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Pitaguary
Autodenominação
Pitaguari
Onde estão Quantos são
CE 3623 (Siasi/Sesai, 2014)
Família linguística
O Ceará foi a primeira província a negar a existência da presença indígena em seu território,
ainda no século XIX. Como resultado dessa medida, extensas faixas de terra tornaram-se
disponíveis, o que beneficiou de forma direta a pecuária extensiva. Nesse contexto, povoados
originados pela expansão dessa atividade foram transformados em vilas e o Estado passou a
exercer controle crescente sobre a mão-de-obra local, uma mão-de-obra que era
basicamente formada por índios submetidos ao regime de trabalho forçado.
A hegemonia que o Estado conquistou sobre os índios após a expulsão dos jesuítas deu lugar
a um processo de perda de visibilidade indígena que só começou a ser revertido na segunda
metade do século XX, quando, a partir da década de 80, dada à mobilização do povo Tapeba,
voltou-se a falar sobre a presença indígena no Ceará. Logo em seguida, já no início da década
de 90, foi a vez dos Pitaguary, que começaram a se organizar politicamente para pressionar
pela demarcação de sua terra.
Denominação
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Habitada pelos Pitaguary desde há muito, essa terra é socialmente marcada por uma série de
acontecimentos que fundam a memória coletiva de seu povo. Foi nela que os “troncos
velhos” pereceram, deixando suas “raízes antigas”, assim como é dela que sobrevivem os
Pitaguary de hoje.
De origem Tupi, o termo Pitaguary sempre aparece, nos documentos oficiais dos séculos XVII,
XVIII e XIX, designando um lugar: uma serra, um sítio ou um terreno. Possivelmente, é um
termo derivado de variáveis do nome Potiguara, etnia que teria ocupado extensas terras, já
em 1603, na costa cearense. Para o termo “Potiguara” há diversas interpretações e é nelas
que se pode perceber a semelhança existente para com a denominação Pitaguary.
Lima Figuerêdo, por exemplo, na obra Índios do Brasil (1939), enumera as variantes de
“Potyguaras” como “Pitinguaras” e “Petinguara”. Fernão Cardim, em Tratados de Terra e Gente
do Brasil (1939), refere-se aos mesmos grafando sua variante como “Pitiguaras”. Entre essas
denominações surgem outras, como “Potiguare”, “Potigoar”, “Pitagoar”, “Pitinguares” e
“Petinguares”. Hoje em dia, além da grafia de Pitaguary com “y” no final, são de uso corrente
as formas “Pitaguarí” e “Pitaguari”.
História
Em 1665, após os conflitos que envolveram habitantes nativos, portugueses e holandeses no
Ceará, os Potiguara formaram um grande aldeamento original cujo nome se conheceria, mais
tarde, como Bom Jesus da Aldeia de Parangaba. Grupos menores daí se destacaram e por
volta de 1680 constituíram as Aldeias de São Sebastião de Paupina, de onde se originariam
mais tarde as aldeias de Caucaia e a Aldeia Nova de Pitaguari.
Também consta nos arquivos que, em 1707 e 1718, os índios de Parangaba receberam, por
data de sesmaria, posses de terra na costa da Serra de Sapupara e na Serra de Maranguape,
enquanto os índios de Paupina, em 1722, receberam suas terras na Serra de Pacatuba. Um
século mais tarde, em 1854, o sítio Pitaguarÿ era registrado como terra de posse indígena,
levando o nome de 21 índios e seu líder, Marcos de Souza Cahaiba Arco Verde Camarão.
Acredita-se, assim, que os Pitaguary de hoje descendam diretamente da população que se
fixou nessa região, compreendendo parte dos municípios de Pacatuba e Maranguape (do
qual se originaria mais tarde Maracanaú).
Já em 1863, foram registradas queixas dos índios contra posseiros que tentaram usurpar
suas terras. Em complemento às fontes escritas, nas narrativas Pitaguary o contato é
representado como sinônimo de invasão e perda de autonomia. Essas histórias revelam,
inclusive, que parte das obras hoje encontradas na localidade de Santo Antônio dos
Pitaguary, como a igreja e o açude de mesmo nome, foram construídas à custa de trabalho
escravo indígena.
No princípio, contam os narradores indígenas, “era tudo um povo só”, “uma só nação”, levada
à divisão em face do contato. Esse era o tempo pretérito, onde havia liberdade. Com a
chegada dos “ricos fazendeiros” veio, então, o tempo da “escravidão”, em que os índios foram
levados a trabalhar na construção de grandes edificações. A escravidão ou o “cativeiro”, que
aparece nessas narrativas, tanto quer significar uma prisão, de fato, quanto, simbolicamente,
um estado de sujeição coletiva em que há perda de autonomia, ou seja, perda da liberdade
de produzir e se reproduzir.
Além dos fazendeiros, a terra indígena Pitaguary sofreu a ocupação do Estado, através de
diversas instituições, durante um período consideravelmente extenso. Essa presença marcou
profundamente a história da comunidade de Santo Antônio dos Pitaguary. Ao longo de
décadas, em toda a região habitada pelos índios, o chefe da Secretaria de Agricultura do
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Estado do Ceará parece ter figurado como autoridade máxima, sendo posteriormente
substituído pelos representantes da Empresa de Pesquisa Agro-pecuária do Ceará e, mais
tarde, pela Polícia Militar do Ceará.
Durante grande parte do século passado, os Pitaguary viveram num regime ditado pelos
chamados “doutores”, ocupando, no máximo, posições subalternas que lhes eram destinadas
nas casas dos chefes ou nas repartições públicas. Foi somente no início deste século que,
após mobilização intensa por parte dos moradores, a Polícia Militar do Ceará, juntamente
com a sua cavalaria, foi retirada de dentro da área Pitaguary. Paralelamente, outras medidas
(como o fechamento do portão que dá acesso à localidade de Santo Antônio e ao açude de
mesmo nome) deram continuidade à retomada, por parte dos índios, da terra que lhes cabia
e do patrimônio material nela presente. De um modo geral, a retirada da Polícia Militar do
Ceará, o fechamento do açude e o fim da comercialização de bebidas alcoólicas dentro da
área representou, cada qual, um marco na história recente desse povo.
População
Com uma população de índios, todos falantes do português, os Pitaguary apresentam uma
tendência ao crescimento populacional, negando, com isso, a tão propagada idéia do
“desaparecimento” indígena no Ceará. A maioria dos habitantes da TI Pitaguary por lá sempre
morou, mudando apenas de casa, de terreno ou, no máximo, deslocando-se para espaços
circunvizinhos. Isso explica a recorrência de inúmeros cruzamentos familiares e de uma rede
de parentesco bastante particular, na qual bem se evidencia a preservação, através de várias
gerações, de sobrenomes de famílias como “Ferreira da Silva”, “Marcolino”, “Targino”, “Alves”,
“Feitosa” e outros.
Nesse contexto, a auto-identificação indígena tem como pilares o sentimento de uma origem
e de uma unidade comum que é baseada nos laços de parentesco e que muitas vezes utiliza
como recurso a invocação da memória dos antepassados. Isso fica expresso em falas como
“porque minha avó era índia, minha mãe era índia”, “meu avô era índio brabo”, “são raízes
antigas”, “aqui tudinho é índio, uma coisa só” e “aqui todo mundo se conhece, porque todo
mundo se criou junto”. Em conversas cotidianas, também se observa o sentimento de
pertencimento a um espaço comum. Igualmente fortes na sustentação da identificação que
os Pitaguary fazem de si, esses pilares definem a idéia de uma comunidade que permanece
sobre um território que lhes é deveras específico.
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Santo Antônio conta ainda com amplo patrimônio material erguido ao longo dos anos de
ocupação estatal. A casa de apoio, o prédio comunitário, a vacaria e outras construções
menores são exemplos do que ficou dessa ocupação. Afora isso, são marcos locais a pequena
igreja de Santo Antônio, que atrai inúmeros romeiros todos os anos, e o açude, razão de
muitos conflitos entre aqueles que defenderam a proibição da entrada de banhistas que
invadiam a área de sexta a domingo e aqueles que advogavam pela passagem livre dos
mesmos, geralmente representando o interesse de comerciantes locais que lucravam com a
venda de bebidas nos finais de semana.
Dada a extensão de sua área verde, em conjunto com a existência de formações rochosas, de
rios sazonais e outros recursos naturais, Santo Antônio apresenta imenso potencial, ainda
não explorado, para um turismo de caráter ecológico e comunitário. Por outro lado, é
também nesta localidade, mais precisamente na parte denominada de Aldeia Nova, que se
encontram algumas das moradias Pitaguary mais precárias. A Aldeia Nova continua a sofrer
com parco abastecimento de água, o que leva a um sem número de dificuldades,
especialmente no que diz respeito à saúde desses moradores.
As localidades do Olho D’Água e Horto, por estarem mais próximas do centro comercial de
Maracanaú, apresentam uma paisagem que as difere consideravelmente do Santo Antônio.
Parte dessas localidades são também áreas de passagem para municípios vizinhos (como
Pacatuba e Maranguape), o que significa dizer que estão mais bem servidas no que se refere
a opções de comércio e transporte. Ainda assim, na ponte que liga Olho D’Água à estrada que
dá acesso ao Santo Antônio, há uma área desde há muito estigmatizada como “favela”, onde
uma parte da população local enfrenta dificuldades que vão desde o alto índice de
criminalidade, nos arredores da estrada, até a falta de saneamento básico e a poluição do rio
à beira do qual vivem.
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Organização política
No início dos anos 90, quando um pequeno grupo de índios Pitaguary começou a pressionar
pela demarcação de sua terra, foi criado o Conselho Indígena Pitaguary – COIPY. Com o
passar do tempo, as reuniões quinzenais, que costumavam se realizar numa palhoça
construída ao lado da casa do cacique, passaram a acontecer num galpão, no centro da
localidade de Santo Antônio, onde anteriormente funcionava parte da Empresa de Pesquisa
Agro-pecuária do Ceará – EPACE. Ainda no princípio, o índio Daniel Araújo desenvolvia tanto a
função de cacique quanto a de presidente do conselho. Mais tarde, porém, o número de
pessoas engajadas na “luta” pela conquista dos direitos indígenas foi crescendo e, como
resultado, novos espaços de organização política foram criados, surgindo daí o Conselho de
Articulação Indígena Pitaguary – CAINPY e o Conselho Indígena Pitaguary de Monguba –
COIPYM.
Cada um destes conselhos se volta para uma região específica dentro da TI Pitaguary e é
composto por um presidente, um vice-presidente, um tesoureiro e outros representantes
eleitos em reuniões. No ano de 2005, uma quarta organização foi criada, a Associação dos
Produtores Indígenas Pitaguary – APIPY, oriunda da necessidade de se pensar a questão da
produtividade dentro da área indígena, abrangendo assim tanto Santo Antônio quanto
Horto/Olho D’Água e Monguba. Afora isso, existe ainda o Conselho Local de Saúde, com
representantes das três comunidades.
À frente de cada uma dessas organizações, as lideranças Pitaguary têm estado cada vez mais
envolvidas com a implementação de políticas públicas voltadas para a questão indígena. O
dia-a-dia desses representantes inclui negociações com o poder público local, com
organizações governamentais e não-governamentais, além do constante debate com
lideranças de outros povos indígenas no Ceará. Ao contrário do que ocorria no início dos
anos 90, essas lideranças hoje interagem com um público de caráter bastante amplo, estando
freqüentemente presentes em eventos de alcance nacional.
O perfil das lideranças indígenas Pitaguary, por sua vez, varia consideravelmente. Há pessoas
usualmente denominadas de líderes “tradicionais”, o que aqui inclui principalmente a figura
do cacique e do pajé, assim como há as chamadas “jovens lideranças”, que em geral
vivenciaram a experiência da educação formal, seja através do programa de “magistério
indígena” de nível médio, seja através da realização de cursos superiores em instituições
como a Universidade Vale do Acaraú – UVA e a Universidade Federal do Ceará – UFC.
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Roda de oração antes de inciar o Toré Pitaguary. Foto: Joceny Pinheiro, Março 2006, Maracanaú-CE
Há vários lugares de memória na área Pitaguary. Entre esses lugares destaca-se a figura da
“mangueira centenária”, da “senzala dos escravos” e da gruta ou do “buraco” de Santo
Antônio, para citar apenas alguns. A mangueira é constantemente identificada com a figura
da “mãe natureza”, que protege, dá paz e conforto. Ela está no centro das atenções, pois,
segundo contam os narradores indígenas, “naquele pé de mangueira, exatamente lá, morreu
muito índio enforcado e matado de fome”.
O Toré Pitaguary é uma dança que se inicia com os participantes dando as mãos e formando
um grande círculo, como numa "corrente" de oração. Aqueles que dançam seguem os
comandos dos chamados “puxadores” de Toré, geralmente o cacique ou o pajé. O canto é
acompanhado pelo som das maracás e muitas vezes conta com a batida de tambores que
ficam no centro da roda. É nesse momento que, segundo contam os narradores, a mangueira
chora. Dizem que o clamor dos índios escravizados no passado é tão forte que, ao “brincar o
Toré”, debaixo da árvore chove. Para o antigo pajé Pitaguary, seu Zé Filismino, a chuva nada
mais é do que o choro da mangueira.
O ritual se completa com a ingestão de uma bebida, preparada à base de frutas nativas da
região, e servida para todos os membros num recipiente único (uma cabaça) que deve
sempre girar em sentido horário. Os Pitaguary não têm o costume de experimentar dessa
bebida, a “atanhanga”, em momentos que não sejam o da dança, indicando, com isso, que se
trata de uma bebida de uso ritual.
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Há também as crenças nos chamados “seres encantados”, presentes nos relatos míticos que
têm como personagem principal a “caipora”. A caipora é símbolo da afirmação de um saber
indígena sobre a “mata”. Histórias relacionadas a ela aparecem, freqüentemente, quando o
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assunto é a caça. Ao sair para caçar, dizem alguns mais velhos, “o pessoal vê gemido, vê
pancada, vê chiado, fica ouvindo coisa que não vê”. Por que? Porque “ali tem encanto”,
“caipora é encantado”. Ao contar essa história, alguns utilizam a referência com o artigo
definido “a” (a caipora), outros a colocam no masculino, com o artigo "o", fazendo
concordância com a figura do “caboco” ou “caboquinho”.
Filmagem de Toré para o evento Ritos de Passagem. Foto: Joceny Pinheiro, Março 2006, Maracanaú-CE
Assim como o Toré, que de “brincadeira” passou à “arma de guerra”, as narrativas, além do
seu caráter lúdico e pedagógico, passaram a ser instrumentos eficazes na demarcação da(s)
singularidade(s) do povo Pitaguary, uma singularidade que se quer dizer histórica, política e
cultural. Assim, a atividade de rememorar e narrar hoje tem uma importância que extrapola o
âmbito da socialização interna desse povo.
Aspectos sócio-econômicos
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Além da caça e a pesca, que complementam parte da dieta alimentar de algumas poucas
famílias, a sobrevivência dos Pitaguary é garantida a partir do extrativismo vegetal e mineral,
do artesanato, da agricultura familiar, além de um pequeno número de empregos formais,
dentro da área indígena, e informais, na zona urbana de Maracanaú e Fortaleza. A agricultura
de subsistência, com plantio de mandioca, macaxeira, milho, feijão e jerimum, é praticada por
algumas famílias, sendo entretanto inteiramente dependente da estação chuvosa. Já a
atividade artesanal engloba um grande número de pessoas, mas tem se mostrado vulnerável
aos riscos do extrativismo desmesurado e à sede de lucro dos atravessadores.
Modelo Pitaguary com Colar. Foto: Joceny Pinheiro, Junho 2006, Maracanaú-CE
Os trabalhos artesanais são feitos a partir de matéria-prima da região. A produção local inclui
desde a confecção de colares e trajes típicos, feitos da fibra do tucum e outros materiais, até
a fabricação de cerâmica pintada à mão com com diversos tipos de barro. Figurando como o
produto artesanal mais popular entre os Pitaguary, os colares são criados a partir de uma
infinidade de sementes nativas, tais quais o jiriquiti, a mucunã, a linhaça, o mulungu, a
lágrima de Nossa Senhora, o sabonete, o coco-babão e o coco-babaçu. Afora trabalhos
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manuais mais comuns como o bordado, o fuxico e o crochê, nota-se ainda a produção de
cestos e sacolas de palha, além de adornos utilizados em eventos tradicionais, muitos dos
quais são feitos de fibras vegetais e penas de aves como a galinha d’água, o anum-branco e o
socó-boi.
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Ocupação da FUNAI por grupo Pitaguary. Foto: Joceny Pinheiro, Setembro 2006, Fortaleza-CE
Já em 1999, com a pequena doação de uma ONG estrangeira, foi construída a primeira escola
indígena Pitaguary, localizada na Aldeia Nova. Deu-se a ela o nome de “Cuaba”. Entretanto,
sua edificação foi mais tarde condenada e, por temor aos riscos de um desabamento, a
escola acabou sendo desativada. O malogro dessa experiência afetou inúmeras crianças e
professores indígenas que, voluntariamente, deslocavam-se a pé ou de bicicleta todos os
dias, às vezes por cerca de mais de uma hora, para tornar possível o “sonho” de uma
formação diferenciada. O que estava em jogo, na realidade, era a criação de um espaço
educacional em que as crianças da localidade, ao invés de marginalizadas, fossem
valorizadas.
Enquanto o ideal de uma escola indígena diferenciada sofria tal abalo, a Fundação Nacional
de Saúde – Funasa começava a se fazer presente dentro da TI Pitaguary. Além da seleção
para o preenchimento de cargos destinados a agentes de saúde indígena, em 2000 realizou-
se o cadastramento de mais de setecentos índios Pitaguary. Logo em seguida, em 2001, teve
início o Curso de Magistério Indígena Diferenciado, Universidade Federal do Ceará – UFC em
parceria com a FUNAI, o qual contou com a participação de diversos povos indígenas do
Ceará. Esse curso, apesar de duramente criticado por lideranças Pitaguary, parece ter sido,
por outro lado, diretamente responsável por um processo de interação contínua entre jovens
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de diversos povos indígenas no Ceará. Foi também em 2001 que se inaugurou a escola
indígena do Horto, chamada de “Chuí”. Em 2002, embora sem espaço próprio, outra escola
indígena, a Itaara, foi reconhecida.
De um modo geral, as equipes de saúde que trabalham junto aos Pitaguary não dispõem de
profissionais suficientes para atender, simultaneamente, a população indígena e não-
indígena, o que vem ocorrendo no caso do posto de saúde do Olho D’Água. Além disso, dada
à a instabilidade que esses profissionais enfrentam no que diz respeito aos contratos de
trabalho que assinam com as prefeituras locais, os Pitaguary acabam sofrendo com a alta
rotatividade de pessoas que ocupam posições de extrema importância dentro dos postos de
saúde.
Afora um médico e sua esposa enfermeira que se dedicaram ao longo de mais de seis anos à
saúde dos Pitaguary, e com quem esses índios desenvolveram uma relação de empatia e
confiança, a maior parte dos demais profissionais de saúde não passaram mais do que
alguns meses na área Pitaguary. Essa descontinuidade na relação entre os profissionais de
saúde e a população atendida tem se apresentado como um dos maiores desafios para a
saúde indígena Pitaguary.
No que diz respeito à presença da Funai, o que se observa é que, devido à precariedade da
estrutura e do reduzido número de servidores do Núcleo de Apoio Local - NAL Ceará, esta
instituição tem se mantido verdadeiramente ausente da área Pitaguary. Em contraste, nota-
se a presença constante de representantes da Prefeitura de Maracanaú e, mais
esporadicamente, da Prefeitura de Pacatuba. Em anos recentes, a prefeitura de Pacatuba se
utilizou da presença indígena Pitaguary para justificar ajuda financeira destinada à
implementação de um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS em seu município.
No entanto, segundo lideranças locais, esse Centro de Referência nunca atendeu às
demandas da população indígena e hoje figura como mais um exemplo da relação autoritária
que o poder público às vezes assume em relação à população indígena de seu município.
Em 2006, a Prefeitura de Maracanaú também decidiu trazer, para a área de Santo Antônio
dos Pitaguary, um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS específico para a
população indígena. Funcionando em duas salas da casa de apoio local, o CRAS Pitaguary
pretende prestar serviços de atenção básica a famílias e indivíduos em situação de
vulnerabilidade, além de fazer o controle dos benefícios advindos de políticas assistenciais
dentro da área. Dado seu pouco tempo de funcionamento, o CRAS de Santo Antônio é um
experimento ainda em fase de implantação.
Lado a lado com as políticas públicas na área da saúde, educação e assistência social, os
Pitaguary contam ainda com recursos financeiros oriundos de duas indenizações pagas às
suas comunidades. Isso se deve ao fato de que, em 1999, 2003 e 2004, ocorreu a passagem
de linhas de transmissão de eletricidade dentro da área Pitaguary. Da instalação da primeira
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Esses recursos já estão oficialmente disponíveis para uso do povo Pitaguary, no entanto a
burocracia para a liberação de parte desse montante tem sido tão grande que, no dia 13 de
setembro de 2006, uma comitiva de 40 índios decidiu ocupar a Funai até que, em reunião
com o seu administrador local, ficasse acordada uma alternativa para uso imediato desse
recurso. As lideranças locais têm consciência de que a passagem das linhas de transmissão
dentro da TI Pitaguary acarretou na diminuição de sua terra, a qual já é considerada de
tamanho insuficiente. Todavia, existe aí a esperança de que, através das indenizações pagas,
essa população possa, enfim, encontrar os meios para financiar projetos produtivos que
transformem a situação de pobreza na qual muitos dos seus vivem.
Fontes de informação
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reconhecimento étnico do Grupo Indígena Pitaguary. Brasília: FUNAI/DAF/DEID, 1998.
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Realização
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