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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA

MARIA LUZIA EUNICE MARTINS DE OLIVEIRA

COLONIZADOR VERSUS COLONIZADOS:


OS ASPECTOS CULTURAIS ESQUECIDOS NO DECORRER DO
TEMPO E TRAZIDOS À TONA POR ETNOGRAFOS

Artigo Cientifico apresentado ao curso de


graduação
em Arqueologia na Universidade Federal de
Sergipe para a conclusão da disciplina
Antropologia
Cultural da docente Luciana de Castro Nunes
Novaes
para a obtenção de média final.

LARANJEIRAS, 2021
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Resumo

O objetivo desse artigo é trazer à tona algumas experiências vividas por etnógrafos e entender
o lado de tribos que foram colonizadas e que tiveram sua Cultura esquecida devido ao
colonialismo. Enfatizando a noção do colonialismo e de como houve uma alteração drástica na
vida de tribos nativas, ou seja, na vida dos colonizados. Apresentando também, a luta dos
colonizados para uma diacronia ontológica dos colonizadores. Tendo em vista uma discussão
entre quem escreve (o etnógrafo) e quem é escrito (o nativo), entendendo a visão daqueles que
estiveram em trabalho de campo para entender a cultura deles.

Palavras-Chave: Colonizador, Colonizado, Colonialismo, etnografia e cultura.

abstract

The purpose of this article is to bring to light some experiences lived by ethnographers and
understand the side of tribes that were colonized and that had their culture forgotten due to
colonialism. Emphasizing the notion of colonialism and how there was a drastic change in the
life of native tribes, that is, in the life of the colonized. Also presenting the struggle of the
colonized for an ontological diachrony of the colonizers. Having in mind a discussion between
who writes (the ethnographer) and who is written (the native), understanding the vision of those
who were in field work to understand their culture.

Keywords: Colonizer, Colonized, Colonialism, ethnography and culture.


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INTRODUÇÃO

A ideia é que o artigo traga à tona as culturas escondidas por traz da colonização,
demonstrando os métodos históricos utilizados por etnógrafos e a sua ideia por traz de um
interlocutor que foi silenciado devido a História da humanidade e o surgimento da famosa
Globalização.
A intensão do texto, é também acessar um vínculo entre aqueles que tiveram a sua voz
calada em que por medo ou por pressão dos colonizadores tentam expressar a sua noção de
mundo diferenciado, e que através de uma experiência etnográfica, puderam ensinar o quão
vasta é a sua cultura.
O interesse presente é trazer um método de estudo a base de etnografias feitas por
famosos etnógrafos, que puderam vivenciar em um certo período da sua vida a vida de povos
colonizados e não colonizados, e tentando por meios antropológicos e correntes teóricas como
foi viver em uma cultura diferente, que tiveram intervenção de colonizadores e aqueles que não
se submeteram a colonização.
Mas, o quem é o Colonizado ou o Colonizador? O que seria essa Etnografia? O quão
impactante foi o efeito de Colonização para esses Colonizados? Essas são perguntas frequentes,
por incrível que pareça, sim, ainda existe pessoas que se perdem nesses termos e
consequentemente não entende a gravidade de uma cultura perdida e/ou esquecida.
O Colonizador é aquele que estabelece e tem intenção de explorar colônias, ou seja,
uma sociedade que para eles não tem importância, um exemplo são os portugueses aqui no
Brasil. O Colonizado é, respectivamente, aquele que sofrera o abuso dos colonizadores, que em
geral eram brancos, e que na tentativa de exploração determinaram um domínio sobre as terras
dos Colonizados.
Já o Método de fazer etnografia, e que vou usar estudos analíticos de etnógrafos, com
estratégias etnográficas já publicadas entre os séculos XIX, XX e XXI, é segundo Novaes
(2018), “A Etnografia é entendida como um prisma teórico e metodológico multiconceitual que
interliga tempos, espaços e mundos”. (NOVAES, p. 02, 2018).
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AS VOZES POR TRÁS DOS COLONIZADORES: AS CULTURAS ESCONDIDAS

É sempre comum ouvir as histórias dos colonizadores, como eles chegaram e


“descobriram” as terras que em seguida foram colonizadas. Como eles catequisaram,
implantaram uma cultura totalmente nova, se estabelecendo no local onde eles se firmaram,
onde sempre há uma exaltação da coroa que ali se firmava, um exemplo é a Coroa Portuguesa,
que por onde passava se estabeleciam e se firmavam como “donos” das terras, estabelecendo
vestimentas, política, religião, novos métodos de agricultura e inferiorizando os colonizados.
A pós-colonização veio com intuito de determinar uma nova civilização, já que para
eles os povos colonizados eram atrasados. Para Alberto Júnio (2015-2016, p.05) “Como
estratégia para dominar pessoas, o colonizador é apresentado como superior, civilizado em
ralação ao colonizado que é selvagem e não tem cultura, sentimentos nem conhecimento.”.
nesse sentido os colonizadores tentam menosprezar aqueles colonizados, os tratando como
animais, sem cultura, educação, e até mesmo desmistificar a sua religião, já que os colonos
chegaram aqui implantando e obrigando os nativos a aceitarem a sua religião, o catolicismo.
Mas o que eu trago aqui é a tentativa de explicar o quão abusivo foi a colonização e
como os nativos que habitavam a sua terra foram calados e esquecidos, por causa de uma nova
implantação de cultura. Mas, o que é cultura? Para Celso Castro (2005), a cultura sofreu um
“evolucionismo cultural”, onde em seu texto ela apresenta várias ideias do que seria esse
evolucionismo cultural para Tylor, "Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido
etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume
e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da
sociedade." (CASTRO apud TYLOR, 2005). Já para Geertz (2008), a cultura, uma parte
permanente do nosso intelectual, ela tem uma dimensão enorme, e é essencialmente semiótica.
Ou seja, A cultura dos nativos colonizados, a sua essência se perdeu, a sua voz calou
e não puderam ensinar suas tradições sem que fossem criminalizados ou submetidos a
humilhação. Os Pankararés, povos de estudo da Mestra e Doutora Luciana Novaes (2020),
tiveram por um determinado tempo uma privatização da sua cultura, onde não sabiam como
vivenciar suas tradições sem a intervenção do não-indígena, e passaram por muito perrengue
para que a Ciência do Amaro fosse hoje realizada sem um preconceito por parte dos que não
entendem ou respeitam. Essas vozes, essas culturas perdidas por causa da implementação do
homem branco foi um processo que durante anos passou por problemas e se duvidar até hoje é
perceptível o medo de demonstrar. Mas, com a Globalização, não como se esquivar de um
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norteamento dessas culturas, elas não serão mais esquecidas e passarão por constantes
evoluções- mesmo que alguns nativos ainda tentem não manter contato com esse processo.

UM OLHAR ETNOGRÁFICO: A CULTURA DO COLONIZADO ATRAVÉS DE


ETNOGRAFIAS

O modelo etnográfico é ir a campo vivenciar uma cultura de perto, é uma observação-


participante. Para Malinowski (1922, p.28):

“O etnógrafo de campo deve analisar com seriedade e moderação todos os fenómenos


que caracterizam cada aspecto da cultura tribal sem privilegiar aqueles que Ihe causam
admiração ou estranheza em detrimento dos 'fatos comuns e rotineiros”
(MALINOWSKI, 1922: 28).

Diante disso, ao ir a campo e vivenciar por um período de tempo, o etnógrafo começa


a entender uma cultura desconhecida, uma que foi ‘esquecida’ em decorrer do tempo. Por
exemplo, quando Malinowski vai a campo e passa dez meses vivendo entre Omarakana e nas
aldeias vizinhas de Kiriwina (ilhas Trobriand), ele estuda a cultura dos nativos, buscando
compreender os ritos fúnebres desse povo. Aqui percebemos que um homem com uma cultura
diferente, entrando em um novo “mundo”, que apesar de intervenções conseguem demostrar
sua vivencia e seus ritos, onde Malinowski escreve o seu artigo Baloma; Os Espíritos Dos
Mortos Nas Ilhas Trobriand (1916), e mostra ao mundo uma nova visão de cultura, onde aponta
uma diacronia adaptativa.
Outra noção de etnografia em que, agora, mostra um povo que impossibilitaram a
chegada de colonizadores e se negaram a passar por um processo de colonização. Trazida por
Sahlins (2008), que foi um antropólogo estadunidense, influenciado por Julian Steward, onde
acreditava no neoevolucionismo. Ele tinha duas perspectivas, uma análise sincrônica, nos ritos
e nas bases dos ritos. E que existe uma reprodução da cultura, uma transformação, mudança, e
um novo que pode ser um produto do passado, já que a cultura não é a única forma de explicar
o passado, em Metáforas Históricas e realidades míticas: estrutura nos primórdios da história
do reino das Ilhas Sandwich (1979), a introdução feita por Frehse, é voltada para uma
historiografia local, pós-colonial, que se concentra em trazer, em primeiro plano, o ponto de
vista dos nativos, que não aceitaram o atrevimento dos colonizadores, já que entre eles existiam
um mito, e como esses povos que chegaram não atendiam as noções do mito que era passado
por anos, foram submetidos ao expulsamento desses “descobridores”. Sahlins tem base na
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etnografia que constrói, onde “comprova empiricamente a pertinência da proposição de um


equacionamento estrutural-dialético entre estrutura e evento, o que construiu uma novidade do
cenário historiográfico intencional da época” (Sahlins,1979, p.13) , ou seja, o que acontecia era
que a história era voltada para a cultura, explicada somente nessa linha e o que Sahlins tenta
reverter é isso, o modo em que a cultura muda, varia com o tempo ou com o significado de um
determinado povo, uma ideia tirada desse Mito, que ajudou- em meu ponto de vista- a evitar o
que aconteceu aqui no Brasil, por exemplo, coisas piores poderiam ter acontecido.
Olhar através de etnografias feitas por esses homens, traz uma percepção de quem
escreve e de quem é escrito, segundo Gerson Alves (2015):

“O método etnográfico utilizado incluía e excluía o nativo de sua história. Incluía


porque, pela primeira vez, havia um diálogo com as instituições nativas e excluía
porque era um diálogo vertical, quase monólogo” (ALVES, 2015: 3).

Ou seja, a etnografia feita tinha uma visão dos nativos sobre uma história que para
alguns não é confiável, mas para outros é o descobrimento de uma nova visão de pessoas que
ao longo de anos passaram por mentirosos e foram reprimidos pela colonização, apreendidos
perante uma sociedade com uma noção de mundo totalmente diferente da deles. O etnógrafo
traz, por mais difícil que seja entender, uma ideia de cultura diferente, e que a Antropologia
Cultural tenta ao longo dos anos tecer relações criticas entre o seu corpo teórico-metodológico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seguindo essa premissa de que o colonizador “descobriu” terras, e ensinaram todo um


novo modelo de civilização mais globalizada para os nativos que se rederam a esse novo mundo
através de escambos, como a História conta e como alguns autores ainda tentam passar, é
notório que foi uma apropriação de terras através de ingenuidade e descaso com a Cultura que
ali era recorrente.
A Antropologia e a etnografia tentam trazer a ideia de Culturas diferentes, embora
tentem se contribuir entre si, possuem objetivos e fins diferenciados, Para Ingold e Almeida
(2018), a etnografia estuda a vida de um povo e como ela é vivida, passando um determinado
tempo convivendo entre elas, e a antropologia é um tipo de investigação da vida humana em
um todo. Embora haja uma interlocução entre esses estudos é possível se alterar na escrita de
cada disciplina.
A noção de colonizado e colonizador é um termo amplo e divergente, com diversas
problemáticas, e com soluções ainda não encontradas, pois é de veras que em metade do Globo
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(Terra), diversos locais aceitaram a intervenção de colonizadores, expondo-os a uma nova


natureza cultural- mas sem entender a noção do mal perante o outro.
O objetivo principal do artigo era encontrar a voz daqueles que tiveram sua noção de
cultura perdida ou para expor o mal que foi a intervenção de novos povos desconhecidos em
suas terras. Os Nativos aqui expostos foram trazidos pelos autores que puderam estar em campo
e possibilitando o nosso acesso a esse mundo que a maioria de nós não conhecemos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Manuel Martins e Júlio Costa para administração colonial de Angola. In: V REA XIV
ABANNE, 2015, p.3. Disponível em:
https://evento.ufal.br/anaisreaabanne/gts_download/_Gerson%20Dos%20Santos%20Alves%2
0-%201019059%20-%203977%20-%20corrigido.pdf. Acesso: 01 Dez 2021.

GEERTZ, Clifford. Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura. In:
A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 200.

INGOLD, T., & ALMEIDA, R. A. (2018). Resumo. In: Antropologia versus etnografia.
Cadernos De Campo (São Paulo - 1991). Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/147161/140886 Acesso: 05 Dez
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MADEIRA JÚNIO, A. A. A relação colonizado e colonizador: uma abordagem


intercultural em A tempestade. In: SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E
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MALINOWSKI, Bronislaw. 1984 [1916]. Baloma. Os espíritos dos mortos nas Ilhas
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03 Dez 2021.
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NOVAES. Luciana de Castro Nunes. Arqueotextura e o esboço de uma antecipação: o


princípio simétrico na escrita dos atos, materiais e ambientes. Revista Arqueologia Pública.
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Dtica_Organizando_dados_em_tempos_predat%C3%B3rios. Acesso em 06 Dez 2021.

SAHLINS, Marshall David. Apresentação e Conclusão. In: Metáforas históricas e realidades


míticas: estrutura nos primórdios da história do reino das Ilhas Sandwich. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2008.

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