Você está na página 1de 2

Contexto histórico

Ao longo da história do Brasil, foram cometidas diversas formas de violência


contra os povos indígenas. Desde guerras, doenças transmitidas pelos colonizadores
que exterminaram aldeias inteiras, a escravidão, ameaças e perseguições, os
preconceitos, a violência cultural etc. As lutas travadas para garantirem seus direitos,
as tradições e diferentes culturas dos indígenas ainda é desconhecida por grande
parte dos brasileiros, que desconhecem sua própria história. Apesar da existência da
Lei n. 11.645/ 08 que torna obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira
e indígena no currículo dos ensinos fundamental e médio (público e privado), ainda é
comum vermos pessoas ignorantes, preconceituosas e com ideias estereotipadas a
respeito desses povos que constituem uma grande parte da nossa população.
Considerar que os indígenas ou os índios, como são comumente chamados,
são apenas pessoas que vivem isoladamente, nus no meio de florestas, com tinturas
corporais e que vivem em situações precárias, é desconsiderar a história de inúmeros
povos distintos, cada qual seus próprios costumes e lutas. A história não pode e não
deve ser vista apenas sob uma ótica estereotipada ou conhecida por uma batalha
entre vencedores e perdedores, na qual os indígenas ocupam o lado mais fraco. Esse
trabalho se propõe a apresentar alguns fatos históricos, com o intuito de esclarecer e
expor uma visão diferente dessa história.
O “Descobrimento” deve ser discutido como resultado do processo de
expansionismo europeu no século XVI, através da colonização do chamado “Novo
Mundo”, onde os muitos diferentes povos e culturas das consideradas “terras
descobertas” se confrontaram com o cruel processo de invasão dos seus territórios e
da imposição cultural do colonizador. A colonização não é um movimento único e linear
de simples extermínio das sociedades nativas encontradas pelos colonizadores, mas
sim como um complexo jogo de relações, negociações e conflitos, desde a chegada
dos primeiros europeus até os dias atuais. Estudos mais recentes, livres do
etnocentrismo que condicionava as informações e referências passadas, revelam a
enorme diversidade e pluralidade dos povos que já habitavam o território
anteriormente aos colonizadores. Tamanha era a complexidade e especificidade dos
nativos, seus projetos políticos, relações decorrentes da colonização, estratégias de
resistência etc.
Durante o século XIX, nas regiões mais antigas da colonização portuguesa, o
Estado Brasileiro favoreceu os grandes latifundiários e fazendeiros que eram contra
os povos indígenas. Os grandes proprietários e chefes políticos locais passaram a
negar a presença dos nativos em seus territórios de aldeamentos, argumentando a
ausência de pureza racial, o que afirmava que os indígenas estavam confundidos com
o restante da população, solicitando, assim, o fim dos aldeamentos como forma de
resolver os conflitos territoriais. Como resultado, o Governo Imperial decretou a
extinção dos aldeamentos em diversas regiões do país.
Segundo a legislação da época, as terras dos aldeamentos deveriam ser
medidas, demarcadas e loteadas em tamanhos diferentes, para serem destinadas a
parte das famílias indígenas existentes no loca. Entretanto, na realidade esse
processo ocorreu de forma incorreta, pois muitos indígenas reclamaram por não terem
recebido os lotes a que tinham direito ou que as mediações favoreciam os invasores
das terras. Como consequência, a violência contra esses povos apenas crescera,
muitos se dispersaram, sem terras, fugindo de perseguições e vagando até que
encontravam um para trabalhar em fazendas e engenhos.
Foi no início do século XX que se iniciou a mobilização contemporânea pelo
reconhecimento étnico oficial e garantia mínima de terras para sobreviverem diante
das perseguições dos latifundiários, após anos resistindo e sendo considerados
“extintos”. No Nordeste foram reconhecidos os Xukuru-Kariri em Alagoas, e em
Pernambuco os Fulni-ô, os Pankararu, os Xukuru, com a instalação de postos do
Serviço de Proteção ao Índio - SPI, entre os anos de 1920 e 1950, em suas áreas
indígenas.
Nos últimos anos, os povos indígenas de todo o Brasil fortaleceram suas
organizações e intensificaram mobilizações pelo reconhecimento étnico enquanto
povos diferenciados, pela demarcação e retirada de invasores de suas terras, pela
garantia de direitos a uma assistência de saúde e educação diferenciadas, ocupando
um espaço no cenário público e obrigando-nos a rever a história, assim como superar
equívocos e preconceitos.

Você também pode gostar