorias pronominais.21 Segundo os autores (op.
cit.), referindo-se a essas proformas pronominais:

Seu emprego na variedade de Jurussaca é bastante intrigante pelo comportamento


sintático híbrido que parecem apresentar e, nesse sentido, podem tanto ser categorias
livres como as expressões referenciais, ou pronominais com as propriedades de
correferência. [...] (CAMPOS; DO VALLE, 2018, p. 252).

Assim, segundo Campos & Do Valle (2018), em muitas ocorrências, essas proformas
pronominais são itens lexicais livres, cuja referência ou antecedente não é local “[...] mas ora
apresentam propriedades pragmáticas que apontam para o discurso, fora do escopo da sentença;
ora são elementos dêiticos cuja referência remete à situação a qual o enunciado é produzido.”
(CAMPOS; DO VALLE, 2018, p. 252). Os autores apresentam alguns exemplos dessas
proformas como itens lexicais livres atestados na comunidade quilombola de Jurussaca:

(14) a. DOC. Tem uma senhora que é mais velha que vocês, a Dona Vicência, né?
b. INF. Ela mora lá em Tracuateua, mas eu acho que essa uma é que num conta mais nada. . . porque
ela tá muito velhinha já...
(15) a. DOC. Essa casa é do projeto do INCRA? Tem uma que tá bem bonita, atrás da casa do Genilson...
b. INF . ...pois olha... aquela uma, eles fizeru esta uma, não... ele agarrou mandou aumentar
tudinho.... [...]
(16) ... essas casa são das primeira, o valor de sete mil que veio... essas uma agora que nós tamo construindo
agora é o valor de quinze mil o projeto dela.
(CAMPOS; DO VALLE, 2018, p. 250).

Campos & Do Valle (2018) apresentam também exemplos que evidenciam que as
proformas citadas, apreendidas na Jurussaca/PA, atestam propriedades correfenciais. Abaixo,
destacamos um deles:

(19) Nós conseguimo (o documento) porque a gente descobrimu que nós tinha sangue de quilombo, porque
as três pessoa que se colocaru aqui (...). Foi [dos pessoal]i que chegaru no Maranhão, de lá [esses um]i
partiru pra cá. (CAMPOS; DO VALLE, 2018, p. 252).

Nas considerações finais de seu estudo, os autores (op. cit.) afirmam:

21
“Tais expressões têm as mesmas funções das proformas pronominais dêiticas e/ou referenciais de terceira
pessoa. Assim, pautamos nosso estudo em Déchaine & Wiltchko (2002) que propõem uma tipologia bastante
abrangente para as proformas pronominais, a partir de três diferentes ‘comportamentos’ sintáticos: pro-DP, pro-
FP e pro-NP. As autoras defendem que pro-DPs são sempre argumentais, pro-FPs são argumentais e/ou
predicacionais e pro-NPs funcionam unicamente como predicados. Desse modo, as proformas que ocorrem na
variedade de Jurussaca parecem, também, apresentar uma simetria sintática com a proforma one, do inglês,
analisada por Déchaine & Wiltchko (2002)”. (CAMPOS; DO VALLE, 2018, p. 239-240).
No tocante ao quadro pronominal do português brasileiro, as proformas mencionadas
trazem também um aspecto interessante, pois, ao mesmo tempo que o PB perde o
clítico pronominal de 3ª pessoa (o, a), a variedade de Jurussaca parece criar proformas
com características sintáticas similares (às clíticas de 3ª ps.) e enriquecem a coluna
Forma Oblíqua do quadro gramatical, fazendo um paralelo com a tese da inexistência
de clítico de terceira pessoa na gramática do PB (cf. Galves 2001: 126). Vale ressaltar
que o estudo aqui apresentado ainda é bastante incipiente e carece de um maior
aprofundamento que possa lançar mais luzes sobre o comportamento pragmático e
morfossintático dessas proformas pronominais presentes nessa variedade de
português. (CAMPOS; DO VALLE, 2018, p. 252).

Jucá Acácio (2020, p. 245) apresenta dados do português falado pelos Tembé do Guamá
em que atesta as proformas pronominais descritas e analisadas por Campos & Do Vale (2018)
como itens lexicais livres. A seguir, apresentamos exemplos:

Ex.: (13) *RCTB “Aquele um é seu marido?” “Ele/Aquele é seu marido?”

Ex.: (14) *RRSTB: “Aquela uma é minha filha”. “Ela/aquela é minha filha”.

Ex.: (15) *NSSTB: “Essa uma ficou de dar um refrigerante”. “Ela/essa ficou de dar um refrigerante”.

(JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 245, dados renumerados.)

Jucá Acácio (2020), não apresenta exemplos dessas proformas pronominais com propriedades
correferênciais no português falado pelos Tembé do Guamá. No entanto, maiores investigações
em dados do português falado nessa área afro-indígena podem evidenciar alguns exemplos.

Assim, ao final desta seção, ressaltamos que o português falado pelos Tembé do Guamá
residentes em Santa Luzia do Pará é resultado de contato linguístico; fenômenos linguísticos
atestados nessa variedade de português nos auxiliaram a corroborar que esta área de fala atesta
um tipo de português rural afro-indígena, evidenciado pelo:

(i) contato da língua portuguesa com a língua tenetehar;


(ii) contato do povo Tembé com escravizados africanos;
(iii) contato desse grupo indígena com o português, possivelmente desde o Brasil
colônia.
Objetivamos evidenciar, ainda, que o português afro-indígena falado pelos Tembé do Guamá
apresenta estreita ligação com o português rural do entorno.

5. Palavras Finais

Nesse trabalho, corroboramos a proposta de Jucá Acácio (2020: 268-269) de que os


Tembé do Guamá, localizados em Santa Luzia do Pará, estão em processo de language shift da
língua tembé-tenetehar para o português, fortalecendo a hipótese de que o português falado por
esse grupo indígena seja uma variedade de português rural afro-indígena. Assim, na seção dois,
após a introdução, apresentamos ao leitor aspectos da história e localização dos Tembé do
Guamá, evidenciando ainda o seu contexto comunicacional. Na seção três, revisitamos o
conceito de português afro-indígena apresentado na literatura especializada, incluindo, a partir
de Jucá Acácio (2020), novos argumentos etnolinguísticos a fim de inserirmos o português dos
Tembé no “tipo afro-indígena”. Na seção 4, também ancoradas em Jucá Acácio (2020),
ressaltamos alguns fenômenos linguísticos do português dos Tembé do Guamá; destacamos
nessa variedade de português: interferência do sistema fonológico da língua tembé-tenetehar;
interferência lexical da língua africana kikongo; interferência de palavras do português arcaico.
Evidenciamos também a estreita ligação do português dessa área indígena com o português
rural do entorno por meio de dois fenômenos linguísticos: alteamento de vogais e expressões
que funcionam como proformas pronominais específicas.
Queremos reforçar as palavras de Jucá (2020) ao final de sua tese:

Penso que a continuidade de estudos sob esse enfoque pode auxiliar a melhor se compreender que os povos
indígenas que mudaram (ou estão mudando) seus falares de uma língua indígena para o português não
perdem de forma alguma sua auto-identidade indígena. Pelo contrário [...] povos como os Tembé do rio
Guamá estão cada vez mais conscientes de sua herança cultural indígena e isso se atesta pelas ações que
vêm empreendendo em prol de recuperarem suas tradições e até mesmo sua língua de ancestralidade.
Falarem português “tembé” é outra grande marca de sua pujança em meio a outras prestigiosas minorias
indígenas do Pará, da Amazônia e do Brasil. (JUCÁ ACÁCIO, 2020, p. 275).

Assim, nas seções acima, ao corroborarmos que o português falado pelos Tembé do Guamá
integre o conjunto de falares de português rural do Brasil chamado de afro-indígena, o fizemos
na certeza de que essa variedade de português é hoje parte de um rico ecossistema cultural que
pode ser chamado de “ecossistema cultural tenetehar”.

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Dados do(s) autor(es)

Mara Sílvia Jucá Acácio possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Pará,
Mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Pará e Doutorado pela Universidade de
São Paulo na área de filologia e língua portuguesa. É professora da Universidade do Estado do
Pará (UEPA) e também pesquisadora do CNPq pelo Grupo de Estudos Indígena na Amazônia
(GEIA), subgrupo de Linguagens Indígenas na Amazônia Ocidental (Programa Saberes
Indígenas na Escola).
Marcia Santos Duarte de Oliveira possui graduação em Letras pela Universidade de
Vassouras (FUSVE/RJ), Mestrado em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB),
Doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP), pós-doutorado na
Universidade de Coimbra (Portugal). É professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo
e também pesquisadora do CNPq (Bolsa de Produtividade de Pesquisa; Modalidade PQ- Nível
2). É coordenadora do “Projeto Libolo” em conjunto com Carlos Figueiredo (Univ. de Macau).

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