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AULA 6
A palavra cidadania é conhecida pela nossa sociedade, pois ela faz parte
de nossa constituição e, portanto, dos nossos direitos e deveres como pessoas
que vivem na nação brasileira. Temas como o direito à liberdade de pensamento,
o direito à liberdade de expressão e associação, o estado laico e representantivo
são recorrentes nas discussões políticas e sociais de nosso contexto, cujo
objetivo maior é dar dignidade aos brasileiros.
E estes estão relacionados também à Revolução Francesa (e à Tomada
da Bastilha em 14 de julho de 1789), embora este seja um acontecimento de
outro local. O que tem em comum com a realidade brasileira é o marco temporal
que representa, visto que a ideia de revolução política e social cristalizou outras
perspectivas de organização para o mundo ocidental ao longo dos últimos dois
séculos. A pintura abaixo é de Eugène Delacroix e representa esse processo:
Crédito: CC-PD
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Apesar de a liberdade parecer um aspecto natural para o cotidiano das
sociedades do século XXI, ela é o principal elemento na tela e de reivindicação
desse processo político e era também desconhecida pelas massas. Isso porque,
até aquele período, as desigualdades sociais baseadas na ideia de classe, de
nascimento, entre outras, eram naturalizadas, ou seja, não havia um princípio
regulador dentro das leis dos Estados que proporcionasse igualdade entre as
pessoas.
É nesse sentido que a Revolução Francesa, um acontecimento europeu,
é importante para o mundo, embora mais para o Ocidente. Sobre o que significa
a Revolução, ela:
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perspectiva homogeneizante trazemos também a participação decisiva das
mulheres.
O último dos reis da Dinastia dos Bourbons na França foi Luís XVI, um
governo conturbado por conflitos internos e problemas econômicos, os quais
foram agravados pela participação francesa na Independência dos Estados
Unidos. Isso porque o país, devido a conflitos com a Inglaterra, apoiou a
independência da colônia norte-americana, sem ter um retorno financeiro para o
seu investimento.
No absolutismo francês, a corte, composta pela nobreza, também tinha
gastos exorbitantes, com base em uma sociedade estamental, em que as
diferenças de classe eram justificadas e naturalizadas. Os nobres formavam o
Segundo Estado e eram por voltar de 350 a 400 mil membros, não pagavam
impostos e ainda usufruíam de tributos feudais no século XIX.
Junto a esse grupo estava o clero (formando o primeiro estado), também
com privilégios, entre eles, a posses de terras, o recebimento de rendas e o
pagamento de impostos inexistente. Além disso, o clero, que era formado por um
grupo de cerca de 130 mil membros, mantinha a posse da maior parte das terras
francesas e cobrava o dízimo.
Assim, o pagamento de impostos era algo específico do Terceiro Estado,
que era composto pela alta e média burguesia, camponeses e proletários. Cerca
de 20 milhões compunham esse grupo, ou seja, 80% da população francesa era
responsável por todos os gastos da França e eram alijados de direitos sociais e
políticos.
Com essas considerações, percebemos que os camponeses, os
proletários e a burguesia estavam insatisfeitos com a política francesa. Uma das
formas de se entender como a falta de liberdade afetava o povo francês era a
presença das lojas maçônicas, porque estas eram as únicas que aceitavam
igualmente a todos (em relação à burguesia especialmente).
Com base também nessas experiências, segundo Hobsbawm, os ânimos
foram alterados e diversos princípios foram construídos na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, posteriormente, como:
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democrática e igualitária: “os homens nascem e vivem iguais perante
as leis”, mas ela [a Constituição] também prevê a existência de
distinções sociais. (Hobsbawm, 2009, p. 106)
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Figura 3 – Símbolo da Assembleia Nacional (França)
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Esses acontecimentos se deram especialmente por problemas ou intempéries
climáticas, com ênfase a períodos de seca, porém de inundações também. As
más colheitas intensificaram a disputa pelos alimentos e, consequentemente, a
inflação, além de enfraquecer os pequenos comerciantes e o comércio interno
da França.
Junto a isso estavam os gastos de duas guerras com alimentação, armas,
soldados, além de questões diplomáticas. A primeira guerra era a travada com
a Inglaterra (Guerra dos Sete Anos) e, a segunda, a da independência dos
Estados Unidos. Apesar dos rendimentos baixos, a monarquia não exigiu ou
baixou os impostos pagos pelo Terceiro Estado. Os gastos com nobres – e seus
privilégios – se mantiveram – gerando um déficit de cerca de 100 milhões de
libras.
Além disso, é preciso considerar que a França, embora fosse apontada
mais como um país camponês e com resquícios feudais, vivia em meados do
século XVIII acontecimentos envolvendo trabalhadores urbanos. Robert
Darnton, historiador francês, narra sobre a vida do operário Nicolas Contat e o
seu estágio em uma gráfica na rua Saint-Séverin em Paris (1750):
A vida de aprendiz era dura, ele explicou. Havia dois aprendizes [...]
dormiam num quarto sujo e gelado, levantavam-se antes do
amanhecer, saíam para executar tarefas o dia inteiro, tentando furtar-
se dos insultos dos oficiais (assalariados) e os maus-tratos do patrão
(mestre) e nada recebiam para comer [...] pior ainda, o cozinheiro
vendia, secretamente, as sobras, e dava aos rapazes comida de gato
– velhos pedaços de carne podre que não conseguiam tragar, e, então,
passavam para os gatos, que os recusavam. (Darnton, 2006, p. 103-
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práticas políticas como o liberalismo e a democracia (no decorrer do século XIX
(Silva; Silva, 2006, p. 367).
Apesar das condições inviáveis destinadas à maior parte da população, o
rei convocou os Estados Gerais para efetivar uma solução, que foi justamente o
aumento de impostos.
Fonte: CC-PD.
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Figura 5 - Jean-Jacques-François Le Barbier (1738–1826). Déclaration des droits
de l'homme et du citoyen. Musée Carnavalet. Paris. França
Fonte: CC-PD.
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e se tornassem funcionários públicos (Constituição Civil do Clero), fazendo com
que padres aderissem à contrarrevolução.
Isso gerou um período conturbado que, como tal, presenciou a falta de
produção de alimentos e, por isso, de uma forte inflação; revoltas camponesas
e no espaço urbano. Aliás, os camponeses também se recusavam em pagar pela
extinção das leis feudais.
A pequena e média burguesia também viu alguns direitos votados e
aprovados, porém não eram efetivados no cotidiano. Além disso, leis
relacionadas a direitos trabalhistas e até sobre a existência de sindicatos não
eram consideradas, o que minava os direitos de um público significativo, porém
com pouca representação legislativa.
A insegurança e a pouca presença na prática de igualdade para todos fez
com que os jacobinos tivessem mais espaço no campo político, com promessas
de alcançar as propostas da Revolução Francesa: a de Liberdade, a de
Igualdade e a de Fraternidade. Esse período ficou conhecido como o de
Convenção Nacional ou do “Terror”, no qual os Exaltados coordenaram inúmeras
execuções, isso depois da prisão e morte de Luís XVI e Maria Antonieta. que
foram presos em 1792 e 1793, respectivamente.
Foram muitos os motivos que levaram os girondinos a perder o poder.
Uma das influências desse processo foi de Jean Paul Marat, médico, escritor,
jornalista e político. Marat fazia inúmeras críticas aos girondinos especialmente
por meio de seu jornal, fundamental para que a opinião pública já marcada pelas
crises e instabilidade política também se colocasse contra a monarquia. Em seus
jornais, incentivou a crítica aos grupos dominantes, como também dava voz aos
movimentos populares.
É importante ressaltar que é principalmente pela presença popular que
esse período ficou conhecido como o mais radical. O governo era conduzido pelo
que chamavam de Comitê de Salvação Pública, o Comitê de Segurança Geral e
o Tribunal Revolucionário, que reunia nomes como o de Robespierre, de Marat
e de Danton.
No entanto, apesar das conquistas sociais importantes, a tática de
racionar comida devido à própria crise e a não aceitação de qualquer crítica
fizeram com que esse grupo fosse amplamente questionado. Um dos jornais em
que mais se disputava sobre o entendimento das ações daquele contexto era
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também de Marat, O Amigo do Povo. Uma cópia abaixo é dele com o sangue do
próprio Marat, assassinado no ano de 1793:
Fonte: CC-PD.
Fonte: CC-PD.
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TEMA 4 – REVOLUÇÃO FRANCESA: DO “TERROR” AO DIRETÓRIO
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TEMA 5 – PARTICIPAÇÃO DAS MULHERESAS E A REVOLUÇÃO
Fonte: CC-PD.
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nossa historiografia foi uma profissão de homens e sobre homens por longos
séculos, o que silenciou inúmeras mulheres.
Não menos importante e que também questionava a invisibilidade de
mulheres foi Olympe de Gouges. Esta contestou a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, pois, segundo ela, o documento ignorava as mulheres
como cidadãs. Gouges escreveu e discursou no ano de 1791, logo após à
promulgação do documento. Além disso, a feminista também exigia que as
mulheres tivessem o direito de votar e de serem votadas. Embora Gouges tenha
acabado guilhotinada, ela (como outras) incentivou para que muitas buscassem
a conquista de direitos sociais, políticos e culturais.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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Assembleia Legislativa precisaram ser debatidas, construídas e também foram
contestadas. Para entender esse contexto complexo que forma de fato um
processo revolucionário, buscamos compreender parte dos antecedentes
políticos, econômicos e sociais da Revolução (1789 – 1799), suas fases e a
participação da burguesia, de camponeses e de mulheres.
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REFERÊNCIAS
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