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TEXTOS PARA A HISTÓRIA DE SERGIPE

CAPÍTULO UM

OS ÍNDIOS EM SERGIPE
BE ATRIZ GÓIS DANTAS

1. A DIVERSIDADE DOS ÍNDIOS

O espaço geográfico que hoje constitui o estado de Sergipe,


foi ocupado por diferentes povos indígenas que, a exemplo dos
demais índios do Brasil, tinham maneiras próprias de organizar­
-se para explorar a natureza e viver em sociedade. Seus modos
de vida, suas línguas, suas culturas resultaram de processos de
elaboração gerados no Novo Mundo ao longo de muitos séculos.
Ainda hoje há no Brasil mais de cem línguas indígenas sendo 25
faladas e cerca de mais de cento e cinquenta povos com estilos
de vida próprios, sua visão de mundo, seus mitos e ritos. Uns
vivem de caça, outros de pesca ou de agricultura e coleta, combi­
nando muitas vezes essas atividades entre si. Há grupos grandes
e grupos pequenos, uns sedentários, outros seminômades. Em
resumo, além das diferenças nos modos de adaptação ecológica,
as sociedades indígenas diferem entre si pelos aspectos sociais,
culturais, lingüísticos e históricos.
Essa diversidade pode ser observada entre os índios que
ocuparam o atual território de Sergipe. Aqui viveram os Tupi­
nambá e os Kiriri além de muitos outros grupos menores como
os Boimé, os Karapotó, os Aramuru, os Kaxagó etc. 1•

1
Conforme convenção adotada pela Associação Brasileira de Antropologia (1953)
os nomes tribais não serão flexionados.

BF \TRI/ Ctll� D\'\T-\S


TI·:\.Tf >S PARI\!\! II� !'OH!:\ DE SER< ;Jl'E

Essas são denominações de grupos indíge11as cuja prese11ça e


Considerando a fragmentariedade das informações contidas
localização no atual território de Sergipe são indicada s por fontes
diversas, ao longo dos séculos. No mapa abaixo tentamos localizar s fontes não se pode pretender exatidão, mas tão somente a in­
. , . �ca çã o ap roximad a de locais onde foi registrada a presença de
.
alguns grupos indígenas no terr1tor10 serg1pano. :
r u 05 i nd ígena s, em algum m o mento, entre os séculos XVI e XX.
g � multiplicidade de denominações dos índios de Sergipe
}.
anta pa ra a diversidade da população nativa, diversidade que
Mapa 1
Alguns grupos indígenas em Sergipe entre os Séculos XVI e XX
:� expressa, por exemplo, nas línguas faladas. Os Tupinambá fa­
la vam uma língua da família Tupi-Guarani do tronco lingüístico
Tupi, enquanto os Kiriri falavam a língua Kiriri do tronco lin-
üístico Macro-Jê (RODRIGUES, 1986). Quanto aos outros gru­
Aramuru �os já não é p�ssív:l c�nhecer a língua �rigin�lmente p�r eles
Xocó ( Ceucose) falada, devido a ausencia de documentaçao, pois muitas linguas
indígenas se extinguiram sem que fossem registradas. A questão
Romari
Karapotó
das fontes é, aliás, fundamental para que se possa reconstituir
os processos sociais, culturais e históricos vividos pelos índios
(DANTAS, 1985). Se em relação ao século XIX dispomos de um
acervo significativo de documentos já identificados no Arquivo
26
Público do Estado de Sergipe (APES), que se referem aos índios, 27
as informações são mais escassas à medida em que se recua no
,. Boimé tempo. Além do mais, o acesso a essas fontes é mais difícil, pois
estão localizadas em arquivos que se situam em outros estados
da federação e na Europa.

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ESTADO OE SERGIPE
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FONTES: CALDAS, 1931; CASAL, 1945; FREIRE, 1977; HOHENTHAL, 1960; LOUKO­
>,

TKA, 1955; NIMUENDAJU, 1981; PINTO, 1935; SOUSA, 1944; SOUSA, 1971; VILHE­ .,, . �

NA, 1969.
Sítio arqueológico Justino I Canindé do São Francisco I Foto Cleonice Vergner

. -
BEATRIZ GÓIS DANTAS
TEX'TOS PARA A f-ílSTÓRIA OE SERGIPE

Quanto à pré-história, cujo conhecimento depende de restos


da metade do século XVI, estavam espalhados em quase trinta
e vestígios encontrados muitas":'ezes no subs�Io, como artefatos aldeias 2 • Embora distante umas das outras, muitas aldeias eram
de pedra, cerâmica, ossos, carvao etc., ou de pinturas nas rochas unidas entre si por laços de parentesco e interesses comuns,
(arte rupestre) que atestam a presença de gr�pos h umanos, desenvolvendo conjuntamente uma série de ações relacionadas o
somente agora começa a ser desvendada atraves de pesquisas principalmente com alianças matrimoniais e atividades guerrei­
z
sistemáticas. A Universidade Federal de Sergipe vem desenvol­ o
rJ;

ras. O resumo que se segue baseia-se em Florestan Fernandes


vendo O Levantamento dos Sítios Arqueológicos e o Projeto de que, utilizando fontes quinhentistas e seiscentistas de autores
Salvamento Arqueológico do Xingó. Este último visa a recolher que registraram o modo de vida dos Tupinambá em várias par­
a maior quantidade possível de evidências da presença huma­ tes do Brasil, escreveu uma obra fundamental: Organização So­
na na área da hidrelétrica que está sendo construída, antes que cial dos Tupinambá (FERNANDES, 1963).
as águas da represa inundem os sítios arqueológicos e se perca As aldeias ou grupos locais dos Tupinambá eram formadas
a oportunidade de reconstituir o modo de vida das populações de grandes casas coletivas, as malocas, construídas de paus e
que aí habitaram. palha e dispostas de forma a deixar, no centro, um espaço livre
Não se tem ainda resultados que permitam datações seguras destinado às festas, aos rituais e às reuniões.
sobre os sítios arqueológicos de Sergipe. Pesquisas realizadas no O número de pessoas que moravam numa maloca era va­
Piauí indicam que o homem está presente no Nordeste há cerca riável, podendo chegar a algumas centenas. No interior dessa
de 32.000 anos. Muitos especialistas, porém acham mais seguro grande casa comunal não havia paredes separando as famílias.
28 situar por volta de 10 a 15.000 anos a presença do homem no A vida doméstica era, assim, intensamente partilhada pelos mo­ 29
Brasil. Para se ter uma idéia da antiguidade da ocupação do Nor­ radores da casa, em geral, aparentados entre si.
deste por populações humanas pré-históricas, basta lembrar Cada maloca tinha um chefe que resolvia questões internas
que os portugueses aqui chegaram a menos de SOO anos. e se reunia com os chefes das outras malocas para discutir e to­
mar decisões que podiam afetar a vida de todo o grupo, como,
por exemplo, fazer guerra aos inimigos ou mudar a aldeia para
2. TUPINAMBÁ, UM MODO DE SER ÍNDIO um novo local. Periodicamente, as aldeias eram abandonadas,
pois os recursos proporcionados pelo meio natural circundante
Dentre os povos indígenas que ocuparam o solo de Sergipe, já não eram suficientes para suprir as necessidades do grupo. O
os Tupinambá eram seguramente os mais numerosos e os mais cultivo continuado das roças tornava os solos pouco férteis e a
espalhados, sendo sua presença registrada em vários pontos do lavoura pouco produtiva. Com a exploração prolongada de uma
estado. As referências escritas mais antigas sobre os índios em determinada área, também escasseavam outros recursos naturais
Sergipe dizem respeito aos Tupinambá.
Estes habitavam o litoral brasileiro à época da conquista e 2 Dentre outras fontes, merece destaque a carta escrita pelo Pe. Inácio de Tolosa,
pelo fato de terem entrado logo em contato com os coloniza­ que relata acontecimentos de 1575. Nela há referencias aos Tupinambá e a al­
d? re s que os descreveram, hoje dispomos de várias fontes dos guns dos seus costumes que coincidem com costumes dos Tupinambá do litoral
Norte e Sul do Brasil, descritos pelos cronistas. Essas coincidências permitem
seculos XVI e XVII que falam sobre o seu modo de vida. Assim sa­ usar relatos e gravuras dos cronistas para ilustrar o modo de vida de índios de
bemos que os Tupinambá, que habitavam em Sergipe, na segun· Sergipe à época da conquista.

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BEATRIZ GÓIS Dru'\'TAS
TEXTOS PARA A HJSTÓRIA DE SERGIPE

l·m ais , pei xes ave s que for nec iam pen a s p a ra os
.a:
o.
- import ant es ( an '
Os homens derrubavam a mata e preparavam o terreno
-..
,
.

& 1·tes, mater iai s pa ra co nstru ção de ma loc as etc .) o q u e l ev a .


en1e . , .
-se par a out ra par te d o terr 1 tor 10 s ob se para O plantio, fazendo a queimada (coivara). Caçavam, pesca­
va o grupo a des loca r . , . u
. vam, fabricavam canoas, os instrumentos de guerra, os adornos,
o
ti':
domínio. o controle sobr e um dado terr1 to � 10 ma i s ou me n o s ex.
funci onam ento essa oc 1 edad e, na qua a e obtinham fogo, cortavam a lenha e faziam a guerra. Alguns tr! ­
tenso permitia O � � � t r. ·-
ra se constituía no bem maior. Nao haVIa, contudo, propriedade balhos eram desenvolvidos coletivamente, como a construçao
à comunidad e e todas as e das malocas e O preparo do terreno para as roças. Além dessas
privada da terra. Ela pertencia _
p ssoas
gru utilizá-la para caça, pesca, coleta e agr i tur . formas de trabalho grupal (mutirão), que indicam como a c�o­
po podiam cul a
do
Essas eram atividades econômicas básicas entre os Tupinambá.
peração e a solidariedade era � elementos
_
importan � es ?ª v,� a
dos Tupinambá, eles criaram varias mecanismo � de d1str ! bu1çao
Os instrumentos de trabalho eram de propriedade individual. _
dos produtos vitais, o que fazia com que na aldeia n1nguem pas­
A divisão do trabalho era baseada no sexo, principalmente, e
sasse fome quando havia alimento disponível. Normalmente o
também na idade. Desse modo, eram atividades destinadas às mu­ ,
e produto da pesca, da caça, da coleta e das atividades agr1colas
lheres os cuidados com a casa, o preparo dos alimentos e das b bi­
pertencia à família que o produzia, mas na époc � de esca � sez os
das, a fiação do algodão, a fabricação das redes e da cerâmica e os
alimentos eram distribuídos de forma a atender as necessidades
cuidados com os animais domésticos. Cabia-lhes também a maior
de cada membro do grupo. Do mesmo modo, não havia ricos e
parte dos trabalhos nas roças relacionados com o plantio, manu­
pobres. A acumulação de riquezas não era bem vista; ao contrá­
tenção e colheita. Realizavam a coleta de frutos, raízes etc. e ajuda­
30 rio, ser generoso na distribuição de bens era uma forma de ser
vam nas pescarias. Certas tarefas eram reservadas às mulheres ve­ reconhecido como pessoa de prestígio na comunidade. 31
lhas, como recolher as flechas para os guerreiros durante as lutas, A generosidade era um dos atributos importantes dos chefes.
enquanto as jovens virgens tinham papel destacado na fabricação Vimos que entre os Tupinambá cada maloca tinha um chefe que
do cauím, bebida fermentada destinada ao consumo ritual. integrava o Conselho, instituição política básica através da qual se
processava o governo das aldeias. Havia também o chefe da aldeia,
principal ou morubixaba, que os conduzia nas expedições guerrei­
ras. O chefe da aldeia caçava, pescava, trabalhava nas roças, enfim,
exercia as mesmas atividades que os demais homens do seu grupo
local. O respeito dos seus companheiros era assegurado não pelo
uso da força (não havia polícia nem tribunais), mas pela persuasão.
O casamento constituía uma instituição social importante
entre os Tupinambá. Permitia a manutenção e ampliação de
alianças entre parentelas, o que era muito valorizado por eles.
Pelo casamento uniam-se diferentes aldeias numa proposta de
paz e cooperação.
Entre os Tupinambá era freqüente o casamento de um ho­
mem com a filha de sua irmã (sobrinha materna), havendo vá­
rias outras possibilidades de escolha de cônjuge. Os novos ca-
BEATRIZ C'�IS DANTAS

TEXTOS PARA A HISTÓRIA DE SER(;IPE

i
sa s não c on s t ruí am um a n ova casa, a pe n as u m d o s côn j u ges se
transferia para a maloca on de morava o outro. Tanto o hornellJ A guerra era uma realidade muito presente na vida dos Tu­
quanto a mulher poderia mudar de maloca, a depender do sta .. pinambá e uma das principais fontes de prestígio e elevação
tus dos que estavam envolvidos no casamento. de status. Os valores guerreiros eram ressaltados na cultura e -
Entre eles, os casamentos poderiam ser desfeitos e um h tinham muita importância na vida desse povo. Quando nascia
V)
8
O-
rnem poderia ter vári�s esposas ao mesmo te mpo (po/iginia uma criança do sexo masculino, o pai cortava o cordão umbili­
).
Geralmente isso ocorria com os chefes, os grandes guerreiros , as cal, achatava o nariz, banhava e pintava o recém-nascido, fazia
pessoas mais maduras e bem sucedidas da comunidade. Jnfor.. uma oferta cerimonial de unhas de onça e garras de pássaros e
mantes que descreveram esses índios registraram q ue quanto recolhia-se à rede observando jejum. Esse resguardo conhecido
mais se notabilizava o homem na guerra, por suas proezas e va­ como couvade, que se liga com a idéia vigente entre eles de que
lentias, tanto mais lhes é permitido ter mulheres para seu serviço. apenas o homem era o agente da reprodução e como tal corria
E ainda o que mais mulheres tem, se tem por mais honrado e esti­ perigo quando nascia a criança, durava até a queda do umbigo
do recém-nascido. O pai fazia então miniaturas de arco e flecha e
mado (FERNANDES, 1963: 240 citando Soares e Thévet).
atava-os num dos punhos da rede da criança e no outro amarra­
Vê-se, pois, que o número de esposas estava relacionado
va um molho de ervas, que simbolizava os inimigos que ele deve­
com a posição do indivíduo na hierarquia grupal e era também
ria matar e comer ritualmente no futuro. Quando caía o umbigo,
símbolo de prestígio social. Além do mais, razões de ordem eco­
o pai o partia em pedaços e os amarrava nos pilares da maloca
nômica levavam um casal a atrair outras mulheres para a sua
para que se torne avô, mantenha casa e lar. Esses ritos visavam
32 convivência. Num lar poligínico, o trabalho feminino rendia preservar, de forma simbólica, o bem estar do recém-nascido e 33
muito mais, pois era executado por várias mulheres. Para con­ transmitir à criança do sexo masculino as qualidades valoriza­
seguir a primeira esposa, contudo, o homem tupinambá deveria das pelos Tupinambá: um bom chefe de família e um bom guer­
ter participado de guerras e morto pelo menos um inimigo. reiro.Vê-se, assim, que a guerra desempenhava um papel muito
importante na sociedade tupinambá.
Era a oportunidade de vingar os parentes mortos pelos
inimigos, tanto assim que procuravam fazer prisioneiros para
matá-los depois, ritualmente, e desse modo, apropriar-se das
qualidades guerreiras dos vencidos.
Os prisioneiros de guerra eram levados para a aldeia e agre­
gados ao lar do seu capturador, sendo considerados como pro­
priedade deste. Mas o prisioneiro não se destinava a produzir
bens para o seu proprietário. Levava vida igual à dos demais
homens da aldeia, deles se distinguindo pelo uso de um colar
especial e pelo destino que o aguardava: ser sacrificado e comi­
do ritualmente (antropofagia). Elaborados ritos, que incluíam a
participação de pessoas de outras aldeias aliadas, eram então
celebrados e visavam restabelecer o equilíbrio social do grupo
B 1-.:\ l !Zl /.: ( ;l HS lJ,\ 'T! \S

TEXTlJS Pf\Rt\ A 1-!lSTÓR[r\ !JE SER(


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que se rompera com a 1norte dos parentes nos ataques de 1.n.1-


migos. Reforçavam a solidariedade intergrupal, send o t atnbé Essa caracterização. dos Tupinambá não vale para ou tro
s po-
, enas que aqui v1. v1a .
m no passad o, ou vivem no pr
ocasião de aquisição de status por parte de indivíd uos , sobret: vos indig esen-
o
C/)

do do sexo masculino. A guerra, nessa sociedade que encarava a te, co m o é o caso d o s X o có .


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vingança como valor fundamental, era o mecanismo através do os Kiriri, _que se _espalhavam pelos sertões do Nordeste, e
qual os jovens ascendia1n à condição plena de homem, podiai aqui em Sergipe habitavam nas imediações de Geru e também
n o B ai xo São Francis co, não só fala vam outra língu a, mas tinham l
l

casar, ter filhos, ganhar prestígio e muitas mulheres. n


outr os mito s, outras formas de ocupar O espa­
1

Assim, costumes que nos parecem esquisitos, quando a na­ o u tro s co stum es,
lisados no contexto social em que ocorrem, ganham signific ado ço e organizar-se. O mesmo acontece com outros índios que aqui
e mostram que têm uma lógica e uma razão de ser para aqueles habitavam e cujo modo de vida é pouco conhe cido.
i'

que os praticam. Isso quer dizer que a diferença na cultura deve Co m a chegada dos europeus e a colonização empreendida
ser vista como uma forma pela qual os seres humanos encontra­ pelos portugue ses, as diversas tradições culturais indígenas so­
ram soluções diversas para as mesmas questões básicas. frera m profundas modificações e, muitas delas, se extinguiram
no confronto entre povos que tinham, não só visões de mundo
Os Tupinambá tinham sua maneira própria de explicar 0
diferentes, mas interesses e proje tos opostos.
Universo. Segundo eles, certos personagens dotados de poder es
sobrenaturais teriam dado feição ao mundo e ensinado os ho­ 3. ÍNDIOS E EUROPEUS
mens a cultivar a terra, a fabricar seus instrumentos, a viver em
34 sociedade. Essas informações estão contidas nos mitos - nar­ Como vimos, os índios que ocuparam o território onde hoje se 35
rativas que se transmitem de uma geração a outra por via oral localiza o estado de Sergipe não eram todos iguais, não viviam to­
- pois os índios não conheciam a escrita. Nos mitos dos Tupi­ dos do mesmo modo, nem falavam todos a mesma língua. Apesar da
nambá, Monam é personagem de destaque por ter criado a terra diversidade, eles apresentavam algumas características que foram
e os animais, mas há muitos outros heróis civílízadores3 a quem muito bem resumidas por Aracy Lopes da Silva, antropóloga, que or­
atribuem não só transformações na natureza mas também a re­ ganizou um livro intitulado A Questão Indígena na Sala de Aula:
velação de plantas comestíveis, de regras sociais etc.
Suas práticas religiosas e mágicas giravam em tomo do pajé Quando com paradas à sociedade ocidental as socie dades
ou xamã, uma espécie de médico-feiticeiro que curava doenças e indígenas aparecem como basicamente igualitárias, ou
também podia provocá-las. Era responsável pelo bem-estar geral seja, são sociedades não-estratificadas, sem classes so­
da comunidade, protegendo-a contra os espíritos malignos, zelan­ ciais e sem distinção entre ricos e pobres. Isso é possí­
do pelas boas colheitas, boas caçadas. Pela importância das suas vel graças a uma relação coletiva com a terra, ou seja,
r
atividades, o pajé era elemento central nas aldeias dos Tupinambá. é enquanto membro de um grupo indígena controlado
io que um in di vi du o te m ac es so à te rr a e
de um territór
am bi en te on de vi ve . O pr od ut o
aos re cu rsos naturais do
divid u a l: fr eq ü en te m en te as ro ça s
d o trabalho pode se r in
s el em en ta re s (co m p o st a s
3
Personagens mitológicos que, segundo a crença de muitos povos, criaram ele­ são proprie dades de família
p ro p ri a çã o in iv id u a l d a terra
mentos da natureza, ensinaram aos homens as artes, as técnicas e as regras so­ por pai, mãe e filhos). A a �
ciais que formam o seu equipamento cultural.

..
BEATRIZ G(JIS D, T.\S
Tf.XTOS PARA A HISTÓRIA DE SERGIPE

pelo trabalho não destrói a relação coletiva que a comu­


nidade mantém com seu território, porém. desempenho atribui prest(qio. Há, portanto, também hie­
Ao nível da produção, ainda, o qi,e caracteriza tais socie­ rarquia e prest(qio diferencial. Isso ocorre, muitas vezes,
no plano da vida ritual e não implica des(qualdade social
dades é a divisão sexual do trabalho: as tarefas estão de­
-� naquilo que for essencial para a sobrevivência com digni­
terminadas de acordo com se.xo e idade. Não há grup os
dade e condições de realização pessoal. Que a vida deva
sociais (classes) encarregados de tarefas diversas no pro­
ser assim, as crianças aprendem logo cedo. A pobreza,
:r,
o
cesso de produção. E esse é o outro dos fatores que contri­
nos grandes centros urbanos, fornece as cenas que mais
buem para que sejam sociedades igualitárias.
chocam qualquer índio adulto em visita à cidade (SILVA,
Ao nível da distribuição de bens e serviços, é importante
1987: 139-140).
saber que as regras da circulação não são as do merca­
do úá que se trata de economias não-monetárias, isto é J o texto que acabamos de transcrever deixa claro que as so­
onde não há circulação de moeda). O que regula a dis- ciedades indígenas no Brasil, em seu conjunto, são muito dife­
tribuição dos alimentos, por exemplo, são regras e obri­ rentes da sociedade em que hoje vivemos e das sociedades eu­
gações vinculadas aos sistemas de parentesco, político e ropéias da época das grandes navegações.
de ritual. Pessoas aparentadas por certos laços devem, Os portugueses que aqui chegaram no século XVI, provi­
quase sempre, dividir sua produção. Presentear é uma nham de uma sociedade que tinha outra organização econômi­
obrigação. Retribuir, também. A generosidade é condição ca, social e política, outros costumes, valores e interesses.
36 do prestígio político e condição para a vida numa aldeia. Para que se possa entender o que acontece com os índios a 37
Parceiros rituais freqüentemente trocam ornamentos e partir de 1500, é preciso saber quem eram e o que queriam os
alimentos. Além disso, os grandes cerimoniais, dos quais portugueses que aqui aportavam.
toda a aldeia participa, são momentos de produção de Os portugueses que empreenderam as grandes viagens marí­
uma grande quantidade de comida, por um esforço con- timas no século XV tinham uma sociedade estratificada (nobreza,
junto, e que é destinada à redistribuição. Para ser capaz burguesia e trabalhadores nos campos e nas cidades), cuja centra­
de viver numa sociedade assim, é preciso que as crianças lização política tinha na figura do Rei o seu expoente maior. Uma
recebam atenção especial. Imitando os adultos em suas das grandes ambições dos portugueses de então, particularmente
atividades cotidianas e rituais, na medida de seu próprio da burguesia, era o lucro comercial proveniente da circulação de
esforço, capacidade e compreensão, as crianças se iniciam mercadorias que vinham do Oriente e tinham larga aceitação na
nas tarefas essenciais. As técnicas necessárias à produção Europa (cravo, canela, pimenta etc). Foi tentando encontrar rotas
de artefatos básicos para a sobrevivência [cestaria, cerâ­ de acesso aos centros abastecedores desses produtos que os portu­
mica, confecção de instrumentos de trabalho com os mais gueses chegaram ao Brasil, onde não viram, no primeiro momento,
variados materiais, técnicas agrícolas, de caça e pesca, de riquezas aparentes. No entanto, a presença do pau-brasil desper­
coleta, etc.) são socializadas, ou seja, todos têm acesso a tou o interesse de comerciantes franceses que passaram a traficar
elas. Há sempre os que, mais habilidosos, destacam-se e essa madeira diretamente com os índios. A abundância de pau­
especializam-se em alguma atividade. Há outras esferas -brasil nas terras do atual território de Sergipe atraiu os franceses,
da atividade social que exigem formação especial e cujo que desde o início do século XVI fizeram aliança com os Tupinambá
)IS DA :-,.í >\S Tr.XTC)S PARA A r-ílSTÓRIA
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,. c1a. , con10. o .alg . od a o e a p1 me nta da ter ploração do pau-brasil e atestada po r Jean de Le'ry, um france,., s
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fas e 1n1 c1a l, e1n q t1e a q u e n entre os Tupinarn�
Ne ssa uro p eus , o s uce s so
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viajam nao fossem a1udados pelos selvalgens não poderiam nem
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n c ia , sua segura nça
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tiv os. D es tes d e p e n d ia s u a s o b r e v iv
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, . sequer em um ano carrelgar um navio de tamanho médio (LERY,
d a . E r a o in d to q u e
eO aba ste .
c1m en to d a s m e r c a d o r ia s d e s e Ja s
1967: 146).
o rt a v a , tr an p o rt a v a n o s om - Vê-se, pois que a idéia de índio preguiçoso, muito difundida
. , desbast a v a , c s
derrubava a madeira u a a tr "
e l ' g u a s e
bros para a costa, em d1·stâ n cia à s v e z e s d e d s s e
no s dias at uais, surge mais tarde, quando o europeu tenta incor­
colocava-a n os navios. porar o índio à agricultura, esta essencialmente uma tarefa fe­
minina entre os nativos. Surge assim dos interesses dos colonos
e de sua incapacidade de compreender o trabalho e seu signifi­
cado nas sociedades indígenas (Ver A Organização do Trabalho).
Além da extração de pau-brasil os índios, a pedido dos es­
trange iros, intensificavam a produção de algodão e proviam-nos
de alimentos . Em troca, recebiam panos, instrumentos de metal,
missangas, espe lhos etc.; estabelecendo-se se assim um sistema
38 conhecido como escambo onde serviços e objetos eram troca­ 39
dos por objetos. O sistema de alianças já conhecido dos nativos
facilita essa convivência, muitas vezes estreitada pela adoção de
costumes indígenas por parte de alguns europeus residentes
nas aldeias. Nessa fase inicial de contato entre índios e brancos,
regida pelo escambo, embora tenha havido por parte dos nati­
vos o desenvolvimento de trabalho em benefício dos europeus
e a adoção de bens provenientes deles, não houve uma grande
desorganização da vida dos índios. Estes conseguiram manter
em funcion amento seu sistema produtivo e suas instituições
básicas. As pressões sobre as sociedades indígenas se tornarão
mais fortes com a colonização.
e
Escambo do pau-brasil I André Thevet (séc. XVI}


TEXTOS PARA A HISTÓ
BE,I\TRJZ GÓIS OA.'\VfAS RIA DE SERGIPE

RES
4. OS ÍNDIOS NA P E R SP E C T IV A D O S COLONIZADO
se espalha... vam pe.
la c osta, pa rticularmente pela
8 ah.1a e seu Re-
côncav o. A medida que se expandiam os engenhos , aument
· m ai s ef e tiva c 1n o G o ver110 u de e scra s q u e n , ava
I n1· c1ada em 1530 e d e f ri n a b sca o s e culo XVI era
o o
o a
· ·f· · : ; m sobretudo índios,
l niz çã m rc um m ud nç a m ui t o sign i ic at i v a mais �ar�e su bst:tui� o s _rei os africanos. Embora se afirme com
Geral a c o o a o a a a a
ém d o uso do tr�balho
nas r�laçõ es en tre ín di o s e eu ro pe us . Al insistenc1a que o 1n.d10 na .
o se adaptou ao trabalh
o nos engenhos,
ic v n oc up açao da s
indígena de fo rm a co nt in u a d a , el a im p l a a � _ Stuart Schwartz, h1sto r1ador que estudou a sociedade açucarei-
se nv olv im en to d a agri­
terra s pe los p o rtu gu es es , atr av és do de ra colo nial, mostra como até o primeiro qu artel do século XVII,
cultura e outras ativida des que entravam em choque co m os 0 índio fo i la rga mente utilizado , como escravo, nos engenhos,
interesses do s índio s terminando po r destruir as bases da vida sendo gr adualmente substituído pel o africano. O autor registra
tribal e reduzir as aldeias à do minação do branco, quando não tamb ém qu e entre a escravaria indígena de um engenho baiano
, .
ao exterm1n10. havi a índios de procedências diversas, inclusive de Sergipe Del
O processo tem várias facetas, que vão desde a destruição Rey (SCHWARTZ,1988).
pura e simples pelas guerras, até as tentativas de submissão A intensa mortalidade que se observava entre os índios em
pelo aldeamento efetuado pelo s missionários, passando pela contato com os europeus, resultante dos conflitos armados e do
escravização empreendida pelos colonos. Esses processos não impacto de um a série de doenças às quais os índios não apresen­
são excludentes e com freqüência as guerras eram seguidas da tavam resistências, fazia com que os portugueses buscassem re­
escravização dos sobreviventes e aldeamento dos fugitivos, em novar seus estoques de escravos noutras plagas, como nas aldeias
40 cujas terras se estabeleciam os colonizadores. dos Tupinambá da margem esquerda do Rio Real, onde se con­
Esse panorama fornece o contexto para entender-se a con­ centrava numerosa população indígena. Assim é que, antes mes­
quista de Sergipe, que se situa no quadro geral da conquista do mo de 1590, marco da conquista de Sergipe, muitos índios foram
Brasil e especificamente do Nordeste. aqui escravizados e levados para as povoações dos portugueses
Localizado entre dois focos de colonização já estabelecidos localizadas na Bahia. Numa revolt a de escravos, aí ocorrida em
e prósperos - Bahia e Pernambuco - o território entre o Rio Real 1568, índios fugiram à escravidão e voltaram para o Rio Real, sua
e o São Francisco continuava até o terceiro quartel do século XVI terra de origem. Esses ex-escravos indígenas constituíam, segun­
sob controle dos nativos que, aliados aos franceses, resistiam às do fontes da época, metade dos habitantes de uma aldeia de mil
investidas do·s portugueses. Além de impedirem a expansão dos almas (TOLOSA, apud FREIRE, 1977: 72), o que dá a dimensão da
colonos e a ligação por terra entre os núcleos de povoamento escravização dos índios de Sergipe ainda no terceiro quarte� do
sediados na Bahia e em Pernambuco, eles representavam um a século XVI. É provável que muitos deles tenham sido conseguidos
ameaça à segurança dos núcleos já estabelecidos além do Rio has guerras intertribais, pois havia rivalidades muito fortes entre
Real e à integridade da Colônia portuguesa, devido à aliança os Tupinambá da Bahia e os que ficavam à margem esque�a d�
com os franceses. Rio Real até o Rio São Francisco (SOUSA, 1971: 300). Essas nval�-
Doutro lado, a população nativa que aqui vivia despertava co l oni z dor es o sen ti·
. das pelos
n
dades muitas vezes foram acirra a
a ambição dos colonos que a consideravam como escravos em do de tirar proveito de certos costumes indígenas.
potencial. O índio era então largamente utilizado como mão-d xt o d so cie dad e T upi. -
e­ A guerr a' por exemplo, que no conte a
-obra escrava nas povoações portuguesas e nos engenhos qu · ig os p ar m atá- 1os
e n amb á era um mecanismo de apresar in · im a

1
OEATRIZ G()IS DANTAS TEXTOS PARA A I IISTé)l{lf\ DE
SERGIPE I

ei ro da al de ia - fo rm a id ea l de ex ec ut a r a 5. PRIMEIRAS TENTATIVAS DE CATEQU


ritualmente no terr ESE
m an tida pela ad m in is tr aç ão co lo 11i al e es tim ul a da
vingança - foi
lo no s. De um lado , a gu er ra pe rm � tia ao s et �ro pe t1s ap ro ­ Em 15 75 o Pad re Gaspar Lourenço e o Irma... o Sal"on1· 0 vi
pelos co . . . eram
veita rem a ha bilida de m ilit ar de se t1s ali ad os na tiv os , us an do­ da Bahia com a fmahdade de catequizar os índios. Em História
Cf.lo -os contra povos ainda não submetidos ao jugo portt1guês e, de de Serg ipe, �m_a obra bási ca da historiografia sergipana, cuja pri­
outro, era fonte de escravos. Para tanto, n1udava-se, contudo, a meira ed1çao e de 1891, Fehsbelo Freire fez uma reconstituição o
'J)

sua forma e o seu sentido: os i11imigos deveriam ser mortos no dessa tentativa de conquista pela catequese e tornou público um
campo de batalha e, quando aprisionados, vendidos como escra­ impo rtant e documento da época - a carta do Padre Inácio de
vos. Assim, ao tempo em que se combatia a matança ritual dos Tolosa - que relata, do ponto de vista dos jesuítas, as andanças
inimigos e, sobretudo a antropofagia, a guerra era preservada e e atuação destes entre os índios, os conflitos subjacentes a essa
transformada, apesar da relutância dos índios, num mecanismo situação e o fracasso resultante da intervenção bélica de Luís de
de apreensão de mão-de-obra de que necessitavam os colonos. Brito. Nas imediações do Rio Piauí fundaram os jesuítas a pri­
A utilização do trabalho indígena era fundamental nesse meira igreja, dedicada a São Tomé. Aí teria funcionado também
momento. Dividido entre os interesses dos colonos que que­ uma escola. Avançando em direção ao norte, ergueram outra
riam escravos e dos jesuítas que desejavam ter os índios sob seu igreja, a de Santo Inácio, nas margens do Vaza-Barris (provavel­
controle, a Coroa fez várias leis sobre o assunto, ora proibindo, mente onde fica a atual cidade de Itaporanga) e mais outra, per­
ora regulamentando em que condições a escravização do índio to do mar, dedicad a a São Paulo. Outros jesuítas foram enviados
42 poderia ser efetuada. A "guerra justa" era uma das formas atra­ a Sergipe e durante um ano ficaram entre os índios ensinando­ 43
vés das quais os colonos podiam adquirir legalmente escravos, -lhes a religião cristã (FREIRE, 1977:70-76).
pois a idéia era que os índios que pegavam em armas contra os Apesar da difícil convivência com os brancos e dos receios dos
portugueses deviam ser mortos e, se aprisionados, tornavam-se índios, porque se difundira entre eles a notícia de que os nossos
escravos. A guerra que em 1590 foi feita aos índios de Sergipe [os padres] tinham por costume ajuntar os índios, fazer-lhes ale­
foi declarada pela Coroa uma "guerra justa". Mais ou menos na gria e depois cativá-los e entregá-los aos brancos (TOLOSA, apud
mesma época, outras guerras foram feitas a diversos grupos in­ FREIRE. 1977: 73), a atuação dos jesuítas atingiu cerca de trinta
dígenas do Nordeste, resultando na conquista da Paraíba, Rio aldeias, algumas das quais, segundo as fontes, teriam procurado,
Grande do Norte e Alagoas. . . , .
espontaneamente, aproximação com os m1ss1onar1os.
Antes, porém, que Cristóvão de Barros viesse da Bahia com Embora possa parecer estranho que os índios tomassem
suas tropas para efetivar a conquista, algumas tentativa de
s a iniciativa de pedir missionários ao governador da Bahia, ou
�aior apro�imação entre portugueses e indígenas em Sergipe que chefe s indígenas tenham ido ao encontro dos jesuítas con­
ficaram registradas nos documentos. A mais significa vid an do-os pa ra irem às suas aldeias - iniciativas registrad�s
tiva é a de
catequese desenvolvida pelos jesuítas. e m documentos da époc a - parece-nos que essa busca de mis­
sionários, além da curiosidade que os padres despertavam, er�
uma e st ratégia adotada pelos índios na tentativa de e�caparem .ª
e scravização realizada pelos colonos. A I eg1· slaçao... da epoc a pr. ,.o1-
. c o n s c 1e n -
b1a que os índios catequizados, os chama d os " ,
in d ,o
· s de
BEATRIZ GÓIS OAJ\,'T1\S
TEXTOS PARA A HlSTÚRlJ\
DE SE RGIPE

eia", fossem vendidos como escravos. Embora essas leis fossem cos, aponta ainda para os desencontros entre os m1. ss1. , .
constantemente desrespeitadas, a presença do missionário cria­ ove ad o r, na onarios
e O g. rn quele momento atendendo 1n
, . · teresses mais
va embaraços para que os índios fossem retirados das aldeias imediatos dos colonos, avidos por escravos nativos.
e levados como cativos para as povoações dos brancos. Assim,
o
V'J

quando as demandas por escravos caçados nas terras sergipa­


o
V}

nas se tornavam maiores em virtude da expansão das atividades 6. MARCO DE CONQUISTA: 1590
dos colonos nas imediações do Rio Real e da escassez de nativos
em Pernambuco e no Recôncavo baiano, devido ao extermínio Na forma de marcar o tempo entre os europeus, ao findar-se
dos índios nas guerras ou a dizimação provocada pelas doen­ 0 terceiro quartel do sé culo XV I, uma série de acontecimentos
, .
ças, é crível supor que os índios tenham recorrido à presença do envolvendo os 1nd1os de Sergipe indicam que estes, desde mui-
missionário para fazer face à avassaladora onda escravista. to, achavam-se envolvidos na s malhas do processo de conquista
O trabalho de catequese, pelo qual o missionário tentava con­ efe tuado pelos portugueses. Intensificação das guerras intertri­
vencer os índios - sobretudo através da palavra - das vantagens bais por interferência dos colonos, apresamento de escravos nas
da religião cristã e da convivência com os brancos, demandava aldeias, doações de terras aos colonos na margem esquerda do
tempo e foi bruscamente interrompido pela ação do governador Rio Real, presença de criadores de gado nas margens do mes­
Luís de Brito e Almeida. No final de 1575, à frente de muitos sol­ mo rio e de missi onários jesuítas que se internam pelos matos à
dados, ele se deslocou até o Rio Real e isto resultou numa guerra procura das aldeias indígenas para pregar e fundar igrejas, sol­
44 cuja violência foi assim registrada por uma fonte da época: dados acampados nas proximidades dos territórios dos índios 45
abusando sexualmente das índias e levando intranqüilidade aos
Arruinaram-se totalmente os trabalhos do Rio Real. O nativos, tropas que atacam deixando atrás de si um rastro de
governador Luiz de Brito veio com tropas para bater os destruição, escravização e morte, índios que fogem espavoridos
índios do Aperipê, e ao aproximar-se da aldeia de San­ ou armam ciladas para vingar-se das perseguições sofridas são
to Inácio fogem seus habitantes. Ele considera a fuga alguns dos fios com que se tece a trama da conquista4 • Esse pro­
quebra de paz, persegue-os. Surubim morre, e os mais cesso atinge um dos seus momentos cruciais em 1590, quando
entregam-se. Cativa a todos e os encurrala na igreja de chega a Sergipe a expedição vinda da Bahia, sob o comando de
S. Tomé como em um cárcere. Os soldados assolam tudo Cristóvão de Barros para dar combate aos índios e submetê-los
quanto encontram, e o governador arrebanha quantos ao domínio colonial. Com fortes efetivos militares e muita vio­
achou e os arrasta para a Bahia: de modo que o resulta­ lência se lançam sobre os nativos que até então resistiam aos
do de tantas esperanças foi o cativeiro de mil e duzentos conquistadores, que se lhes apresentavam sob diferentes faces -
transportados para a Bahia que Deus com a morte se de colono, de soldado ou de missionário. Episódios da guerra de
serviu libertar dentro do ano de cativeiro (SACCHINO, 1590 estão registrados em Frei Vicente do Salvador, que fala da
apud LEAL 1874). m atança de 2.400 índios em três combates. Estes culminam com

Esse texto que retrata o fracasso das primeiras tentativas de • Sobre . dO processo d e c o n q u is ta ver, entre o u -
os acontecimentos e a cronolog1a ES' 1989.
catequese e a mortalidade dos índios em contato com os bran- tros, BEZERRA, 1952; FREIRE, 1977; FIG UEIREDO , 19 81 e N U N
TEXTOS PARA A l IISTÓRIA DE SERG
BEATRIZ GC11S DANTA IPE

da he ró ica re sis tê nc ia of er ec id a to rnar a cerca, onde, entrando os nossos apo


\

a vitória do s in va so re s, ap es ar , s e1es, 1hes --


w
:l.

po r Ba ep eb a e ou tro s ch efe s ind íge na s ao s qu ais se ali ar a pa ra mataram mil e seiscentos e cativaram quatro
mil (SAL-
'

fazer frente aos invasores. O antropólogo sergipano Felte Bezer­



VADOR, 1982: 254).
t.l:i

o ra, com muita pertinência assinala que e11quanto os nomes dos


U')

,_ conquistadores, companheiros de Cristóvão de Barros, estão A conqu ista não se. encerrou nessa vio lenta batalha que
,
o
fartamente registrados nos documentos, o mesmo não acontece fez com que 4.000 1nd10s fossem escravizados como despojos
U')

com os chefes aliados das tribos indígenas. No seu entender, o da "guerra justa" autorizada pelo Reino, enquanto muitos nati­
principal era o Boipeba, sendo os demais, ao que parece, Aperi­ vos fugiam par a o sertão onde continuavam sendo perseguidos
pê, Siriri, Japaratuba e Serigi (BEZERRA, 1952: 37n). A escassez pelos portugueses , aumentand o assim o número de mortos e
de informações sobre os vencidos, característica da documen­ de escravos. Na noite de Ano Novo de 1590, quando os arcos
tação disponível, faz parte de um processo geral de produção e flechas dos guerreiros de Baepeba e seus aliados sucumbem
de documentos escritos que servem de base ao conhecimento aos arcabuzes das tropas portuguesas, o que se declara é que
histórico. Esses registros são mediatizados pela visão do euro­ já não é possível deter o avanço dos conquistadores. É, pois, um
peu e filtrados por critérios seletivos que envolvem não só uma momento decisivo desse processo que Maria Thétis Nunes, em
determinada tradição cultural mas as experiências e as expec­ seu livro Sergipe Colonial, muito apropriadamente denomina de
tativas de quem escreve. Não obstante as limitações das fontes, incorporação do território sergipano à colonização portuguesa,
alguns nomes reais ou supostos de chefes indígenas figuram nos constituindo-se, pois, num sinal da conquista. Alianças e hosti­
46 documentos e hoje estão associados a denominações de cidades lidades por parte dos índios sobreviventes se sucedem ao longo 47
ou edificações públicas, numa tentativa de preservar a memória dos séculos, mas gradativamente, o domínio colonial se impõe
de chefes que, representando cerca de vinte mil índios, confron­ sobre os nativos que dominavam entre o Rio Real e o Rio São
taram-se com as tropas portuguesas, na noite de Ano Novo de Francisco. Os territórios indígenas são retalhados em sesmarias,
1590, num sangrento combate assim registrado pelo cronista: com o passar dos anos ocupadas pelas plantações e currais de
gado dos brancos. Enquanto isso, os índios, sujeitos a pressão
Ouvido pois o mandamento, se saíram das cercas e o nosso de toda ordem, decrescem numericamente e têm drasticamente
general lhes saiu só com os de cavalo, que eram sessenta modificadas suas formas de viver. Dois processos paralelos se
homens, e os pôs emfugida, não consentindo que os nossos des envolvem concomitantemente à conquista e à colonização:
os seguissem, como queriam, porque os da cerca principal o genocídio, massacre de populações nativas e o etnocídio, des­
do Baepeba não lhes dessem nas costas, donde à noite do truição sistemática de culturas. Os dois processos conduzem à
Ano Bom de 1590, vendo-se sem os das outras cercas e sem morte dos índios. A diferença é que o genocídio assassina os po­
a agua, começaram também a fugir, indo os mais valentes vos em seu corpo e o etnocídio os mata em seu espírito (CLASTRES,
diante despedindo nuvens de frechas, com que forçaram 1982: 54). O etnocídio que preserva o corpo e visa a suprimir
os nossos que por aquela parte estavam não só a dar-lhes diferenç as culturais julgadas inferiores, tem nas missões um es­
caminho, mas ainda a lhes irem fugindo; po rém O gene
­ paço privile giado.
ral, atravessando-se-lhes diante, a brados e com
o conto
da lança os fez parar e voltar aos inimigos
até os fazer
------
BEATRIZ GéHS OA,'\ffAS
TEXTOS PARA A HISTÓRIA DE SERG
IPE

7. AS MISSÕES
As missões ambulantes realizadas pelos jesuítas entre os
-.
w
o..
índ io s de Sergipe no final do século XVI, foram gradativamente
'

À medida que se expandem, os colonos aumentam as pres­ cr::

substit uíd as pela s missões aldea mentos. Na primeira modalida­


t.:.J
rJ")

sões sobre os indígenas e se intensifica a atividade dos missio­


d e, o s pa dres circulavam pelas aldeias pregando a religião cristã o
rJ")

nários, que se desenvolve em conexão com o movimento de ex­


o
Cf.)
a uma população indígena que ainda conservava suas formas ·-
pansão colonial.
própri as de organização e cultura. Na segunda, os padres se fi­ o
IJ)

xavam entre os índios muitas vezes expulsos dos territórios que


outrora ocupavam ou desgarrados das suas comunidades de
orig em que, ajuntad os com outros de etnias diversas, são sub­
CATECISMO metidos à nova ordem. As missões aldeamentos se expandem à
· nADOUTRINA med ida que a colonização avança.
CHRIS.TAA Embora sejam escassas as informações de que dispomos sobre
os nativos no século XVII, observa-se que na segunda metade do
Na Língua Brafilica século há um incremento da ação missionária, que se reflete em
DA NAÇAO KIRIRI Sergipe através da fundação de vários aldeamentos efetuados por
1
l
.COMPOSTO
Pelo P. L UIS VlNCENCIO
. ,
,•
diferentes ordens religiosas em diversos pontos da Capitania. A
ocupação dos holandeses no Nordeste (1630-1649) afetou o rela­
48 MAMIANI, cionamento entre índios e colonos, na medida em que se recolo­ 49
Da Companhia de JESUS, Miffiona-
- rio da Província do Brafil. '
cou para os nativos a possibilidade de fazer alianças com outros
europeus, que eram, naquele momento, inimigo dos portugueses.
.. .
As populações indígenas das margens do São Francisco foram pro­
fundamente afetadas pelas disputas que visavam o domínio sobre a
região. Com a expulsão dos holandeses intensificaram-se os traba­
lhos de catequese em conexão com as atividades de criação de gado
e mineração através das quais iam sendo conquistados os sertões.
Partindo da Bahia e de Pernambuco que eram também os pontos
de irradiação da pecuária que se expandia para o interior, seguindo
o vale do São Francisco, jesuítas, capuchinhos, franciscanos e car­
melitas fundaram missões entre os índios. Algumas localizavam-se
Frontispício do catecismo em língua kiriri elaborado pelo Pe. Luiz V. Mamiani.
no atual território de Sergipe, como a missão de São Pedro de Porto
da Folha e a de São Félix de Pacatuba, ambas fundadas no final do
século XVII, por capuchinhos que vieram de Pernambuc�. Vindos
da Bahia, os jesuítas que tinham aqui fazendas como TeJu�eba e
_
Japoatão, fundaram a missão de Geru (Juru). Os carmelitas cnaram
a missão de Japaratuba e outra perto do Rio Real.
BEATRJZ C(11S D1\..1\JTi\S TEXTOS PAR,'\ A HIST()R[A
sr u CIJJJ�
f)}l, • ,n.

Essas missões aldeamentos eram ajL1ntame11tos de índios,


.....
muitas vezes de etnias diversas, cujo objetivo explícito era a Padre Noflo.
o cupadzuá di­

cristianização. Com essa finalidade, os padres aprendiam a lí11-


(./j

gua dos índios e escreviam catecismos nos quais as práticas das A d ;e no!To t que
bárí rr1ó arákié,
--
o
religiões indígenas apareciam co1no superstições e pecados que
dó netfówonhé adzé
�tt as nos Ceos;
fant1fiQdo fcja o·tc
deveriam ser combatidos. O catecismo que o jesuíta Man1iani es­ u
inháá ; dó dí ecan­ o
'J')

creve na missão do Geru, para cristia11izar os índios Kiriri dizia, nome ; venha a nos
ghité htdyodé ; dó o _tru Rcyno ; feja
entre outras coisas, que eles deveriam evitar: mor6 acáté mó radá, feita a tua vontay
morómó arákié ;dó e
affim na terra como
curar os doentes com assopro: curar de palavra ou com dí hiam ítédé cná hi• no Cto; o paó noíl o
cantiga. Pintar o doente com genipapo, para que não d1ohodé dóighy; có de . cada dia nos dá
seja conhecido do diabo(...) (MAMIANI, 1942: 19). pricré mó hibuân­ bo;c • & pcrdoanos
ghcté<lé; mor6 fiprí as no!fas dividas , af.
Tais práticas, que faziam parte da sua cultura nativa eram hiréJé dó dibuàn. fim corno nós per­
condenadas e substituídas em nome do cristianismo. Assim, os ghcrí hiaídé; dó di­ doamos aos noi]os
missionários que amenizaram os choques entre os colonos e os k ):é cná hihébupídé devedores ; & naó
índios, também representavam uma violência contra o modo de nç1�1mará anhí; c6 nos deixes a.hir cm
50 nunhé hict�ãdé coá tentaçaô; mas l1vra­
vida dos nativos. A residência fixa numa aldeia, regida por um 51
b6burété. Amen n� co mal. Amcn
sistema de poder dependente dos padres e do Estado português,
JESU. JESU.
conduzia necessariamente à destruição das bases de sua orga­
nização social e à modificação de suas culturas. Os índios eram Padre-nosso na língua kiriri e em português do século XVII (Catecismo kiriri)
catequizados, transmitindo-se junto com a religião católica os
valores da nova sociedade. 1 Embora houvesse muitas divergências entre os missionários
e os colonos, estes interessados em ocupar as terras dos índios e
escravizá-los, as missões não deixavam de atender também aos
objetivos da colonização portuguesa. Em sua fase inicial, a mis­
são garantia a segurança da população, que ampliava a frontei­
ra econômica e garantia ainda a preservação do patrimônio dos
colonos. Martinho de Nantes, capuchinho francês que missionou
entre os índios do São Francisco no século XVII, época de expan­
são do gado, deixou um rico relato de sua vivência missionária,
onde registra que muitas vezes a iniciativa de fundar a missão,
partia dos próprios fazendeiros que, querendo levar o seu gado
às pastagens naturais existentes nas proximidades de aldeias in­
dígenas, ajudavam o missionário a estabelecer-se entre os índios,
BEATRIZ GC1IS Dt\,"'T.<\S
TEXT()S PARA i\ 1 IISTORI \ OE SERCIPE

pois a conversão deles lhes tirava o receio das incursões dos selva­
gens (NANTES, 1979: 22). Mtiito significativamente os índios das 0 tempo que hão de estar ao seu poder (BIBLIOTECA NACIONAL,
missões eram chamados índios mansos aqueles que, ao me110s 1941: 305). O controle da mão-de-obra indígena era um dos
principais motivos dos conflitos entre missionários e colonos.
i.iJ
....,
teoricamente, não molestavam os brancos. A oposição entre ín­
ti)
,_

,_ dios selvagens e índios mansos i11dica que 110 projeto colo11ial só Para estes o ideal era ter os índios como escravos, quando isto r.r:,
,-.

o
._;

V:

havia lugar para os 11ativos que se sub1netesse1n à nova ordem. não era possível restava a possibilidade de usar o trabalho dos ·-
indígenas reunidos nas aldeias, surgindo por vezes sérios confli­
Uma vez domesticados os í11dios das missões, agora torna­
tos. Além do trabalho indígena outra fonte constante de atritos
dos súditos do Rei, eram utilizados pelo Estado como força de
era a posse das terras.
combate nas lutas contra índios inimigos, negros aquilombados
ou invasores estrangeiros.
As tropas de Cristóvão de Barros, que em 1590 derrotaram 8. AS TERRAS DAS ALDEIAS
os índios de Sergipe, eram integradas por 3.000 índios, dentre os
quais 400 "frecheiros" procedentes dos aldeamentos jesuíticos Subtraídas aos índios, seus primitivos donos, as terras fo­
da Bahia (BEZERRA, 1952: 36). Do mesmo modo, as missões de ram ocupadas gradativamente pelos colonos. A sobrevivência
Sergipe forneceram índios de armas para vários empreendimen­ dos grupos indígenas reunidos nas aldeias encravadas nas áre­
tos coloniais. Em 1688, índios das missões de Porto da Folha (Al­ as já ocupadas pelos brancos, dependia, porém da existência de
deia de Aru Maru) e Pacatuba, dirigidos pelos capuchinhos, são porções de terra sob o seu controle, donde pudessem retirar o
52 convocados para lutar contra os indígenas, que no Rio Grande 53
mínimo necessário ao seu sustento, razão pela qual os Reis por­
do Norte, tinham se rebelado contra o jugo português (BARROS, tugueses, em diferentes momentos, reconheceram aos índios o
1920, vol. I: 206-209). Em diferentes ocasiões, índios do Geru, direito sobre a terra.
missão dos jesuítas, foram requisitados para combater índios Já em 1562, a pedido dos jesuítas, o governo dá sesmaria
revoltosos ou mocambos de negros fugidos (DANTAS, 1983). aos índios (LEITE, 1938: 87). Desde então, diversos expedientes
Além de ser reduto de homens em armas, a missão era re­ legais reconheciam lhes o direito sobre as terras, explicitado em
serva de mão-de-obra barata que poderia ser utilizada pelos alvará de 1680 que os considera como primários e naturais se­
colonos e pelo Estado. Os índios aldeados eram empregados na nhores dela (RIBEIRO, 1982). Em alvará de 23 de novembro de
construção de obras públicas como estradas, pontes, abertura 1700 o rei ordena que
de canais etc.
Prestavam ainda serviços aos colonos mediante pagamento. dê toda providência necessária a sustentação dos Párocos
Em 1714, por exemplo, muitos índios das missões de Japaratuba e índios do Brasil sobre o que se tem passado repetidas or-
e do Rio Real, administradas pelos carmelitas, viviam nas casas . dens e se não executam pela repugnância dos Donatários e
dos moradores, tendo ordenado o governador que eles fossem eiros qu e po ss ue m as te rr as do s sert õe s. He i po r be m ,
Sesm
recolhidos às missões e aqueles que os tinham sob seus serviços do qu e a ca da um a m iss ão se dê um a lé � u � de t�r­
e man ,
lhes paguem primeiro, tudo o que lhes estiverem devendo do seu ra pa ra susten ta çã o do s ín di os e m 1s s1on ar1os
ra em quad
trabalho. Determina ainda que os moradores não poderão levar aç ão qu e cada alde ia , se há de co m po r ao me-
com declar
.., L IO T E C A N A C IO N A L , 19 4 4 : 6 7 ).
índios sem licença dos missionários que lhes há de determinar nos de cem casais. ... {BIB
Al- \Tl<l/ C ,<li� Dt\ '-T \" T!·,X'J OS !'ARA A IIIS1 ()l{fJ\ IH· SEl{C ,11'1:

Muitas vezes era o 1nissio11ário que fazia o }Jedido da terra No entanto, ao delimitar no espaço físico uma base territo­
para a aldeia. Já en1 1698, un1 frade carn1elita escreveu ao Rei ria l onde os índios desenvolviam não só atividades de subsistên­
11,ostrando a conveniência de dar terras aos í11dios Japaratuba cia, mas nela identificavam pontos de referência de uma história
para viverern e forrnarern aldeia corn missionários, pois tinham construída de expropriações e resistências para manter-se di­ e-,...,
'J)

·- sido expulsos do local 011de moravam por un1a prepotente fa­ ferenciada dos regionais, os índios de Sergipe encontraram na
e
V:
zendeira (BIBLIOTECA NACIONAL, 1950: 42). missão suportes para manutenção de uma coesão grupal que fez
De modo geral, as aldeias i11dígenas dispunhan1 da posse co­ com que chegassem ao século XIX como grupos que se identifi­
letiva de porções de terra cttja extensão variava, a depender de cavam e eram reconhecidos como índios.
diversos fatores, inclusive do tamanho do grupo aldeado. Aqui
e1n Sergipe, segt111do os documentos, as missões dispunham
quase sen1pre de uma légua em quadra. A posse dessas terras 9. OS ÍNDIOS NO SÉCULO XIX
era disputada pelos regionais, que queriam incorporá-las às
suas propriedades ou usá-las sem nada pagar aos índios. Esse No primeiro quartel do século XIX havia índios dispersos
choque de interesses gerava conflitos que se registram ao longo em vários pontos da Província de Sergipe, conforme indicam os
dos séculos, envolvendo colonos, índios e missionários. Estes, Mapas de População existentes no Arquivo Público do Estado.
com freqüência, encaminharam ao Rei de Portugal pedidos de Mas era nos aldeamentos que se concentrava o maior número
demarcação das terras das aldeias funcionando assim como um deles. Reconhecia-se então oficialmente a existência das seguin­
54 canal de acesso ao Estado, na tentativa de que os direitos dos ín­ tes povoações indígenas: Aldeia de Água Azeda, Missão de Nossa 55
dios à terra fossem garantidos. Em 1781, por exemplo, a pedido Senhora do Carmo de Japaratuba, Missão de São Félix de Paca­
de um frade capuchinho, foram medidas as terras da missão de tuba, Missão de São Pedro de Porto da Folha e Vila do Tomar
Pacatuba, visando a impedir que os particulares as incorporas­ do Geru 5 • Com exceção de Água Azeda, aldeia localizada a cinco
sem às fazendas e os índios se dispersassem. léguas de São Cristóvão, a antiga capital, as demais aglomera­
Desse modo, a missão, enquanto espaço onde se defronta­ ções indígenas eram resultantes de missões. Ainda na segunda
vam interesses diversos, apresentava-se também como um es­ metade do século XVIII, Geru foi elevada à condição de Vila de
paço de contradições. De um lado ela promovia o nivelamento índios, após a expulsão dos jesuítas, seus fundadores. As demais
das populações indígenas que, diferenciadas culturalmente em permaneceram como missões dos carmelitas (Japaratuba) e dos
suas origens, se viam sujeitas a um regime que as transforma­ capuchinhos (São Pedro e Pacatuba) que, ao longo do século,
va no que o antropólogo Darcy Ribeiro chama de índios gené­ vão perdendo o controle sobre essas aldeias.
ricos (RIBEIRO, 1982). Privados das suas instituições sociais
tribais, que serviam de suporte a um certo modo de vida, viam
suas culturas se desmoronarem sob o impacto da nova ordem
5
que impunha uma outra religião - a cristã -, uma outra língua Há vagas referências a uma missão do Rio Real da Praia. Quanto à aldeia da Cha­
_
pada, que aparece em vários documentos, � um de� dob�ament� d� aldeia do
- a portuguesa -, proibia costumes e levava ao esquecimento, Geru que, ao ser transformada em Vila, assiste à m1graçao do� indios para as
muitas vezes, as auto-denominações étnicas inexpressivas no matas da Chapada, atual Cristinápolis. Sobre a história das aldeias, ver DANTAS
espaço homogeneizador da missão. (1976, 1983,1986); DANTAS e DALLARI (1980): FIG U�IREDO �1981) e M�TT
(1986). Há ainda várias referências a índios que nao _
_ v1v1am reunidos em aldeias.

•f
BEATRIZ GÓIS DA:"JT:\S

TEXTOS PARA A
HISTÓRIA DE, S
ERGIPE

Mapa li
Aldeias indígenas em Sergipe Século XIX (1 ª metade) em seu livro Sergipe dei Rey
_ popu 1aça_o' Ec
seguinte quadro no qual po anomia, Sociedade 0
. - dem ser observa . .
osc1laçao da população indíg das a ct·
1str 1bu1ção e
ena das aldei. as.
População indígena
de Sergipe
1798-1830
Localidade 1798 1802 1808 182 2 o
V)
, 1825 1825 1826 182 9
Agua Azeda 240 317 40 - 1830
Geru 206 - -
120 458 - 479 425 438 425 456 338
Japaratuba 240 94 -
300 213 16 -
Pacatuba 4 66 541 700 -
São Pedro
494 482 - - -
Pacatuba 250 231 300 - 127 103 - 139 -
Total 1316 1641 - - 1250 - - -
FONTE: MOTT (1986.• 92)
Japaratub
a
Observa-se que em Paca tuba e Ger
_ u, as maiores aldeias
abrigava-se uma população média de 464
índios no período en�
focado.
Esses dados se tor am mais significativos
56 � se comparados
c?m outros referentes a população indígena da
vizinha Provín­ 57
cia de Alago s. Ali, num período um pouco po
� sterior, segunda
metade do seculo XIX, havia aproximadamente
3.500 índios al­
deados, distribuídos em oito aldeias de tamanho
variado (AN­
TUNES, 1 984: 52). Essa comparação com Alagoas, prov
_ íncia que
Geru
se aproxima de Sergipe, não só pela vizinhança espa
ESTADO DE SERGIPE cial, mas
�,,,,..
ESCALA pe lo tamanho do seu território e pela trajetória histórica ind
, ica
que aqui a pressão contra os índios foi muito forte, resultando
numa redução muito grande dos seus contingentes.
No início do século passado a população indígena, que vivia ., A seguir, apresentaremos em linhas gerais o modo de vida
nas aldeias, representava cerca de 2% do total da população" de . � dos índios em Sergipe no século XIX. Além de praticarem agri­
Sergipe, segundo os dados fornecidos por Dom Marcos Antonio cultura de subsistência, os índios desenvolviam atividades de
de Sousa (1944), o que mostra a intensidade da depopulação ª pesca, relevantes, sobretudo nas aldeias sanfranciscanas, pela
que fora submetida a população nativa. proximidade do rio. Caça e coleta, que eram importantes em
O número de habitantes nas aldeias indígenas variava mui­ sociedades tribais, quase não são referidas nos documentos do
to em função de migrações e vários outros fatores. Luiz Mott, I século XIX, talvez porque na ótica dos brancos não fossem con­
s é t nico s
um pesquisador que estudou a demografia dos gr upo sideradas como ocupações. Preconceituosamente Dom Marcos
ap r ese n ta Antônio de Sousa, ao referir-se aos índios de Água Azeda, infor-
e outros temas da História de Sergipe no século XIX,

- .� . ..�
BEATRIZ GCHS OA.,TTAS TEXTOS P•\RA t\ l!ISTOKIA OE SE
KC.IPE

up am na ca ça ou na pe sc a, e ist o m os tr a qu e
ma que al gu ns se oc dianamente vividas e historicamente construídas e reconstruídas
do s ao es tado se lva . q em (S OU SA , 19 44 : 41 ).
ainda viv em in cli na ao se reportarem a uma ancestralidade coletiva, em que as ori­
Al ém das at ivi da de s já tra dic ion alm en te de se nv olv id as pe los gens indígenas eram revividas, inclusive através dos rituais reli­
índ ios , nos ald ea me nto s ele s ap ren de ran 1 vá rio s ofí cio s tom a11 d o­ giosos que o zelo missionário dos padres não conseguira de todo
-se sapateiros, alfaiates, ferreiros, carpinteiros, carpinas, serrado­ er radicar. Na tradição oral dos índios Xocó da Ilha de São Pedro,
o
res, pedreiros etc. (MOTT, 1986). Quanto às atividades exercidas
V)

até hoje restam as lembranças do último frade capuchinho que, o


pelas mulheres indígenas, embora sejam escassas as informações no século XIX, entre eles viveu por quase trinta anos, empenhado
contidas nos documentos, encontram-se referências à cerâmica e em acabar com os ritos nativos que os índios cuidavam de realizar
aos grosseiros panos de algodão fabricados pelas louceiras e pelas às escondidas do missionário (DANTAS e DALLARI, 1980: 163).
fiandeiras indígenas da Ilha de São Pedro. Estas e muitas outras Não se limitava à catequese a atuação dos religiosos entre os ín­
atividades artesanais, como os trançados de palha, eram certa­ dios. No século XIX, eles administravam ainda algumas aldeias em
mente, desenvolvidas juntamente com os trabalhos de roça e as Sergipe. Elas eram regidas por pessoas não índias, indicadas ou re­
atividades domésticas, pelas índias em outras aldeias. conhecidas pelo Estado, e pelas lideranças nativas, que recebiam tí­
No século XIX os aldeamentos indígenas mantinham víncu­ tulos de capitão, sargento etc., indicativos das funções militares que
los bastante estreitos com a sociedade mais ampla. Os índios in­ se reservavam aos índios aldeados. As ordenanças indígenas, nome
seriam-se no sistema regiona] como assalariados - tangedores que se dava a essa forma de organização imposta aos índios, subor­
de gado ou trabalhadores nas roças mediante pagamento - ou dinavam-se aos diretores da aldeia que administravam os bens e o
58 ainda como fornecedores de produtos artesanais e agrícolas. Os trabalho dos nativos e sua relação com a sociedade mais ampla. 59
aldeados de Água Azeda, por exemplo, freqüentavam as feiras A administração das aldeias esteve a cargo de diretores
de São Cristóvão, Itaporanga e Laranjeiras levando produtos das leigos ou religiosos, ouvidores, juízes de órfãos e autoridades
suas lavouras para vender (DANTAS, 1976: 432). diversas. Com o Regulamento de 1845, o Governo Central es­
Na missão de Pacatuba um comerciante branco se estabele­ tabelece normas sobre a administração e catequese dos índios,
cera na própria aldeia para suprir os índios dos produtos de que criando em cada Província uma Diretoria Geral de Índios. Em
necessitavam em troca dos artesanatos e produtos de suas roças. Sergipe, ela foi precedida por uma instituição congênere criada
Como se vê, os índios já não viviam segregados. Desde o sé­ em 1844 pelo governo provincial. Por essa legislação deveria ha­
culo anterior o Marquês de Pombal, ministro do Rei Dom José I ver um diretor em cada aldeia e um diretor geral na Província.
de Portugal, adotara uma política de abertura e integração das Ao longo dos séculos os poderes atribuídos aos dirigentes
aldeias, incentivando o comércio e o casamento entre índios e das aldeias sempre despertaram a cobiça dos fazendeiros inte­
brancos. As relações com os negros também se acentuam resul­ ressados em usufruir das terras e da mão-de-obra indígena. Na
tando nos casamentos mistos, na troca de elementos culturais e m issão de Pacatuba, por exemplo, sérios conflitos, como a inva­
entrelaçamento de vários sistemas de representação. O modo de são da cadeia de Vila Nova pelos índios, marcaram a substitui­
vida dos índios aldeados no século XIX é, pois, resultant de um o r
çã do direto capu ch in ho pe lo s dire tore s faze nd eiro s (DAN TA S,
e
lo�g� con�to com os regionais, moldado pela es 1986; MOTT,1986).
, trutura da aldeia
missionaria. Mantinham, contudo, laços dife ár ios ru ra is po ntua ra m a VIda � as
renciados do resto da Questões com os propriet
população, baseados num acervo de exper po sse de te rras cu ja prop rie dade coletiva
iências co muns, quoti- aldeias no século XIX. A
1
r
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Bf.1\TRIZ GÓIS OMíAS TE'\'fl)S p \Ri\.\ lll�TORl \ DL �l-
.RC,!Pl-.

rada ao s índi os po r leis, ge rava co ns ta nt es at ri tos co 1 n


era assegu terras q�e lhes res�avam. Sob a alegação de que abrigavam uma
ores de enge nh o e cria do re s de ga do vi zi 11h os da s al de ia s. populaçao �e �est1ços, são extintos vários aldeamentos indíge­
os senh
Queixavam-se os índios de que o gado destruía suas roças, nas em Go1as, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Pernambuco, Ala­
o
CI)
qu e os br an cos inv ad iam su as ter ra s ou não pa ga va 1n o ar re n­ goas e Sergipe (CUNHA, 1987: 70). .....�
-
rr.
damento quando as exploravam. Por seu turno, os índios eram Vejamos como em nível local se dá o processo de eliminação -
o acusados pelos fazendeiros de serem ébrios, arruaceiros e pre­ oficial das aldeias com base no argumento da mestiçagem.
guiçosos e com isso se insinuava que era um desperdício deixar Até a década de quarenta, as autoridades provinciais ad­
as terras nas mãos deles. mitiam explicitamente a existência das aldeias e reconhe­
Para se livrarem da vizinhança dos índios e poderem apos­ ciam como índios os seus habitantes. Não só o Presidente da
sar-se de suas terras, os grandes proprietários, que dispunham Província como as Câmaras Municipais pediam ao Governo
também de poder político, tentam extinguir aldeamentos, trans­ Central providências para educar os índios. Os proprietários
ferindo índios de uma aldeia para outra. Desse modo, liberavam­ rurais, quando se julgavam ameaçados em seus interesses,
-se as terras que pertenciam a uma delas. Os índios de Água Aze­ propunham a remoção dos índios para outra aldeia ou a incor­
da, por exemplo, que viviam na zona açucareira do Vaza-Barris, poração deles à Marinha, como forma de desmobilizar a ação
foram violentamente transferidos, por iniciativa dos senhores grupal. Tentando educá-los, removê-los ou dispersá-los, reco­
de engenho, para o Geru, retornando mais tarde para a sua al­ nhecia-se, contudo, a existência de índios e reconhecendo-a,
deia (DANTAS, 1976; MOTT, 1986). por coerência, deviam as autoridades garantir-lhes os direitos
60 assegurados por lei, inclusive o direito à propriedade coletiva 61
das terras das aldeias.
10. A NEGAÇAO DA EXISTÊNCIA DE ÍNDIOS E A PERDA DE TERRAS Na década de cinqüenta, sob o argumento de que os habitan­
tes das aldeias eram misturados e mestiços, passam as autorida­
Quando, nos meados do século XIX, ocorre em nível nacio­ des a negar a existência de índios em Sergipe. Essa é a postura
nal, a regulamentação da propriedade das terras no Brasil (Lei adotada pelo Presidente da Província Amâncio João Pereira de
de Teria 1850), declara-se, logo a seguir, que os índios que esti­ Andrade que, em 1851, faz um extenso relatório sobre as aldeias
vessem há muito tempo em contato com os civilizados, perdiam sergipanas, contestando as informações do Diretor Geral dos Ín­
o direito às terras que habitavam. O aviso número 172 do Minis­ dios e apresentando-as como constituídas de mestiços e alguns
tério dos Negócios do Império de 21 de outubro de 1850, manda poucos aborígenes que viviam entre os civilizados, opinando
com insistência que as aldeias deveriam ser extintas e seus ter­
incorporar aos Próprios Nacionais as terras dos índios que já não
renos incorporados aos bens da nação.
vivem aldeados, mas sim dispersos e confundidos na população
Em relação à aldeia de Água Azeda, por exemplo, dizia:
civilizada (APES, Pac. 425).
A idéia era que, após um longo período de mestiçagem (mis-: to velhos; os
. . . não há mais do que dois ou três índios mui
�r� racial) e aculturação (mudança de culturas em contato), os em co m o de sc en de nte s de índi o, nem
indios se tornavam iguais aos nacionais, deixavam de ser índios. mais não se di st in gu
di sp er so s po r aq ue le s co nt or no s, e
Essa ideologia assimilativa fez com que muitos grupos in­ pelas feições. Vivem
, outros po r estarem di sp utan do os te rren os qu e en te nd em
digenas do Nordeste e também de outras regiões perdes
sem as


BE.-\TRI/ c;n1s D1\'\l.\S Tt Xl O� 1 1 •\R \ \ 111'->TOl<I,\ f)I- SER< ,IPI:.

pertencer-lhes; estes n1es1nos não são 312 co,no diz o Dire­ qt1e foi decretado pelo Governo Central em 06 de abril de 1853
tor Geral, eles não passan1 do nún1ero de 180. (Leis do Império, Decreto n º 1.139).
,
Com a extinção da Diretoria dos lndios, o governo não
V)
Sobre a missão de São Pedro de Porto da Folha escrevia: mais reconhecia a existência das aldeias. Desobrigava-se, as­
sim, de prestar assistência aos índios, dar-lhe missionário e
Possuindo os índios de Porto da Folha e seus descenden­ garantir o direito às terras. Estas, que eram propriedade co­
tes uma légua de terras excelentes para criação de gado letiva dos índios, foram se transformando em propriedades
não há ali uma só casa que se possa notar co,no abastada, particulares dos que podiam comprá-las ou delas se apro­
sendo todos esses indivíduos, que só chegam ao número priar por outros meios.
de 260 probíssimos e miseráveis, o que se deve atribuir ao No final do século os registros oficiais já não fazem referên­
péssimo regime em que têm vivido, e ao sistema de segre­ cia a índios em Sergipe, índios são apresentados como seres do
gar infinitamente os índios em prejuízo seu e da sociedade passado, extintos. Nos levantamentos censitários aparece a ca­
(...) Sendo essa légua de terra só própria para criar gado, tegoria caboclo, uma nova forma de identificação imposta aos
e não tendo criação alguma os indivíduos que nela estão habitantes das aldeias.
de posse, porque se limitam a algum cultivo de arroz nas Desse modo, a mestiçagem, que fora largamente incentivada
margens do rio em suas vazantes, podem essas terras ser desde o século XVIII como parte da política de integração dos
aproveitadas e incorporadas aos Próprios Nacionais, po­ índios, transforma-se no artifício utilizado pelos brancos para
62 dendo-se delas formar para o futuro muitas fazendas de descaracterizar os habitantes das aldeias como índios, servindo 63
gado com crescido proveito para o público (APES. G 1 243). de pretexto para a espoliação das terras indígenas.

Prossegue o Presidente apresentando a sua visão de cada uma


das aldeias insistindo sempre na característica mestiça da popu­ 11. AS REAÇÕES DOS ÍNDIOS
lação, na escassez de "índios puros': nos conflitos, na pobreza dos
habitantes e na extensão das terras que constituía patrimônio Os índios não aceitaram passivamente a violência. Aliás, ao
coletivo dos aldeamentos. E conclui pela necessidade de extinção longo da história, eles reagiram de formas diversas às investidas
das aldeias indígenas declarando-se convencido que seria dos brancos que lhes tomaram as terras e lhes impuseram outro
modo de vida. Lutas, fugas e ataques, como os que fizeram à ci­
... uma vantagem que desaparecesse a raça indiana (sic) dade de São Cristóvão em 1751 e 1763, são algumas das formas
por meio do cruzamento, desaparecendo também seus de expressão da resistência dos índios de Sergipe.
péssimos costumes (APES. G 1 243). Referindo-se ao clima reinante na capitania nos meados do
século XVIII, Felisbelo Freire informa que:
As posições defendidas pelo Presidente Amâncio João Perei­
ra de Andrade em relação ao índio foram adotadas também pelo ... a ordem pública foi seriamente perturbada pelo assalto
seu sucessor, José Antônio de Oliveira e Silva, que solic que os índios fizeram, em número de três mil, à cidade de
ita ao Im­
perador a extinção da Diretoria Geral dos S. Cristóvão. As desordens nas aldeias sucediam-se. Os fn-
Índios em Sergipe, o
BEATRIZ GÓIS DANTAS

TEXTOS PARA A I IIS


TOHlA DE S�.H
, , CIPE

dios revoltavam-se contra seus capitães-mores e fugiam de


umas para outras, tornando-se preciso medidas enérgicas, menos de meia hora, so se ap
resentaram 4 0'J1c1
1r· ·a1s
so/d. ado e c m estes não tentei e um
como as que foram postas em prática para trazer a obedi­ � impedir tais índios, porque
ência. Daí nasceu o levante de 1751, que pôde ser vencido a v1st de tao grande força serí
� amos vítimas. Saíram por
pela guarnição da capital (FREIRE, 1977: 207). esta Vila em marcha de retirada co
m vivas e ditos ousados
(APES, G 580).
1

c.r,
A vida das aldeias no século XIX é marcada por muitos acon­ o
A esse episódio, que desencadeia uma violenta re
tecimentos que as autoridades encarregadas de manter a ordem pressão por
parte da s auto�id ades, somam-se outros que exempl
atribuíam à rebeldia indígena. _ ificam as di-
ferentes estrateg1as adotadas pelos índ1·os como reaçao - ,
Merece registro a invasão da cadeia pública de Vila Nova _ a desa-
gregaçao das suas sociedades e violência de que eram vítim
(atual Neópolis) pelos índios da missão de Pacatuba, visando li­ as.
Em Geru, os índios fazem uma migração lenta e silenciosa
bertar suas lideranças. O fato ocorreu em 1826, num momento abandonando o local da antiga missão, ocupada pelos brancos pa
em que a direção da aldeia estava sendo entregue aos fazendei­ . , ra
viverem nas matas da Ch�pada, atual Cristinápolis (DANTAS, 1983).
ros, seus inimigos, e é assim descrito por uma autoridade local: No aldeamento de Agua Azeda, os índios, após terem sido
transferidos pelo governo para a Vila de Geru, no primeiro quar­
As 11 horas da manhã foi cercada esta Vila, e guarnecida tel do século XIX, retornam e reconstroem a sua aldeia que havia
todas as entradas e saídas, por índios da Aldeia de Pacatu­ sido incendiada (DA NT AS, 1976) 6• A propósito dessa mudança
64 ba e depois entrando pela praça uma grande porção deles, compulsória dos aldeados de Água Azeda transcrevemos uma 65
que bem representam 200, todos armados de várias armas, correspondência dos índios dirigida ao Presidente da Província
como arcos, flechas, lasarinas, bacamartes, facas e cacetes na qual eles fazem denúncias e pedem justiça.
outros foram as Cadeias onde se achavam o Sargento Mor
dos Índios de Pacatuba Serafim José Vieira, e mais três da Em observância do ofício de Vossa Excelência de 12 deste
mesma Nação, que o acompanharam armados a esta Vila Mes em resposta que manda Vossa Excelência que Repre­
na ocasião que foi preso em virtude da Portaria de V. Exa. sente o Número dos Índios desta Mição de Água Azeda, a
de 29 do mês passado, e raivosos despedaçaram o cadeado tempo para desfrutar a nossa planta para efeito de largar­
e ferros que trancavam as cadeias as quais foram arrom­ mos a nossa aldeia Representamos a Vossa Excelência com
badas tiraram o Sargento Mor Serafim, e os três mais ín­ a lista junta e parece que semilhante número de Abitantes
dios, todos sendo criminosos destinados por V. Excia. para não deve ser disgraçado pelo Seu Monarca que nos deu
a Marinha, e juntamente um marujo recrutado a mesma por sismaria Meia Legoa de terra em Quadra e por que os
Senhorios dos Engenhos de /taperoguá e Escorial nos têm
Marinha, que se achava na cadeia e daí ao Calabouço do
tomado as nossas terras com mediçoins /alças e ainda não
Batalhão desta Vila e arrombando as portas tiraram para
fora cinco indivíduos que se achavam pelo Capitão Mor
Comandante do mesmo Batalhão recrutados para a pri­ 6
Sobre as transferências dos índios de Águ a Azeda para Geru ver também MOTT
meira linha, o que causou grande motim na Vila, e como (1986: 30). Para questões mais recentes envolvendo os habitantes de Aldeia, deno­
esteja quase deserta e fossem estes acontecimentos em minação atual de Águ a Azeda, e proprietários rurais ver FIGUEIREDO (1981: 78-80).
BEATRIZ GÓIS DANTAS
TLXT( )S P,\R.,\ \ 1 fI 1., r ( )RI
\ Dl \[ !:{( ,ll'r.
1

contentes requereram nosso dispejo para a Vila de Tomar


eles recorriam às au toridades na tentat1v· a de d. ·
donde com a fome morreram a maior parte e só existem , , . 1r1m1r confl1tos
atraves da intermediação do Estado · Essa era um ,
mais de duzentos. . . a estrateg1· a :z::
largamente ut1]1zada pelos índios aldeados, estrat,eg1a
...i..

· mu1tas -
./;

Excelentíssimo Senhor esta injustiça para ser enganado o . ,


vezes 1nocua, mas que eles estavam dispostos a utilizar at
Trono e a Vossa Excelência clama os Ceus parece que Vos­ é as -
últimas �on seqüências na tentativa de garantir um espaço de -
sa Excelência como Pai nosso nos deve acudir pois que não
7

sobrev1venc1a.
somos criminosos e apenas se acham Seis homens malfei­ No ho rizonte dos índios o Trono se constituía na instância
tores os quais Vossa Excelência os pode exterminar e ficar l maio r de po der para a resolução dos seus problemas. Quando
a aldeia em discanço que sendo Vossa Excelência Servido as pro vidênci as tardavam, barradas pelos interesses dos grupos
os darei em rol. Se Vossa Excelência duvidar na lista junta locais, que inclusive criavam obstáculos à tramitação dos re­
temos Capitão-Mor de Ordenanças que por orde de Vossa querimentos saídos das aldeias, na tentativa de impedir que as
Excelência pode fazer revista além do que a lei nos permite denúncias e reivindicações dos índios chegassem ao Imperador,
Diretor para castigar os rebeldes, contanto que não sejam restava-lhes a alternativa de ir pessoalmente expor às autorida­
aqueles nossos Inimigos já declarados,· esta aldeia sempre des do Governo Central os seus anseios. Neste sentido, tem-se
foi obediente aos Monarcas e como de uma vez somos dis- notícias de viagens que índios da missão de São Pedro do Porto
truidos sem culpa, e assim rogamos a Vossa Excelência pelo •
da Folha fizeram no século XIX ao Rio de Janeiro, então sede do
nosso Criador Supremo nos faça justiça sendo nós ampara­ ' governo central, para pedir garantias sobre a posse de suas ter­
66 dos por Vossa Excelência para que sejamos conservados na ras que estavam sendo ocupadas pelos fazendeiros. Uma dessas 67
noça aldeia. longas e penosas viagens chegou a ser noticiada por um jornal
Para pedirmos a Vossa Excelência tempo para a nossa der­ carioca, sem que os índios tivessem logrado êxito nas suas rei­
rota não temos arrimo porque estamos prantando mandio­ vindicações (DANTAS e DALLARI, 1980: 170-172).
cas para a noça sustentação e sendo nós exterminados para • Vemos, pois, que na relação com a sociedade colonial e mais
uma terra seca longe do mar de que iremos viver Excelen­ tarde nacional os índios de Sergipe adotaram diferentes formas
,,
tíssimo Senhor, e pomos as noças queixas tão justas perante de relacionamento que vão da fuga ao ataque, da negociação ao
o Trono de quem é Vossa Excelência delegado. conflito, da acomodação à rebeldia, da submissão ao uso da for­
Deus Guarde a Vossa Excelência por muitos anos. ça. Essas reações indígenas indicam que altivez ou passividade
Mição de Agua Azeda 20 de Setembro de 1829. não são atributos específicos de determinadas etnias, em função
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Pre sidente Inácio das quais se explicaria sua presença na história.
José Vicente da Fonseca (APES, G 1, 613. O documento
,
está acompanhado de uma lista de 209 nom es de alde-
ados. Contém erros de ortografia que foram mantidos 12. XOCÓ, OS ATUAIS REMANESCENTES
na transcrição).
e vive m no m un icíp io e Po rt o
Ainda hoje os Xocó, índios qu
? d? cumentoacima, alé m de representar o ponto de vista da Folha, lutam pela retom ad a das te
m
rr
is
as

d
o
o
q
an
ue
ti
o
go
s
al
ca
d
p
ea
u ch
� en
in h
to
o s
. .
dos 1nd1os, exemp 1 1· f'1ca como, utili de São Pedro. Este surgiu de um a
zando as vias administrativas,
T.IS
IJE.ITRl7 (;OIS JJ,\'\

co no século XVII, para


fundaram nas margens do São Francis
. reum. dos nessa al-
catequizar os índios Aramui.u. 0 s Xocó foram . ,
. onde v1v1am
. . . nto com índios de outras
JU etmas ate que no
deia, , . • . dos
v10l �nc1a fa-
final do século passado foram dispersos p ela
MUI·tos emiarº aram para Alagoas, ond e a inda hoJe vi-
zendeiros.
. , .
, em Porto Real do Coleg 10 (MA TA,
vem junto com os índios Kiriri
1989). Outros continuaram morando em terras do antigo ,a ld�­
amento, Caiçara, hoje ocupado por fazendas. Em 1978, apos va­
rias tentativas de serem reconhecidos como donos da s terras,
eles retomam a Ilha de São Pedro. A FUNAI (Fundação Nacional
do índio), órgão do governo que administra as questões indíge­
nas, reconheceu os seus direitos, embora nem sempre os faça
respeitados.
Cerca de 250 índios Xocó vivem atualmente nessa pequena
ilha e aguardam as medidas de efetivação da posse da Ca içara7,
recentemente homologada como área indígena pelo Governo
Federal (Dec. 401 de 24.12.91).
68 Os Xocó vivem da agricultura, da pesca e da cerâmica. Esta é
69
feita pelas mulheres e vendida nas feiras das redondezas. Falam
português, e seu modo de vida aparentemente, pouco difere das
populações rurais da região, com que partilham também carac­
terísticas do tipo físico, inclusive fortes traços negróides. Con­
vém lembrar que além da convivência com os brancos, índios
e negros como grupos dominados e colonizados, tiveram seus
momentos de encontro, conflito e troca em todos os momentos
de existência. A união física e cultural resultou em mudanças
no biotipo e no entrelaçamento de vários elementos cultur
ais
(MOTA e BARROS, 1988). Não obstante as mudança
s no tipo fí­
sico e na cultura, eles se consideram Xocó.

7
Para uma análise do pontO
de · . , .
ras, bem como so bre a docum VISra JUndico dos direitos dos índios sobre ter-
Xocó sobre a Caiçara ver DA °
entaç-ª que fun damenta os
direitos históricos dos
NTAS e 0ALLARI, 1980.
1

BEATRIZ GÓIS DANTAS


TEXTOS PARA A HISTÓRIA DE SERGIPE

Ser índio é um modo de identificação social e o social não se


BIBLIOGRAFIA
define pelo biológico. Comunidades indígenas são, pois, aquelas
que, tê m uma continuidade histórica com sociedades pré-colom­ 01. ANTUNES, Clóvis. Índios de Alagoas (Documentário). Maceió, Go­
bianas. Ser índio é pertencer a uma dessas comunidades indíge­ verno do Estado, 1984.
nas e por ela ser reconhecido. Desse modo os Xocó como muitos
outros grupos indígenas do Brasil, e particularmente do Nordes­ 02. BARROS, Borges de. Bandeirantes e Sertanistas Baianos. Salvador,
te, apesar do alto nível de mistura racial com a população e nvol­ Imprensa Oficial do Estado da Bahia, 1920.
vente e modificação da sua cultura original, identificam-se como
índios e têm o sentimento de pertencerem a um grupo de referên­ 03. BEZERRA, Felte. Investigações Histórico-Geográficas de Sergipe. Rio
cia muito definido: a comunidade indígena (CUNHA, 1986). de Janeiro, Simões, 1952.
Integram-se, desse modo, os Xocó, ao contingente de apro­
04. ___. Etnias Sergipanas. 2. Ed. Aracaju, Governo do Estado de
ximadamente 220.000 índios que vivem no Brasil atualmente.
Sergipe, 1984.
Concentrados, sobretudo na região Norte e no Centro-Oeste
áreas de população mais rarefeita hoje sujeitas a um avanço OS. BIBLIOTECA NACIONAL Documentos Históricos. Rio de Janeiro,
mais forte do capitalismo, mas presente também em áreas de 1941. v. LII.
ocupação mais antiga como o Sul, S udeste e o Nordeste8 os ín­
dios atuais, nas suas diferentes formas de ser, de viver e de rela­ 06. ___. Documentos Históricos. Rio de Janeiro, 1944. v. LXIV.
70 cionar-se com a sociedade nacional, constituem-se em exemplos 71
das diferentes possibilidades do que é ser índio no Brasil hoje, 07. ___. Documentos Históricos. Rio de Janeiro, 1950. v. XC.
após quatro séculos de genocídio e etnocídio praticados contra
os primitivos habitantes da terra. 08. CALDAS, José Antônio. Noticia Geral de toda esta Capitania da Bahia
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Brasiliense/ EDUSP, 1986.
8 Dentre os índios do Nor
deste
Kiriri. Kaimbé, Pank ara , P�demos �it. ar, como exemplos, os Pataxó-Hahaha�,
, Tux na Bahia; Xocó em 13. ___. Os Direitos do Índio: Ensaios e Documentos. São Paulo,
Wassu em Alagoas· Fu)n�� p � Sergipe; Kiriri-Xocó, Tingu1,
na Paraíba; Tapeb� e T ' an _araru, Truká, Xukuru em Pernam buco; Potiguara
10
remem be no Ceará (CI Brasiliense, 1987.
MI, 1985).


BEATRIZ GóIS DM"TAS
TEXTOS PARA A HlST()RlA DE SERGIPE

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B.EATRJZ GÓIS DANTAS

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45. VILHENA, Luis dos Santos. A Bahia no século XVIII. 3 vol. Salvador.
Ed. Itapuã, 1969.
Diana Maria de Faro Leal Diniz
Editoração Eletrônica (Coordenadora do Projeto)
Adilma Menezes
Beatriz Góis Dantas
Projeto Gráfico e Capa Lena Ida Andrade Santos
RiDESIGN
�ot,t,MAltlSlJflQ�to<WSIN--totln
Maria de Andrade Gonçalves
Maria da Glória Santana de Almeida
Terezinha Alves de Oliva

TEXTOS PARA HISTÓRIA DE SERGIPE

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Textos para História de Sergipe. Diana Maria de Faro


T355t Leal Diniz, Coordenadora; Beatriz Góis Dantas ...
[et ai.]. 2. ed. - São Cristóvão: Editora UFS; Aracaju:
IHGSE, 2013.
356 p. - (Coleção Biblioteca Casa de Sergipe, 13)

ISBN: 978-85-7822-321-2

1. Sergipe • História. 2. Historiografia. 1. Diniz,


Diana Maria de Faro Leal, coord.11. Dantas, Beatriz Góis.

CDU 94(813.7)
Editora UFS
2ª Edição
São Cristóvão-SE, 2013

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