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Inovação na educação

por Lilian Bacich

Metodologias ativas: autores de referência 2


Lilian Bacich novembro 19, 2022 Lilian Bacich

Nessa série de postagens, a ideia é relacionar elementos das metodologias ativas


embasados nos pressupostos teóricos de autores de referência, distanciar dos
modismos e apoiar solidamente princípios que não são novidades na educação,
mas que já vêm sendo discutidos por muitos pesquisadores e que nos auxiliam na
tomada de decisões. Vamos lá, então!

John Dewey (1859-1952)

Há muito temos defendido, nas discussões sobre metodologias ativas, sobre a


construção de “experiências de aprendizagem”. É impossível falar dessa temática
sem fazer referência à John Dewey ( 1859 – 1952), um dos filósofos americanos
mais importantes do século XX, expoente da Escola Nova e que tem em seus textos
uma importante reflexão sobre educação democrática e seu potencial na
construção de uma sociedade. Muitos termos fundamentais utilizados até hoje,
principalmente ao seu considerar a inovação na educação, remetem aos estudos e
pesquisas de Dewey. Vamos dar início, nesse texto, com o termo “propósito”, como
apresentado no texto anterior.

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Um propósito é um fim em vista, isto é, envolve previsão das


consequências que resultam de ação por impulso. Previsão das
consequências envolve a operação da inteligência. (…) A formação de
propósitos é, portanto, operação intelectual mais complexa do que
poderia parecer.
DEWEY, 1938

O autor alerta, portanto, que o papel do professor é apoiar na construção de


propósitos (poderíamos até pensar em uma relação com os inéditos viáveis de
Freire) a partir de necessidades geradas por impulsos, mas que só se
transformariam em ação a partir da “observação inteligente, de busca de
informações e de julgamento lúcido”. Nesse sentido, o autor alerta para algo que
muito defendemos em experiências de aprendizagem com foco em metodologias
ativas que é o papel do professor na condução, no planejamento das ações a serem
desenvolvidas pelos estudantes. Protagonismo do estudante, estudante no centro
do processo, desenvolvimento da autonomia não significa que cada um fará o que
quer, quando quer e como quer sem que tenha o apoio de um par mais experiente
que, na educação escolar, é o professor. Também não significa que o passo a passo
desenhado pelo educador será de tal forma engessado que todos os estudantes
caminharão no mesmo tempo, ritmo e percurso. O equilíbrio entre a condução das
experiências de aprendizagem de forma colaborativa, contextualizada e alinhada
com as necessidades da ação que se pretende promover e que estejam conectadas
ao propósito é fundamental para o desenvolvimento de competências e
habilidades.

Assim, o autor reforça a importância da “continuidade da experiência”,


diferenciando a experiência “de valor educativo” da experiência “sem valor”. A
experiência de valor educativo se conecta com experiências anteriores e se articula
com experiências futuras, tornando a aprendizagem um entrelaçamento em que o
“passado” é meio para compreender o “presente” e desenhar o “futuro” no
estabelecimento de propósitos.
A experiência sem valor, por sua vez, é aquela interessante, divertida, mas que não
promove a aprendizagem. Nesse sentido, há contraposição entre experiências
pontuais, como o uso de um recurso digital (um jogo, uma nuvem de palavras,
uma enquete) descontextualizado daquilo que se pretende desenvolver e o efetivo
uso de um recurso que promove a ação, a reflexão e a construção de conceitos (que
é o que se defende nas metodologias ativas). Infelizmente, com as experiências
“sem valor” perde-se a oportunidade educativa, defende-se que houve uso de
metodologias ativas (sendo que se tratou de uma prática isolada) e toda uma
reflexão sobre uma educação que promove o desenvolvimento do estudante pode
ser desacreditada…

O interessante de estabelecer relação entre as reflexões desses autores (entrelaçar


o passado) com o que observamos hoje na educação (entender o presente) nos
ajuda a pensar os melhores caminhos (desenhar o futuro) para evitar equívocos e o
desmerecimento de propostas que muito se conectam com os estudantes de hoje e
que poderiam ser melhor exploradas (experienciadas!) no dia a dia das escolas.

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Lilian Bacich novembro 19, 2022 Lilian Bacich

Publicado por Lilian Bacich


Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP), Mestre em
Educação (PUC), Pedagoga (USP) e Bióloga (Mackenzie), professora de Ensino
Fundamental, Ensino Médio. Coordenadora de curso de Pós-graduação em
Metodologias ativas no Instituto Singularidades. Organizadora dos livros: Ensino
Híbrido: personalização e tecnologia na educação; Metodologias ativas para uma
educação inovadora. Cofundadora da Tríade Educacional. www.triade.me Contato:
bacichlilian@gmail.com Ver mais posts
5 comentários em “Metodologias ativas: autores de
referência 2”

Yasmin Thuanny
novembro 19, 2022 às 9:56 am

Oi, Lilian!

Sempre tenho feito essa reflexão sobre o propósito dentro da perspectiva do


desenvolvimento de Metodologias Ativas. Na escola onde trabalho faço a mentoria e
assessoria dos professores, desde a elaboração do planejamento até a culminância
das aulas e projetos. Gosto das reflexões de Ausubel sobre a aprendizagem
significativa e Rubem Alves sobre a temática da valorização da experiência. Acredito
que tudo o que conhecemos hoje vem das contribuições desses grandes nomes e
muito ainda temos pela frente. Seu texto me conectou com muitas leituras e reforça a
importância do propósito, do objetivo e da intencionalidade dentros das
Metodologias Ativas.

Um grande abraço,
Profa. Yasmin Thuanny

Responder

Bianca Buse
novembro 19, 2022 às 1:29 pm

Show, Lilian! Reflexões importantes e necessárias! Especialmente no que diz respeito


às “experiências sem valor”. Não basta inserir uma prática isolada (ainda que a
intenção seja muito boa e que o envolvimento dos alunos, ali, seja interessante)…
mas penso que estamos no caminho…

Responder

Elaine Conceição Marquezini


novembro 19, 2022 às 8:29 pm

Super importante ancorar novas reflexões e concepções com grandes pensadores do


passado. Também relevante é o estudo aprofundado das novas metodologias para
que possamos oferecer reais experiências de valor, pois caso contrário torna-se
apenas uma aplicação de modismo sem nenhum valor e fundamento. Obrigada por
mais este compartilhamento.
Responder

Rebeca Grecco Romano


novembro 21, 2022 às 7:01 pm

Reflexão super importante !


Lilian, você acredita que a popularização do uso de metodologias tem gerado um
vício por “experiências sem valor” ? como combater ?
Obrigada por esse texto que explode nossas mentes de uma boa maneira.
Abraço

Responder

Daisy Alves Pinheiro


novembro 22, 2022 às 5:34 pm

Eu faço minhas palavras as palavras a colega acima Elaine Marquezini … precisamos


estar ancorados em teorias já existente, porém devemos também criar novos
caminhos ancorados pelas manifestações de novos tempos, assim, reforsandos
pensamentos atuais.

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