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CONCLUSÃO

Ao retomar os tópicos discutidos neste trabalho, vemos que a crise do Antigo Regime
foi marcada pela decadência e mudanças nos valores estruturais políticos de sua época,
em especial o Absolutismo e seu sistema econômico. Isto se deu a partir da
materialização das ideias Iluministas com a Revolução Francesa e da transição para o
capitalismo industrial, este catapultado pela Revolução Industrial na Inglaterra. O
fortalecimento da burguesia, do liberalismo e a Independência das 13 Colônias inglesas
levaram, ao mesmo tempo, a uma inevitável crise no sistema colonial, no caso aqui
discutido, o colonialismo português e os efeitos desta crise sobre os colonos luso-
brasileiros – em plena formação de sua própria burguesia e embebidos, em parte e não
de forma homogênea (VILLALTA, 2000), dos ideais liberais.

A realidade local da Colônia, neste momento de transições políticas e econômicas que


reverberavam da Europa, foi tomada pelo aumento da insatisfação de sua própria
condição como colônia (MOTA, 2008), principalmente a partir de medidas tomadas no
reinado de D. José I e com a administração de Sebastião José de Carvalho e Melo,
Marquês de Pombal e Conde de Oeiras (1699-1782), que marcou tensões econômicas
vinculadas tanto à arrecadação de impostos quanto a uma pressão pela manutenção de
monopólios, o que desagradou, de forma geral, colonos da elite em diversas regiões; por
isso, além de influenciados pelos “novos ares” políticos, também é importante, ao
concluir, levar em conta as diferenças regionais em torno das insatisfações (FAUSTO,
1995), pois as tomadas de consciência da colônia e suas manifestações não ““possuíam
uma uniformidade de propósitos, tendo escopos distintos, até mesmo antagônicos”
(VILLALTA, 2000, p. 30).

Ao longo do trabalho, vimos estas diferenças através da Inconfidência Mineira (1789) e


da Conjuração Baiana (1798), separados não apenas por quase dez anos, mas também
por certas noções distintas de republicanismo, colonialismo e liberdade. Por exemplo,
no caso mineiro, analisamos que suas reinvindicações partiam principalmente de um
descontentamento com a estrutura econômica, ao buscar a suspensão da Derrama, entre
outros impostos – o que não deixa de ser parte da influência dos ideais liberais e
republicanos, assim como a demanda por realização de eleições. Ao mesmo tempo,
vimos que foi um movimento ligado às elites e a formação de uma burguesia, sem
grandes contestações a outros mecanismos coloniais tão evidentes (SOUZA, 1999),
como a escravidão ou distribuição de renda ou novas ordens sociais.
No caso da conjuração baiana, retomamos que, embora também reivindicasse questões
econômicas e que respirava os ventos republicanos que vinham da Europa, foi uma
revolta também influenciada por ventos decoloniais, a partir da experiência da
Independência do Haiti (1791- 1804), marcada pela participação popular e pela
liderança negra. O apoio popular à conjuração baiana deu-se justamente pelas suas
demandas sociais e econômicas mais amplas, sendo abraçado por distintos grupos da
sociedade colonial, entre brancos, negros libertos e mulatos; não há como afirmar que
foi a mais republicana das revoltas; no entanto, foi uma revolta capaz de registrar
historicamente que as desigualdades e violações políticas, econômicas e sociais não
eram normalizadas pelos grupos mais atingidos (VILLALTA, 2000), os negros
escravizados e libertos, além de pessoas de camadas sociais mais pobres.

REFERÊNCIAS

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995

MOTA, Carlos Guilherme; LOPEZ, Adriana. História do Brasil. Uma interpretação.


São Paulo: Editora Senac, 2008
VILLALTA, Luiz Carlos. O Império luso-brasileiro e os Brasis. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000
SOUZA, Laura de Mello e. Norma e Conflito – aspectos da História de Minas no século
XVIII. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

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