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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º.

Seminário
Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85-
288-0061-6

Os conceitos de Etnogênese: uma abordagem historiográfica

Adriano Toledo Paiva*

Resumo: Nesta comunicação discutiremos o emprego dos conceitos de etnogênese nas


abordagens da historiografia dedicada ao estudo da conquista colonial. Os processos de
etnogêneses são compreendidos como uma reconfiguração cultural e identitária dos
indivíduos ou agrupamentos perante elementos endógenos e exógenos a estes. A Etnohistória
demonstra que, no transcorrer das práticas coloniais, os nativos reformularam suas
identidades e trajetórias. A historiografia abandonou a visão que reduzia o índio à imagem
oscilante do bárbaro ao aculturado, e enfoca as alterações nas estruturas societárias destes
indivíduos no transcorrer dos processos de colonização. O emprego da terminologia
etnogênese representa uma importante ferramenta analítica, porque nos distanciamos da
abordagem da conquista como crônica preconizadora da extinção e aculturação das
populações nativas.

Etnocídio, Etnogênese e genocídio: as investidas coloniais e as populações indígenas

A historiografia avalia que a ação colonizadora não representou o extermínio completo


das populações nativas ou seu total aculturamento. Todavia, estas abordagens não olvidam as
práticas de violência e dominação impostas aos conquistados. A Etnohistória demonstra que,
no transcorrer das práticas coloniais, os nativos reformularam suas identidades e trajetórias
em sintonia com os “invasores”. 1 A atual historiografia abandonou a visão que reduzia os
nativos à imagem que oscilava do bárbaro ao aculturado, e enfoca as alterações nas estruturas
societárias destes indivíduos nos processos coloniais.2 Para tanto, investiu-se no conceito
operacional de “resistência acomodativa”, cunhado por Steve Stern, para analisar os
processos coloniais; portanto, distanciando-os da concepção de extinção das culturas nativas e
de elemento danoso a estas comunidades.3
Segundo Manuela Carneiro da Cunha, a atenção dispensada aos índios na “formação
da História do Brasil”, especialmente no “período colonial”, incide na subordinação destes
aos interesses e vontade dos conquistadores, assim como na eliminação paulatina de suas
narrativas históricas e memórias. (CARNEIRO DA CUNHA, p.9-24) A resistência para os
1
* Mestre e doutorando em História na Universidade Federal de Minas Gerais (Linha de pesquisa: História
Social da Cultura). Agradeço a FAPEMIG (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais pelo
financiamento de minhas pesquisas doutorais. Endereços eletrônicos: adrianohis@yahoo.com.br
Para um apanhado das abordagens da Etnohistória, consultar: (LORENZO, 2000) .
2
Acerca das novas abordagens sobre a resistência indígena nas investidas coloniais, ver: (GRUZINSKI, 2001) e
(GRUZINSKI, 2003)
3
Conferir: (STERN, 1987) e (STERN, 2006:27-66).
1
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aborígines não se vincula estritamente no apego às “tradições pré-Cabralinas”, tampouco em


conflito aberto com os colonizadores; mas perpassa intrinsecamente os processos de
adaptação e renovação perante situações de contato, subordinação e dominação.
(GRUZINSKI, 1986: 411-433)
John Manuel Monteiro, ao analisar a produção historiográfica sobre a história indígena
no Brasil, concentra-se na produção da década de oitenta do século XX, salientando a
presença de estudos centrados especialmente no emprego do índio empregado como mão-de-
obra. (MONTEIRO, 1995: 221-228) Monteiro sinaliza nesta seara duas vertentes: uma
essencialmente calcada nos aparos sócio-jurídicos da política indigenista, reduzindo o índio
ao papel de vítima dos encontros coloniais, como um ser imóvel, “engessado” em meio aos
aportes e aspectos legais4; a outra que aborda os indígenas nos processos coloniais,
valorizando-os como sujeitos históricos.
Com o objetivo de retirar o índio da subjugação colonial e circunscrevê-lo ao papel de
sujeito ativo nos processos coloniais, os historiadores investiram no estudo dos processos de
reconfigurações identitárias e vivências indígenas no período da conquista, abandonando
conceitos e noções históricas de aculturação, genocídio e etnocídio. Pierre Clastres, com base
nas experiências das comunidades indígenas das América e dos estudos etnológicos, dispôs de
argumentos para diferenciar o etnocídio e o genocídio. Observou que o termo genocídio
refere-se ao extermínio físico de determinado agrupamento, enquanto etnocídio aponta para a
desagregação de aspectos culturais de determinados indivíduos; “O genocídio assassina os
povos em seu corpo, o etnocídio os mata em seus espíritos”. (CLASTRES, 2004:82-83) Estas
terminologias se assemelham na percepção que fazem do outro, pois o outro é diferença;
sobretudo má diferença. O espírito genocida almeja exterminar a diferença; enquanto o
etnocida possui a necessidade de mudanças nas culturas com as quais convive, propondo uma
adequação, geralmente sob as suas preceptivas.
Para Clastres, os missionários e sua ação constituem atos etnocidas, porque objetivam
a transformação dos sujeitos nas terras conquistadas, a instituição da cristandade e dos seus
modos de governo sobre uma “sociedade” não portadora das mesmas concepções de poder e
ordenamento. As práticas pagãs eram consideradas elementos inaceitáveis, mas os aborígines
poderiam ser remidos com a adesão ao Cristianismo. O discurso da cultura colonizadora –

4
Conforme John Manuel Monteiro, podemos identificar os seguintes estudos nesta perspectiva: (BELLOTO,
1982: 177-192); (THOMAS, 1982); (KIEMAN, 1954).
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considerada em um patamar superior de desenvolvimento pelos seus detentores – está calcado


no anseio de elevar a considerada subalterna a um patamar superior. Segundo o referido
antropólogo, a violência etnocida está circunscrita na essência e existência do Estado, que
objetiva normatizar e uniformizar as diferenças que podem ser colocadas como elementos de
oposição a sua atuação. (CLASTRES, 2004:82-83)
Resgatar a historicidade dos povos conquistados em meio às representações e ações
dos empreendimentos coloniais é o desafio imposto para a etnohistória, que investe na
terminologia etnogênese para suas abordagens e interpretações. Segundo Boccara, a
terminologia e “a nação de etnogênese” é pouco usual em França, sendo empregada
amplamente pela literatura antropológica norte-americana; acionada inicialmente por William
Sturtevant, em 1971. Desde então, a expressão tomou um notável cambio semântico. O
emprego inicial, conferido por Sturtevan, se relacionou intrinsecamente à emergência física de
um novo grupo político. Atualmente o termo é empregado nos estudos etnohistóricos para
designar diversas transformações no contato cultural, não se restringindo a mudanças
políticas. A noção de etnogênese foi desvinculada de uma categorização biológica. Boccara
demonstra que estudos recentes enfatizam a capacidade de adaptação e de criação das
sociedades indígenas e empregam a possibilidade de novas configurações sociais sob
processos de fricção e fusão da conquista, assim como a incorporação de elementos estranhos
a uma cultura. Além disso, salienta-se que os processos de etnogênese não podem ser
estudados sem levar em conta os processos de etnificação e etnocídio que o acompanham.
(BOCCARA, 2003: 72)
O processo de etnogênese constitui uma reconfiguração cultural e identitária dos
indivíduos ou de uma comunidade perante processos endógenos e exógenos a estes. O
processo de etnogênese entre os índios ocorre por elementos informados pelas suas
cosmologias ou pela realidade colonial. Nas aldeias coloniais concentram-se diferentes grupos
políticos e étnicos. Reunidos sobre a designação de cristãos, aldeados e aliados, terão que
reordenar sua percepção espacial, social e de lideranças.5 Para John Manuel Monteiro, em
meio às classificações étnicas dos tempos de conquistas, as quais se denominam
“tribalização” e “etnificação”, engastaram-se processos que não representavam somente a
subjugação de outrem, mas a reconfiguração de identidades étnicas. Os nativos forjavam uma
nova percepção de si, apartada de suas antigas concepções cosmológicas. (MONTEIRO,

5
Conferir o importante e inovador estudo de Maria Regina Celestino de Almeida: (ALMEIDA, 2003).
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2001:57-59) Boccara observa a tendência dos atuais estudos ressaltarem o protagonismo


histórico dos indígenas e os processos de etnogênese. As abordagens incidem na
consideração dos processos de gênese e de construção das vivências e sociabilidades
indígenas, ao revés de analisar unicamente entidades sociais, culturais e políticas. 6
John Manuel Monteiro verifica que os etnômios refletiam os ideais coloniais de
controle e assimilação das populações conquistadas. Contudo, o historiador argumenta que
esta tentativa de diluição das diversidades étnicas representou importante referência para as
populações indígenas, com a construção de suas novas identidades. Esta identificação não
estaria mais associada às suas origens pré-coloniais e se distanciaria de outros agrupamentos
ou qualidades sociais, como os escravos e indivíduos com esta descendência. (MONTEIRO,
2001, 142) Boccara evidencia que as abordagens etnohistóricas investem nas terminologias
etnogênese, etnificação e mestiçagem como forma de enfocar as entidades culturais
atentando-se especialmente para o denominado “comércio de identidades” e as flexibilidades
dos contatos nas fronteiras, portanto, abandonando a usualmente empregada terminologia
aculturação.
Nathan Wachtel incorreu em uma abordagem pioneira para desassociar a terminologia
aculturação, da substituição ou destituição cultural dos grupos conquistados. O pesquisador
avalia que a noção de aculturação – termo que empregou para designar fenômenos de
interação e contato com outras culturas – é crivada de paradoxos e ambigüidades. Wachtel
observa que uma primeira confusão da terminologia consiste nas circunstâncias de seu
nascimento, trazendo em seu bojo a concepção de uma supremacia da cultura européia. A
proposição do pesquisador consiste em abandonar as análises etnocêntricas e investir na
operacionalidade do conceito, evidenciando dois sistemas de valores: a “aculturação imposta”
e a “espontânea”. (WACHTEL, 1976: 111, 115-116) Em seus estudos, verifica:
“na situação propriamente colonial, os membros da sociedade dominada
experimentam a intervenção estrangeira como atentado a sua tradição, e essa pode
desencadear determinadas formas de recusa; enquanto que nas fronteiras a
aculturação livremente aceita obedece aos dinamismos internos da sociedade
indígena.” (WACHTEL, 1976: 116)
6
Boccara demonstra que grupos indígenas que viviam entre os rios Itata e Toltén, no atual Chile, chamados
equivocadamente de “araucanos” integraram muitos elementos exógenos a sua sociedade e cultura. Os
indígenas assimilaram o uso do cavalo, do ferro, do trigo, acolheram diversos indivíduos em suas aldeias,
aceitaram o batismo e a realização de parlamentos com os wingka (no-mapuches), integraram a cruz ao seu
sistema simbólico, como inseriram em seu sistema sociopolítico os “missioneiros” e os “capitães de amigos”.
Neste sentido, a incorporação destes elementos desencadeou modificações na compreensão do poder,
organização produtiva e especialmente no nível individual, através da formação identitária. (BOCCARA, 2000:
11-59)
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A perspectiva analítica de Wachtel sinaliza que os processos de integração,


assimilação, sincretismo e disjunção transcorrem no tempo, e não são pensados de maneira
evolucionista, ou seja, da integração forçada à assimilação. Contudo, considera que no
processo de dominação direta, o ponto de partida do processo coincide com a crise da cultura
indígena, “pela única razão da cultura vitoriosa lhe ser constantemente imposta como
modelo”. Para o historiador:
“Certamente o alcance da desestruturação varia segundo os tipos de sociedade e a
intensidade da dominação: mas pode-se dizer que, em todos os casos, a subordinação
da sociedade indígena e sua inclusão forçada no novo contexto colonial conduzem à
desintegração, mais ou menos completa do sistema global das tradições indígenas,
das quais sobrevivem senão fragmentos disjuntos”. (WACHTEL, 1976: 120)

A proposição de Wachtel emprega o termo aculturação e resistência de maneira mais


abrangente, colocando fim às dicotomias entre as sociedades consideradas “primitivas” e as
“históricas”; apartando-se de uma visão europocêntrica da História dos contatos culturais.
Guillaume Boccara analisa esses fenômenos de aculturação, integração e assimilação
propostos por Wachtel. Assinala que o primeiro processo se caracteriza pela incorporação de
elementos externos somados aos esquemas indígenas. A assimilação remete ao processo
inverso, que consiste na inclusão de valores europeus e eliminação das antigas tradições. O
historiador evidencia os progressos desenvolvidos por Wachtel nos estudos culturais, livrando
a História de análises dos povos nativos apartadas de visões essencialistas e ahistóricas.
Outrossim, verifica que a Etnohistória abandonou os conceitos de resistência e aculturação
para investir nos fenômenos de etnogênese, etnificação e mestiçagem. As reformulações
identitárias e culturais não seriam mais abordadas como contaminações condutoras da
desagregação do ser indígena, ou ainda, sob a forma de uma supostamente cultura pura ou
original. (BOCCARA, 2005: 21-52)
Os estudos de Guillaume Boccara avaliam as fronteiras culturais dos grupos nativos da
América Latina Colonial. Estas comunidades, após o contato com o colonizador, entraram em
uma dinâmica de reestruturação e de redefinição de sua identidade. O historiador dedica-se à
emergência de uma nova identidade étnica “los Mapuche”7, construída por meio de um
processo etnogênese. A preocupação de classificar os índios em nações, “período colonial”,
7
Boccara observa que as estruturações comunitárias do espaço fronteiriço (Araucanía-Pampa-Nor-Patagonia)
combinaram em suas distintas bases materiais novos indivíduos e grupos a sua organização socioeconômica,
permitindo a criação de novos dispositivos de exploração econômica, dominação sociocultural e pertencimento
político. (BOCARRA, 2002: 266-280)
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etnias, “período republicano”, segundo Boccara, revela a vontade das autoridades de


circunscrevê-los no espaço e tempo específicos, em categorias sociopolíticas, entidades
concebidas como culturalmente homogêneas. Os colonizadores acentuavam a coerência
cultural e concepções sociopolíticas dos grupos indígenas. As organizações sociais imergiriam
enquanto unidades políticas novas, impulsionadas pela ação colonial. Destarte, por detrás do
processo de tribalização existente na conquista militar por parte dos Estados, geralmente
tomados como signo da supremacia dos declarados “civilizados” e de sujeição dos povos
nativos, configurava-se uma reestruturação das vivências dos índios. Boccara salienta que
algumas etnias americanas surgiram de um processo de etnificação e etnogênese. Para o
historiador, os múltiplos registros, os parlamentos e tratados, a delegação de poder político, a
imposição externa de identidades fixas, tudo o que polarizaria os dispositivos de um “saber-
poder”, contribuíram de maneira capital para a etnificação de seus grupos. As adaptações e
resistências criadoras de transformações que transcendem as consciências individuais foram
denominadas de etnogênese.
Segundo Boccara, na “fronteira dos Mapuche”, no século XVII, institucionalizou-se
um parlamento de grande reunião política hispano-indígena, para pacificação dos territórios
com acordos econômicos, militares, políticos e religiosos. O historiador considera o
Parlamento, a Missão e as outras “tecnologias do saber-poder”, como, escolas de índios,
caciques embaixadores, capitães de amigos e comissários de nacionais como elementos
normatizadores e demarcadores dos espaços; constituindo locais de negociação. Nestes
instrumentos difundiam-se práticas de escrita e leitura, institucionalizavam-se mecanismos de
8
delegação de poderes, transformando chefias em “profissionais de representação”. Para o
estudioso, o fenômeno de construção de novas identidades, de reformulação e adaptação
sociocultural não tem deixado de promover intensas conseqüências nas ciências sociais. Estes
elementos foram olvidados pelas análises estruturalistas e marxistas, deixando escapar os
atores sociais. As fronteiras de uma História conjugada aos Estados Nacionais produziram
análises etnocêntricas, androcêntricas, positivistas e etapistas. 9 Boccara sinaliza, na década de

8
O parlamento constituiria um mecanismo extremamente poderoso de integração do campo político indígena.
No século XVIII, observa Boccara que os caciques mapuche souberam tirar partido do comércio oferecido pela
fronteira; estes eram geralmente “mestizos ou sang-mêlé”. Estes líderes sabiam falar o espanhol e se negavam a
falá-lo e cultivavam com distinção o mapudungún, recebiam honrarias e títulos de soldado do exército real, com
soldos e presentes. Enviavam seus jovens filhos para estudar em colégios de Chillán e Santiago e se
asseguravam dos serviços de escrivães. (BOCCARA, 2001)
9
O investir nestas reestruturações identitárias, revelam a necessidade do pesquisador em se distanciar dos
trabalhos denominados Estudios Fronterizos, que abordaram as fronteiras de maneira evolucionista e
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70, os primeiros estudos dedicados às imbricações entre História e estrutura, abordando os


efeitos desencadeados pelos contatos entre colonizadores e colonizados, com reflexões em
torno das noções de tradição, cultura resistência e aculturação. (BOCCARA, 2007)
Todavia, a conquista adquiriu novas dimensões com o emprego do conceito de
etnogênese, incluindo o entendimento dos indígenas acerca dos processos de contatos com o
universo colonial. Ao investir neste aporte conceitual, a historiografia se debruçou sobre os
processos de etnificação, decorrentes da congregação das aldeias indígenas em aldeamentos.
Os processos de conquista se ordenavam em meio às estruturas aborígenes, por intermédio de
constantes processos de reconfigurações identitárias, delimitando e reestruturando os poderes
e culturas. Ao procedermos com reflexões em torno dos empregos do conceito de etnogênese,
não tivemos a pretensão de mapear todas as abordagens historiográficas consoante ao tema,
mas arrolamos alguns elementos e instrumentos analíticos para elucidaremos as vivências dos
indígenas nos processos de conquista colonial.

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etnocêntrica, considerando as culturas indígena inferior, imputando a essas o caminho inevitável da aculturação,
e a desagregação de uma organização sócio-política e identitária. (BOCCARA, 2007).
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Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85-
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