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Mba'éicha nde rera?

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Curso Intensivo de Língua e Cultura Guarani (Kaiowá)


para iniciantes e experientes

Sumário
1 – As línguas do grupo guarani .......................................................................................................2
1.1 – As línguas gerais do Brasil e a língua guarani do Paraguai ......................................................... 2
1.2 – As línguas guarani entre as línguas indígenas no Brasil e nos países vizinhos ........................ 2
1.3 – Relação língua e cultura .................................................................................................................. 6
2 – Introdução à estrutura das línguas guarani ...............................................................................8
2.1 – ACHEGETY [ABCdário, alfabeto guarani] ..................................................................................... 8
2.1.1 – Organização das letras no dicionário .................................................................................... 10
2.1.2 – Tembiaporã [Exercícios] ......................................................................................................... 11
2.2 – Acentos............................................................................................................................................ 12
2.2.1 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 12
2.3 – Gênero e número das palavras ..................................................................................................... 14
2.3.1 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 14
2.4 – Ñe’ẽriregua [Posposições] ............................................................................................................. 15
2.4.1 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 17
2.5 – Terarãngue ha Teroja [Pronomes e Adjetivos] ............................................................................ 19
2.5.1 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 20
2.5.2 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 23
2.5.3 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 25
2.6 – Ñe’ẽtéva ha Ñe’ẽtéva mosusũ [Verbos e Conjugações verbais] ............................................... 27
2.6.1 – Tembiaporã ........................................................................................................................ 32
2.7 – Advérbios......................................................................................................................................... 32
2.7.1 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 33
2.8 – Numerais ......................................................................................................................................... 33
2.8.1 – Tembiaporã .............................................................................................................................. 33

2019

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1 – As línguas do grupo guarani
1.1 – As línguas gerais do Brasil e a língua guarani do Paraguai

Aryon Rodrigues (1996: 6) oferece uma definição do termo que se baseia nas
realidades históricas em que se formaram línguas gerais:
“Na colonização da América do Sul pelos portugueses e pelos espanhóis houve pelo
menos três situações em que a miscigenação em grande escala de homens europeus com
mulheres indígenas teve como consequência a rápida formação de populações mestiças
cuja língua materna foi a língua indígena das mães e não a língua europeia dos pais. Isto se
deu onde a conquista e colonização foi praticada, de início, predominantemente por homens
desacompanhados de mulheres atuando sobre um povo indígena numeroso e socialmente
aberto ao estabelecimento de alianças matrimoniais com os forasteiros. Essas condições se
produziram mais tipicamente entre os portugueses e os tupis (também chamados tupinakins
ou tupinikins) de São Vicente e do planalto de Piratininga, no leste do atual estado brasileiro
de São Paulo, no século XVI; entre os espanhóis e os guaranis do Paraguai, nos séculos
XVI e XVII; e entre os portugueses e os tupinambás no norte dos atuais estados brasileiros
do Maranhão e do Pará, no século XVII”.
Comentário de Wolf Dietrich (O conceito de “Língua Geral” à luz dos dicionários de
língua geral existente, D.E.L.T.A., 30 especial, 2014: 591-622, p. 594).
Esta definição implica que o termo, apropriado à realidade socio-histórica brasileira e
paraguaia, difere do significado com que se usa na história do espanhol da América. Ali se
refere à língua indígena de uso “geral” em grandes territórios, por exemplo, de cultura asteca
no México colonial. Destarte, o náhua era a “língua geral” (lengua general) da missão no
México e na América Central, uma língua de índios, não de uma população mestiça. A
definição de Rodrigues inclui também a existência de três línguas gerais diferentes, a língua
geral paulista (LGP), a língua geral amazônica (LGA) e o “guarani criollo” (GNC).

1.2 – As línguas guarani entre as línguas indígenas no Brasil e nos países vizinhos

Na estimativa levantada por Aryon Dall’Igna Rodrigues, havia 1.273 línguas indígenas
em 1500. Com a dizimação dos povos indígenas no Brasil, esse número baixou a 180, uma
perda de cerca de 85%. Assim sendo, as línguas indígenas que resistem até hoje indicam
que aqui já existiu uma diversidade humana, cultural e linguística muito maior que a atual. As
que sobreviveram estão sob constante ameaça de desaparecimento, pois não há políticas
linguísticas expressivas que possibilitem sua saída da “zona de perigo de extinção” para
uma “zona de segurança”.
De acordo com Aryon Dall’Igna Rodrigues (1984-1985), Guarani e Kaiowa são
línguas pertencentes à mesma família linguística, pois ambas são tão semelhantes que a
única explicação plausível é a de que elas têm a mesma origem. Elas fazem parte da família
linguística Tupi-Guarani, sub-ramo 1. Pela mesma razão, Teréna e Kinikináu são línguas
irmãs, pertencentes à família Aruák.
As famílias linguísticas podem envolver profundidades temporais distintas. Isso é o
que justifica a inclusão de famílias linguísticas em troncos linguísticos. Assim, Rodrigues
(1986, 2007) define o tronco Tupi como um agrupamento de dez famílias linguísticas:
2
Tupi-Guarani, Mawé, Awetí, Mundurukú, Jurúna, Arikén, Tuparí, Mondé, Ramaráma e
Poruborá.
A família Tupi-Guarani cobre uma enorme área: Guiana Francesa, Brasil [Amapá,
Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro],
Amazônia peruana, Oriente boliviano, Paraguai, Argentina [Salta, Jujuy, Formosa, Chaco,
Corrientes, Misiones]. Ela é subdividida em oito grupos ou ramos (Rodrigues, 1984-1985).
Aqui mostramos os dois grupos de línguas chamadas Guarani, num resumo de Wolf
Dietrich:
Grupo guarani meridional
(1) *Guarani clássico ou guarani antigo1 (s. XVII e XVIII, língua documentada pelos
missionários jesuítas nas Reduções entre 1640 e 1767; língua tipologicamente diferente das
outras línguas do grupo, especialmente do avañe’ẽ moderno).
(2) Avá-guarani ou nhandeva, e dialeto apapocuva (no Paraguai, Deptos. de Alto
Paraná, Caaguazú, San Pedro, Canindeyú, Amambay, 6 mil falantes; no Brasil [MS, PR, SP,
SC, RS], 4,9 mil falantes).
(3) Kaiwá/caiová/cainguá/kaiowá/paĩ tavyterã (no Brasil: MS, entre Dourados e a
fronteira com o Paraguai, população 18 mil, 15 mil falantes, língua cooficializada em dois
municípios [Paranhos e Tacuru], desde maio de 2010; no Paraguai, Deptos. de Amambay,
Canindeyú, Concepción, população 15 mil, pelo menos 11 mil falantes; na Argentina,
Misiones, 510 falantes).
(4) Avañe’ẽ (guarani paraguaio, Paraguai, Argentina [leste de Formosa e Chaco,
norte de Santa Fé, Corrientes, poucos falantes em Misiones]; Brasil [sul de MS], no total
aproximadamente 5 milhões de falantes, segunda língua oficial do Paraguai desde 1992;
língua oficializada na província argentina de Corrientes. A língua está documentada a partir
do início do s. XVII).
(5) Mbyá (Brasil: SP, RJ, ES, PR, SC, RS, 5 mil falantes; Paraguai, entre
Encarnación, Caazapá, San Juan Bautista e Pilar, 8 mil falantes; Argentina, província de
Misiones, 2,5 mil falantes).
(6) Xetá (Brasil: PR [Baixo Rio Ivaí, serra dos Dourados], moribundo, hoje há 3
falantes no grupo étnico de 82 pessoas em 20 famílias, sobreviventes de um massacre dos
anos 1940).
(7) Guarani do Chaco, tradicionalmente chiriguano, dialetos ava (subdialetos simba
e chané); izoceño (Bolívia, numa linha que vai de Santa Cruz a Yacuíba, 40 mil falantes
ava, 11,5 mil falantes tapýi‑izoceños, segundo Riester, 1994; Argentina, província de Salta,
entre Pocitos e Orán/Embarcación; província de Jujuy, Libertador General San Martín e
Ledesma, 12 mil falantes).
(8) Tapiete (Argentina, província de Salta, na “Misión Tapiete” de Tartagal, 750
pessoas, e em Curvita, perto do rio Pilcomayo, a poucos quilômetros rio acima, na Bolívia,
algumas famílias em Samaihuate e Cutaiqui, língua aparentada com o guarani do Chaco ou,
segundo outros, um dialeto desta).

1
O asterisco (*) marca uma língua extinta.
3
Guarani da região Guaporé-Mamoré-Paraguai-Paraná
(1) Guarayo (Bolívia, Depto. de Santa Cruz, 13 mil falantes, segundo Riester 1994; no
Paraguai, o termo Guarayo/Guarayu se usa para os chiriguano‑avas).
(2) *Guarasug’wä/pauserna (Bolívia, Deptos. de Santa Cruz/Beni, foz do rio Paraguá
em Iténez/Guaporé; a etnia hoje fala espanhol; porém, segundo W. Adelaar, existiam entre
25 e 30 falantes da língua nativa em 1991).
(3) Siriono (tradicionalmente, mas erroneamente chamado de sirionó; Bolívia,
Deptos. de Beni e Santa Cruz, 1,3 mil falantes aproximadamente).
(4) Yuki ou mbyá‑jê (Bolívia, Depto. de Cochabamba, 150 falantes).
(5) Aché/guayaki (Paraguai, Deptos. de Caaguazú, Canindeyú, Caazapá e Alto
Paraná, há 250-300 falantes ativos num grupo étnico de 1,3 mil pessoas. Língua tupi-guarani
antes classificada entre as línguas guaranis meridionais [do grupo guarani meridional], mas
muito diferente destas. Em alguns traços fonológicos e morfológicos a língua está mais
próxima de línguas como o siriono e yuki. Em migrações ulteriores deve ter acontecido
mestiçagem com outros grupos).

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Segue um quadro sobre os grupos indígenas falantes dessas línguas.
Quadro dos grupos INDÍGENAS falantes de línguas guarani
Grupos indígenas Localização a
falantes de línguas Argentina Bolívia Brasil Paraguai Uruguai partir do Rio
guarani Paraguai
1.884 (em 6
01 Aché (Guayakí) - - - - Oriente
comunidades)
02 Avá-guarani (Chiriguano) 21.807 - - - - Ocidente
03 Chané 2.099 - - - - Ocidente
17.921 (em 124
04 Avá-Guarani/Guarani 1.000 - 13.000 - Oriente
comunidades)
05 Guarani 22.059 58.990 - 3.587 [4.605] - Ocidente
06 Guarasugué ou Pausérna - 42 - - - Ocidente
07 Guarayo - 13.621 - - - Ocidente
08 Kaiowá - - 31.000 - Oriente
20.546 (em 170
09 Mbyá 8.223 - 11.000 50 Oriente
comunidades)
10 Nhandeva ou Tapiéte 484 [Salta] 99 [144] - 2.470 - Ocidente
15.494 (em 62
11 Paĩ-Tavyterã - - - - Oriente
comunidades)
12 Sirionó (mbiá) - 446 [1.340] - - - Ocidente
13 Yúki - 202 [1.040] - - - Ocidente
Total: 246.024
População indígena 55.672 73.400 [75.177] 55.000 61.902 [62.920] 50
[248.819]

O quadro acima demonstra que há diversos povos falantes de línguas guarani,


havendo, no mínimo, 13 povos que ocupam um vasto espaço e diferentes biomas: áreas
alagadas, mata atlântica e floresta amazônica, campos de savana, desertos, terras baixas e
altas, cidades e áreas rurais.
A forma em que esses povos se encontram atualmente tem a ver com os Estados e
com as sociedades do passado e do presente, com quem os guaranis mantêm relações de
intercâmbio e dependência. Devido ao fato dessas variáveis não afetarem de maneira
uniforme e igual a cada povo (pois dentro de cada povo existem diferentes maneiras de
reagir a essas condições), também existe uma diversidade no interior de cada grupo de
falantes de línguas guarani
No grupo Mbyá, essa diversidade se observa, por exemplo, entre os que percorrem
grandes distâncias nas áreas de reserva ambiental da Mata Atlântica, motivados pelo sonho
de uma terra original, e entre os que permanecem no interior dos Estados do sul do Brasil,
no nordeste da Argentina e no leste do Paraguai, defendendo o que sobrou de suas antigas
terras diante dos agentes do agronegócio voraz. Quanto aos Kaiowá, do Mato Grosso do
Sul, cabe destacar que eles se distinguem entre os Ka'aguyrusuguá, da antiga mata atlântica
(hoje totalmente destruída), e os Yvytyrusuguá, que habitam a savana que se estende a
oeste do Estado (uma mistura de montanhas e campos). Esses Yvytyrusuguá, ou Ava
Chapĩ, estão culturalmente mais próximos dos Paĩ-Tavyterã do Paraguai do que de seus
parentes brasileiros, que também se distinguem por sua maneira de falar, de cantar e por
seus rituais.
Assim sendo, há diversidade de trajetórias vividas pelos diferentes povos da etnia
indígena, os quais recebem denominações relacionadas à sua história, tais como nomes
guaranis “mbyá” (mbía), “áva”, “avá” ou “nhandeva”, e outros adotados como “tapiéte”, cuja
etimologia seria algo como “verdadeiro escravo” e hoje é reinterpretada pelos próprios
tapiétes como “homem verdadeiro”.

5
O mesmo ocorre com os nomes das línguas, falamos de grupos indígenas falantes de
algumas das línguas agrupadas sob o rótulo “guarani”, mas que nem sempre se identificam
pelo meta-nome dado em linguística para esse conjunto de línguas. Eles se denominam por
termos mais exclusivos e geralmente identificam com esse etnônimo o nome de suas
línguas. Assim, um kaiowá dirá que ele fala kaiowá, um guarayo que seu idioma é o
guarayo, um sirionó se reconhecerá como falante de sirionó e um mbyá como falante de
mbyá.
Não se deve afirmar que há uma “unidade cultural” entre os indígenas que falam
línguas do grupo de línguas guarani, pois nesse grupo de falantes de guarani estão: sirionós,
yúkis e caçadores-coletores achés (“típicos” guaranis agricultores), tapiétes (de língua
guarani e práticas culturais nitidamente chaquenhas) e chiriguanos (de língua guarani e de
inegáveis costumes chanés) (Combès 2017).
Ainda conforme Aryon Rodrigues, 87% (158 línguas indígenas) estão ameaçadas de
“morte”, precisamente por terem só até mil falantes, cifra que pelos critérios internacionais
determina que uma língua corre risco de desaparecimento. Apesar do Brasil ocupar o 8º
lugar em diversidade e densidade linguísticas no mundo e ser o primeiro na América do Sul,
sua posição é muito vulnerável pelo alto número de línguas com poucos falantes, sendo
200/250 a média de falantes (FRANCHETO, 2008).
Entre as línguas com menor número de falantes, está a língua Guató, com dois
falantes (em 2016), os quais vivem em lugares distantes e separados por muitas águas,
motivo pelo qual não se comunicam entre si. Tecnicamente, esta língua está morta, pois,
embora vivos, seus penúltimos falantes não têm com quem falar.
Em 9 de dezembro de 2005, morreu Tikuein, o último falante da língua Xetá, que vivia
na aldeia São Jerônimo, norte do Paraná. Para manter sua língua viva, ele falava com o
espelho.
Com a morte de uma língua não suficientemente documentada, desaparecem
conhecimentos acumulados por séculos na voz e na memória dos falantes dessa língua. A
perda desses conhecimentos é uma perda científica. É uma catástrofe para a comunidade
local e para toda a humanidade. É preciso, pois, cercar de cuidados essa expressão cultural
tão importante e sensível. Aqui tocamos na importância da língua para a cultura.

1.3 – Relação língua e cultura

A cultura é uma herança social, construída e transmitida no decorrer das gerações,


formada por diversas representações que expressam a identidade de determinado grupo.
A cultura se transforma de acordo com as necessidades contemporâneas da vida.
Porém, houve época em que se acreditou que a cultura era inalterável, una, com elementos
substituíveis por características dominantes de outra cultura, o que conduzia à
descaracterização e extinção cultural.
O que se nota na realidade dos povos indígenas é que, apesar do contato com a
cultura hegemônica, os mesmos são capazes de resistir e rearticular a seu favor as
características da cultura dominante.
Uma das características presentes dentro de uma cultura é a língua, que se destaca
por, diferentemente de outros elementos que apenas refletem determinadas concepções da
cultura, o idioma é o único elemento que se distancia da cultura para expressar todos os
outros. Por esse motivo, o fato de um povo indígena já não falar línguas indígenas não
6
significa que deixaram de pertencer a tal etnia, mas sim que reestruturaram sua identidade
cultural. Entretanto, tão forte é o vínculo com a língua que perdê-la é para muitos como
deixar de ser indígena.
Principalmente devido a esse destaque na transmissão de características culturais, o
idioma é pesquisado por uma ciência específica chamada “linguística”, que não estuda
somente a estrutura do idioma e suas mudanças, mas também as pessoas falantes e o
contexto do uso da língua. Para a linguística, é relevante a história externa da construção do
idioma (heranças culturais), pois amplia a compreensão de seu funcionamento.
A cultura desenvolve a língua (e vice-versa), de maneira que é muito importante a
compreensão da cultura para o entendimento mais amplo do idioma e das
crenças/experiências gravadas nele. Também importa observar o contrário: a compreensão
do idioma também é importante para melhor entendimento da cultura, pois o vocabulário de
uma língua reflete o comportamento sociocultural de seus falantes.
No caso dos indígenas, suas línguas permitem fazer uma etnografia mais segura de
sua vivência, pois expressam originariamente as crenças/vivências desses povos.
A língua explica-se até certo ponto pela cultura e até certo ponto explica a cultura.
Juntamente com a cultura, transforma-se com o decorrer do tempo, expressando novos
sentidos de acordo com as mudanças nas percepções da realidade social. Por esse motivo,
em diversas línguas Guarani, há o uso de termos “emprestados” do Castelhano e do
Português para nomear elementos novos no meio indígena. Como exemplo, os termos
“vaca”, “cavalo”, “cruz”, “camisa”, “sabão” e “Cristo” deram origem a “vaka”, “kavaju”,
“kurusu”, “havõ” e “Kirito”.
A língua também expressa resiliência/resistência, tal como demonstra o termo
“Kaiowa”, cujo significado é “procedente da mata” e identifica povo indígena proveniente do
Mato Grosso do Sul, onde vivem em áreas com até 95% de desmatamento. Esse povo
indígena fala das áreas que reivindica como se fossem cobertas de mata, cheias de animais
de caça, rios de água boa cheios de peixes, o que já não corresponde à realidade.
As mudanças históricas aproximaram línguas distintas em um limite territorial,
resultado das (1) migrações e da (2) divisão de povos falantes de um mesmo idioma que
perderam o contato entre si. Esses dois processos ocasionaram o surgimento de línguas
novas, apesar de preservarem características comuns com a língua da qual derivou.
É muito importante a perpetuação dos idiomas minoritários, pois a diversidade
linguística interessa à humanidade (e não somente aos próprios falantes da dessas línguas)
por significar a preservação da biodiversidade e, portanto, sobrevivência da espécie
humana.

Anotações:

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Mba'éicha nde rera? ______________________________

2 – Introdução à estrutura das línguas guarani

2.1 – ACHEGETY [ABCdário, alfabeto guarani]

Originalmente nenhuma das línguas chamadas guarani eram línguas escritas. Os


conquistadores do século XVI em diante, sobretudo missionários, passaram a escrevê-las e
descrevê-las com o alfabeto latino. Os que falavam português, grafaram-nas seguindo o som
das letras nessa língua; os que falavam espanhol o fizeram seguindo o som das letras em
espanhol; os que falaram alemão ou francês, seguiram a mesma lógica.
De certa forma, essa lógica se mantém ainda hoje, como pode ser visto no quadro
abaixo. As letras em negrito na segunda coluna são usadas sobretudo no Brasil, as outras
no Paraguai e na Argentina. Neste curso usaremos o alfabeto que tem por base a língua
espanhola, por ser referência para o guarani mais estandardizado.
É muito importante distinguir bem as letras com sons orais dos nasais, pois os
significados são bem diferentes.

Péicha ojehai Péicha héra Péicha ipu


Letra Nome Som
Soa como o “A” do português em casa. Ava, ára, áva.
01 A-a A oral (Homem, tempo-espaço, cabelo).
Soa como o “A” do português em canto, tango. Ãva, tesãi, sã.
02 Ã-ã Ã - “a” nasal (Estes/as, saúde, corda).
Soa como o “Ch” do português em chá. Che, upéicha, chi’õ.
03 CH - ch X-x Che Xis (Eu/meu/minha, assim, chorão, chorona, mal-acostumado, mal-
acostumada).
Soa como o “Ê” do português em dedo. Ete, epo, ake.
04 E-e E oral
(Verdadeiro, salta!, eu durmo).
Soa como o “Ẽ” do português em pensão. Ñe’ẽ, apẽ, asẽ.
05 Ẽ-ẽ Ẽ - “e” nasal (Palavra, eu me fraturo, eu saio).
Soa com todas as vogais como o “G” do português em gato.
As vogais encontram-se grifadas

06 G-g Guẽ oral Óga, angepyhare, ahechagi. (Casa, ontem à noite, eu não me
importo com...).
07
Soa como o “G” do português sendo que é nasal. Seu uso é
limitado, pelo que não consta em muitos alfabetos. Foi
introduzido para escrever termos como hag̃ua, g̃uara, g̃uaigui,
G̃ - g̃ G̃ uẽ nasal g̃ue’e, ág̃a, hag̃uino, que posteriormente passaram a ser
escritos como haguã, guarã, guaiguĩ, gue’ẽ, ágã, haguinõ.
(Para, para, velha, ânsia, agora, azedo).
Soa como o “R” inicial ou “RR” intervocálico do português em
08 H-h He regiões como o nordeste do Brasil, rua, arroz. Hiu, ha’i, aha.
(Pai, mãe, vou).
Soa como o “I” do português em Ipanema. Iporã, ita, vai. (É
09 I-i I oral bonito/a, pedra, feio/a).
Soa como o “I” do português em pingo. Peteĩ, tĩ, kirirĩ. (Um/a,
10 Ĩ-ĩ Ĩ - “i” nasal nariz, calado/a).
Soa como o “J” do inglês em John. Jasuka, jeguaka, ju.
11 J-j Jê (Fluído vital, enfeite da cabeça, agulha).
K - k (pode ser Soa com todas as vogais como o “C” do português em casa,
12 Kê
tornar “ng”) coisa, curta. Kuimba’e, kéra, Kirito. (Homem, sono, Cristo).

8
Soa como o “L” do português em lábio. Usa-se em
13 L-l Lê hispanismos, lusitanismos e vozes onomatopeicas. Léi, lu,
plata. (Lei, luz, dinheiro).
Soa como o “M” do português em Maria. Marãny, mynakũ,
14 M-m Mê ména. (Vento destruidor, cesto kaiowá, esposo).
Soa como o “MB” do português em também. Mbaraka,
15 MB - mb Mbe mborau, mbói. (Maraca, feitiço, cobra).
Soa como o “N” do português em nada. Naiporãi, ne porã,
16 N-n Ne ainupã. (Não é bom, és bonito/a, bato).
Soa como o “ND” do português em andar. Ndaivaíri, nde vai,
17 ND - nd Nde ahendu. (Não é feio(a)/Não é ruim, és feio(a)/és ruim,
escuto/ouço)
Soa parecido com o “NG” do português em angústia, sendo
18 NG - ng Nge que o “N” é mais oral. Ngue’a, nga’u, ngoty. (Dente do siso,
desejar/de brincadeira, direção/lado).
Soa parecido com o “NT” do português em antes, sendo que o
“N” é mais oral. Usa-se mais com termos estrangeiros e com o
19 NT - nt Nte sufixo “NTE” (só). Iporãnte, okarúnte, che mba’énte. (Só bem,
só come, só minhas coisas).
Soa como “NH” do português em ninho. Ñandu, ñande, ñuhã.
20 Ñ-ñ Nh Ñe Eneaga
(Aranha/avestruz, nós/nosso, armadilha).
Soa como o “O” do português em poder. Opa, okẽ, oka/okára.
21 O-o O oral
(Termina, porta, quintal).
Soa como o “Õ” do português em corações. Ko’õ, tamõi,
As vogais encontram-se grifadas

22 Õ-õ Õ - “o” nasal


pykõi. (Arder, avô, desvio).
Soa como o “P” do português em pico. Potyvõ/pytyvõ, po,
23 P-p Pe puae. (Ajuda, mão, vogal).
24
Soa como o “R” intervocálico do português, como em caro.
R-r Re Arandu, ári, pyrũ, ne rỹmba. (Sabedoria, sobre, pisar com os
pés, teus animais domésticos).
Como o “R gaúcho” do português rua, terreno, arroz, etc.
25 Rr - rr Rre Usa-se só em hispanismos e vozes onomatopeicas. Papa Réi,
rosário, arro.
Soa como “SS” do português em fosse. So’o, sy, sarambi.
26 S-s Se
(Carne/animal de caça, mãe, bagunça/espalhamento).
Soa como o “T” do português em tatu (som entre dentes).
27 T-t Te Tukumbo, tajýi, tekoha. (Corda de coro de vaca, formiga, lugar
onde se vive).
Soa como o “U” do português em urso. Upéa, upéi, upéicha.
28 U-u U oral (Esse/essa, depois, desse modo).
Semelhante ao “U nasal” do português como em
29 Ũ-ũ Ũ - “u” nasal cumprimento. Ypyrũ, hũ, apytu’ũ. (Começo, preto, cerebro).
Soa como o “V” do português em vai. Vai, vare’a, voi. (Feio/a,
30 V-v Ve fome, cedo).
Som gutural peculiar das línguas guarani. Y, yvy, yvytu. (Água,
31 Y-y Y oral terra, vento).
Som nasal da vogal y. Ate’ỹ, vy’ae’ỹ, ky’ỹi. (Preguiça,
32 Ỹ-ỹ Ỹ - “y” nasal
infelicidade, pimenta).
Marca silêncio. Interrupção do som entre duas vogais. Yvyra’i,
33 ‘ Puso ka’a, ’e. (Cetro/pauzinho, erva-mate, dizer).

9
Na lista acima nós temos 33 letras que representam a maior parte dos sons da língua.
Dentre elas, 21 são consoantes e 12 são vogais, conforme quadro abaixo:
As consoantes nasais
encontram-se grifadas
Consoantes
15 simples: g – g̃ – h – j – k – l – m – n – ñ – p – r –
6 dígrafos (inseparáveis): ch – mb – nd – ng – nt – rr
s–t–v–’
Vogais
6 orais: a – e – i – o – u – y 6 nasais: ã – ẽ – ĩ – õ – ũ – ỹ

Observe-se a ausência das letras B–C–D–F–Q e Z. O W é usado para grafar ditongos


crescentes, sobretudo no Brasil, como em kwarahy [sol], gwata [caminhar], gwive [desde].
Na grafia aqui utilizada, o W é substituído pelo U, como em kuarahy, guata e guive.
Não há consenso sobre o número de letras, pois, em algumas gramáticas não
constam G̃ , L, NT, RR.

2.1.1 – Organização das letras no dicionário

Como não há entradas específicas para as escassas palavras que iniciam com som
nasal e como em muitos dicionários não constam G̃ , L, NT, RR, o número de letras que dão
entrada nos dicionários é muito menor. 22 letras, a saber: A, CH, E, G, I, J, K, M, MB, N, ND,
NG, Ñ, O, P, R, S, T, U, V, Y, ‘.
ACHEGETY [ABCdário, alfabeto guarani]
Letras que dão entrada a verbetes em
As letras, seus nomes e suas pronúncias dicionários
JURUGUA [oral] TĨNGUA [nasal] JURUGUA TĨNGUA
a [a] ã [ã] a
ch [che] ch
e [e] ẽ [ẽ] e
g [gue]
g̃ [g̃uẽ] g
(o “u” aqui não tem som)
h [rre]
i [i] ĩ[ĩ] i
j [je] j
k [ke] k
l [le]
m [me] mb [mbe] m mb
n [ne] ñ [nhe] nd [nde] ng [ngue] nt [nte] n ñ nd ng
o [o] õ [õ] o
p [pe] p
r [re] r
rr [rre]
s [se] s
t [te] t
u [u] ũ [ũ] u
v [ve] v
y [y] ỹ [ỹ] y
‘ (puso) (indica uma pausa) ‘
10
2.1.2 – Tembiaporã [Exercícios]

1) Ñahendúke [Ouçamos]:
Achegety Guarani – Julia Segovia [https://www.youtube.com/watch?v=Bmx8Lj4iNmw]

2) Japurahéike [Cantemos]: Anotações:

Guarani reikuaasérõ ñepyrũreite voi


Achegety taikuéra reikuaápaite vaerã (2x).
Mba’éichapa oje’e, mba’éicha ojehai (2x)
A (a), ã (ã), ch (che), e (e), ẽ (ẽ), g (guê),
ĝ (ĝuê), h (he), i (i), ĩ (ĩ), j (jê), k (kê), l (lê),
m (mê), mb (mbe), n (ne), nd (nde), ng (nge),
nt (nte), ñ (ñe), o (o), õ (õ), p (pe), r (re), rr (rre),
s (se), t (te), u (u), ũ (ũ), v (ve), y (y), ỹ (ỹ), ‘ (puso).
Guarani reikuaasérõ ñepyrũreite voi
Achegety taikuéra reikuaápaite vaerã (2x).

3) Ñahendúke, ñambohováike, jahaíke, ñamoñe’ẽke! [Vamos ouvir, repetir,


escrever e ler!] (fichas de palavras orais e nasais)
Ñe’ẽ [palavra] He’ise [quer dizer] Ñe’ẽ [palavra] He’ise [quer dizer]
01 06

02 07

03 08

04 09

05 10

4) Vamos escrever frases com as palavras acima.

11
2.2 – Acentos

Acentuação Regras de acento gráfico


• Têm acento oral na última sílaba, mas não recebem acento gráfico.
Oxítonas • Quando recebem posposições ou sufixos átonos, tornam-se
paroxítonas ou proparoxítonas e, então, recebem acento gráfico.
• Recebem acento gráfico na penúltima sílaba.
• Quando recebem posposições ou sufixos tônicos, o acento migra para
a nova sílaba tônica.
Paroxítonas
• Quando se tornam oxítonas, não recebem acento gráfico. Muitas vezes
estas palavras perdem a última sílaba, como em ta’ýra (ta’y) e tajýra
(tajy), que se tornam oxítonas.
Proparoxítonas • Sempre recebem acento gráfico na antepenúltima sílaba.

Bom observar que, conforme as partículas adicionadas às palavras, estas podem


mudar a sílaba tônica. Pronunciar bem o acento é fundamental para o entendimento da
fala. Vejamos exemplos a seguir.

2.2.1 – Tembiaporã

1) Ñamoñe’éke oñondive [Pronunciemos juntos(as)]:

Palavra Palavra com


He’ise [Quer dizer, significado] posposições He’ise
simples
e sufixos
Palavras oxítonas
Apo Salto Apóvo Ao saltar
Oke Dorme Okéma Já dorme
Akỹ Molhado Akỹmba Todo(a) molhado(a)
Apĩ Tosquiar Apĩmba Todo(a) tosquiado(a)
Puka Sorrir Pukavy Sorridente
Tupa Cama Tupápe Na cama
Pyta Calcanhar Pytasẽ Calcanhar de fora
Pytu Respiração Pytupa Ofegante; sem fôlego
Palavras paroxítonas
Ména Esposo Menarã Futuro esposo
Tajýra Filha (com relação ao pai) Tajyrare Filha (com relação ao pai falecido)
Ta’ýra Filho (com relação ao pai) Ta’yrare Filho (com relação ao pai falecido)
Tyvýra Irmão mais novo Tyvyrarã Futuro irmãozinho

Tyke’ýra Tyke’yrare Irmão mais velho (com relação ao


Irmão mais velho
falecido irmão mais novo)

12
Palavras proparoxítonas
Jajapo Fazemos Jajapókena (Recomendo) que façamos
Jakaru Comemos Jakarútama Já comeremos
Epurahéi Canta! (imperativo) Epurahéikena (Recomendo) que cantes
Ajapo Faço Ajapopátama Já vou terminar de fazer
Ajapotama Já vou fazer

Anotações:

2) Ñambohovái mbo’ehárape [Vamos repetir a leitura da/do docente] ha


ñamopytãke asento [e vamos marcar em vermelho a sílaba tônica]:
Ñe’ẽ He’ise Ñe’ẽ He’ise Ñe’ẽ He’ise Ñe’ẽ He’ise
Apo Apopy Apota Apose
Oke Okenepa Okesenepa Okese
Akỹ Akỹmba Akỹta Akỹse
Apĩ Apĩre Apĩne Apĩse
Api Apire Ajapita Ajapise
Tupa Tupape Tupare Tuparã
Pyta Pyta’i Pytu Pytu’u
Pytu’i Pytase Pytupanepa Epytakena

3) Vamos colocar os acentos gráficos nas palavras paroxítonas a seguir,


identificando se são orais ou nasais:
ACENTUE MARQUE DE ACORDO COM A FONÉTICA

Ñe’ẽ [palavra] He’ise [Quer dizer] Jurugua [Oral] Tĩngua [Nasal]


ÁVA Cabelo ( X ) ( )
MARANY Vento destruidor ( ) ( )
ARI Sobre ( ) ( )
ARA Tempo-espaço ( ) ( )
IPORANTE Só bem ( ) ( )
KERA Sonho ( ) ( )
KEPE Durante o sono, no sonho ( ) ( )
NDAIVAIRI Não és feio(a), não é ruim ( ) ( )
OKARUNTE Só come ( ) ( )
13
2.3 – Gênero e número das palavras

Não há no guarani variação dos nomes e dos termos que indicam qualidade
(adjetivos) quanto a gênero e número.
Gênero: Em alguns casos, há termos próprios para masculino e feminino, marcando o
gênero da palavra. Em outros casos, para distinguir animais machos das fêmeas, se agrega
o termo kuimba’e e kuña ao nome do animal. Vejamos exemplos a seguir.
Ogayguakuéra (família)

Jari/Jarýi (avó) Tamõi (avô)

Kuñakarai (senhora) Karai (senhor)

Ha’i (mãe, no sentido religioso) Sy (mãe) Túva (pai)

Tembireko (esposa) Ména (marido)

Tembirekorã (noiva)

Membyra’y (bebê)
Memby (filho com relação à mãe)
Ta’ýra/Ra’y (filho com relação ao pai)
Memby kuña (filha com relação à mãe)
Tajýra/Rajy (filha com relação ao pai) Mitã (criança/menino/a) Temiarirõ (neto/a)

Teindýra/Reindy (irmãs em geral do homem) Kyvy (irmão menor da mulher)


Ryke, Kypy’y (irmã mais velha, irmã mais nova da mulher) Ryke’y (irmão maior e menor do homem) – 1º filho nascido
Tyvýra – 2º filho nascido
Obs.: se usa mais o termo "hermano"

Número: Quanto ao número, tampouco se altera o termo para marcar o plural. Em


alguns casos, usa-se heta/reta ao lado do nome para marcar que se trata de mais de um, ou
utilizar a partícula kuéra (com termos orais)/nguéra (com termos nasais). Assim, che rỹmba
significa meu animal ou meus animais; mas, caso queira explicitar que se tem mais de um
animal, pode-se dizer che rỹmba reta.

2.3.1 – Tembiaporã

1) Jahaíke! [Vamos escrever!]


Vamos pluralizar as palavras abaixo:
Ñe’ẽ [palavra] He’ise [Quer dizer] Plural Ñe’ẽ [palavra] He’ise [Quer dizer] Plural
Guyra reta Ñati’ũ reta
Guyra Ave, pássaro
Guyra kuéra Ñati’ũ Mosquito
Ñati’ũnguéra
Jagua Cachorro Mbói Cobra

Jaguane Gambá Mbopi Morcego

Ka’i Macaco Ñandu Aranha

Karumbe Tartaruga Panambi Borboleta

14
Kavaju Cavalo Ryguasu rupi’a Ovo de galinha

Kure Porco Tapiti Coelho

Kururu Sapo Tarave Barata

Mbarakaja Gato Tu’ĩ Papagaio

Mberu Mosca Ype Pato

Anotações:

2.4 – Ñe’ẽriregua [Posposições]

O que chamamos preposições em português são, em guarani, posposições (colocam-


se depois das palavras). Quando as posposições são monossílabas, colocam-se aglutinadas
ao termo anterior; se são polissílabas, colocam-se separadas.
Algumas das principais posposições são:

ÑE’ẼPEHẼTEĨ [Monossilábicas, aglutinadas] ÑE’ẼPEHẼETA [Polissilábicas, separadas]


01 -ha (substantiva palavras)
02 -pa (dá sentido de pergunta) piko (dá sentido de pergunta)
(significa perseverança, quando
03 -‘i katu (dá sentido de apelo emocional)
acompanha o verbo)
04 -se (dá sentido de desejo)
05 -ve mais (dá sentido de intensidade) terei; formal mais (dá sentido de intensidade)
06 -ve... -gui mais que... (sentido comparativo)
07 -‘ive... -gui menos que (sentido comparativo)

Anotações:

15
08 -águi, -gui, -i do, da, provém de
09 -nte somente, apenas isso
10 -ndi com ndive, ndie com

11
-me (com palavras a, em, na, no, neste pýri com
nasais)

12
-pe (com palavras a, em, na, no, neste pype com, em, na, no
orais)

13 -ri, -re em, na, no; pelo, por


14 -pe para (depois de substantivos) hag̃ua para (depois de verbos)
15 -gua de (procedência, local de referência) g̃uarã para (depois de substantivos)

Anotações:

16 upe a, para
17 raẽ antes
18 rire depois
19 upéi depois
20 upéicha desse modo
21 -re por, pelo rehe por, pelo
22 ári sobre
23 guive... peve... desde... até...

Anotações:

16
24 -guy debaixo de, sob guýpe debaixo de, sob
25 koty na direção de
26 amongoty naquela direção
27 mboyve antes
como (forma, modo); se (sentido de como (forma, modo); se (sentido
28 -rõ ramõ
condição) de condição)
como (conforme, de acordo
29 rupi
com), por (direção)
por causa (sentido de
30 rehe
motivação)
31 tenonde diante, defronte
32 tapykue atrás, detrás

Anotações:

Observe-se que as posposições alteram bastante o aspecto visual da escrita, mais


ainda se duas ou mais posposições se aglutinam à palavra principal. Exemplos:
– Aiko Dourádospe [“Eu vivo em Dourados”, pois “-pe” significa “em”].
– Opyta mesa guýpe [“Ficou embaixo da mesa”, pois “guýpe” significa “debaixo de”;
tem sentido de ficar sem comer].
– Oipotágui [“Por desejar”, pois “oipotá” significa “querer” e “-gui” significa “por”].

2.4.1 – Tembiaporã

1) Vamos grifar/sublinhar as posposições nas frases a seguir:


a) Mba’éichapa? Como?
ch) Mba’éicha piko? Como?
e) He’ise Quer dizer
g) He terei Muito delicioso
i) Vai formal Muito mal/Muito feio(a)
j) Iporãnte Somente/apenas bem/bonito(a)
k) Valentin oguatave Gabrielgui Valentin caminhou mais que Gabriel
m) Maria oguata’ive Waldenirgui Maria caminhou menos que Waldenir
17
mb) Paraguaýgui De Assunção (PY)
n) Brasílgua Do Brasil (proveniência, naturalidade)
ñ) Ehai guaraníme Escreva em guarani
nd) Caarapópe Em Caarapó
ng) Máva ndie Com quem
o) Che atudia Graciélandi Eu estudo com Graciela
p) Iporãnte Somente/apenas bem/bonito(a)
r) Che ajepy’apy Amazôniare Eu estou preocupado(a) pela Amazônia
s) Yvy rupi Por terra (à pé)
t) Bisikléta ári Sobre a bicicleta (de bicicleta)
u) Mba’eyrúpe Em carro (de carro)
v) 20 de junho guive 23 de junho peve Desde 20 de junho até 23 de junho
y) Upe rire roho roguata párkepe Depois vamos caminhar no parque
‘) Che aháta Marcelino Pires koty Eu irei na direção da Marcelino Pires

2) Ñambohovái mbo’ehárape [Vamos repetir a leitura da/do docente] ha


ñamopytãke ñe’ẽriregua [e vamos marcar em vermelho a sílaba tônica]:

Guarani héra ñe’ẽ aty ojojoguáva ha Guarani se chama um conjunto de línguas


faladas no Paraguai, no Brasil, na Bolívia, na
oñeñe’ẽva Paraguáipe, Brasílpe, Bolíviape,
Argentina e no Uruguai.
Argentínape ha Uruguáipe.

Hetave 6 milhãogui oñe’ẽva ko ñe’ẽ. São mais de 6 milhões as [pessoas] que


falam esta língua. Dentre elas só umas 300
Ko’ãvagui pe 300 mil rupínte ava.
mil [pessoas] são indígenas. Por quê?
Mba’éguipa?

18
2.5 – Terarãngue ha Teroja [Pronomes e Adjetivos]

PRONOMES PESSOAIS (RETOS):

Pronomes pessoais retos


N.º Pessoa Pronomes Terarãngue N.º Pessoa Pronomes Terarãngue
Ñande (inclui o interlocutor)
1ª Eu Che 1ª Nós
Singular

Plural
Ore (exclui o interlocutor)
2ª Tu/Você Nde 2ª Vós/Vocês Peẽ
3ª Ele(a) Ha’e 3ª Eles(as) Ha’e kuéra

CHE NDE HA’E


SINGULAR

ÑANDE ORE PEẼ HA’E KUÉRA


PLURAL

A seguir, vejamos alguns exemplos do uso dos pronomes pessoais:


CHE NDE HA’E ÑANDE ORE PEÊ HA’E KUÉRA COMO?
Roime Peime
Aime porã! Reime porã! Oime porã! Ñaime porã! Oime porã!
porã! porã!
Aime vai! Reime vai! Oime vai! Ñaime vai! Roime vai! Peime vai! Oime vai!

Aime vai Reime vai Oime vai Roime vai Oime vai
Ñaime vai vai! Peime vai!
vai! vai! vai! vai! vai!
Aime Reime Oime Ñaime Roime Peime LUGAR
Oime kotýpe
Paraguaýpe Douradospe Amambáipe Casúlope Ápe BHpe
Aime PORÃ Reime VAI Oime PORÃ Ñaime VAI VAI Roime Peime VAI Oime PORÃ COMO E
Paraguaýpe Douradospe Ponta Porãme Casúlope PORÃ Ápe BHpe kotýpe LUGAR

Exercícios 1, 2, 3

19
2.5.1 – Tembiaporã
PRONOMES PESSOAIS:
1) Tente memorizar os pronomes pessoais e as posposições!
.......... aime, .......... oime, .......... reime, .......... ñaime, .......... roime, .......... peime, .......... oime
.......... oime, .......... reime, .......... aime, .......... roime, .......... ñaime, .......... peime
.......... eu, .......... ele/ela, .......... vocês, .......... eles, .......... nós i., .......... nós e., .......... tu
.......... aime porã Brasíl....., .......... oime vai Paraguái....., ñande ñaime porã Ponta Porã.....

2) Vamos memorizar os pronomes pessoais!

3) Ñañomongetáke há ñamoñe’êke jehai pyre! [Dialoguemos e leiamos!]


– Che atudia guarani Casúlope.
– Che atudia guarani Casúlope avei.
– Ñande jatudia guarani Casúlope.
– Che atudia guarani Casúlope, nde retudia guarani Casúlope. Ñande, enterove,
jatudia guarani Casúlope.

– Che atudia guarani Casúlope.


– Ha’e otudia guarani Casúlope avei.
– Ore rotudia guarani Casúlope.

– Che atudia guarani Casúlope, ha’e otudia guarani Casúlope avei. Ore rotudia
guarani Casúlope.

Anotações:

PRONOMES E ADJETIVOS POSSESSIVOS:

N.º Pronomes possessivos Adjetivos possessivos


1ª Meu(s), minha(s) Che mba’e Che
SINGULAR

2ª Teu(s), tua(s) Ne mba’e Nde (oral)/Ne (nasal)


3ª Seu(s), sua(s) Imba’e H- (h-, hi’-, i-, ij-, iñ-)

Ñane mba’e Ñande (oral)/Ñane (nasal) (inclui o interlocutor)


1ª Nosso(s), nossa(s)
Ore mba’e
PLURAL

Ore (exclui o interlocutor)


2ª Vosso(s), vossa(s) Pene mba’e Pende (oral)/Pene (nasal)
3ª Seu(s), sua(s) Imba’e H- (h-, hi’-, i-, ij-, iñ-)

20
– Lembrete: “dele(a)”, em língua portuguesa, não é pronome possessivo, mas sim a
junção da preposição de posse “de” com o pronome reto “ele”, que resulta em uma
contração de ambos, ou seja: de + ele(a) = dele(a).

Observações:
1) Os adjetivos possessivos da 2ª. pessoa singular/plural e 1ª. do plural perdem o “d”
quando o termo seguinte é nasal. “Mbarakaja” é nasal, logo: “teu(s) gato(s)” será “NE
mbarakaja”; “nosso(s) gato(s)” será “ÑANE mbarakaja”; “vosso(s) gato(s)” será “PENE
mbarakaja”.
2) Os adjetivos acompanham os nomes, os substantivos.
3) Os pronomes possessivos preservam só a forma nasal do adjetivo possessivo, pois
o termo MBA’E (“coisa”), que forma o pronome, é nasal; então temos: che mba’e, ne mba’e,
imba’e, ñane mba’e, ore mba’e, pene mba’e, imba’e.
4) Os pronomes substituem os nomes ou substantivos e são usados somente quando
já teve uma menção explícita ao nome. Exemplo:
– Che mbarakaja morotĩ. [Meu gato é branco.]
– Che mba’e pytã. [O meu é vermelho.]

Vejamos os exemplos da utilização dos adjetivos possessivos em palavras orais e


nasais (“jagua” e “mbarakaja”):
CHE NDE I (i-, ij-, iñ-, h-, hi-)
Jagua Jagua Jagua

ORAL
SINGULAR

CHE NE I-
Mbarakaja Mbarakaja Mbarakaja
NASAL

ÑANDE ORE PENDE I-


Jagua Jagua Jagua Jagua

ORAL
PLURAL

ÑANE ORE PENE I-


Mbarakaja Mbarakaja Mbarakaja Mbarakaja

NASAL

21
Vejamos, agora, exemplos da utilização dos pronomes possessivos:
CHE MBA’E NE MBA’E IMBA’E ÑANE MBA’E ORE MBA’E PENE MBA’E IMBA’E
– Máva – Máva
– Máva – Máva – Máva mba’e – Máva
mba’e piko – Máva mba’e mba’e
mba’e piko mba’e piko piko ko mba’e piko
ko piko ko kure piko ko
ko jagua ko vaka ryguasu ko kavaju
mbarakaja tapiti
De quem é
De quem é De quem é De quem é De quem é De quem é De quem é
este
este gato? esta vaca? este porco? este coelho? esta galinha este cavalo
cachorro?
Che Mba’e Ne Mba’e Imba’e Ñane Mba’e Ore Mba’e Pene Mba’e Imba’e
Coisa de nós, Coisa de Coisa de
Coisa de Coisa Coisa
Coisa de ti, nossa/s, nós, nossa/s, vós/vocês
mim, meu/s, dele/a, deles/as,
teu/s, tua/s nosso/s nosso/s [mas vossa/s,
minha/s seu/s, sua/s seu/s sua/s
[inclusive teu] não teu] vosso/s

Agora vamos analisar o uso dos pronomes pessoais e adjetivos possessivos:


Pronomes Adjetivos Pronomes pessoais Adjetivos possessivos Adjetivos possessivos
pessoais possessivos com verbo com substantivo com “adjetivo”
CHE CHE CHE ajapo, apê CHE sy CHE porã
NDE NDE ru NDE vai
NDE NDE rejapo, repê
NE NE ramõi NE porã
I-kypy’y
I I-porã
IJ-abuéla/o
IJ IJ-apu
HA’E HA’E ojapo, opê IÑ-ermáno/a
IÑ IÑ-ak^y
H-óga
H H-asy
HI-áva
ÑANDE ÑANDE ÑANDE róga ÑANDE vai
ÑANDE jajapo, ñapê
ÑANE ÑANE família ÑANE porã
ORE ORE ORE rojapo, ropê ORE rekoha ORE katupyry
PENDE PENDE jari PENDE vai
PEẼ PEÊ pejapo, pepê
PENE PENE hénte PENE porã
I-sógro/a
I I-mbegue
HA’E KUÉRA IJ-yvy
IJ HA’E KUÉRA/HIKUÁI IJ-asu
ou IÑ-ermáno/a
IÑ ojapo, opê IÑ-akuã
HIKUÁI H-atyu, H-aicho
H H-embi’u
HI’áva
Meu/s, Eu faço
Eu, tu, ele/a... Meu.../tenho... Sou/estou...
teu/s... Eu me fraturo
Muda com
Não muda nasais e Muda com nasais e termos Muda com nasais e termos
Não muda com nasais
com nasais termos oscilantes oscilantes
oscilantes

Observações:
1) Os pronomes pessoais fazem papel de sujeito e acompanham um verbo.
2) Os adjetivos possessivos acompanham um substantivo ou um “adjetivo”.
3) Os pronomes pessoais não mudam.

22
4) Os adjetivos possessivos mudam com os substantivos ou “adjetivos” nasais; a 2ª.
pessoa singular e plural e a 1ª. do plural perdem o “d”: família é nasal, logo, tua família será
NE família, vossa família será PENE família, nossa família será ÑANE família.
5) Os adjetivos possessivos da 3ª. pessoa singular e plural têm quatro formas: I, Ij-,
IÑ-, H-, HI. Com substantivos ou “adjetivos” que começam com consoantes que não sejam
oscilantes (a maioria com T, S) usa-se I, como em ikyha ‘sua/s rede/s’; com os que
começam com vogal oral átona usa-se IJ, como em ijabuéla ‘sua/s avó/s’ e ijati’y ‘seu/s
ombro/s’; com os que começam com vogal nasal átona usa-se IÑ, como em iñermáno ‘seu/s
irmãos’ ou iñakã ‘sua/s cabeça/s’; com as palavras oscilantes usa-se H, como em hóga [óga]
‘sua/s casa/s’, hembireko [tembireko] ‘sua/s esposa/s’, ho’o [so’o] ‘sua/s carne/s’; com os
que começam com vogal tônica oral ou nasal usa-se HI, como em hi’áva.
6) O adjetivo possessivo é, pois, mais complexo que o pronome pessoal. Além das
peculiaridades explicitadas acima, ele (acompanhado de um substantivo ou “adjetivo”) pode
expressar uma ação, pode “predicar”. Isso veremos mais adiante, ao tratarmos dos
chamados “verbos em che”.

Exercícios 4 a 7

2.5.2 – Tembiaporã
PRONOMES/ADJETIVOS POSSESSIVOS:
Jarepetíke ha ñamoñe’ẽke! [Vamos repetir e ler!]
4) Repetir e traduzir mentalmente. Depois, ler e traduzir oralmente:
Che tapiti morotĩ, nde kavaju morotĩ, imbarakaja morotĩ, ñande vaka hũ,
ore jagua pytã’i, pende kure pytã, iryguasu hũ.

5) Fazer o diálogo lendo:

– Che mbarakaja morotĩ ha ne mbarakaja? – Che mba’e hũ.

– Che tapiti morotĩ ha nde tapiti? – Che mba’e morotĩ.

– Nde kavaju morotĩ ha ikavaju? – Imba’e hũ.

– Imbarakaja morotĩ ha che mba’e? – Ne mba’e morotĩ avei.

– Ñande vaka hũ ha ivaka? – Ivaka hũ avei.

– Ore jagua pytã’i ha pende jagua? – Ore jagua hũ.

– Pende kure pytã ha ikure? – Ikure pytã avei.

– Iryguasu hũ ha nde ryguasu? – Che ryguasu morotĩ.

6) Diferenciar nas frases acima os adjetivos possessivos dos pronomes


possessivos.

23
Anotações:

7) Embohasa guaraníme:

ao Sua roupa: ao Nossa roupa (i): ao


Minha roupa:
Sua cabeça : akã Tua cabeça: Suas cabeças :
Seu rosto: tova Nosso rosto (excl.):
Seu quintal: korapy Meu quintal:
Seu cabelo: ’áva Teu cabelo:
Sua alma: ’ã Tua alma:

Observações: alguns substantivos em guarani não são uniformes, ou seja, variam, a


palavra é oscilante. Por exemplo, “corpo” e “olho” são substantivos guaranis triformes, pois,
a depender da aplicação, alteram-se e variam de três formas diferentes (tete, rete e hete;
tesa, resa e hesa; téra, réra, hera).

Anotações:

PRONOMES E ADJETIVOS DEMONSTRATIVOS:


No caso dos pronomes e adjetivos demonstrativos, importa observar que seu uso
depende da distância em que o substantivo demonstrado ou nominalizado se encontra dos
interlocutores, ou seja, KO (“este”) (quando estiver perto da pessoa que fala), PE (“esse”)
(quando estiver perto da pessoa com quem se fala) e AMO (“aquela/e”) (quando estiver
distante de ambas pessoas).

24
Pronomes Adjetivos Muito
N.º
demonstrativos Exemplos: Próximo Distante
demonstrativos próximo

Isto, este(a) Kóva Ko Ko mitã porã


SINGULAR

Isso, esse(a) Péva Pe Pe mitã’i porã

Aquilo, Amo mitã


Amóva Amo
aquele(a) kuña’i porã

Ko’ã mitã
Estes(as) Ãva/Ko’ãva Ã
porã
PLURAL

Umi mitã’i
Esses(as) Umíva Ko’ã
porã

Umi mitã
Aqueles(as) Umíva Umi
kuña’i porã

Vejamos, agora, exemplos da utilização dos pronomes e adjetivos demonstrativos:


– Ko mitã porã. [Esta criança bonita.] Ko [“esta”] é um adjetivo demonstrativo,
acompanha o nome mitã [“criança”].
– Máva? [Quem?]
Kóva é um pronome demonstrativo, pois substitui
– Kóva! [Esta!]
o nome mitã.

Exercícios 8 a 10

2.5.3 – Tembiaporã
PRONOMES/ADJETIVOS DEMONSTRATIVOS:
08) Brincar oralmente com os objetos à vista usando os adjetivos
demonstrativos e empréstimos do português para nomear os objetos.

09) Observe o uso dos seguintes pronomes e adjetivos demonstrativos e crie


pequenos diálogos orais como os do quadro abaixo:

Pe – Péva Amo – Amóva Ã/Ko’ã – Ãva/Ko’ãva Umi – Umíva


– Pe mitã’i porã oime – Amo mitã kuña’i – Ã [ko’ã] mitã’i porã – Umi mitã kuña’i
porã. porã oime porã. oime porã. porã oime porã.
– Máva? – Máva? – Máva? – Máva?
– Péva! – Amóva! – Ãva [ko’ãva]! – Umíva!
25
10) Escrever diálogos com, no máximo, quatro frases.

A seguir, vamos observar que a junção de alguns pronomes com a partícula “+ve”
torna a palavra negativa:
Pronomes interrogativos Pronomes indefinidos Advérbios
Invariáveis Invariáveis
Que Mba’e
Quem Máva Ninguém Mavave
Quando Araka’e Nunca Araka’eve
Mamo;
Onde, aonde Moõ
Nenhum (lugar) Mamove
Tudo Mayma

Variáveis Variáveis
Mba’eve;
Quanto(a), quantos(as) Mboy Nada Avave

*Mba’evere: por nada


*Mba’ere/Mba’égui: porque
*Mba’éicha: como, qual
*Mba’erã: para que
PRONOMES PESSOAIS (OBLÍQUOS):
Os pronomes pessoais retos são: che, nde, ha’e, ñande (incl.), ore (excl.), peẽ, ha’e
kuéra. Vejamos agora os pronomes pessoais oblíquos:

Pronomes pessoais oblíquos


N.º Pessoa Pronomes Terarãngue N.º Pessoa Pronomes Terarãngue
Ñanendie (inclui o interlocutor)
1ª Comigo Chendie 1ª Conosco
Singular

Plural

Orendie (exclui o interlocutor)


2ª Contigo Nendie 2ª Convosco Penendie
3ª Consigo Hendie 3ª Consigo Hendie

Juntos(as) Oñondive
Sozinho(a); somente Año

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ADJETIVOS QUALITATIVOS:
CORES 
Porã Bonito(a), bom(boa), bem Morotĩ Branca/o/s
Vai Feio(a), ruim, mal Hũ Negro(a), preto(a)(s)
Kyra Gordo(a) Pytã Vermelha/o/s
Piru Magro(a) Hovy Azul/verde
Michĩ Pequeno(a) Sa’yju Amarela/o/s
Guasu, tuicha Grande Pytãngy Vermelho claro
Yvate Alto(a) Hovyngy Azul/verde claro
Karape Baixo(a) Sa’yjungy Amarelo claro
Nandi Vazio(a) Apatĩ Cinza
Chovi, ruguatã, tenyhẽ Cheio(a) Hovyũ Morado
Taviju Peludo(a) Morotĩ asy Bem branco
Perõ Sem pelo, sem nada Hũ asy Bem preto
Ha’ete, hesegua, joguaha Parecido(a), semelhante Pytã asy Bem vermelho
Puku (oral), mbuku (nasal) Largo, longo, cumprido(a) Hovy asy Bem azul
Mbyky Fino(a), curto(a) Sa’yju asy Bem amarelo
Tuja Velho(a) Mbatara Penas pretas e brancas
Pyahu Novo(a) Overo Malhado
Poriahu (oral), mboriahu (nasal) Pobre Para Várias cores
Mbarete Forte
Kangy Fraco
Pukarã, toryja Engraçado
Rorýi Alegre, feliz
Vejamos alguns exemplos de uso dos adjetivos referentes às cores:
Óga’i morotĩ [Casinha branca]
Jagua hũ [Cachorro preto]
Ao pytã [Roupa vermelha]
Yva hovy [Céu azul]
Karaguata’i sa’yju [Abacaxi amarelo]
Nde resa para [Seu olho tem cores mescladas]

2.6 – Ñe’ẽtéva ha Ñe’ẽtéva mosusũ [Verbos e Conjugações verbais]

De maneira geral, os verbos em guarani são regulares e se conjugam acrescentando


um indicador de pessoa (pronome pessoal) junto à raiz do verbo. Em verbos regulares,
geralmente as partículas acrescentadas são as seguintes (conjugação dos verbos em “A”):

Indicador de pronome pessoal + raíz verbal


Marcador de pessoa que produz a
Pronomes Terarãngue ação expressada pelo verbo

Eu Che a-
Tu/Você Nde re-
Ele(a) Ha’e o-

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Nós (inclusivo) Ñande ja- (oral) / ña- (nasal)
Nós (exclusivo) Ore ro-
Vós/Vocês Peẽ pe-
Eles(as) Ha’e kuéra o-

VERBOS “SER”, “ESTAR” E “TER”:


O verbo “ser” (“ha’e”) não se altera, sendo conjugado por todas as pessoas (singular
ou plural) da mesma forma através da justaposição dos pronomes pessoais. Entretanto, não
é necessário estar explícito para que seu sentido seja expressado, podendo ser formado
pela justaposição dos pronomes pessoais ao substantivo. Anotações:
Pronomes pessoais Verbo “ser”
ha’e
SINGULAR

Eu Che
Tu/Você Nde ha’e
Ele(a) Ha’e ha’e
Nós (inclusivo) Ñande ha’e
PLURAL

Nós (exclusivo) Ore ha’e


Vós/Vocês Peẽ ha’e
Eles(as) Ha’e kuéra ha’e

Exemplos:
Che ha’e kuimba’e mbarete Che kuimba’e mbarete Eu sou um homem forte
Ha’e ha’e che irũ porã Ha’e che irũ porã Ele(a) é bom(boa) companheiro(a)
Ñande ha’e temimbo’e porã Ñande temimbo’e porã Nós somos bons(as) alunos(as)
Peẽ ha’e hénte yvate Peẽ hénte yvate Vocês são altos

Outra forma de se expressar em guarani o que nós expressamos em português com o


verbo “ser” é justapondo os adjetivos calificativos aos adjetivos possessivos. Quando isso se
faz, os pronomes pessoais podem ou não aparecer.
Pronomes pessoais (ficam
Adjetivos possessivos subentendido ou não)
1ª Che [porã]
SINGULAR

Che
2ª Nde (oral) [vai] / Ne [rosã] Nde
3ª H- (h-, hi’-, i-, ij-, iñ-) [hosã, hi’are, ikarape, ijyvate, iñaña] Ha’e
Ñande (oral) [yvate] /Ñane (nasal) [rosã] (inclui o interlocutor) Ñande

PLURAL

Ore [rory] (exclui o interlocutor) Ore


2ª Pende (oral) [rasy] / Pene (nasal) [mbarete] Peẽ
3ª H- (h-, hi’-, i-, ij-, iñ-) [hosã, hi’are, ikarape, ijyvate, iñaña] Ha’e kuéra

Exemplos:
Com adjetivo possessivo justaposto Subentende-se o pronome
a um adjetivo pessoal correspondente
Che tuja (Che) che tuja Sou velho(a)
28
Ipyahu (Ha’e) ipyahu Ele(a) é novo(a)
Pende yvate (Peẽ) pende yvate Vocês são altos(as)
Pene mbarete (Peẽ) pene mbarete Vocês são fortes

O verbo “estar” também é assim conjugado (justapondo adjetivos possessivos).


Exemplo: che rory [estou alegre].
Por sua vez, o verbo “ter” igualmente pode ser formado pela justaposição do adjetivo
possessivo ao predicado, quando indicar uma qualidade do sujeito. Exemplo: che rory [tenho
alegria]. Também pode ser formado desse jeito + acréscimo do próprio verbo “areko” [ter],
quando indicar algo que é propriedade do sujeito. Exemplo: che areko peteĩ mbarakaja [eu
tenho um gato].

Anotações:

VERBOS EM “A”:
Os verbos guaranis em “A” são formados pela colocação de uma partícula antes dos
radicais verbais, construindo-se o tempo presente desses verbos. São chamados de “verbos
em A” ou “verbos Areais” porque a partícula colocada para conjugar a 1ª e 2ª pessoas do
singular são a- e re-. Sua colocação no dicionário é feita colocando-se a letra “A” no início do
radical, tal como: (a)guata, (a)guapy. Anotações:
Pronomes pessoais Verbos em “A”
SINGULAR

Eu Che a-
Tu/Você Nde/Ne re-
Ele(a) Ha’e o-
Nós (inclusivo) Ñande/Ñane ja-/ña-
PLURAL

Nós (exclusivo) Ore ro-


Vós/Vocês Peẽ pe-
Eles(as) Ha’e kuéra o-

Exemplos de verbos em “A”: -jepy’apy, -pu’ã, -ke, -karu, -guata, -mba’apo (preocupar-
se; levantar-se; dormir; encobrir; comer; caminhar; trabalhar).

CHE NDE HA’E ÑANDE ORE PEẼ HA’E KUÉRA


Ajepy’apy Rejepy’apy Ojepy’apy Jajepy’apy Rojepy’apy Pejepy’apy Ojepy’apy
Apuã Repuã Opuã Japuã Ropuã Pepuã Opuã
Ake Reke Oke Jake Roke Peke Oke
Amo’ã Remo’ã Omo’ã Ñamo’ã Romo’ã Pemo’ã Omo’ã
Akaru Rekaru Okaru Jakaru Rokaru Pekaru Okaru
Aguata Reguata Oguata Jaguata Roguata Peguata Oguata
Amba’apo Remba’apo Omba’apo Ñamba’apo Romba’apo Pemba’apo Omba’apo
29
Anotações:

VERBOS EM “AI”:
Pronomes pessoais Verbos em “AI”
Eu Che ai-
SINGULAR

Tu/Você Nde/Ne rei-


Ele(a) Ha’e oi-
Nós (inclusivo) Ñande/Ñane jai-/ñai-
PLURAL

Nós (exclusivo) Ore roi-


Vós/Vocês Peẽ pei-
Eles(as) Ha’e kuéra oi-

Exemplos de verbos em “AI”: -pyso, -pota, -su’u, -mo’ã (estirar, arrumar; querer,
morder/mastigar; imaginar-se).

CHE NDE HA’E ÑANDE ORE PEẼ HA’E KUÉRA


Aipyso Reipyso Oipyso Jaipyso Roipyso Peipyso Oipyso
Aipota Reipota Oipota Jaipota Roipota Peipota Oipota
Aisu’u Reisu’u Oisu’u Jaisu’u Roisu’u Peisu’u Oisu’u
Aimo’ã Reimo’ã Oimo’ã Ñaimo’ã Roimo’ã Peimo’ã Oimo’ã

Sobre oral e nasal na conjugação dos verbos:

Jurugua [Oral] He’ise [Tradução] Tĩngua [Nasal] He’ise [Tradução]


Jajapo Nós fazemos Ñañe’ẽ Nós falamos
Jajapi Acertamos com algo Ñañapĩ Tosquiamos
Jaipuru Usamos Ñainupã Batemos
Ñande hu’u Temos tosse Ñane ru’ũ Estamos moles
Nde resay Tua lágrima, lagrimejas Ne rasẽ Teu choro, choras
Pende ro’y Vós tendes frio Pene kane’õ Vós estais cansados(as)

Observe-se que a conjugação da primeira pessoa do plural (inclusivo), nos verbos em


“A”, será ja- (oral) ou ña- (nasal). Nos verbos em “AI”, será ou jai- (oral) ou ñai- (nasal). No
caso dos verbos em “CHE”, a marca da primeira pessoa do plural será ñande (oral) ou ñane
(nasal); a segunda pessoa do singular será nde (oral) ou ne (nasal); a do plural será pende
(oral) ou pene (nasal).

SUBSTANTIVOS QUE PREDICAM – VERBOS EM “CHE”:


Alguns verbos guaranis são conjugados com a justaposição do adjetivo possessivo
com um predicado, construindo-se o tempo presente desses verbos. São chamados “em
CHE” porque os adjetivos possessivos da 1ª e 2ª pessoas do singular (utilizados para fazer a
conjugação) são “che” e “nde” (por isso “em CHE” ou “CHENDais”).

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Verbos em “CH” (adjetivos Anotações:
Pronomes pessoais
possessivos)
Eu Che Che
SINGULAR

Tu/Você Nde Nde (oral)/Ne (nasal)


Ele(a) Ha’e H- (h-, hi’-, i-, ij-, iñ-)
Ñande (oral)/Ñane (nasal)
Nós (inclusivo) Ñande
(inclui o interlocutor)
PLURAL

Nós (exclusivo) Ore Ore (exclui o interlocutor)


Vós/Vocês Peẽ Pende (oral)/Pene (nasal)
Eles(as) Ha’e kuéra H- (h-, hi’-, i-, ij-, iñ-)

Exemplos de verbos em “CH”: akã nundu, hu’u, ko’ẽ, asaje, ka’aru, pyhare, porã, añõ
(ter febre; ter tosse; acordar; passar a sesta; passar a tarde; passar a noite; ser bonita; estar
só).
CHE NDE HA’E ÑANDE ORE PEÊ HA’E KUÉRA
Che akã nundu Ne akã nundu Iñakã nundu Ñane akã nundu Ore akã nundu Pene akã nundu Iñakã nundu
Che hu’u Nde hu’u Ihu’u Ñande hu’u Ore hu’u Pende hu’u Ihu’u
Che ko’ẽ porã Ne ko’ẽ porã Iko’ẽ porã Ñane ko’ẽ porã Ore ko’ẽ porã Pende ko’ẽ porã Iko’ẽ porã
Che asaje porã Nde asaje porã I(j)asaje porã Ñande asaje porã Ore asaje porã Pende asaje porã Ijasaje porã
Che ka’aru... Nde ka’aru... Ika’aru... Ñande ka’aru... Ore ka’aru... Pende ka’aru… Ika’aru…
Che pyhare... Nde pyhare... Ipyhare ... Ñande pyhare ... Ore pyhare … Pende pyhare … Ipyhare …
Che porã Ne porã Iporã Ñane porã Ore porã Pene porã Iporã
Che añõ Ne añõ Hiañõ Ñane añõ Ore añõ Pene añõ Hiañõ

OBSERVAÇÕES E LEMBRETES:
Mbo Partícula que aplica o sentido de "fazer causar".
Haguã "para", utilizada com verbos. Com substativos, se utiliza "-pe" para dar esse sentido.
+ve "mais". Tanto com verbos quanto com substativos e adjetivos.
T+ "que". Exemplo: Tereho porã = Que vã bem. Taha = Que vá.
+hina Gerúndio.
+kue Durante.
+rire Depois.
Va'erã Futuro obrigatório.
+ta Indicador de futuro positivo.
Moãi Indicador de futuro negativo.
Mo+ Fazer acontecer. Exemplo: Mopu'ã = Fazer levantar.
+ma Acabou de acontecer, agora, já.
Aje'i Aconteceu faz pouco tempo.
+ramõ Aconteceu há pouco tempo atrás, agorinha, recentícissimo, no instante.
Kuri Há pouco tempo.
Va'ekue No passado mais distante.
Yma, kuerã Antigamente.
E+ Imperativo. Exemplo: Ema'ẽ = Olhe.
Mina Dá sentido apelativo ao verbo.
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Mikena Dá sentido bastante apelativo, implorando. O "ke" tem sentido de recomendação.
Enfatiza a decisão. Exemplo: Taha taguata mba'e = Que eu caminhe; Sabe, vou
Mba'e
caminhar.

2.6.1 – Tembiaporã

1) Ñamoñe’êke! [Vamos ler!]


Vamos ler o trecho abaixo e, após, traduzir ao lado:

Che aime porã che rekohápe.

Pépe che ko’ẽ porã. Pépe oime che sy ha

che ru. Pépe oime avei ysyry, ka’aguy, che

kokue ha che rogami.

Che rekohápe ndajepy’apýi mba’evére.

2) Vamos identificar os pronomes pessoais, os adjetivos possessivos, os verbos e os


substantivos no trecho acima.

2.7 – Advérbios

Vejamos, a seguir, algumas circunstâncias e advérbios/locuções adverbiais que as


expressam:

Agora Ág̃a/Ko’ág̃a De dia/durante o dia Árakue


Hoje Ko árape De manhã/durante a manhã Pyharevekue
Sempre Akói, jepive, jepi, meme Durante a sesta Asajekue
Tempo

Nunca Araka’eve De tarde/durante a tarde Ka’arukue


Cedo Voi De noite/durante a noite Pyharekue
Às vezes Sapy’a py’a Pela manhã Pyhareve
De repente Sapy’a À tarde Ka’aru

Aqui Ápe, ko’ápe À direita Akatúa


Ali Pépe, upépe À esquerda Asu
Lugar

Hakykue; tapykuépe (atrás de algo);


Lá Amo Atrás rapykuéri (atrás de alguém)
Onde Mamo, mamópa, moõ Em cima Ári, hi’ári

Bem Porã Rapidamente Pya’e


Modo Mal Vai Lentamente/Devagar Mbegue
Quieto/Em silêncio Kirirĩ

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Pouco Chu’i, mbovy, sa’i Mais ou menos Vai vai
Intensidade
Bastante/Demais/Muito Teta (reta/heta), tuicha Apenas Ae, año, ha’eño

Dúvida Provavelmente Ikatu

Afirmação Sim Héẽ, upéicha Com certeza Upéichaite

Negação Não Nahániri

2.7.1 – Tembiaporã

2.8 – Numerais

Peteĩ 1 Mbohapy 3
Mokoĩ 2 Irundy 4

Exemplos:
Peteĩ mitã’i hoy’u Um menino toma água
Mokõi jagua saraki Dois cachorrinhos travessos
Mbohapy mitã Três crianças
Irundy pakova Quatro bananas

2.8.1 – Tembiaporã
1) Mba’e óra piko?
a) ch) e) g) h)

a)
ch)
e)
g)
h)
33
2) Responda, em guarani, as seguintes as perguntas:

Que horas você acorda?


Que horas você levanta?
Que horas você almoça?
Que horas seu colega de turma almoça?
Que horas começa sua aula de guarani?
Que horas você dorme?

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