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BRASIL E ÁFRICA: O CULTO AOS ORIXÁS EM TERRA BRASILEIRAS, UMA

MANIFESTAÇÃO DE RESISTÊNCIA

DANIELE VALENTIM NUNES- 112481

INTRODUÇÃO
Compreendendo essa importância que o presente trabalho busca analisar a
manifestação da religião afro em terras brasileiras nos período da colonização. Igualmente,
entendendo que a religião por ter sido em seu princípio cultuadas por uma classe social
escravizada e por longos anos de história marginalizada e excluída, a expressão dessa fé por
muitos anos por consequência se tornou uma forma de resistência social desse povo.

A intensa interação social, de diferentes grupos sociais, no conjunto do processo de


colonização no Brasil, marcado pela escravidão africana, sistema este que engenhou todos os
setores de trabalho. Resultou na formação de uma diversa cultura brasileira, não só de origem
europeia, mas principalmente da mistura dos elementos africanos e autóctones (originários da
terra). Dessa maneira, as manifestações culturais, que irão florescer no contexto colonial
brasileiro, como a religião africana, será uma das principais manifestações religiosas/sociais
que se desenvolverá nesse choque de culturas da sociedade brasileira.
Igualmente, abordando o aspecto cultural, ao qual a história social se apropria de
maneira a entender as sociedade, civilizações, tradições e formas de pensamento como
produtos de seus tempo, evitando assim interpretações anacrônicas. Forjando por igual uma
história social que pela utilização de novos conceitos, acaba por abrir espaço para novos
temas que darão voz às classes sociais historicamente excluídas.
De vista que a cultura Europeia estava no topo da pirâmide da hierarquia social, a
justificativa que se usava para a subjugação daquelas sociedades mais primitivas eram
validadas de forma quase “científica” pelos estudiosos da cultura. Contudo, essa ótica ao
longo dos anos foi rebatida e modificada por outros intelectuais que percebiam que a cultura
abarcava diversos critérios diferentes das ideologias eurocêntricas de modo que hoje é
entendida como reflexo de toda e qualquer atividade humana.
Aproveitando assim, a evolução dos estudos e das abordagens sociais históricas a
presente dissertação irá discutir a formação da religião africana constituída no período
colonial, a partir do século XIX, mediante a um contexto de repressão e violência a cultura
africana e seus propagadores escravizados. Culto este que florescerá transculturalmente,
através do contato de diferentes africanos, com origens e nacionalidades distintas que por
costume/estratégia colonial, eram colocados juntos e vendidos misturadamente como
“peças”. É dessa interação de diferentes culturas/ nações que irá emergir a religião de Culto
aos Orixás, no Brasil.
Por conseguinte, compreendendo o lugar social do escravo, objetificado como uma
“peça”, sem vontade, sem cultura, sem direito e sem liberdade, o trabalho irá buscar
compreender como as manifestações religiosas afros irão representar a resistência da
sociedade Africana escravizada, que resultará não só na continuidade de suas práticas
ancestrais, como na formação cultural brasileira.
A importância do ensaio, por assim, está em sua relevância social para os
grupos/comunidades religiosas, do candomblé e religiões de matriz afro que ainda são
marginalizados por suas crenças. E que na atualidade vem sofrendo múltiplos casos de
preconceito e violência. Por igual, valorizando a religião africana como uma manifestação da
sua ancestralidade e história constituidora da cultura nacional.

UMA PINCELADA DA FORMAÇÃO CULTURAL DO BRASIL


A diversidade cultural e social do Brasil só pode ser compreendida através da
formação e seus eventos históricos. Como tal, o período escravista brasileiro que corresponde
a trezentos anos de sua história, é um princípio determinante para entender as diferentes
práticas culturais, formadas pela intensa relação social de escravizados, europeus e índios.
A invasão portuguesa as terras “recém descobertas”, como a formação de uma
sociedade escravizada para a sustentação dessas terras, não só resultou no choque cultural
entre distintas civilizações, como provocou o início da construção de uma nova cultura.
Permeada pela violência colonial e pelas resistências, a convergência histórica entre
estrangeiro, indígenas e africanos em terra americanas resultará na formação do povo
brasileiro.
Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes raciais
díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se
fundem para dar lugar a um povo novo (Ribeiro.1970), num novo modelo de
estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada
culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por
uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas
oriundos.(RIBEIRO. 19:1995)

O período colonial e sua tradição destrutiva e exploratória, se expressaram na morte


de milhões de autóctones pelas doenças estrangeiras, na guerra/disputa pelo território,
escravidão e empreitada cristã em busca da civilidade indígena, que levou a aculturação de
seus costumes. Adjunto da brutalidade das escravidão africana, que apesar de ter esfarelado
diversas tradições originárias, por um movimento natural o produto da convivência, abrirá
espaço para a formação de novas manifestações culturais.
Em mil e quinhentos os principais grupos indígenas encontrados no litoral brasil serão
identificados como os Tupis. Organizavam-se de maneira tribal, desenvolvendo a economia
agricultora, plantando mandioca, milho, tabaco e outros artigos primários que serviam para
sua sustentação. Grande parte das tribos indígenas quando os portugueses se perderam-e aqui
chegaram-, já tinham adentrado a fase neolítica da formação social humana. Assim, o
crescimento das tribos gerados pelo desenvolvimento das técnicas agrícolas, que
proporcionou a abundância de alimentos e consequente a reprodução social, gerou partir de
dissidências, novos grupos étnicos.“Sua própria condição evolutiva de povos de nível tribal
fazia com que cada unidade étnica, ao crescer, se dividisse em novas entidades autônomas
que, afastando‐se umas das outras, iam se tornando reciprocamente mais diferenciadas e
hostis” (RIBEIRO. 33:1995).
Ao chegarem aqui ao contrário das visões preconceituosas, que horas atribuía
inocência e horas a bestialidade as tribos indígenas, os estrangeiros ibéricos encontraram uma
multietnicidade autóctone, socialmente organizada em tribos, economicamente desenvolvida,
tendo domesticado uma variedade de plantas e alimentos. Grupos estes formados por
caçadores/guerreiros, mulheres agricultoras, que se organizavam no coletivo para o sustento e
proteção da aldeia. Com relação a cultura, as tribos autóctones se destacavam por suas formas
de vestir, pinturas e rituais sagrados, como a prática Antropofágica, dos Tupinambás, do
tronco linguístico Tupi, realizadas na vitória de guerra/disputa tribais, com a captura do
melhor guerreiro da tribo perdedora e o consumo do capturado por parte de um grupo seleto
dos guerreiros vitoriosos.
No primeiro caso, os conflitos eram causados por disputas pelos sítios mais
apropriados à lavoura, à caça e à pesca. No segundo, eram movidos por uma
animosidade culturalmente condicionada: uma forma de interação intertribal que se
efetuava através de expedições guerreiras, visando a captura de prisioneiros para a
antropofagia ritual.(RIBEIRO 34:1995)
Como qualquer sociedade antiga, a dependência de terras férteis e regiões próspera
para a caça e coleta, gerava diversas disputas tribais sobre domínio das mesmas. Essa
rivalidade entre os grupos étnicos, acabou sendo um dos artífices utilizados pelo colonizador
para a conquista e expansão no novo território. Destarte a ilusória crença luso em considerar-
se modelo civilizatório, motivou não só aculturação das tribos indígenas sobrevivente como
serviu por longos anos para a formação de uma história tradicional brasileira dos
colonizadores e que desluz a história dos povos originários e sua cultura. História esta que
vem sendo reconstruída, e marcada pela resistência dos povos originários.
Ainda que muitas vezes esqueçamos, os portugueses que aqui chegaram apesar de
facínoras, eram algozes marcados por uma cultura. A colonização portuguesa, trouxe
consigo, não só morte e destruição as populações indígenas como também, uma complexa
estrutura social, cultural adversa a cultura encontrada aqui. Essa tradição, foi expressada
desde sua predominância nas navegações que resultou no domínio ultramarino no século XV,
como no modelo de colonização, a atividade econômica, expressada nas monoculturas com a
utilização do trabalho escravo e a religião Cristã comum a todos os lusos representando a
segunda instituição de autoridade colonial.
Entretanto, no processo de colonização do Brasil os portugueses não estavam
sozinhos. Aqui, tiveram que se relacionar com os indígenas, que já encontraram
habitando a terra, e também com os africanos que os próprios portugueses
trouxeram para a lavoura da cana e para o processo produtivo do engenho. O
relacionamento com estes povos provocou alterações na cultura dos primeiros
colonizadores. Inevitáveis mudanças pontilhavam, aqui e ali, em alguns colonos
causaria deformações, em outros aperfeiçoamentos. (SILVA. 3:1995)

A troca cultural como uma via de mão dupla, também provocará novas tradições e
interações luso, com o meio ao qual exploravam. Ainda que essas pinceladas, não tenham
mudado o rumo da história e poupado a barbárie colonizadora, motivara a formação de uma
nova cultura social luso-brasileira.
Por conseguinte, tão significante quantos os outros aspectos, a transmigração africana
para a colônia, seria o último ingrediente para a formação multicultural brasileira. O
comércio transatlântico não trouxe consigo apenas uma mão de obra escrava, também
carregou uma multi etnicidade e nacionalidades que encheram de cores, sabores, sons,
vocábulos, danças e religiosidades, formando assim variantes da cultura imposta pela
colonização. O início do processo de escravidão no Brasil no século XVI, motivado pela
colonização exploratória portuguesas das terras brasileira. “E aqui entraram negros das mais
diversas procedência sudaneses e bantus, da Costa d’ Africa, e da Contra costa, - de Angola,
da Costa dos Escravos, do Congo, da Costa do Ouro, Moçambique” (CARNEIRO. 12:1936).
Desembarcados na Bahia, Rio de Janeiro e outros estados, e vendidos nacionalmente,
os africanos escravizados, eram distribuídos de forma ordenada para que ficassem separados
de seus grupos linguísticos e culturais, dificultando assim a interação e comunicação entre
eles. Trabalhavam desde as zonas rurais na produção de monoculturas, dos engenho,
mineração e café, aos centros urbanos, nas mais diversas atividades, classificando-os como
escravos de ganho1. Contudo todo o processo de repressão e violência do período não foi
recebido sem uma resposta revoltosa dos escravizados, que ao longo da história manifestaram
diversas revoltas como Quilombo de Manoel Congo 2, Balaiada 3e Males4. “Elemento ativo
no progresso do país o negro reagiu ainda, mansamente, influindo no folclore, na religião, na
composição étnica do Brasil. E, mesmo trazendo algumas moléstias a mais…” (CARNEIRO.
13:1936)
Destarte, toda a história da formação social e cultural do Brasil foi provida de
antagonismo. A violência do colonizador, ao contrário de apagar, incendiou respostas de
resistências, negras e autóctones. E é dessas manifestações, expressadas na música, nas
crenças, nas festividades, que deram formação a identidade nacional e cultural do Brasil.

A RELIGIÃO PRATICADA NA SENZALA


A diversidade de escravos trazidos ao Brasil de diferentes regiões, como nagôs,
bantos e jejes, cuja as crenças religiosas resultaram na formação da religião africana.“Os
escravos provinham de onde fosse mais fácil capturá-los e mais rendoso embarcá-los.”
(PRANDI. 52:2000). O comércio de escravos transatlântico, não só, era a base do sistema
económico português como servia de complemento social, ter escravos era ter status para
aquela sociedade escravocrata e desigual.
1 Escravos de ganho eram escravos que ganhavam uma quantia em dinheiro, mas não era salário, pois não era
fixo. Os escravos saiam para vender produtos nas ruas, tais como doces, salgados, refrescos, temperos, café
torrado, entre outros. Mas eles só podiam sair para vender os produtos com a autorização dos seus donos, pois a
metade do dinheiro era destinado ao seu dono e a outra metade para o escravo.
2 Foi umas das revoltas escravas contra o sistema vigente, em um contexto de crescimento econômico
propiciado pela produção do café, no vale do Paraíba, em 1838 entre os escravos do capitão-mor Manuel
Francisco Xavier, que detinha algumas fazendas na região. O motivo do levante contra o fazendeiro teria se
originado após a morte do escravo Camilo Sapateiro pelo capataz de uma de suas fazendas. Indignados com o
assassinato do companheiro de cativeiro, os escravizados liderados pelo também escravo e ferreiro Manoel
Congo resolveram protestar contra esse assassinato.
3 Foi um movimento popular ocorrido no Maranhão entre o anos de 1838 e 1841, o movimento lutava contra a
dominação e violência por parte de um grupo de fazendeiros, que detinham o poder econômico e político da
região.
4 Foi o levante de escravos muçulmanos ocorrido em Salvador Bahia, ocorreu entre o dia 24 e 25 de 1835. Os
revoltosos lutavam contra a imposição da religião cristã e contra a escravidão.
Os estrangeiros que chegavam ao Rio de Janeiro ou outras cidades costeiras
ficavam espantados com os milhares de negros que viam carregando água,
mercadorias e produtos, transportando seus senhores e senhoras em liteiras ou redes
pelas ruas da cidade, ou vendendo uma grande variedade de produtos. Os
proprietaries dos escravos exigiam seu trabalho, serviço e obediência totalmente
amparados por uma complexa estrutura legal, pelo costume oficializado e pela
doutrina da Igreja Católica (CONRAD. 7:1985)

Destarte, movidos pelo desejo do enriquecimento econômico, Portugal constituirá


uma nova sociedade em terras longínquas, que assentados na escravidão ao contrário,
destruiria outras sociedade. “o negro não pode trazer consigo, nos costados dos navios
negreiros mais do que seus valores culturais.”(CONRAD. 9:1985). Ambas civilizações terão
que lidar com um novos contexto e cenários, entretanto em diferentes posições sociais,
senhor de escravo e escravo, enquanto o primeiro impõe sua cultura, o segundo terá que lidar
com a opressão a fim de sobreviver e se desenvolver nessa nova estrutura social que foi
inserido.
Dessa forma, a transmigração africana irá destruir em África, famílias, tribos,
tradições africana, que fragmentadas, serão trazidas adjuntos do escravizados, que aqui
ocuparam a estratificação social mais baixa, é mediante a esse local de precariedade e
submissão que a africanidade expressadas nas comunhões, festividades, religiosidade será
aflorada. “A grande plantação, onde o número de escravo era bastante considerável, para que
inter-relações se estabelecessem com o senhor, possibilitou, por conseguinte, numa certa
medida, a perpetuação dos valores africanos.” (BASTIDE. 71:1960), renovando assim, seus
valores ancestrais e suas crenças. A “liberdade” das reuniões entre os escravos, só era
concedida mediante a necessidade do senhor de escravo que percebia a rentabilidade do
trabalho quando os escravos tinham seu dia de “soltura”.
É desses momentos de autonomia, que a religião africana será praticada nas senzalas
dos grandes fazendas, sob o disfarce da cristandade que autorizava as festividades apenas nos
dias santos, como cita Roger Bastide
diante do modesto altar católico erigido contra o muro da senzala, á luz trêmula das
velas os negros podiam dançar impunemente suas danças religiosas tribais. O
branco imaginava que eles dançavam em homenagem a Virgem e aos santos; na
realidade a Virgem e os santos não passavam de disfarces e os passo dos bailados
rituais cujo o significado escapava aos senhores, traçavam sobre o chão de terra
batida os mitos dos orixás ou dos voduns.(BASTIDE.73:1960)

Nesses momentos, a distância da terra natal era diminuta ao som dos tambores
(batuques), florescendo o sentimento de união entre as diferentes etnicidades que se
encontravam no denominador comum, a terra natal, a condição de escravos e a luta diária de
permanecerem vivos. A medida que os anos vão passando, e vão surgindo diferentes meios
de se libertarem dessa condição de escravizados, quer seja pela fuga aos quilombos, pelo
suicídio ou pela compra da alforria, a sociedade brasileira ganhará um novo grupo social de
negros libertos, que desenvolveram as primeiras casas de religião.“São esses negros livres
que, mais ainda que os outros, fazem-se os mantenedores das religiões africanas, reunindo
fiéis nas casas humildes, segundo suas respectivas nações[...]”(BASTIDE. 76:1960)
A religião afro irá sair do interior, das grandes fazenda e alcançar os centros urbanos
com a formação de centros de irmandade negra, únicas organizações que a legalidade
colonial permitia. Auxiliando como importante influência para perpetuar as tradições
culturais africanas,“as confrarias serviam de veículo de diversas tradições africanas, que se
conservaram pela frequência dos contatos, pela conservação da língua e outras razões
semelhantes” (VALENTE. 2007:2011. apud. Scarano. 1976:150). Mesmo que a Igreja
utiliza-se as organizações para a catequização dos escravizados, a indisponibilidade de
missioneiros que soubessem falar as diferentes linguagens, das múltiplas nacionalidade,
dificultavam o sincretismo religioso. Como complementa Bastide
Devemos de início notar que essas confrarias foram sobretudo confrarias de bantos
e que os ioruba os Daomeanos foram menos atingidos. Em segundo lugar, os
africanos continuaram a falar suas línguas primitivas e, não obstante o desejo da
Igreja de fazer vir missionários conhecedores das línguas africanas para
evangelização dos escravos do Brasil,(71) este esforço não pode ser tentado mais de
uma vez; as confrarias assim protegidas pela ignorância lingüistica, contra o
controle de seus sacerdotes, puderam amiúde servir de refúgio a crenças muito
menos ortodoxas. (BASTIDE. 79:1960)

Dessa maneira as confrarias se tornaram um dos principais meios de reformulação, da


cultura africana. Tradições estas que não foram apagadas, com a transmigração africana, a
mistura de etnias, a imposição de uma nova cultura e condições social, de exploração,
imposição e violência. Ao contrário incorporando, a nova realidade de vida que lhes era
apresentada, os escravizados desenvolveram formas, meios, núcleos, para perpetuar suas
crenças religiosas. Talvez sem essa possibilidade, das confrarias, os dias de ‘liberdade”, que
eram organizados festa, danças, rituais africanos, o ritual de culto aos orixás não teriam
perdurado até os dias atuais.

RELIGIOSIDADE AFRO, UMA MANEIRA DE RESISTIR


É dessa forma, de pouco em pouco, ao longo dos séculos, a religião afro vai se
propagando junto com os centros de batuque, alcançando diversos estados como Rio grande
do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. Compreendendo a situação desigual que se encontrava o
negro, explorado, oprimido, por sua condição social de escravo e não por sua raça como
fizeram crer os darwinista sociais, a manifestação religiosa, assim, se apresentava como uma
das formas de lutar contra a completa dominação portuguesa.
Desprovidos de bens e autonomia, os negros escravizados apresentaram diferentes
formas de resistir a opressão dos que se encontrava acima dele e detentores de sua liberdade.
“É por isso que a manutenção das religiões africanas devem ser vistas definitivamente nesse
dualismo de classe opostas. A luta das civilizações é somente um aspecto da luta das raças ou
das classes econômicas no seio de uma sociedade de estrutura escravista.” (BATISTA.
96:1960). Assim, utilizando as armas que tinham, os negros combateram a opressão com a
magia de seus rituais ao som do tambor de seus batuques, cultuando suas divindades
guerreiras. No contexto Africano a religião se manifestava por nações que cultuavam uma
divindade corresponde a seus sacerdotes especializados, divindades como Xango, Oxum,
Nana, eram cultuadas por nações diferentes, que mantinham santuários específicos, para esse
deuses. No Brasil com a convivência diversa com diferentes nações e a falta da possibilidade
de constituir uma nação específica, acarretou a cultuação dos deuses em apenas um centro de
batuque.
Os deuses africano, e sua cultuação estava ligado ao cotidiano e atividades
econômicas de cada nação. Mediante o que necessitavam, boa colheita, chuva, fertilidade, um
dos deuses era cultuado. Essas motivações mediante ao contexto brasileiro dos escravizados
irá ganhar uma nova resignificação, como questiona Bastide,
No Brasil como pedir fertilidade das mulheres se elas põem no mundo apenas
pequenos escravos? Melhor seria, roga-lhes a esterilidade a suas estranhas. Como
pedir ao deuses boas colheitas numa agricultura comercial e não mais pura
subsistência e em benefício dos brancos, isto é, das raças dos exploradores?
Valeria mais pedir-lhe a seca, às pragas destruidoras das plantações, já que para o
escravo as colheitas abundantes se traduziriam finalmente num acréscimo de
trabalho, de fadiga e de miséria.(97:1960)

Dessa forma, os deuses provedores, benfeitores, darão lugar a divindades que se


ocuparam da desgraça, desigualdade, desalentos da sociedade escravizada. Divindades como
Xangô antes deus provedor de uma boa colheita, se torna o deus da justiça, condenando todas
as injustiças feitas pelo homem ao homem e o deus Ogum, deus do ferro, se torna também o
deus da guerra, dando força, estando de frente do seus filhos os protegendo das batalhas do
dia a dia.
O ritual africano assim, como uma maneira pacífica representará uma de tantas
formas de resistência da sociedade de escravos e seus descendentes. Constituindo um
sentimento coletivo com diferentes sujeitos e nações, dada as suas condições, aproveitando as
oportunidades, ressignificando suas crenças e aceitando a crença do colonizador de maneira a
se adequar e sobreviver os africanos conseguiram perpetuar sua ancestralidade.

CONCLUSÃO
É nessas variantes culturais, que encontraremos o encontro de África e Brasil, da
ancestralidade Africana na formação brasileira. Todo processo de construção colonial e das
barberie desse sistema sobre o colonizado, provou como a historiografia negra e indígenas
verdadeiros crimes, genocídios, que na atualidade violam os direitos humanos. Assim, no
presente período legitimados pela missão civilizadora e evangelizadora, constituíram o maior
método de exploração e acúmulo primitivo da idade moderna.
Entretanto, como a história e sociedade, são formadas por antagonismo o contato
entre europeus e indígena e africanos resulta, não só em desalentos para essas duas
civilizações, como também na formação de diferentes movimentos de resistência e
organização sociais de solidariedade, de manifestação culturais que propiciaram não só uma
maneira de sobreviver a um contexto de violência, como igualmente originou essa mistura
cultural brasileira
REFERÊNCIA
BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. São paulo: Editora São Paulo. 1985

CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: O tráfico escravista para o Brasil. São


Paulo:Brasiliense. 1985

CARNEIRO, Edison. Religiões negras. Rio de Janeiro:Civilização brasileira. 1936

PEREIRA, D. A. CHAVES, P. M. Sobre o conceito de classe social na teoria Karl Marx:


algumas notas. Revista Gestão universitária. v. 6, n. 1984-3097. Dez. 2016. Disponivel em
<http://gestaouniversitaria.com.br/artigos-cientificos/sobre-o-conceito-de-classe-social-na-
teoria-karl-marx-algumas-notas> Acessado dia: 23 de Junho. 2019

PRANDI, Reginaldo. De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade e religião. São Paulo:


REVISTA USP. p. 52-65. 200. Disponível em
<https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/32879/35450>. Acessado dia 20 de
Junho de 2019.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo:


Companhia das letras. 2, ed. 1995.

SILVA, Carmelindo Rodrigues. A EXPERIÊNCIA PORTUGUESA NO PROCESSO DE


COLONIZAÇÃO DO BRASIL. Disponivel em
<http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/artigos_pdf/Carmelindo_Rodrigues_da_Silva
_artigo.pdf>. Acessado dia 22 de Junho de 2019.
VALENTI, Ana Lúcia Eduardo Farah. As irmandades de negros: resistência e repressão.
Horizonte: revista de estudos de Teologia e Ciência da Religião. p, 202-2019. 2011.
Disponível em <https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/288196>. Acessado dia 19 de Junho de
2019.

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