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DEMARCAÇÃO E

REINTEGRAÇÃO DE TERRAS
INDÍGENAS NO BRASIL
ADEQUANDO DOS TERMOS
Índio x Indígena: “Índio” é um termo generalista,
uma espécie de apelido dado pelo colonizador
europeu aos povos nativos da América e de outros
continentes, como a Ásia, por exemplo. Portanto, é
reducionista e coloca o “índio” como um todo sem
distinção, sem identidade. Já o termo “indígena”
significa “originário” ou “aquele que estava aqui
antes dos outros”, contemplando de forma
adequada a diversidade de cada povo e a sua
origem nativa.

Tribo x Aldeia: “Tribo” é um termo que diz respeito a um grupo de pessoas em um local “não civilizado”,
sendo, portanto, uma expressão pejorativa e que diminui os indígenas a uma condição animalesca. Já o
termo “aldeia” ou “terra indígena” refere-se ao local onde vivem e se organizam os povos indígenas. Isso
se dá também quando nos referimos ao indivíduo ou grupo de indígenas: devemos usar o termo “etnia
guarani”, e não “tribo guarani”. Isso porque, o termo “etnia” contempla o grupo de características físicas,
culturais e sociais de um povo.
PROCESSO DE ESCRAVIDÃO E CONTATO
COM OS NATIVOS INDÍGENAS

No início da colonização, os portugueses mantiveram


contatos relativamente amigáveis com os indígenas, mas
logo passaram a escravizá-los, obrigando-os a trabalhar.

Entre os séculos XVII e XVIII, prevaleceu o modelo de


catequização jesuítica, o que gerou conflitos em torno do
trabalho forçado e disputas políticas com a Coroa
portuguesa. Após a expulsão dos jesuítas em 1759, não
havia vozes em defesa dos indígenas nem contrários à
ocupação de suas terras.

No século XIX, com o avanço da escravidão africana, o foco


A primeira Missa no Brasil, quadro de Victor
mudou: nesse momento interessavam mais as terras do
Meireles, 1860. A representação, ainda que
que o trabalho dos indígenas. posterior ao período do Brasil colonial,
evidencia a importância atribuída ao papel da
igreja no processo colonizador.
POVOS INDÍGENAS

Historiadores afirmam que antes da chegada dos


europeus no Brasil havia cerca de 5 milhões de nativos,
aproximadamente.

De acordo com o último Censo de 2010, foram contados


no Brasil 896,9 mil indígenas, com 305 etnias e 274
línguas indígenas.

No Mato Grosso do Sul há 80.459 habitantes Guarani,


Kaiowá, Terena, Kadwéu, entre outros, que apresentam
uma grande diversidade linguística, religiosa, política,
social, demográfica e fundiária. IBGE - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística.

Os povos indígenas têm uma grande diversidade, com


diferentes características e modos de vida, línguas e uma
enorme riqueza cultural!
POR QUE O NÚMERO DE INDÍGENAS
REDUZIU NO NOSSO PAIS?

• Doenças espalhadas pelos europeus


• Pelo confronto direto
• Guerras decorrentes dos deslocamentos provocados pela
colonização
• Rigores do trabalho forçado.
Após séculos de opressão, em 1910 foi criado o Serviço de
Proteção ao Índio (SPI), que em 1967 foi substituído pela
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Em 1973, durante o governo militar (1964-1985) foi criado o


Estatuto do Índio. O Estatuto entendia os indígenas como
categoria social transitória, a serem incorporados à comunhão
nacional, possuindo uma perspectiva assimilacionista.

Apenas com a Constituição de 1988 (cidadã) o indígena passou a


ter o direito de preservar a sua cultura, sobrevivência e a terra.
Esses direitos devem ser assegurados pelo Estado brasileiro.

A Constituição de 1988 rompe esta tradição secular ao reconhecer


aos indígenas o direito de manter a sua própria cultura. Há
o abandono da perspectiva assimilacionista.
A Constituição brasileira – que deve ser respeitada em todas as
decisões políticas –diz em seu Artigo 231:

“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,


línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
Hoje temos as chamadas Terras ou Reservas Indígenas. Mas nem
sempre foi assim!

45% das Terras estão concentradas em 1% das propriedades. Essa


exclusão teve seu início com a colonização por Portugal (território
divido entre poucas famílias, chamadas Capitanias Hereditárias)

Com o tempo cresceu a reivindicação por uma distribuição de terra


mais igualitária. Foi só com a Constituição de 1988 que essas
reivindicações ganharam reconhecimento.

Demarcação de terras indígenas refere-se à garantia dos direitos


territoriais dos indígenas, estabelecendo os limites de suas terras a
fim de garantir a sua identidade. Essa demarcação é prevista por lei,
assegurada pela Constituição Federal de 1988 e também pelo Estatuto
do Índio (legislação específica). A demarcação de terras indígenas é
competência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
O que significa ‘demarcação’ e por que é
importante para os indígenas a
demarcação?
Para os antropólogos, os territórios indígenas
são consideradas espaços de grande
importância para a preservação das culturas e
modos de vida dos povos tradicionais, além de
serem fundamentais para a manutenção da
biodiversidade.

Conforme aponta Viveiros de Castro (2015),


essas áreas são consideradas pelos povos
indígenas como espaços de autonomia e
autodeterminação, onde eles podem preservar
suas culturas e modos de vida e lutar pelos seus
direitos.

Colagem digital de Barbara Parawara


COMO SÃO DEMARCADAS AS TERRAS INDÍGENAS?
1.Verificação da demanda territorial: é o início do processo. Verifica-se a demanda posta pelo povo indígena, o que
é feito por um antropólogo.
2.Estudos de identificação e delimitação: a FUNAI nomeia um Grupo Técnico (GT), que é coordenado por um
antropólogo. Esse GT realiza as pesquisas e elabora o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da
Terra Indígena (RCID). Tal relatório é submetido à aprovação do Presidente da FUNAI. Após aprovado, um resumo
do documento é publicado no Diário Oficial da União, no Diário Oficial do Estado onde se localiza a área e
na Prefeitura Municipal.
3.Contraditório Administrativo: essa etapa garante o direito dos estados, municípios e de qualquer interessado na
área a ser demarcada de manifestar-se.
4.Delimitação do território: é hora da declaração dos limites da terra indígena e da determinação de sua
demarcação, mediante uma portaria declaratória, feita pelo Ministro da Justiça.
5.Demarcação física do território e aprovação: enquanto essa demarcação é feita pela FUNAI e consiste na fixação
dos limites físicos da terra indígena, a aprovação é realizada por meio de um decreto.
6.Levantamento dos habitantes: trata-se do levantamento das pessoas não indígenas que estejam na área que será
demarcada. Se essas pessoas forem consideradas ocupantes de boa-fé, elas serão indenizadas e devem,
obrigatoriamente, deixar o local. Se forem ocupações de má fé, por exemplo as grilagens, não terão direito à
indenização.
7.Aprovação da demarcação: é feita pela Presidência da República por meio decreto presidencial. Junto à ela vem a
retirada de ocupantes não-índios, com o pagamento das indenizações, pela FUNAI.
8.Registro das terras indígenas: é feito pela FUNAI junto à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), em até trinta
dias após a publicação do decreto de homologação.
Atualmente, os fatores de conflitos em relação às terras indígenas no
Brasil incluem:

1. Ações de invasão e grilagem de terras: Proprietários rurais,


madeireiros e garimpeiros ilegais invadem as terras indígenas.
2. Desmonte da política indigenista: com a flexibilização dos processos
de demarcação de terras e a redução do orçamento e equipes
técnicas da FUNAI, o que tem gerado insegurança jurídica e proteção
insuficiente aos direitos indígenas.
3. Exploração econômica: As terras indígenas possuem recursos
naturais valiosos, como a madeira, minérios e hidrocarbonetos, o
que tem despertado interesses de grandes empresas e do governo
brasileiro em explorá-los, muitas vezes sem consulta e
consentimento dos povos indígenas.
4. Conflitos fundiários: A disputa por terras entre proprietários rurais e
povos indígenas também é um fator de conflito, já que muitas vezes
as terras reivindicadas pelos indígenas foram griladas ou ocupadas
por proprietários rurais.
INDICAÇÃO DE PERSONALIDADES INDÍGENAS INFLUENTES POLITICAMENTE

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