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(REDAÇÃO)

POVOS INDIGENAS NO BRASIL

Luíza Jonadyr Rosa Maffei - SESI

No século XVII e XVIII os filósofos chamados de


contratualistas criaram o conceito de “Estado da Natureza” em
oposição ao de “Estado Civil”. Hobbes, Locke e Rousseau
defendiam (cada um com suas características) que existiria
antes do surgimento da sociedade civil um estado em que os
seres humanos estavam apenas subjugados a natureza e não às
diversas formações sociais. Este era o “Estado de Natureza”,
que foi deixado de lado quando os indivíduos aceitaram um
“Contrato Social”, onde trocavam o “Estado de Natureza” pela
segurança do “Estado Civil”, e assim perdiam algo da sua
natural liberdade.

Segundo esses filósofos era o caso dos povos indígenas


americanos que viveriam no “Estado de Natureza”. Porém esses
povos foram continuamente importunados pelos europeus a
partir dos chamados “descobrimentos”, que não passaram de
uma invasão e conquista das terras dos povos tradicionais, com
seu consequente genocídio.

No Brasil, estudos estimam que, na época da chegada dos


europeus, fossem mais de 1.000 povos, que somavam entre 2 a
4 milhões de indivíduos. Atualmente encontra-se no Brasil cerca
de 256 povos que falam mais de 150 línguas diferentes.
Segundo o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) o Brasil possui 896.917 pessoas que se
consideram indígena, ou seja, 0,47% da população. Nota-se que
o “processo civilizatório” no Brasil, na verdade foi um “processo
de despovoamento indígena”.

E a dizimação desses povos ainda continua, e ganhou


força, com o último governo, do presidente Jair Bolsonaro, que
acirrou as invasões de terra por conta de garimpos ilegais,
desmatamento e ineficiência e desmantelamento proposital dos
órgãos que deveriam defender os índios, a FUNAI (Fundação
Nacional dos Índios), acontecendo o mesmo com o Ministério do
Meio Ambiente e seus órgãos fiscalizadores e com o
empoderamento na Polícia Federal de pessoas ligadas ao atual
presidente.

A FUNAI, órgão que deveria proteger os povos indígenas,


foi criada sob a tutela do regime ditatorial militar que iniciou em
1964, e manteve os vícios e visões equivocadas do anterior
órgão de proteção ao índio, o Sistema de Proteção ao Índio (SPI)
criado nas primeiras décadas do século XX, onde os conflitos
entre povos indígenas e fazendeiros, garimpeiros e pecuarista
se acirraram.

Estes dois órgãos, em tempos e ocasiões diferentes,


tinham uma visão equivocada em relação aos povos indígenas
por querer fazer uma atuação tutelar visando por um lado
proteger as terras e as culturas indígenas e por outro transferir
os nativos de territórios com intuito de destinar novas terras à
colonização e ao agronegócio impondo alterações nos modos de
vida ancestrais das populações indígenas.

A dinâmica metodológica dos dois órgãos SPI,


primeiramente e FUNAI, posteriormente, refletia a proposta de
integração dos povos e o interesse sobre seus territórios, sendo
que as divisões administrativas foram organizadas conforme as
diversas fases de passagem do isolamento à “civilização”,
dividindo-se em fase de atração, pacificação, sedentarização e
nacionalização (integração), estruturas que mantinham
semelhanças com os aldeamentos missionários formados desde
o século XVI.

Foi neste contexto que surgiram figuras lendárias e


benevolentes que são cultuadas até o dia de hoje, como
Marechal Rondon, Irmãos Villas-Boas, e só posteriormente
começam a ser incorporados aos órgãos indigenistas
antropólogos como Darcy Ribeiro.

Em 1973, foi elaborado, em plena ditadura militar, no afã


do ufanismo e da tecnoburocracia governamental, foi elaborado
o Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973), ainda vigente nos dias
atuais. Essa lei pretendia agregar os índios em torno de pontos
de atração, como batalhões de fronteira, aeroportos, colônias,
postos indígenas e missões religiosas, assim como incorporá-
los em grandes projetos como a Transamazônica, Itaipu, entre
outros. Por outro lado, mantinha o foco de isolá-lo e afastá-lo
das áreas de interesse estratégico. Para realizar esse projeto,
os militares aprofundaram o monopólio tutelar: centralizaram os
projetos de assistência, saúde, educação, alimentação e
habitação; cooptaram lideranças e facções indígenas para obter
consentimento; e limitaram o acesso de pesquisadores e
organizações de apoio e setores da Igreja às áreas indígenas.

A FUNAI foi concebida em base semelhante às do SPI e


até 1991 manteve-se vinculada ao extinto Ministério do Interior,
que sempre exerceu grande ingerência sobre suas ações. Os
presidentes nomeados entre as décadas de 1970 e 1980 eram,
em sua grande maioria, militares ou políticos de carreira pouco
ou nada comprometidos, e até mesmo contrários aos interesses
indígenas.

Porém com a Constituição de 1988, antecedida por


grandes mobilizações indígenas e de organizações de apoio,
acabou por conferir um tratamento inédito aos povos indígenas.
Pela primeira vez foi reconhecido seu direito à diferença e foi
rompida a tradição assimilacionista através de um artigo da
Carta Magna, a saber: “Artigo 231 – São reconhecidos aos índios
sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições,
e os direitos originários sobre terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.”
Foi garantido o usufruto exclusivo de seus territórios
tradicionalmente ocupados, definidos a partir de seus usos,
costumes e tradições. A União foi instituída definitivamente
como instância privilegiada das relações entre índios e a
sociedade nacional.
Já através do artigo 232 da Constituição os indígenas e
suas organizações foram reconhecidos como partes legítimas
para ingressar em juízo em defesa de seus direitos, o que
incentivou a expansão e a consolidação de suas associações.
Para isso, foram definidos canais diretos de comunicação entre
os índios, o Ministério Público e o Congresso Nacional. Com
estas medidas, o conceito de “capacidade relativa dos
silvícolas” – Código Civil de 1917 – e, a consequente
necessidade de “poder de tutela” perderam validade e
atualidade. Estas vitórias constitucionais precisariam,
entretanto, ser regulamentadas e consolidadas politicamente.
Embora grandes avanços tenham acontecido como, por
exemplo, o Parque do Xingu, uma demarcação que procurou
garantir uma grande extensão de terras a vários povos
indígenas na região do Rio Xingu, conhecida como Alto Xingu e
a demarcação de vários territórios indígenas como o dos
Ianomâmis entre outros, pode-se dizer que as nações indígenas
correm perigo, devido ao envenenamento e poluição dos rios,
devido as aculturações principalmente através das igrejas
evangélicas e também a introdução de vícios como o álcool,
assim como a grilagem e o garimpo ilegal e a biopirataria.
Dessa forma a organização e a participação dos povos
indígenas devem ser protegidas e incentivadas, porque, embora
sejam uma minoria da nossa população (0,47%), são a minoria
que originariamente enraizaram o povo brasileiro a sua terra e
que praticamente em todo corpo dos cidadãos brasileiros corre
um pouco (ou muito) do sangue indígena e negro.

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