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Atividade Final

Matheus Abreu Cardoso (12-94744)


Eduardo José da Silva (12-94325)

1- A Revolução Francesa foi um processo complexo e tumultuado e por isso é separado


em algumas fases e eventos para se ter um melhor entendimento do que aconteceu. O ano de
1792 foi um ano muito importante nesse processo. Esse ano marcou a tomada de poder das
classes populares além de se haver o exercício da assembleia nesse período. A assembleia
possibilita que um maior número de indivíduos pudessem participar do processo político,
recebendo até ex-escravizados em suas discussões.
Para além da derrubada do absolutismo, houveram outros eventos importantes. Como a
discussão e o processo de abolição da escravidão nas colônias, como explicitado por Vovelle.
Processo esse que juntamente com a Revolução Haitiana resultam, de fato, nas abolição da
escravidão.
Outro aspecto importante desse período diz respeito a tentativa de contenção da
Revolução por parte das outras monarquias européias. É formada uma aliança que tenta invadir
a França e restaurar a monarquia e isso tudo com o aval de Luís XVI, o então monarca francês.
Com isso, foi preciso que os revolucionários montassem um exército para defender o
novo governo e, além disso, o monarca foi preso durante uma tentativa de fuga e futuramente
seria julgado e condenado à guilhotina.
Temos dessa forma que o clima político e social era muito tenso nesse período, essa
tensão se transformou numa radicalização que visava defender o processo revolucionário.
Utilizando para isso meios militares, através das guerras com monarquias estrangeiras de meios
políticos, dado que a partir desse momento houve de fato uma ruptura com as antigas estruturas.
Esses eventos reforçam então a importância dos Jacobinos, que estavam no poder no
período, para a consolidação da revolução, o que nos leva a concordar com Michellet que,
como explorado no texto de Furet, apesar do excessos que seriam cometidos os Jacobinos
garantiram a continuidade do processo revolucionário.

2- A Revolução Francesa se caracterizou por iniciar ou aprofundar muitos debates. Seja


sobre os direitos nobiliárquicos ou sobre o poder social exercido pelo clero, por exemplo. Um
outro ponto de especial destaque desse processo foi os debates sobre a continuidade ou não dá
escravidão.
No texto de Said sobre o orientalismo, ele apresenta que a Europa em um determinado
momento teve controle de mais de 80% do território global. O período do qual o autor se refere
é posterior à revolução, mas ainda assim a França tinha vários domínios já nessa época. E
nesses domínios houve um amplo uso da mão-de-obra escrava, em especial a negra. Esse
contexto tinha especial aplicabilidade em Santo Domingo, a sua colônia mais lucrativa.
Como descrito no texto de James, em Santo Domingo, a França investiu na produção
de açúcar, produção essa que já mencionamos fazia um uso intensivo da mão-de-obra escrava
negra. Com a Revolução Francesa e principalmente com a Revolução Haitiana. Houve o
questionamento e a pressão para que os direitos naturais do homem, outorgados no contexto
revolucionário fossem estendidos a todos, independente da cor de pele.
Em Santo Domingo, os escravizados negros lideram um processo revolucionário que
acabou com o controle dos colonos brancos e extinguiu a escravidão. Esse processo pressionou
ainda mais a França revolucionária a deliberar sobre o assunto. Houve então discussões sobre
a continuidade ou não dá escravidão nas colônias dentro da assembléia, discussões essas que
contaram com representantes da colônia de Santo Domingo.
Com o espírito de igualdade e de mudança da revolução, muitos se posicionaram a favor
da extinção da escravidão, no entanto muitos outros que tinham em mente os lucros
provenientes da colônia e do escravismo se opusseram de maneira ferrenha a essa política.
Os colonos brancos de Santo Domingo que vinham lucranco há muito tempo com a
escravidão na colônia argumentaram que para além dos preconceitos expressados na época,
dado que as pessoas negras eram vistas como seres inferiores, essa medida infligiria em uma
grande crise econômica, ou na perda de seus rendimentos. Mesmo com essa intensa oposição,
o processo revolucionário francês vai garantir o fim da escravidão em suas colônia, o que não
vai durar muito dado as políticas reacionárias dos governos pós revolução.
Ainda que o fim da escravidão liderado pelos revolucionários do Haïti e da França não
tenha sido duradouro, não se pode negar a relevância desse momento histórico, não somente
pelas discussões realizadas, como também pelo fim da escravidão em um contexto difícil e,
principalmente, com a independência do Haïti.

3- Com os desdobramentos dos atos revolucionários, a questão do problema colonial


começa a se mostrar em toda a sua extensão, enquanto parte central na difusão dos valores
pregados pelos jacobinos, revelando as contradições entre a liberdade presente no discurso
revolucionário, e a escravidão praticada nos territórios além-mar Vovelle (2012).
Como afirma Vouvelle (2012) “o sistema de valores proclamados pelo revolução não
poderia deixar de se opor a escravidão”, e tendo tal afirmação como ponto de partida, pode-
se observar a tentativa dos colonos em fazer parte das discuções que permeavam as assembleias
fransas, com a reinvidicação das assembleias colonias e a participação de deputados; ambas as
medidas concedidas pelo Estado frances.
Outra medida tomada pela tentativa de representatividade nestas assembleias coloniais
foi o envio de negros libertos na tentativa de reinvidicação de direitos civis, fato que foi negado
uma vez em outubro 1790, e posteriormente em maio de 1791, o que evidencia a preocupação
dos franceses em conceder direitos politicos aos habitantes das colonias, principalmente no
contexto de São Domingo.
Robespierre se torna figura central na administração da conceção dos direitos colônias,
uma vez o papel dos jacobinos está ligado ao ideal de moralidade cunhado pelos iluministas, o
líder dos revolucionários, segundo Vovelle (2012) foi um dos responsável por ceder tais
direitos, mesmo que com restrições.
Também não podemos deixar de descartar a importância fundamental da revolução
liderada por Toussaint Louverture em agosto de 1791 que impulsionou as decisões nas
assembleias. Posteriormente com apoio dos espanhóis a insurreição afirma de forma mais
significativa sua posição entre 1792 e 1793. Como uma resposta, ingleses a pedido dos
fazendeiros de São Domingo, ficam responsáveis dentre outras coisas, por estabelecer postos
avançados na região, e por negociar com os líderes negros a reconquista da ilha e seu apoio
contra o controle espanhol, sendo desta forma decretado fim da escravidão em diferentes partes
da ilha de São Domingo em 1793 Vovelle (2012).
Toussaint Louverture então une-se com a república francesa com o fim de reconquistar
a ilha dos espanhóis e ingleses. O processo da retomada de Santo Domingo foi dificultado
quando divergências entre as organizações de mulatos, que correspondiam às classes mais
abastadas da sociedade, entraram em conflito com as lideranças negras. Porém, em 1798 Santo
Domingo aparece como uma república independente no contexto da Revolução Francesa
(VOVELLE, 2012).

4- Com o fim da unidade legal-administrativa entre a França e suas colônias, pode-se


observar também a queda de um dos ideais revolucionários que tinha como objetivo guiar as
políticas de administração entre metrópole e colônia no fim do século XVIII. Desta forma, foi
endereçada uma carta a São Domingo, atual Haiti, comunicando as mudanças da administração
colonial, sendo uma das principais justificativas para a descontinuidade o quesito moral de
hábitos e costumes existentes entre os habitantes das colônias, onde segundo os cônsules
franceses, diferenciavam-se muito das práticas europeias, justificando então, a legitimação das
imposições coloniais.
Frantz Fanon em Pele Negra, Máscaras Brancas (2008) aborda como a violência no
processo colonial e o racismo, tem como uma de suas consequências a deslegitimação da
cultura e dos hábitos do indivíduo subalternizado, e em contrapartida o reforço da cultura do
colonizador. Partindo deste ponto, pode-se analisar a carta encaminhada à colônia de São
Domingo enquanto uma forma de reafirmação dos ideais e da moralidade francesa, sendo muito
clara a visão de superioridade imposta pela cultura europeia através da chamada mission
civilisatrice.
Os símbolos culturais utilizados pelos habitantes de São Domingo são elementos
fundantes para as práticas sociais pertencentes aquela cultura, sendo o principal elemento de
identificação daqueles indivíduos pertencentes àquele contexto, tornando-se um objeto de
ataque direto do colonialismo francês, uma vez que seus esforços se voltaram diretamente para
o apagamento de qualquer cultura pré-colonial.
A imposição do modo de vida europeu aos habitante de São Domingo aplicado ao
pensamento fanoniano (2008) se torna um exemplo bastante didático da violência colonial, pois
derivado disso, podemos observar que neste processo acontece a descaracterização do outro
enquanto indivíduo dotado de suas subjetividades, tornando o colonizado uma caricatura
racializada pertencente a uma lógica dialética, onde o subalternizado só passa a se enxergar
enquanto tal, à medida em que existe alguém ou algo que o coloque nesta posição.
REFERÊNCIAS
1- FURET, F. A Revolução sem o terror O debate dos historiadores do século XIX? in: A
revolução em debate. Bauru, EDUSC, 2001.
JAMES, C. L. R. : Os Jacobinos negros. São Paulo, Boitempo, 2021.
VOVELLE. Michel. “Em duas frentes: revolução aceita, revolução recusada na França e
no mundo”. In:______ A revolução francesa 1789-1799. São Paulo, Editora Unesp, 2012.

2- SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia das
Letras, 2007.
JAMES, C. L. R. : Os Jacobinos negros. São Paulo, Boitempo, 2021.

3- VOVELLE. Michel. “Em duas frentes: revolução aceita, revolução recusada na França e
no mundo”. In:______ A revolução francesa 1789-1799. São Paulo, Editora Unesp, 2012.

4- FANON, Franz. Sobre o pretenso complexo de dependência do colonizado? in: Pele negra,
máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008

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