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Habilidade da BNCC
7º ano - (EF07HI17) Discutir as razões da passagem do mercantilismo para o capitalismo.
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História do Brasil para
ocupados
Habilidade da BNCC
8º ano (EF08HI16) Identificar, comparar e analisar a diversidade política, social e regional nas rebeliões e nos
movimentos contestatórios ao poder centralizado.
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O setor industrial que melhor exprimiu o impacto do comércio colonial foi o têxtil, particularmente a
indústria do algodão, que fincara raízes na Inglaterra não antes de finais do século XVII, com a tentativa de
substituição dos tecidos de algodão baratos importados da Índia. [...] As transformações produzidas no setor têxtil
implicaram um aumento significativo da produtividade e dos ganhos: nas últimas décadas do século, os lucros
chegavam a surpreendentes 450% do valor investido. Isso fez desse setor um polo de atração crescente para
capitais privados em busca de investimento lucrativo, apostando tanto na ampliação das fábricas já estabelecidas
como na constituição de novas unidades de produção. [...] As transformações que foram geradas na indústria do
algodão atingiram, inicialmente, ramos industriais diretamente relacionados aos têxteis: a indústria química, a
fabricação de máquinas e a mineração do carvão e do ferro foram empurrados para a modernização. Era o setor
têxtil que ditada o ritmo do desenvolvimento da fatia industrial da economia até a década de 1830. [...] o aumento
dos investimentos incentivados pela expectativa de ganhos fez com que a produção crescesse em um ritmo maior
do que o ritmo de crescimento do mercado consumidor, tanto interno quanto externo. [...] O resultado foi o
barateamento progressivos dos produtos: entre 1780 e 1840, o preço dos têxteis sofreu uma redução de 95%,
impactando de forma decisiva na queda da taxa de lucro. [...] Sem ser atrativo o suficiente para absorver o
reinvestimento, o setor têxtil deixa de expandir e entre em “crise” entre os anos 1830 e 1840. Com isso, esgota-se
aquela que foi a primeira fase da Revolução Industrial. Entre os anos 1840 e 1850, os capitais gerados por meio dos
têxteis foram redirecionados para ramos de produção que, naquele momento, eram mais atrativos: a indústria
mecânica e a siderurgia, que abasteciam a crescente demanda por máquinas. A procura cada vez maior por ferro e
carvão deu um enorme impulso à mineração e aos transportes, que vivem sua própria revolução, com a ampliação
do uso da máquina a vapor para a navegação e nas ferrovias. Foram as ferrovias que, de fato, se mostraram
altamente sedutoras, tanto pelos lucros que o investimento prometia quanto pela aura que as cercava: a estrada de
ferro se tornou a expressão de uma Europa que se fazia moderna e civilizada.
MORAES, Luís Edmundo. História contemporânea: da Revolução Francesa à Primeira Guerra Mundial. São Paulo:
Contexto, 2017. p. 58-59.
Habilidade da BNCC
8º ano (EF08HI03) Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e
culturas.
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História da América Latina
A participação das mulheres foi significativa e se deu em diversos níveis: como acompanhantes dos exércitos,
como soldados, como mensageiros ou como animadoras da causa da independência. Tomemos alguns poucos
exemplos. Nos campos de luta, as mulheres, às vezes com filhos, acompanhavam os soldados – maridos, amantes
ou irmãos. Como não havia abastecimento regular das tropas, cozinhavam, lavavam, costuravam, em troca de algum
dinheiro. Essas mulheres aguentavam as duras caminhadas e as agruras das batalhas sem qualquer
reconhecimento positivo. Ao contrário, em geral, carregavam a pecha de “mulheres fáceis” que se vendiam aos
homens por qualquer preço. Também participaram de batalhas como soldados. Uma delas foi Juana Azurduy de
Padilla que nasceu em Chuquisaca (hoje Sucre), em 1780. Junto com o marido, homem de posses, dono de
fazendas, liderou um grupo de guerrilheiros, participando de 23 ações armadas, algumas sob seu comando. Ganhou
fama por sua coragem e habilidade, chegando a obter a patente de tenente-coronel. Depois da morte do marido,
Juana, que perdeu todos os seus bens, continuou participando da luta guerrilheira, ainda que com dificuldades
crescentes. A seu lado, nos combates, havia um grupo de mulheres, chamadas “las amazonas”. Mulheres de famílias
abastadas, demonstrando sua adesão à causa da Independência, abriram seus salões para tertúlias em que se
discutiam ideias e se propunham estratégias em favor do movimento. Entre as mensageiras, um exemplo
extraordinário foi o de Policarpa Salvarrieta, conhecida como Pola, nascida em Guadas, na atual Colômbia, em 1795,
numa família de regular fortuna ligada à agricultura e ao comércio. Pola trabalhava como costureira em casas de
famílias defensoras dos realistas e, com tal colhia informações para serem enviadas às tropas guerrilheiras, das
quais fazia parte seu noivo, Alejo Sabarían. Ao ser preso, foi encontrada com ele uma lista de nomes de realistas e
de patriotas que Pola lhe havia entregue. Assim, ela foi capturada, julgada e condenada à morte por um Conselho
de Guerra. No dia 14 de novembro de 1817, Policarpa Salavarieta e Alejo Sabarían e outros oito homens foram
fuzilados na Praça Maior de Santa Fé de Bogotá. Sua morte causou grande comoção, provocando fortes reações.
Imediatamente após seu fuzilamento, ela foi retratada, num célebre quadro, esperando pelo momento final. Poemas
e peças teatrais surgiram cantando sua lealdade à causa independentista e sua coragem diante do cadafalso.
PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 38-39.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI11) Identificar e explicar os protagonismos e a atuação de diferentes grupos sociais e étnicos nas lutas de
independência no Brasil, na América espanhola e no Haiti.
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História dos Estados Unidos: das
origens ao século XXI
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI27) Identificar as tensões e os significados dos discursos civilizatórios, avaliando seus impactos negativos para os
povos indígenas originários e as populações negras nas Américas.
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Almanaque brasilidades: um
inventário do Brasil popular
Luiz Antonio Simas
Editora Bazar do Tempo
O excerto a seguir pertence à obra Almanaque brasilidades: um inventário do
Brasil popular, importante livro do historiador Luiz Antonio Simas.
Mães do samba
A participação feminina no ambiente das escolas de samba sempre foi
determinante e se impôs como uma espécie de reflexo da própria condição e
da experiência histórica das mulheres, sobretudo afrodescendentes, na sociedade brasileira.
Aparentemente, o protagonismo nas escolas de samba foi e é exercido pelos homens. Quem, todavia,
mergulhar no mundo do samba e ir além da superfície, verá que, como diziam os antigos, debaixo desse angu tem
caroço. As escolas de samba, em sua origem, se destacaram pelo caráter comunitário, definidor, inventor e
renovador de identidades de grupos vistos historicamente como subalternos por parcelas significativas das elites
brasileiras. O crítico musical Roberto M. Moura matou a charada no livro No princípio era a roda:
“Quando alguém se aproxima do samba, através da roda ou das escolas, dificilmente percebe seu
caráter doméstico. Num e noutro caso, verá uma predominância do elemento masculino, que toca e canta.
Mas se esse envolvimento evoluir, se a pessoa aprofundar essa aproximação, por certo descobrirá as
raízes caseiras que estão por trás daqueles sons. [...] É como se o samba tivesse duas faces: a masculina,
para o público externo, e a feminina, para os que são de casa.”
Indo além da citação, há que se considerar que, desde o início, as mulheres foram relevantes também do
ponto de vista da música e da coreografia. Foram elas, nos tempos primordiais em que o perfil comunitário prevalecia
e a visão empresarial nem sonhava se impor no ambiente das escolas, que sustentaram, sobretudo como pastoras
ou baianas, alguns elementos fundamentais para o desempenho de uma agremiação – como o canto coral, a
evolução e a harmonia. [...]
E são tantas as mulheres que merecem destaque que fica até difícil resumi-las a poucos nomes. Como não
citar Dagmar do Surdo, a primeira mulher a furar o cerco masculino e tocar na bateria de sua escola; Amélia Pires,
já na década de 1930, atuando como compositora na Unidos da Tijuca; Carmelita Brasil, fundadora, presidente e
compositora da Unidos da Ponte e primeira mulher a assinar um samba-enredo que cruzou uma avenida de desfile,
em 1958; Dona Ivone Lara, grande compositora e primeira a ter um samba de sua autoria cantado por uma grande
escola (Império Serrano, 1965); Carmem Silvana, a pioneira imperiana que puxou na avenida o mítico samba-enredo
Aquarela Brasileira (1964), do mestre Silas de Oliveira; e muitas outras que ainda hoje são líderes comunitárias e
figuras exponenciais da cultura brasileira. [...]
SIMAS, Luiz Antonio. Almanaque brasilidades: um inventário do Brasil popular. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo,
2018. p. 133-134.
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI04) Discutir a importância da participação da população negra na formação econômica, política e social do
Brasil.
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História do Novo Mundo 2: as
mestiçagens
As mestiçagens
Essa primeira América, dominada pelas possessões espanholas, é o teatro de mestiçagens de uma
prodigiosa liberdade. O encontro dos europeus e das sociedades índias provocou primeiramente em toda a
extensão do continente americano transformações dos modos de vida. Espontâneos ou impostos pela força,
lentos ou precipitados, esses ajustamentos recíprocos nasceram dos choques que a Conquista, o pavor, a
incompreensão, o simples contato ou ainda a curiosidade multiplicaram. [...] A desordem que destrói os seres
e as tradições engendra por fim novas práticas e novas crenças, algumas das quais acabam por se estabilizar
antes de, por sua vez, se transformar. Ligadas às necessidades de adaptação e de sobrevivência, essas formas
de mestiçagem constituem a trama das culturas que apareceram no século XVI no continente americano. Esta
é uma diferença essencial com a história europeia, e é sem dúvida alguma a razão pela qual a vontade de
construir uma outra Europa no Novo Mundo não deu origem a um “caos de duplos”, mas antes, à América.
As mestiçagens americanas são processos irreversíveis [...], não há volta possível a um passado
indígena, anterior à irrupção dos europeus [...] Índios aprenderam a economizar, a endividar e se endividar, a
receber juros, a garantir, em suma, a manejar a abstração do dinheiro. Foi-lhes preciso plantar [...] açúcar,
tabaco, yerba mate, para um mercado exterior, em detrimento de suas culturas alimentares. Outros índios, em
número crescente, preferiram o trabalho assalariado às obrigações seculares do tributo e da mita.
Inversamente, os espanhóis do novo mundo se indianizam e até, por vezes, se africanizam à sua revelia.
Por mais que as autoridades se insurgissem contra essas mestiçagens [...] e reclamassem a chegada de
emigrantes ibéricos, as nutrizes, as escravas, os domésticos, os yanaconas, os mordomos, a arraia-miúda
exercem uma influência cotidiana sobre os costumes. Assim nasce uma linguagem que enriquece o castelhano
com termos náuatles, guaranis, quíchuas ou maias, cuja entonação é mais suave, mais cantante, mais pausada
que a de Castela. Assim aparecem gestos novos, que se tornam tão familiares que ninguém mais lhes presta
atenção. Das mestiçagens da vida cotidiana, uma das mais profundas é sempre a da alimentação, cadinho de
sabores e de odores incomparáveis, e critério irrefutável de toda identidade. Entre os criollos, a cozinha das
mulatas ou das domésticas índias desperta sensações que não lhes trazem mais as tradições culinárias
europeias. Mesmo quando o alimento é de origem europeia, como a carne de vaca, sua abundância e seu
preço módico lhe dão mais lugar no regime alimentar e modificam a maneira como é preparado. Do mesmo
modo que o milho, a mandioca e o chocolate, os entrecostos do Río de la Plata se tornam alimentos da “região”,
e portanto a marca de uma nova pertença.
BERNAND, Carmen; GRUZINSKI, Serge. História do Novo Mundo 2: as mestiçagens. São Paulo: Edusp,
2006. p. 723-725.
Habilidades da BNCC
7º ano
(EF07HI09) Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações
ameríndias e identificar as formas de resistência.
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Sete mitos da conquista espanhola
Matthew Restall
Editora Civilização Brasileira
O excerto a seguir pertence à obra Sete mitos da conquista
espanhola, do historiador inglês Matthew Restall, que desfaz alguns
mitos bastante difundidos sobre o tema. O trecho selecionado aumenta
nossa compreensão sobre um dos fatores decisivos da conquista da
América espanhola: as doenças.
[...] Os conquistadores possuíam [...] grandes aliados, sem os quais a Conquista não teria ocorrido. Um
foram as enfermidades. As Américas ficaram isoladas do resto do mundo por dez mil anos. Em virtude
de maior volume populacional e da maior variedade de animais domésticos (dos quais se originaram
doenças como varíola, sarampo e gripe) do Velho Mundo, os europeus [...] desembarcaram no Novo
Mundo carregados com toda uma gama de germes mortais. Embora estes ainda provocassem mortes
no Velho Mundo, seus habitantes haviam desenvolvido níveis de imunidade relativamente altos em
comparação com os americanos nativos, que morriam num ritmo e em números assombrosos. No século
e meio que se seguiu à primeira viagem de Colombo, a população indígena da América sofrera uma
redução de 90%.
Os surtos epidêmicos exerceram um impacto imediato nas invasões dos Impérios Asteca e Inca. [...] A
capital asteca caiu não pela força, das armas hispânicas, mas sim devido a doenças e à praga. O cerco
à ilha sobre a qual se erguia a cidade interrompeu o fornecimento de víveres alimentícios – mas,
enquanto a fome se aproximava, os defensores acabaram sucumbindo à praga ou a doenças. Ao que
parece, a varíola foi a grande culpada. Ao percorrerem a cidade devastada, os espanhóis e seus aliados
nauas depararam-se com pilhas de cadáveres e moribundos amontoados, infestados de pústulas,
reveladoras. Como mais tarde diria o cronista franciscano Sahagún, “as ruas estavam tão apinhadas de
mortos e enfermos que nossos homens caminhavam por cima dos corpos”.
RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
p. 235-236.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI09) Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações
ameríndias e identificar as formas de resistência.
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Estados Unidos: Estado
Nacional e Narrativa da Nação
(1776-1900)
Os pais da Nação
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI06) Aplicar os conceitos de Estado, nação, território, governo e país para o entendimento de conflitos e
tensões.
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História do Brasil
contemporâneo: da morte de
Vargas aos dias atuais
Carlos Fico
Editora Contexto
O excerto a seguir pertence à obra História do Brasil contemporâneo:
da morte de Vargas aos dias atuais. A autoria é de Carlos Fico, historiador
e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Música e ditadura
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI20) Discutir os processos de resistência e as propostas de reorganização da sociedade brasileira
durante a ditadura civil-militar.
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Na história da mulher brasileira, o nome de Nísia Floresta se impõe e ocupa as primeiras páginas,
tanto pela coragem revelada em seus escritos, como pelo ineditismo e ousadia de suas ideias. No tempo
em que a grande maioria das mulheres vivia recolhida em suas casas sem nenhum direito, e o ditado
popular dizia que “o melhor livro é a almofada e o bastidor”, ela dirigia colégios para moças, colaborava
em jornais e escrevia livros e mais livros defendendo os direitos das mulheres, dos índios e dos
escravizados.
Nascida em 1810, em Papari, Rio Grande do Norte, Nísia Floresta publicou seu primeiro livro,
Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, em 1832, quando tinha apenas 22 anos. Abordou também,
em seus textos, temas como a opressão aos índios, iniciada com a colonização portuguesa, a escravidão
e a imagem distorcida e preconceituosa que o Brasil possuía em outros países, tendo escrito aquele que
é considerado o primeiro artigo em defesa dos aspectos positivos do “gigante do porvir”, como ela definia
a nação de extensão continental e com vocação para se tornar uma das maiores potências do planeta.
O preço por tal pioneirismo foi alto: seu nome foi envolvido pelo esquecimento e durante algumas
décadas não se ouviu falar dela. O pouco que se ouvia estava marcado pelo preconceito ou impregnado
da surpresa dos que se deparavam com uma história de vida como a sua e a novidade de suas reflexões.
Viver à frente de seu tempo custou-lhe o não-reconhecimento de seu talento e, por isso, até hoje não é
citada na história da literatura brasileira, como escritora romântica, nem na história da educação feminina,
como educadora.
DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo. Brasília: Mercado
Cultural, 2006. p. 6-7.
Habilidades da BNCC
9º ano
(EF09HI08) Identificar as transformações ocorridas no debate sobre as questões da diversidade no
Brasil durante o século XX e compreender o significado das mudanças de abordagem em relação ao
tema.
(EF09HI09) Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de movimentos
sociais.
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O povo Mapuche segue em luta
Elaine Tavares
http://www.iela.ufsc.br/noticia/o-povo-mapuche-segue-em-luta
O trecho a seguir é parte do artigo O povo Mapuche segue em luta, escrito pela jornalista Elaine
Tavares e disponível no site do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC).
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI09) Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações
ameríndias e identificar as formas de resistência.
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Obeliscos brasileiros
Existem centenas, talvez milhares, de obeliscos espalhados pelas cidades brasileiras. Porém, parte do
significado original desse tipo de construção, tão característica do antigo Egito, se perdeu ao longo dos séculos.
Mais do que simples objetos decorativos, os gigantescos blocos monolíticos – isto é, esculpidos em uma só
peça de granito – possuíam um forte sentido mitológico para os construtores egípcios: representavam o primeiro
raio de sol que desceu pela terra, ligando o mundo dos homens ao universo celeste.
Tekhen era o nome dado pelos antigos egípcios a tais monumentos e significava, textualmente, “raio de
sol”. Foram os gregos que lhes deram o nome de obeliscos que, em sua língua significava “agulha” ou “pino”.
Na origem, o obelisco era um monumento de pedra afilado, em forma de agulha e com o topo entalhado no
formato de pirâmide. [...].
Hoje, assim como as pirâmides, os obeliscos resistem ao tempo e servem de formidáveis testemunhas da
perícia e da proeza da civilização egípcia, que os modelava em pedra bruta e, depois, numa engenhosa
operação, os transportava até o local de destino. A maior parte deles possui dezenas de metros de altura e
pesa centenas de toneladas, sendo surpreendente que tenham sido esculpidos, erguidos e fincados no solo
numa época em que não havia ferramentas sofisticadas ou guindastes poderosos como os objetos como os de
hoje em dia. Talvez isso explique a posterior apropriação simbólica dos obeliscos, vistos historicamente como
emblemas inequívocos de poder.
Com efeito, desde muito cedo os obeliscos se tornaram populares entre outras culturas fora do Egito. [...].
No Brasil, eles são as referências arquitetônicas egípcias mais presentes entre nós, ainda que não haja
nenhuma informação sobre a existência de obeliscos egípcios autênticos no país: todos os monólitos aqui
existentes são cópias ou recriações de seus modelos originais. Assentados geralmente em centros urbanos,
são encontrados na maioria das vezes isoladamente, e não aos pares, como era comum ocorrer no antigo
Egito. Em uma busca preliminar, conseguimos catalogar cerca de uma centena de obeliscos em território
brasileiro. O número real tende a ser muito maior e com certeza será conhecido com o prosseguimento de
nossos estudos e pesquisas na área da egiptologia.
BAKOS, Margaret; BRITO, Márcia Raquel. Obeliscos brasileiros. In: BAKOS, Margaret (Org.). Egiptomania: o
Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004. p. 73.
Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI07) Identificar aspectos e formas de registro das sociedades antigas na África, no Oriente Médio e
nas Américas, distinguindo alguns significados presentes na cultura material e na tradição oral dessas
sociedades.
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Dicionário da escravidão e
liberdade: 50 textos críticos
Na África, o tráfico atlântico produziu efeitos múltiplos e deletérios. No curto prazo, gerou
centralização política, sobretudo em reinos africanos que dominaram o fornecimento de cativos para
mercadores europeus na costa africana, assim como inevitável fragmentação política. À medida que
poderes locais se fortaleciam, novos grupos se insurgiam contra as lideranças centrais. Ao estimular
guerras e a expansão territorial entre reinos rivais, o tráfico gerou um quadro de instabilidade sistêmica
nas sociedades africanas. Ao expor os africanos a redes de comércio responsáveis pela introdução de
armas, têxteis e álcool, alimentou a escravização por débito. Através de guerras, sequestros ou métodos
judiciais, produziu escravização crônica e difusa.
Nesse quadro, mudanças importantes se operaram no direito costumeiro africano, alterando a
noção do que constituía transgressão e/ou crimes passíveis de escravização, que se ampliou de forma
a satisfazer a necessidade de produzir mais e mais cativos para o Atlântico. Antes punidos com penas
de multa ou prisão, crimes como roubo e adultério lastrearam a escravização de um número incalculável
de africanos. Igualmente importante foi o desvirtuamento de múltiplas formas de dependência social
tipicamente praticadas nas sociedades africanas. Em geral reversíveis, ou então porta de entrada para
a integração social, acabaram se tornando veículos para produção de cativos para o tráfico. Esses
processos eram, sobretudo, alimentados pelo débito estrutural gerado pelo consumo de mercadorias
importadas através do Atlântico.
As regiões da África mais afetadas pelo tráfico de escravos foram a África Ocidental, conhecida
nas fontes portuguesas como Costa da Mina, que se estendia entre Gana e Nigéria, e a África Central,
que se estende do Gabão até o sul de Angola. No total, essas duas regiões responderam por quase 80%
das vítimas do tráfico atlântico. [...]
Na Costa da Mina, a presença portuguesa foi hegemônica até meados do século XVII, quando a
tomada do castelo de Elmina por forças holandesas marcou o início de um intenso processo de
internacionalização do comércio atlântico. Em duas décadas, várias nações europeias (ingleses,
dinamarqueses, prussianos, holandeses e suecos) se implantaram ao longo da costa, construindo uma
séria de fortes e fortalezas para gerir o comércio costeiro de cativos. [...]
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FERREIRA, Roquinaldo. África durante o comércio negreiro. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES,
Flávio dos Santos (Org.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2018. p. 53-54.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI16) Analisar os mecanismos e as dinâmicas de comércio de escravizados em suas diferentes
fases, identificando os agentes responsáveis pelo tráfico e as regiões e zonas africanas de procedência
dos escravizados.
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Habilidade da BNCC
8º ano (EF08HI11) Identificar e explicar os protagonismos e a atuação de diferentes grupos sociais e étnicos nas
lutas de independência no Brasil, na América espanhola e no Haiti.
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Renascimentos: um ou muitos?
Jack Goody
Editora Unesp
O excerto a seguir pertence ao livro Renascimentos: um ou muitos?,
do célebre historiador e antropólogo britânico Jack Goody. Nessa
obra, o autor não nega a originalidade e a força do Renascimento
italiano, mas amplia o debate sobre o tema em duas direções:
Renascimentos: um ou muitos?
Iniciando com as “primeiras luzes” (primi lumi) do século XIV, o Renascimento italiano é visto com
frequência como o momento decisivo no desenvolvimento da “modernidade”, em relação não apenas às artes
e às ciências, mas também, do ponto de vista do desenvolvimento econômico, em relação ao advento do
capitalismo. Não há dúvida de que esse foi um momento importante na história mundial. Mas quão singular
ele foi em geral? Existe aqui tanto um problema histórico específico quanto um problema sociológico geral.
Todas as sociedades estagnadas requerem algum tipo de renascimento para voltarem a se mover, e isso
pode implicar um olhar retrospectivo sobre épocas anteriores (a Antiguidade, no caso da Europa) ou outro
tipo de florescência.
Esse é o meu polêmico pano de fundo. Não vejo o Renascimento italiano como a chave para a
modernidade e para o capitalismo. [...] Em minha opinião, as origens da modernidade e do capitalismo são
mais amplas e encontram-se não apenas no conhecimento árabe, mas também nos influentes empréstimos
da Índia e da China. O que chamamos de capitalismo tem suas raízes numa cultura letrada eurasiana mais
ampla, que se desenvolveu rapidamente desde a Idade do Bronze, com troca de produtos e informações. O
conhecimento da leitura e da escrita foi importante porque permitiu o crescimento tanto do conhecimento
quanto da economia, que depois proporcionaria a troca de produtos. Ao contrário da comunicação puramente
oral, o conhecimento da leitura e da escrita tornou a linguagem visível, transformou-a em objeto material, que
podia ser repassado entre culturas e existia da mesma forma no correr do tempo. Consequentemente, todas
as culturas escritas poderiam às vezes olhar para trás e reviver o conhecimento passado, como foi o caso
dos humanistas europeus, e possivelmente levar a uma florescência cultural, isto é, a uma nítida explosão de
progresso. [...]
GOODY, Jack. Renascimentos: um ou muitos? São Paulo: Unesp, 2011. p. 11-12.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI04) Identificar as principais características dos Humanismos e dos Renascimentos e analisar seus
significados.
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História Antiga
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Habilidades da BNCC
7º ano
(EF07HI13) Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo
atlântico.
8º ano
(EF08HI12) Caracterizar a organização política e social no Brasil desde a chegada da Corte portuguesa, em
1808, até 1822 e seus desdobramentos para a história política brasileira.
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Dicionário da escravidão e
liberdade: 50 textos críticos
Lilia Moritz Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes (Org.)
Editora Companhia das Letras
O trecho a seguir é parte do verbete “cidades escravistas” e foi escrito
pelo historiador Marcus J. M. de Carvalho, professor titular da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para o Dicionário da
escravidão e liberdade: 50 textos críticos, organizada por Lilia M.
Schwarcz e Flávio Gomes.
Cidades escravistas
No passado, a escravidão urbana era interpretada como uma extensão, quase um apêndice, da
escravidão rural. Estudos recentes mostram, porém, que a urbanização brasileira é indissociável da
escravidão e do trabalho compulsório em geral. Nossas maiores cidades atlânticas africanizaram-se
muito cedo, pois foi nelas que desembarcou a imensa maioria dos navios negreiros até a proibição do
comércio atlântico de escravos, em 1831. Foi ao Recife (o porto de Olinda) e a Salvador que chegaram
as primeiras levas de cativos para a América portuguesa, ainda no século XVI. Com a descoberta das
minas, na década de 1690, a vinda da corte (em 1808) e a ascensão do café, o Rio de Janeiro tornou-se
o maior porto do tráfico atlântico e a maior cidade escravista das Américas. As cidades foram, assim, o
principal nexo com a África e tinham no comércio de gente escravizada seu negócio mais rentável.
A presença escrava é clara nos censos, apesar da subcontagem dos cativos, pois os proprietários
evitavam revelar suas posses, temendo ser taxados. Na época da independência, dos 112 mil habitantes
do Rio de Janeiro, praticamente metade, 55 mil, era de cativos. Em 1849, a população livre havia
triplicado, chegando a 144 mil pessoas, mas o número de cativos dobrara. Eram mais de 110 mil, mesmo
levando-se em conta que, depois que o tráfico tornou-se ilegal, em 1831, a subcontagem agravou-se;
ninguém queria revelar a posse de africanos contrabandeados. Dos 65 500 habitantes de Salvador em
1842, 27 500, ou seja, 42%, eram cativos. Mesmo um decadente Recife, por volta de 1828, possuía 7
935 cativos em seus bairros centrais: 31% dos 25 678 habitantes da sua parte mais urbanizada. Até
Porto Alegre, quase à margem do tráfico atlântico de escravos, mas enriquecida com o charque, em 1856
contava com o mesmo percentual de cativos do Recife de 1828: 30%. No auge do ouro, nos anos 1720,
entre metade e dois terços da população de Vila Rica era cativa. [...]
CARVALHO, Marcus J. M. de. Cidades escravistas. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio
dos Santos (Org.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2018. p. 156-157.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI19) Formular questionamentos sobre o legado da escravidão nas Américas, com base na
seleção e consulta de fontes de diferentes naturezas.
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O diário de Myriam
Myriam Rawick
Editora DarkSide Books
Os trechos a seguir pertencem à obra O Diário de Myriam.
Nesse livro, Myriam Rick, uma garota síria de 13 anos, narra
o seu dia a dia em um país que vive em guerra civil há vários
anos.
O Diário de Myriam
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI35) Analisar os aspectos relacionados ao fenômeno do terrorismo na contemporaneidade,
incluindo os movimentos migratórios e os choques entre diferentes grupos e culturas.
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21
Uma história do negro no
Brasil
[...] O centenário da Abolição em 1988 foi um momento em que a questão racial ficou mais
evidente. Graças à mobilização negra o centenário foi marcado pela intensificação do debate sobre
identidade racial e pelo protesto contra a marginalização dos negros na sociedade brasileira.
A militância negra da década de 1980 passou a questionar, com vigor, a versão oficial da
Abolição que exaltava muito mais a bondade e a caridade da princesa Isabel do que a luta dos escravos
para conquistar a liberdade. Ao mesmo tempo, não parecia fazer sentido comemorar a Abolição se a
maioria da população negra continuava relegada a péssimas condições de vida. Com o objetivo de
resgatar o espírito de luta e enaltecer a resistência, as organizações negras passaram a rejeitar o 13 de
Maio.
Entretanto, a data continuou importante para irmandades religiosas, cultos afro-brasileiros e
comunidades quilombolas, dentre outros grupos. A celebração continuava (e continua em muitos lugares)
importante, sobretudo para as gerações mais velhas. Para estes o 13 de Maio é o momento de celebrar
a efetiva participação dos negros no desmonte da escravidão.
Quando em 1985 o governo federal anunciou que pretendia organizar uma série de palestras,
exposições de arte, shows e outros eventos para celebrar o centenário da Abolição, as entidades do
movimento negro incitaram um debate que envolveu intelectuais, líderes religiosos, carnavalescos,
políticos e jornalistas em torno dos propósitos daquela celebração. Militantes negros de todo o Brasil se
posicionaram contra qualquer tipo de evento pelo 13 de Maio. Sob pressão, a prefeitura de Salvador e o
governo do estado da Bahia desistiram das atividades já planejadas para o centenário. Para marcar o
protesto, as entidades negras organizaram em Salvador, no dia 12 de maio, uma passeata chamada de
“Cem Anos Sem Abolição”, e nessa ocasião um retrato da princesa Isabel foi queimado.
Um evento do mesmo tipo foi organizado no Rio de Janeiro. Aqui as autoridades puseram 750
policiais nas ruas para evitar que a passeata passasse em frente a um monumento em homenagem a
Duque de Caxias. No confronto com a polícia dois líderes sindicais foram presos e representantes de
entidades negras foram impedidos de se pronunciar durante a manifestação. Esse episódio teve grande
repercussão na imprensa e contribuiu para um questionamento mais radical sobre o mito da democracia
racial brasileira.
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Depois do centenário da Abolição, diversos grupos do movimento negro passaram a incorporar
o 13 de Maio ao calendário das discussões sobre racismo no Brasil. Já o 20 de Novembro, data da morte
de Zumbi de Palmares, foi instituído como Dia Nacional da Consciência Negra. O uso enfático do termo
negro, em detrimento das palavras mestiço ou mulato, nos muitos eventos relativos àquele centenário
foi um indicativo do redimensionamento da questão racial no Brasil. A exaltação da beleza negra, do
heroísmo de Zumbi e das lutas do povo negro demonstrava o empenho da militância em transformar o
ano de 1988 num marco no processo de valorização da negritude e de combate ao racismo.
A principal estratégia das organizações negras durante as manifestações públicas, atividades
acadêmicas e solenidades do centenário foi enaltecer a cultura negra, definida como a continuidade de
tradições africanas e símbolo da resistência, além de denunciar a desigualdade social e econômica. Toda
essa movimentação negra na década de 1980 teve repercussão política. Desde 1988 a Constituição
Federal prevê que a prática de racismo é crime inafiançável, imprescritível e sujeito à pena de reclusão.
Isso quer dizer que o agressor não pode ser solto com o pagamento de fiança e pode ser preso mesmo
quando já se tiver passado muito tempo do crime. Com isso, foi revogada a Lei 1.390/51, conhecida
como Lei Afonso Arinos, que punia mais brandamente atitudes racistas.
Em 1989 foi promulgada a Lei 7.716/89, conhecida como Lei Caó por ter sido proposta pelo
deputado negro Carlos Alberto de Oliveira, conhecido como Caó. Esta é a única lei que define práticas
de crime de racismo no Brasil, das quais os negros são as maiores vítimas. A Lei Caó torna evidente o
quanto é importante a presença de negros em cargos públicos. O aumento significativo da presença na
vida política brasileira de negros identificados com a causa antirracista foi outra decorrência importante
da ação conscientizadora dos movimentos negros. Entre esses políticos que assumiram cargos nos
poderes legislativos e executivos não se pode deixar de lembrar os nomes do senador Abdias do
Nascimento, da senadora e governadora do Rio de Janeiro Benedita da Silva, dos deputados federais
Luiz Alberto, Paulo Paim, Francisca Trindade e outros, apenas para falar de alguns com projeção
nacional.
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma história do negro no Brasil. Salvador:
Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. p. 295-297.
Habilidades da BNCC
9º ano
(EF09HI04) Discutir a importância da participação da população negra na formação econômica, política
e social do Brasil.
(EF09HI23) Identificar direitos civis, políticos e sociais expressos na Constituição de 1988 e relacioná-
los à noção de cidadania e ao pacto da sociedade brasileira de combate a diversas formas de
preconceito, como o racismo.
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Os índios e o Brasil:
passado, presente e futuro
• Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
o § 1° São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em
caráter permanente, as utilizadas por suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessidades
a sua reprodução física e cultura, segundo seus usos, costumes e tradições.
o § 2° As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e os
lagos nelas existentes.
o § 3° O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados
com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-
lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
o § 4° As terras de que trata este artigo dão inalienáveis e indisponíveis, e os direitos
sobre elas, imprescritíveis.
[...]
• Art. 232 Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em
juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o ministério Público em todos os atos
do processo.
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• O artigo 231 é aclamado por todos pela inovação constitucional de considerar as terras
indígenas como advindas de um direito “originário”, o que quer dizer que antecede à chegada
dos portugueses, como se fosse uma reafirmação, um eco daquela famosa expressão
presente em algumas cartas régias, conforme já mencionado, em que os índios são chamados
de “primários senhores de suas terras”. Assim, por exemplo, a alegação de direito de
propriedade privada sobre alguma terra considerada indígena no presente ou no passado seria
de natureza secundária. Tal conceituação favoreceu a antropólogos e ao Ministério Público a
defender direitos dos índios sobre as terras que lhes haviam sido usurpadas no passado,
independentemente de hoje pertencerem a terceiros.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2017.
p. 110-111.
Habilidades da BNCC
9º ano
(EF09HI23) Identificar direitos civis, políticos e sociais expressos na Constituição de 1988 e relacioná-
los à noção de cidadania e ao pacto da sociedade brasileira de combate a diversas formas de
preconceito, como o racismo.
(EF09HI26) Discutir e analisar as causas da violência contra populações marginalizadas (negros,
indígenas, mulheres, homossexuais, camponeses, pobres etc.) com vistas à tomada de consciência e à
construção de uma cultura de paz, empatia e respeito às pessoas.
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Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI03) Identificar os mecanismos de inserção dos negros na sociedade brasileira pós-abolição e avaliar os
seus resultados.
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Grécia e Roma
Pedro Paulo Funari
Editora Contexto
O trecho a seguir faz parte da importante obra Grécia e Roma, de Pedro Paulo
Funari – professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI12) Associar o conceito de cidadania a dinâmicas de inclusão e exclusão na Grécia e Roma antigas.
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a relação com o pai, com o marido, com outros homens, diziam o que pensavam a respeito do desejo sexual
e do prazer.
Essas mulheres consideravam que a vida privada era fruto da sociedade. Abraçaram, então, o slogan
feminista difundido internacionalmente: “O pessoal é político”. Além disso, questionavam os preconceitos
machistas e procuraram divulgar para além do círculo restrito dos grupos a ideia do “orgulho de ser mulher”,
entendendo que isso é que definia a “condição feminina”, e não a biologia como acreditava o senso comum.
PEDRO, Joana Maria. O feminismo de “segunda onda”. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria
(Org.). Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012. p. 238-245.
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI08) Identificar as transformações ocorridas no debate sobre as questões da diversidade no Brasil
durante o século XX e compreender o significado das mudanças de abordagem em relação ao tema.
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David Abulafia
Editora Objetiva
O excerto a seguir faz parte do livro O Grande Mar: uma história
humana do Mediterrâneo, do historiador David Abulafia.
História do Mediterrâneo
“História do Mediterrâneo” pode significar muitas coisas. Este livro é uma história do Mar
Mediterrâneo, mais do que uma história das terras em torno dele; mais particularmente, é uma história
das pessoas que atravessaram o mar e viveram perto de suas praias, em portos e ilhas. Meu tema é o
processo pelo qual o Mediterrâneo tornou-se, em graus variáveis, integrado numa única zona comercial,
cultural e até, (sob os romanos) política, e como esses períodos de integração terminaram às vezes em
uma violenta desintegração, devido tanto a guerras como pandemias. Identifiquei cinco períodos
distintos: um Primeiro Mediterrâneo, que mergulhou no caos após 1200 a.C., ou seja, mais ou menos na
época em que se acredita que aconteceu a queda de Troia; um Segundo Mediterrâneo, que sobreviveu
até cerca de 500 d.C., um Terceiro Mediterrâneo, que emergiu lentamente e depois vivenciou uma grande
crise na época da Peste Negra (1347); um Quarto Mediterrâneo, que teve de lidar com a competição
cada vez maior do Atlântico e a dominação de potências atlânticas, terminando mais ou menos na época
em que o canal de Suez foi aberto, em 1869; finalmente, um Quinto Mediterrâneo, que se tornou um
corredor para o oceano Índico e encontrou uma surpreendente nova identidade na segunda metade do
século XX.
Meu “Mediterrâneo” é decididamente a própria superfície do mar, seus litorais e ilhas, em particular
as cidades portuárias que forneceram os principais pontos de partida e de chegada para os que o
atravessaram. [...] A região interior — os eventos que ali aconteceram, os produtos originários de lá ou
que passaram por lá — não pode, é claro, ser ignorada, mas este livro se concentra naqueles que
molharam os pés na água salgada e, melhor ainda, empreenderam jornadas através dela, participando
de forma direta, em alguns casos, do comércio intercultural, do movimento de ideias religiosas e de outros
tipos ou, de forma não menos significativa, de conflitos navais pelo domínio das rotas oceânicas. [...]
Minha intenção foi descrever as pessoas, processos e eventos que transformaram todo ou grande
parte do Mediterrâneo, mais do que escrever uma série de micro-histórias de suas margens. Por mais
interessante que isso pudesse ser [...].
O Mediterrâneo tal como o conhecemos hoje foi moldado por fenícios, gregos e etruscos na
antiguidade, por genoveses, venezianos e catalães na Idade Média, por armadas holandesas, inglesas
e russas nos séculos anteriores a 1800; de fato há alguma força no argumento de que após 1500, e
certamente após 1850, o Mediterrâneo se tornou cada vez menos importantes nos negócios e no
comércio mundiais mais amplos. Na maioria dos capítulos, concentrei-me em um ou dois lugares que
acredito que expliquem melhor os acontecimentos mais gerais no Mediterrâneo – Troia, Corinto,
Alexandria, Amalfi, Salônica e assim por diante –, mas a ênfase é sempre em suas ligações através do
mar Mediterrâneo e, quando possível em alguns dos povos que efetuaram ou vivenciaram essas
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interações. Um resultado dessa abordagem é que falo menos sobre peixes e pescadores do que alguns
leitores poderiam esperar. A maioria dos peixes passa a vida sob a superfície da água e os pescadores
tendem a deixar um porto, apanhar sua presa (em geral a alguma distância do porto de origem) e voltar
para a base. De um modo geral, eles não têm um destino do outro lado do mar onde farão contato com
outros povos e culturas.
ABULAFIA, David. O Grande Mar: uma história humana do Mediterrâneo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. p. 17-
19.
Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI15) Descrever as dinâmicas de circulação de pessoas, produtos e culturas no Mediterrâneo e
seu significado.
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irônica de Sousândrade e Machado de Assis, faz de Maria Firmina dos Reis uma das mais relevantes
vozes da expressão feminina nos primórdios do século XIX na literatura brasileira.
Esse aspecto já seria suficiente para recolocar em circulação a obra dessa grande autora e
justificar a publicação deste livro; mas é sobretudo pela relevância estética de sua linguagem que os
leitores [...] precisam conhecer seu trabalho. Trata-se, sem dúvida, de uma das mais importantes
escritoras brasileiras de todos os tempos, se não pela complexidade de sua linguagem – como em Adélia
Prado, Cora Coralina, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Francisca Júlia, Julia Lopes de Almeida, entre
tantos nomes –, pela força de sua literatura, que convida sempre à reflexão face a temas polêmicos como
a escravidão, o sexismo e o espaço da mulher em uma sociedade paternalista e escravocrata.
É preciso ter em mente, ainda, que a existência de uma autora como Firmina – mulher, negra e
educada – parece ser uma contradição à representação feminina na literatura produzida no país de
meados do século XIX. O desafio é pensar como uma escritora tão emblemática continua à margem da
tradição literária, mesmo tendo continuamente oferecido “provas de seu talento” ao confrontar, em pleno
século XIX, os limites do etnocentrismo escravocrata e ao problematizar o lugar da mulher e do negro
em sociedade sexista que ainda mantém reflexos vivos no Brasil atual. Nesse sentido, esta publicação é
um importante passo para celebrar essa autora injustiçada pela falta de receptividade do público do qual
foi contemporânea e, ao mesmo tempo, tornar suas publicações acessíveis aos jovens leitores.
PEREIRA, Danglei de Castro. Maria Firmina dos Reis: uma voz em conflito. In: REIS, Maria Firmina
dos. Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018. p. 7-10.
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI04) Discutir a importância da participação da população negra na formação econômica, política
e social do Brasil.
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História mundial: jornadas
do passado ao presente
O mundo pacífico
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GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao presente. Porto
Alegre: Penso, 2011. p. 186.
Habilidades da BNCC
6º ano
(EF07HI06) Comparar as navegações no Atlântico e no Pacífico entre os séculos XIV e XVI.
7º ano
(EF07HI02) Identificar conexões e interações entre as sociedades do Novo Mundo, da Europa, da
África e da Ásia no contexto das navegações e indicar a complexidade e as interações que ocorrem
nos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.
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As egípcias: retratos de
mulheres do Egito faraônico
Christian Jacq
Editora Bertrand Brasil
O excerto a seguir foi escrito por Christian Jacq, historiador francês
especializado no Egito antigo, e faz parte da obra As egípcias: retratos de
mulheres do Egito faraônico.
A volta do medo
A vitória na Segunda Guerra Mundial [...] não gerou qualquer sensação de segurança nos
vencedores. Em fins de 1950, nem os Estados Unidos, nem a Inglaterra e tampouco a União Soviética
podiam considerar que as vidas e os recursos dispendidos para derrotar a Alemanha e o Japão os tinham
tornado mais seguros: os membros da Grande Aliança eram agora adversários na Guerra Fria. Os
interesses afinal eram incompatíveis; as ideologias se conservavam no mínimo tão polarizadas quanto
antes da guerra; temores de um ataque-surpresa continuavam a inquietar os militares de Washington,
Londres e Moscou. Uma competição pelo destino da Europa no pós-guerra agora se estendera à Ásia.
A ditadura de Stalin permanecia tão cruel – e dependente dos expurgos – quanto sempre fora, mas, com
o surgimento do macarthismo nos Estados Unidos e diante de provas irrefutáveis de que houvera
espionagem dos dois lados do Atlântico, não estava mais claro se as democracias ocidentais poderiam
preservar a tolerância com as dissidências e o respeito pelas liberdades civis que as distinguiam dos
ditadores, fossem das variedades fascista e comunista.
“A verdade é que em cada um de nós, bem no fundo, em algum lugar, existe uma pequena dose de
totalitário”, disse Kennan aos estagiários do Nacional War Colige em 1947. “É a luz estimulante da
confiança e da segurança que mantém este gênio do mal submerso [...]. Se desaparecerem a confiança
e a segurança, não pensem que ele não estará́ esperando para substituí-las”. Esse alerta partido do
criador da estratégia da contenção – de que o inimigo a ser contido poderia facilmente estar entre os
beneficiários da liberdade quanto entre seus inimigos – demonstrou o quanto difundiria o medo numa
ordem internacional de pós-guerra na qual se depositavam tantas esperanças. Isso ajuda a explicar por
que o livro 1984 de Orwell se tornou sucesso literário instantâneo quando foi publicado em 1949.
[...]
[Ainda segundo Kennan] Elas retrocedem para além das fronteiras da civilização ocidental, para os
conceitos de guerra em certa época familiares às hordas asiáticas. Realmente não podem se ajustar a
um propósito político voltado para a modelagem e não para a destruição da vida do adversário. Não
conseguem levar em consideração a responsabilidade final do homem pelo seu semelhante e até mesmo
pelos erros e equívocos uns dos outros. Implicam na admissão de que o homem não pode ser, mas é
seu próprio e mais terrível inimigo.
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 44-45.
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI28) Identificar e analisar aspectos da Guerra Fria, seus principais conflitos e as tensões
geopolíticas no interior dos blocos liderados por soviéticos e estadunidenses.
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Sabrina Moehlecke
http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15559.pdf
O trecho a seguir, sobre políticas de ação afirmativa, é parte do artigo Ação afirmativa: história e debates no
Brasil, da socióloga Sabrina Moehlecke.
A origem da expressão
[...] A expressão tem origem nos Estados Unidos, local que ainda hoje se constitui como importante referência
no assunto. Nos anos [19]60, os norte-americanos viviam um momento de reivindicações democráticas internas,
expressas principalmente no movimento pelos direitos civis, cuja bandeira central era a extensão da igualdade
de oportunidades a todos. No período, começam a ser eliminadas as leis segregacionistas vigentes no país, e o
movimento negro surge como uma das principais forças atuantes, com lideranças de projeção nacional, apoiado
por liberais e progressistas brancos, unidos numa ampla defesa de direitos. É nesse contexto que se desenvolve
a ideia de uma ação afirmativa, exigindo que o Estado, para além de garantir leis antissegregacionistas, viesse
também a assumir uma postura ativa para a melhoria das condições da população negra. [...]
Mas a ação afirmativa não ficou restrita aos Estados Unidos. Experiências semelhantes ocorreram em vários
países da Europa Ocidental, na Índia, Malásia, Austrália, Canadá, Nigéria, África do Sul, Argentina, Cuba, dentre
outros. [...]
Habilidades da BNCC
8º ano
(EF08HI20) Identificar e relacionar aspectos das estruturas sociais da atualidade com os legados da escravidão
no Brasil e discutir a importância de ações afirmativas.
9º ano
(EF09HI36) Identificar e discutir as diversidades identitárias e seus significados históricos no início do século
XXI, combatendo qualquer forma de preconceito e violência.
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Arqueologia da Amazônia
Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI05) Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade,
com destaque para os povos indígenas originários e povos africanos, e discutir a natureza e a lógica das
transformações ocorridas.
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Italianos: história e memória
de uma comunidade
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história
local e regional até 1954.
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Miriam Dolhnikoff
Editora Contexto
O livro História do Brasil Império, de Miriam Dolhnikoff, aborda os
momentos decisivos da História do Brasil no período imperial. No
trecho a seguir, a professora da Universidade de São Paulo (USP)
comenta as relações dos cafeicultores paulistas com o movimento
republicano.
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI01) Descrever e contextualizar os principais aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da
emergência da República no Brasil.
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O debate contemporâneo sobre a diversidade e a
diferença nas políticas e pesquisas em educação
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esfera pública. No entanto, [...] o país carece de uma estratégia articulada e orgânica de enfrentamento da
questão. As ações até então desenvolvidas são caracterizadas como fragmentadas, desordenadas e com baixa
resolutividade.
[...] No plano executivo federal, criou-se, ainda em 2003, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
(SPM) e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), reunindo sob seu
domínio um conjunto de ações voltadas para a população afrodescendente, com destaque para a atuação junto
a comunidades quilombolas, no campo da saúde da população negra e também na área do ensino de história e
cultura afro-brasileira nas escolas. No mesmo ano, em 9 de janeiro, foi sancionada a Lei nº 10.639, que altera a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e introduz a obrigatoriedade da temática história e cultura afro-
brasileira na educação básica.
No que diz respeito à educação, em sintonia com as metas e indicações no plano de governo por um tratamento
específico a determinados grupos em situação de discriminação no país, especialmente no que diz respeito ao
acesso e à permanência na educação, criou-se em 2004, na estrutura do Ministério da Educação, a Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD).
A SECAD foi construída com a perspectiva de contribuir para essa mudança na política pública: conseguir
compatibilizar o conteúdo universal da educação com o conteúdo particularista e diferencialista de ações
afirmativas para grupos, regiões e recortes específicos; dar conta, portanto, de colocar no centro da política
pública em educação o valor das diferenças e da diversidade, com seus conteúdos étnico-racial, geracional, de
pessoas com deficiência, de gênero, de orientação sexual, regional, religioso, cultural e ambiental.
[...]
A criação da SECAD provocou uma alteração institucional no tratamento da diversidade; tal alteração, porém, foi
restrita, já que os programas de grande impacto no que diz respeito à dimensão de atendimento e orçamento
permaneceram indiferentes, com exceção do Programa Universidade para Todos [PROUNI], que inseriu o recorte
étnico-racial na oferta de bolsas para o ensino superior.
Ainda que a criação da SECAD tenha contribuído para a institucionalização de temáticas que até então não eram
abordadas na formulação de políticas de educação, notou-se que as compreensões de diversidade ainda são
múltiplas e alternam-se de acordo com as Secretarias envolvidas nas formulações dos programas. Em
consonância com a avaliação de Moehlecke (2009), a SECAD, diante dos objetivos que lhe foram atribuídos e
das pessoas escolhidas para dirigir cada uma de suas coordenações, com fortes vínculos com os movimentos
sociais das áreas com as quais trabalham, foi a Secretaria que explicitou mais claramente o entendimento da
diversidade a partir de uma visão crítica das políticas de diferença. A SESU, por trabalhar especificamente com
o ensino superior, reforçou em seus programas a ideia de diversidade como política de inclusão e/ou ação
afirmativa. Já a SEB [Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação], que tem como atribuição
formular políticas para toda a educação básica, trabalha em seus documentos e programas principalmente com
a ideia de inclusão social e de diferença como valorização e tolerância à diversidade cultural.
O MEC [Ministério da Educação] não tem uma posição única e coesa acerca da ideia de diversidade que possa
orientar o conjunto de suas ações. A ideia de diversidade tem servido como um grande conceito guarda-chuva
para o governo nos vários processos de negociação com os grupos de pressão.
Assim como nas discussões teóricas que realizamos sobre diversidade, a multiplicidade de apropriações da
diversidade expressa as disputas internas e externas ao governo pela definição de projetos educacionais. Essa
disputa tornou-se evidente quando incluímos na análise a destinação orçamentária [...] para tais programas e
ações; nos anos de 2005 e 2006, o orçamento para essas políticas foi de menos de 1% em relação ao orçamento
total do MEC.
No ano de 2005, o orçamento da diversidade representava 0,7% do total do orçamento do MEC. Já em 2006,
essa participação passou para 0,75%. Tal evolução representa um aumento de 7% na participação do orçamento
da diversidade em relação ao orçamento do MEC. Porém, a porcentagem de participação apresentada enseja
uma reflexão noutro sentido. Uma participação de apenas 0,75% sinaliza um valor insignificante em termos
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orçamentários. As temáticas que pretendem ser contempladas no amplo espectro que se denominou diversidade
têm uma participação ínfima em relação ao total do orçamento do MEC: menos de 1%. Isso significa que as
questões relativas à diversidade permanecem sem financiamento efetivo para reverter qualquer lógica. Estão
contidas apenas em um âmbito discursivo e abstrato de cultura/diversidade/diferença.
Por fim, cabe uma análise da dotação orçamentária no ano inicial e no ano final do primeiro Governo Lula. Vale
a pena ressaltar que o primeiro ano ainda representa reflexo do Governo FHC, pois a Lei Orçamentária Anual
(LOA) foi feita no Governo anterior. Os dados a seguir demonstram qual foi a variação de 2003 a 2006, em termos
reais, do orçamento total do MEC e do orçamento da diversidade.
Participação do orçamento da diversidade em relação ao orçamento do MEC
2003 0,27%
2006 0,75%
Enquanto o orçamento do MEC apresentou uma queda de 2,7% em termos reais, o orçamento da diversidade
cresceu 268,7%. Isso demonstra uma mudança de intenção no tratamento da questão da diversidade de um
governo para o outro, algo que se esperava em relação ao governo Lula, o qual foi construído com relações
estreitas com os movimentos sociais que reivindicavam incremento das políticas públicas voltadas para a questão
da diversidade.
Apesar de uma variedade sem precedentes de programas dirigidos ao enfrentamento dos problemas decorrentes
do racismo e direcionados para a diversidade, em termos gerais, pode-se afirmar que faltaram coordenação
interministerial, coerência e comunicação entre os programas, e que as responsabilidades acabaram
encapsuladas na SECAD, na SEPPIR e na SPM. A defesa da diversidade e a luta pela igualdade racial passaram
a fazer parte da retórica do governo, mas ainda não foram, efetivamente, elevadas ao status de política de Estado.
Análise semelhante é apresentada por Almeida (2011) no que diz respeito à política nacional de direitos humanos.
Segundo o autor, ocorreu um esvaziamento do tema na esfera pública, associado ao predomínio de uma visão
economicista de gestão.
Uma das principais apostas era quanto à inserção das 500 ações previstas no II Plano Nacional de Direitos
Humanos em metas definidas no orçamento federal. Mas o que as análises de acompanhamento demonstraram
é que, na revisão do Plano Plurianual 2004-2007, sem consulta aos atores civis, o governo revisou sua política
geral, suprimindo 30 programas dos 87 voltados para a proteção dos direitos humanos. Dos 57 programas
mantidos, 17 tiveram menos de 10% da execução dos recursos previstos.
Por fim, é necessário ressaltar que os avanços e as mudanças empreendidas no período analisado não podem
ser desconsiderados, especialmente porque se trata de uma política em movimento e porque a análise de um
processo que estamos vivenciando impossibilita uma leitura e uma avaliação com distanciamento.
Um dos principais pontos positivos no processo que denominamos ascensão da diversidade foi a abertura à
possibilidade de participação de grupos que até então não participavam da cena pública, bem como a pressão
que tais grupos exercem em prol de outros estilos, critérios e políticas na construção de outro Estado.
RODRIGUES, Tatiane Consentino; ABRAMOWICZ, Anete. O debate contemporâneo sobre a diversidade e a
diferença nas políticas e pesquisas em educação. Educação e Pesquisa., São Paulo, v. 39, n. 1, jan./mar.
2013. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022013000100002.
Acesso em: 25 jul. 2019.
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI36) Identificar e discutir as diversidades identitárias e seus significados históricos no início do século
XXI, combatendo qualquer forma de preconceito e violência.
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Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI16) Caracterizar e comparar as dinâmicas de abastecimento e as formas de organização do trabalho e da vida social
em diferentes sociedades e períodos, com destaque para as relações entre senhores e servos.
48
37
História da África
O Antigo Mali
O antigo Mali foi criado por diversos povos aparentados que viviam na
região situada entre o rio Senegal e o rio Níger. Os mais importantes
deles eram conhecidos como os mandingas (ou malinquês, ou
manden). É provável que eles tenham conhecido o islã no século XI. A partir de 1150, começam a surgir notícias
muito vagas sobre alguns de seus governantes que realizaram a peregrinação a Meca, como ocorreu com
Djigui Bilali (1175-1200), Mussa Keita e Naré Famaghan (1218-1230). O filho desse último, Sundjata Keita
(1230-1255), estendeu a influência do Mali às unidades políticas menores da vizinhança, lançando as bases de
um Estado unificado que se manteria hegemônico até a metade do século XV.
A hegemonia do Mali se estendia por toda a África Ocidental e se devia a diversos fatores:
• do ponto de vista militar, controlava um poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros;
• do ponto de vista econômico, controlava as áreas de extração do ouro, que lhe garantiu posição de destaque na circulação
das caravanas transaarianas;
• do ponto de vista político, criou e manteve uma estrutura administrativa eficiente, com representantes nas áreas sob
domínio mandinga, chamados farba, e jurisconsultos e homens da lei, chamados cadi.
Integrado por diversos povos além dos mandingas, como os soninkês, fulas, dogons, sossos e bozos, o Mali
evoluiu para uma condição que o aproximava de um império, na medida em que exercia sua hegemonia,
impondo-se militarmente, e extraía tributos dos povos vencidos. Era constituído de núcleos distintos de tribos,
chefaturas e pequenos reinos locais. Havia duas categorias de províncias: as aliadas, cujos chefes
conservavam seus títulos (caso de Gana e Nima) e as conquistadas, em que, aos lados dos chefes tradicionais,
era destacado um representante direto do mansa.
O controle era, direta ou indiretamente, estabelecido por um poder central, representado na figura do
governante, designado pelo termo mansa. Este era tido como o líder supremo, o executor das decisões
coletivas e o aplicador da justiça. Residia na cidade de Niani, situada ao norte da atual República da Guiné.
O mansa era o representante máximo dos costumes ancestrais da comunidade, e mesmo que em sua corte
alguns tivessem adotado a crença muçulmana, a população continuava a praticar seus ritos e cultos
tradicionais, politeístas. Havia na corte espaço para os eruditos das mesquitas, conhecedores do Corão e da
lei corânica, e espaço para os djeli, ou griôs, os conhecedores e transmissores dos costumes seculares próprios
das populações locais.
O apogeu da Dinastia Keita ocorreu durante o século XVI, no governo de Kankan Mussa (1307-1332). Ele
consolidou as bases administrativas nos domínios já existentes e ampliou a área de influência do “império”,
49
com o apoio de tropas disciplinadas de ocupação. Seguidor do Corão, mansa Mussa cumpriu a obrigação da
peregrinação a Meca em 1324-1325, transformando o evento numa estratégia de afirmação de poder ao
divulgar no exterior a importância de seu Estado. Percebera o isolamento do Mali, sua posição marginal frente
ao mundo islâmico, e procurou dar-lhe maior visibilidade e ampliar sua rede de contatos comerciais e culturais.
No retorno da peregrinação, mansa Mussa trouxe sábios, poetas e conhecedores da lei muçulmana para
ensinar nas madrassas, isto é, as escolas corânicas, sobretudo nas cidades de Tombuctu e Djenné. Mandou
erguer edifícios religiosos e palácios, inaugurando o estilo de arquitetura sudanesa que se mantém até a
atualidade. As construções, feitas com argila, têm portas e aberturas decoradas com motivos de inspiração
muçulmana, com arabescos deslumbrantes. Um dos mais belos templos construídos neste estilo, a Grande
Mesqutsa de Djenne, foi classificado pela Unesco como patrimônio histórico da humanidade. [...]
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2015. p. 55-57.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da
chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes
e técnicas.
50
38
Os índios na História do Brasil no século XIX: da
invisibilidade ao protagonismo
Maria Regina Celestino de Almeidahttps://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/download/39/29
51
las, comungavam, grosso modo, com as ideias de assimilar os índios e transformá-los em eficientes cidadãos
do novo Império. Seus discursos e representações eram coerentes com a política indigenista do século XIX. [...]
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na História do Brasil no século XIX: da invisibilidade ao protagonismo.
Revista História Hoje, v. 1, n. 2, p. 24, 27-29, 2012. Disponível em:https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/download/39/29. Acesso
em: 25 jul. 2019.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI27) Identificar as tensões e os significados dos discursos civilizatórios, avaliando seus impactos
negativos para os povos indígenas originários e as populações negras nas Américas.
52
39
Sambaqui: arqueologia
do litoral brasileiro
Madu Gaspar
Editora Jorge Zahar
O livro Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro, de Maria Dulce Barcellos
Gaspar de Oliveira, é um excelente trabalho sobre estes vestígios
arqueológicos que explicam tanto do passado destas terras que vieram a ser
o Brasil. A autora, também conhecida como Madu Gaspar, é professora do
Departamento de Antropologia do Museu Nacional, vinculado à Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No trecho destacado, uma discussão
sobre nomadismo ou sedentarismo dos povos sambaquieiros.
Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI05) Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com
destaque para os povos indígenas originários e povos africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações
ocorridas.
53
40
Dicionário do Brasil
Imperial (1822-1889)
Ronaldo Vainfas (Org.)
Editora Objetiva
A legislação que permitia fazer guerra aos indígenas e aprisioná-los
vinha dos tempos coloniais. E foi com base nela que o rei D. João
moveu guerra contra os botocudos no Vale do Rio Doce (atual
Espírito Santo) e nos campos de Guarapuava (atual Paraná). Além
disso, o próprio D. João autorizou guerras contra os “bugres” de São
Paulo e de Minas Gerais, além da escravização dos vencidos. Essa
legislação durou de 1808 a 1831 quando foi revogada pelo padre
Diogo Antônio Feijó. O excerto a seguir, que pertence à
obra Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889), organizada pelo
historiador Ronaldo Vainfas, apresenta as políticas do Império
brasileiro voltadas à população indígena.
54
41
A Revolução Francesa
explicada à minha neta
Michel Vovelle
Editora Unesp
O trecho a seguir pertence à obra A Revolução Francesa explicada
à minha neta, escrita pelo historiador francês Michel Vovelle.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI04) Identificar e relacionar os processos da Revolução Francesa e seus desdobramentos na
Europa e no mundo.
55
42
A Idade Média: nascimento
do ocidente
Senhorio e feudo
56
43
A mulher na Idade
Média
José Rivair Macedo
Editora Contexto
O trecho a seguir foi escrito por José Rivair Macedo e pertence à obra A
mulher na Idade Média.
Habilidade da BNCC
6ª ano
(EF06HI19) Descrever e analisar os diferentes papéis sociais das mulheres no mundo antigo e nas sociedades medievais.
57
44
Renascimentos: um ou muitos?
Jack Goody
Editora Unesp
O trecho a seguir pertence ao livro Renascimentos: um ou muitos?, escrito por
Jack Goody – antropólogo britânico e professor da Universidade de Cambridge.
Habilidades da BNCC
7º ano
(EF07HI01) Explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão, com base em uma concepção
europeia.
(EF07HI04) Identificar as principais características dos Humanismos e dos Renascimentos e analisar seus significados.
59
45
História da África
60
Essas criações da civilização de Mok são os testemunhos mais recuados da autonomia e originalidade
das civilizações da África negra, que, como se vê, são o resultado de um legado milenar das
comunidades neolíticas.
Muito antes, no decorrer do quarto milênio a.C., devido ao processo de desertificação do Saara, o
empobrecimento da vegetação forçou grupos humanos e animais a procurar subsistência em locais que
oferecessem melhores condições de subsistência.
Por volta de 3.500, a região de Tichitt-Walata atraía comunidades neolíticas devido às suas fontes de
água. Foi então que o Nilo ganhou o prodigioso valor econômico que conserva até hoje, atraindo as
populações que dariam origem ao Egito, a mais antiga e a mais importante civilização africana. [...]
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2015. p. 18-20.
Habilidade da BNCC
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes
da chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de
saberes e técnicas.
61
46
História medieval
Igreja e sociedade
A principal característica do período medieval é a identificação da Igreja com o
conjunto da sociedade. Isso ocorreu antes mesmo que ela se afirmasse como
instituição hierárquica centralizada (a chamada monarquia papal, que se
constituiu a partir do final do século XI) e foi o resultado da cristianização das
populações da bacia do Mediterrâneo e, em seguida, da Germânia, da Gália, das
ilhas Britânicas e da Escandinávia. Por meio de suas normas, seus dogmas e
seus ritos, a Igreja forjou alguns dos principais traços das sociedades europeias
a partir do século IV. É ocaso da divisão do espaço em paróquias e em dioceses,
da organização do tempo ritmado pelas festas litúrgicas, da crença no poder das
relíquias e nos milagres dos santos, dos ritos que marcavam as diversas etapas
da vida e da morte de um indivíduo (batismo, casamento, extrema-unção) ou, ainda, dos ritos e das cerimônias que
ajudavam a assegurar a legitimidade das autoridades políticas (juramentos sobre relíquias, unções e sagrações reais),
para citar apenas alguns exemplos.
Um dos melhores indícios da abrangência da Igreja no período medieval é o fato de que a exclusão de seu interior
equivalia, para aqueles que a sofriam, a uma exclusão da vida social. Isso ocorria através da excomunhão ou de sua
forma mais extrema, utilizada contra os heréticos e contra aqueles que cometiam faltas graves: o anátema, uma
expulsão acompanhada de maldição. [...] Se a excomunhão era uma forma de exclusão, o batismo marcava a inclusão
– voluntária ou involuntária – dos indivíduos à sociedade cristã, criando relações de parentesco artificiais entre os
batizados e seus padrinhos e, também, entre os batizados e a comunidade, ou seja, a própria Igreja. O batismo era,
grosso modo, a condição para que os indivíduos pudessem desfrutar de direitos, tais como a vida em comunidade, a
participação em cerimônias públicas, o acesso a funções administrativas etc. [...]
A Igreja medieval
O termo “ecclesia” (Igreja) aparece em vários textos no Ocidente, a partir do século IX, para designar a comunidade de
todos os cristãos. Isso mostra a emergência, à época carolíngia, da ideia de que o conjunto de adeptos da fé cristã,
quer vivessem na Irlanda, na Itália, na península ibérica ou na Germânia, constituíam um mesmo grupo, a Cristandade.
Os cristãos do Oriente também faziam parte dessa comunidade, muito embora as diferenças doutrinais e políticas,
acirradas com o iconoclasmo (a condenação, por parte da Igreja do Oriente, da adoração de imagens) e as cruzadas,
tenham provocado uma cisão definitiva entre a Cristandade Ocidental e a Cristandade Oriental. Ambas se
desenvolveram de modo distinto ao longo do período medieval, a começar pelo fato de que o chefe da Igreja do Oriente,
o patriarca de Constantinopla, jamais reivindicou uma supremacia espiritual e temporal sobre a Cristandade, ao contrário
do bispo de Roma. [...]
SILVA, Marcelo Cândido da. História medieval. São Paulo: Contexto, 2019. p. 81-84.
Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI18) Analisar o papel da religião cristã na cultura e nos modos de organização social no período medieval.
62
47
Ensino de História
Kátia Maria Abud, André Chaves de Melo Silva e Ronaldo Cardoso Alves
Editora Cengage Learning
O excerto a seguir pertence à importante obra Ensino de História, dos
pesquisadores Kátia Maria Abud, André Chaves de Melo Silva e Ronaldo
Cardoso Alves.
• 4. Descrição do documento: essa etapa tem como objetivo extrair informações do texto que poderão
indicar com qual finalidade foi compilado. Assim, várias questões devem ser feitas em relação ao
documento:
o Qual é o assunto central?
o Quais frases ou palavras sintetizam sua intenção?
o Quais necessidades ou possibilidades de solução de um problema são apresentadas ao leitor?
o Ocorre defesa ou crítica a alguém (pessoa, grupo social, instituição)?
63
o Com quais argumentos? Quais as razões utilizadas para construir essa opção? Em que está embasada tal
argumentação?
[...]
• 5. Interpretação: após a execução das etapas anteriores, os alunos perceberão que nem sempre é possível
extrair todos os dados do documento para que esse possa ser interpretado na sua totalidade. Dessa forma,
hipóteses podem ser levantadas e discutida em sala de aula. Cruzamento de informações entre diferentes
fontes de um mesmo período pesquisado pode auxiliar um aluno ou todo o grupo a chegar a uma
interpretação mais consistente. É importante levar em consideração que o documento não foi criado com a
intenção de deixar o material de pesquisa para os historiadores, mas para satisfazer as necessidades da
época. Outro fator relevante é que usamos “lentes diferentes” para realizar a interpretação – condicionantes
políticos, sociais, econômicos e culturais influenciam nos parâmetros que norteiam nossa análise (nem o
documento nem o historiador são neutros, o que se aplica também ao professor e a seus alunos).
ABUD, Kátia Maria; SILVA, André Chaves de Melo; ALVES, Ronaldo Cardoso. Ensino de História. São
Paulo: Cengage Learning, 2013. p. 16-19.
64
48
65
Mas não só. Além do porco e dos produtos derivados do leite, na região havia muitos carneiros. Eles
cresciam livremente: nem tinham cães pastores a protegê-los. Ao longo do rio, restos de velhos garimpos
lembravam tempos passados. O médico e botânico inglês, George Gardner, que percorreu a região no
final dos anos de 1830, considerava a província de Minas Gerais não só das maiores, como das mais
ricas do Brasil em recursos naturais.
DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente brasileira. Volume 2: Império. São Paulo: LeYa, 2016. p. 67-
68.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI12) Caracterizar a organização política e social no Brasil desde a chegada da Corte
portuguesa, em 1808, até 1822 e seus desdobramentos para a história política brasileira.
66
49
Cinco visões sobre os 130 anos da abolição
Beatriz Maia
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/05/14/cinco-visoes-sobre-os-130-anos-da-abolicao
O trecho a seguir pertence à publicação do Jornal da Unicamp e foi escrito pela jornalista Beatriz Maia em
entrevista com alguns historiadores a respeito dos 130 anos da abolição da escravidão no Brasil.
Sancionada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea – oficialmente Lei Imperial 3.353 –, aboliu
a escravidão depois de mais de três séculos de trabalho forçado no Brasil. Em maio de 2018, marco dos 130
anos da assinatura do documento, o Jornal da Unicamp entrevistou [...] historiadores que realizaram suas
pesquisas de doutorado junto ao Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult) da Universidade.
[...]
Protagonismo negro
Para a historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, professora da Universidade de Brasília (UnB), o 13 de maio
tem desencadeado intensas disputas de narrativas ao longo do tempo. Se, por um lado, o fim da legalidade da
escravidão é um marco importante, por outro, a fragilidade crônica da cidadania para pessoas negras, já bem
antes da abolição, faz com que as reflexões em torno da data não possam ser feitas em tom de simples
comemorações. “O preconceito de cor, [...] o racismo, têm figurado como elemento estruturante da sociabilidade
brasileira e da formação de suas instituições”, defende.
A historiadora argumenta que o Brasil é um país em que a experiência de nacionalidade foi encaminhada
mediante esforços sucessivos de subalternização e da negação das possibilidades de acesso aos direitos de
mulheres e homens negros. Se por muito tempo se tentou negar as heranças nefastas do passado escravista
de nossa sociedade, vivemos um momento da afirmação na produção acadêmica do protagonismo negro na
luta pela liberdade, em contraponto à versão hegemonizada do 13 de maio como concessão imperial. “Uma
conquista importante tem sido alcançada mediante os resultados de pesquisas que estabelecem diálogos com
o passado em outros termos. Entre essas novas possibilidades, destacam-se os estudos sobre liberdade e pós-
abolição”, afirma.
Ana Flávia retoma a participação importante de abolicionistas negros nas discussões do final do século XIX,
que formularam projetos para o fim da escravidão e se posicionaram sobre as possibilidades de universalização
da cidadania para todos os brasileiros. Figuras como Ferreira de Menezes, Luiz Gama, Machado de Assis, José
do Patrocínio, Vicente de Souza, André Rebouças, entre tantos outros, refletiram a respeito das experiências
da racialização e do racismo, e questionaram a viabilidade e a legitimidade de projetos de nação formulados
pelas elites nacionais. “Essas informações são bastante relevantes no atual cenário, sobretudo para que
possamos questionar a ideia de invisibilidade e ausência de homens e mulheres negras nas lutas políticas e
institucionalizadas pelo fim da escravidão e outras agendas da cidadania no Brasil. O fato de projetos
conservadores terem prevalecido sobre outros não pode ser entendido como a inexistência de outras
possibilidades e dos sujeitos que a elas se dedicaram”, completa.
[...]
A capilaridade do racismo
Professora do departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Joseli Maria Nunes
Mendonça defende que a data deva ser sempre comemorada. “O fato de a escravidão não ser mais uma
instituição legalmente aceita em nossa sociedade não é pouca coisa”, afirma. Para ela, ainda que a abolição
67
tenha resultado de muitas lutas travadas também pela própria população escravizada, o processo não se
encerrou com a sanção da lei.
A professora destaca o combate às situações de trabalho análogas à escravidão, ainda bastante frequentes no
país, e ao racismo que, em sua visão, passou a ser o principal instrumento de segregação da população negra,
quando a escravidão deixa de ser a condição pela qual a discriminação se efetiva.
Para a historiadora, as pesquisas historiográficas já mostraram que a liberdade conquistada pelos negros e
negras significou a possibilidade de realizar escolhas básicas para o cidadão: qual trabalho realizar, reivindicar
contrapartidas justas pelo trabalho, recompor famílias separadas pelas transações de venda na escravidão,
frequentar escolas, se organizar por meio de associações, se expressar em locais públicos, dentre outras. No
entanto, as expectativas por autonomia e por direitos foram duramente confrontadas por uma parte da
sociedade, que se beneficiava da ausência de políticas públicas e das medidas repressivas contra a população
negra.
Joseli refuta o argumento das “heranças da escravidão”, e atribui o racismo dos tempos atuais
fundamentalmente às políticas instauradas após a abolição. Para ela, isso se constata facilmente na força da
oposição que as políticas afirmativas de reparação étnico-raciais recebem dos grupos que se pretendem
hegemônicos. “Esse processo histórico instituiu o racismo como uma praga que tem em nossa sociedade uma
capilaridade inimaginável. Ele é resultado de injustiças reiteradas caprichosa e perniciosamente nesses 130
anos que nos distanciam da abolição”, arremata.
MAIA, Beatriz. Cinco visões sobre os 130 anos da abolição. Jornal da Unicamp, 14 maio 2018. Disponível
em: . Acesso em: 25 jul. 2019.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI20) Identificar e relacionar aspectos das estruturas sociais da atualidade com os legados da
escravidão no Brasil e discutir a importância de ações afirmativas.
68
50
[...] Foi também na década de 1970 que os militantes negros passaram a conceber uma melhor
articulação de suas ações numa entidade nacional. Com tal fim, surgiu a 7 de julho de 1978 o Movimento
Negro Unificado Contra a Discriminação Racial. Naquele dia, um ato público reuniu centenas de pessoas
em frente ao Teatro Municipal de São Paulo para denunciar a discriminação sofrida por quatro atletas
negros nas dependências do Clube Regatas Tietê, e a tortura e assassinato numa delegacia de outro
jovem negro, Robson Silveira da Luz. A manifestação popular teve grande impacto nos rumos da política
negra. [...]
A formação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que depois passou a se
intitular apenas Movimento Negro Unificado (MNU), contestava a ideia de que se vivia uma democracia
racial brasileira [...].
A militância negra brasileira foi fortemente influenciada pela trajetória das organizações negras norte-
americanas em defesa dos direitos civis e especialmente do movimento Black Power.
Um destaque deve ser dado ao movimento de mulheres negras, que surgiu da percepção de que existem
especificidades na forma como mulheres e homens sofrem a discriminação racial. Lélia Gonzalez, uma
das mais importantes ativistas negras nas décadas de 1970 e 80, foi uma das primeiras a chamar a
atenção para a importância da organização das mulheres negras. Em 1988, foi criado em São Paulo o
Geledés, uma organização política que tem como propósito o combate ao racismo e a valorização das
mulheres negras. [...]
A mobilização das comunidades remanescentes de quilombos é uma das principais novidades do
movimento negro contemporâneo. E aqui o sentido de quilombo engloba não apenas as comunidades
formadas originalmente por escravos fugitivos, mas também as que surgiram da ocupação das terras de
antigas fazendas escravistas, de terras devolutas e das doações de terras feitas a ex-escravos. A grande
vitória do movimento foi inserir na Constituição Federal o Artigo 68 das Disposições Transitórias, que diz:
“aos remanescentes das comunidades dos Quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida
a propriedade definitiva devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
Assim, os negros vêm se mobilizando em várias frentes nas últimas décadas. Pressionados por essa
mobilização, alguns partidos políticos (de esquerda, e mais tarde mesmo os de direita), segmentos da
Igreja Católica e sindicatos começaram a rever suas convicções sobre o tema racial. [...]
69
Enfim, o esforço dos grupos do movimento negro em todo país promoveu mudanças importantes na
mentalidade dos brasileiros, sobretudo dos negros. Uma das grandes conquistas do movimento negro
foi conscientizar uma grande parte da sociedade brasileira em relação à questão racial e convencer o
governo a abandonar sua passividade conivente diante das desigualdades raciais.
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Water. Uma história do negro no Brasil. Salvador:
Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. p. 287-294.
Habilidades da BNCC
9º ano
(EF09HI03) Identificar os mecanismos de inserção dos negros na sociedade brasileira pós-abolição e
avaliar os seus resultados.
(EF09HI04) Discutir a importância da participação da população negra na formação econômica, política
e social do Brasil.
70
51
O tempo da Nova República: da
transição democrática à crise
política de 2016: Quinta República
(1985-2016)
71
como suas principais fontes de informação sobre a política as conversas com os familiares, os programas de
televisão e o HPEG [...].
Em 1989, havia no Brasil cinco grandes redes nacionais de TV – Rede Globo, cuja audiência quase
monopolística girava em torno de 60% a 80%, Rede Bandeirantes, TVE, Rede Manchete e SBT. Todas se
engajaram intensamente nas eleições, dedicando um tempo considerável de seus programas jornalísticos à
disputa presidencial. Também promoveram seguidos debates com os candidatos, dos quais participaram os
dez mais bem colocados nas pesquisas de opinião – com exceção de Fernando Collor, que não aceitou
participar. No segundo turno, Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT se uniram para organizar dois debates,
nos dias 3 e 14 de dezembro, com a presença de Fernando Collor e Lula.
Essa centralidade da TV e do rádio na campanha eleitoral impôs novas exigências para os candidatos e os
partidos. O Brasil tornara-se uma das “maiores democracias midiatizadas do mundo” [...], o que significava
que as chances de sucesso eleitoral de um político ligavam-se à sua capacidade de se adaptar e se destacar
na linguagem midiática. Nesse novo cenário, alguns políticos tradicionais, como UIysses Guimarães e
Aureliano Chaves, foram ultrapassados por indivíduos mais jovens e com menos recursos partidários, porém
com maior habilidade diante das câmeras. Por outro lado, era indispensável contratar equipes especializadas
na produção de programas audiovisuais que fossem capazes de fazer o candidato “falar” aos milhões de
eleitores urbanos, jovens e pobres profundamente insatisfeitos com o cenário econômico e político brasileiro.
FREIRE, Américo; CARVALHO, Alessandra. As eleições de 1989 e a democracia brasileira: atores, processos
e prognósticos. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org.). O tempo da Nova
República: da transição democrática à crise política de 2016: Quinta República (1985-2016). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2018. p. 132-134. (O Brasil Republicano, v. 5).
Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI33) Analisar as transformações nas relações políticas locais e globais geradas pelo
desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação.
72
52
Brasil, amor à primeira vista! Viagem
ambiental no Brasil do século XVI ao
XXI
Sandra Marcondes
Editora Peirópolis
O trecho a seguir pertence ao livro Brasil, amor à primeira vista! Viagem
ambiental no Brasil do século XVI ao XXI, escrito pela professora Sandra
Amaral Marcondes.
Foi na região do Vale do Paraíba que o café encontrou seu habitat, por causa das terras virgens e clima
favorável para seu cultivo. Foi o local onde se reuniram as condições para a primeira grande expansão
comercial do café. Em 1830, a cultura do café era a principal atividade dessa região. Em 1859, a província do
Rio de Janeiro era responsável por 78,4% da produção brasileira, seguida por São Paulo, com 12,9%, e Minas,
com 7,8%. A partir de 1880, São Paulo tornou-se o maior produtos brasileiro de café.
O vale, cuja paisagem transformou-se por tantos cafezais, era coberto por extensas intricadas matas. As águas
do Rio Paraíba eram puras e a vegetação nas morrarias, espessas e selvagem. Até a penetração do café, a
região permaneceu intocada. A floresta, com todo o seu mistério, o colorido e beleza, fascinou os viajantes do
século XIX.
[...]
73
As queimadas, feitas de forma descuidada, espalhavam-se pelas fazendas vizinhas. O agrônomo francês M.
R. Lesé, testemunha do final do século XIX, observou situações em que, para cada hectare que se pretendia
abrir para a lavoura, de cinco a dez eram destruídos pelo fogo descontrolado. A cidade do Rio de Janeiro “ficava
ocupada pelo ‘esfumaçado’, como então se denominava a expansão pelos ventos da fumaça das queimadas.
Em 1840, as plantações das matas cariocas entravam em declínio, pois os cafezais haviam sido plantados nas
“abas íngremes da serra de Tijuca” e a erosão se encarregava de fazer seus estragos e promover decadência.
Após aproximadamente quarenta e cinco anos, o futuro da lavoura fluminense era considerado sombrio por
causa das condições de seus solos escarpados. Não há dúvidas de que uma das causas do declínio da
cafeicultura fluminense (e também da espírito-santense), foi a erosão.
“As enxurradas tropicais despencados morro abaixo, pelas íngremes encostas dos cafezais, procuravam a linha
das covas dos cafeeiros, onde a terra apresentava depressões, deixando as raízes ‘expostas ao sol’. “Rodrigues
Cunha, em Arte da cultura, escreve: “observei um cafezal na encosta do morro depois de uma chuva abundante
e contínua, vereis um triste espetáculo”. [...].
A exuberante floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi sendo substituída pelos extensos plantios, de café. Tal
fato gerou um colapso no sistema de abastecimento de água potável, uma vez que os rios que abasteciam a
cidade, especialmente o Carioca e o Paineiras, perderam a cobertura vegetal que protegia suas nascentes. Por
orientação do Ministério da Agricultura, em 1865, alguns terrenos localizados ao redor das nascentes
começaram a ser desapropriados para que fossem reflorestados. Em 11 de dezembro de 1861, dom Pedro II
aprovou o documento “Instruções Provisórias”, pelo qual mandava efetuar o plantio e a conservação das
florestas da Tijuca e das Palmeiras.
MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI.
São Paulo: Peirópolis, 2005. p. 83-86.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI15) Identificar e analisar o equilíbrio das forças e os sujeitos envolvidos nas disputas políticas durante
o Primeiro e o Segundo Reinado.
74
53
Dicionário da escravidão e
liberdade: 50 textos críticos
Africanos Centrais
Aproximadamente 51% dos 10,5 milhões de africanos escravizados que chegaram vivos às Américas entre 1501
e o fim do tráfico em 1866 eram da África Central: 47% da parte ocidental dessa região e 4% da parte oriental. A
cifra correspondente para os 4,9 milhões desembarcados no Brasil é 76% respectivamente 70% e 6% das duas
sub-regiões. [...]
Os centro-africanos (mormente jovens adultos, bem mais homens do que mulheres) formaram 74% dos cativos
desembarcados nas Américas nas décadas iniciais do comércio atlântico (1501-1650). A cifra caiu a 43% de
1651 a 1725 e 45% de 1726 a 1825, aumentando para 72% entre 1826 e 1866. [...]
[...] Falavam, quase todos, línguas bantu. Eram descendentes de migrantes que saíram dos Camarões cerca de
5 mil atrás, espalhando-se ao sul e a leste, com o tempo absorvendo a maioria dos povos autóctones esparsos.
Além desse parentesco linguístico, a África Centro-Ocidental é reconhecida na bibliografia especializada como
uma área cultural una: uma região em que as diversidades culturais refletiam adaptações criativas às
contingências históricas, a partir dos mesmos princípios cosmológicos e visões do bem social.
A conclusão fica mais forte se olharmos apenas os povos mais duramente atingidos pelo comércio de escravos:
os do grupo linguístico que inclui kikongo (falado pelos kongo, nos dois lados do baixo rio Zaire) e os da família
de línguas da savana ocidental, área mais ou menos correspondente à atual Angola, que inclui kimbundu e
umbundu (falados pelos umbundu e ovimbundu, respectivamente nas hinterlândias de Luanda e Banguela). Os
dois grupos se originaram numa corrente de expansão migratória e de integração com autóctones que atravessou
a floresta tropical ao sul dos Camarões. Estima-se que tenham divergido de um a língua ancestral comum entre
2 mil e 3 mil anos atrás.
Soma-se a isso a confirmação de que a família de línguas a savana oriental, além da fronteira leste da Angola,
tem a mesma origem: não provém de expansões bantu mais antigas que entraram nessa savana vindas do
nordeste. Enfim, parte significativa dos cativos embarcados pela costa leste (sobretudo dos portos de
Moçambique) falam línguas – e tinham culturas – bem mais próximas historicamente às de outros grupos aqui
mencionados.
SLENES, Robert W. Africanos Centrais. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos
(Orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p.
64-66.
Habilidade da BNCC
75
7º ano
(EF07HI16) Analisar os mecanismos e as dinâmicas de comércio de escravizados em suas diferentes fases,
identificando os agentes responsáveis pelo tráfico e as regiões e zonas africanas de procedência dos
escravizados.
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Lilia
Moritz
Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos
críticos
Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes (Orgs.)
Editora Companhia das Letras
O excerto a seguir foi escrito pelo professor Luis Nicolau Parés e pertence à obra Dicionário da escravidão e liberdade,
organizada por Lilia Moritz Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes.
Africanos Ocidentais
Com a expressão genérica “africanos ocidentais” designam-se aqueles indivíduos originários da região África Ocidental,
cujo litoral se estende do rio Senegal (no atual Senegal) até o cabo Lopez, na linha do equador (no atual Gabão). Na longa
história do tráfico atlântico de escravos para o Brasil, que durou de 1550 a 1850, os cativos trazidos dessa extensa região
constituíram aproximadamente 25% do total desembarcado no país. Os três quartos restantes (75%) vieram da África
Centro-Ocidental (Congo-Angola) e da costa leste (Moçambique). Estudos históricos recentes estimam que chegaram ao
Brasil em torno de 1,2 milhão de africanos ocidentais, entre homens, mulheres e crianças. Contudo, o número real foi bem
maior, pois, além das viagens de navios negreiros não documentadas, houve muitos escravizados, sobretudo no período
do tráfico ilegal, no século XIX, que, para escapar ao controle das autoridades, foram declarados pelos traficantes como
procedentes da África Centro-Ocidental, embora sua real origem fosse acima do equador.
Os “africanos ocidentais” eram originários de sociedades política e culturalmente muito variadas, situadas com frequência
perto do litoral, mas algumas vezes localizadas em terras interioranas a centenas de quilômetros do mar. Trazidos em
caravanas através de longas rotas, esses cativos terminavam embarcados em diferentes locais. A primeira área que tive
incidência significativa no tráfico destinado ao Brasil foi a Alta Guiné, que do rio Senegal se estende até o cabo Monte (na
atual Libéria). A diversidade cultural dessa região é notória na sua riqueza linguística, destacando-se no litoral, a
heterogênea família das línguas do Atlântico Ocidental (wolof, serer, balanta, fula, temne etc.) e, no interior, a mais
homogênea família das línguas mandê (mandiga, soninke, bambara etc.). Além das ilhas de Cabo Verde, os principais
enclaves do tráfico português nessa zona foram os portos de Cacheu e Bissau (na atual Guiné-Bissau). Calcula-se que os
cativos da Alta Guiné perfizeram quase 10% do total dos “africanos ocidentais” transferidos para o Brasil, em particular para
o Maranhão.
No entanto, o lugar onde o tráfico lusitano mostrou-se mais intenso foi a Costa da Mina, conforme era chamado pelos
portugueses o litoral que se estende a leste do castelo de São Jorge da Mina (no atual Gana) até a faixa do rio Lagos (na
atual Nigéria). Trata-se de uma área linguisticamente mais homogênea que a Alta Guiné e nela se falam as línguas da
família kwa, a despeito de uma língua do extremo ocidental, como o akan, ser ininteligível para os falantes de uma língua
do extremo oriental, como o yorubá. Durante o período do tráfico, as nações europeias (Portugal. Inglaterra, Países Baixos,
França, Alemanha, Dinamarca) instalaram diversas feitorias e fortalezas, ao longo de mais diversos de seiscentos
quilômetros da Costa da Mina. O tráfico destinado ao Brasil se concentrou, porém, na Costa dos Escravos, como era
chamada a parte oriental da Costa da Mina, que ia do rio Volta até o rio Lagos. Nos séculos XVIII e XIX, as principais
potencias hegemônicas nessa região foram os reinos do Daomé (no atual Benim) e o reino de Oyó (na Nigéria). No seu
litoral, diversos portos, com variável fortuna política, estiveram envolvidos no tráfico, sendo os mais ativos, de oeste a leste:
Popo Pequeno, Popo Grande, Uidá, Jaquin, Epe, Porto Novo, Apa, Badagri e Lagos (Onim). Calcula-se que quase três
quartos (74%) dos “africanos ocidentais” desembarcados no Brasil provinham da Costa da Mina.
PARÉS, Luis Nicolau. Africanos Ocidentais. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos (Org.). Dicionário
da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia da Letras, 2018. p. 77-79.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI16) Analisar os mecanismos e as dinâmicas de comércio de escravizados em suas diferentes fases, identificando
os agentes responsáveis pelo tráfico e as regiões e zonas africanas de procedência dos escravizados.
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55
Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no
Brasil do século XVI ao XXI
Sandra Marcondes
Editora Peirópolis
O excerto a seguir pertence à obra Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século
XVI ao XXI, escrita pela professora Sandra Marcondes.
Gilberto Freyre, em seu livro Nordeste, escreve: “Sabe-se o que era a mata do Nordeste, antes da monocultura
da cana: um arvoredo ‘tanto e tamanho e tão basto e de tantas plumagens que não podia homem dar conta’.
[...] O canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A fogo é que foram se
abrindo no mato virgem os claros por onde se estendeu o canavial civilizador, mas ao mesmo tempo
devastador”. “A cultura da cana [...] valorizou o canavial e tornou desprezível a mata”.
Por mais incrível que possa parecer, já no ano de 1542 a vila de São Vicente do Brasil sentia os efeitos
devastadores dos desmatamentos: “Um maremoto submergiu boa parte da vila de São Vicente, engolindo
também algumas das praias que a cercavam. Embora fosse um desastre natural, a tragédia fora acentuada
pela imprevidência dos colonizadores: como eles haviam destruído os mangues e desmatado os morros
vizinhos para plantar cana, São Vicente perdera suas defesas naturais, sendo varrida pelas ondas.”.
De fato, poucos meses mais tarde o porto construído nessa mesma área teve de ser abandonado pelo forte
assoreamento, impedindo os navios de ancorarem nesse, ao que o padre José de Anchieta atribuiu, com muito
acerto, a devastação das matas das elevações próximas ao ancoradouro, o que fazia que as enxurradas de
morro abaixo arrastassem uma grande quantidade de terra.
Em outras palavras: a causa do agravamento desses dois problemas foi a mesma: “’As roças e a derrubada
dos matos, que antes vestiam o solo e o seguravam, permitiram que as enxurradas de verão levassem consigo
muita terra até entulhar o ancoradouro’, escreveu o historiador Francisco de Varnhagen. ‘Esse fenômeno se
repetiria em muitos dos outros de nossos rios e baías, à medida que suas vertentes foram sendo devastadas e
cultivadas’.”
Ao que parece, do século XVI ao XXI, o respeito às encostas e espaços de escoamento das águas não
melhorou muita coisa, como se constata pelas atuais grandes enchentes de São Paulo e Rio de Janeiro, por
exemplo.
MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI.
São Paulo: Editora Peirópolis, 2005. p. 44-45.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI10) Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre as dinâmicas das
sociedades americanas no período colonial.
(EF07HI13) Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo
atlântico.
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56
79
O próprio Leo Frobenius, o arqueólogo alemão que primeiro revelou ao resto do mundo a arte de Ifé, chegou a
acreditar que estava diante do que sobrara da lendária Atlântida, ao encontrar, em 1910, no bosque sagrado
dedicado ao orixá do oceano, Olocum, várias terracotas e uma cabeça em bronze que pareciam ter saído das
mãos de gregos da Antiguidade.
Mas não foram as esculturas de feições puras e serenas de Ifé, nem as saídas das oficinas do Benin, tampouco
as estátuas em madeira de ancestrais feitas pelos hembas do Congo, que não se afastavam do que
consideramos realismo – isto é, da reprodução do que os olhos veem, ainda que a seguir certos padrões fixos e
beleza –, as que viriam a causar um impacto avassalador sobre a arte de nosso tempo. Foram outras. O que
deslumbrou alguns jovens artistas europeus, no início do século XX – rapazes como Derain, Picasso, Matisse,
Braque, Kirchner, Bracusi e Modigliani –, foram sobretudo as esculturas de ancestrais e as máscaras de danças
rituais daqueles povos africanos sem estados poderosos, de formas tão distantes e até contrárias ao que se fazia
na Europa. Esses jovens pintores e escultores deslumbraram-se com o que vinha da África e tomaram como
exemplo as suas lições.
Foi com admiração e humildade que eles se aproximaram daquelas máscaras de fatura delicadíssima feitas pelos
dans da Costa do Marfim e da Libéria, nas quais as feições se simplificam numa testa abaulada, num nariz fino
e ligeiramente arrebitado, num queixo pontudo e numa boca entreaberta, tendo, no lugar dos olhos, dois buracos
redondos, se a representação for de homem, e duas fendas estreitas, se de mulher.
Foi, porém, com espanto e entusiasmo que eles pararam diante de outras máscaras dans, nas quais a delicadeza
era substituída pela brutalidade das formas. Pois aqueles mesmos artistas dans faziam outros tipos de máscaras,
que nos aprecem ferozes e saídas de pesadelos. Numa delas por exemplo, o rosto alongado termina, sem queixo,
numa boca aberta enorme que, do mesmo modo que a testa abaulada, se projeta para a frente. O nariz quase
não se nota, de tão pequenino, e, em vez de olhos, temos dois cilindros grossos, ocos e salientes.
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 73-76.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da
chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes e
técnicas.
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História moderna
Paulo Miceli
Editora Contexto
O trecho a seguir pertence à obra História moderna, escrita pelo
historiador e professor Paulo Miceli.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI04) Identificar as principais características dos Humanismos e dos Renascimentos e analisar seus
significados.
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Embora a terra do Brasil seja maior do que toda a Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Escócia, Irlanda e
os dezessete Países Baixos juntos, [...] contudo há apenas dois lugares mais importantes do mesmo país, isto
é, a Bahia e Pernambuco. [...]
Estes dois lugares, isto é, a Bahia e Pernambuco (nos quais consiste este grande país, conforme já disse), não
dispõem de forças consideráveis ou fortalezas, de modo que, com a graça de Deus, os mesmos poderão ser e
serão ocupados [...] principalmente se a Companhia das Índias Ocidentais para aí enviar oficiais corajosos,
bons soldados, mestres ou engenheiros experimentados e adequados instrumentos de guerra [...].
O rei da Espanha, o clero e os negociantes particulares de Portugal têm naquele país grandes capitais
consistentes de terras, rendas, empréstimos sobre plantações, assim como mercadorias, que não se encontram
muito para o interior, porém perto das duas mencionadas cidades. Assim, elas podem ser atacadas, confiscadas
e conquistadas conjuntamente pela Companhia das Índias Ocidentais. [...].
Desta terra do Brasil, podem anualmente ser trazidas para cá e aqui vendidas ou distribuídas 60 mil caixas de
açúcar. [...] As mesmas 60 mil caixas de açúcar custam no Brasil, conforme a citada compra, aproximadamente
as 35 toneladas de ouro que a Companhia das Índias Ocidentais poderá pagar, em sua maior parte, com
mercadorias, lucrando com isso ao menos 30% e podendo ainda vender bem as suas mercadorias com 30%
de vantagem sobre os preços que Portugal costuma cobrar. Donde resulta que a Companhia terá ainda um
lucro anual de dez toneladas de ouro.
MOERBEECK, Jan Andries. Motivos por que a Companhia das Índias Ocidentais deve tentar tirar ao rei da
Espanha a terra do Brasil. In: MELLO, Evaldo Cabral de (Org.). O Brasil holandês (1630-1654). São Paulo:
Penguin Classics, 2010. p. 30-31.
Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI13) Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo
atlântico.
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Diversidade humana
Cibele Veranihttp://www.dbbm.fiocruz.br/ghente/ciencia/diversidade/
Diversidade humana
A humanidade sempre teve reações variadas pelas diferenças que percebiam entre si e os vários povos com
os quais tinham contato. Guerreiros; viajantes; comerciantes; e lendas relatavam a seus pares, desde a mais
remota antiguidade, as exoticidades dos demais. As reações eram e são variadas: desde o medo e a repulsa,
até a curiosidade e o apreço [...].
Aspectos culturais e físicos imediatamente perceptíveis da singularidade dos “outros”, como vestimentas;
ornamentos corporais; estatura; cor da pele, cabelos e olhos; e língua, ressaltavam a singularidade mais
aparente. Os “costumes” mais estranhos, porém, sobressaiam aos que tinham a oportunidade de passar um
certo tempo maior entre os “estrangeiros” e outras diferenças mais profundas entre os povos só poderiam ser
apreendidas por um olhar mais detalhado: historiadores como Heródoto são tidos, por alguns, como os
primeiros “antropólogos”, por se preocuparem com a organização das sociedades que descrevia, e não
somente com os acontecimentos históricos, buscando assim uma razão, uma causalidade para os eventos [...].
As explicações sobre a diversidade humana sempre ressaltaram com mais ênfase os aspectos negativos dos
“outros”, tendo como parâmetro as características positivas, físicas e culturais, dos povos sob cujo ponto de
vista se pensava a diferença. Chega-se até a negar a qualidade de “humano” aos demais povos. Alguns
exemplos: entre os povos indígenas brasileiros, a autodesignação, a rigor, enfatiza as qualidades de “seres
humanos”; “gente”; “povo de Deus” de cada povo. E para os demais restam termos, no mínimo, desagradáveis,
como “os agressivos selvagens”; “os comedores de carne de mamíferos ou de cobra” ou outra característica
repulsiva. Já nos primeiros séculos da colonização luso-espanhola, o estatuto de “seres com alma” chegou a
ser negado aos habitantes tradicionais das Américas, sendo objeto de discussões acirradas no âmbito da Igreja
Católica.
A esta atitude a antropologia chama de “etnocentrismo”, uma atitude generalizada entre as sociedades
humanas de valorizarem ao máximo como as melhores, as mais corretas, suas formas de viver; agir; sentir e
pensar coletivamente.
Outros exemplos demonstram atitudes mais positivas em relação à alteridade, como na Primeira Carta ao Rei
de Portugal, em que Caminha descreveu os “índios” como alegres e inocentes como crianças, sem notarem
que estavam expondo suas “vergonhas”. Rousseau, um crítico da sociedade europeia, cunhou a ideia do “bom
selvagem” e as cortes europeias deleitavam-se com a exoticidade animal e humana do “Novo Mundo”.
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Segundo Maggie, foi a partir do século XVI, com a expansão colonial europeia, que caracteres como a cor da
pele e outros traços físicos dos povos encontrados por exploradores passou a ser um aspecto privilegiado no
imaginário europeu, como marcador das diferenças entre os povos. [...]
A noção de Raça, e sua associação de características biológicas; comportamentais e sociais foi, neste longo
período que se estendeu até o século XX, a expressão científica do racismo colonial luso-espanhol. Na cultura
luso-hispânica, este movimento teve desdobramentos importantes que incluíram, como no Brasil, a política de
incentivo aos movimentos migratórios – desde a importação escravagista da África até as tentativas de
“branqueamento” do povo brasileiro, no século XIX – e influenciaram os estudos raciais acadêmicos até meados
do século XX. [...]
Às classificações da diversidade humana, baseadas na morfologia física e no conceito de raça, sobrepunham-
se igualmente aspectos do comportamento e formas de pensar e sentir (aspectos sócio-culturais). O
evolucionismo darwinista inspirara, inicialmente, uma hierarquização da diversidade humana e das “raças” em
que a raça “branca” estaria no ápice da escala de evolução, devido à sua “superioridade” tecnológica e,
acreditava-se, moral (etnocentrismo evolucionista que, na antropologia social ou cultural, teve também grande
influência). [...]
Somente pouco antes da metade do século XX, quando autores como Franz Boas e Stocking levantaram as
influências das condições ambientais na constituição das diversidades humanas, o que Santos chama de
“segunda revolução darwinista” na Antropologia “Física” (biológica) se consolidou. O conceito de raça, nas
ciências antropológicas, foi substituído então pela categoria “população”, construída a partir de critérios
estatísticos e genéticos, cuja ênfase estava mais em seus aspectos dinâmicos, e na separação, por inspiração
da biologia experimental, estes critérios dos extrabiológicos (socioculturais).
O clima do pós-guerra europeu, em fins da década de 40 e na dos 50, trouxe reações radicalmente contrárias
aos fundamentos da eugenia levada ao extremo pela política nazista. Esta transição foi significativamente
marcada na Assembleia da Unesco de 1949. Nesta Assembleia, Boas e alguns antropólogos, como Lévi-
Strauss foram convidados a participar e exerceram influência no relatório final, contrária à ênfase na diversidade
racial como explicativa de fenômenos socioculturais e ambientais. [...]
VERANI, Cibele. Diversidade humana. Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2019.
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI27) Identificar as tensões e os significados dos discursos civilizatórios, avaliando seus impactos negativos para os
povos indígenas originários e as populações negras nas Américas.
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60
Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI27) Identificar as tensões e os significados dos discursos civilizatórios, avaliando seus impactos negativos para os
povos indígenas originários e as populações negras nas Américas.
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