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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DO ENSINO DE

HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL:


ALGUNS APONTAMENTOS
Wilverson Rodrigo Silva de Melo e Valdenira Silva de Melo

Elucubrações sobre a História enquanto Ciência e Disciplina Escolar 487

Durante o século XIX a História procurou afirmar-se como uma ciência


nova, com parâmetros metodológicos claros e bem estabelecidos. Nessa
tentativa de consolidar-se como padrão da ciência até então vigente, a
historiografia utilizou-se de uma metodologia semelhante à efetuada pelas
ciências naturais. Criou-se então um questionamento acerca da objetividade
em termos históricos. Os historiadores da dita “Escola Metódica ou
Positivista” afirmavam-se capazes de tecer considerações sobre
determinado tema de forma objetiva, ou seja, dentro dessa perspectiva o
objeto falava por si mesmo, cabendo ao historiador apenas o relato de fatos
e eventos ocorridos.

Dessa maneira, ainda no século XIX, a História se estrutura enquanto


disciplina escolar, do resgate do passado, de fatos narráveis, explicitando
um viés político. “O passado desvinculado do presente era a área do
historiador”. [Reis, 2004, p. 18].

A História, enquanto disciplina escolar em tempos pretéritos, tornou-se


elemento primaz da produção e reprodução da narrativa do passado que
era expressa na preservação da memória política e cultural. O professor de
História se tornava um educador cívico, cujo principal objetivo pedagógico
era levar o aluno a enxergar o passado como lócus da evolução linear
humana, sobretudo na ideia de renomear os grandes feitos do passado,
daquilo que é constitutivo do Estado enquanto Nação.

Todavia, a História enquanto disciplina se norteou também pelos


paradigmas científicos validadores da produção de conhecimento. Dessa
forma, a própria concepção de História enquanto área do conhecimento e
disciplina escolar sofreu transformações potentes no seu âmago constitutivo
e, de forma paulatina, à História eminentemente política, calcada na
importância do evento, dos grandes feitos nacionais, perdeu espaço para
uma História que busca compreender as ações do homem no cotidiano e as
produções culturais pertinentes ao fazer humano. As experiências sociais
cotidianas tornaram-se objetos de estudo da História.

Hodiernamente, os usos e domínios da Ciência História se fundamentam na


ampliação das noções de documentos e nos métodos e ofícios do
historiador. Ginzburg [2007, p.13] destaca:

“[...] Todos os fatos históricos são permeados de sentidos verdadeiros,


falsos e fictícios, mas que, no entanto, dão significância ao descortinar
historiográfico por não buscar uma verdade absoluta, pelo contrário,
delimita-se a entender as mentalidades que levaram os personagens de
uma época a realizar ações muitas vezes incompreendidas no presente – a
micro história”.

Em outras palavras, “o problema mais importante relacionado a uma fonte


não é saber se ela é verdadeira ou falsa, mas descobrir o que ela significa”
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[Arrais, 2010, p. 44]. Nesse sentido, que Ricoeur afirma que:

“Rastros, documentos, perguntas formam assim o tripé de base do


conhecimento histórico. Para o historiador, o documento não está
simplesmente dado, como a ideia de rastro deixado poderia sugerir. Ele é
procurado e encontrado. Bem mais que isso, ele é circunscrito, e nesse
sentido constituído, instituído documento, pelo questionamento. Torna-se
assim documento tudo o que pode ser interrogado por um historiador com a
ideia de nele encontrar uma informação sobre o passado” [Ricouer, 2007,
p.188-189].

Seguindo esta premissa, podemos afirmar que a Ciência História, bem como
sua produção historiográfica, não labuta pela busca do ineditismo, ou uma
“verdade absoluta” que se encontra escondida ou adormecida em
documentações de acervos públicos ou tampouco nas memórias
“fiduciárias” narradas por testemunhas. A questão não é mais estudar a
origem ou a causa, a finalidade ou a consequência, nem tampouco debater
a validade das fontes, mas sim as relações, o “que se passa entre”
[Deleuze, 1992, p. 191].

Se assenta aí as relíquias da operação historiográfica no que tange ao


processo de ressignificação, representação, reelaboração dos fatos
históricos, assim como a alusão a desconstrução de dogmas e invenções
historiográficas – porque não dizer também, das tradições.

Neste prisma da Ciência História e da Disciplina Escolar História, aponta-se


que as disciplinas escolares são construções históricas que se inter-
relacionam com o contexto sociocultural dos indivíduos e a organização da
produção acadêmico-científica. Enfatiza-se que as disciplinas escolares em
seus diversos âmagos constitutivos respondem, ou correspondem às
perspectivas e aos paradigmas da produção acadêmico-científica em
determinada temporalidade histórica.

Neste sentido que Doll Júnior [2002] procura esclarecer a relação íntima
existente entre as práticas e formas curriculares do Ensino de História e os
paradigmas referentes à produção do conhecimento científico.

Prima facie, os processos basilares do Ensino de História centram-se na


educação para o fomento do indivíduo autônomo, capaz de pensar e refletir
por si mesmo, de traçar seus próprios esquematismos, de conceber uma
análise crítica dos processos históricos que permeiam a sociedade.

Ante o exposto, assevera-se que a História enquanto Ciência e disciplina


escolar possui uma grande responsabilidade na efetivação desses objetivos,
sobretudo no desenvolvimento do espírito crítico e autônomo. A real
materialização da tríade “educar, ensinar e formar” no que concerne ao
Ensino de História diz respeito a construção do educando enquanto sujeito
histórico dentro e fora da sala de aula. Destarte, “o sujeito histórico, que se
configura na inter-relação complexa, duradoura e contraditória entre as
identidades sociais e pessoais, é o verdadeiro construtor da História”.
[Bezerra, 2010, p. 45], e apenas este sujeito histórico ético, capaz de 489
estabelecer as conexões entre presente e passado pode de fato vivenciar
uma experiência cidadã.

Que pese isto, convém afirmar que hodiernamente é na sala de aula que a
História como disciplina se materializa a partir da reflexão acerca dos
diversos discursos políticos, econômicos, sociais e culturais. Também é
neste mesmo espaço que os conceitos são historiografados, no momento
que são entendidos suas especificidades e temporalidades históricas.

Apanágios da Disciplina Escolar História: formação docente e


currículo

Em relação à disciplina História e as temáticas do Ensino de História do


Brasil, afirma-se que os principais desafios e perspectivas do Ensino de
História nas séries iniciais do Ensino Fundamental, estão tensionados na
organização curricular e no processo de formação docente, além é claro dos
conteúdos e práticas e, dos materiais de ensino, sobretudo o livro didático.

Em se tratando da apropriação de referenciais teórico-metodológicos da


História, apenas muito recentemente os cursos de história incorporaram em
seus currículos disciplinas como Teorias da História, Metodologia da
Pesquisa Histórica e Metodologia do Ensino da História, superando a
tradicional Introdução aos Estudos Históricos [Caimi, 2006, p. 27].

Entretanto, ensinar História nas séries iniciais do Ensino Fundamental tem


sido um desafio permanente para os professores. Esse desafio pode ser
analisado pelo menos por dois aspectos. O primeiro diz respeito à formação
inicial do docente que tradicionalmente atua nas séries iniciais do Ensino
Fundamental, o segundo aduz o currículo escolar.

Para ingresso na carreira de professor das séries iniciais, é exigida a


formação em Pedagogia ou Curso Normal Superior. Esta formação é
genérica e o professor é polivalente, isto é, ministra todas as disciplinas do
núcleo comum, previstas na LDB 9496/96, embora, devamos considerar
que em alguns cursos de Graduação em Pedagogia a matriz curricular
abriga pelo menos duas disciplinas sobre a metodologia do Ensino de
História: “Fundamentos Teóricos e Práticos [FTP] de História” e “História do
1º ao 5º ano” – como ocorre no Instituto de Ciências da Educação da
Universidade Federal do Oeste do Pará [ICED/Ufopa], na cidade de
Santarém-PA.

Há de se destacar que a formação inicial e continuada dos professores das


séries iniciais é um fator fundamental para o ensino e aprendizagem do
alunado. Do contrário, havendo déficit na formação pedagógica e
embaraçado por questões de natureza historiográfica, o professor pode vir a
“adotar preliminarmente uma posição na qual os alunos são encorajados a
se tornarem reprodutores de conteúdos, métodos e técnicas que o docente
determina usando os conteúdos curriculares como o piloto automático de
sua missão pedagógica” [Melo, 2013, p. 2].
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Dante o exposto, faz-se necessário trabalhar com a diversidade e mostrar
aos futuros educadores ainda na universidade, que o modelo educacional
brasileiro não é e nunca foi homogêneo, que a realidade no cenário
sociocultural é outra, e que assim como se faz alusão a cultura
ocidentocêntrica, infere-se que o caminho chave é debater as contribuições
sócio históricas asiáticas, ameríndias e africanas como temáticas
preponderantes de forma minuciosa e não apenas como "anexos ao
conteúdo programático" como é comum vermos nos planos de aula de
alguns docentes - creio que na maioria deles.

Neste ínterim, o alcance do escopo das leis exige mais que o conhecimento
historiográfico:

“ele demanda, também, o domínio sobre competências e habilidades


docentes que permitam a crítica à tradição e a desconstruções de
preconceitos relacionados ao papel dos agentes na conformação da
nacionalidade e da nação. Ele exige, então, o controle sobre o arcabouço
teórico e metodológico que permite o recurso ao saber historiográfico com
vistas à oferta de uma educação inclusiva” [Coelho, Coelho, 2013, p. 72].

É nesse contexto, que segundo Melo; Melo [2016, p.8]:

“cabe destacar a importância da ação docente, a de desmistificar e a de


desconstruir mitos tidos como verdadeiros através do fazer pedagógico,
rompendo com o silêncio e com a vicissitude de um sistema estereotipado e
preconceituoso, permitindo assim a interação e a construção de novos
saberes”.

Entende-se, com base nesta querela, que um professor reflexivo seja capaz
de investigar os problemas que se colocam no cotidiano escolar; “de
mobilizar conhecimentos, recursos e procedimentos para a sua superação;
de avaliar a adequação das suas escolhas e, finalmente, de reorientar a
ação para intervenções mais qualificadas no processo de aprendizagem dos
alunos” [Caimi, 2006, p. 28].

Todavia, seria necessário para o entendimento dessa dificuldade, pesquisar


quais fatores determina a apropriação do professor em relação aos
diferentes conteúdos, quais são os saberes fundamentais em sua formação,
seus saberes experienciais, sua memória escolar, representações que ele
traz consigo do que seria um bom professor, fatores associados ao sexo,
idade, etnia e religião.
Tardif define o saber docente como plural, formado pelo seguinte
amálgama:

“saberes pessoais dos professores [sua personalidade, sua história de vida];


saberes da formação escolar anterior [suas experiências na escolarização
básica]; saberes da formação profissional [graduação, estágios curriculares,
seminários, cursos, leituras, etc.]; saberes provenientes dos programas 491
desenvolvidos e dos livros didáticos utilizados na sala de aula; saberes da
sua própria experiência na profissão [interlocução com seus pares,
socialização profissional]” [Tardif, 2002, p. 63].

Dessa forma, a escola, o processo de formação de professores e o currículo


têm papel fundamental na formação de identidade de cada pessoa. A
escola, conforme lembra Bittencourt [2011], integra um conjunto de
objetivos determinados pela sociedade e articula-se com eles, contribuindo
para os diferentes processos econômicos e políticos. O currículo escolar,
portanto, é de intencionalidade e seus objetivos estão inseridos em cada
uma das disciplinas escolares:

“As finalidades das disciplinas escolares fazem parte de uma teia complexa
na qual a escola desempenha o papel de fornecedora de conteúdos de
instrução que” - além dos objetivos de formação intelectual, da aquisição de
“habilidades e atitudes – “obedecem a objetivos educacionais definidos mais
amplos” [Bittencourt, 2011, p. 42].

Concomitantemente, Morais [2010] ressalta a grande responsabilidade de


ser professor de História, pois, o fato do currículo, em certos momentos
estar a serviço dos interesses do Estado, com vistas a propagar as imagens
que mais interessavam ao projeto deste, como já foi apontado, o trabalho
em sala de aula e os professores ficam enjaulados nos cárceres
pedagógicos, criados pelo Estado. “As narrativas contadas e recontadas
pelos professores acabam se tornando verdades didáticas estanques e
inabaláveis, como dogmas de explicação histórica” [Morais, 2010, p. 202].

Contudo, é a partir da promulgação da LDB 9496/96 em sentido de


rupturas, que a elaboração de novas propostas curriculares, a gestão
democrática da escola, a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico,
a participação da comunidade, Conselhos Escolares, entre outros, passam a
fazer parte do cotidiano dos educadores.

Acompanhando esse movimento, o currículo de História para a Educação


Básica [séries iniciais] passa a ser pensado e desenvolvido com abordagens
inspirados em uma nova historiografia, sobretudo as tendências da História
cultural. Por sua vez, os livros didáticos, como decorrência desse novo
enfoque passam a trazer elementos da História Nova, da História das
Mentalidades, do multiculturalismo. “Surgem novos objetos, novos
personagens, privilegia-se o estudo das características de determinados
grupos sociais, as comunidades locais, a classe trabalhadora, os vencidos –
como indígenas, quilombolas, entre outros” –, em detrimento da História
Nacional, vista como arcaica e ultrapassada [Morais, 2010, p. 205].
Essas mudanças no currículo trazem desafios emergenciais para os
professores, que precisam criar [novas]práticas pedagógicas, ou seja, uma
nova didática para novos conteúdos, com novos objetivos. Circe Bittencourt
traz a seguinte contribuição:

“As mudanças no ensino de disciplina com consolidada tradição na vida


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escolar, como acontece no caso da história, constituem sempre tarefa
complexa. A tradição escolar é compartilhada pela comunidade escolar,
incluindo as famílias, e não apenas pelos professores. O desejo de
mudanças para melhor desempenhar o trabalho com os alunos tem estado
presente na história da prática docente, mas é preciso entender que
métodos e conteúdos se constroem historicamente e fazem parte de uma
produção escolar sedimentada e incorporada pela sociedade [Bittencourt,
2011, p.229].

Nessa necessidade de novas práticas, acrescida à notória complexidade do


Ensino de História nas séries iniciais da escolarização, surgem novos
desafios, como ensinar História para crianças pequenas e o que ensinar.
Quais suportes utilizar com crianças ainda não alfabetizadas?

Essa problemática norteou todo o desenvolvimento do Curso de Metodologia


de Ensino de História para os anos iniciais, já que na visão de Zamboni
[1993], o aprofundamento sobre o Ensino de História é fruto de reflexões
conjuntos realizados nos campos da teoria e da prática docente, já que o
antigo método de memorização, que consistia em saber de cor nomes, fatos
e datas, repetindo o que estava escrito no livro ou copiado nos cadernos,
presente no imaginário da memória dos professores estava ultrapassado e
não cabia na lida com crianças pequenas.

Buscando auxílio em Canário [2001], entende-se que se deve levar em


conta a prática na formação profissional de professores. Compreendendo
que as discussões devem ter um olhar aguçado para o currículo como
espaço de revalorização da experiência profissional. Enuncia três grandes
orientações “[...] que podem servir de referência para a tradução em
termos curriculares de revalorização da experiência [...]” [Canário, 2001, p.
41]. Essas três orientações nos ajudam a ampliar, organizar e estruturar o
currículo.

A primeira orientação apontada por Canário [2001] amplia o conceito de


currículo e se refere à necessidade “[...]” de construir outra inserção
espacial das atividades de formação “[...]” e que deve ser olhada por dupla
perspectiva: 1] evoluir de espaço tradicional para espaço educativo, que faz
com que se encare a escola de formação inicial como espaço que engloba
tudo o que acontece no quadro da instituição escolar; 2] a relação interativa
entre escolas e outros espaços sociais, consiste na aproximação com
contextos reais do exercício profissional. Isso deve estar presente ao longo
de todo o percurso de formação inicial.

A segunda orientação leva a refletir sobre a organização do currículo tem


a preocupação “[...] de, sistematicamente, multiplicar as ocasiões de dar a
palavra aos alunos, e à expressão das suas vivencias e expectativas”
[Canário, 2001, p. 42]. Canário chama a atenção para a atitude de escutar
na tentativa de levar em conta os saberes tácitos dos formandos,
construídos de modo intuitivo na ação cotidiana.

A terceira orientação leva a refletir sobre estruturar o currículo consiste


na “[...]. articulação interativa entre situações de produção [...]” 493
[Canário, 2001, p. 42, grifo nosso]. Essa orientação indica que, ao se olhar
para a estruturação do currículo, deve-se levar em conta a produção de
saberes e compreender que o formando seja sujeito e agente de
transformação. Quando o formando é considerado ao mesmo tempo
aprendiz e agente socializador ele contribui, como afirma Canário [2001, p.
42,44]:

“[...] Para mudar representação e comportamentos dos profissionais já


‘veteranos’. Esta capacidade de questionar criticamente as práticas de
profissionais experimentados, aprendendo com elas e contra elas, só é
possível se, dentro da escola de formação inicial, os alunos forem tratados
como produtores de saberes”.

Em suma, a qualidade do ensino, perpassa a qualidade na formação


docente, demandando uma formação densa e continuada dos profissionais
da educação:

“(...) o professor deve organizar seu trabalho pedagógico baseando-se em


fontes históricas diversas como documentos escritos, iconográficos,
registros orais, testemunhos de histórias local, fotografia, cinema,
quadrinhos, literatura e informática, esses materiais são de grande valia na
constituição do conhecimento histórico e podem ser aproveitados de
diferentes maneiras em aula” [Oliveira, 2013, p. 20].

Do ponto de vista do Ensino de História, busca-se recuperar a vivência


pessoal e coletiva de alunos e professores e vê-los como participantes da
realidade histórica, a qual deve ser analisada e retrabalhada, com o objetivo
de “convertê-la em conhecimento histórico, em autoconhecimento, uma vez
que, desta maneira, os sujeitos podem inserir-se a partir de um
pertencimento, numa ordem de vivências múltiplas e contrapostas na
unidade e diversidade do real” [Schmidt; Garcia, 2005].

Dessa forma, o professor das séries iniciais, pedagogo em excelência, deve


procurar fundamentar sua prática, não confundindo-se com historiador, mas
dentro de suas atribuições planejar e propor um ensino de história
diferenciado.

Considerações finais

Conseguinte, a força do currículo escolar é tanta que ele costuma recair aos
aplausos ou às críticas sobre o “êxito” ou “fracasso escolar”, quando se
discutem as causas internas da boa ou da má qualidade do ensino. Assim,
quando crescem os índices de reprovação e evasão escolar é bastante
frequente que os Sistemas de Ensino e as escolas procurem reorganizá-lo,
intensificando, por exemplo, o número de horas de determinada atividade,
disciplina ou área de conhecimento, ou ainda, incluindo novos componentes
curriculares ou excluindo outros.

Não obstante, a prática docente guarda o desafio de garantir o acesso ao


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saber historicamente construído e acumulado, abarcando ainda, as
diversidades e singularidades sobre os contextos [tempo e espaço] e
educandos, ou seja, levar para dentro do currículo o acervo cultural e
histórico da humanidade além dos aspectos do vivido. O ensino deve ser
diferenciado considerando fatores como perfil de aluno [exemplo, indígenas
e quilombolas] e metodologia [ensino significativo e reflexivo].

Neste bojo teórico, a efetividade da Didática da História nas séries iniciais


do Ensino Fundamental, se assenta na real necessidade de professores e
alunos buscarem a renovação dos conteúdos, a construção de
problematizações históricas, a apreensão de várias histórias sobre o prisma
de distintos sujeitos históricos, das histórias silenciadas, histórias que não
tiveram acesso à História, dos discursos, dos conceitos, das ações que
tornaram-se representações sociais das mais diversas e variadas matizes
culturais, e desta forma romper com os sofismas de uma história
totalizante, reelaborando-a de forma pluralizada e pulverizada no que tange
à dinâmica do próprio fazer humano em sua coletividade.

REFERÊNCIAS

Wilverson Rodrigo Silva de Melo é especialista em História das Revoluções e


Movimentos Sociais pela Universidade Estadual de Maringá [UEM], Mestre
em História pela Universidade Federal de Pernambuco [UFPE], Doutorando
em História Contemporânea pela Universidade de Évora [UÉVORA] e, Sócio
efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós [IHGTap]. E-mail:
w.rodrigohistoriador@bol.com.br.

Valdenira Silva de Melo é especialista em Ensino de História do Brasil pela


Universidade Estadual Vale do Acaraú [UVA], Especialista em História das
Revoluções e Movimentos Sociais pela Universidade Estadual de Maringá
[UEM] e Professora de História da Rede Pública Municipal de Santarém/PA e
da Rede Pública Estadual do Pará. E-mail: valdenirasilvademelo@gmail.com.

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