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Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO

Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes - SEHLA/G


Departamento de História - DEHIS/G

Nome: João Caleber Batista Martins


Disciplina: História da América II
Professora: César Agenor Fernandes da Silva

ATIVIDADE AVALIATIVA

TEMA DA REDAÇÃO: Das independências as abolições na América Espanhola


independente: conquistas, reveses e permanências.

Ao pensar os processos de independências na América espanhola uma série


de fatores incidem sobre as condições que propiciaram as movimentações em busca
da emancipação, sendo tanto fatores externos à colônia, como as revoluções pela
qual a Europa estava passando nos séculos XVIII e XIX, quanto questões internas.
Da mesma forma, ao olhar para as abolições que irão ocorrer após as
independências, são múltiplos os fatores que podem ser destacado, como a luta de
escravos pela liberdade, a influência mercantil inglesas nas demandas pela abolição
e como será o desfecho das condições dos ex-escravizados após as abolições. Para
isso, é necessário retomar os processos de independência, para posteriormente
olhar as abolições e compreender as permanências, reveses e conquistas.
Primeiramente, pensando nos processos de independência, entende-se que a
Europa do século XVIII estava passando por mudanças significativas, onde na
Inglaterra acontecia a Revolução Industrial e na França se desencadeava a
Revolução Francesa. Essas mudanças irão influenciar não só nas colônias dessas
respectivas metrópoles, mas também, nas colônias de outras nações, caso da
Espanha e de Portugal. No contexto do século XVIII, a Inglaterra despontou em suas
relações comerciais com outras nações da Europa, prejudicando, em certa medida,
a França que até então possuía grande influência na Europa. Após o processo
revolucionário francês, em 2 de Dezembro de 1804, o general Napoleão Bonaparte
tornou-se imperador, promovendo uma forte oposição aos avanços ingleses,
sancionando o Bloqueio Continental à Inglaterra em 1806 e invadindo outras nações
da Europa para expandir o domínio francês. Todo esse processo influenciou
grandemente nas Américas, sendo um dos motivos causadores da busca pela
independência das colônias espanholas e portuguesas.
O bloqueio continental definido por Napoleão sancionou a proibição do
comércio das nações sob influência da França com a Inglaterra, onde as
embarcações dos ingleses não podiam ancorar-se nos seus portos. O objetivo era,
justamente, diminuir a expansão comercial da Inglaterra, ameaçando as nações que
se arriscassem a continuar o comércio com ela de serem invadidas pelo exército
francês. Como pontua Peregrino e Prado (2022, p. 13), durante o século XVIII boa
parte dos recursos extraídos das colônias espanholas na América eram drenados
pela Inglaterra, o que aponta uma forte relação entre essas nações. Dado a estreita
relação comercial entre a Espanha e a Inglaterra, Napoleão Bonaparte acaba
invadindo a Espanha em 1808, depondo o rei espanhol e o substituindo. Com isso,
as colônias da Espanha na América, que já vinham refletindo sobre a sua
independência da metrópole, aproveitam a ausência do rei espanhol e desenvolvem
mais autonomia em relação à metrópole. Compreende-se que colônias
hispano-americanas, com a invasão da Espanha, começaram a movimentar-se para
alcançar suas independências (Peregrino & Prado, 2022, p.14-15), todavia, as elites
coloniais divergiam sobre a independência, temendo uma possível fragilização de
seus territórios.
Observando isso, percebe-se que existiam diferentes percepções nas colônias
sobre a emancipação da metrópole, o que nos leva a pensar os processos de
independência internamente. Devido a exploração da metrópole dentro das colônias,
as elites coloniais buscavam mais autonomia em relação à metrópole, o que resultou
em diferentes movimentos. Na América do Sul, podemos observar a independência
através de duas figuras importantes, sendo eles o venezuelano Simón Bolívar e o
argentino José de San Martin, ambos generais. Para Simon Bolívar, as colônias
espanholas deveriam se unir para conquistar a sua independência e autonomia,
integrando todas as colônias. Em suas investidas, Bolívar alcançou importantes
vitórias, o que demonstra a dificuldade da Espanha em vencer os rebeldes
(Peregrino & Prado, 2022, p. 32). No final de 1819, foi proclamada a independência
do vice-reinado de Nova Granada e a união de todas as províncias na república de
Grã-Colômbia, sendo Bolívar o primeiro presidente. Pouco tempo depois, a
Venezuela também conquistou a independência em 1821. Uma das estratégias
usadas por Bolívar para formar o seu exército foi prometer a alforria aos escravos
que se alistassem, o que nos permite pensar o papel dos escravizados nos
processos de independência.
Em relação à participação de escravizados na busca pela independência, o
melhor exemplo que temos dentro das independências nas américas é a experiência
no Haiti, colônia de exploração francesa e espanhola. Conforme Pons (1991) o Haiti
foi a primeira colônia da América Latina a tornar-se independente de sua metrópole,
sendo também o primeiro Estado das américas a abolir a escravidão negra. Isso se
deu graças à grande participação de escravizados no processo de independência
haitiano. Sendo uma pequena ilha das Antilhas, a população do Haiti se dava em
maioria por escravizados, superando a presença de brancos na ilha. Com o início da
efervescência da independência, os escravizados também organizaram algumas
revoltas buscando pela sua liberdade e por melhores condições de trabalho, o que
tornou imprescindível não considerar a sua participação no processo de
emancipação. Vendo isso, no contexto haitiano, imerso entre os interesses de
nações como a Inglaterra e a França, a participação do escravizados contemplará a
busca pelo abolição da escravidão, tendo como lideres figuras como Toussaint
Louverture, um ex-escravo doméstico crioulo. De fato, em meio a guerra civil
provocada pelas revoltas dos escravizados, no dia 1 de Janeiro de 1804 o Haiti se
tornara independente, trazendo consigo a abolição da escravidão.
No restante da América, após os processos de independência, a abolição vira
tanto de mobilizações internas, dos próprios escravizados, quanto de pressões
externas. Tendo o contexto de industrialização da Inglaterra, o capitalismo irá se
fortalecer, o que ocasionou a demanda por novos mercados. Dado os conflitos
existentes na Europa dos séculos XVIII e XIX, a burguesia inglesa irá voltar o seu
olhar sobre as américas, financiando os movimentos de independência, como
apresenta Pons (1991) em relação ao contexto haitiano, com o intuito de explorar
esses novos mercados com mais flexibilidade, realizando empréstimos para os
novos Estados. Essa influência inglesa também aconteceu no pensamento
abolicionista, tendo que para uma economia de livre mercado é necessário
compradores, o que implica em uma mão de obra que carecia ser assalariada. Para
isso, aponta-se a influência tida da Inglaterra na formação dos novos regimes
políticos, como a república optada por alguns dos novos Estados da América
espanhola (Perregrino e Prato, 2022, p. 44).
Todavia, mesmo com as abolições que irão ocorrer dentro da América
espanhola ao longo do século XIX, pode-se observar algumas permanências das
relações étnico-raciais através do racismo que irá se preservar. Nesse sentido,
Andrews (2007) discute que após a abolição da escravidão, na América espanhola a
exploração quanto os ex-escravizados continuará de diferentes maneiras. Em
algumas regiões da América espanhola, os negros libertos continuaram a trabalhar
nas propriedades de seus ex-senhores, dado a ausência de outras opções de
trabalho. Esse trabalho nas fazendas será recompensado apenas com a permissão
de moradia nas imediações, assim como, o cultivo de uma pequena horta para
subsistência. Nas regiões mais urbanizadas, os negros libertos ficaram expostos aos
piores trabalhos, se amontoando em morros, dando origem as primeiras favelas.
Entretanto, em Cuba, uma parcela dessa população irá migrar para regiões não
ocupadas, o que vai permitir condições menos exploratórias.
Portanto, analisado esse contexto, compreende-se nessa exposição que os
processos de independência, além das influências exteriores, também serão fruto de
uma mobilização interna de busca por uma emancipação. Nessa busca, a
participação de negros escravizados será fundamental em contextos como o do
Haiti, primeiro país da América espanhola a garantir a abolição da escravidão.
Durante os processos de independências, os negros lutaram nos movimentos, como
o de Bolívar, em busca de sua liberdade, o que amplia as nossas visões sobre a
abolição. Com isso, as perspectivas de análise sobre esse contexto não podem ser
excludentes e observar as independências no olhar do homem branco ou através da
Europa, tendo que esse processo não se faz apenas por eles. Por fim, mesmo com
a independência e a formação dos Estados nacionais, como a leitura de Andrews
nos mostra, a população negra ainda continurá em situações de exploração social,
dado a herança colonial da escravidão.

Referências:

PELLEGRINO, Gabriela e PRADO, Maria Ligia. História da América. Editora


Contexto, 1ª ed., 6ª reimpressão, 2022.
PONS, Frank Moya. A independência do Haiti e de Santo Domingo. In: BETHELL,
Leslie (org.). História da América Latina. 5 Independência. Barcelona: Crítica, 1991,
p.124-153.

ANDREWS, George Reide. "Uma Transfusão de Sangue Melhor": O


Branqueamento, 1880-1930. In:______. América Afro-Latina (1800-2000). trad.
Magda Lopes. São Carlos: EDUFSCAR, 2007, p.151-186.

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