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Nome: João Caleber Batista Martins

Data de entrega: 01 de Fevereiro de 2022


Curso: História Licenciatura Noturno
Disciplina: Ensino de História e Formação de Docente
Professor/a: Marion Regina Stremel
Trabalho: Realizar fichamento do texto Livros e materiais didáticos de História

FICHAMENTO DE CITAÇÃO

BITTENCOURT, Circe M. F. Livros e materiais didáticos de História. In:_____.


Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. p.
295-324.

1. Materiais didáticos para a História escolar

1.1. Materiais didáticos e indústria cultural

"Uma concepção mais ampla e atual parte que os materiais didáticos são
mediadores do processo de aquisição de conhecimento, bem como facilitadores
da apreensão de conceitos, do domínio de informações e de uma linguagem
específica da área de cada disciplina - no nosso caso, da História"(p. 296).

"Os suportes informativos correspondem a todo discurso produzido com a


intenção de comunicar elementos do saber das disciplinas escolares"(p 296).

"Os suportes informativos pertencem ao setor da indústria cultural e são


produzidos especialmente para a escola, caracterizando-se por uma linguagem
própria, por um tipo de construção técnica que obedece a critérios de idade, como
vocabulários, extensão e formatação de acordo com princípios pedagógicos"(p.
296).

"Os documentos, diferentemente dos suportes informativos, foram produzidos


inicialmente sem intenção didática, almejando atingir um público mais amplo e
diferenciado. Contos, lendas, filmes de ficção ou documentários televisivos,
músicas, poemas, pinturas, artigos de jornal ou revistas, leis, cartas, romances
são documentos produzidos para um público bastante amplo que, por intermédio
do professor e seu método, se transformam em materiais didáticos"(p. 297).

"Além da criação de materiais didáticos pelos professores, há também as


produções feitas pelos alunos, constituídas de textos escritos diversos, como
dissertações, monografias, narrativas, relatórios ou esquemas, painéis, jogos,
mapas, maquetes, etc. Esse tipo de produção por parte dos alunos consiste
numa forma de criação de material didático resultante do domínio do
conhecimento obtido no decorrer do processo de aprendizagem"(p. 297-298).

1.2. Material didático: instrumento de controle curricular

“O despreparo do professor, resultante de cursos sem qualificação adequada, e


as condições de trabalho nas escolas muitas vezes favorecem, segundo afirma o
autor [Michel Apple, no artigo Controlando a forma de currículo], uma cultura
mercantilizada que transforma cada vez mais a escola em um mercado lucrativo
para a indústria cultural, com oferta de materiais que são verdadeiros 'pacotes
educacionais' "(p. 298).

"O material didático, por ser instrumento de trabalho do professor, é igualmente


instrumento de trabalho do aluno; nesse sentido, é importante refletir sobre os
diferentes tipos de materiais disponíveis e sua relação com o método de
ensino"(p. 298).

"A escolha dos materiais depende, portanto, de nossas concepções sobre o


conhecimento, de como o aluno vai apreendê-lo e do tipo de formação que lhe
estamos oferecendo. O método para a utilização dos diversos materiais didáticos
decorre de tais concepções e não pode ser confundido com o simples domínio de
determinadas técnicas para a obtenção de resultados satisfatórios"(p. 299).

2. Livro didático: um objeto cultural complexo

"Os livros didáticos, os mais usados instrumentos de trabalho integrantes da


'tradição escolar' de professores e alunos, fazem parte do cotidiano escolar há
pelo menos dois séculos. Trata-se de objeto cultural de difícil definição, mas, pela
familiaridade de uso, é possível identificá-lo, diferenciando-o de outros livros"(p.
299).

"A produção dessa literatura didática [livros didáticos] tem sido objeto de
preocupações especiais de autoridades governamentais, e os livros escolares
sempre foram avaliados segundo critérios específicos ao longo da história da
educação"(p. 299-300).

2.1. Livro didático: objeto de difícil definição

"A familiaridade com o uso do livro didático faz que seja fácil identificá-lo e
estabelecer distinções entre ele e os demais livros. Entretanto, trata-se de objeto
cultural de difícil definição, por ser obra bastante complexa, que se caracteriza
pela interferência de vários sujeitos em sua produção, circulação e consumo.
Possui ou pode assumir funções diferentes, dependendo das condições, do lugar
e do momento em que é produzido e utilizado nas diferentes situações escolares.
É um objeto de 'múltiplas facetas', e para sua elaboração e uso existem muitas
interferências"(p. 301).

"Constitui [o livro didático] também um suporte de conhecimentos escolares


propostos pelos currículos educacionais. Essa característica faz que o Estado
esteja sempre presente na existência do livro didático: interfere indiretamente na
elaboração dos conteúdos escolares veiculados por ele e posteriormente
estabelece critérios para avaliá-lo, seguindo, na maior parte das vezes, os
pressupostos dos currículos escolares institucionais"(p. 301).
"(...) o livro didático precisa ainda ser entendido como veículo de um sistema de
valores, de ideologias, de uma cultura de determinada época e de determinada
sociedade"(p. 302).

2.2 Livro didático de História como objeto de pesquisa

"No Brasil, também os livros didáticos de História têm sido os mais investigados
pelos pesquisadores, e foram igualmente muito comuns análises dos conteúdos
escolares em uma perspectiva ideológica. Aos poucos, as abordagens ideológicas
foram sendo acrescidas de outros aspectos referentes aos conteúdos, como
defasagens ou clivagem entre a produção acadêmica e a escolar ou ausências ou
estereótipos de grupos étnicos ou minoritários da sociedade brasileira"(p. 304).

"Sobre as relações entre conteúdos escolares e acadêmicos, o historiador Carlos


Vesentini, no artigo 'Escola e livro didático de História', apontou para as
especificidades do livro didático no processo de criação e cristalização de uma
memória, na consolidação de determinados fatos considerados fundamentais nas
mudanças da nossa sociedade. O autor adverte-nos, no entanto, de que o livro
didático não é responsável de forma isolada por essa sedimentação de uma
memória histórica; na maior parte das vezes, serve como veículo de reprodução
de uma historiografia responsável pela produção dessa mesma memória e que
renova interpretações, mas sempre em torno dos mesmos consagrados fatos,
que se tornam os nós explicativos de todo o processo histórico: o Descobrimento
do Brasil, a Independência, a Proclamação da República, a Revolução de
1930"(p. 304).

"As preocupações atuais recaem na compreensão das relações entre conteúdo


escolar e métodos de aprendizagem expressos nessa literatura pedagógica, das
articulações entre conteúdo e livro didático como mercadoria, dos vínculos entre
políticas públicas educacionais e os processos de escolha desses livros pelos
professores e dos diferentes usos que professores e alunos fazem do material"(p.
306).
2.3. Caracterização dos livros didáticos de História

"As funções atuais do livro didático são: avaliar a aquisição dos saberes e
competências; oferecer uma documentação completa proveniente de suportes
diferentes; facilitar aos alunos a apropriação de certos métodos que possam ser
usados em outras situações e em outros contextos"(p. 307).

"As obras resultante desse processo [de alterações nos livros destinados às
primeiras e quartas séries do ensino fundamental] revelam maior cuidado no
tratamento dos conceitos básicos da área, como os de tempo e espaço, e
incluem temas ligados ao multiculturalismo, havendo mesmo aquelas
especialmente produzidas para a história local, algumas das quais apresentadas
sob o formato de paradidático. Observa-se também nessa produção mais recente
maior preocupação quanto às atividades a seu realizadas pelos alunos,
destacando-se uma variedade de exercícios lúdicos"(p. 308-309).

"Os livros didáticos, ao longo dos séculos XIX e XX, foram organizados de
maneira que tivessem uma seqüência linear, segundo a lógica cartesiana que
conformava a estrutura da obra a capítulos, compostos de exercícios, perguntas,
resumos e quadro cronológico que seguiam as 'lições' "(p. 309).

"Embora algumas das características gerais dos livros didáticos de História,


quando comparados a momentos anteriores, permaneçam, as renovações na
forma de apresentação das informações e nas atividades didáticas revelam
mudanças na concepção de aluno e professor. Existe a tendência de favorecer a
liberdade do professor na realização de suas tarefas, na escolha dos textos e
documentos a ser utilizados, na reconstrução dos conteúdos apresentados. É
comum encontrar sugestões de leituras de outros livros, de filmes e de consultas
na mídia eletrônica. Há também o incentivo a pesquisas complementares,
indicando, de maneira implícita, que o livro didático não é nem deve ser o único
material a ser utilizado pelos alunos"(p. 310-311).
3. Propostas para análise de livros didáticos

"O livro, como mercadoria, obedece a critérios de vendagem, e por essa razão
as editoras criam mecanismos de sedução junto aos professores. Oferecem-lhes
cursos, criam materiais anexos que acompanham as obras e esmeram-se em
apresentar o livro como um produto 'novo', seguidor das últimas inovações
pedagógicas ou das propostas curriculares mais atuais"(p. 312).

"A importância do livro didático reside na explicitação e sistematização de


conteúdos históricos provenientes das propostas curriculares e da produção
historiográfica. Autores e editoras têm sempre, na elaboração dos livros, o desafio
de criar esses vínculos. O livro didático tem sido o principal responsável pela
concretização dos conteúdos históricos escolares"(p. 313).

"Um problema considerado como dos mais graves em relação ao livro didático é a
forma pela qual apresenta os conteúdos históricos. O conhecimento produzido
por ele é categórico, característica perceptível pelo discurso unitário e simplificado
que reproduz, sem possibilidade de ser contestado, como afirmam vários de seus
críticos"(p. 313).

"O livro didático procura universalizar leitores distintos e estabelecer uma 'cadeia
de transferências' do conhecimento histórico sem divergências"(p. 314).

"A operação de produção e apresentação do conhecimento realizada pelo livro


didático é assim foco de crítica, porque resulta em um texto impositivo que
impede uma reflexão de caráter contestatório. O livro didático caracteriza-se por
textos que reproduzem as informações históricas, afirmam seus críticos, as quais
por sua vez serão repetidas pelo professor e pelo aluno"(p. 314).

"A escrita de um texto didático requer cuidados, por se tratar de uma produção de
adultos destinada a um público de outra faixa etária e outra geração. A
terminologia empregada não pode ser complexa, mas requer precisão nas
informações e nos conceitos. Da mesma forma, as explicações não podem ser
extensas, devendo ser simples sem simplificar"(p. 314).

3.3. Conteúdos pedagógicos

"A análise do discurso veiculado pelo livro didático é indissociável da análise dos
conteúdos e tendências historiográficas de que é portador"(p. 314-315).

"O livro didático, como já foi ressaltado anteriormente, é um material importante e


de grande aceitação porque, além de fornecer, organizar e sistematizar os
conteúdos explícitos, inclui métodos de aprendizagem da disciplina. Não é apenas
livro de conteúdos de História, de Geografia ou de Química, mas também um livro
pedagógico, em que está contida uma concepção de aprendizagem"(p. 315).

"Uma análise dos conteúdos pedagógicos ou do método de aprendizagem de um


livro didático deve atender para a averiguação das atividades mediante as quais
os alunos terão oportunidade de fazer comparações, identificar as semelhanças e
diferenças entre os acontecimentos, estabelecer relações entre situações
históricas ou entre a série de documentos expostos no final ou intercalados nos
capítulos e indicar outras obras para leitura, fornecendo pistas para a realização
de pesquisa em outras fontes de informação"(p. 315-316).

4. Práticas de leitura de livros didáticos

"Embora não se possa negar e omitir o papel dos valores e da ideologia nas obras
didáticas, as conclusões de leitura desse material têm apontado para a
importância das representações sociais na apreensão do seu conteúdo e método.
A recepção feita pelos usuários é variada, até porque o público escolar não é
constituído por um grupo social homogêneo"(p. 317).

"O livro didático pode ser o único material a que professores e alunos recorrem no
cotidiano escolar ou pode ser apenas uma obra de consulta eventual. Mas é
importante destacar que a distinção essencial entre essa prática de leitura e as
outras reside na interferência constante do professor e sua mediação entre o
aluno e o livro didático. O professor escolhe-o, seleciona os capítulos ou partes do
capítulo que devem ser lidos e dá orientações aos alunos sobre como devem ser
lidos"(p. 317).

"Esse material oferece condições para o aluno ter maior domínio sobre a leitura e
a escrita e ampliar seu conhecimento sobre vários assuntos e temas, mas,
paradoxalmente, limita esse domínio, ao direcionar a leitura para determinadas
formas de ler e utilizar as informações apreendidas"(p. 317-318).

"O aluno estuda no livro didático para as avaliações, para cumprir determinada
tarefa que o professor ordenou, para fazer uma pesquisa escolar, mas dificilmente
recorre a ele para uma leitura livre, para adquirir espontaneamente
conhecimentos"(p. 318).

"O grau de dependência dos professores em relação ao material está associado à


sua formação e as condições de trabalho, sobretudo à quantidade de escolas e
horas de aula semanais. Muitos dos docentes entrevistados afirmam que o livro
didático é um ponto de apoio para a organização das aulas, servindo como
esqueleto e como 'meio de recordar' assuntos pouco estudados nos cursos de
licenciatura" (p. 318-319).

4.2. Livro didático: material de pesquisa escolar

"Os livros didáticos têm sido considerados material importante no cotidiano


escolar, mas o destaque é sempre dado ao seu caráter de ferramenta auxiliar,
sem jamais serem ressaltados como instrumento de trabalho exclusivo e único de
professores e alunos"(p. 319).

"Uma proposta para um uso diferenciado do livro didático deve, então, começar
pelo princípio básico de leitura de uma obra. É importante fazer uma
apresentação do livro para os alunos em sua integralidade, pedindo-lhes que
elaborem uma ficha bibliográfica da obra, com nome do autor, título, editor, local
de edição, etc"(p. 320).
"Refletem igualmente o fato de o livro didático pode ser usado como material de
pesquisa, como referencial para busca de informações, além de poder ser
constantemente usado em outras pesquisas, em outros momentos do processo
de escolarização"(p. 320).

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