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Ficha Bibliográfica
BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José [org.]
Aprendizagens Históricas: debates e opiniões. União da Vitória/Rio de
Janeiro: LAPHIS/Edições especiais Sobre Ontens, 2018.
ISBN: 978-85-65996-53-2
Disponível em: www.revistasobreontens.site
2
Apresentação
É com satisfação que nós do LAPHIS –Laboratório de Aprendizagem
Histórica da UNESPAR e do Leitorado Antiguo da UPE apresentamos esse
novo livro para vocês. Ele é resultado do nosso Simpósio Eletrônico de
Ensino de História realizado em Abril de 2018, que recebeu conferencistas
e cinco mesas diferentes ao longo de uma semana de intensos e ricos
debates.
3
SUMÁRIO
REFLEXÕES SOBRE A DIDÁTICA DA HISTÓRIA, EDUCAÇÃO HISTÓRICA E FORMAÇÃO DE
PROFESSORES, p.6
Ana Claudia Urban
4
O ENSINO DE HISTÓRIA: PROBLEMAS ATUAIS DE UM PASSADO NÃO MUITO DISTANTE,
p.151
Gustavo de Andrade Durão
5
REFLEXÕES SOBRE A DIDÁTICA DA HISTÓRIA, EDUCAÇÃO
HISTÓRICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Ana Claudia Urban
6
agreguem argumentos, ultrapassando a marca do conteudismo, muitas
vezes matizada por uma racionalidade exclusivamente linear.
7
pautados na Didática ou na Psicologia, na própria ciência de referência
que é a História.
“*...+ investigam a história como disciplina a ser ensinada. Nesse nível nós
falamos da didática da educação histórica. [...] A didática da educação em
história estabelece os objetivos e as formas da educação histórica dentro
de um dado contexto político, social, cultural e institucional. A
metodologia de instrução em historia estabelece os meios práticos pelos
quais estes objetivos são alcançados”. (RÜSEN, 2006, p. 9).
8
ocorrendo, justamente pelo fato dos pesquisadores e historiadores não
conceberem a Didática da História como parte da ciência da História.
9
vida humana. [...] Para essa forma de consciência, é determinante a
operação mental com a qual o homem articula, no processo de sua vida
prática, a experiência do tempo com as intenções no tempo e estas com
aquelas. Essa operação pode ser descrita como orientação do agir
humano no tempo. [...] A consciência histórica é o trabalho intelectual
realizado pelo homem para tornar suas intenções de agir conformes com
a experiência do tempo” (RÜSEN, 2001, p. 58-59).
10
“O termo ‘didática’ indica que a função prática do conhecimento histórico
produz efeitos nos processos de aprendizado. O que se entende aqui por
processos de aprendizado vai bem além dos recursos pedagógicos do
ensino *...+ de história (quase sempre conotado com o termo “didática”).
“Aprender” significa, antes, uma forma elementar da vida, um modo
fundamental da cultura, no qual a ciência se conforma, que se realiza por
ela e que a influencie de forme marcante” (2007, p. 87).
11
Entende-se que Rüsen advoga favoravelmente a existência de uma
Didática da História, tendo em vista que a História possui uma função
didática, sendo seu objetivo investigar o aprendizado histórico.
12
as vivências individuais e coletivas, o lugar onde se ensina e a forma como
o conteúdo é tratado, seguramente, podem fazer toda a diferença.
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O perfil dos 20 acadêmicos que responderam ao questionário apresenta
as seguintes características: a maioria dos alunos é do sexo masculino e se
encontra na faixa etária entre 26 e 30 anos (07 alunos).
“Acho que antes de tudo, nós iniciantes *...+ devemos saber o que estamos
falando em segundo estabelecer normas que possibilitem a aprendizagem
*...+” (Acadêmico 18).
“Entendo que, para dar significado para a Ciência Histórica deve ser
contextualizada a realidade de seu tempo de forma reflexiva, nos campos
socioeconômico e cultural. Em seguida estabelecer normas para o ensino
14
da História utilizando-se dos recursos didáticos disponíveis nas
instituições, concretizando dessa forma a aprendizagem. Ao mesmo
tempo verifica-se a concretização do ensino em História quando o aluno
responde positivamente aquilo que aprendeu em sala de aula e possa vir a
colocar em prática no seu dia a dia” (Acadêmico 19).
A segunda tarefa mais indicada como opção foi “Fazer com que o aluno
tenha uma aprendizagem em História. (Valorizar e acompanhar a
aprendizagem de cada indivíduo entender como se dá a aprendizagem em
História)” – escolhida por seis alunos e alguns argumentaram:
15
eficiente, contando também com a observação do docente em relação a
cada indivíduo (Acadêmico 5)”.
16
A valorização da Didática da História pelos alunos pode ser indiciária da
existência de uma disciplina com um código disciplinar próprio que deve
fazer parte da formação inicial dos futuros professores de História.
Referências
Ana Claudia Urban. Doutora em Educação pela UFPR. Professora de
Metodologia e Prática de Ensino de História do Departamento de Teoria e
Prática de Ensino (DTPEN). Professora do Programa de Pós-Graduação em
Educação - Setor de Educação (UFPR). Pesquisadora da LAPEDUH
(Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica/UFPR).
17
PRATS, Joaquín (1997). La Investigación en Didáctica de las Ciencias
Sociales. Notas para un debate deseable. In: La formación del profesorado
y la Didáctica de las Ciencias Sociales. Sevilla: Díada Editores, p. 9-25.
18
A UNIVERSIDADE BONSAI
André Bueno
Para aqueles que entendem um pouco sobre cultura asiática, o Bonsai
盆栽 – a árvore em miniatura – é um presente lindo e fantástico. O Bonsai
surgiu na China (onde originalmente era chamado de ‘penjing’ 盆景 ou
‘penzai’), e significa literalmente ‘árvore no vaso’. Alcançou, porém, um
grande sucesso pela divulgação realizada pelos japoneses ao redor do
mundo – era um das técnicas mais almejadas da chamada Ikebana 生
け花, ou ‘arte do arranjo floral’. O Bonsai é uma miniatura de árvore, feita
basicamente de duas formas; pela deformação controlada de uma árvore
real, cujas limitações físicas impostas terminam por reduzir suas
dimensões; ou pela transformação estilística de um tipo de planta em uma
aparente árvore anã, com cortes de folhagens e caracterizações no caule
que criem a aparência de árvore deformada, como no primeiro caso.
19
levou ao desenvolvimento das técnicas de miniaturização. Ao ser levada
para o Japão, essa arte ganhou um caráter próprio, servindo a criação de
peças únicas, muita vezes usadas, inclusive, na decoração de interiores
(para mais detalhes, ver ‘Classic Bonsai of Japan’, da Nippon Bonsai
Association. O livro de Adams [1998] também nos fornece um quadro
completo das técnicas de cultivo)
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não poderão crescer; e, no entanto, o que ocorre é que nunca crescem,
pois toda sua criatividade e imaginação são violentadas e chantageadas,
sob a promessa de se tornarem grandiosos. De fato, tudo que alcançam é
a limitação; sua beleza é artificial; seu conhecimento é frágil, muitas vezes
incapaz de sobreviver às dúvidas; seus objetivos são limitados e
canhestros; não são originais, nem mesmo realizados; são, como dizia
Fernando Pessoa, “aquilo que falharam ser”. Alguns ainda são como o
segundo tipo de bonsai; disfarçam-se, mas são incapazes de ser a si
mesmos (uma planta) como não são, também, uma árvore em potencial.
Apenas buscam o brilho por empréstimo, o sucesso por estarem
associados com alguém que julgam importantes.
Os orientadores de bonsai, em nosso país, têm feito muito disso: eles têm
destruído gerações inteiras de boas árvores para criarem miniaturas
monstruosas, destruindo-lhes o futuro e a capacidade de serem por si
mesmos. Suas belezas são emprestadas e falsas, sua autonomia é nula,
sua produtividade é pífia, e a vida que neles residia morre, ou sobrevive
no eterno coma da dependência. A perversidade do sistema envolve,
igualmente, os estudantes; alguns deles, inspirados na malévola ideologia
do jeitinho e da esperteza, acreditam que podem se ‘dar bem’ fazendo o
jogo de seus orientadores-jardineiros-boçais (perdão, bonsais) – e a
complacência para com a leviandade é a consolidação do erro, e a
reprodução de uma tragédia histórica de estupidez e alienação.
Sim, olho para os educadores de hoje e com muita dificuldade vejo neles
arquitetos do futuro, ou médicos de alma, muito menos sábios: vejo
pessoas ignorantes e frustradas, cujo egoísmo e a ânsia de poder os
transformam em fazedores de bonsai – sem que compreendam, porém,
que o bonsai é parte de um jardim vivo e de um cuidado atento. Eles
atrofiam os seus jardins até a quase inexistência de vida: e descartam seus
bonsais doentes e enfraquecidos quando esses não são úteis, substituindo
por outros.
Por essa razão, milhares de estudantes hoje saem das faculdades sem a
mínima idéia do que vão fazer. A promessa de frutificarem não se cumpre,
porque são bonsais: limitados, atrofiados e frágeis. Quando penso nisso,
me obrigo a separar os bonsais como obra de arte dos que são os alunos
universitários – caso contrário, eu não poderia mais gostar de bonsais.
Compreender os bonsais é o contrário disso: é tentar captar na miniatura
21
o potencial de grandeza que existe na vida. Contudo, se essa reflexão
transformou-se numa analogia que dirige todo o texto, é porque não pude
resistir à idéia de que hoje milhares de alunos estão sendo destruídos
pelos desejos vis de posição, fama, e riqueza de seus orientadores e
gestores. O desejo de singularizar-se se confunde facilmente com a
mediocridade, e não com o orgulho dignificante daquele que é autônomo
e pensa por si próprio. Confunde-se o pequeno com o obtuso; se confunde
o grande com o rico. São raros os formadores, no sentido de ensinarem os
alunos a conquistarem por si próprios seus sucessos. A dependência é a
cantilena do falso sucesso, e o caminho mais rápido para o fracasso e a
decepção. Ser pequeno acaba se tornando o aparente possível, e o belo
ideal; mas no fundo, é o escopo da mediocridade, a desculpa para o
abandono do conhecimento individual e por fim, o grande engano
destruidor de sonhos e esperanças. É a grande desilusão que toma os
alunos no fim da graduação, e que em breve se transforma em angústia:
sem proteção e cuidado, quem pode sobreviver? A promessa de sucesso
não se realiza, e a suposta ‘beleza’ do fiel orientando não é reconhecida –
simplesmente porque não existe.
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para serem como os cactos. Eles são espinhosos por fora, mas doces por
dentro. Ninguém lhes explora facilmente, pois eles podem se defender;
resistem à adversidade, são criados no extremo das temperaturas e das
condições de solo, e por isso mesmo adaptam-se muito bem a vários
climas diferentes. Cactos dão flores lindas, e nem por isso perecem
facilmente. Por fim, o cacto não é egoísta; ele dá água ao sedento que lhe
perfura a pele (e no caso do agave, um sumo fantástico que, se destilado,
vira a famosa tequila), e possui tantos usos alimentares, medicinais e
práticos como algumas das árvores mais bem conceituadas que
conhecemos.
23
as pessoas bem cuidadas. Bem cuidadas, as pessoas cultivam suas
famílias. Cultivadas as famílias, o governo fica organizado. Quando o
governo está organizado, todo o reino está feliz e tranqüilo.
Do Filho-do-Céu (imperador) até o povo, o cultivo pessoal é a raiz de tudo.
Quando se descuida da raiz, todo o restante desanda. Não há nada
importante que tenha sido mal cuidado; e não há nada que, sendo bem
cuidado, não se torne importante. Não se pode ser superficial com o
principal, nem dar importância ao secundário.
Isso é ‘conhecer as raízes’ e ‘conhecer profundamente’.”
[Daxue, capítulo 2]
Referências
André Bueno é Prof. Adj. de Antiguidade Oriental na UERJ.
24
EL JUEGO COMO INTRODUCCIÓN A LA HISTORIA:
ENTRE EXEMPLA, EMOCIÓN Y CONOCIMIENTO
Borja Antela-Bernárdez
Una frase falsamente atribuida a Einstein asegura que ‘el juego es la forma
más elevada de investigación’ (O’Toole). La máxima nos permite retomar,
ciertamente, el significado original, además, del concepto investigación,
especialmente asociado al concepto de Historia, al menos desde
Herodoto, si no antes. Ello podría, por tanto, animarnos a considerar,
siguiendo un razonamiento lógico, que si la historia es investigación, y la
más elevada forma de investigación es juego, la más elevada forma de
historia es (o podría ser) un juego.
25
interpretación como sistema metodológico en el cual fundamentar la
aproximación de nuestro conocimiento histórico, ni siquiera desde el
punto de vista metodológico, pues el valor de la acción interpretativa se
suponía que objetivaba la acción de comprender, cuando en realidad sólo
enmascara el proceso real existente, que es el de la comprensión personal
(es decir, propia, y por tanto, quizás no extrapolable a la comprensión de
otros observadores).
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datos que podemos acumular, estamos habilitados para ampliar nuestra
visión, y trascender esos palacios y grandes personajes. Pero no es fácil, en
modo alguno. El primer día de mi asignatura invito a mis estudiantes a
realizar un ejercicio, e imaginar un palacio, por ejemplo el de Cleoapatra.
Cualquier persona de nuestro mundo occidental tiene unas nociones
básicas de cultura clásica (construidas por medio del imaginario colectivo,
la cultura popular, la literatura y el cine, etc…, sobre personajes como
Cleopatra) que le permiten llevar a cabo este ejercicio. Es muy probable
que muchas de estas imágenes imaginadas construidas en la mente de
cada persona puedan distar mucho de lo que fue realmente el palacio de
Cleopatra. Pero eso ahora no es importante. Lo importante es que nos
resulta fácil evocar, e imaginar, de forma general, un palacio antiguo, con
sus reyes o reinas, sus grandes personajes, su fasto y boato. Luego, invito
a los estudiantes a tratar de imaginar más allá de la estancia del palacio, y
tratar de ver un balcón de esa estancia, y qué se ve desde allí. Suele ser
más difícil componer esta imagen. Se requieren más datos, quizás un
mayor conocimiento histórico de la época, circunstancias, paisaje, realidad
sociocultural, etc… del momento imaginado. No obstante, pasado un
instante, no parece tan difícil llegar a imaginarse la vista desde el palacio.
Entonces, como tercera y última fase del ejercicio, invito al alumnado a
tratar de dirigir su vista, desde ese balcón, a la calle. Y de imaginar qué se
da allí, qué pudo haber, cómo vive la gente, qué hay en el suelo
(¿adoquines? ¿tierra? ¿empedrado? ¿algo diferente?), cómo y con qué se
viste la gente, qué come, qué tipo de gente (¿hombres? ¿mujeres? ¿qué
mujeres y qué hombres?...), etc… Aquí es donde nos abruma la realidad:
es complicado imaginar sin datos.
Pese a ello, creo que la primera conclusión del ejercicio es que la auténtica
herramienta fundamental del historiador es, en realidad, la imaginación. Si
puede ser imaginado, puede ser historiado, parafraseando a Kubrick. Pero
no es la única. Podemos imaginar, pero la historia no es, como decíamos,
poética, y por tanto, nuestra imaginación tiene una serie de límites, como
son los de la realidad física, los de los hechos que conocemos, los de los
datos que podemos inducir de las informaciones obtenidas por las
investigaciones, etc… Asimismo, creo que a la imaginación, debe sumarse
un segundo elemento metodológico fundamental, como es la empatía.
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ser humano. Entiendo aquí que una de las finalidades de la historia es la
de ayudarnos a comprender nuestro lugar en el mundo. Y es aquí donde,
en fecha reciente, he añadido un tercer elemento a las herramientas del
historiador: la empatía. Debería decir, en primer lugar, que siempre que
pienso en empatía recuerdo su valor como garante de la salud mental, o al
menos de un tipo de salud mental. Por otra parte, la objetividad científica
desbocada de los positivistas, que habría desterrado la relación del
historiador (y por extensión, del lector) con los seres humanos del pasado
en beneficio de la asepsia racional, no sólo era una falacia, sino que
acabaría por plantear respuestas que no creo que sirvan a la humanidad
para dar respuesta a aquello que el ser humano, desde el principio de sus
tiempos, ha otorgado al recuerdo de lo sucedido en un tiempo anterior.
Mucho valor tiene, aquí, tanto la utilidad atribuida también desde la
Antigüedad a la historia como ejemplo de vida y portadora de valores y
formas de comportamiento para los hombres y las mujeres de cualquier
época. Donde no llega la historia académica, discursiva y documentada,
actúa la historia popular, aquella de la calle, de las ideas generales, quizás
incluso equivocadas, que siempre recuerda a sus agentes (héroes en el
sentido posmoderno, gloriosos o no, mítico-populares, esenciales al ser
únicos y, al mismo tiempo, potenciales símbolos de cualquier otro ser
humano en circunstancias similares), y con ello, las lecciones de todo ello
para las formas de vida. Creo firmemente en esta historia popular tanto
como creo en la necesidad de la historia académica, y creo igualmente en
la necesidad de buscar mecanismos de mayor intensidad para la
comunicación, la permeabilización, incluso la transgresión, entre ambas
historias.
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En mis experiencias docentes en la fase de secundaria (alum@s de 12 a 15
años) de la Escuela El Roure (Sant Joan de Mediona, en la Provincia de
Barcelona, España) he tratado de desarrollar mecanismos que permitiesen
activar, en cierto modo, los tres elementos metodológicos que hemos
enumerado aquí como fundamentales en el trabajo de la comprensión
histórica: interpretación, imaginación, empatía. Aparte de muchos
experimentos, podemos aislar y exponer aquí dos propuestas de trabajo,
que parten del formato del juego (siguiendo la estela de una tendencia
bien consolidadad), y pretenden poner a l@s alumn@s en contact con la
historia.
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de unos datos que quizás, de otro modo, podrían lastrar la participación,
al someter a quien juega al temor a errar el contexto histórico específico
al que, de no tratarse del futuro, el juego requeriría en tanto que
conocimiento.
30
equivocaron. Y pese a ello, o incluso a causa de ello, son nuestros
referentes.
Referencias
Borja Antela-Bernárdez es profesor Agregat de Historia Antigua en la
Universitat Autònoma de Barcelona.
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32
Reverso para todas las cartas:
33
AS RELIGIÕES E O ENSINO DA HISTÓRIA
Carlos André Silva de Moura
34
A partir do exposto, as relações econômicas e sociais não seriam
anteriores às culturais que, por sua vez, não estariam determinadas por
aquelas. De tal modo, compreendemos que os campos econômicos e
sociais também são locais de práticas e produções culturais, de
fundamental importância para o trabalho dos pesquisadores que se
debruçam sobre os seus objetos com abordagens teóricas voltadas para o
cultural.
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determinada pelas estruturas materiais, passa a representar um campo
maior dentro do qual os objetos de estudo da história passam a ser
considerados. Dessa forma, ao entendermos a História Cultural como
“uma operação historiográfica que busca, cada vez mais, orientar a sua
prática de pesquisa por um ou outro conceito antropológico de cultura”
(BENATTE, 2014, p. 62), legitimamos a relação entre este campo
historiográfico e a Escola Italiana de História das Religiões que, desde as
suas origens no início do século XX, propunha o entendimento das
religiões como fenômenos culturais.
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O percurso da Escola Italiana de História das Religiões é longo e, de acordo
com Adone Agnolin, advém da influência dos estudos que tinham como
referência o Istituto di Studi Storico-Religiosi da Università La Sapienza, na
cidade de Roma, com a coordenação do professor Raffaelle Pettazzoni. O
método histórico-comparativo, proposto por esse intelectual, defendia a
natureza humana e cultural dos fatos religiosos. A partir da influência do
docente, outros pesquisadores contribuíram com essa abordagem, a
exemplo de Ernesto de Martino, Angelo Brelich, Vittorio Lanternari, Dario
Sabbatucci, Marcello Massenzio, Paolo Scarpi, Gilberto Mazzoleni e Nicola
Gasbarro (AGNOLIN, 2013b, p. 53 – 68).
37
e inéditas, pulverizando, assim, a religião como objeto de estudo. Isso
ocorre pela possibilidade de se observar uma distinta ocorrência de
elaboração das ortopráticas que, segundo Nicola Gasbarro, constituem-se
em um conceito contraposto ao de ortodoxia no estudo das religiões,
analisando as práticas e exercícios do culto mais que os dogmas e os
sistemas de crenças (GASBARRO, 2006, p. 71).
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Com essa abordagem, também evitamos as generalizações, uma vez que
se alarga e pluraliza o conceito de religião, com a compreensão das
representações que aspiram à universalidade determinada por aqueles
que as elaboram. Vale salientar que cada cultura constitui sua própria
ortoprática, construída por diferentes sujeitos que, em suas zonas de
contato, atuam a partir das relações de poder assimétricas (SILVA, 2012).
Ao participarem de tal construção social, as religiões atuam na elaboração
das identidades culturais que, por suas vezes, podem ser compreendidas
como vias de “mão dupla”, resultantes de complexas hibridizações (HALL,
2003, p. 31) produzidas junto aos fenômenos de comunicação religiosa,
notados como vetores de produção cultural (GASBARRO, 2014, p. 191 –
192) onde, para cada objeto de estudo desse domínio, é possível afirmar
que determinada cultura forma historicamente os seus sistemas religiosos
(SILVA, 2011, p. 21).
39
Com base nas pesquisas voltadas para a História Cultural, as religiões não
são compreendidas enquanto essencialismos ou fenômenos inerentes à
determinada “condição humana”, segundo a qual, em razão de sua
finitude, os grupos humanos elaborariam, independentemente das
diferentes épocas e lugares, crenças sobre a dimensão supra-histórica da
realidade. Tais ideias da escola fenomenológica, que tinha como principal
expoente Mircea Eliade (BELLOTTI, 2011, p. 21 – 23), foram questionadas
pelos pressupostos da Escola Italiana das Religiões.
Portanto, uma vez que as religiões operam dentro dos processos relativos
às culturas onde emergem, pode-se afirmar que, em suas especificidades,
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são sempre inéditas, contradizendo a ideia de que existiria uma essência
religiosa inerente à condição humana. As religiões passam a ser pensadas
como frutos da necessidade de “diferenciar e determinar as
peculiaridades precípuas de cada processo histórico, para entender,
também, além das texturas fundamentais comuns, as irrepetíveis soluções
criativas concretas, historicamente realizadas” (MASSENZIO, 2005, p. 25).
Para Karina Bellotti, atualmente, os estudos que têm como base a História
das Religiões abordam os diálogos “*…+ entre essas fronteiras antagônicas
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e entre expressões religiosas individuais/coletivas e instâncias sociais
diversas” (BELLOTTI, 2011, p. 41). Neste sentido, temáticas que se valeram
de aspectos interdisciplinares ganharam maior incidência nos debates
entre os historiadores, sociólogos, antropólogos e os demais ramos do
conhecimento.
Referências
Carlos Moura é Professor do Departamento de História da Universidade
de Pernambuco (UPE). Pós-doutorando no Departamento de História da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail:
carlos.andre@upe.br
42
BARROS, José D’Assunção. História Comparada. Petrópolis: Vozes, 2014.
43
MASSENZIO, Marcello. A História das Religiões na Cultura Moderna. São
Paulo: Hedra, 2005.
44
O POTENCIAL DA LITERATURA NO OFÍCIO DO
HISTORIADOR
Cleverton Barros de Lima
45
“Afirmo, entretanto, um ponto de vista teórico para o estuda da produção
e da circulação cultura de massa: ele é diverso da postura de ampla
aceitação entre críticos literários, historiadores e sociólogos da arte e da
literatura que erigem o autor e sua produção em objetos de estudo,
buscando compreendê-los e explicá-los partindo da inserção social do
autor. Não nego o vínculo entre autor e a sociedade, nem a importância
da sua condição de nascimento, sua formação intelectual e sua
experiência de vida. Por outro lado, gostaria de mostra, como já indiquei
no início, que, para além da faceta reflexiva e expressiva da obra de arte
no mundo contemporâneo, pode-se considerá-la em sua diversidade como
linguagens que participam ativamente da constituição das identidades
sociais e das concepções sobre as cidades modernas.” (BRESCIANI, 1986:
p. 210)
46
Deste modo, a ficção não é vislumbrada como representação da
sociedade, antes, ela seria valorizada pela construção:
“(…) a política da ficção não ao lado que ela representa, mas ao lado do
que ela realiza: as situações que ela constrói, as populações que ela
convoca, as relações inclusão ou de exclusão que ela institui, as fronteiras
que ela traça ou apaga entre a percepção e ação, entre os estados de
coisas e os movimentos do pensamento; as relações que ela estabelece ou
suspende entre as situações e suas significações, entre as coexistências ou
sucessões temporais e as cadeias de causalidade.” (RANCIÈRE, 2017: p. 13-
14)
É oportuno sempre reiterar que nem sempre foi fácil aceitar a literatura
no repertório das fontes históricas como alertou Antônio Ferreira (2009:
p.61). Mesmo que hoje não cause estranhamento, o uso de textos
literários ou ficcionais numa pesquisa historiográfica passou por diversas
mudanças. Os múltiplos olhares sobre a literatura nos estudos acadêmicos
tem revelado ricas abordagens de autores clássicos aos contemporâneos.
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ruptura do uso dos textos ficcionais na historiografia aconteceu nos anos
1970, momento de aproximação em diversas abordagens interpretativas.
48
condição privilegiada no campo editorial. Ele trabalhou, depois do sucesso
de crítica e publicação do seu primeiro romance, com o editor José
Olympio na famosa e charmosa Rua do Ouvidor 110. Na condição de
advogado, Fontes exerceu papel de articulador dos romancistas desse
período que publicaram suas obras na editora José Olympio, a exemplo,
dos autores Jorge Amado, Raquel Queiroz, José Lins do Rêgo, dentre
outros.
49
Observe que literatura permite ao historiador pensar a política e, por
certo construir outras leituras sobre a história do Brasil. Exatamente, por
acreditar como Northrop Frye, nos termos de que a “literatura pertence
ao mundo que o homem constrói, e não ao mundo que ele vê; pertence
ao seu lar, e não ao seu ambiente. O mundo literário é um mundo
humano concreto de experiência imediata” (2017: p.23). Por isso, acredito
que a legitimidade de pensar a literatura no ofício do historiador é,
primeiramente, ampliar os olhares sobre aquilo que constrói, mundos
possíveis e críticas contundentes.
Referências
Cleverton Lima é Doutor em História pela UNICAMP. Foi pesquisador
FAPESP durante o mestrado e doutorado no programa de Pós-graduação
em História.
50
Bresciani, docente emérita do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
UNICAMP. A obra será publicada pela PACO editorial.
51
RANCIÈRE, Jacques. Políticas da escrita. 2a. ed.Tradução de Raquel
Ramalhete et al. São Paulo: Editora 34, 2017.
52
AGUÇANDO A CRIATIVIDADE E ALCANÇANDO A TURMA:
O USO DE JOGOS NO ENSINO DE HISTÓRIA PARA ALÉM
DA TEORIA
Cristiane Brand de Paula Gouveia Pasini
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Pensando nisso, e colocando de lado todo e qualquer comodismo,
proponho aqui que juntos(as) pensemos em maneiras de utilizar essa tão
rica ferramenta em sala e que possamos nos apropriar de vez dessa
atividade como parte de nossas aulas, assim como já fazemos com relação
ao uso de fontes em sala, do cinema e da música, por exemplo. A partir da
minha experiência em sala de aula, gostaria de refletir sobre o tema e
apresentar ideias para despertar sua criatividade e para servir como
incentivo na sua prática pedagógica. Por certo isso irá requerer mais
tempo e empenho, uma dedicação além do habitual, mas afirmo com
tranquilidade que o prazer de criar e a alegria em colher os resultados
torna o trabalho leve e vantajoso.
Pensando nisso, para nós e para nossos(as) alunos(as), uma aula que nos
permita usar a criatividade, usar do humor e da diversão, que quebre a
rotina, que traga o inesperado e que rompa com aquele tão conhecido
modelo de aula onde o(a) professor(a) explica o conteúdo e espera que só
isso baste, seria como um oásis no deserto. Ao menos é o que sinto com
relação aos(as) meus(minhas) alunos(as). Quando a aula é dinâmica,
todos(as) saímos da sala com a cabeça efervescendo de ideias, de
reflexões, e de prazer. Sim, é prazeroso. E como faz bem!
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propomos a usar metodologias e ferramentas diversificadas em sala,
abrimos a porta de um mundo novo, trilhando assim um caminho sem
volta. O que quero dizer com isso é que não é difícil usar essas
ferramentas em sala, e isso não faz com que tenhamos que todos os dias
quebrar a cabeça inventando um monte de coisa.
55
organizadores chamam a atenção para o fato de que o uso dos jogos
permite ao(a) aluno(a) sair daquele universo disciplinar da escola.
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exigindo o exercício da criatividade. É necessário fabular, seguindo sempre
as regras estabelecidas de criação compartilhada de ilusões”.
(GIACOMONI, PEREIRA, 2013, p. 153).
Vejamos agora alguns dos jogos que criei e como você pode criar os seus.
Você vai precisar de cartolina, sulfite, cola, tesoura, canetinha e uma
impressora. Ah, e muita criatividade.
1.Jogo do Historiador
Este jogo pode ser utilizado na primeira aula do ano. Pensei nele como
uma experiência para que a turma sinta na pele como é o ofício do(a)
historiador(a). A turma é dividida em grupos e o objetivo é criar uma
hipótese para o desaparecimento de uma civilização antiga(inventada por
mim). Criei uma série de pistas(fontes) para que eles(as) pudessem
conhecer aquele povo e conseguissem chegar a uma hipótese. Usei como
recorte temporal o final da pré-História e o início das primeiras
civilizações. Essa civilização estaria bem nesse período de transição e por
isso dispunha de fontes que iam de pinturas rupestres a artes mais
elaboradas que teriam sido encontradas nas “ruínas” da civilização.
Também improvisei um sítio arqueológico no parquinho da escola, usando
areia e objetos que seriam da dita civilização. Trabalhei a ideia de
arqueologia e mostrei como aqueles objetos podiam revelar muito sobre
57
aquela civilização. Também haviam objetos que não poderiam ser desse
período, e os(as) alunos(as) deveriam descobrir através de pesquisa quais
eram. Selecionei reportagens e informações sobre civilizações antigas que
de fato existiram para que eles tivessem um parâmetro. Haveriam indícios
de peste, guerra, fome, inundação, disputa de poder, enfim, uma série de
fatores que abririam uma série de possibilidades, de acordo com a escolha
do grupo. Também lancei a ideia de que havia naquela civilização o mito
de que uma serpente devoraria o rei, e utilizei pinturas que dariam
respaldo para defender que esse povo de fato acreditava nisso. Os grupos
tiveram que criar teorias sobre o fim da civilização levando em conta tudo
o que havia de fonte, e interpretando o que poderia ser literal ou
metafórico. Por fim, eles também tinham que traduzir algumas frases
escritas em um couro que teria sido deixado por um membro da
civilização. O couro, dentro da teoria, só teria sido preservado por ter
ficado em uma caverna fria, na região do Iraque, coberto por uma camada
de fezes de carneiro, como de fato aconteceu com um sapato de couro de
que temos notícia atualmente. Na imagem 1 pode-se observar melhor a
dinâmica do jogo. Os grupos foram super criativos e, na maioria dos casos,
utilizaram ótimos argumentos para fundamentar suas hipóteses.
58
Imagem 1: Jogo do Historiador
59
encontrar moedas de valor dentro de um saquinho, e fazer tudo isso
podendo perder a vez, ou sofrer penalidades nos casos onde a Reforma
enfrentou uma repressão, ou aconteceu alguma guerra. Por fim, para
poder ganhar, o participante deve desatar o nó que prende o papa ao
trono, acabando assim com o poder da Igreja Católica frente aos
protestantes. (Imagem 2)
3.Jogo da Pirâmide
Este é mais simples. Os(as) jogadores(as) devem ficar sentados nas suas
cadeiras mesmo, e um de cada vez deve escolher um número. O objetivo
é tentar encontrar onde está o faraó. Para poder descobrir o que está por
detrás do número, eles(as) devem acertar uma questão sobre o Egito.
Eles(as) podem encontrar armadilhas ou objetos de valor. Quem achar o
Faraó ganha o jogo. (Imagem 3)
60
Imagem 3: Jogo da Pirâmide
4.Jogo da Revisão
Este jogo pode ser utilizado antes da prova, como estímulo para estudar
mais e com a possibilidade de pontuar algo na prova. A ideia é escolher
um número e responder a questão que estiver ali. Depois girar a roleta
para ver quanto vai pontuar. No meio disso temos chance do(a) aluno(a)
ganhar uma pontuação a mais, ou tirar um bônus, pedindo para alguém
ajudá-lo a responder. Também existe a possibilidade de tirarem um papel
com uma palavra para fazer mímica. Se a turma acertar o(a) aluno(a)
pontua. (Imagem 4)
61
Imagem 4: Jogo da Revisão
5.Jogo do Relacione
Este jogo tem por objetivo relacionar palavras-chave com outras que
tenham proximidade. Cada aluno por vez tenta juntar palavras e o(a)
professor(a) confirma se está certo ou não. Palavras como Islamismo,
Maomé e Alcorão podem servir de exemplo. (Imagem 5)
62
Imagem 5: Jogo do Relacione
63
Imagem 6: Jogo das Pistas
7.Frases embaralhadas
Para fazer esse, é só escrever uma frase num papel e cortar as palavras, e
depois o grupo deve montar. O primeiro grupo a montar, ganha.
8.Complete a frase
Os(as) alunos(as) devem encontrar a palavra que completa a frase. As
frases podem ser coladas com fita crepe no quadro. (Imagem 7)
64
Imagem 7:Complete a frase
65
Imagem 8: Juntando conceitos e características
11.Jogo do Imperialismo
O Objetivo desse jogo é entender na prática como os países imperialistas
agiam durante a conquista da África e Ásia. Utilizando um tabuleiro, cada
jogador(a) representa uma potência imperialista. Utilizando cartas como
“colônia” e “protetorado”, que vão sendo descartadas e pegas, os(as)
jogadores(as) devem tentar colonizar países que foram alvo da prática
imperialista do século XIX. Se acertarem o modo de dominação, os(as)
jogadores(as) ganham a carta de posse desse país. Há uma lista para que
possam descobrir que país foi dominado por qual potência e de que
forma. Os(as) jogadores(as) podem dominar as colônias de outras
potências para impedir que seus (suas) colegas a dominem e propor
guerra para conquistar outras colônias ou retomar sua própria colônia.
Quem tem mais cartas de guerra ganha a batalha e fica com a colônia. Se
o(a) jogador(a) cair na casa de uma colônia que já foi dominada, deve
66
responder uma pergunta. Se errar, volta 2 casas, e se acertar fica onde
está. Vence quem tiver o maior número das suas colônias no fim do jogo.
(Imagem 9)
12.Jogo do Descarte
Apresentam-se várias palavras aos(as) alunos(as) e pede-se que descartem
as que não têm relação com o conteúdo.
13.Pensando junto
Separe-se em grupos a turma, e pede-se que um(a) dos(as) alunos(as)
escreva no papel uma palavra que melhor represente, na visão dele(a), o
tema que o(a) professor(a) passar. A sua equipe também deve escrever. A
67
ideia é que escrevam a mesma coisa. Quanto mais pensarem junto, de
forma igual, mais acertam. Exemplo: Tema - Idade Média Palavra:
Feudalismo.
Conclusão
A partir dessas experiências proponho que cada professor(a) possa pensar
sua realidade e suas turmas, criando seus próprios jogos, inovando na
formação de seus(suas) alunos(as). Tanto a teoria como a prática tem
demonstrado a relevância que o uso dos jogos tem num ensino de História
que seja eficaz e igualmente inesquecível.
Referências
Cristiane Brand: Mestre em História pela UEPG.
68
O ENSINO DE HISTÓRIA E O “NOVO” PROTAGONISMO
INDÍGENA
Cristiano Augusto Durat
69
momento de revisitarem o passado, avaliarem os ganhos e perdas no
presente e projetarem lutas políticas junto ao estado brasileiro,
especialmente, para suas demandas emergenciais como a demarcação de
seus territórios tradicionais, políticas públicas na saúde e uma educação
escolar indígena comprometida com os saberes tradicionais. Como
resultado desses momentos de reflexão e debate produziram-se
documentários áudio visuais e um conjunto de livros foram publicados
para servirem como um instrumento de luta desses povos, mas também
para serem utilizados como materiais didáticos nas instituições de ensino
do país. Entre essas publicações uma em especial chama atenção por
trazer temas que envolvem o universo indígena o livro 'A outra margem do
Ocidente', uma coletânea de textos com ensaios de pesquisadores e de
alguns líderes indígenas. (Novaes, 1999)
70
contribuindo consideravelmente para a compreensão da história desses
povos a partir de sua “história” e visão de mundo.
71
sociopolítico, espaço este de extrema importância e lócus de sua
organização social. Alguns grupos indígenas que haviam permanecido
distante das frentes de expansão tiveram que assumir a identidade
atribuída pelo estado como sendo “índios” e seus territórios “terras
indígenas”. Assim, como afirma Bruce Albert, os indígenas tiveram que
reorientar suas práticas como condição política de resistência e
permanência de sua especificidade social. (Albert, 1995)
72
e do modo de vida do seu povo, indivíduos essenciais e responsáveis pela
transmissão dos seus conhecimentos mediados pela tradição oral.
Mas não foi somente aqui no Brasil que houve pouca receptividade da
história oral conforme apontou Alessandro Portelli. Em um dos seus textos
fundadores resultado de uma conferência realizada em terras brasileiras,
Portelli manifestou o pouco interesse dos historiadores italianos em
relação a metodologia da história oral. Esse desinteresse se baseava numa
certa confusão conceitual sobre o que é documento histórico, como se o
documento escrito caísse em desuso e fosse substituída apenas pelo relato
oral. (Portelli, 1997)
Dito isso, vale a pena acrescentar que a prática da história oral tem uma
predisposição para relato de sujeitos marginalizados, silenciados ou
daqueles grupos sociais onde existem a ausência total da escrita e seus
conhecimentos são repassados de geração para geração via tradição oral.
73
Essa é uma questão importante que devemos levar em consideração para
os povos indígenas do Brasil. Retomando algumas questões do início do
texto e sobre o “novo” protagonismo indígena é fácil perceber o quanto o
trabalho com a memória desses povos, dos xamãs, líderes e anciões são
importantes nas lutas políticas na atualidade quando os conhecimentos
próprios desses sujeitos são materializados e socializados para um número
maior de pessoas. Sobre esse aspecto é importante retomar as palavras de
Davi Kopenawa, onde ele reafirma a necessidade de que suas palavras são
de “Omama” (criador do homem) e dos “xapiri”(espíritos da floresta)
sejam divulgadas para os brancos:
74
ficavam extremamente vulneráveis pois, “destituir um povo de seu
território equivale a condená-lo a morrer, ainda que fiquem mantidos
alguns indivíduos”, conclui Carlos Frederico Marés. (Marés, 1999, p. 60)
75
indígena exercendo a função de professor da escola indígena Whera Tupã-
Poty Djá, Marcos Moreira optou por fazer sua pesquisa de trabalho de
conclusão de curso sobre o significado da terra para os Guarani. Essa
decisão foi tomada após longas conversas com os líderes da comunidade e
com seus anciões na casa de reza. Neste ponto, temos uma aproximação
da fala do Marcos Moreira com Davi Kopenawa ao trazer para o público
não indígena o recado dos anciões sobre o entendimento do seu
território(Tekoa). Para ele é fundamental o registro e a escrita da história
do seu povo transmitida oralmente de geração em geração. Os líderes
espirituais e os anciões precisam verbalizar/expor a visão guarani sobre o
Nhandereko(Nosso sistema).( Moreira, 2015)
76
Nhamderu e Nhamdexy. É nesse lugar também onde Nhamderu os
encaminham para o “lugar de onde vieram”.(Moreira, 2015) É nesse
território que o ciclo de vida Guarani é vivenciado, um lugar sagrado onde
natureza, humanidade se entrelaçam.
77
O relatório apresenta outras tantas questões sobre a aplicabilidade da lei
11645/2008. No entanto, sobre o aspecto apresentado acima temos a
dizer que as instituições de ensino superior têm a responsabilidade
primordial de que a lei seja cumprida, pois se os alunos da educação
básica precisam conhecer a história dos povos indígenas é óbvio que as
universidades deverão incluir nos cursos de licenciatura disciplinas que
atendam essa demanda colocada pela lei. Ou seja, deverão preparar seus
futuros professores para que estes tenham condições de desenvolver tal
conteúdo com seus alunos. Outra justificativa frágil do relatório afirma que
os diversos grupos indígenas do Brasil não participaram da elaboração do
texto da lei. Ora, não é de hoje que o movimento indígena luta para
garantirem seus direitos, para que a sociedade os reconheça com sua
especificidade, com suas práticas culturais diferenciadas. A Lei 11645/2008
é mais uma conquista das lutas políticas desses povos e afirmar que não
houve participação indígena é um erro grotesco. Um importante texto que
faz uma discussão sobre esse aspecto é o artigo de Clovis Antonio
Brighenti sobre “Movimento indígena no Brasil”. (Brighenti, 2015)
78
Retomando alguns pontos desse texto, temos a convicção que às
comunidades indígenas estão abertas para um diálogo sério e
comprometido com os vários setores da sociedade brasileira. É preciso
avançar, derrubar barreiras e entender que esses povos não estão
distantes das nossas necessidades materiais e desejos humanos. Eles não
estão no passado e a cada dia estão mais presentes reivindicando e
lutando por seus direitos garantidos na Constituição de 1988. Mas, se
ainda, não temos condições de sentar frente a frente e dialogar com esses
povos, os professores da educação básica, especialmente os licenciados
em história poderão/deverão buscar algumas saídas para problematizar o
ensino da história indígena com qualidade incorporando à sua prática
docente materiais publicados pelos indígenas conforme apontamos no
texto. A cada ano novas vagas no ensino superior e em programas de pós-
graduação estão sendo ocupadas por eles, cujos objetos de pesquisa
dizem respeito ao seu modo de vida, sua organização social, sua
economia, sua cultura, autoridade política e religiosa, questões de gênero,
entre outros temas são problematizados sob olhar de seus protagonistas.
Referências
Cristiano Augusto Durat é docente da Universidade Federal da Fronteira
Sul(UFFS), Membro do Laboratório de História Indígena – Labhin/UFSC e
do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História LAEE/UEM.
79
ALBERT, Bruce. O ouro canibal e a queda do céu. Uma crítica xamânica da
economia política da natureza. Brasília: 1995, p. 1-33, (Série Antropologia).
Disponível em: http://sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub405.pdf.
80
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos
sentidos. Campinas,SP: Editora da Unicamp, 2007.
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. In: Proj. História.
São Paulo (14), fev. 1997.
81
MUSEU: ESPAÇO DE REFLEXÃO
Cristina Helou Gomide
Narrar sobre museus e visitação pode parecer uma tarefa singela, mas não
o é, sobretudo porque museu carrega estigmas, reforçados por expressões
como “Quem gosta de passado é museu”. Além disso, os espaços dos
museus são constantemente utilizados por educadores e educadoras, o
que torna o debate, ainda mais necessário. Tratando-se de uma temática
muito ampla, longamente estudada por vários pesquisadores, buscamos
fazer um recorte, apresentando algumas considerações sobre nossas
reflexões, que vem sendo realizadas ao longo desses últimos vinte anos.
Trazemos para o debate, o museu do Antigo Palácio Conde dos Arcos,
localizado na Cidade de Goiás-GO, uma vez que este é nosso objeto de
investigação desde a década de 1990. Para tanto, utilizamos de algumas
narrativas: o guia do museu, visitantes turistas, alunos e alunas da
Universidade. Optamos por não citar nomes, embora tenhamos a
autorização dos narradores.
“Sejam bem vindos à antiga Capital. (...) A cidade tem duzentos e setenta
e um anos, a cidade é de 1727, e vocês já observaram a antiga capital. As
casa de Goiás é simples em termo de arquitetura. Inclusive o próprio
palácio, professoras. Talvez as os meninos vão ta imaginando que seja um
palácio cheio de ouro, obra de arte. Nada disso! O Palácio Conde dos
Arcos não foi projetado. Simplesmente D. João V autorizou o governador
da capitania de Goiás a adquirir algumas casas. Foram cinco casas,
82
incluindo a casa de fundição, aí foram ampliando. Aí o Palácio formado ele
é tipo um armazém ou um caixotão. Esse prédio tem 243 anos (...) o
mobiliário varia do século XVIII e a década de sessenta. É uma mistura de
época (...) Na época do Império era realizada uma missa aqui na Matriz de
Santana. Assim que terminava eram convidadas algumas pessoas
importante, os fidalgo, pra vim ao Palácio (...) Quem imaginava que um dia
você ia vim ficar diante dessa mesa. Foi a mesa que Pedro Ludovico
assinou a transferência da capital (...) deixou de ser capital em 1937 (...) e
o motivo que ele alegou para transferir a capital, eu vou dizer pra vocês.
Ele alegou o saneamento básico, que é precário até hoje (...) Essa
porcelana é dos anos trinta, pertencia a Pedro Ludovico, a mesa é do
século XVIII, tem mais de duzentos anos, foi a primeira mesa aqui do
refeitório, e a mesa é de encaixe. É...antigamente, professoras, não usava
prego no mobiliário, era o próprio cravo de madeira (...) olha o rádio
eletrola aqui dos anos quarenta, já pertenceu ao Pedro Ludovico.” (Guia
do Museu Antigo Palácio Conde dos Arcos, dezembro de 1999)
83
Visualizamos o museu como um local em constante movimento, onde o
visitante é, ao mesmo tempo, ator e espectador, e o guia também. Ocorre
que o museu carrega um estigma construído historicamente, de que ele é
o lugar da contemplação, do silêncio, e dos "grandes nomes”. Cansamos
de viajar e nos depararmos com os museus locais que contam a história de
alguns eleitos. Lembramo-nos de certa vez, no sul do país, visitar uma
pequena cidade, cujo museu municipal era apresentado assim: “aqui é o
cachimbo usado por fulano”; esta é a máquina de escrever que o fulano
gostava de usar; esse é um dos chapéus dele; e assim por diante. O que
pretendemos dizer, é que mesmo o museu reforçando a história de uns e
não de todos, a visitação nos possibilita novas interpretações, colocando-
nos em situações diversas. Ou seja, podemos gostar desse museu, achar
interessante, não nos identificarmos, como foi nosso caso, ou
simplesmente achar inútil e criar uma noção de museu própria. Tem muito
mas o que não se pode negar, é que ainda carregamos uma noção de
museu que busca associar sua exposição a um nome ou feito eleito
historicamente. Por isso tende-se a achar que o museu é um lugar
fossilizado, que não tem movimento. Isso serve para reforçar uma noção
de história que nos exclui. Vejam, então, a importância do trabalho do
professor de história em uma visitação ao museu. Na verdade, tem-se a
possibilidade de reinterpretar o museu a cada visitação, o que ocorre é
que a história que produzimos, sob influência do projeto de nação no
Brasil, nos faz lembrar sempre de datas cívicas, mas nos coloca a esquecer
de outras (LIMA e FONSECA, 2004). Ninguém se esquece do 15 de
novembro ou do 7 de setembro (BITTENCOURT, 1888). Em Goiânia, a atual
capital do estado de Goiás, temos o 24 de outubro, aniversário da cidade.
Nós, da academia, há tempos já desconstruímos a história de Pedro
Ludovico como um herói ou um homem à frente de seu tempo, a
tornamos pública, levamos para as salas de aula e para debates públicos,
publicamos livros e produzimos materiais didáticos. No entanto, a
matéria que é publicada no Jornal O Popular (veículo jornalístico de maior
circulação na região) é de Ludovico, “um homem á frente de seu tempo” –
como se isso fosse possível. Ainda assim, seguimos reinterpretando a
história regional e indo á contramão também do museu Pedro Ludovico
Teixeira, ex-residência do interventor, onde o guia também reproduz a
história “oficial”.
84
Cidade de Goiás, com uma visita campo, onde realizamos visitação
também aos espaços de museus. Nessa disciplina, dá-se um grande foco à
questão da transferência da capital de Goiás para Goiânia, Goiás como
cidade histórica, a construção da noção de preservação, a Goiânia, dentre
outras questões, sobretudo porque temos produzido muitas pesquisas
nesse âmbito. Um dos papéis da disciplina é exatamente proporcionar
novas interpretações sobre a história de Goiás, questionando a história
construída oficialmente, trazendo as pessoas para a história, de modo que
se sintam pertencentes e produtoras da história do local onde vivem.
Assim, quando vamos à Cidade de Goiás, esperamos que os debates
realizados em sala se reflitam criticamente nas visitações a museus. A fala
do guia do Museu Antigo Palácio Conde dos Arcos, permanece na mesma
perspectiva. Apresentamos a seguir comentários que incluem os alunos e
alunas visitantes. Seguem algumas das impressões dos e das discentes:
“(...) o que se costuma ver como critério maior para a identificação a priori
de um objeto histórico é sua vinculação biográfica ou temática a um feito
ou figura excepcionais do passado, normalmente heróis vencedores ou,
quando vencidos, considerados moralmente superiores(...)” (MENESES,
1992, p. 4)
85
Levando em consideração essa interpretação, podemos nos remeter à
narrativa do guia, que exalta os pertences de Ludovico, o “vencedor”, que
retirou a capital da Cidade de Goiás, que era reduto político de seus
opositores, Os Caiado, e embora não tenhamos trazido a narrativa integral
do guia, vale registrar que ela constantemente aponta os Caiado como
forte grupo político local e faz questão de falar da atuação política da
família, juntamente com os Bulhões. As histórias biográficas estão
presentes, sem dúvida.
86
Perillo, não por acaso, fecha o Palácio e se hospeda no local, apropriando-
se desse “poder historicamente constituído”. Enfim, a aluna também
registra seu incômodo com algumas falas do guia, o que de fato, sabemos,
pode ocorrer em vários espaços de visitação, a exemplo do pequeno
museu que citamos momentos atrás.
87
tempo em que somos atores, que interpretamos, reinterpretamos,
absorvemos ou simplesmente criticamos ou negamos. Na fala do guia não
é diferente. Sua narrativa é carregada da história oficial, mas também da
impressão de um morador da cidade, consumido pela imagem de cidade
histórica que carrega Goiás. Ele se posiciona, mas também “dialoga” com
os visitantes, no enfrentamento ou na identificação com eles.
Referências
Cristina Helou é prof. Na Universidade Federal de Goiás.
LIMA e FONSECA, Thais Nívia. Cap. III: Exaltar a pátria ou formar o cidadão.
In: História e Ensino de História. Autentica: BH, 2. ed., 2004, p. 37 à 71.
88
RIBEIRO, Miriam Bianca Amaral. História, Família e Poder . CHAUL, Nasr
Fayad (org). Coronelismo em Goiás – estudos de caso e família. Goiânia:
CEGRAF, 1999.
LIMA e FONSECA, Thais Nívia. Cap. III: Exaltar a pátria ou formar o cidadão.
In: História e Ensino de História. Autentica: BH, 2. ed., 2004, p. 37 à 71.
89
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA: DESAFIOS,
FONTES E ESPAÇOS
Cyanna Missaglia de Fochesatto
90
Assim, reforçamos que se pretende discutir as formas de ensinar história
na atualidade por meios de diversos eixos de análise, seja abordando as
diferentes fontes e espaços de ensino, ou seja dialogando sobre a forma
que isto contribui para o enriquecimento e qualificação de uma educação
que se mostra cada vez mais precária. Seja ainda pela formação ineficiente
ou pela falta de retorno e investimento público no sistema educacional
brasileiro.
91
do professor na sala de aula, temos, pois, nas palavras de Maria
Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt (2004) a seguinte observação:
92
relação com o tema ensinado, quem a elaborou, qual sua função na época
de sua criação e as circunstâncias em que foram utilizadas. Para isso é
necessário se questionar: Qual o letramento histórico alcançado pelos
alunos? Por uma determinada turma? Essas questões possibilitam ao
professor fazer recortes das fontes e métodos a serem utilizados. É
preciso equipar o aluno com as ferramentas relevantes para que ele
consiga problematizar as fontes, bem como dialogá-las com o contexto
compreendendo a relação passado-presente. Sendo este um rito
imprescindível para a investigação e produção do conhecimento. Fato este
que fortalece enormemente o processo de aprendizagem, tornando o
aluno um produtor do conhecimento, um crítico do seu contexto e um
leitor de um leque de possibilidades de fontes e recursos. Nesse sentido,
Fernando Seffner (2011) considera que as aulas de história têm como
função:
93
campos do conhecimento e do saber dentro de projetos que envolvem
tanto as diferentes disciplinas acadêmicas, como as práticas não científicas
que incluem as instituições e atores sociais diversos”. (LEFF, 2000, p. 22). A
variedade de fontes e a interação das áreas permite uma visão mais ampla
de entendimento sobre determinados conteúdos, e a forma de relacioná-
los à realidade do discente. Um simples exemplo disso seria estudar a
história do Rio Grande do Sul através da sua relação com outras
disciplinas, especialmente as especificidades geográficas e culturais, pelo
olhar da sociologia, pela música, alimentação, que podem ser estudadas
tanto pelas lentes da história quanto de outras áreas. O conjunto destes
aspectos ajudaria a compreender a formação social e política, e suas
peculiaridades em relação aos países vizinhos e ao restante do Brasil.
94
Assim, deve-se atentar para a escala de complexidade de cada nível
escolar. No entanto, quando bem utilizado este recurso favorece o
desenvolvimento de diferentes habilidades, além de tornar o ensino mais
dinâmico e atrativo. Hoje seria uma negligência do professor não explorar
esse tipo de fonte, pois a realidade dos alunos está mergulhada em
imagens que eles contemplam cotidianamente. Nos celulares, nas redes
sociais, nos filmes e séries, nos videoclipes, nos jogos, nas fotos, na
publicidade. O fenômeno imagético que ganha mais espaço a cada
instante pode ser um recurso relevante para o professor desenvolver
senso crítico nos alunos e ajudá-los a filtrar as imagens pelas quais são
expostos todos os dias.
95
que podem ser abordadas ao longo do ensino do medievo para estudar o
imaginário, a linguagem, a cultura e a sociedade em si. Outro exemplo
interessante para se trabalhar este período buscando desconstruir
estereótipos é através do cinema. Os filmes, quando utilizados como
fontes, devem ser problematizados e considerados mediadores da
produção de conhecimento. José Rivair Macedo (2003) considera o
cinema como recurso pedagógico para o ensino:
96
conhecimento sobre o passado por meio de uma vivência diferenciada.
Mas, o desafio, neste caso, reside na dificuldade - tratando-se aqui dos
museus em específico - em não usufruir deles como lugares de passeio e
diversão, mas mediar a visitação para que ela seja proveitosa para os
alunos e contribua no processo de aprendizagem. Assim, é necessário
elaborar um roteiro prévio, mediar a visitação e trabalhar após esta etapa
com os alunos. Construir atividades, projetos, debates, o que foi mais
significativo para os estudantes, em que eles se reconhecem ou não nos
objetos visitados. Qual a referência do contexto com passado nesses
objetos, tal qual foi sua importância no contexto utilizado, bem como seu
vínculo com o presente. Essas são questões que devem estar presentes
quando da saída de campo em um espaço informal de ensino. Os museus
são pontes que aproximam os alunos do conhecimento. Muitas
exposições atualmente são interativas e bastante dinâmicas. Fato que
torna o aluno não apenas um mero observador curioso, mas também
atuante na produção deste conhecimento, mobiliza o aluno a entrar em
um novo mundo cheio de possibilidades e de entender melhor as culturas
diferentes da sua.
97
cultural da sociedade. Usando das exposições para criar vínculos e
relações entre passado e presente, entre a herança que a geração passada
deixou e a importância de preservar esse legado. Uma atividade possível
seria o professor propor criar um espaço de memória na escola. Muitos
artigos na área da educação já abordam a experiência desta atividade com
sucesso. Onde os alunos são os agentes produtores dos artefatos, levando
os objetos e construindo juntos uma memória da comunidade.
Considerações Finais
Face a esta breve exposição, pensamos que é possível colocar diante dos
docentes um grande desafio: estimular o aluno a ter uma ampla
compreensão da realidade por meio do ensino da história, e retirá-los da
inércia e desmotivação que parece ser um quadro contagioso em alguns
espaços educacionais. O professor é um intermediário do conhecimento e
deve apresentar as mais variadas possibilidades de ensino. A
interdisciplinaridade é um dos componentes que intensifica,
especialmente através de projetos com outras áreas, um ensino da
história mais eficaz no dia a dia escolar. Estimulando a reflexão para os
problemas sociais da comunidade que estão inseridos; nutrindo a
criatividade pedagógica e o senso de cidadania.
98
e direções, se coloca como uma das grandes resistências que os
educadores, frente ao desamparo e aos últimos ataques que vêm
sofrendo, podem e devem escolher fazer.
Referências
Cyanna Missaglia de Fochesatto é Doutoranda em História pela Unisinos,
onde é bolsista CAPES. Possui graduação em História pela PUCRS; é
especialista em Estudos Culturais nos Currículos Escolares
Contemporâneos na Educação Básica pela UFRGS; e mestre em História
pela Unisinos. Possui interesse na área da educação, ensino e história
cultural. E-mail: cyanna.mf@gmail.com
99
METODOLOGIAS ATIVAS NA FORMAÇÃO INICIAL DO
PROFESSOR DE HISTÓRIA
Douglas Mota Xavier de Lima
100
A formação inicial em História: algumas considerações
A concepção geral sobre a didática da história a situa como uma
abordagem formalizada para ensinar história na educação básica e uma
disciplina que faz a mediação entre a história como disciplina acadêmica e
o aprendizado histórico e a educação escolar, não tendo relações com o
trabalho dos historiadores. Jörn Rüsen considera que foi durante o século
XIX que a didática da história deixou de ser o centro da reflexão dos
historiadores para ser substituída pela metodologia da pesquisa histórica
(2011, p.23-25). Entre as consequências dessa “cientifização” apontada
pelo autor estão a importância secundária dada ao ensino, entendido
como reprodutor do saber acadêmico; o distanciamento entre a formação
de bacharéis e licenciados; e a separação entre as disciplinas de conteúdo
específico e as disciplinas pedagógicas, compreendidas como
instrumentais, para a formação do professor.
101
Educação (MEC) e de representantes da Associação Nacional de História
(Anpuh), sendo o documento aprovado e publicado em 2001 (Parecer
CNE/CES 492/2001). O texto das Diretrizes pouco acrescenta sobre a
formação do professor, reduzindo as habilidades profissionais do perfil do
egresso a uma competência específica, o conhecimento da história
fundamentado no exercício da pesquisa. Esta premissa, ao ser atendida, é
encarada como garantia da aptidão do profissional para atuar em outros
campos, dentre os quais o magistério. Além disso, ao separar as
competências e habilidades da licenciatura, o documento contribui para
reforçar a separação entre licenciaturas/bacharelados e ensino/pesquisa,
por mais que explicite que “as atividades de prática de ensino deverão ser
desenvolvidas no interior dos cursos de História, e sob sua
responsabilidade, tendo em vista a necessidade de associar prática
pedagógica e conteúdo de forma sistemática e permanente” (Cf.: Fonseca,
2003, p.65-67; Ricci, 2015, p.118-119).
102
encontrar posicionamentos que defendem o domínio teórico dos
conhecimentos específicos e
103
discussões do estudo com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos
Superiores de História, Venera conclui que ambos são expressão de
práticas discursivas cristalizadas na ideia de que os saberes de conteúdo
de História resultam em saberes do ensino de História (Venera, 2016), o
que reafirma a noção de que a docência no ensino superior não requer
formação no campo do ensinar (Pimenta & Anastasiou, 2014, p.36).
104
descobertas científicas e tecnológicas; e a acessibilidade ao conhecimento,
influenciada diretamente pelo desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação. Estas mudanças colocam em xeque a relação
institucional da universidade com o conhecimento, reconfiguram o papel
do aluno e do professor e estimulam a busca por uma ressignificação do
processo de aprendizagem (Cf.: Masetto, 2015 (b), p.13-16).
105
textos. Não obstante, as propostas em questão concentram a atenção na
orientação da leitura a partir, por exemplo, de um estudo dirigido dos
textos e na implementação do modelo de Rotação Sala de Aula Invertida,
no qual, geralmente, o professor seleciona e disponibiliza vídeos e outros
materiais on-line que serão o suporte de conteúdo expositivo. Talvez seja
a ausência desses suportes um dos grandes limitadores para a
implementação do modelo no caso específico da História, no que pese a
relevante contribuição dos cursos, palestras, programas on-line e
animações disponibilizados, por exemplo, em canais nacionais como
UNIVESP-TV e CEAv UNICAMP, ou nos espanhóis HISTORIA A DEBATE,
CANAL UNED e ACADEMIA PLAY.
Considerações finais
Buscou-se apresentar algumas discussões relativas à formação inicial do
professor de História e, num primeiro momento, concentrou-se a atenção
nos desdobramentos do processo de cientifização que caracteriza o
movimento de institucionalização e profissionalização da área, em
especial o distanciamento entre a formação de bacharéis e licenciados e a
separação entre as disciplinas de conteúdo específico e as disciplinas
pedagógicas.Tais desdobramentos se expressam nas Diretrizes
Curriculares (2001), que permanecem inseridas no impasse entre ensino e
pesquisa ou entre bacharelado e licenciatura, ainda que este
distanciamento seja criticado pelo campo da Educação e, especificamente,
do ensino de História. Ao acompanhar as discussões deste campo em
particular, observa-se que uma série de problemáticas estão relacionadas
a esse quadro de tensão entre uma formação voltada ao domínio teórico
dos conhecimentos históricos e uma formação direcionada aos saberes da
experiência e das práticas pedagógicas. Entre estas problemáticas,
destacou-se ao longo do texto a questão dos componentes curriculares,
que mantêm a ênfase na formação teórica e em pesquisa e que concentra
a formação pedagógica em disciplinas específicas; e do próprio perfil do
professor universitário de História, que mesmo na área de ensino de
história tende a ter uma formação afastada do campo da Educação, visto
que essa orientação, por vezes, não é solicitada nos concursos docentes.
106
docência. Considera-se que essa proposição serve de ponto de partida
para novas e necessárias reflexões, pois ao ter como horizonte uma
formação que também se estruture no exercício profissional da docência,
os cursos de licenciatura tendem a passar por uma reestruturação
significativa, como as que direcionam a Base Nacional Comum Curricular e
a Resolução CNE nº2/2015. Essa reestruturação não pode ser pensada
apenas no campo da História, antes, passa necessariamente pelas
discussões do campo da Educação e envolve diretamente o problema da
aprendizagem e da docência universitária.
107
Referências
Douglas Mota Xavier de Lima é professor Adjunto da Universidade Federal
do Oeste do Pará, Doutor (2016), Mestre (2012), Bacharel e Licenciado
(2009) em História pela Universidade Federal Fluminense.
108
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a
partir do caso alemão. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora, BARCA, Isabel,
MARTINS, Estevão de Rezende. Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba:
Editora UFPR, 2011, p.23-40.
109
O ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL, CURRÍCULO,
LEGISLAÇÃO E O LIVRO DIDÁTICO
Everton Carlos Crema
Maria Auxiliadora Schmidt
110
Também devemos olhar para uma cultura de distanciamento dos
profissionais da educação para programas e currículos de ensino, muito
fortemente vinculados a políticas de governo, que em sua sucessão e
descontinuação, pouco colaboram com uma política de ensino
continuada. A sucessão de programas educacionais, modelos didáticos
pedagógicos, pedagogias de ensino, sem formação continuada para
professores, acabam por forçar os professores a distanciar-se do campo
de formação e a desconsiderar novas práticas de ensino e novos
conteúdos curriculares, ou mesmo seu domínio, como alternativa viável,
joga-se a criança junto à água do banho no ‘mar das novidades
educacionais’.Voltam-se então ao currículo oculto.
111
Também negligenciam o contexto histórico da educação, pois ao
reproduzirem seus eventuais ‘acertos’ no ensino de história, negam a
própria mudança histórica e replicam uma visão tradicional de ensino,
pois ao ensinarem como aprenderam, negam a mudança no tempo,
fundamental para o processo de aprendizagem. Nesse processo,
suprimem o devir histórico e a diversidade social,criando perspectivas de
ensino da história que se distanciam do cotidiano dos alunos, que
precisam perceber no ensino de história conexões e relações com suas
experiências de vida.
112
próprio, desconsiderando os contextos formadores da ciência histórica,
bem como os contextos sociais, daqueles que devem ser ensinados. Isso
acaba por negar a compreensão dos modelos constitutivos do
conhecimento histórico, pois o mesmo não é explicado a partir das
ponderações ou caminhos, que permitiram esse conhecimento em
específico, ser criado, mas de suas consequências, impactos e mudanças.
113
imediata, imaginar algo, fica cada vez mais difícil, contribuindo
determinantemente para o distanciamento do aluno da escola.
114
“*...+ onde os processos mentais ou atividades da consciência histórica
podem ser considerados os fundamentos da Didática da História, pois
tratam-se de processos de pensamento estruturados do pensamento
histórico e, portanto, da consciência histórica, os quais encontram-se por
trás dos conteúdos”. (SCHMIDT; BARCA; URBAN, 2014, p.28).
115
sua conexão com o que havia ontem e com o que há hoje, que – juntos –
são indispensáveis para explicar o quê e porque haverá isso ou aquilo
amanhã”. (MARTINS apud SCHMIDT; BARCA; URBAN, 2014, p. 48).
116
Nas análises não identificaremos os nomes de professores e escolas
participantes, por questões de sigilo e confidencialidade. Especificamente
nos ateremos à análise e crítica de perguntas que se relacionam direta e
indiretamente às questões propostas no texto, dentro de seus claros
limites e intenções. Perguntamos aos professores: O que falta no livro
didático?
“Eu sinto muita falta é de a gente trazer, primeiro um debate mais local,
mais próximo da gente, para o aluno não ficar muito afastado daquela
realidade e mais perguntas que faça o aluno pensar. A gente tem que
botar o aluno para pensar, as respostas não podem vir dadas, tem que
botar o aluno para pesquisar, para ver que a história tem diferentes
ângulos, eu uso muito o exemplo de União da Vitória, que nós temos uma
história escrita por ilustres, da elite da nata da sociedade, que
simplesmente negam a existência do índio e do negro na formação do
nosso povo, o que não condiz com a verdade, então eu gosto muito de
trazer para esse ponto. Então você não tem uma história sobre as
mulheres de União da Vitória, e por aí vai, a história do Contestado ela
ainda é um pouco escassa no ponto de vista dos sertanejos, a gente escuta
muito generais, senhores, netos de fazendeiros e por aí vai”. (Entrevista
professor 04, 2017)
“Como falei, imagem não falta, conteúdo não falta, eu acho que falta uma
adaptação da linguagem em alguns livros didáticos, falta uma atenção
para os currículos regionais, eu acho, eu acho que isso é uma questão de
indústria mesmo, muito difícil para a indústria dizer, essa que trabalha
com livro didático, vou fazer específico para algum lugar. Então falta mais
essa atenção da regionalização e isso se tornou um pouco cultural”.
(Entrevista professora 08, 2017)
117
violento, então não adianta você querer mostrar coisa bonita para eles
porque não é a vida deles, eles não vão entender, eles não tem interesse,
então eu procuro adaptar sempre, eu sempre estou adaptando, eu falo
mais, do que uso o livro, porque eu tento sempre aproximar da realidade
deles, entende?” (Entrevista professora 19, 2017)
118
Para o aluno o ensino tradicional da história, não tem significado, nem
lógica, pois ele não aprendeu a relacionar o conhecimento histórico as
experiências e significados sociais, muito menos a se apropriar desse
conhecimento construindo compreensão. Toda vez que o aluno aprende
um conteúdo histórico por uma metodologia tradicional, reafirma um
distanciamento de si e do mundo, construindo uma irrealidade prática
para si, toda a beleza que a história traz consigo, se perde, se desencanta.
Boa parte dos professores aponta e compreende a relação entre a história
e a vida dos alunos, não só em termos cognitivos, mas como experiências
reais de vida. As professoras e professores precisam receber formação
continuada, mas, sobretudo, precisam integrar ao seu trabalho docente a
pesquisa aplicada, sobre tudo aquilo que permeia a cultura escolar e o
ensino de história, o professor precisa pensar as condições de produção
do conhecimento e não exclusivamente pensar as relações de ensino
aprendizagem.
“No meu ponto de vista, por exemplo, um livro que eu vou ensinar no
estado do Paraná, ele tinha que tentar jogar em toda a história, alguma
história do Paraná, falar da segunda guerra, mas ali vai vim no livro
didático um pouquinho, eu não vou nem falar de União da Vitória que eu
sei que é radical demais, mas se eu tô no estado do Paraná acho que o
livro tinha que contar, por exemplo, a história da segunda guerra no
Paraná, a imigração no Paraná, ou em Santa Catarina, pra não ficar um
negócio muito vago, daí as vezes foge tá? Nós temos uma lei que obriga a
ensinar história do Paraná, mas onde vamos encontrar tempo se a gente
tem que seguir o tal do livro didático, e onde vai encaixar história
indígena, a história africana, a história do Paraná nesse meio”. (Entrevista
professor 05, 2017)
“Eu acho que nessas temáticas que falam sobre as minorias, sobre o
ensino de história afro-brasileiro, história indígena, são temáticas que
lidam com feridas sociais ainda muito fortes. Nos últimos 15 anos teve um
avanço significativo, o Paraná tem aqui, as escolas todas desenvolvem um
grupo interdisciplinar pra lidar com essas situações, mas é uma coisa ainda
muito superficial, no sentido que muitas escolas entendem isso como só
119
mais uma burocracia, e outras não! Fazem um trabalho a fundo, fazem
discussão com grupos de pesquisa, de discussão. Então eu acho que essas
questões tinham que ser mais aprofundadas no currículo”. (Entrevista
professora 12, 2017)
“Não é só um livro didático que eu uso né, as vezes eu trago outros, daí eu
dou uma olhada, daí o texto que eu acho interessante eu levo pra eles
sobre o conteúdo que tem que ser apresentado, daí eu faço uma
exposição oral mas eu sempre deixo aberto para que eles possam
perguntar, debater, as vezes acontece, que eu fico bem feliz com isso, que
um aluno, aluna sabe um pouco mais sobre o assunto daí a gente começa
a fazer um debate, conversa. Eu gosto muito de interpretação de textos,
também dependendo do livro, eu acho fundamental fazer com que as
alunas e os alunos comecem a pensar, raciocinar pra poder expor a ideia
deles. Mas eu acho que só livro didático não é tudo pra gente trabalhar
em sala de aula”. (Entrevista professor 26, 2017)
120
de um dos programas de formação continuada, mais promissores e de
resultado, desenvolvido nas escolas paranaenses – o ‘Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE’, segundo a Secretaria da Educação:
121
Educação do Estado do Paraná - SEED, desde 2007, produzindo efetivos
resultados dentro da educação básica paranaense. De forma geral o
programa buscou aproximar a escola da universidade, onde a experiência
do professor e a percepção das demandas de ensino e formativas se
somavam a pesquisa científica, nas áreas específicas da universidade
paranaense. Muito e de excelente qualidade foi produzido e se encontra
disponível para pesquisa no sítio da Secretaria Estadual da Educação do
Paraná – no ícone ‘produções PDE’, desde o projeto de pesquisa, a
implementação em sala de aula e sua descrição, como a elaboração de
artigo científico descrevendo todo o processo, servem de subsídio para a
pesquisa e ensino em seus diversos níveis.
Referências
Everton Carlos Crema. Professor Assistente da Universidade Estadual do
Paraná – UNESPAR – campus – União da Vitória – membro do LAPHIS –
Laboratório de Aprendizagem Histórica – doutorando pelo Programa de
122
Pôs Graduação em Educação- UFPR – Educação Histórica, sob orientação
de Maria Auxiliadora Schmidt.
123
ATUAL REFORMA DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL E
APRENDIZAGEM HISTÓRICA
Geyso Dongley Germinari
Introdução
A Lei nº 13.415/17 que reforma o Ensino Médio no Brasil impõe
transformações significativas para essa etapa da Educação Básica. A
legislação estabelece principalmente mudanças na carga horária anual e
na organização curricular, esta institui uma proposta mista, por um lado, a
existência de disciplinas e os chamados “estudos e práticas em
determinados campos do conhecimento, ambos obrigatórios e comuns a
todos os estudantes, por outro lado, propõem itinerários formativos
definidos em 5 áreas de conhecimento, cabendo a escola ou sistema de
ensino ofertá-las em caráter optativo.
124
Na década de 80, experiências pedagógicas inovadoras baseadas em
novas seleções de conteúdos e métodos de ensino inovadores, como uso
de diferentes linguagens culturais (fotografias, documentários,
propaganda e outras). “Essas experiências, por sua vez, serviram de base
para análises, muitas vezes das práticas de ensino e/ou de outras
pesquisas, que começaram a se desenvolver nos Cursos de História”
(COSTA; OLIVEIRA, 2007, p. 148).
125
na cidade de Campinas-SP, em 1997, além do interesse pelas práticas e
saberes dos professores, algumas linhas de pesquisa ampliavam suas
investigações para outras temáticas. Com base nos trabalhos
apresentados no evento, Zamboni (2000/2001, p. 107), agrupou as
investigações nas seguintes as linhas de pesquisa: “formação do professor
de História; produção do conhecimento; identidades culturais e memórias
locais; currículo; história do ensino de História e História da América;
linguagens e ensino de História e novas tecnologias; produção
historiográfica e livro didático; memória e ensino de História; o uso escolar
de fontes históricas”.
126
relacionadas ao raciocínio e a lógica histórica. A análise de ideias
substantivas concentra-se em reflexões sobre os conceitos históricos,
envolve noções gerais (revolução, imigrações...) e noções particulares
relativas a contextos específicos no tempo e no espaço (exemplo: histórias
nacionais, regionais e locais). Estas análises também utilizam critérios de
qualidade destacando valores e motivações associados aos conceitos
substantivos da História. As investigações sobre o uso do saber histórico
analisam questões relativas ao significado e uso da História na vida
cotidiana.
127
Cognição situada na epistemologia da história
No texto Cognição Histórica Situada: Que Aprendizagem é Esta? de Maria
Auxiliadora Schmidt (2009b), analisa manuais Didáticos da História
destinados a professores, produzidos entre 1917 e 2004 e também avalia
a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais de História, publicado
pelo Ministério da Educação em 1998, e constata que a concepção de
aprendizagem que norteia tanto os manuais didáticos quanto e os
Parâmetros Curriculares referencia-se na Psicologia da Educação. A partir
desse panorama Schmidt (2009b) pondera sobre a importância das teorias
psicológicas e suas categorias nos processos de aprendizagem de crianças
e jovens principalmente para as mediações didáticas em sala de aula, mas,
no entanto, destaca que tais categorias não referem-se a cognição
história, a qual pode ser denominada de cognição histórica situada na
ciência da História. A autora ainda chama atenção para importância da
cognição situada na relação direta com saber histórico cientifico da
História no ambiente escolar, nas suas palavras:
128
Nesse movimento, houve um esforço dos historiadores na demonstração
da cientificidade do conhecimento histórico pela via do método, assim,
nesse momento a História transforma-se em ciência com objeto e método
próprio, uma das consequências desse contexto foi afastamento gradativo
da reflexão sobre os problemas didáticos intrínsecos ao conhecimento
histórico, como a relação com vida prática e as dimensões da
aprendizagem histórica presentes no processo de produção científica do
saber histórico.
129
vividas como mudanças do mundo e de si mesmo, desestabilizam a vida e
causam sofrimento, por isso, carecem ser interpretadas para orientar o
agir humano na vida concreta de modo intencional. Assim, consciência
histórica pode ser descrita como “*...+ o trabalho intelectual realizado pelo
homem para tornar suas intenções de agir conformes com a experiência
do tempo. Esse trabalho é efetuado na forma de interpretações das
experiências do tempo. Estas são interpretadas em função do que se
tenciona para além das condições e circunstâncias dadas da vida” (RÜSEN,
2001, p. 59), o resultado desse trabalho mental é a constituição de
sentidos históricos (articulação passado, presente e futuro) que orientam
o agir na vida prática.
Por esse caráter orientador do agir humano, Rüsen (2007, 2010; 2012),
compreende o exercício da consciência histórica como um processo de
aprendizagem histórica, em outras palavras, o ato de interpretar a
experiência do passado para compreender o presente e perspectivar o
futuro de modo a orientar a as ações na vida prática, pode ser
caracterizado como a geração de um aprendizado histórico.
130
especificidade que pode ser levada em conta e vista como um substrato
científico do domínio da Educação Histórica *...+” (SCHMIDT; BARCA, 2014,
p. 21).
131
transformada em Projeto de Lei de Conversão 34/2016 (BRASIL, 2016b).
Como a Medida Provisória 746/2016 foi alterada na comissão mista e na
Câmara dos Deputados, foi aprovada no Senado, sob a forma do Projeto
de Lei de Conversão.
132
inclui em caráter obrigatório o estudo da língua inglesa (“Os sistemas de
ensino também “*...+ poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em
caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de
ensino” (BRASIL, Art. nº 3º, §4º).e estudos e práticas de educação física,
arte, sociologia e filosofia (BRASIL, 2017, Art. nº 3º, §2º):
De acordo com Lei 13.415, as únicas disciplinas obrigatórias nos três anos
do Ensino Médio são Língua Portuguesa e Matemática ao longo dos três
anos e Língua Inglesa, porém, esta não é obrigatória a oferta nos três
anos. É importante destacar que a implementação da reforma ainda
depende da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que
está em elaboração, e segundo informações do Portal do Ministério da
Educação (MEC), “Após essa etapa, no primeiro ano letivo subsequente à
data de publicação da BNCC, os sistemas de ensino deverão estabelecer
um cronograma de implantação das principais alterações da lei e iniciar o
processo de implementação, conforme o referido cronograma, a partir do
segundo ano letivo”.
133
podendo ser ofertado ou não pelo sistema de ensino responsável pelo
Ensino Médio, nas diversas cidades brasileiras.
134
O trabalho com método de pesquisa do historiador permite aos jovens
estudantes transcenderem orientações temporais presentes no senso
comum, presentes no meio familiar, nas diferentes sociabilidades
públicas, nas mídias e redes sociais.
135
Referências
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Professor Adjunto e pesquisador do Departamento de História e do
Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-
Graduação em História, da Universidade Estadual do Centro-Oeste,
campus Irati, na mesma instituição coordena o Laboratório de Ensino de
História (LEHIS), também é pesquisador do Laboratório de Pesquisa em
Educação Histórica (LAPEDUH), articulado ao Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Paraná. E-mail:
geysog@gmail.com
136
BRASIL. Comissão Mista da MPV 746/2016. Projeto de Lei de Conversão
n.34 (PLV 34), de 30 de novembro de 2016b. Altera a Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional; a Lei nº 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação; o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, que aprova a Consolidação das Leis do Trabalho; e o Decreto-Lei nº
236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de
2015; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de
Ensino Médio em Tempo Integral. Disponível em:
<http://www.senado.leg.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=203653&tp=
l>. Acesso em: 29 dez. 2016.
137
histórica: possibilidades para educação do campo. Quaestio, Sorocaba, SP,
v. 18, n. 3, p. 761-776, nov. 2016.
138
SCHMIDT, M. A. M. dos S. Cultura histórica e aprendizagem histórica.
Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 6, n. 10, p. 31-50, jan./jun. 2014.
139
CAMINHOS POSSÍVEIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
ANTIGA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DISCUSSÕES
PRELIMINARES
Guilherme Moerbeck
140
pertencer, de perceber o outro); o político (relativo às clivagens de poder);
o econômico-social (relativo às clivagens sociais e diferenças de classe) e o
moral (relativo às diferenciações de julgamento de valor, histórico e
culturalmente condicionados). [Já, para Jörn Rüsen], da carência humana
da orientação do agir, surge o problema neste universo de ideias. A ciência
histórica é erigida, assim, como forma de dar resposta a uma carência
existencial e intelectual a uma questão, como solução de um problema. O
processo de orientação no fluxo temporal pressupõe uma dinâmica de
apropriação do passado no presente. A recuperação do passado é
condição sine qua non para a compreensão do presente e a projeção de
futuros possíveis” (MOERBECK, 2017 b, p.192,196).
Segundo Helenice Rocha, a escola já não consegue dar conta de fazer com
que o seu público entre em contato com o mundo da ciência. A linguagem
científica produz uma forma de representação da realidade cada vez mais
hermética, que acaba por eliminar o vivido. A autora se aproxima do que
se pode chamar de uma cultura histórica que se apoie em um caráter
multidimensional, em termos estético, político e cognitivo. Uma cultura
histórica acaba por se expressar na dimensão temporal, por meio de
novelas, livros, monumentos, guias e as artes em geral (ROCHA, 2014;
MARTINS, 2002). Existem muitos debates em torno desses conceitos, mas,
o que se pode mencionar de relevante é a possibilidade de se
compreender os diversos modos e campos de produção de conhecimento
141
histórico (CARDOSO, 2008; LIMA, 2014; CERRI, 2013; SADI, 2010;
MOERBECK, 2017 b; 2017 c).
142
formação universitária, a História Antiga como disciplina básica, como
ocorre nas licenciaturas em História. Embora desejável, o uso da
Antiguidade como instrumento de reflexão sobre a alteridade pode
representar uma dificuldade séria aos docentes dos Anos Iniciais.
143
Ao se iniciar a História no 6º ano, preconiza-se a: “identificação dos
eventos considerados importantes na história do Ocidente (África, Europa
e América, especialmente o Brasil), ordenando-os de forma cronológica e
localizando-os no espaço geográfico” (BNCC, 2016, p. 414). Ao se operar
com a noção de “História do Ocidente”, pode-se formatar uma narrativa
que naturaliza os desdobramentos europeus no resto de ‘um mundo que
importa ser estudado’. Ainda que não fosse a intenção dos autores, não
parece adequado a uma História do século XXI pensar em termos tão
dicotômicos de Ocidente versus Oriente, haja vista as críticas já
sedimentadas em estudos das Ciências Humanas (SAID, 2008; GOODY,
2008).
144
grego (FRANCISCO; MORALES, 2016; BUSTAMANTE, 2017;
VLASSOPOULOS, 2007).
145
democracia. O estudo da democracia antiga serve muito mais como efeito
de alteridade, de diferença, da percepção de que os regimes políticos são
instáveis e mutáveis no tempo.
Da forma símile, estudar a mitologia egípcia antiga não pode servir apenas
aos objetivos da erudição e do conhecimento do pitoresco. A mitologia de
povos antigos deve estar presente nos currículos escolares pela
capacidade de apresentar ao aluno de hoje a possibilidade intelectual de
se contrapor à cultura vigente. Trata-se de poder criticar o presentismo
monoteísta de várias ramificações que, infelizmente, fomenta discursos
dogmáticos e de ódio, em especial no que tange às religiões de matrizes
africanas. O estudo da História Antiga é uma forma de prevenção do
surgimento de discursos autocentrados e auto referenciais do ponto de
vista cultural. É pela História Antiga que se pode olhar a diferença em
relação ao passado e poder imaginar o diferente no futuro.
Referências
Guilherme Moerbeck é Doutor em História Antiga (UFF-2013), possui Pós-
doutorado em Ensino de História (FGV-2016) e é Visiting Research Fellow
no Department of Classics da Brown University. Lecionou por catorze anos
no Ensino Básico, nas redes pública e privada. Leciona há treze anos no
Ensino Superior (UNIG, UCAM, UFF e FGV-Rio). Atualmente, é professor
adjunto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da ESDI/UERJ e
146
pós-doutorando junto ao LABECA/MAE-USP, sob supervisão da Profª
Maria Beatriz Florenzano. Autor de dois livros em História Antiga: Guerra,
Política e Tragédia na Grécia Clássica (Paco Editorial, 2014); Entre a
religião e a política: Eurípides e a Guerra do Peloponeso (Prismas, 2017) e
de artigos nesta e em outras áreas. Foi laureado como Destaque
no Prêmio Professores do Brasil/MEC – 2017. Bolsista PDJ do CNPq.
147
FRANCISCO, Gilberto da Silva; MORALES, Fábio. Desvelando o
atenocentrismo. Revista de Cultura e Extensão da USP. São Paulo: nº 14,
p. 67-79, mar. 2016.
148
MARTINS, Estevão Rezende de. Historiografia contemporânea: Um ensaio
de tipologia comparativa. In: Varia História, nº 27, julho, 2002
149
TORRES, Marcele e Ferreira, Marcia. Currículo de História: reflexões sobre
a problemática da mudança a partir da lei 10639/03 In: MONTEIRO, Ana
Maria et alii. (Orgs.). A pesquisa em Ensino de História. Rio de Janeiro:
Mauad X, 2014, p. 83-97.
150
O ENSINO DE HISTÓRIA: PROBLEMAS ATUAIS DE UM
PASSADO NÃO MUITO DISTANTE
Gustavo de Andrade Durão
151
das propostas educacionais e acadêmicas nas quais encontramos a relação
ensino-aprendizagem caracterizada pela inovação e pela autonomia dada
ao aluno. Pensar a História e seu ensino será sempre uma maneira de
identificarmos nossa condição atual e perceber ainda o que é preciso fazer
para que a História seja aproximada da realidade do aluno, sem gerar um
sucateamento da disciplina e muito menos que ela seja tratada como uma
área de menor importância.
Os campos históricos
A História foi vista de forma simplificada como uma “ciência que explica o
passado” ou uma disciplina responsável pela perpetuação dos processos
de memória. Mas isso não permaneceu, pois, a História começou a ser
pensada como uma maneira de se compreender a realidade vivida e ainda
como nossa história pode ter um caráter cíclico.
152
“História Única” para usarmos a expressão da literata Chimamanda
Adichie. Para mais veja o vídeo e a transcrição do vídeo no site
geledes.org.br.
153
“Numa luta contra uma história que fosse somente política, narrativa e
factual, e a partir do desenvolvimento de outras ciências do homem,
utilizando como inspiração suas técnicas e seus métodos, são agora os
responsáveis, como o foi o materialismo histórico, por um novo grande
impulso no conhecimento histórico. Embora sem uma unidade teórica,
abrem, pelo exemplo de inúmeros trabalhos, um campo mais amplo de
análise, além do limitado positivismo” *BORGES, 2006, 39+.
154
sociologia, política, filosofia, enfim, outros campos de estudos capazes de
trocar com a história [BORGES, 2006, 40].
155
sendo um espaço de contestação ou de reprodução do conhecimento.
Nosso sistema escolar ainda funciona através de um modelo de “controle
do tempo” e de vigilância que expressam uma visão de cultura como a
soma de saberes tidos como oficiais, visando cumprir uma agenda
centralizadora [GASPARELLO, 2001, 80].
156
delas continuando os debates tão importantes na constituição da História
da História. De uma maneira ou de outra a História Nova pode não ter
entrado tão profundamente nas produções historiográficas,
demonstrando algumas peculiaridades da nossa escrita da História.
Métodos e aplicações
No início dos anos 2000 lembro das aulas de prática de ensino da
Universidade em que tínhamos contato com inúmeros livros didáticos e
nós (aspirantes a professor) compreendíamos não haver grandes
mudanças entre eles, pois seguiam uma linha editorial mais ou menos
comum. Mas a professora da disciplina havia citado uma coleção de livros
que trabalhava com História Temática, não seguindo uma ordem
cronológica propriamente dita.
Alguns alunos acharam bastante interessante aquele método, mas não era
uma coleção de fácil aplicabilidade, pois demandava um conhecimento
prévio do professor de tempos e espaços distintos. Muito embora, esse
não fosse o problema principal, a grande questão era que esse material
não seguia uma linha política como os outros e rompia o padrão
tradicionalmente seguido nas estruturas dos livros didáticos.
Outro educador bastante atual é Paulo Freire, quando diz que há uma
educação bancária responsável pela manutenção de um padrão,
geralmente, associado ao não incentivo de uma consciência crítica. O
aluno tornou-se alguém acrítico, que só absorve e reproduz os
conhecimentos, sem precisar elaborá-los; a escola não é nem de longe um
local neutro nesse processo:
157
Impossível não lembrar o célebre clip da música do Grupo Pink Floyd –
“Another Brick in the wall” (1979). Nos tempos atuais podemos dizer que
o debate da escola sem partido passa por essa percepção do espaço
escolar como algo capaz de disciplinar e “formar” a mentalidade do aluno.
Assim, compreendendo a capacidade de a escola ser esse espaço de
compreensão das ideologias o pode público busca se apropriar desse
espaço para cumprir a maior parte de suas agendas políticas.
158
A noção de rompimento com o discurso histórico das elites surgiu
influenciada pela História Social, levando a retomada de algumas
interpretações. Nesse ponto, surgia a crítica aos annales visto que só eram
aceitas as elaborações historiográficas associadas aos europeus e aos
grandes intelectuais do século XX [SHARPE, 2011, 51]. De acordo com o
professor Sharpe:
159
“Apesar de uma aparente modernização que aparece mais nas palavras do
que na ação, fruto da influência escolanovista, o ensino em geral (e talvez
mais especificamente o ensino da História) permanece para muitos como
uma ladainha repetida pelos herdeiros da tradição jesuítica [GASPARELLO,
2001, 74-5+.”
160
escolhemos esse autor pois ele foi considerado um dos continuadores
dessa Nova História e, esse pensador foi assertivo quando disse que os
historiadores se acham os mais comprometidos com a verdade. Ainda
hoje, vemos isso, mas Certeau demonstra o quanto o conhecimento
acerca dos nossos objetos de estudo nos afasta da concepção de diversas
intepretações da verdade.
161
implementação das leis como a 10.639/03 não ocorrem de maneira
suficiente, levando os espaços escolares a negligenciar as conquistas e
transformações no campo dos direitos sociais no Brasil [CRUZ, 2001, 68-9;
XAVIER, 2013, 89].
Da mesma forma, a História Nova ou a École des Annales atuou para fazer
essa transformação no campo das mentalidades, por exemplo: romper
com os paradigmas da História Tradicional os Annales preconizaram um
caminho para uma revolução científica. Isso abriu caminho para diversas
subdisciplinas dentro da História, o que para Burke (2006, p.20-1) foi algo
bastante interessante e enriquecedor para a historiografia mais recente.
Contudo, podemos tentar compreender esse distanciamento da docência
em relação ao trabalho do historiador (pesquisador) pela dificuldade da
própria História Nova ainda apresentar desafios e desconfianças.
162
um movimento de retrocesso dos parâmetros curriculares. Um dos
caminhos possíveis em se investir seria através do construtivismo e nas
formas de autonomia dos alunos.
Considerações finais
A escrita da História, a pesquisa histórica e o ensinar história passam por
sérios problemas visto que os paradigmas da história tradicional ainda não
foram totalmente quebrados e as políticas públicas atuais ainda estão
distantes do ensino de história adaptado às experiências vividas e ao
intento de se construir o cidadão, ou no mínimo educar para o exercício
de seus direitos e deveres na sociedade.
163
dos programas político-pedagógicos para modificar um pouco do ensino e
da própria área em nosso país.
Referências
Gustavo Durão, Doutor em História Comparada (UFRJ) Pós-doutorando
(UFRRJ, integrante do grupo Interinstitucional Áfricas (UFRJ-UERJ).
164
MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea através de textos.
(Série Textos e Documentos – 5). São Paulo: Editora Contexto, 2013.
165
“DOUTRINAÇÃO” NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES?
DESAFIOS ATUAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Janaína Guimarães da Fonseca e Silva
166
vereadores do país. As criticas desse movimento também foram ouvidas
nas discussões acerca dos planos estaduais de educação, bem como já se
fizeram presentes desde 2014 nas discussões para a aprovação do Plano
Nacional de Educação.
O sítio eletrônico do Escola Sem Partido tem várias abas nas quais ensina
como denunciar um doutrinador, também podemos encontrar ali as
concepções que têm de educação e o que entendem como “doutrinação”.
Então a análise desse conteúdo nos é importante para que
compreendamos o que tem sido divulgado por esse grupo, que tem
elaborado projetos de lei que tentam coagir a ação de professores e
professoras no país. Para nossa análise utilizamos os métodos de análise
de conteúdo de Bardin (1977), focando na repetição de termos como
“doutrinação”, “militantes”, “esquerda”, “denúncia”, “família” e outros
que destacam-se nos textos do sítio.
Uma fala corrente nos escritos do Escola Sem partido é a que afirma que
aumenta a cada dia a doutrinação nas escolas e Universidades do País.
Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2017, pelo Datafolha,
demonstra que os brasileiros e brasileiras estão mais afinados/as com as
idéias de direita do que com as idéias de esquerda no que se refere a
comportamento, valores e economia (DATAFOLHA, 2017). Então esse
avanço da direita demonstra que não há respaldo para que o Escola Sem
Partido fale dessa intensificação de uma “doutrinação” esquerdista, como
se docentes fossem seres que não respondessem à lógica geral da
população brasileira. A maioria dos professores e professoras não são
necessariamente de esquerda, não tem necessariamente essas posturas,
na verdade a intencionalidade por trás desse discurso é o que precisamos
compreender. A quem ou a que tipo de projeto interessa uma escola que
não produza cidadãos e cidadãs capazes de uma leitura crítica de mundo?
167
Ou uma Universidade que só construa conhecimento a partir da técnica e
não da ética?
Esse texto citado no sítio do Escola Sem Partido como sendo exemplo de
uma educação enviesada, a partir de uma perspectiva comunista, na
verdade está sendo totalmente tirado do contexto. O escrito de Moacir
Gadotti e vai trabalhar justamente os avanços da perspectiva educacional
e a preocupação em se pensar o todo, a sociedade, não apenas o
indivíduo. Contudo, a forma como ele é recortado, quer dar a entender
que o Moacir Gadotti, assim como outros educadores que são ali citados,
estão em defesa de uma educação acrítica e de um regime socialista. Essa
mesma adulteração já tem sido feita a vários educadores e educadoras
que respaldam a educação brasileira, a exemplo de Marilena Chaui.
Contudo, uma das figuras que é mais atacada pelo Escola Sem Partido é o
Paulo Freire, tido como o grande ‘concebedor’ dessa perspectiva
doutrinadora.
168
Se a critica à educação tal qual prescrita em nossa legislação é uma
constante, o que o Movimento entende por educação? Como esta deve
ocorrer? Retiramos então as palavras do sítio eletrônico:
A grande questão é que a nossa educação, tal qual pautada pelo estado,
tem princípios básicos, e não há garantias que todas as famílias consigam
prover uma educação baseada nesses princípios, ou seja, a nossa
educação, tal qual pautada pelo estado tem que ser plural, respeitosa e
inclusiva. É isso que pauta tanto a nossa constituição quanto a LDB. Ainda
que resguardado o direito de cada família de educar seus filhos e filhas da
forma que quiser, quando chegam à escola precisam receber as bases do
que são os interesses do Estado para educação, e isso inclui perspectivas
não-homofóbicas, não-racistas, e não violentas. Digamos que uma família
seja homofóbica ou racista e assim eduque seu filho; essa criança, ao se
deparar com a sociedade, não vai responder às práticas daquela sociedade
ou daquele Estado, que é uma convivência respeitosa entre os sujeitos.
Então é sim papel das escolas, das universidades, da educação tal qual
oferecida pelo Estado, pautar todos esses princípios para que aqueles
indivíduos, que são educados nas suas famílias de forma específica e
autônoma, saibam se comportar dentro do ambiente social e dentro de
uma perspectiva plural.
Uma das críticas que me parecem mais ofensivas dentro do sítio do Escola
Sem Partido, é a idéia de que hoje o “politicamente correto” proíbe a
menor menção vexatória à religiões, culturas, raças, e opções sexuais,
como se o politicamente correto tivesse um sentido negativo. Como, por
exemplo, não fazer uma piada ofensiva ou não ter práticas excludentes
fosse uma coisa negativa. Na perspectiva desse grupo você deveria ter a
liberdade para poder continuar fazendo piadas sobre negros,
homossexuais, mulheres e todos os sujeitos historicamente tratados como
minoria nesse país.
169
Dentro do sítio existe uma aba chamada “flagrando o doutrinador”, onde
são listadas atitudes tidas como “doutrinação”. O que nos chama atenção
são as afirmações sobre a escolha dos livros, segundo o sítio, um professor
doutrinador “adota ou indica livros, publicações e autores identificados
com determinada corrente ideológica”. Qual a produção ou pesquisa
histórica isenta? A neutralidade tampouco é principio em nossa produção
de conhecimento, nossas opções teóricas estão relacionadas diretamente
com nossa forma de ver o mundo. Não podemos, claro, deixar de pontuar
que toda abordagem histórica é uma escolha, o que é bem diferente de
afirmar não ter uma. O professor que “se desvia freqüentemente da
matéria-objeto da disciplina para assuntos relacionados ao noticiário
político ou internacional”, também é apontado como doutrinador. Como
se a história e seu ensino pudessem ser desvinculados da realidade.
Então a nossa educação tem que ser voltada para esses princípios
constitucionais. Um dos assuntos que mais chama a atenção é a
preocupação ou a perseguição ao que essas pessoas chamam de
“ideologia de gênero”, e como ela está presente nas escolas, então existe,
também, dentro do próprio sítio eletrônico, um anteprojeto de lei contra
essa “ideologia de gênero” nas escolas que nós também vamos observar
aqui. Mas o que seria essa abordagem de gênero tão temida? E mais, o
que seria essa “Ideologia de gênero” falada na lei?
170
Primeiramente devemos compreender que não existe “ideologia de
gênero”. Esse conceito, fundado por grupos conservadores, que falseia
categorias explicativas elaboradas na academia, tem como intenção
excluir a diversidade do espaço escolar e a problematização das desiguais
relações de poder que se estabelecem entre o que a sociedade
compreende como feminino e masculino. Falar de uma “ideologia de
gênero” é negar que as demais concepções de educação, sexualidade e
família, são também ideológicas, pois construções sociais; e assim
também negar que nomeamos o mundo de forma múltipla e diversa.
171
censura em atividades culturais (art. 5o, IX), à laicidade do estado (art.19,
I), à competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases
da educação nacional (art. 22, XXIV), ao pluralismo de idéias e de
concepções pedagógicas (art. 206, I) e ao direito à liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II).
Por fim, devemos lembrar que o Plano Nacional de Educação não tem
poder de vetar a abordagem de gênero nas escolas, pois é um documento
estratégico, que estabelece as metas decenais (2014-2024) do nosso
sistema educacional, mas que não se sobrepõe à Lei de Diretrizes e Bases,
nem à nossa constituição.
172
Lembramos, por fim, que direito à educação para a igualdade de gênero,
raça, orientação sexual e identidade de gênero têm base legal na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996), nas Diretrizes
Nacionais de Educação e Diversidade, nas Diretrizes Curriculares do Ensino
Médio (art. 16), elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação, e na Lei
Maria da Penha (2006). Esse direito também está previsto nos tratados
internacionais de direitos humanos com peso de lei dos quais o Brasil é
signatário. A perseguição à aclamada “doutrinação”, não é mais do que
uma tentativa de ferir e extirpar o pensamento crítico na educação
Brasileira, retirando de professores e professoras, não só de História, mas
das diversas disciplinas, a autonomia na construção de conhecimentos em
sala de aula.
Referências
Janaina Guimarães da F. Silva é Professora Adjunta do colegiado de
História da Universidade de Pernambuco - Campus Mata Norte e do
Programa de Pós Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares (PPGFPPI)- campus Petrolina.
173
Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015b. Série Legislação n. 193.
Disponível em:
<bd.camara.gov.br/bd/.../bdcamara/.../plano_nacional_educacao_2014-
2024_2ed.pdf>. Acesso em: 10 set. 2016.
174
PATRIMÔNIO CULTURAL, ENSINO DE HISTÓRIA E
FONTES MATERIAIS
Jaqueline Ap. M. Zarbato
“Um processo permanente e sistemático de trabalho educacional
centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e
enriquecimento individual e coletivo. Busca levar as crianças e adultos a
um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua
herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e
propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num
processo contínuo de criação cultural”. (IPHAN, Guia Básica de Educação
Patrimonial, 1999, p.7).
175
“A educação patrimonial nada mais é do que uma proposta
interdisciplinar de ensino voltada para questões atinentes ao patrimônio
cultural. Compreende desde a inclusão, nos currículos escolares de todos
os níveis de ensino, de temáticas ou de conteúdos programáticos que
versem sobre o conhecimento e a conservação do patrimônio histórico,
até a realização de cursos de aperfeiçoamento e extensão para os
educadores e a comunidade em geral, a fim de lhes propiciar informações
acerca do acervo cultural, de forma a habilitá-los a despertar, nos
educandos e na sociedade, o senso de preservação da memória histórica e
o consequente interesse pelo tema” (ORIÁ, 2017*5+).
176
Ao fundamentar as dimensões da história com a educação patrimonial,
um dos conceitos adotados é lugar de memória. Segundo Nora (1999),
lugares de memória constituem-se em espaços de rituais, de danças,
cantigas, artesanato, manifestações culturais que são transmitidas de
geração para geração. Esses elementos, compõem a identidade social do
grupo cultural, permitindo que possamos ampliar o que se reconhece de
cada grupo.
177
tempo histórico. E que a concepção “oficial” sobre patrimônio tenha sua
historicidade, em que desde os anos 1930 até os dias atuais, sofram
alterações na fundamentação do que se configura como bem patrimonial.
178
Mário Chagas (2009), discute a ideia de Patrimônio Cultural, salientando
que quando se tem uma ação de preservação dos bens culturais tangíveis,
a justificativa não seria a sua materialidade e sim os saberes, técnicas,
valores, funções e significados e sentidos que representam e ocupam na
vida social, desta forma, o fato de preservar um bem em sim não se
constitui por si patrimônio. Ainda conforme o mesmo e baseando-se em
Le Goff (1982), a ação preservacionista no campo do patrimônio ao
introduzir “diversidade das tradições, os movimentos insurrecionais, os de
contestação, tudo o que permitiu a um povo ser aquilo que é” leva a ideia
de “patrimônio espiritual”, ou seja, o que permitiu o povo brasileiro ser o
que, sendo de acordo com o autor uma possível questão que Mario de
Andrade discutia em suas proposições. (CHAGAS, 2009, pp. 98-109).
Assim, conforme esse pensamento, podemos refletir sobre o patrimônio
como algo simbólico:
179
pesquisa em diferentes fontes históricas, entrevistas com roteiro pré-
estabelecido.
Uma das perspectivas de ação didática, que pode ser a utilizada pelos
professores, se dá pela narrativa, a qual possibilita à todos/as conhecer as
concepções dos sujeitos (alunos, inclusivamente). Pois como afirma Barca
(2012, p 39) se dá:
180
histórico- temporal em que está inserido. Este processo leva ao reforço da
auto- estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura
brasileira compreendida como múltipla e plural.”
Figura 1.
Relógio central em Campo Grande
181
as experiências de aprendizagem se desenvolvam com a utilização de bens
culturais originais: monumentos, arquiteturas, fontes de arquivo, peças de
museu, sítios arqueológicos, quadros autênticos etc. A segunda condição é
que sejam objeto de observação e de uso para produzir informações. A
terceira condição é que sejam colocados em relação com o contexto e
com a instituição que os tutelam. A quarta condição é que se promova a
tomada de consciência de que são a minúscula parte de um conjunto
muito mais amplos que permite o conhecimento do passado e do mundo,
o prazer de conhecer, a fruição estética. As últimas duas condições
requerem que se generalize a descoberta do valor dos bens culturais
usados e das instituições e dos sujeitos que os tutelam e estudam
(Mattozzi, 2008, p 137).
182
“Sentido é a quinta-essência da interpretação humana do mundo e de si
mesmo. Os seres humanos precisam interpretar seu mundo e entender a
se mesmos na relação com outros para poderem viver. Esse feito
interpretativo faz do mundo e do ser humano uma formação de sentido
que, enquanto quadro orientador, torna o sofrimento compreensível e
determina o agir.”
183
Referências
Jaqueline Ap. M. Zarbato é doutora em História e professora da UFMS.
184
ENSINO DE HISTÓRIA E LITERATURA DE CORDEL:
EXTRATOS DO PASSADO MEDIEVAL EM ‘A BATALHA DE
OLIVEIROS COM FERRABRÁS’
Luciano José Vianna
A literatura de cordel tem sido cada vez mais utilizada como objeto de
pesquisa principalmente relacionado ao período histórico que
conhecemos como Medievo. Tal fato se justifica pela presença, nesta
documentação, de aspectos e conteúdos relacionados a este período
histórico, o que faz com que a mesma possa ser analisada através de uma
perspectiva interdisciplinar entre História e Literatura. Entretanto, tais
objetos também podem ser abordados a partir da perspectiva do Ensino
de História e, especificamente, do Ensino de História Medieval.
185
conceito de medievalidade, o qual se refere a uma “referência fugidia,
estereotipada” do Medievo, o qual pode se manifestar, por exemplo, na
indústria musical e nos jogos eletrônicos, assim como as produções
literárias contemporâneas ambientadas neste período e o cinema
(Macedo, 2013, p. 15-18).
186
do contexto. Além disso, diversos outros personagens próximos a Carlos
Magno aparecem na narrativa, como, por exemplo, Roldão (o qual, no
caso, seria Rolando).Portanto, inicialmente, o cordel ‘A batalha de
Oliveiros com Ferrabrás’ estaria ambientado temporal e espacialmente
em um contexto carolíngio, aproximadamente entre o final do século VIII
e o começo do século IX.
187
teve sua origem a partir de uma tradição oral, realizada por jograis e
direcionada a um público muito diverso e em grande parte analfabeto
(Riquer, 2003,p. 31-32).Ao ser textualizado em um contexto muito
posterior ao da composição do documento, provavelmente ocorreram
modificações na transmissão oral, o que fez com que o produto
textualizado apresentasse características diversas em comparação com o
fato ocorrido em 778. Assim, de acordo com Martin de Riquer:
188
diversos aspectos que podem ser entendidos como fora do contexto
carolíngio, dos quais destacaremos dois a seguir.
189
Portanto, o termo “turco” representa, sim, o mundo islâmico, porém, em
um contexto posterior ao carolíngio, não se identificando com este, mas
sim com o contexto do Império Otomano. Richard Fletcher, em seu livro ‘A
cruz e o crescente. Cristianismo e Islã, de Maomé à Reforma’, cita uma
conhecida crônica da primeira cruzada, composta aproximadamente entre
1100 e 1101, ou seja, no começo do século XII, intitulada ‘gesta francorum
et aliorum hierosolimitanorum’, na qual, seu autor, afirma que lutou
contra os chamados “turcos”, ou seja, obedecendo a uma localização
territorial do oriente (Fletcher, 2004, p. 98).Sua origem encontra-se nas
migrações dos turcos seljúcidas durante o século XI, originários da Ásia
Central e que se direcionaram às terras da Anatólia, na qual, naquele
contexto, havia diversos territórios, como, por exemplo, o Império
Bizantino (Fletcher,2004, p. 84-86). Após a batalha de Mazinkert, ocorrida
em 1071 e que opôs forças bizantinas e seljúcidas (Hillenbrand, 2007),
cada vez mais os turcos seljúcidas se fortaleceram favorecendo o
surgimento, no século XIV, do que conhecemos como Império Otomano, o
qual se expandiu durante o XV – inclusive conquistando a cidade de
Constantinopla – e permaneceu como uma das forças navais do
Mediterrâneo durante o século XVI (Hourani, 1994, p. 221-225). A própria
presença dos turcos otomanos modificou o significado das cruzadas, as
quais passaram de investidas de ataques para recuperar a Terra Santa ou
libertar a Península Ibérica para defesas contra os ataques e os perigos
representados pelos otomanos (Cardini, 2002, p. 473-487).
190
Todo chagado e ferido,
Pois eu tinha combatido
Para Ele defender –
Sem teu bálsamo beber,
Fui de Deus favorecido!”
(A batalha de Oliveiros com Ferrabrás, 1913, p. 14).
Mesmo que este ideal tenha surgido primeiro nas terras ibéricas, foi
somente no Concílio de Clermont, em 1095, que os privilégios outorgados
pela Igreja definiram as cruzadas nos padrões papais. A pregação de
Urbano II (1088-1099) neste mesmo Concílio deu origem à Primeira
Cruzada (1096-1099). Há uma discussão historiográfica sobre o primeiro
personagem que manifestou o interesse em promover o socorro aos
cristãos no Oriente. Por exemplo, o autor Jean Flori indica que foi Gregório
VII (1073-1085) que manifestou esta intenção pela primeira vez, quando
este papa decidiu organizar um exército para socorrer os cristãos orientais
e o Império Bizantino, no momento em que os turcos seldjúcidas tomaram
o controle das províncias gregas da Síria do Norte e da Anatólia, levando
os muçulmanos a se aproximarem das margens do Bósforo. Assim, entre
191
1074 e 1075, o papa escreveu a diversos príncipes solicitando-lhes o envio
de guerreiros e assegurando-lhes, caso morressem no caminho, privilégios
no Paraíso (Flori, 2002, p. 7-24).
Conclusão
O que podemos concluir neste breve estudo sobre os pontos destacados
acima é que o cordel ‘A batalha de Oliveiros com Ferrabrás’ não obedece,
de uma forma estrita, ao passado medieval carolíngio, como poderíamos
pensar inicialmente considerando os seus principais personagens, mas sim
a uma diversidade de extratos do passado medieval, precisamente
localizados entre os séculos XI e XII, aproximadamente. Como observamos
nas afirmações de Riquer, a própria fonte que deu origem inicialmente à
textualização da batalha de Roncesvales, a Chanson de Roland, apresenta
características bem mais próximas ao contexto da primeira metade do
século XII, momento no qual foi composta, que ao contexto carolíngio. A
textualização das fontes medievais, fosse a produção original de um
documento, fosse a realização de uma cópia, obedecia aos parâmetros
contextuais do momento de composição da obra, ou seja, em muitos
momentos as características do contexto de composição eram
transferidas para o texto que estava sendo produzido.
192
Dessa forma, iniciando a análise com este procedimento facilitaria para o
público discente a compreensão de que os documentos não representam
estritamente o passado de um determinado contexto ou período e que,
portanto, precisam passar por um processo de análise crítica. Isso
facilitaria, inclusive, a própria compreensão de composição dos
documentos medievais, os quais apresentavam extratos de diversos
passados.
Referências
Luciano José Vianna é Professor adjunto da Universidade de Pernambuco
(UPE)/Campus Petrolina. Doutor em Cultures en contacte a la
Mediterrània pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). Membro do
Institut d’Estudis Medievals (UAB-IEM). Coordenador do Spatio Serti –
Grupo de Estudos em Medievalística (UPE/Campus Petrolina).
Fontes
BARROS, L. G. de. A batalha de Oliveiros com Ferrabrás. [s.l]: Editora
Luzeiro Limitada in
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=Cordel&PagFis=91
258&Pesq=., 1913.
193
DEMURGER, A. Os cavaleiros de Cristo. Templários, Teutônicos,
Hospitalários e outras ordens militares na Idade Média. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2002.
HOURANI, A. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
194
ROSSELL, A. Sul mestiere di giullare. Roda da Fortuna. Revista Eletrônica
sobre Antiguidade e Medievo,v. 4, n. 2, 2015.
195
DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA: CONTRIBUIÇÕES
DE UMA PESQUISA EM COLABORAÇÃO
Maria Auxiliadora Schmidt
Introdução
Em seu livro – A teoria da história de Jörn Rüsen, uma introdução – o
historiador brasileiro Arthur Assis considera que um dos aspectos centrais
da teoria da história de Rüsen é responder à complexa questão: o que
fazem os historiadores quando fazem a história? Na esteira das reflexões
de Assis este trabalho percorre o pensamento ruseniano naquilo que diz
respeito às suas reflexões constitutivas de uma teoria da aprendizagem
histórica e, portanto, para uma metodologia de ensino ou um fazer do
historiador quando ensina a história.
196
Acredita-se que a perspectiva da aprendizagem histórica situada a partir
da própria ciência da história é uma questão relevante em face dos
resultados de investigações, indicativos do desinteresse de crianças e
jovens pelo conhecimento histórico escolar, bem como das demandas
provenientes de insucessos escolares no que diz respeito às aprendizagens
históricas significativas para a construção da consciência histórica, num
contexto de formação da contraconsciência para além do capital. Esta
perspectiva põe em questão o significado da aprendizagem histórica,
particularmente no que se refere ao seu significado e sentido para os
sujeitos. (Schmidt, 2009.p.30-31)
197
vista epistemológico, a Didática da História presta contas com o processo
do aprender a pensar historicamente, ou seja, com realizar a “formação
histórica” e isto envolve dois aspectos – vida prática e ciência -
organicamente interligados. Numa perspectiva transversal, significa
entender o saber histórico como síntese da experiência humana com a sua
interpretação para orientação na vida prática; e na horizontal, seria
considerar a formação como socialização e individuação (dinâmica da
identidade histórica) a partir de sua relação com a ciência.
198
Matriz da Didática da História (Jörn Rüsen)
Fonte: Rüsen, Jörn, 2016, p.25.
199
organizar o ensino, a partir dos significados e sentidos atribuídos à
aprendizagem referem-se ao momento em que, tanto quem ensina,
quanto quem aprende, assumem o estatuto narrativístico da ciência da
história. O retorno à vida prática indica o momento em que o
conhecimento ensinado e aprendido na e pela narrativa histórica, revela o
significado e sentido de orientação temporal para os envolvidos no
processo de ensino e aprendizado: professores e alunos. Indica-se, aqui, o
cerne da matriz ruseniana da Didática da História, o processo de
construção de sentidos, a partir do conhecimento que produz o
envolvimento dos sujeitos no seu próprio autoconhecimento, no
conhecimento do outro e do mundo.
200
Cabe enfatizar que não se pode restringir a aprendizagem histórica apenas
à sua dimensão cognitiva. É importante levar em conta o significado
extraordinário da dimensão “estética” da constituição histórica de sentido
(e não apenas na era da nova mídia ou apenas entre crianças e jovens)
que acaba por ser amiúde marginalizada, embora sua significação,
dificilmente, poderia ser superestimada. Em comparação com essa
situação, a dimensão “política” não fica de fora por uma razão evidente: o
estado e a sociedade sempre tiveram interesse em tornar a cultura
política profícua para o futuro, na sucessão das gerações, e de reforçar,
com isso, os critérios determinantes da legitimação histórica do poder, e
os processos históricos de escolarização têm contribuído para isto.
Também as duas demais dimensões – a “moral” e a “religiosa” – possuem
relevância para a Didática da História e carecem de análise de sua função
didática, pela teoria da história.
201
história que fundamenta a relação de dependência entre o ensino de
história e a ciência da história.
202
si mesmo e aos outros, no fluxo do tempo. Nesse sentido, a perspectiva da
aprendizagem somente pode se orientar na direção de que o sujeito é
construtor do seu conhecimento.
203
interpretação, ou seja, o que se aprende tem que fazer um sentido para o
aprendiz; - a dimensão da orientação, isto é, o processo da mudança
temporal precisa ser articulado “ao meu tempo, ao tempo do outro e ao
tempo do outro que me inclui. Nesse caso, a questão principal seria –
como eu me coloco nesta situação de mudança temporal?” Significa dar
uma versão prática à interpretação do tempo e possui um lado externo –
trata-se do mundo; e um lado interno, o da subjetividade humana. Outra
dimensão é a da motivação, em que o sujeito aprendiz necessita aprender
a situar e inserir os seus objetivos de vida, tanto individuais, como
coletivos, no fluxo do tempo. O que significa isso tudo para a didática da
história? – pergunta Rüsen:
204
ideia do lugar de cada um e do seu lugar no processo de mudança no
tempo. (Rüsen, 2012).
O historiador-professor de História
A necessidade de a aprendizagem histórica ser baseada em múltiplas
perspectivas e narrativas é um dos princípios que devem conduzir o
processo de ensino e aprendizagem na organização das aulas de História.
Desse ponto de vista, Jörn Rüsen (2012) não aceita que a história seja
contada pelos outros (o professor) e as competências narrativas dos
alunos sejam consideradas como objetivos pedagógicos antecipados e
tomados como estratégias de adaptação funcional dos conteúdos. Para
ele, a auto-atividade do aluno é fundamental para que ele opere sua
identidade de uma forma discursiva argumentativa, necessária à
orientação temporal.
205
dolorosas para os envolvidos, mas, abre-se a um aumento permanente
das experiências temporais que são processadas em um movimento
contínuo, entre a experiência da diversidade do outro e a afirmação do eu.
Esta abertura da consciência histórica pode ser apreendida pelo fato dos
alunos receberem diferentes interpretações da experiência histórica, de
modo que eles obtêm sua autonomia por meio de um ato de escolha.
206
perspectiva de trabalho a metodologia da pesquisa em colaboração. O
curso foi realizado entre abril e novembro de 2017, com uma carga
horária de 99 horas aula, sendo 64 teóricas e 35 práticas. Participaram 45
professores e 10 alunos. Foram realizados 8 encontros mensais de 8 horas
cada, em que, num primeiro momento, foram disponibilizados e
discutidos textos teóricos sobre as temáticas trabalhadas, Os professores
foram desafiados a desenvolver experiências em sala de aula, que
pudessem ser sistematizadas, teorizadas e apresentadas ao coletivo do
grupo, durante os encontros. Como atividade final, foi organizado o IV
Seminário de Educação Histórica da Rede Municipal de Educação de
Curitiba, no final de novembro e início de dezembro de 2017.
207
Ao se tratar de ensino/aprendizagem e avaliação dos conhecimentos da e
sobre a sociedade, torna-se importante explicitar a especificidade dos
conceitos substantivos e conceitos epistemológicos. Os primeiros,
referem-se aos conteúdos específicos acerca da realidade social. Os
segundos dizem respeito à forma como se constroem estes
conhecimentos, isto é, como se aprende, que significados e características
apresentam como fundamentos metodológicos para o seu ensino, bem
como que sentidos os sujeitos atribuem ao conhecimento aprendido.
(Charlot, 2000).
208
qualitativa” (Eisner, 1998), buscando-se responder às seguintes questões:
Que significados a produção do conhecimento pode ter na relação teoria e
pratica docente, considerando que algumas propostas de formação têm
privilegiado a transformação do ensinar em pesquisar? Como equacionar
o predomínio da imediaticidade nos processos de formação de
professores, considerando-se, por exemplo, a maneira pela qual as
chamadas “troca de experiências”, “conhecimentos relacionados à
experiência prática”, são requisitados em cursos de formação inicial e
continuada? Em que contextos se poderia propor uma formação
continuada de professores, considerando o conjunto de dificuldades e
problemas bastante conhecidos, tais como a falta de horário para
atividades relacionadas à formação continuada, as relações complexas
que existem entre os professores, os sistemas de ensino e, os projetos de
formação continuada como aqueles oferecidos pelas universidades?
Resultados
A realização do IV Seminário de Educação Histórica da Rede Municipal de
Ensino de Curitiba foi o ponto culminante do curso, seguindo uma tradição
que completou 4 anos em 2017, os professores foram estimulados a
apresentarem seus trabalhos durante o evento. Dos 45 professores
inscritos, 25 conseguiram apresentar suas experiências durante os
encontros do curso, mas, somente 12 chegaram ao final do processo, com
a apresentação no Seminário. Como vem sendo discutido no âmbito das
propostas de formação inicial e continuada de professores, vários fatores
contribuem para dificultar as mudanças nas relações dos professores com
o conhecimento e também com a sua produção. De um lado, os baixos
209
salários e uma carga horária excessiva em sala de aula - a maioria dos
professores ministra cerca de 30 horas semanais e muitos precisam
aumentar a carga horária para complementar seus salários; dificuldades
na organização dos horários nas escolas para que eles possam cumprir o
preceito legal de usufruir das 4 horas semanais chamadas hora-atividade.
Este tempo deveria ser destinado a atividades de aperfeiçoamento
profissional. Em muitas escolas, a falta de professores vem trazendo
prejuízos ao cumprimento da própria lei.
210
geracional: uma perspectiva de pesquisa
e avaliação em educação histórica
211
FONTE: Vieira, J. L. L. Campos de concentração no Ceará como tema
controverso da História. SMED, IV Seminário de Educação Histórica, 2017.
212
específico, a relação com história da experiência cearense está
absolutamente ausente dos manuais didáticos, mas, presente na memória
de muitos brasileiros. A inclusão da categoria memória na matriz da
Didática da Educação Histórica torna-se imperativa, quando se trata de
trabalhar temas controversos da História, e "a narração da história está
bloqueada pela pressão psicológica do indivíduo ou pelos tabus sociais da
comunidade". (Asmann, 2011, p.349).
Considerações finais
A mudança de paradigma sobre a aprendizagem e, portanto, sobre o
ensino de história, trouxe importantes consequências para o
desenvolvimento de propostas no ensino de História, ao indicar a
consciência histórica como lugar da aprendizagem, colocando novas
questões do ponto de vista conceitual e de elaboração teórica. Partindo
do pressuposto básico de que a consciência histórica é o lugar da
aprendizagem, as investigações têm tido a preocupação com questões
como as que envolvem a definição, a conceituação, a elaboração,
investigar as funções, abordar as condições, forças motrizes e
consequências das ideias históricas presentes na cultura escolar, seja nas
ideias de professores e alunos, seja em outros lugares da cultura escolar,
como os manuais didáticos e currículos.
213
história de Jörn Rüsen não pode ser acolhido como a solução ou o modelo
definitivo para a Didática Específica da História. A partir do trabalho
desenvolvido de forma colaborativa com professores de História, propõe-
se que seja mais uma contribuição ao instigante debate que se instaurou
desde a separação entre a história escolar e a história acadêmica. Neste
sentido e em acordo com Rüsen (2007), importa que a aprendizagem
histórica desenvolva a capacidade de se adquirir a constituição narrativa
de sentido, como uma aprendizagem de resignificar, continuamente, as
experiências temporais da vida prática, desenvolvendo, de forma
complexa e científica, a cognição propriamente histórica. Concorda-se,
também, com este autor, que trata-se de um processo da consciência
histórica e como ele é apreendido e efetivado, não é uma questão da
didática da teoria da História, mas da Didática da História – uma disciplina
da ciência da História, mas relativamente independente da teoria da
História. Neste e para este processo, se direcionam as reflexões e
investigações acerca da aprendizagem histórica que poderão orientar a
metodologia de ensino para os historiadores quando ensinam a História.
Referências
Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora PQ 1CNPq. Este trabalho
faz parte de projeto financiado pelo Cnpq. Mail: dolinha08@uol.com.br
214
Assis, A. (2004). A teoria da história de Jörn Rüsen. Uma introdução.
Goiânia: Editoria da Universidade Federal de Goiás.
215
Rüsen, J. (2014). Cultura faz sentido. Orientações entre o ontem e o
amanhã. Petrópolis RJ): Vozes.
Von Borries, B. (2011). Coping with burdening history. In. H. Bjerg & C.Lenz
& E. Thorstensen (Eds.). Historicizing the uses of the past. Scandinavian
Perspectives on History Culture. Historical Consciousness and Didactics of
History Related to World War II. Bielefeld: Transcript - Verlag für
Kommunikation, Kultur und soziale Praxis,pp 234-253.
216
A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS EM PLUTARCO
Maria Aparecida de Oliveira Silva
217
– É, portanto, evidente que é sábia, corajosa, temperante e justa.”
[A República, 427d-e2]
Destacamos que Platão usa a palavra sábia que nos remete à sabedoria,
um conceito deixado de lado por Frazier, que, como vimos, reduz o
número de virtudes essenciais na obra plutarquiana a quatro. No entanto,
percebemos que são cinco, visto que, em seu tratado “Das virtudes
morais”, 443E, Plutarco afirma que a sabedoria é uma virtude imprescindí-
vel ao caráter de um indivíduo. Em um primeiro momento, poderíamos
supor que a noção de sabedoria tenha a mesma correspondência à de
inteligência em Plutarco. No entanto, não podemos inferir que inteligência
assuma o mesmo grau de significância de sabedoria, pois não há
correlação entre elas, uma vez que Plutarco continua seu raciocínio com a
seguinte afirmação:
“Platão afirma que uma cidade é feliz e rica enquanto nela o mínimo se
ouve dizer: “isso é meu, isso não é meu”, por isso os cidadãos, sobretudo,
utilizam as coisas dignas de atenção como se fossem para um só. E é
muito mais preciso que tal expressão seja retirada do casamento. [...] Pois
também a natureza nos une pelos corpos para que, após tomar e misturar
uma parte de cada um deles, retribua um filho para ambos, de modo que
nenhum dos dois distingue nem separa o que é seu ou do outro. Então,
essa comunhão de bens convém mais aos que são casados. [Preceitos
conjugais, 140D-F]
218
liga nosso autor à filosofia de Platão, como podemos ver no trecho a
seguir:
Dos tratados que chegaram até nós, “Da educação das crianças” é o único
que trata da educação do período greco-romano desde a infância até a
adolescência. Como demonstra Ampolo, em Plutarco, há um discurso
voltado para a educação das crianças nas suas várias etapas, que é
perceptível nas biografias [in Ampolo, 2002, p.281]. Portanto, o único
escrito de que dispomos sobre preceitos pedagógicos de como educar as
crianças.
219
realizada por Guarino Veronesi, que foi publicada somente em 1471[in
Sirinelli, 1951, p.3]. Na Alemanha, há a tradução de Erasmo de Roterdã,
datada de 1580. Também é um tratado de Plutarco considerado apócrifo
pelos estudiosos. Muitos concordam que esse tratado resulta de escritos
recolhidos por um aluno, pois Plutarco proferiu palestras e ministrou
lições de filosofia em Roma.
Apesar de não ter sido escrito pelo autor, como concluiu Ziegler, Da
educação das crianças foi um tratado bastante lido à época bizantina,
dado que se verifica pelos quarenta e nove manuscritos transmitidos por
copistas da época. Contudo, foi somente no século XVI que o exegeta
Mureto colocou em questão a autenticidade da obra e somente no século
XIX foi aceita a teoria de Wyttembarch sobre o texto ser proveniente de
anotações de um de seus alunos. [in Ziegler, cols.6457658]
A nosso ver, um traço marcante de que esse tratado resulta das reflexões
plutarquianas está no fato de Plutarco afirmar que Platão possui uma
reputação memorável (Da educação das crianças 2C) e ainda se referir ao
filósofo como alguém enviado pelos deuses (2E). Com tais afirmações, o
autor confere autoridade inconteste às ideias de Platão e justifica sua
filiação filosófica à escola platônica, tal como na maioria dos seus
tratados. Convém lembrar ainda que, no quinto livro de “A República”,
220
Platão demonstra sua preocupação com a procriação e a educação das
crianças, vistas como futuras cidadãs, e que Plutarco igualmente se
debruça sobre esse tema e prescreve ensinamentos voltados para a
concepção e a educação de uma criança.
“Talvez seja melhor começar primeiro pela geração. Então, aos pais que
desejam gerar filhos honrados, eu próprio aconselharia a não coabitarem
com mulheres casuais, digo, por exemplo, com cortesãs ou concubinas;
pois, aos nascidos desse tipo de mãe ou pai, há indeléveis censuras por
sua origem vulgar que os acompanham por toda sua vida, também são
vulneráveis aos que querem acusá-los e insultá-los”. [Da educação das
crianças, 1A-B]
“Pode ser que o que eu tenha a lhes dizer nem tenha sido notado por
nossos antecessores. O que é, então? Que convém aos que têm relações
sexuais com mulheres pela geração, fazer a cópula, ou quando estiverem
completamente sem vinho, ou bebido com moderação. Amantes de
vinhos e ébrios amam sê-los porque no início de sua geração seus pais os
conceberam na embriaguez.” [Da educação das crianças, 1F-2A]
221
“Chamo razão o aprendizado e o costume o exercício. São os princípios da
natureza: a evolução pela instrução, o proveito pelo cuidado e a
excelência por esses todos. [...] A natureza sem estudo é cega, a lição sem
a natureza é insuficiente e o exercício sem ambos é incompleto.” [Da
educação das crianças, 2A-B]
“As próprias mães devem alimentar seus filhos e que os amamentem; elas
os alimentarão do modo mais compassivo e atencioso, como se do íntimo,
como se diz, desde as unhas, amassem seus filhos. As amas de leite e as
amas têm falsa e fingida benevolência, porque gostam do salário.” [Da
educação das crianças, 3C]
222
formação dos filhos após os sete anos de idade, sempre com o intuito de
conduzi-los para o caminho da virtude. Para o autor, o primeiro dever dos
pais é selecionar um bom mestre para que seus filhos aprendam
corretamente a arte retórica, a filosofia e a prática de exercícios físicos,
entre outros, pois é preciso cuidar de seu físico, raciocínio, práticas e
costumes; por tudo isso, o cuidado na seleção de seus educadores.
Convém lembrar que nosso autor está preocupado com a formação das
crianças por serem elas os futuros cidadãos que governarão a cidade, no
caso de sua época, o Império ou as províncias. Plutarco demonstra, assim,
a natureza prescritiva de seu tratado, dado que ele mesmo reconhece,
visto que trata a boa educação como um aprendizado para a virtude e, por
conseguinte, para a felicidade:
223
condutoras e confluentes para a virtude e a felicidade.” [Da educação das
crianças, 5C]
Convém lembrar, como vimos no início, que Plutarco trata Platão como
alguém enviado pelos deuses, e que o filósofo serve de inspiração para
seus preceitos pedagógicos, por essa razão suas palavras também têm um
conteúdo divino, um quê de profético. melhor, pois serão cidadãos
virtuosos. Outro dado interessante é que o autor prescreve uma educação
continuada, que se inicia na infância e se estende até a adolescência; mas
o aprendizado da filosofia deve ser iniciado na adolescência e se estender
até a fase adulta.
Referências
Maria Aparecida de Oliveira Silva é Pesquisadora e Professora Orientadora
do Grupo Heródoto/Unifesp. Professora Orientadora Ad-hoc do
PPGH/UnB. Líder do Grupo CNPq LABHAN/UFPI. Pesquisadora do Grupo
CNPq Linceu/Unesp-Araraquara. Pesquisadora do Grupo Retórica, Texto y
Comunicación da Universidad de Cádiz.
https://independent.academia.edu/MariaAparecidadeOliveiraSilva
Edições e traduções
PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
224
PLUTARCH. Advice to bride and groom. Moralia. vol. II. Translated by
Frank Cole Babbitt. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard University
Press, 2003.
________. How the young man should study poetry. Moralia. vol. I.
Translated by Frank Cole Babbitt. Cambridge/Massachusetts/London:
Harvard University Press, 2005.
Livros e artigos
AMPOLO, Carmine. La paideia degli eroi fondatori – l’educazione e la
giovinezza nelle vite di Teseo e di Romolo. In: José Ribeiro Ferreira (coord.)
Atas do Congresso Plutarco Educador da Europa, 11 e 12 de novembro de
1999. Coimbra: Fundação Eng. António de Almeida, 2002, pp. 281-292.
225
FROIDEFOND, C. Plutarque et platonisme. ANRW, Band. 36.1, pp. 185-233,
1987.
RAWSON, Elisabeth. Intellectual life in the late Roman Republic. London:
Duckworth, 1985.
226
ENTRE GOLPES: DITADURA, ENSINO DE HISTÓRIA E
TEMPO PRESENTE
Nashla Dahás
227
“É o momento histórico singular do Brasil: o que ele não conseguiu fazer
sobre a escravidão, o que ele não conseguiu fazer sobre o genocídio
indígena, sobre Canudos, sobre Contestado, sobre todas as rebeliões e a
repressão, o Brasil, hoje, está fazendo sobre a ditadura. É a primeira vez.
Então, o significado desse debate ultrapassa muito o problema restrito de
responsabilizar individualmente os torturadores e reparar
adequadamente as vitimas, como responsabilidade do Estado. É a
primeira vez que o país atinge a maturidade de fazer um exame sobre si
mesmo, e a comparação que eu não deixo de fazer nunca é a comparação
de que a Alemanha estuda Hitler no banco escolar, e ninguém deixa de ser
alemão ou de ter orgulho por conta disso”. (VANNUCHI, 2015)
228
esse quadro para compreender a dimensão da necessidade de se discutir
o golpe e a ditadura como parte da formação cidadã no Brasil.
229
centro dos debates acadêmicos, bem como do vocabulário e da agenda
política.
230
inevitabilidade do golpe a partir da consideração de condições
supostamente suficientes, como os fatores econômicos, políticos ou
institucionais. Igualmente, nega a centralidade do papel do empresariado,
ou da burguesia na conspiração analisada por Dreiffuss e busca mostrar
como a simples existência de uma conspiração não bastaria para a eclosão
do golpe. Cientista política, Argelina Figueiredo enfatiza a sucessão de
opções políticas dos grupos de poder, sobretudo, aquelas tomadas pelo
próprio presidente João Goulart, que apontariam em direção à
radicalização, minando definitivamente a possibilidade de acordos
políticos. Ou seja, para a autora, democracia e reformas políticas
tornaram-se incompatíveis em razão da inabilidade ou intransigência dos
grupos à esquerda no poder.
231
A crítica mais recente ao trabalho de Daniel Aarão surgiu em 2004 por
ocasião do aniversário de 40 anos do golpe, quando o termo
“revisionismo” foi cunhado por Caio Navarro de Toledo em artigo
intitulado “1964: golpismo e democracia. As falácias do revisionismo”, e
logo incorporado por autores considerados mais jovens na pesquisa
histórica do tema como Demian Bezerra de Melo. Nessa ocasião
questionou-se a ideia da “responsabilidade compartilhada”, no sentido de
que ela acabava por negar a complexidade inerente ao processo político
da década de 1960 e atribuía a “toda sociedade brasileira” o seu quinhão
de culpa na promoção e legitimidade da ditadura militar. Da mesma
forma, a formação da coalizão favorável ao golpe, sua composição,
atuação e argumentação, a responsabilidade ou vitimização das esquerdas
no processo histórico e na construção de sua memória, e os marcos
cronológicos do regime de exceção são temas que, embora bastante
debatidos, não estão esgotados e provocam, ainda hoje e cada vez mais,
profundas controvérsias.
232
macroestruturais como dados necessários à explicação do golpe. Eis
alguns exemplos desses elementos: as demandas do capital internacional
e as decorrências sócio-políticas de tais demandas, a luta política
organizada de empresários e os padrões de funcionamento das
instituições, os impasses do sistema político e os comportamentos e as
leituras de agentes históricos singulares como, por exemplo, a percepção
de caos e de quebra da disciplina e da hierarquia pelos militares.
Referências
Nashla Dahás, Pós-doutoranda e professora colaboradora do PPGH-
UDESC.
233
DINES, Alberto. Os idos de março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José
Alvaro Ed., 1964.
234
REIS FILHO, D. A. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 1 ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 2000, v. 1.
RÉMOND, René (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ,
1996.
235
AS POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO DOS LIVROS DE
HARRY POTTER NO ENSINO DE HISTÓRIA
Victor Henrique S. Menezes
Renato Pinto
236
legítimo que a leiamos por meio de uma perspectiva dessa disciplina. Em
suas linhas e entrelinhas há uma miríade de metáforas, alegorias,
menções e/ou comentários relacionados aos mais diversos temas que
rementem à história recente, sobretudo, mas não somente, àquela do
continente europeu e às questões polêmicas e aos anseios próprios das
sociedades ocidentais do final do século XX e início do XXI. Para além da
história do menino que sobreviveu, epíteto atribuído ao personagem
principal, a obra de Rowling é composta, pois, por um enredo riquíssimo
em referências históricas, filosóficas e culturais que marcaram, e ainda
marcam, a sociedade ocidental contemporânea (como o racismo, a
escravidão, o totalitarismo, entre outros). Todavia, Harry Potter não é
singular, é importante dizer, por ter em seu enredo questões próprias de
seu tempo de criação. Todas as produções culturais são marcadas pela
cultura e pela sociedade dentro da qual foram engendradas. O que pode
fazer de Harry Potter singular, no entanto, é a maneira como a sua
narrativa trata de questões históricas enquanto veículo literário de
elevado alcance de público, e o enorme potencial referencial que a obra
possui para ser trabalhado no ensino de História Contemporânea, entre
outras.
237
facilitar a compreensão dos alunos que estejam estudando momentos
cruciais da história contemporânea. Nessa linha de pensamento,
indicaremos a seguir seis temas da História Contemporânea contidos no
enredo de Harry Potter que podem ser analisados em sala de aula ou
utilizados pelo professor de História como pontos de partida para as
discussões dos referidos assuntos. Longe de ter por intuito ser uma
cartilha, esse ensaio busca apresentar possibilidades de diálogo entre
Ensino de História e a chamada literatura Young Adult que tem sido
consumida incansavelmente por adolescentes e, da mesma forma, por
outras faixas etárias de leitores e leitoras brasileiros.
238
Burke e Maria Palhares-Burke apresentam uma citação do literato George
Orwell, autor do romance 1984. Orwell, em um dos seus tratados, elenca
aquilo que, para ele, comporia a civilização inglesa em sete características.
E essas sete características são: (1) café da manhã substancioso, (2)
domingos sombrios, (3) cidades esfumaçadas de ruas sinuosas, (4) grandes
campos verdes, (5) esguias caixas de correio vermelhas, (6) uma deliciosa
xícara de chá e (7) o pub, que o autor descreve como uma “das
instituições básicas da vida inglesa”.
239
menos da Idade Média, até nossos dias. A questão da perseguição às
bruxas é inescapável e explícita em Harry Potter. Abre-se aqui, portanto,
uma oportunidade de discutir como certos grupos de pessoas podem
sofrer a violência da censura e da repressão física a partir de discursos de
vilificação e vilipêndio.
240
dos Weasleys é a representação da pobreza no mundo britânico. É
interessante pensarmos que tanto a família Weasley quanto a família
Malfoy são “puro sangue” no mundo bruxo, e em tal condição teriam as
mesmas possibilidades. Mas não é assim que as coisas se dão. A família
dos Malfoy é aristocrática, rica, seus integrantes desempenham papéis
muito mais relevantes no Ministério da Magia, eles “compram” o
Ministério da Magia de certa forma, e aí, há outro tema a ser discutido
que é a questão da corrupção nos órgãos governamentais dos bruxos. O
Senhor Weasley, Arthur, possui um emprego no Ministério da Magia,
porém um emprego menor, precário, que mal sustenta a família. A
sociedade britânica é uma das sociedades ocidentais mais hierarquizadas,
onde há uma dificuldade muito grande para um membro da chamada
working class, a classe trabalhadora, migrar à burguesia, ou da burguesia à
nobreza. Essas diferenças de classes ainda hoje são muito prementes na
sociedade britânica e isso permeia nitidamente a sociedade bruxa de
Rowling.
241
escravidão está encastoada na percepção de espécies superiores e
inferiores. São os elfos, seres mágicos fadados à servidão domiciliar que
sofrerão esse indigno destino. Tomamos conhecimento de que os elfos
domésticos foram escravizados já no segundo livro da série, A Câmara
Secreta, mas é no Cálice de Fogo, com a criação da ONG da personagem
Hermione, e com o fundo angariado com fito de libertar os elfos, que
Rowling deixa explícito “eles vivem em escravidão”. Aqui temos um um
tema muito caro à nossa sociedade ainda hoje. Nem é preciso dizer o
impacto que a escravidão causou em nossa sociedade e continua a causar.
É pertinente observarmos que Rowling cria a escravidão em Harry Potter
de forma naturalizada, onde todos, com exceção de Hermione, exógena
àquela sociedade, acham normal que os elfos sejam escravizados. Mesmo
figuras não vilificadas na trama, personagens do “lado bom”, como
maternal Molly Weasley tem como uma das suas maiores ambições
adquirir um elfo para que ele faça o seu serviço doméstico.
Faz-se mister notar que, em Harry Potter, portanto, no que diz respeito ao
apoio ou não à escravidão dos elfos, o mundo bruxo não se divide entre
“pessoas boas” e os famigerados “comensais da morte”, não é preciso ser
um comensal da morte para ser a favor da escravidão, pois praticamente
todos os personagens, com a honrosa exceção da Hermione, são a favor
da escravidão élfica. O próprio Rony, que é uma pessoa que sofre
preconceito, por ser pobre, por ser amigo dos que nasceram trouxas,
considera mais do que normal que se escravize outra espécie inteligente
no mundo bruxo. Então, aqui, nos deparamos, mais uma vez, com um
tema prolífero à sala de aula, para tratarmos e procurarmos compreender
o que poderia levar sociedades em diversos contextos históricos a criar
uma instituição como a escravidão e também a vê-la como natural por
meio de diversos discursos legitimadores. Rowling criou a escravidão no
mundo bruxo como uma maneira de criticar a naturalização dessas
práticas abomináveis de desigualdade social.
242
aula de herbologia, quando os alunos devem levar a cabo experimentos
com uma planta, as mandrágoras, e eles têm de tampar os ouvido para se
protegerem dos temidos gritos emitidos por aqueles mesmos vegetais
quando erroneamente manipulados. Rowling dispara no livro, em tom de
chiste, que “todos os meninos fugiram de usar os abafadores cor de rosa”.
Ora, a cor rosa é hoje um potente marcador de gênero no mundo
ocidental, ligado ao gênero feminino, não ao masculino, sugerindo
efeminição quando usado por uma pessoa do gênero masculino. Talvez
inadvertidamente, Rowling acaba por reproduzir ou reforçar um
estereótipo de gênero, já que o naturaliza. É interessante observarmos
que, ao mesmo tempo em que a autora propõe personagens femininos
que são “empoderadas”, que são protagonistas de suas vidas, de suas
histórias, Rowling, ao não denunciar de alguma maneira eficaz a
construção cultural e histórica que existe por trás do uso de cores para
designar e/ou diferenciar o masculino e o feminino, acaba por normatizar
algumas percepções conservadoras de gênero da nossa sociedade. E
ainda, no livro O Cálice de Fogo, muitas meninas esperam até que os
meninos as convidem para o baile, ou, também, mais explicitamente,
quando, ao final da série, é a matriz heteronormativa que dita todos os
relacionamentos amorosos dos personagens. Quando o “final feliz” é o
casamento heteronormativo, normatizado. Para além de se perguntar em
que medida Rowling decidiu por esse final a partir de suas próprias
concepções de “final feliz” ou pela pressão social de seus editores, sua
história, no que pese o alcance de sua obra par ao público jovem, é
inegável concedermos que o final da série desperdiça uma grande
oportunidade de apresentar formatos mais polissêmicos de relações
afetivas e de famílias.
Considerações finais
Assim, explorar criticamente Harry Potter, procurar entender as suas
metáforas, cotejar as suas analogias, as suas referências, os seus temas,
perscrutar não só a presença dos temas, mas porque eles aparecem e
como aparecem é também fazer a exegese fundamental do que é a
tessitura de nossa sociedade hoje, do final do século XX e, agora, ao inicio
do XXI. Nossa História Contemporânea! O que é ser, o que é viver na nossa
sociedade, podemos analisar muitos dos nossos problemas, das nossas
questões, dos nossos traumas a partir dessa narrativa chamada Harry
Potter, ou do mundo mágico de J. K. Rowling. Os temas são ricos,
profícuos, necessários, mas exigem adaptações que só podem ser feitas
243
pelo educador ou pela educadora bem preparado/a para a condução do
ensino de História. Não há temas proibidos. O que há, de fato, são temas
que devem ser bem organizados e apresentados com as ferramentas e
com o rigor didáticos para os quais o professor e a professora de história
do ensino básico e fundamental deve estar preparado/a. Por fim, para
reflexão final, sugerimos a observação de uma declaração feita por J. K.
Rowling, em 2007, no Carnegie Hall, no momento em que fez a declaração
sobre a homossexualidade de Dumbledore, o diretor de Hogwarts, quando
explica como que vê seus livros e como ela quer que os outros, de certa
forma, também os vejam:
244
destacado durante o curso ministrado pelo autor Victor Menezes no
segundo semestre de 2017, no referido programa.
Referências
Victor Henrique S. Menezes é Mestre em História Cultural pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Doutorando em
Gerontologia pela mesma instituição. Idealizador e instrutor da oficina
“Harry Potter: História, Cultura e relações de gênero no Mundo Mágico de
J. K. Rowling” ministrada em 2017 no Programa UniversIDADE, da
Unicamp. Contato: henrique.menezes92@gmail.com
245
ORGANIZAÇÃO
246