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Colégio e curso Progressão

Aulão UERJ 1EQ 2024 - Ciências Humanas

A QUESTÃO INDÍGENA NO BRASIL E


SUAS RELAÇÕES COM O MEIO AMBIENTE
Professores Giselle Albuquerque e Yan Fonseca
Para começo de conversa...
 Índio ou indígena? Um debate que
revela o poder das palavras;

 Indígena, vem do latim indigĕnae:


“natural do lugar em que vive, gerado
dentro da terra que lhe é própria”;

 “Índio” é tudo igual? Diversidade!!!

 O IBGE alega que existem cerca


de 1.652.876 indígenas entre a
população brasileira, segundo
dados preliminares do Censo (2022);

 Eles estão divididos, hoje, em cerca de


305 povos e 274 línguas diferentes;
Brasil antes de ser “o Brasil”
 Estima-se que entre 3,5 e 5 milhões
de pessoas viviam na região que hoje
chamamos Brasil no início do séc. XVI;

 Tais povos são divididos, desde então,


por critérios étnicos-linguísticos;

 Os invasores portugueses da época


travaram contato primeiramente com
falantes de línguas tupi-guarani;

 Povos de outras matrizes linguísticas,


como os aruaque, caraíba e jê, foram
genericamente nomeados “tapuias”; Estimativa da distribuição territorial
de grupos linguísticos por volta de 1500
 O termo, originado de línguas tupi, (fonte: GeoPizza podcast)

significa “povos de língua travada”.


Línguas indígenas do Brasil
O indígena no olhar do invasor português
Etnocentrismo e “indolência” Recurso a ser explorado

A língua de que usam, por toda a costa, De ponta a ponta, é tudo praia-palma,
carece de três letras; convém a saber, muito chã e muito formosa. Pelo sertão
não se acha nela F, nem L, nem R, coisa nos pareceu, vista do mar, muito grande,
digna de espanto, porque assim não têm porque, a estender olhos, não podíamos
Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira ver senão terra com arvoredos, que nos
vivem desordenadamente, sem terem parecia muito longa. Nela, até agora,
além disto conta, nem peso, nem não pudemos saber que haja ouro, nem
medida. prata, nem coisa alguma de metal ou
ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si
GÂNGAVO, P M. A primeira história do Brasil: é de muito bons ares [...]. Porém o
história da província de Santa Cruz a que melhor fruto que dela se pode tirar me
vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro:
Zahar, 2004 (adaptado) parece que será salvar esta gente.

Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.;


BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de
textos. São Paulo: Contexto, 2001.
Paternalismo autoritário na colônia e império
 1570: “proibição” da escravização dos
povos “negros da terra” (com exceção
dos capturados em “guerra justa”);
 Ação de catequese da Cia. de Jesus, a
ordem dos Jesuítas, em comunidades
conhecidas como missões;
 Criação do Directório dos Índios em
1755, 1ª política indigenista do Brasil;
 A ideia era “integrar” indígenas a
sociedade através da aculturação;
 Povos nativos eram vistos como
“inocentes e desamparados”;
 Mito do “bom selvagem” do séc. XVIII:
reforçado pelo 1ª geração romântica!
O evolucionismo republicano
 Crença no “fim dos indígenas”;

 O nativo como condição passageira:


não se é índio, se estava índio...

 Esse tipo de ideia orientou a criação e


atuação da política indigenista do
Serviço de Proteção ao Índio, o SPI;

 Fundado em 1910 e presidido pelo


Coronel Cândido Rondon, chefe da
Comissão de Linhas Telegráficas do
Mato Grosso ao Amazonas;

 Subordinado ao Min. da Agricultura;

 Nacional-desenvolvimentismo
varguista: transformar indígenas
em um “trabalhador nacional”;
Indígenas nos “Anos de Chumbo”
 Corrupção no SPI e a questão da terra
nos projetos de integração do Estado;
 Novo órgão indigenista: a Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) de 1967;
 Persistência do ideal “civilizatório” mas
a discussão é militarizada, passa a ser
questão de segurança nacional;
 Novo ciclo de desenvolvimento com
base em mineração, construção de
rodovias e grilagem de terras;
 Remoções de comunidades e graves
violações aos direitos humanos;
 Resistências: formação da União das
Nações Indígenas (a UNI) em 1974;
 Política indígena ≠ política indigenista;
“Juruna é o primeiro índio que está
representando brasileiro, porque o
governo brasileiro não dá
oportunidade pra índio, porque ele
quer continuar tutelar toda vida
índio. E nós não somos tutelados,
somos responsáveis, nós somos
gente, nós somos ser humano.”

Mário Juruna, liderança xavante, foi o


1º indígena a ser eleito no Brasil

Deputado federal pelo Rio de Janeiro


de 1983 a 1987, integrou o PDT
Democracia para quem?
 A proposta de uma bancada indígena
para a Constituinte não foi aprovada;

 Indígenas continuaram a ser vistos


como uma “ameaça a seg. nacional”;

 Projeto Calha Norte inicia tentativa


de “intensificação da tutela militar”
sobre a política indigenista;

 “Vigiar e colonizar as fronteiras”;

 Reconhecimento: o art. 231 da CF1988


– Direitos originários: antecedem a CF;
– Demarcação de territórios indígenas;
– Educação e saúde adaptadas;
Terras/territórios indígenas
 Definição na CF1988:
“por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas
para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu
bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e
cultural, segundo seu usos, costumes e tradições"

 Terra ou território indígena?


 Terra remete à meio de produção;
 Território dá uma ideia de apropriação
do espaço, modo de vida, raiz, cultura;
 Hoje são um total de 764 áreas,
448 homologadas ou regularizadas;
 Representam 13,75% do território BR,
concentrada na “Amazônia Legal”;
A Amazônia e sua importância
 A Floresta Amazônica é a maior floresta
equatorial do mundo e também berço
da maior bacia hidrográfica;
 Tem papel central na atuação dos climas
da América do Sul e também na vida dos
povos originários;
 Garimpo ilegal, avanço da fronteira
agrícola, indústrias madeireiras, tráfico
ilegal de animais e plantas;
 Maior concentração de terras indígenas;
 Em 2021, pelo menos 201 TI’s sofreram
invasões e violência, segundo dados do
Cons. Indigenista Missionário (CIMI).
O garimpo e seus impactos
 Uma das atividades que mais impactam a
Amazônia e a vida de povos originários;

 Causa:
– descaracterização da morfologia original do
terreno;
– supressão da vegetação e o assoreamento
dos cursos d'água;
– Pode gerar rejeitos contendo mercúrio
metálico;

 Quando o garimpo é ilegal, costuma ser


realizado em terras indígenas ou
unidades de conservação, ou em áreas
privadas que não pertencem ao
garimpeiro.
Projeto RADAM da década de 1970, primeiro
mapeamento mineral da região. Atraiu pelo menos
500 garimpeiros para terras Yanomami
Os Yanomami: o povo que “segura o céu”
 São cerca de 33 mil pessoas, distribuídas em
mais de 600 comunidades entre os atuais
Brasil e Venezuela;
 São considerados atualmente entre os
maiores grupos ameríndios da Amazônia;
 Falam vários dialetos e conservam, em larga
medida, seu modo de vida tradicional;
 Yanomami significa “ser-humano”;
 São caçadores e agricultores, vivem em
sociedades comunitárias, onde a divisão
das tarefas é feita de acordo com o gênero;

 Viveram em relativo isolamento até meados


da década de 1940, quando o contato se
intensificou e com ele os problemas...
O massacre de Haximu (1993)
 Em 1975, o governo detectou a presença
de ouro em território Yanomami;
 Calcula-se que, nos anos 1980, cerca de
40.000 garimpeiros invadiram a região,
causando a morte de 1.000 indígenas;
 Em 1992, após longa campanha, a Terra
Indígena Yanomami foi demarcada;
 A TI possui 9,6 milhões de hectares, sendo
atualmente a maior demarcação do Brasil;
 No entanto, um ano depois, um grupo de
15 garimpeiros entrou na aldeia de Haximu,
em Roraima, assassinando 16 yanomami;
Sobreviventes de Haximu seguram cabaças com cinzas de parentes assassinados
 5 dos garimpeiros foram identificados e Foto: Arquivo/Instituto Socioambiental/Carlos Zacquini
condenados por genocídio, 1º vez no Brasil;
A Terra Indígena Yanomami (T.I.Y.) se estende por cinco
municípios de Roraima (Alto Alegre, Amajari, Caracaraí,
Iracema, Mucajaí) e três do Amazonas (Barcelos, Santa
Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira).
A tragédia Yanomami
 Recentemente, os Yanomami voltaram a
atrair atenção da grande mídia;

 Em 20 de janeiro de 2023 uma reportagem


investigativa independente revelou um
total de 570 mortes evitáveis de crianças
Yanomami entre 2019 e 2022;

 O aumento do preço do ouro no mercado


internacional, enfraquecimento de políticas
ambientais e da proteção de seus direitos
teriam permitido o crescimento garimpo;

 O garimpo ilegal tem dificultado o acesso a


alimentação e serviços de saúde;
Racismo ambiental
 A situação dos Yanomami acendeu debates
muito importantes sobre a relação dos povos
originários com a preservação ambiental;

 Chamamos de racismo ambiental o processo


de discriminação de grupos marginalizados
através de interferências no meio ambiente;

 Configura-se como uma forma de racismo


pois esta forma de preconceito atinge
diretamente minorias étnicas;

 Grupos estes que são historicamente


racializados, isto é, sobre quem se impõem
identidades étnico- raciais;

 É um fenômeno social que pode atingir tanto


o meio urbano quanto o meio rural.
Indígenas e suas relações com a natureza
 A visão do indígena como “homem
natural” uma postura etnocêntrica;

 Indígenas não são ecologistas!

 Tanto que as concepções sobre a natureza


variam entre as muitas comunidades;

 No entanto, há algo de comum entre estes


povos originários: a ideia de dependência
dos seres humanos em relação à natureza;

 Nas comunidades indígenas, a relação


homem x natureza costuma ser bem mais
harmônica do que nas sociedades urbanas,
ocidentais, burguesas e industriais;
Indígenas e suas relações com a natureza
 Pesquisas demonstram que TIs funcionam
como salvaguarda ao desmatamento;
 Ocupando 13% do território brasileiro,
reservam 109,7 milhões de hectares de
vegetação nativa, cerca de 19,5% da
vegetação nativa no Brasil em 2020;
 Dentre as categorias fundiárias, as TIs
estão entre as áreas mais protegidas.
Só 1,6% do desmatamento total do Brasil
entre 1990-2020 recai sobre estas áreas.
 Nas áreas privadas essa perda chegou a
47,2 milhões de ha, 68,4% de toda perda
neste mesmo período;
As demarcações e o “marco temporal”
 Direitos indígenas: expectativa ≠ realidade;
 Imprecisão quanto a demarcação na CF:
“terras que tradicionalmente ocupam”;
 A tese do marco temporal: debate iniciado
com o pedido de reintegração de posse
movido pelo estado de Santa Catarina
contra o povo Xokleng e FUNAI;
 Em 2019, o STF decidiu que o julgamento
deve ter “repercussão geral” no Brasil;
 Afirma que os povos indígenas só têm
direito a territórios que eles já ocupavam —
ou reivindicavam — em 5/10/1988, data
de promulgação da atual constituição;
 Contrapõe-se a “tese do indigenato”;
Por hoje é só pessoal!
Obrigado e boa prova

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