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Resenha do artigo
1
Doutor e Pós-doutor pelo departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Direito Político e Econômico e Bacharel em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Filosofia pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Autor do livro “Racismo
Estrutural”.
Aos becos encontram-se os marginais, pretos, indígenas, os periféricos, os queers,2 e todos
aqueles que não se encaixam nos padrões eurocêntricos que se encontram também nas
escolas.
Sob essa perspectiva, Dutra pontua que “Não se constrói consciência histórica com uma
semana ou um dia, não se desconstrói estereótipos negativos, preconceitos e processos
discriminatórios em duas ou três aulas”(p. 257). Com isso, entende-se que não se desconstrói
os becos de segregação em um curto processo. Os becos são frutos de uma estrutura, de um
sistema de construção de subjetividades. Para Almeida, no que tange o racismo estrutural, “a
escola reforça todas essas percepções ao apresentar um mundo em que negros e negras não
têm muitas contribuições importantes para a história, literatura, ciência e afins”(ALMEIDA,
2019, p. 41). Essa negligência das práticas corrobora para o reforço do imaginário social que
fortalece o princípio dos becos. Ao refletirmos sobre as práticas pedagógicas, então, devemos
nos atentar para retirar esses indivíduos desses becos educacionais de maneira efetiva, e não
apenas mascarar os becos com temáticas de diversidade. Para combater preconceitos que
constituem a escola estruturalmente, dado seu papel como instituição do Estado, a
problematização deve ser mais profunda. Assim, deve-se pensar, politicamente, de maneira
crítica a formação desses lugares de fuga, os reconhecendo como parte das escolas, e como
elementos das práticas sociais.
No que tange às práticas pedagógicas, a figura docente possui um papel essencial nessa
tomada curricular que traga abordagens que se perdem no cotidiano das escolas. A cultura
afro-brasileira como bem marcado por Dupla, assim como outras culturas marginais, deve ser
abordada de maneira mais contínua. Em conformidade, essa continuidade deve ser
interdisciplinar, pois não se trata apenas da história, mas também da literatura, das ciências e
de outras áreas do saber em uma perspectiva mais pluriétnica. Entretanto, o esforço não deve
ser esperado só dos docentes, como apontado pela autora. Como observamos, o racismo
estrutural se deságua no que se entende como racismo institucional. A educação, como
instituição, reflete em si esse racismo. Ao se reformular as práticas e abordagens, é preciso
que institucionalmente se busque refletir e remediar essas questões, como iniciativa para a
preparação e subsídio desses docentes para desenvolver as novas demandas. Assim,
entende-se que uma educação pluriétnica demanda uma reflexão crítica na formação dos
alunos, embasando-se em uma educação proporcionalmente cidadã. Em conformidade, como
2
Palavra proveniente do inglês usada para designar pessoas que não seguem o modelo de heterossexualidade ou
do binarismo de gênero.
bem pontuado por Dupla, a formação cidadã também compreende o entendimento das
mazelas que constituem as nossas escolas.
Em suma, compreendendo a complexidade da formação racista de nosso país, o artigo
“Preconceitos e diversidade: pelos becos da escola inclusiva” possui o respaldo da
necessidade de sua discussão. Entendendo as escolas como lugares de múltiplas vivências e
presenças, e como um ambiente que (re) produz preconceitos e estigmas da sociedade, a
discussão que Dupla nos traz é de impacto aos educadores e a todos que permeiam a esfera
educacional, tendo que propõe aos mesmos repensar suas práticas docentes. Pode-se marcar
que a atualidade do artigo se constrói no histórico de uma demanda que já se faz necessária a
muito tempo. Dessa forma, refletir a formação das escolas e repensar o ensino é necessário
para qualquer educador que ingresse nas escolas brasileiras. Assim, o artigo de Dupla pode
ser visto como um ponto de partida para que os professores reconheçam a existência desses
becos, e logo, ampliem suas abordagens em relação a identidade de seus alunos. Desse modo,
esse ponto de partida possibilitará aos professores das diversas áreas de formação explorar os
diversos intelectuais que discorrem sobre o assunto. Entre esses intelectuais podemos citar
Kabengele Munanga, Glória Moura, Antonio Sant’ana, entre outros, trazidos por Dutra em
seu artigo.
Dessa maneira, para compreender o pensamento de Dupla podemos recorrer a sua
produção acadêmica ligada à temática. A autora, especialista em História e Cultura
Afro-brasileira, discorre em seus artigos “Lei 10639/03, a representação do negro e o contexto
escolar”3, “África e africanidades: arte e literatura na construção de uma representação
positiva do negro no Brasil”4, entre outros, sobre a formação das identidades afro-brasileiras,
pautadas para entender as escolas inclusivas. Com isso, explorar a temática possibilita
compreender a necessidade de se repensar as abordagens, no que tange às identidades
afro-brasileiras, nas escolas, para assim, de fato, a educação tornar-se emancipadora.
3
Disponivel em: Vista do Lei 10.639/03, a representação do negro e o contexto escolar<br>Law 10.639/03,
representation in the context of school<br>Ley 10.639/03, representación en el contexto de la escuela (uepg.br)
4
DUPLA, S. A. ; OLIVEIRA, L. A. . ÁFRICA E AFRICANIDADES: ARTE E LITERATURA NA
CONSTRUÇÃO DE UMA REPRESENTAÇÃO POSITIVA DO NEGRO NO BRASIL. In: 3º Encontro de
Comunicação e Educação de Ponta Grossa, 2013, Ponta Grossa. 1º ENCONTRO JOVEM DE MÍDIAS E
EDUCAÇÃO :Comunicação e Educação numa Sociedade Multitelas, 2013. p. 089-096.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo : Pólen, 2019, p. 38-53.