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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS - NUCSA


CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
ESTUDO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

ALDEIA INDÍGENA SURUÍ PAITER

VICTÓRIA FERREIRA LIMA

PORTO VELHO – RO
2022
Introdução:
De modo geral o resumo tem como objetivo principal enaltecer a importância da visibilidade
e inclusão social do povo originário Suruí Paiter que se constitui num dos mais significativos
para a história de Rondônia. Assim como trazer para conhecimento os aspectos culturais,
diversidade cultural e registros socioeconômicos.

Resumo:

Os Suruí de Rondônia se autodenominam Paiter, que significa "gente de verdade, nós


mesmos”. A Terra Indígena ocupa uma área de aproximadamente 248 mil hectares, com uma
população de 1375 pessoas. Pertencem a família linguística Mondé, a língua falada é a Suruí
Paiter.

A migração mais intensa a partir dos anos 60, quando Rondônia passa a ser uma das áreas de
maior expansão agrícola. A rodovia Cuiabá-Porto Velho (BR-364) e o grande crescimento da
População de Rondônia, um crescimento de tal ordem resultou em conflitos fundiários e
pressão sobre áreas indígenas. O quadro de crescimento econômico e aumento das
desigualdades sociais acirrou conflitos entre índios e fazendeiros, agricultores, seringueiros e
outros extrativistas.
Os suruís Paiter foram contatados pela Funai em 1969, por meio dos sertanistas Francisco
Meirelles e Apoena Meirelles, no então acampamento da Funai, Sete de Setembro, quando
nesse ano visitaram o acampamento, fundado um ano antes, no dia 7 de setembro de 1968
(esse ficou sendo também o nome da principal aldeia Suruí). E só passaram a morar de forma
permanente no posto em 73, quando vieram buscar assistência médica em razão de uma
epidemia de sarampo que matou cerca de 300 pessoas. A demarcação dessa terra indígena se
deu em 1976, e a posse permanente foi declarada pela portaria 1561 de 29 de setembro de
1983 pelo então presidente da Funai Octavio Ferreira Lima, momento em que recebeu o nome
oficial de “Área indígena Sete de Setembro”, em decreto no mesmo ano pelo presidente João
Figueiredo.

A partir dos anos 80, alguns jovens Paiter que dominavam a língua portuguesa em razão da
necessidade de diálogo com os brancos, levaram suas reinvindicações até a Funai. Nessa
época cresceu entre os Suruís a Consciência de como se constitui a sociedade brasileira e a
necessidade de lutar pela defesa de seu território e de sua vitalidade cultural. Foram feitas
reinvindicações. Nesse contexto, algumas tradições renasceram e os mutirões e festas
persistiram, porém se adaptando aos novos padrões agrícolas, como o cultivo de arroz e uma
maior dispersão da população.

A índole guerreira dos Paiter motivou uma resistência contundente desse povo aos invasores e
exploradores de seu território. Entre 1971 a 1981, houve uma sucessão de choques armados
entre os Suruí e invasores. Calcula-se que houvesse cerca de mil famílias não indígenas na TI.
Apesar da interdição da área, o Incra continuava a estimular a entrada de migrantes em seus
territórios, havendo venda ilegal de lotes, sendo a Cia. Itaporanga (Irmãos Melhorança)
responsável pela introdução de várias famílias na área indígena.

Diante dos conflitos, o governador do então Território de Rondônia (Humberto da Silva


Guedes), o Ministro do Interior (Rangel Reis), o presidente da Funai (Ismarth de Araújo) e o
Coordenador de Projetos do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Hélio de Palma Arruda)
visitam a terra indígena com o intuito de apaziguar os ânimos e solucionar os problemas. O
Governo demarcou a área recuando seus limites na parte sul em 9 km ao leste em 12 a 15 km.
Para conter os invasores, parte da demarcação teve que ser feita com o apoio da Polícia
Militar. A Funai não conseguiu conter as ações dos posseiros, que se recusaram a sair mesmo
com a terra demarcada, destruindo marcos e placas da Funai.

Em 1978 os invasores fecharam a estrada de Riozinho até o Posto Indígena Sete de Setembro,
impedindo a entrada de funcionários e veículos da Funai, o que gerou atritos com os índios. A
Funai solicitou o apoio do Exército, que, através do Grupamento de Fronteiras, se
comprometeu a retirar os invasores e fez um cadastramento, computando um total de 652
pessoas ou 169 famílias.

Em novembro de 1978, a terra indígena foi invadida por 20 famílias, que se apossaram de
10% do território. No início do ano seguinte os Paiter ameaçaram os invasores, que haviam
construído uma estrada de 20 km e instalado uma serraria e uma beneficiadora de arroz dentro
de seu território. Os conflitos se agravaram e o Ministro da Agricultura (Delfim Neto) se
comprometeu a retirar os intrusos da área e assentá-los em outro projeto de colonização.
Porém a promessa não foi cumprida. Em setembro os Paiter receberam a visita do Presidente
da Funai (Adhemar Ribeiro), que também prometeu a retirada dos invasores. No mês
seguinte, foi a vez do diretor do Incra, que se comprometeu a retirar os invasores em abril de
1980. Passaram-se os meses e os invasores continuaram na terra indígena, questionando a
qualidade dos lotes oferecidos pelo Incra. A Funai convenceu os Paiter a não atacarem os
invasores, alegando que a Justiça os retiraria dali. Certos de que continuariam lá, os invasores
moveram uma Ação de Manutenção de Posse no Fórum de Porto Velho e a Funai entrou com
a Ação de Reintegração de Posse. Os invasores ganharam, através de uma Liminar concedida
pelo Juiz de Porto Velho, o direito de permanecerem 90 dias na terra indígena. A Funai
recorreu e a Liminar foi cassada.

Cansados de esperar pela Justiça dos não índios, os Paiter expulsaram em outubro alguns dos
novos invasores, fazendo com que os mesmos saíssem despidos e sem armas de suas terras.
No mês de outubro de 1980 havia 87 famílias de invasores no interior da terra indígena, que
foram gradativamente retiradas - recebendo terras em projetos de colonização, constituindo o
primeiro caso na história indígena - e, um ano depois, restavam apenas três. Em 1981 todos os
invasores foram expulsos, passando os Paiter a viver em aldeias formadas onde havia as
plantações de café deixadas pelos não indígenas.

Os membros dos clãs que compõem a sociedade Suruí partilham o mesmo conjunto de regras
sociais, devendo obrigações uns aos outros. São separados, na vida em comunidade, em duas
metades uma ligada ao mato e outra à roça, fazendo com que as famílias mudem de lado em
ciclos anuais, sendo assim, quem é do mato passa a ser da roça e vice-versa. Na roça, por
exemplo, existe uma cooperação ampla entre os membros dessa metade, além do mesmo
afinco cooperativo entre os irmãos e cunhados. Estes, por sua vez, têm a obrigação de ajudar-
se mutuamente. Tradicionalmente, todas as atividades econômicas organizam-se em torno do
parentesco.

Fica então relacionada a cada metade a idéia de que todos possuem compromissos com o seu
lado, nos vários tipos de trabalhos possíveis entre caça, roça e confecção de objetos, cada qual
com a demanda da roça ou da mata. A oposição entre a mata e a roça organiza o calendário
anual dos Paiter. A divisão entre as metades determina vários momentos da vida social,
passando pela produção de alimentos, festas e rituais.

Na 7° edição do Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café de Rondônia –


CONCAFÉ neste ano de 2022, dos seis campeões três foram cultivados em terra indígena.
Dois prêmios foram para a etnia Aruá, da TI Rio Branco e um foi para a etnia Suruí, da TI
Sete de Setembro. De acordo com os organizadores do evento, o concurso tem como "objetivo
identificar, premiar e promover os cafés Robustas Amazônicos produzidos com
sustentabilidade no Estado, além de agregar valor à produção, possibilitando maiores ganhos
para o produtor acessar melhores mercados, e assim consolidar como instrumento de
promoção do desenvolvimento territorial." O que nos faz pensar na visibilidade que esses
povos estão tendo, e o reconhecimento da produção e eficácia se torna cada vez mais visto
pela sociedade.

Walelasoetxeige Suruí mais conhecida como Txai Suruí, é filha de Almir Suruí uma das
lideranças indígenas mais conhecidas por lutar contra o desmatamento na Amazônia. Nascida
dos Povos Suruí em Rondônia. Atualmente é a primeira a jovem a se formar no curso de
direito pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR, e atua ativamente defendendo causas
ambientais e trabalha na parte jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé),
entidade que defende a causa indígena no estado.

Há quase 10 anos, ainda estudante a jovem fez parte de uma reportagem para a emissora
Globo, sobre o uso da tecnologia pela comunidade Suruí na defesa da Amazônia. Na época
ainda usava seu nome de origem, que hoje abrevia para Walela ou Txai. Em 2021 Txai Suruí,
foi a única indígena e brasileira a discursar na Conferência da Cúpula do Clima – COP26, e
passou a ser um nome internacionalmente conhecido. Isso porque, diante de todo o mundo, a
jovem expôs o avanço da mudança climática na Amazônia, e denunciou o assassinato de Ari
Uru-Eu-Wau-Wau por proteger a natureza. Para Txai, a resposta a essa violência contra sua
família e os povos indígenas é o diálogo, com resistência, paciência e amor. “Olha o que está
acontecendo com os yanomamis: são crianças e mulheres estupradas e as pessoas não se
comovem?”, diz ela. “Então perdemos o nosso amor. A nossa empatia é mais do que esquerda
e direita, é uma questão de humanidade, a gente precisa falar mais de amor. Amor, ainda que
seja uma palavra imaterial, uma coisa que a gente não toca, assim como o vento forte, que a
gente não vê, está aqui. A gente precisa falar de amor para transformar o mundo.”

A necessária visibilidade dos povos indígenas são registro de nossa pluralidade e diversidade
cultural e fonte de inúmeros conhecimentos. Hoje os povos indígenas se encontram
ameaçados em seus territórios por falta de demarcação e criação de áreas de proteção, e estão
tolhidos cultural e economicamente pela expansão da fronteira agrícola em terras devolutas e
toda sorte de exploração predatória do solo e subsolo sobre áreas tradicionalmente ocupadas,
o que inviabiliza a continuidade de sua cultura e modo de vida. Resta aos povos indígenas não
apenas exigir a efetivação dos direitos legislados, mas, também, esperar que haja um
reconhecimento concreto pela sociedade de que esses povos formam o socio-ambientalismo
que caracteriza a nação brasileira, registro de nossa pluralidade e diversidade cultural e fonte
de inúmeros conhecimentos que nos remete à nossa própria origem e sem os quais não
poderemos contar a nossa história ou quiçá dar-lhe continuidade.

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