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Pacheco (**)
É uma escola muito engraçada, não tem salas de aula, não tem turmas
divididas por faixa etária, não tem testes, não tem nada. Nada da escola
tradicional que conhecemos. É uma escola feita com muito esmero em Vila das
Aves, Portugal.
Quem ouve falar dela pela primeira vez hesita em acreditar. Surpresa maior só
mesmo de quem a conheceu nos anos 70. A Escola da Ponte era uma escola
muito engraçada, não tinha bancos, não tinha mesas, não tinha nada. O
banheiro sequer porta tinha.
Resposta - "O critério de formação dos grupos é o afectivo e o afecto não tem
idade...".
Pergunta - Além disso, a Escola da Ponte trabalha com uma pedagogia que
inclui crianças portadoras de deficiências no mesmo ambiente?
Em 1984, Olivier Reboul afirmava que "ensinar não é inculcar, nem transmitir, é
fazer aprender". Tudo é composto de mudança e também a Escola toma
sempre novas qualidades. A componente instrução está sempre disponível e
presente... mas só acontece quando o aluno quer. No nosso projecto, é o
sujeito que se constrói na atribuição de significado ao conhecimento
colectivamente produzido. Os professores acrescentaram às tradicionais
dificuldades de aprendizagem dos alunos o reconhecimento das suas próprias
dificuldades de ensino. E procuram concretizar um ensino diferenciado onde
um mesmo currículo para todos os alunos é desenvolvido de modo diferente
por cada um. Não há um professor para cada turma, nem uma distribuição de
alunos por anos de escolaridade. Essa subdivisão foi substituída, com
vantagens, pelo trabalho em grupo heterogéneo de alunos. Dentro de cada
grupo, a gestão dos tempos e espaços permite momentos de trabalho em
pequeno grupo, de participação no colectivo, de "ensino mútuo", momentos de
trabalho individual... que passam sempre por actividades de pesquisa.
Pergunta - Algo que parece ser muito incentivado é a formação de uma cadeia
de solidariedade entre os alunos. Há dois espaços - "Tenho necessidade de
ajuda em" e "Posso ajudar em" - em que as crianças escrevem pequenos
anúncios à procura de ajuda para dificuldades em suas pesquisas. Como esse
espaço funciona?
Os miúdos sabem que "a Assembleia é uma coisa importante", que "os alunos
e os professores reúnem-se e discutem juntos os problemas da escola", que
"aprendemos a respeitar regras e a respeitar-nos uns aos outros e a decidir o
que é melhor para todos". Quando uma professora, em plena assembleia,
perguntou à Catarina (sete anos de idade) "Quando acontece cidadania?", a
pequena respondeu prontamente: "Acontece sempre". E, quando a professora
insistiu, pedindo que a aluna explicitasse a resposta, esta acrescentou: "É
quando eu levanto o braço para pedir a palavra ou pedir ajuda, quando me
levanto e arrumo a cadeira sem fazer barulho, quando ajudo os meus colegas
no grupo, quando apanho lixo do chão e o deito no caixote do lixo, quando
ouço o meu colega com atenção, quando estou na Assembleia..."
Pergunta - Além do que pretendem estudar, o que as crianças podem decidir
sobre a organização interna da escola?
"Caminhos da liberdade
A prática diz-nos, ainda hoje, que os pais têm dificuldade em conceber uma
escola diferente daquela que frequentaram quando alunos mas que, quando
esclarecidos e conscientes, aderem e colaboram.