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7 de outubro de 2019
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Na década de 1950 foi lançada uma obra que, nem revisionista, nem marxista,
teria impacto imenso na historiografia em finais do século XX e início do
século XXI: The Age of Democratic Revolution: A Political History of Europe
and America, 1760-1800, de Robert Roswell Palmer (1909-2002), derivada
de seus trabalhos com outro historiador, Jacques Godechot (1907-1989).
Walter Benjamin nos disse que “a história é objeto de uma construção cujo
lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’.”
A historiografia da Revolução Francesa, de forma bastante peculiar, sempre
serviu aos mais diversos “agoras”, e também, claro, soube servir-se deles. Nos
últimos trinta anos, como veremos na parte II deste artigo, não foi diferente.
Tocqueville, por isso, continua tendo razão quando diz: “As grandes
revoluções que são bem sucedidas (…) chegam a ser incompreensíveis
justamente pelo seu sucesso.”
Notas
Referências Bibliográficas
“Napoleão Bonaparte atravessando os Alpes”, óleo sobre tela, Jacques-Louis David, 261
cm × 221 cm, 1802.
A pintura mostra Napoleão Bonaparte conduzindo suas tropas através
dos Alpes na campanha militar de 1800, contra os austríacos que acabaram
derrotados na Batalha de Marengo. É essa vitória que a pintura
comemora. Napoleão gostou tanto do quadro que encomendou mais três
versões e uma quinta ainda foi produzida. Elas foram realizadas entre 1801 e
1805. Duas versões estão em Paris, uma em Madri e uma em Milão.
Observe os detalhes da pintura:
- Napoleão Bonaparte foi representado desproporcionalmente grande em
relação aos soldados, no fundo da tela, o que destaca seu protagonismo como
condutor da nação francesa. A alusão à França está nas cores predominantes do
quadro: vermelho, azul e branco.
- Ele mantém o controle da montaria mesmo com o cavalo empinado,
segurando suas rédeas somente com a mão esquerda. Olha de frente e direto
para o espectador apontando para o alto, os Alpes prestes a serem atravessados.
O gesto alude, também, à liderança política e militar de Napoleão Bonaparte. É
ele quem indica o caminho vitorioso aos seus súditos.
- Nas pedras (nos pés do cavalo) está escrito em letras douradas o nome
Bonaparte e de dois heróis: Aníbal, general que enfrentou Roma Antiga, e Carlos
Magno, rei dos francos que conquistou um império. Napoleão associa-se, então,
a um herói da Antiguidade e a um imperador medieval, colocando-se como
herdeiro e sucessor desses grandes líderes do passado.
Vocabulário
Kremlin: acrópole com igrejas e palácios e cercada por muralhas; o Kremlin de
Moscou, construído no século XII, era o centro político e religioso da Rússia
imperial.
https://www.youtube.com/watch?v=cbCYxlffPSE
6. Napoleão Bonaparte por um soldado francês
“Você não devorará mais nossas crianças: nós não queremos mais seu
alistamento militar, sua milícia, sua censura, seus fuzilamentos noturnos, sua
tirania. E não é apenas nós, mas a espécie humana que o acusa. Ela nos pede
vingança em nome da religião, da moral e da liberdade. Onde você não levou a
desolação? Em que canto do mundo uma família escapou de suas devastações?
A voz do mundo o declara o maior culpado que jamais houve sobre a
terra, pois não foi sobre as pessoas bárbaras e sobre as nações degeneradas que
você verteu tanto mal; foi no meio da civilização, num século de luzes, que você
quis reinar pela espada de Átila e pelas sentenças de Nero.”
François-René de Chateaubriand. De Buonaparte et des Bourbons, 1814. In: CASTA, M.;
DOUBLET, F. (Coord.) Histoire Géographie. 4. ed. Paris: Magnard, 1998. p. 75.
“Na minha carreira se encontrarão erros, sem dúvida; mas (…) eu soterrei
o abismo anárquico e pus ordem no caos. Eu limpei a Revolução, enobreci os
povos e fortaleci os reis. (…) Minha ambição foi a de consagrar o império da
razão (…). Milhares de séculos decorrerão antes que as circunstâncias
acumuladas sobre minha cabeça encontrem um outro na multidão para
reproduzir o mesmo espetáculo.”
Napoleão Bonaparte. O Processo Napoleão. In: FREITAS, G. op. cit., p. 124.
Para alojar o enorme sarcófago, foi feita uma escavação circular sob a
cúpula dos Les Invalides. O sarcófago de quartzito vermelho da Finlândia,
esculpido com coroas de louro, foi colocado sobre uma base de granito verde. Ao
redor do túmulo, estão doze “Vitórias”, figuras femininas simbolizando as
campanhas militares de Napoleão Bonaparte. O nome das oito vitórias mais
famosas estão gravados no chão de mármore policromado que rodeia o túmulo.
O retorno do corpo de Napoleão à França teve dois objetivos: melhorar a
imagem da Monarquia de Julho e garantir uma certa glória para os
organizadores, Thiers e o rei Luís Filipe. O sucesso do empreendimento,
contudo, foi efêmero. A popularidade do rei diminuiu nos anos seguintes e ele
foi forçado a abdicar em fevereiro de 1848.
Cem anos após o retorno das cinzas de Napoleão Bonaparte, em 15 de
dezembro de 1940, a Alemanha devolveu à França os restos mortais do filho do
imperador com Maria Luísa, Napoleão Francisco Carlos José Bonaparte. Morto
em 1832, ele havia sido enterrado em Viena. A iniciativa de Hitler, em plena
Segunda Guerra Mundial, era um esforço para melhorar sua imagem junto aos
franceses, cujo país estava, então, ocupado pela Alemanha nazista. Os restos do
filho de Napoleão foram sepultados nos Les Invalides, ao lado do sarcófago do
pai. Na ocasião, os parisienses sussurram: “Eles nos tiram o carvão e nos
devolvem as cinzas!”. Em 18 de dezembro de 1969, o túmulo de Napoleão
Francisco foi removido para a cripta de Les Invalides e encontra-se, hoje, sob
uma placa de mármore.
Napoleão Bonaparte ajudou a criar as bases da França atual. No entanto,
esse modelo de Estado organizado foi alcançado por meio de vitórias militares e
trabalho escravo. Os que criticam o legado napoleônico lembram que o
imperador cancelou a abolição da escravidão, em 1802, e criou um Código Civil
que colocava as mulheres em posição subalterna. Os historiadores, contudo,
consideram essas críticas como um anacronismo, um olhar do passado com os
olhos do presente, quando deveríamos compreender as ações das pessoas pelos
olhos do seu tempo (Zamoyski, 2020).
Fonte
ENGLUND, Steve. Napoleão: uma biografia política. Rio de Janeiro:
Zahar, 2005.
BERTAUD, Jean-Paul. A queda de Napoleão. Rio de Janeiro: Zahar,
2014.
COLSON, Bruno (org) e BONAPARTE, Napoleão. Sobre a guerra. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileria, 2015.
LENTZ, Thierry. Napoleão. São Paulo: Editora Unesp, 2008.
ZAMOYSKI, Adam. Napoleão, o homem por trás do mito. São Paulo:
Crítica, 2020. _________. 1812, a marcha fatal de Napoleão rumo a Moscou.
Rio de Janeiro: Record, 2014. Entrevista de Andrew Roberts, autor de Napoleon
a life.
Leia aqui.
NEVES, Lúci Maria Bastos Pereira. O imperador e o monstro. Revista de
História de Biblioteca Nacional.