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II
Modelo japonês de
administração
oBJETTVOS
Ao completar o estudo deste capítulo, você deverá estar preparado para explicar e
exercitar os seguintes conceitos:
INTRODUçAO
Em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial, o Jap:ao era um país arrasado. Mas
seus empresários e a populaçáo estavam dispostos a trabalhar para sair rapidamente
dessa situação. Gradativamente, com muito esforço, o país se recuperou. Um dos vetores
172 PARTE ilt r DA ESCOLA CLÁSSTCA AO MODELO JAPONÊS
Figura 10.1
Gurus da Taiichi Ohno (1912-1990)
administração
Ohno é considerado o criador do Sistema Toyota de
Ja ponesa
Produção ou produçõo enxuto (leon monufocturing). For-
mou-se em engenharia mecânica na Escola Técnica de
Nagoya e entrou na Toyota em 1932. Em 1943, foi para
a Toyota Motor, na qual fez carreira e chegou a execu-
tivo. Ohno sabia que seus princípios não se restringiam
às fábricas e previu que se transformariam em sistema
de gestão aplicável a todo tipo de atividade.
YojiAkao (1928-)
Yoji Akao criou a metodologia Quolig Function De-
ployment (QFD) em colaboração com Shigueru Mizuno.
É também um dos promotores da metodologia hoshin
konri, um método japonês de administração por objeti-
7t
vos. Em 1978, Akao recebeu o Prêmio Deming para ln-
divíduos. Akao continua ativo em universidades, como
consultor, e em organizações que promovem as ideias e
os métodos da qualidade total.
Con heça ma is: www.yoj ia ka o. n et; http://www.q f di.org/
wh at_is_qfd/wh o_i s_d r_a ka o. htm; http://asq.o rgla bo ut-
-asq/who-we-a relbio_akao.html; http://www.lea n produc-
tion.com/hosh in-ka nri.htm L
ALMEIDA, H. S., & TOLEDO, J. C. (1 989). Método Taguchi: qualidade voltada para o projeto do produto e do
p rocesso. Rev i sto d e Ad m i n istro çõ o, 24(4), 62-68.
174 PARTE III I DA ESCOLA CLÁSSICA AO MODELO JAPONÊS
1 TOYOTA2
hoje é a Toyota Motor Corporation, que trabalha com veículos, motores, compressores,
eletrônica embarcada e prensas. O ramo automobilístico representa 50% dos negócios
da Toyota Industries Corporation.3
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Toyota fabricou caminhóes para o Exército
Imperial doJapáo. Desde essa época, jâhavia preocupação com a economia de mate-
riais. Devido à escassez, os caminhóes militares eram extremamente simples. A guerra
terminou pouco antes que se concretizasse um bombardeio contra as fábricas da Toyota
na cidade de Aichi.
A produção de automóveis foi retomada em 1947. Em 1949, a Toyota estava à beira
da falência. Foi salva por um empréstimo de um consórcio de bancos, que exigiram a
organizaçáo de um sistema de vendas e a eliminação de mão de obra excessiva.
No entanto, em 1950, a empresa estava a ponto de desaparecer. Sua produção era
irrisória. Os executivos implementaram um programa de demissões e redução de sa-
lários, o que provocou uma greve que durou dois meses. Providencialmente, a Toyota
foi salva por uma encomenda de mais de cinco mil caminhões, feita pelo exército ame-
ricano, para serem usados na Guerra da Coreia, que começou naquele ano. Em 1957,
o Toyota Crown tornou-se o primeiro carro japonês a ser exportado para os Estados
Unidos. As divisões da Toyota nos Estados Unidos e no Brasil foram criadas nesse
mesmo ano.
Na década de 1960, a Toyota cresceu e consolidou sua posição como empresa glo-
bal. Na década de \970, a crise do petróleo ajudou a tornar atraentes os automóveis
japoneses, que eram compactos, econômicos e duráveis.
conforme a Toyota e outras empresas japonesas se expandiam, provocavam curio-
sidade a respeito de seu modelo de administraçáo. O que mais se queria saber sobre
esse modelo era: como fazem os japoneses para fabricar produtos de alta qualidade,
em grandes quantidades, a custo baixo? Os japoneses fizeram como Henry Ford: ne-
nhum segredo a respeito de seus métodos. Apesar do acesso à informação, muitos anos
se passaram até os ocidentais conseguirem se familiarizar e utilizar o modelo japo-
nês de administraçáo. Uma das principais sementes desse modelo é o Sistema Toyota
de Produção.
O Sistema Toyota de Produçáo (TPS - Toyota Production System) vem evoluindo desde
que os teares automáticos começaram a ser fabricados. CI,ando ocorria um problema,
o tear parava de funcionar. Essa interrupção evitava a produção de itens defeituosos.
Evitando os produtos defeituosos, os desperdícios também eram evitados e a eficiência
aumentava. Essa maneira de trabalhar da máquina inspirou o combate ao desperdício
na linha de produção e, em seguida, em toda a empresa.
O sistema Toyota, em sua plenitude, é obra do trabalho de Eiji Toyoda, da família
proprietária da Toyota, e de Tâiichi Ohno, chefe da engenharia da empresa. Em 1956, os
dois visitaram a Ford, nos Estados Unidos.
Toyoda e Ohno concluíram que o principal produto do modelo de Henry Ford
era o desperdício de recursos - esforço humano, materiais, espaço e tempo. Fábricas
gigantescas, pilhas de materiais em estoque, grandes espaços vazios, pessoas com ta-
refas muito limitadas. O desperdício mais importante era o desperdício do esforço
humano - grandes contingentes de funcionários com sua capacidade subaproveitada,
trabalhando em tarefas minúsculas, alienados e desmotivados.
Para ser eficiente e competitiva, a Toyota precisaria modificar e simplificar o siste-
ma de Ford, tornando-o mais racional e econômico. Essa conclusão foi decisiva para a
implementação do sistema Toyota.
3.1 Jidoka(autonomação)
A palavra Jidoka - assim como a técnica - remonta à invenção do tear automático
por Sakichi Toyoda, fundador do grupo Toyota. A máquina embutia um dispositivo que
a fazia parar de funcionar quando surgia um problema, impedindo a produçáo de itens
com defeito.
Transplantado para o TPS, o lema do Jidoka é: "a qualidade deve ser enxertada du-
rante o processo de fabricaçáo".Para que o TPS funcione, todas as peças fabricadas ou
fornecidas devem atender a determinados padrões de qualidade. O Jidoka tem o objetivo
de garantir essa qualidade.
ApalavraJidokatem sido traduzida como "autonomação" ou automação com to-
que humano. Significa que a qualidade é monitorada constantemente. Cada operador
tem a responsabilidade de fazer inspeções de qualidade antes de entregar os itens em
processo ao ponto seguinte da linha de produção. Se detectar um defeito ou erro, tem
autonomia para resolver imediatamente, mesmo que isso implique parar temporaria-
mente a produção.a O Jidoha está associado a três ferramentas: andon (administraçáo
visual), genchi genbutsu (ir e ver) e poka-yoke (à prova de erros).
4 hitpi/lwww.toyota-global.com/company/vision_philosophy/toyota_production_system/jidoka. htm l.
CAPíTULO 1O r MODELOJAPONÊS DE ADMINISTRAçÃO
Figura'10.2
Estrutura do
Sistema Toyota
de Produçãos SISTEMA TOYOTA
QUALIDADE CUSTOS
pREOCUPAçõESAMBIENTAIS SEGURANçA
ltDoKA lusT-tN-TtME
Genshi Eliminação do
desperdício
genbutsu
fdkt time
Andon 5W
Konbon
Poko-yoke 5S
Figura 10.3
Painel andon
(fonte: www,htec
net.br)
PRODUÇAO PRODUÇAO
orÁnrR REAL ATE o/o DEFEITOS o/o
PLANEJADA AGORA
PRODUçÃO nnoouçÃo
DIARIA REAL ATE o/o DEFEITOS o/o
PLANEJADA AGOM
PRODUÇAO PRODUÇAO
otÁnte REAL ATE o/o DEFEITOS o/o
PLANEJADA AGORA
PRODUÇAO enoouçÃo
DIARIA Rrnr RrÉ o/o DEFEITOS o/o
PLANE]ADA AGORA
Genshi genbuúsu significa "ir e ver"; ir à fonte dos problemas, às origens, para obser-
var pessoalmente. É mais atitude do que técnica - consiste em observar in loco e procu-
rar as causas dos problemas, em vez de recorrer a informaçóes fornecidas por outros,
para entendê-las de forma completa e precisa. Diz a lenda que Tâiichi Ohno deixava
cada novo engenheiro dentro de um círculo de giz que desenhava no chão da fétbrica,
com instruções para analisar o que via. Ao voltar, se o engenheiro náo tivesse observado
o suficiente, Ohno o deixaria mais algum tempo lá. A única maneira de entender o que
se passava no chão da fábrica era estar presente.
A "atitude Gemba" é designação alternativa para genshi genbutsu. Gemba significa
lugar. Atitude Gemba é ir ao lugar em que as coisas acontecem, em vez de depender de
relatórios e métricas que não revelam a situação real.
Em alguns carros com câmbio automático, a chave só pode ser tirada do contato
se a alavanca estiver na posição P (Figura 10.4). Isso evita que o veículo fique em pon-
to morto e corra o risco de descer uma ladeira. É um dispositivo poka-yoh.e: à prova de
erros. Originalmente, a expressão erabaka-yohe - o que significa à prova de idiota. Mas
essa designaçáo foi substituída por ser muito forte.
Figura 10.4
Um dispositivo
poko-yoke
F-
,ai-
-r
L..
Fonte: popovaphoto I iStockphoto
cApíTULO'rO r MODELOJAPONÊs DE ADMINISTRAçÃO 179
6 SH INGO, S. (2007). The soyings of Shigeo Shingo: key strotegies Íor plont improvement. Cambridge, Massachu-
setts: Productivity Press,
7 OHNO, T. (1 988). Toyota production system. Cambridge, Massachusetts: Productivi§ Press.
8 http://www.toyota-global.com/company/vision_philosophy/toyota-production_system/.
PARTE ilt . DA ESCOLA CLÁSS|CAAO MODELOJAPONÊS
Além desses sete desperdícios originais de Ohno, foram propostos outros, chama-
dos "novos desperdícios":
1 Espaço.
2 Competências e talentos subaproveitados; subutilizaçáo do potencial huma-
no; náo permitir que as pessoas ofereçam ideias e sugestões.
3 Tiabalho feito com métricas erradas ou sem métricas.
4 Uso incorreto de computadores; falta de software apropriado; tempo perdido
surfando naWeb.11
Figura 10.5
INEFICIÊNCIAS
Desperdício e DESPERDíCtOS AGREGAçÃO DE VALOR
INEVITÁVEIS
va lor
. Espera. . Fabricar mais que o . Realização de
necessário. operações e atividades
. Transporte.
. de transformação
. Refugos.
Deslocamentos. estritamente ligadas ao
. Tempo perdido em produto ou serviço.
. Perdas inevitáveis.
consertar erros.
. Estoque.
11 MIKA, G. (2006). Koizen event implementotion monuol (5th ed.). Dearborn: Society of Manufacturing Engineers.
Figura 10.6
Exemplo de LADO LADO
kanban
PRETO C!NZA
situação planejada, em vez de fazer crer que o A trata apenas de agir e implementar (o
que de fato acontece no segundo estágio D).
Figura 10.7
Ciclo PDCA ou PLAN DO CHECK ACT
ciclo de Shewhart-
Demingla
Ê § §o
a ê t^ ,:oq E
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Eú, ;rE
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oE L L í§ ,= E O_
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cor j= o §o- E g cX
sb-; ã ds b üE
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Five Whys ou 5W ou Cinco porquês? é o princípio de, como diz o nome, pergun-
tar cinco vezes qual a causa de um problema, o que leva à causa original. Consertada
a causa original, a cadeia de problemas se desfaz (Figura 10.8). Ohno cita o seguinte
exemplo:
Segundo Ohno, o método ou prática 5W foi usado para criar muitas soluçóes do
sistema Toyota.ls
14 http://en.wikipedia.orglwikí/PDCA.
15 OHNO, T. (1988). Toyoto production system. Cambridge, Massachusetts: Productivity Press.
184 PARTE ilt r DA ESCOLA CLÁSSTCA AO MODELOJAPONÊS
Figura 10.8
+ ,.'*::ii;", +
Cadeia de cinco
CAUSAS
3.3.2 55 ou Cinco Ss
as empresas locais com a superioridade de seus métodos de produçáo eficiente e sua ma-
neira participativa e igualitária de tratar os funcionários. Os americanos observaram com
surpresa a estratégia de envolver os funcionários no processo decisório, a técnica do just-
-in-time e a abolição das distinções hierárquicas. Em 1986, a revista Business Week mostrot
o presidente da Honda americana e seus funcionários compaftilhando o mesmo escritório,
o que contrariava radicalmente a prâtica tradicional de isolar os executivos e atribuir-lhes
símbolos de importância, pata diferenciáJos dos demais funcionários.
Quanto mais se tornava conhecido, mais o modelo japonês revelava a simplici-
dade de seus componentes: eficiência, qualidade e participaçáo dos funcionários nas
decisões. A receita era simples, e, na verdade, era ocidental. O modelo japonês era o
modelo americano, que, por suavez, tinha suas origens no sistema fabril da Revoluçáo
Industrial. Com o tempo, os ocidentais aprenderam a colocar em prática a versáo orien-
tal de seu próprio modelo. Nos anos 1990, o modelo japonês jâhavia deixado de ser
exclusivamente japonês, tornando-se o padráo universal das empresas que pretendem
alcançar e manter a capacidade de competir em escala global.
Há muito tempo, "todos querem ser a Toyota".
EXERCíCIOS
Você já deve ter visto, mesmo em fotos nos jornais, o pátio de uma fábrica de
veículos em períodos de recessão. Se o diretor da fâbrica lhe mostrasse o pátio
cheio de veículos não vendidos e lhe pedisse uma soluçáo, usando os princí-
pios do sistema Toyota, o que você recomendaria?