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Poucos acontecimentos na história da humanidade foram tão significativos quanto a Revolução

Francesa.
Ela é um desses fatos que por serem tão importantes geraram em torno de si, muitas controvérsias
acadêmicas e políticas, prolongando-se no tempo e exigindo das pessoas uma tomada de posição
em torno do modelo de sociedade pelo qual pretende-se optar.
Assim, como actualmente o mundo parece continuar a estar dividido entre capitalismo e
socialismo, da mesma maneira a Revolução Francesa dividiu (e actualmente é dividida) em
escritores e políticos representantes de extremos opostos.
A historiografia acerca da Revolução Francesa é produto da postura tomada pelos autores no meio
da luta de poder, acontecido no contexto histórico social, específico no contemporâneo e
subsequente à Revolução.

Taracena (1994), menciona que nesse ano os camponeses formavam 85� população francesa, os
grãos estavam escassos e as necessidades básicas eram cada vez mais difíceis, o que fez a
indústria nascente recuar.
Ela possuía 30� terra produtível, mantinha uma pesada taxa de tributos feudais e controlava a
distribuição da água, a utilização dos moinhos de grão, os fornos e a distribuição de justiça para as
classes populares.
Nessas circunstâncias, o denominado “Antigo Regime”(sistema de governo monárquico
representado na França pelos reis absolutistas Luis XIV – XVI, totalmente concentrada na figura
do rei com acúmulo de riquezas) sobrevivia de um sistema social hierarquizado onde a base
camponesa mantinha uma cúpula formada pela nobreza e pelo alto clero, beneficiados pela
isenção de impostos e pelo revestimento dos títulos honoríficos que lhes garantiam a proteção
militar da coroa.
Por isso, quando a violência estourou contra o sistema político-econômico, o sistema religioso
dominante também foi atingido.

A seguir, confrontaremos os autores e sua produção historiográfica com o contexto histórico-


social.
Porém, os limites próprios de nossa metodologia não nos permitem abranger o amplo repertório
escrito acerca do tema da Revolução.
Com o estouro da Revolução foi produzida literaturas de diversos gêneros: acusações, panfletos,
artigos jornalísticos, charges, e discursos dos mais diversos tons e posições políticas.
Porém, foi no começo do século XIX que, por várias razões, toda essa literatura se multiplicou.

floresceu nessa época, o radicalismo com o qual a Revolução constituiu ruptura e a incerteza
econômica e social que ela provocou.
Mas, o que está por trás de tudo, em última instância, é o conceito de `nação` que está a se formar,
e com ele, o futuro da França.
O esforço fundamental dos revolucionários foi destruir a ordem social, inclusive pela via das
armas.
No entanto, antes de estourar o conflito armado, o grosso da população das cidades teve que ser
conscientizada politicamente.

Os revolucionários, por sua vez, utilizaram as calças próprias dos trabalhadores artesãos,
compridas e mais resistentes.
Eles eram a massa da população que apoiaria a facção política republicana conhecida como os
jacobinos por se abrigarem em um antigo convento dominicano dedicado a Saint Jackes (São
Jacob), e que promoveram a execução de Luis XVI, enfrentando-se a grupos mais moderados
como os Feuillants, que se conformavam com modernizar a monarquia.
Nesse âmbito compreende-se que os escritos acerca da Revolução Francesa tenham sido
produzidos dentro de um ambiente de contestação e controvérsia.
Taracena (2004), cita como referência obrigatória um livro de 1790, Reflexões sobre a Revolução
Francesa, cujo autor irlandês, Edmund Burke, vê na Revolução “o triunfo da demagogia (arte ou
poder de conduzir o povo) e o despotismo (forma de governo onde todo o poder está concentrado
em apenas um governante) sobre o contrato social”.

Para ele, o povo não tinha o direito de modificar sua Constituição, e para demonstrá-lo, compara a
Revolução Francesa com a inglesa, “sabiamente empírica e capaz de consolidar a herança dos
costumes nacionais”.
No entanto, a francesa aplicou a noção `tabula rasa` para justificar o delírio selvagem de seus
personagens no seu esforço por apagar os vestígios da sociedade do antigo regime.
Outro exemplo dessa corrente literária denominada conspiração é Memórias para servir à história
do jacobismo, de Barruel, um sacerdote jesuíta que em 1799 pretendeu demonstrar que os
jacobinos eram uma “seita devoradora que se levantava contra a ordem estabelecida”, e
convidava os países europeus a refletir sobre a experiência sofrida na França.
No entanto, outra corrente historiográfica contemporânea à Revolução é a teoria da força das
coisas, cujos representantes são Mallet Du Pan, Condorcet e Rabaut Sain-Etienne, os dois últimos
decapitados na guilhotina, vítimas dessa mesma “força das coisas” (TARACENA, 2004).

Segundo o seu pensamento, a história estava determinada a seguir seu caminho e a Revolução
teria que sucumbir à ordem 24
Frente a essa doutrina determinista, os escritos da burguesia posterior ao mês de Termidor se
esforçaram por fazer um inventário da herança revolucionária, porém, descriminando suas fases
violentas, sobretudo a de 1793, conhecida como a época do Terror.
A historiografia posterior a 1815 (ano da Restauração) encaixa-se numa classificação conhecida
como Mitológica, e estende-se até as revoluções de 1830 e 1848.
A tendência desta época, tanto para os liberais quanto para os românticos, é demonstrar
historicamente a necessidade da luta violenta na Revolução.
O principal representante dos liberais é o advogado Louis Adolphe Thiers, que escreveu História
da Revolução (1823-1827).
O advogado reuniu uma grande quantidade de documentação para justificar que os autores da
Convenção tinham sido exclusivamente os burgueses, que a violência desatou-se por culpada
resistência dos aristocratas à mudança e que as massas populares (das cidades e dos campos) não
tinham lugar na cena histórica nem na soberania popular.
Auguste Mignet, autor ligado à corrente historiográfica Mitológica, ele destaca a necessidade das
duas revoluções, a de 1789, como boa e necessária e a de 1793 como “nefasta, porém
inevitável”, e reforça a “teoria das circunstâncias de ordem interno e externo” (TARACENA,
1994).
Ele analisou pela primeira vez a existência da luta de classes dentro da Revolução de 1789.
Barnave diz que as classes sociais dominantes na economia mantinham também o poder político e
resistiam a serem removidos do poder, terminando por serem anulados ou derrubados por meio de
ações políticas, expressadas “algumas vezes por uma progressão doce e insensível, outras vezes
por comoções violentas” (FONTANA, Apud TARACENA, 1994, p.

Na década de 1840 teve início a celebração popular da Revolução, a qual coincidiu com o apogeu
do romantismo literário.
Daí que, em 1847 surgiram as três obras mais famosas da historiografia da Revolução Francesa: A
História da Revolução Francesa (de Louis Blanc) A História da Revolução Francesa (de Jules
Michelet) e a História dos Girondinos (de Alphonse de Lamartine), que tiveram a originalidade de
recuperar a tradição oral, entrevistando os descendentes dos revolucionários.
Ao fazê-lo, recuperaram o papel do povo e, por sua perspectiva romântica, justificaram a violência
popular pela pureza dos motivos republicanos, em detrimento das causas históricas, que serão
retomadas na corrente literária seguinte, a corrente positivista. 25
A derrota da revolução de 1848 e a posterior instauração do Segundo Império vão animar, na
historiografia da Revolução francesa, a refutação das tradições e dos mitos herdados até esse
momento.

A obra de Alexis de Tocqueville, O Antigo regime e a Revolução (1815), marcada pela polêmica
europeia entre a `liberdade democrática` e a `tirania dos Césares`, entre a prática cívica
descentralizadora e o centralismo monárquico, será a que inaugure o novo período.
Tocqueville renova a historiografia revolucionária investigando suas origens, distantes e próximos,
sendo o primeiro em dar consistência ao conceito de `Antigo Regime` e ao de `pré-revolução`,
individualizando o período de conjuntura histórica de 1787 a 1789 e dando importância, pela
primeira vez, ao fato de que a revolução administrativa tinha precedido à revolução política.
Além do mais, insiste na importância dos ativismos institucionais e sociológicos.
Saiba mais: Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador político e estadista francês.

Foi considerado um dos grandes teóricos sobre a democracia americana.


Depois de Tocqueville, seu aluno, Ernest Renan, já no auge do positivismo, diz que “pelo
momento não se trata de continuar a Revolução, senão de criticá-la e de corrigir os seus erros”, e
inicia um debate acerca da historiografia da Revolução, no qual sobressai Danton, radicalizando
sua postura contra Robespierre e evidenciando a oposição entre jacobinos e girondinos.
Danton sentenciou que a descristianização era necessária para fazer surgir o Estado Cívico, além
de ser.

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