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pnra a América do Norte, devemos consi- ropéiâ, na pafie da América clo Sul hoje Íbi r.rr-n dos primeiros gramáticos a expol'

clerar que a ocupação cla América do Sul correspondente ao Brasil, não favoreceLr claramcnte a distinçào entre pronomes
começou há mais cle 10 mil anos: os restos o conhecimento da diversiclacle lingüísti- inclusivos e exclusivos, a expressào de
humanos dos sítios arqueológicos de ca. Ulna só língua, o Tupinambá (Tupí tempo em nomes e as conseqüências
'Iequendama, na Colômbia, têm perto de Antigo), dominava quase inteiramente a sintírticas de topicalizaÇão cle sintagmâs
11 mil anos, e as clataçôes radiométricas extensa costa, de nordeste a sudeste, com ach,erbiais (ver'Algumas descobertas'),
cle esqr-reletos humanos das grutas de leves variações dialetais. Esse fato levou bern como a incorporação de objetos nos
Lagoa Santa (NIG) aproxirnam-se de 12 rnil tanto os franceses quanto os portugueses verbos transitivos - por exemplo, a frase
anos. a procuraíem aprencler só essa língua, 'eu furo os olhos do papagaio' pocle ser
Não se pode saber quantas línguas altamente funcional para os que preten- expressa de duas maneiras: aikutúk a.yurú
cnlltram sttcessivltrttente n(-sle ( onlincn- ciiam extrair o pau-brasil e estabelecer-se: nsrÍ, literaln-rente 'ell furo do-papagaio
te, mas é certo que aqui elas tiveram muito aprenclicla num ponto do litoral, permi- os-ollros, ott as esá kutú k ayt trú,' eu-olhos-
tempo para diferenciar-se e multiplicar- tia a comunicação em todos os outros. ftrlo <r-papagaio', corn lt raiz esa'olhos'
se. Por outra parte, forarn clifêrenciando- As línguas minoritárias em relaçào ao incorporada ao verbo transitivo 'furar'.
se mais e mais das línguas cla América do Tupinambá não fbram. por isso. obleto dc Anchieta apresentoll ainda as mudan-
Norte e clas dos olrtr()s continentes, seia maior atenção. Ç-as cle \'11lência verbal por crausativizaçào,
pela alteração ou perda de propriedacles Até o fim do século XVIII tinhan'r siclo reflcxivizaç:io ou incorporaçào do objeto.
lingtiísticas antes comuns, seia pek) de- publicadas pelos portr-rgueses duas gra- A causitivizaç:ão aumenta a valência, isto
senvolr.imento de novas propriedades, máticas e dois catecismos em TLrpinambá, e. rt crtpltt itlurle clo vct'l'ro pata associar-se
seja, ainda, por não participarem de ino- alérn de observaçoes gralnaticais, textos a expressÕes nominais (1, ,B etc.): A
vaçôes ocorridas mais recentemente nes- e palavras dessa língua em obras france- dorme (rnonovalente) -> A faz -B dormir
sas outras línguas. Poroutro lado, forarn sas, e uma gramática e dois catecismos (bivalentc'), Am tÀ B(bivalente) -> Afaz
clifererrcianclo-se tamLrém entre si e em Karirí, língua do interior cla Bahia e B matar C (trivalente). A reflexivizaçào
multiplicando-se, em conseqüência do clo Sergipe. Ineditos que nào se per- redLrz a valência: A mata B (bivnlente) ->
crescimento dernográfico e da dispersào deram inciuem r-rm clicionírrio e outros -4 semata (monovalente). À incorporação
das populaçÕes. documentos em'fupinambá e um cate- pocle recluzir a vaiência: ,4lanÇa B('anzóis')
Os principais fatores de diferenciação cisrno na língua amazônica Manau, alén-r (bivalente) -> A anx:J-l:rnÇa (= ,4 pesca,
lingüística são o tempo e o distanciamen- de muitos documentos sobre a Língua monovalente).
to social. Esses dois latores são responsá- Gerai Amazônica e urn sobre a Língua Recentemente, foi possível mostrar,
r.eis também pela diferenciaÇão cultural, a Geral Paulista (duas fonnas do'Iupí Antigo com base nas gramáticas cle Anchieta e
quel. por sua vez. con:ititui um terceiro assumidas no uso clos mestiços). F'igueira, que o Tupinarr-rbá tinha um sis-
fator cle diferenciaçào lingüística. Perderam-se, entretanto, muitos es- tema pronominal único: a primeira pessoa
O isolamento quase coÍnpleto da Amé- critos, como os dicioníuios clas línguas inclusiva era identificacla, com rnuita coe-
rica do Sr-rl durante todo o longo tempo de Maromimim (ou Guarull'ro) e Karir'í e os rência, com I lerceirl pcssoJ. pois cm
sua ocupaçào humana até o fim do séculc> catecismos em sete línguas arnazônicas ambos os casos é neutralizada a oposição
XV, se nào ir-npediu completamente, pelo feitos pelo padre Antônio Vieila. Em pragrnática entre falante e ouvinte (fiÍlu-
menos reduziu bastante a possibilidacle resumo, clos primeiros três séculos cla ra l). Em sua grâmáticrr Karirí ( 1699).
cle difusào para outros continentes de colonizaçào do Brasil só nos ficaram clo- Mamiani é também um clos primeiros a
propriedades lingüÍsticas que se tenharn curnentos sobre três línguas nati\.as: rlcsctever classifit aclores nurnera is e
clesenvolviclo em línguas deste continen- Tupinambá, Kariríe Manau. A colonizzrçào classificadores possessivos, bem como
te. Por isso, cleve esperar-se encontrar nas espanholâ promoveu tarlbér-n o conheci- 1>ararl ignr:r s nom i n J is possessivos. ( rllos-
línguas su1-americanas propriedades mento clo Guaraní Antigo, parente próxi- trâ que o Karirí nào tem verbos ati\.os
língüísticas ou combinaçoes de proprie- mo do Tupinarnbh, no noroestc- do atual (transitivos diretos), mas só neutros
cladcs inexistentes em outras pafies clo estado blasileiro do Paranir. (intransitivos) e passivos.
rnundo. No plano lingüístico, a Arnérica As pe.squisas lingiiísticas recentes têm
do Su[ pocle ser comparacla à Austrália, -\ cr !r:;::.iii.. l.l,. lc .lri- levelaclo fenôtrlenos novos oLl raros, tantc)
como árezr isolacla cle importância críticzr. llttrrr. l"t--'..
na grarn/.rtica qllanto na fonologia de 1ín-
Cada 1íngua indígena sul-americana pode 'fanto a língua Tupinambír (e o Guaraní gLlils in.lígenas brasileiras. Algr,rns desses
apresentxr f-enômenos irinda desconhe- Antigo) como a língua I(arirí revelaram, jit Íênôr'nenos sugerem a neccssidade de
cidos, na fbnologia, na gramática ou nâ nas clescriçÕes feitas nos séculos XVI revisào de certas concepçôes teóricas.
organizaçào do discurso. (Anchieta para o Tupinan-rbír) e XVII (Fi- No ârnbito cla gramitica, pocle-se citar
gueira para o Tupinarnbá, Ruíz cle Montoya alguns exemplos, entre eles a existência
,\s iíngittl.s (l(x'Llt]1r-,itf:iri:lr para o Guaraní Antigo e Marniani para o cle línguas cuia ordem oracional básica
I)( ) Ilt't;.ril (, rlr'rrtill
Karir'í), fenômenos lingüísticos extraordi- tern o ohjeto em posiçào inicial. Até a
No sécu1o XVI, a distribuição das línguas nários. conheciam línguas en-r
déç^acla cle 70 só se
indígenas nas áreas de penetração eu- Descrevendo o Tupinarnbá, Anchieta qlle a ordem básica de oraçôes transitivas

NOVEI,,IBRO DE ] 993 21
é: S (sr-rjeito) V (verbo) O (objeto), como
Algumas descobertas
no português (o menino joga bola),
Tanto a língua Tupinambá (e o Guaraní passâ para o início cla oraçào, como effr S-O-V (o menino a bola joga) ou ainda
Antigo) como a Iíngua Karirí rcvelaran'r, já poftlrguês, mas lorma verbal awctsém.'ett V-O-S (joge a bol:r o menino). As cluas
nas clescriçÕes feitas nos sécu1os XVI e clreguei', é sr-rbstituícla pcla forma tuasémi outras ordens rnâtcmaticaunente possi
XVII, f'enôrnenos lingüísticos extrxol'cliná- prececlida pelo plonome syá, 'eu'. veis, O-V-S (a bola joga o menino) ou
rios. Descrevenclo o Tupinar-nbá, Anchíeta Em sua gramática Karirí, Mamiani foi O-S-V (a Lrola o rnenino joga), estariarn
foi um clos primeilos glamáticos a expol tan'rbém um clos primeiros a. clescrever excluíclas por algLrÍn plincípio universal
claramente a clistinçào entre pronome classificaclores numerais (os prefixos áro, da natureza da linguagem. Nos últimos 15
inclusivo (nós = eu e você) e exclusivo be-, br> e ,?r1- nos seguintes exempios: anos for:rm publicaclos e analisaclos cla-
(nós = eu e ele): o primeiro inclui o kro-bibé ttcbe = ut-r lobjeto leclc>nclo] sol'; dos cle vítrias línguas c1a Amazônia, talvez
interloclltor, o segLrnclo o exclui. he bibép.t,kci: um lobjeto de paul banco'; a única regiào en-r que isso ocorra, enl qlre
No sistema pronominal clos Tupinan-rbá. lto-bilté clzitti : uma [objeto longo e a ordem básica é O-V-S ou O-S \,'.
aprimeira pessoa inclrlsiva se identific:rr.'a tlexír.e1l corcla l ttrr-bilté tL'ariclzci: LrlrrA Uru outro fenôrneno grâmatical é a
com a terceira pessoâ e a oposiçào prx€l- lobjeto côncar,o] boc:r') e classificadores rn, orporrlÇào ao vcrbo de pospo:icoes. cr
mática entre fnlante e ouvinte ficava possessivos (os nornes genéricos uapt'ti. correspondente às preposições do portu-
neutralízac1a (r,el tabela). O diagrant:r cle trdjé. uclé e enkínos seguintes exenplos: guês, que constroem, conl os nolnes,
árvore clos plcfixos pessoais mostl'a: 1 = clz-Ltaprú do kentí = 'rreu fcomicla apa- cornpler-nentos circunst,rnciais (de lugar,
falante; 2 : olrvinte (interlocutor); 3i : nlracla no matol mel'; dz-ttcfé tlo gitthé = de tenrpo, de companhia etc.). Muitas
terc 'ira pessoâ focal. O significaclo de 'rner,r lproduto da roÇa] feiyào' tlz-ttpocló vezes, collo ocorre na língua naclôb
cada prefixo clecorle da corlbinzrção cles- ckt muraruó = 'meu lcoisa assacla] porco'; (fàrnília Makú, norte c1o Amazonas) e nzr
ses três elementos clo discurso: + = pre- bi-ertkí rlo kraclzó = 'minha [enin.ral do- língua Panar:1 (família Jê, Mato Grosso),
sente, -: ausente. Quando os dois ramos mésticol v:lca': nessa língua nào se podc esse fato altera a funçào clos termos na
c1a áruore confluem, ciá se a neutralizaçào clizer sirr-rplesrnente 'meLr mel', 'rleu fei- oraçito.
de uma distinçiro. jào', 'rner-r porco' ou 'minha vaca', rnas só A observaçào extensiva cle 1ínguas clos
Também foi Ancl-rieta cluem assinalou recorrendo à classificaçào desses vege- r,ários continentes levou à postulaçào cle
nas línguas indígenas a expressào c1e tais, animais e seus produtos er-u cletermi- um princípio univc'rsal, segllndo o quzll as
tempo em nolnes (.oka : casa atua1, nll(lJs ( :rlcg()riJs ). oraçôes siro serrpre negaclas mecliante o
okucima = futura c^s'à, ókuét'd = antiga Nlamiani rnostrou tarnbérn que o acréscimo de nr-n elemento negaclor. En-
casa) e as conseqüênci:rs sintáticas cla Karirí nào tem verbos ati\.os (tfansiti- tÍetanto, nas olaçÕes negativas do Kalitiána
topicalizaçào de sintagrnas aclverltiais. vos cliretos), nt:ts só neutlos (intlansítivos.) (família Arikém, Rondônia) eliminarn-se
Neste caso, quando é clestacacta (topi, e passivos (nessa língua, em vez cle as especiÍicaçôes clos verbos das oraç<)es
calizacla) a expressào de r-rma circunstân- "cu bato no c:rchorro", "r,ocê clá uma afirmativas correspondentes: à oração afir'-
cia, â construç'âro cla frase em Tupinarnbá flccha". "nós matanros uma vaca", diz-se: tn'JÍiv2t y tat-oty-i yn,'e]t] volr tolnar banho'
é fbrten-rente alteracla. Por exemplo, 'eu "é batído o cachorro por mim", "é dada (literalmente. 'eu vou banha-r eu') corres
chegtrei ontem' se diz autasém kuesQ ur-ua flecha por r-ocê', "é morta Lllna vaca ponde a negativa :y{ oty :y!tt,'eu n'ao vou
mas 'ontem eu cheguei', serâ kwesé syé por nós"). tomar bzrnho' (literaLnente 'eu banha eu').
uasémi: nào só o aclvérbio k'pe.sé(ontem), Entre os f'enômenos fonológicos cles-
cobertos recentemente enr línguas incli
genas do Brasii estào três novas fontes
Co\llNEN'I]] I,AÍs SI.I,ERI.ÍCIH %r D^ ÁR1,\ \a t)t PROIF]CÀO DO \A cle nasaliclade: a compact2lÇito vocálica, cr
([\i2) r)o BRASrr. Li\ctL -\s DE LÍ\(I ,\s P-{RA silêncio (e, por extensào, a fionteir':t cla
\ ÁRr.\ l)o RR.\stL. palavla), e uma terceira, aincla nào es-
África Carlerc)es 171.900 1,5 261 4.854 clarecicla quanto à sr-ra fisiologia, que
Congo 3/i2.000 I 56 1,.100
produz nasalidacle eln contato co1rl s()ns
Nigéria L) 23.133 10.8 .11 1 3.085
TanziLnia 891.70í 1 0.5 726 1.200
glotais assilábicos, nào só o oclusir-o e o
fricativo gloÍais (glides II cle Chorr.rsky e
Ásia Birmânia ó78.033 I 10t) r.250
Halle), como jh havia siclo descoirertcr
Filipinas 338.263 4 1ó0 4.000
Índia 3.280.483 38 391 1.028 tambérn no sucleste da Ásia. r-nas igtral-
Indonésia 1.90.i.335 22,4 663 '2.960 rnente ()s glidesv<'>cilicos a' e -t'(glidesl
L:ros 236.800 2,7 '2.555
69 clc Chomskl, e Halle). Taml:érr coltstitLri
Tailânclia 514.000 6 il0 r.333 utr fenômeno reccntemente descoltertcr
ArréricaLàtinâ Guatemala 10ft.889 7,3 53 +.(l /O a ocorrência cle segrnentos fonológicos
Méxiccr 1 .\)f 2.i16 23 217 r.o4l cornplexos, com até três fases cle realiza-
Proieçôes para o Brasi! do número de línguas indígenas em paÍses da África, Ásia e çào fonética, tanto consonantais como
América Latina. vocálicos.

22 vol.16/N, 95 ctÊNCtA HoJE


ta. Outros autores quinhentistas, como
Ther.et, Léry e Soares de Sousa, fazem
referência a muito poucos povos inclíge-
1121S.

Não é fáci1 precisar bem os limites


nofie e oeste da área coberta pela lista
de Cardim, mas é meis provável que, nas
duas direçôes, tendo como referência prin-
cipal a baía de Todos os Sentos, se trate do
rio São Francisco. Para o sul, ao longo do
litoral, o Íeglstro se estencle até o Rio de
Janeiio. É prováve1 que essa extraordíná-
ria lista corresponda mais ao conhecimen-
to dos Tupinambá que ao clos próprios
pofiugueses: os nomes dos diferentes
povos ou nações estão escritos na mesme
grafia que os jesuítas clo sécu1o XVI usavam
para escfever e língua dos Tupinambá
(Quigpé, Aenaguig, Quirigmã), e vários
desses nomes são realmente expressÕes
descritivas Tupinambás (.Tucanuçu - ttt-
Figura 1. Diagrama de árvore dos preÍixos pessoais da língua Tupinambá (baseado em
Anchieta 1595, Figueira 1687 e outras íontes). 1 = falanter 2 = interlocutor, 3r= terceira canos grandes; CctmuçLryara- os que têm
pessoa local. O signiÍicado de cada preÍixo decorre da combinação desses três elementos mames grandes; Igbigra-apuctjat'.,t - os
do discurso: + = presente, - = ausente, Na confluência dos dois ramos da árvore neutraliza- que têm bordunas aguÇadas; Tapigymirin
se umadistinção. a-= eu; oro- = eu e ELE; ya = eu evocê, ou ele; o = eu, você e ELE, ou tepuias peqllenos etc.). A lista, to-
ELE; ere- = você; pe = você e ELE (ELE = 3" pessoa Íocal; ele = 3" pessoa náo-focal). -
marlos (m consi(lrra\íro os povos que
A que ponto chegara :r cliversiclacle lal e aferil rr plar-rsibiiiclacle clo pliureiro falam trma rne\mr lingur. registrr 6B
lingüística na América c1o Sul 10 mr1 anos rcsu iteclo. 1ínguas além da dos Tupinambi. Car-
ou m:lis após a chegada do homem ao dim encontrolr, portrnto, 69 1ínguas
continente? Qual o número cle línguas no :- 11_,: :1,;'!)t. ir: i t;. numa área que coÍresponde aos atuais
rrom(nlô cla . hcgatla dos prirneiros euro- estaclos de Sergipe, Bahia, Espír'ito
peus, no firn do sécu1o XV? Embora cliver- l',1::-,,,:, Santo e Rio de Janeiro.
sitlerle lingüí\lica nào sc úqurl( irlnc nc- \lrnr peclnt:n() tretllclo cscrito ent 1584 e Embora não seja certo que a lista de i

cessariamente com número de línguas, as intitrrlaclo Do pri.ilcíPio e ori.,gent dr» índios Cardim abran)zt toda a área claqueles qua- l

duas qr-restÕes estào natural e intimamente do Brctsil e cle setts costt.t.n'rcs. cttlorttçLir,t c: tro estaclos, tomaremos como referência l

Iigaclas. A segunda é mais fácil cle aborclar, cerirn.ônins. o paclre Femào Crrdim aprc- suas áreas atuais (exceto no caso cla I

por rneio cle dois tipos cle projeçào, que scntou ulllu lista cle povos inclígcn'.rs. clllc Bahia, da qual ficam excluíclas as regiÕes I

podernos fazer para o terrltório brasileiro. pocle selr ir. cle lblnn plelillinur, corrcr de a1ém São Francisco), o que corresponde
I

A primeira pro,eção toma como amostÍe pnrnel'a rnl()str.i ch qlL:rnticleclc clc lír-r- a 550.000 km2, ou seja, 6,1% do território I
;

o número de línguas registrado em algu- gr.lrs t.rn terlitório ll'rsrleir<>. E1c rci'"rcio- brasileilo. Fazendo uma projeção direta
ma parte clo território, quando a influên- na 7ó 'nac-ões cle TeprLt'as . isto é. naç'ircs clo número cie línguas achadas na ârea
cia europeia rintla era feqirínr. e proje- contr'all'1es e inimigas clos p<>r'<>s cla cost:r. menor para a área maior, isto é, aclmitindo
la esse nírmero para todo o território. A cuy:l língua, o 'l'uprnrmbír, cr'.r '.r que os que 69 representasse 6,4a/o do número de
I

mârÉaem cle erro nesse tipo de cálcu1o p()fiugr.lcses entencliam. línguas exístentes em todo o teÍritório
brasileiro, obtemos um total de 1.078
I

pode ser grancle, pois qualquer território Caldim infolrna cluc a meiori:r dersslis
tem áreas de maior dlversiclacle lingiiísti- naçôcs 'Irpuvas trnha línguas clifcrcr-rtes; 1ínguas.
ca do que outras. Para reduzir essa illar- ao longo cla lista, tenr o cuiclaclo clc inclicar A quem considere que a amostra de
gem de erro, várias amostras, obticlas em cllrais falarn a lncslna iínglra, quais têu-r Cardim representa uma área com diversi-
cliferentes partes c1o territór'ro, clerrem seL [ínguas clifercntcs c, cm elgr.rns casos, dade lingtiística particularmente grande,
utilizaclas para calcular a média das prole- clueis, emb<>r'u tencl() língr-uLs clifcrcntes, superior ao qlle seria a média do território
ções cle todas as amostras sobre o território cornprcernclcnr as cle seus vizinhos. 'l'r:Lta- brasileiro, a projeção parecerá exagerada.
intelro. No segunclo tipo c1e projeção, sc cle trrl clocumcr-rto único para o tJrasil Entretanto, o risco de tratar-se de área
projeta-se sobre o território brasileiro a clo sécnio ,\\/I, txnt() ;rela prc<>cupaçircr superdiversificada é afastado diante do
quanticlacle de línguas encontracla em ter- com'l riivcrsiclaclc lingiiístice, cluanto pel<r fato de que, paÍe uma grande porção ciela,
ritórios situaclos eln outros continentes. glalrcle núlrcro cle naçôes inrlígenas re- a Íàrxzr litorânea desde a foz do São
Este tipo de plojeção servirá para contro- gistlltclas c pcla r:xtcnsào te rritorial cober'- Francisco até o Rio de Janeiro, loi com-

NOVEN,IBHO DE 1993 23
Compactação vocálica no Tapirapé e no Kaingáng tipo de projeção tende a exageraÍ o núme-
ro de línguas na totalidade do territ<irio.
O Proto-Tupí-Guar:rní (PTG) é o ances- capaciclac.tc da caixa cle ressonância Entretanto, a comparaçã<) com o núrnero
tral cl:ls lín51uas cla far-nília T'upÊGr-raraní, llrtr'lrl t' ilt:l is ( ( ,n I P:l( l:tS ). r(.\Pe( l i\ ttn )rnle: cle línguas existentes aincla l-roje em algu-
tal como o latirn é o zrncestral clas línguas e p:tlrrvras com 21s vogais baixas õ, ct e ê mas outras áreas do mundo menos afeta-
da fàmília rornânica (ou ncolatina). Cacla r-nudam estas na baixa nasal ri (com a das pela colonização - como a Ínclia e
uma das vogais posteriores clo PTG trans- cepaciclacle nrátxime cla caixa cie resso- cliversos países afticanos - lnostra que, âo
formou-se errr Tapirapé na vogal de aber- nância bucal acrescicla cla caixa cle ress<t- contrário, esse rcsultaclo pocle ser até uma
tura imecliatafnentc n]aior (mais cornpac- nância nesrrl). Exenrplos: ltii(corpo), brt tài subestimação.
ta): *ll enr o, *o ent d; *ttr. cot11 abefiura (corpo cornpliclo): krrÀa (osso). ktrkci tà.1 A Índia tem hoie J!1 línguas nurn
máxirna cia cavicl acle bucal, trar-rstbrmor:- (osso coutpriclo): zz?.só (ilhrL). z'dso /cr7( ilha território 2,6 vezes menor qlre o llrasil
se na vogal nastl à, com rcssonância conrpricla): lrÔ (peclrL). Pà là.1 {peclra (28% do território brasiieiro): mantendo-
adicional na caviclztcle nasal, posta en-r crrn-rplicla ):./7i rê (rru-):.1àràtà.7 (reiz compri se a rnesm2l proporçào. o Brasil p()cleriâ
comunicação c(»r1 A bucal pelo abaixa cle): Àu1lü íf:rcl). Ê.rlZi /ti1(fuca coniPlicla). ter 1.028 língr-ras. Na África. o Carnerun ou
mento clo r,éu paliitino. Exempkrs: * kttÍLtk Esse tcr-tômcno. clrem:rclo clc com- Crtrnaroes. tcrn i6- lingu:rs. nunr tt'rritó
*
-> k o t o k ( f ur er')', rn o rrc> -> m a. n a. ( eny iar )
: ll.l( l.l!.1() rrrr.ilit. I)(rl(ll.l( qrl.lnlr) tll:.ti. tr rio 18 vezes menor' (5.5!uo), o quc cor-
*katu
-> kctto (bom); *poka -> pakci enrplil a cuira clc ressor-râr-rcizr rr-rais próxi- responderia a .i.85.i lír-rguas no Brasil
(torcer). lus Ílcanr us leqiiêncies clos dois prirnciros (figr,rra 2). Corno se r.ê, o resultado obticlcr
Em Kair.rgáng clo Paranír, cla fanília -Jê. tirrnentcs rlo sorl vocli.lico. nào í: raro. para o Brasil anterior à colonizaçào, com
há uma reÉlra qLle tarnbérn se baseia n<r llara é, cntretarto, a procluçào cle vogal base nas projeções de Cardim e Nligr-rc'l
volurne das caixas dc ressonânci:r. Enr nasal por esse mcio. até agora só clocu- Menéndez, não é de modo algum exage-
ceftos contextos gramaticais, algurlas pa- rnc'ntzrdo cr-n língu:rs ir-rclígcnas ltrasileilas rado. É mais provável até que 1.175 seja
lavras com vogiris méclias ó, á e árnuclarn
as (além clo Kaingáng e clo Tapirapé, algumas Lllna estimativa bastante baixa do númercr
estas paÍa as baixas õ, ct. e à (corl maior' ()Lltras línguas da ftrrnília Tupí-Gr,raraní). cle línguas existentes no Brasil do flnal clcr
século XV.

putacla urtut s<i língr-re: o T-upinlrnltíi. De csses pov()s, mas é provírvcl que v:'rlios
()s vrrzir>s lingiiísticos
qu:rlqr:er lirrnra, 1.078 é <; resr.rltado rlc Ii\resseln língu:rs e1r conlulr. Analisando o período entre 1900 e 7957,
utla prinreira projc't'lio pnn o núnrelo cle Nossa l-ripótesc é cle que o núrnero de portanto já em plena llepública, Darcy
1ínguas lrlaclas n<> tellitório ll'esilciro pe- línguas fbsse 259lo lnenor que o número Ribeiro apurou que, de uur total de 230
1os p<tvos inclígenas, nlrm ln()r]rento clll cle pov<>s re laciorraclos. Utilizaremos, povos inclígenas, extinguiram-se 87, ou
que r açlaro européi:r aincla ruro procluzira entào, o núrmero dc ,í5 língluas para a seja, 37,8o/o. O fato de que a extinÇào de
efeitos n'ruito fbrtcs. projeçào sobre todo o território trrasileiro. um povo muitas vezes prececle a morte
A área entrc o Tapajris e o illacleira tem dos últimos falantes leva ao cálculo cle
[,íngr-r:rs ]1:t All]itzôrrilr cerca cle 300.000 kmr e l supcrfície do ulne perda de 2a^.,' drs 1íngu:rs na prirneiln
ccütr1ll clo inír'it: cltr Ilrasil é 28,3 vezes rnaior; proporcional- metade do sécu1o )o(: ao toclo, 67 língr-ras,
sécurkr XYlll rllente , o territór'io blasilc'iro cornportaria o que fepresenta a extinçào de rnais cle
Uma seguncla projeçzio pocle scr Iêita conr 1.273 língtras. urna por ano.
base nur.t.rrl área clo interior cla Arn:rzônia, SeIia clesc]áve1 efctr-rar oLltras pro,e Do desaparecilnento cle tantas língr-ras
no início clo sécr-rlo XVIII, quanclo a açà<r ções, a paltir cle olrtras áreas geográficas, resultou a existência cle grandes áreas
coionizadora :rli ainda nào cstavr belrl eln mornent()s el11 que a influência eu- nas quais não existem mais língtras incli
estabelecicla. Trata-sc cia ár'ea e ntfe os rios ropéia :rincla nào se fizerzr sentir arnpla genas. Estas áreas podem ser obseruaclas
Tapajós e Nlacleira, c>bjeto clc Lltn estlrclo mentc. Se nos limitarnlos a essns clnas - a tânto num mapa que registre a localizaç'ào
histórico clo rccéur-Í:rlccido antropírlogcr cle Carclinr para o Brasil clc leste e a cla área l-ristórica dos povos inclígenas, com() c)
N{igucl Menénclez, f'eito en'r 19á11. Nessa entre o 1'apajós e o lVladeira que re- -, Mapa Etno-historico dct lSrasil, clc Curt
área, Menénclez krcalizou 6l p<>r.os inclí- plesentall regiôcs berl clistintas c situa- Nirnuendaju (19u0), qlranto num mapa
genas rcfericios por cronistas. C)s nomes r'ocs rlil'tLeIllct tll pc[ttlr':tC:]u rul'()peit. clue apresente a situação ltua1, couro o
registractos pelos cr()nistâs sào daclos clr vamos ol>tcr a r-néclia aritrnética cle 1.175 m pÀ Pouos Inclígenas e Presettçtt l,Iis-
pârte nurlra língua 1'upí-Guàrlní ( Pixuncts línguas para () IJnrsil no início da sionáriet, do Consell-ro Indigcnista
- os pfct()s; GttarcttngtLar - conteclores/ colonizaçz-to. Missionár'io (1985).
tomaciores de guirranír; Pyroryoât * Como hoje sào faleclas apenas cerca cle Se traçzrrmos r-una linha in-raginár'ia cle
corneclores de peixe etc.), crn parte na 180 1ínguus inclígenas no tsrasil, conclui- Siro Luís do Maranhào, ao norte, até Chr-rí,
língua Mawé (reconhecír,eis pelo sufixo sc que liouve uma percla de cerca de rnil ao sul, temos zr leste uma área de pouco
pluralizante -riâ/ -niâi -tii: Ai.toriíi, línguas, ou seja. cle i35%. Esse número mâis de 250/o do territór'io brasileiro na
Apancn'iâ, flnarúâ, Optiâ ctc.). Não há poclc pzrreccr excessivarnente alto para qLral se extinguiram praticamente toclas
informaçôes sobre as língr-ras fulaclas por r-truitos, e lev:rntar a suspcita de que esse as línguas inclígenas (figula J). Nessa área,

24 vol.i6/Nn 95 ctÊNCtA HoJE

I
-

on(le () pr()cesso colonizador ftri mais clas r-elações entre p()rtugueses e indíge- à formação de uma culturâ cabôcla, luso-
k;ngr>, f alarr-se hoje apenas o Yatê (t-ulniô) nas foi o desenv«>h,irlento de línguas indígena. Dele deve ter resultado uma
enr Pernelnbuc<>, o Nlaxakalí e o Krenak gerais. Sào continuaÇ(-)es clas línguas indi série de línguas gerais (ou dialetos de
(este jár moribunclo) em À4inas Gerais e o genas que passararn a ser faladas pelos línguas gerais), a maioria com vida efê-
Xokléng em Santr Catarina. Eucontr?lm-se mestiÇos das cluas tâ.('as. N() seu processo mera, ou não clocumentada antes de
tamlrétn f)rlantes de Gr-raraní no Rio Gran- cle constituiç-ão clcve ter haviclo uma su- desaparecer. Duas, entretanto, de pafti-
cle clo SLrl, Santa Catarina, Paraná, Sà<r cessà, r rlc [:rses. Srrpr)e-sc que. num pri- cular vitalidade, vieram a ter importância
Prrlrlo, Ilio cleJanciro c Espírito Szrnit:l, mas meiro períoc1o, os hontens europeus eram histórica e, conseqüentemente, maior di-
s,to rlligrantes reccntes, vindos clo <;estc, poucos e r.i-.'iam em ('olltuniclades inclíge- fusão. Foram as que propusemos chamrr
plincipalrnente clo vale do Paraná. Ne- nas ou perto clelas, f:rlando a língua de Língua Geral Paulista e Língua Geral
nhuma clas 69 línguas referidas em 15Í14 inclígena como segun(la lírrgua. Seus fi- Amazônica.
pelo paclle Carclim no leste clo llrasil lhos. marnelucos ou cal>oclos. cliavam-se A primeira foi-se constituindo iá no
sobrcviveu até os nossos dias. iiltcrr0s na lirtgtrlr intligclt:t pr':tli('amcnte século XVI, tendo como base a língua dos
Entre r>s rios Tapajós e Macleila, oncle ilralterada. índios Tupí de São Vicente e do alto rio
no ir-rício clo século XVIII havia pek; Num segunclo períc.rclo, os elementos Tietê, uma língua Tupí-Guaraní ligeira-
menos 45 língues indígc'nas, hoje nãcr L ur( )peu\ r n)('st j(, )s trrrn:trltn-se mais mente diferente da dos Tupinambá. Foi a
nrais clo quc oito são falaclas. Na enornte nurnerusus. ou P()r(lLre fÔtrtt:lrarn t omuni- língua dos mamelucos paulistas e, com as
extensrio clc cerca de 1.800 km clo vale clacles ern separaclo ou porque os índios bandeiras, foi a língua de penetração rlo
do Amazonas. clesapzrreceram quasc coltl- foram sendo progressiva r.r-rente reduzidos interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato
plctarnente os povos nati\ios e, portant(), ern suas próprias c()l-nunicl2rdes; na fase Grosso e P^ÍaÍrá. Pela segunda metade
também lls sllas línguas. De unt modc> seguinte. afastackrs ou eliminaclos os ín- do século XVIII, passou a perder terreno
gcral, s(i subsistem ali povos c língtras dios, os lnestiÇ-os pâssarâm a ser os únicos para o português e seus últimos falantes
inclígenas fora clc uma'ferraciura' c1isp()sta fãlantes nati\.os cla língua original e os devem ter morrido no início do século )O(.
atrrrrés clos altos cnlsos dos afltrenters clcr transmissores cle:la a outros ínclios e euro- A Língua Geral Amazônica, também
Anraz<>nas, colr uma extremicladc no alt() peus. chamada Nheengatu, resultou de situa-
.llui t' t'rutt'lt n(, nr(i(liô Xing,rr. Em todas esszis fases cleve ter haviclo çào anâloga, desenvolvida a partir da
ccrtalllente esses grandes \.azios cle- um núrnero variár,el cle bilíngües, tanto primeira metade do século XVII, com o
ternrin:rram cl clesaparecimento cle algu- ínclios corno elrr()peus. Esse processo início da colonização portuguesa no
rnas tanrí[ias lingtiísticas inteiras. Ilsta provar.ehnente carninhou parâlelamente Maranhão e Paú. Essa língua, que teve
reflcxr-t<> é cc>mpatível c<tm a percla, nesses
500 anos cle enfrentamento dos ínclir>s
c()ll os colonrzaclores e seus descenclcn-
tes, rle pelo nrenos Llln rnilhar cle língu:rs
inclígenirs no llrasil.

As línguas gerais
Outro tipo cle conseqüência lingüística

LÍnguas indígenas no Brasil


1500-1992
18O Linguas vivas
15o/a

Figura 2. Grandes áreas onde as línguas desapareceram quase por completo.

NOVEIVIBRO DE 1993 25

E
I

FenÔrnenos que Anchieta anot<;r-l turn sri tronco filogcnético.


\a velclacle. o quc ten()s no tsr'asil
Er-t-t sua Arta clc gt'.t.tt1titdl.ic.d dtt lírryun nosslls colrsas cç tllas tlrnbéIr." hoje srio cclca clc 180 espécies lingüísti
n'rctís t.tsctclct n.at (:ostít cb Brcrsil. eclitacla Anchleta assinalou turulrérn a express:1cr cíis, c()1n nnioles ou 1lternol'es aÍlniclacics
en'r 1595, cnr Coirnbre. o paclre.]osé cle clc tcmpo eÍn nonrcs ( Lm toclos os nontes L:ntr€r si. Esse gnrpo l'cpt'esentlr, r-ro rnirxirrro,
AnchieÍa clescrcver.r elguns fênôrnenos h:r plLeterito....§ flturo.... ut nràaâ cr,rr.rse. 15%r clas cpe r:xistilrn hír 5()0 rnos. Sri:is
i1llpol-tlurLes ne 1írgtrl T'upinarnbír. Ele ntbttôÍxtércr, collsx quc toy. ntbuôrámct. \ r )tr(li( (,rr rlc sr,lrrt r ir i rtr i:l \:ril i)lr( .ltiils.
c()lnent:r e clistinç:no cntlc pronctrne in- cousil que hli cle ser" ) e e incolpolrclio clcr \'icslno as 1íngr-ilts inclígrnrs tn:ris flleclas
chtsivo (nirs = cr.r + r'o<'ô) c ercltrsivo (nris objcto clireto nos vcLbos transitiros. A n() l)l esente estlto slrbtletiallts íl fi)rtcs
= e u + e1e folhu nq I 2 clc sua grentática:
) r-re essc rcspcit(). cliz nu fblha n! í0 c1u su:r plcssÕt-s clos r-nris cliversos set()res Lla
(h'ê. socreclecle nra jolitirlie, que lts r ê c lrnto
-1lartdê... clifercm nisto, a salrer qr-re granrirtic:r: ...Qr-ranclo o eccllsllti\1) r-rào he
"

Oré, exclue I seglrncla p€rssol c()l)r qlle solncnte tocante ír couslLs humanes lnetese empeciiiros à intrgreçlio. isto é. à 11o-
fullunros clacli,rclc acto. cle que se tr2ltir. lr cillrlquer nome, .t flcao tambelt rlrsolutos. nle sticxCii() clus nrinorilLs inclígenlLs. Nli<r
orê rtroÇô. r-rcis inros & tu nào, orêrtrlxtê. 11l,{r1, coll(), Antbctêt.i. corrro cousas. algLr- hlL ncr-titunil gr:tnrle rrinorilL lltgLiístice
lross:rs c()Lrslls & nào tuas, porénr ]'tutrlê. 1rr-r couse, Apirât.i. corno pcixc, Aicrtttrc, no Llltsll cle hojc. .\ nLrLjoL ('liliúr-re) nlio
inclue e seguncle pcsso:l trÍ .y'attclê .1,'trcô. furo. A tut tttb i colttc. finr orclh,rs. Ateçôcc.tt t rc. rril nrrntlrros. Collr oLrtrxs três
elcltr-rclt .lO
r-rós irnos & tu tantbélt, vctttrlê mlxrê. firro olhirs. Attt.hôcoIuc, fr-rro rrlLos." (XlakLrrí. Teren:r c Klrin.qling) c()nstitLlcll
u1r gnrp() cle cirLrtro qlrc c()nt:t1n conr 10
nril or-r mrris f.llrntcs. \'intc tônt entre ntil
origem no Tupinambá, foi a língua clomi- cd .Jo Álto Antazonas, a situaçào da Lin- c l0 nril fulentes. r\s oullus l í6 slo frrleclas
nante na penetraÇão poftuguesa cla Ama- gua Geral Amazônica: "Nas ciclades fala- p()r men()s cle n'ril pcssa)lls clcllt unra.
zônia. Em várias partes da região tornou- se da porta da sala para dentro; e nas vilas senckr :i0 rleles 1'aleclas por lncn()s cle 10[)
se língua lranca nas lelações entre bran e demais povoaÇões, excetuada Pauxis no parss()as.
cos e índios de cl.ivers:rs 1ínguas e tnesmo Baixo Amazonas, é a única" (1852). A situuç:ro clus língtras rr-rdígcnrs llesi-
entrc anLlio\ e ínrlios, fossc crn tni\soes lcir:rs ó, p()r't:lnto. extlellallcntc gltve.
católicas ou err viias e cidades que t.,'l ,r.,:. li::l 1..1'.',ii..
se seja clo lrorrto clc lista cla pelcla c1o conhe
desenvolveram das míssÕes. Sua expaosão  l)('nçlr.l(:rí, ilr.li( )t tl:r Iirtgtr:r 1)(,tttrgULs.l cilrento lingiiístico e cr,rltr-rlal quc o cle
geográfica foi notável no século XVIII, c1n detl'ilnernto cla Língue (ierll Arrlzôni- slparccinrcnto clc qurlc1uer Iíngua srgnif i
tendo dominado ciesde o N{aranhão até o (:l rlr( ' ,rtr'LI r,,lrtUlrrLI,,rl:r l)):1, it.t il]tigl:tr:t,, c:r, scje c1o ponto cle vista cl1l clcsintegrl
alto Amazonas e ao longo dos principais norclestina. rlt especiai no ciclo cla borra- ciro -social c cspilitual qrre xcxrrctx pllrl
af-luentes cleste rlo, atrngindo, pelo alto rio ch:r (Iinal cio sé<:uio XIX. inír'io rlo XX). esses p()\'os. Ooru e pcrch c1a língr,ra solr
Negro, a Venezueia e a Colômbla e, pelo I [<>jc, llcrm clela. cxrstcrn no [Jr-lsil cr,:r'r:e pressào cxtcr'lr:1, erlcs tênr seus vlrlorcs
Solimoes, o Peru. tle 1flO 1íngulrs inclígenas clistriltuíclas por tlaclir:ionais clcstluíckrs, serr telltp() p2ll'í.t
Enquanto se expancllam, essas línÉ{uas /it farnílias gcnóticrs. Dez intcgranr Lura incorporar:l)o or.r <lrscnr'olvinrento clc n<r
gerais foram influenciando as línguas dos uniclaclc gené:tica nr:Lior - () tl'onco lin l os r,lloies. () qlle os lcr-e à nrerginelizaç'lro
povos contactados ao longo dos séculos giiístico Tupí - c olttl'us nore revehrn socirl.
XVII, XVIII e XIX e até substituindo algr-L- inclícios cle parentcsco genético remot()
mas delas, como aconteceu com a dos cnflc si, o que aliment:r ir hipritese clu
Borôro, ao sr,rl de Goiás, com a dos Baré eristêncir cle unr tronco lingtiístico NIact'<r
e com boa parte dos Baníwa, no norte clo Jô. Outr':L hi;r<itesc rcccntc associlr gene Sugestões para Ieitura
Amazonas. 1i(1rlrcnte os clois troncos 'I"npí er Àlaclcr 1)f.lt1I}-SFJIRE C. ll. e Pt.i-t-ll\{ (l.li. Intr()
As meclidas administÍativas tomaclas cluction . /r: IIFIItRYSHIRE e PtlLLt I\l (org.)
.fê. c rnais e farnília Karíb. N{:rs rnesllto n()
H t.u t d h k fAn d.z o t L.t rages. r'o1. J.
t,qz
pelo Marquês de Pombal na segunda caso clc colllpror':]Çlio clcssxs hil)a)terses. ()
tLt rt

Ilcrlinr. \[or.rto ilc Gruvrter.


t I t i Lt ] I

1991.
rnetade do século XVIII, para estimular o r.túrt-rcro cler grupos gcncticos clistintos GO\IES \L P. Os [ttdirt.s e ct Rrtrsil. Pttróno]is.
uso do Português, contribuíram paÍa ace serir sr-rpcrior a 20. \ ozcs. I 981J.
lerar o deciínio da Língua Geral Paulista, L.nre proDostl nt'lis rachcel, c<>nro a clcr \ÍORITIRA \lr'l'() (1. .\. Íttrlkts tltr -1nttr.-ôttit rlt'
ntt.tirtrítt tt ininorio. Petropolis. \-ozes. 1988
rnas tiveram pouco efeito sobre a Ama n()rte-enclicrrr-ro joseph I I. Crccnbclg \E\:ES \\''. r\. .\ prinrcira rlescobertr ch .\nt(,-
zôntca. Só o genocídio da população Ta- (1987), seguncl<> a clual toclas as línguas rica . Itt.. (-.iêttt'írt Íto.fe. n, Eó. r'o1 15. pp.
puia, com que as autoridades responderam tl:t \iltrt it:t LIo :rrl tct i.tt]l .l ltI!5llI:t (rli tS-rS l()í)2
à revolta da Cabanagem na décacla de geln (lue :is cllr Ànér'ica Clcnttil e l ntar<r It()DRI(II ES ,\. I). Lín,qtt.ts bursileints. pctttt ct

LotthccíInattIo ricts Iíttgtttts Irirllpellrrs. StLo


1830, reduziu consideravelmente o número ril cles cla Anrérica rlo Nortr.. llénr rle PrLukr. I-or-ole. 1986.
de falantes daquela 1íngua. Entretanto, 10 eincla niro compror,acla. é tào irrclcr"untc RODRIGT- ES l. l). \ oLr irncl I: n(ithef \ r)11 n()r
anos depois do fin-r da Cabanagem, Lou- pam r avalieçl-ro cla clivcrsicilrclc lingtiísti l: the pelson:rl stsfem of ilrpinlnrit:i . 1,:
renço da Silva Araúrjo e Amazonas assim ca qLL2rnto o é, par':t e clir,ersiclaclr iriológi PAY\E D. L. (org. ). llntdzotli.ut L.utglttges.
Slrrclies in Iou'lund Sotrtb -1ntt,rícutt
descrevia, em seu Diccionario tctpct- cr, o reconhccimento cle rlnc tocltrs ls LungtrtrpL,s. Auslilr. L-niversitr of 'l-r:xas
grapbico, bistorico, descriptit)o da Comar- l[\,:cs se recluzcm, cm últimlr instância. a Plcss.199().

26 voL.16i Nn 95 ctÊNCtA HoJE

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