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Fundamentos históricos, sociológicos e filosóficos da educação

Referência:
CANÁRIO, Rui. Escola: crise ou mutação? In: CANÁRIO, Rui. A escola tem
futuro? Das promessas às incertezas. Porto Alegre: Arimed, 2006. p: 11-50.
Resumo
• A crise mundial da educação tem início em 1960. Ao mesmo tempo no século XX,
houve o triunfo da escolarização, relacionando escola, razão e progresso. Como
resultado, há um desequilíbrio entre conhecimento científico e imaturidade social e
política, incapaz de conter os resultados indesejáveis do progresso.
• A educação no século XX: hegemônica (distancia-se da realidade dos educandos,
menospreza os saberes não-escolares e impõem respostas), com organização
naturalizada (tempo, espaço, agrupamento de alunos e saberes determinados,
semelhantes a organização industrial, com autoritarismo e sequenciamento) e mutável
( a escola das certezas até 1950: considerada “fábrica de cidadãos” preparando-os
para o mercado de trabalho, a escola das promessas após 1950: visando
desenvolvimento, mobilidade social e igualdade da população de massa e a escola das
incertezas após 1970: acarretando desigualdades sociais, em razão do desemprego,
desvalorização dos diplomas e precariedade dos trabalhos) .
• Publicação do relatório “Aprender a ser”, pela UNESCO, em 1972.
• A educação do futuro: superação da forma escolar (formação do sujeito de maneira
continua, diversificada e globalizada, enfatizando o aprender, as experiencias, as
perguntas e as instituições educativas não-escolares), reinvenção da organização
escolar (reorganizar os recursos, romper com a organização naturalizada construindo
um sistema de produção de saberes e prática da ação educativa globalizada em uma
escola, uma rede de escolas e um território) e construção de uma nova legitimidade
para educação escolar (estimular o gosto pelo ato intelectual de aprender, valor de uso
do conhecimento, conhecer e intervir; aprender pelo trabalho, produtor do saber; e
exercer o direito à palavra, seres críticos, pensantes e atuantes).
• A crise de identidade dos professores é designada “mal-estar docente.
• Recriação do oficio de professor como: analista simbólico (soluciona problemas
num contexto incerto e complexo), artesão (reinventor de práticas em situações únicas
e inesperadas), profissional de relação (ensina aquilo que é, empregando sua
personalidade) e construtor de sentido (constrói um sentido para a educação,
considerando a diversidade de expectativas).
• Historicamente, se transformava crianças em alunos, hoje, alunos em pessoas. Para
isso, é preciso mudar as relações com o saber e o poder, professores e alunos como
construtores do saber (acréscimo de pertinências) e a reversibilidades dos papeis
educativos (acréscimo de democracia).
• O que é aprender? 1) Trabalho que o sujeito realiza sobre si próprio, partindo de
suas experiencias, confrontando teorias sobre o mundo com a realidade, a partir de
experimentação. Sendo essencial a curiosidade e a informação. 2) Coincide com o
ciclo vital de uma pessoa, a aprendizagem ocorre em toda a vida, na construção e
atualização da pessoa. 3) Processo temporal e espacialmente amplo e difuso,
aprendemos socialmente, informalmente, sem programas, conteúdos pré-definidos,
horários, espaços exclusivos, avaliações e certificados. 4) Processo em que os papéis
podem ser reversíveis, os professores aprendem com os alunos. 5)Trabalho que
ocorre em todos os contextos, na família, empresa, museus, biblioteca, socialização
escolar.
• Rousseau afirma que aprendemos com três mestres: nós mesmos, os outros e o
contexto em que estamos inseridos.
• O que é escola? Visto como algo penoso e enfadonho, baseado na revelação,
cumulação de informação e exteriorização, promove memorização e penalização.
• Como se organiza escola? De maneira estável, homogeneíza idade e conhecimento,
com ensino simultâneo (professor-classe, ao mesmo tempo e no mesmo espaço).
• Como se trabalha na escola? Há falta de interesse dos alunos pelo trabalho escolar,
encarado com atrasos, indisciplina, fuga do imaginário e absenteísmo. Os alunos não
veem sentido na aprendizagem. A frustação e cansaço do professor torna-o
antagonista. Deve-se transformar o aluno de receptor de informação e executador de
tarefas de repetição em produtor de conhecimento. A escola tem a função de
favorecer o uso da palavra oral e escrita.
• O que é a educação do futuro? O homem é resultado da educação, não podendo
confundir educação com escolarização e nem sobrepor educação a ensino. Na
educação, a experiência é ancora para novas aprendizagens, advinda de relações
sociais, admitindo erros. São ensinadas respostas a problemas que nem sempre podem
ser reproduzidos em questões reais, sendo essas respostas obtidas de maneira não
formal, das quais não se tinha intenção do próprio aprendizado, devendo ser tomada
por referência.
• O que tem sido a educação escolar? Locar de instrução e socialização,
regulamentando condutas. A educação é obsoleta, pois se relaciona escola e ensino
em vez de escola e aprendizagem contemplando cognição, emoção e relação. A partir
de 1960, os recursos audiovisuais foram apenas uma mudança estética. Repetição de
informação leva a degradação, raramente se reproduz informações originais, cada
qual pode ter compreendido de formas diferentes a mesma informação.
• Portanto, deve-se considerar a educação um ciclo que atravessa a vida da pessoa, a
pessoa como centro da atividade educativa, valorizar o aprender em vez do ensinar,
articular a educação na experiencia, valorizar os processos educativos não-formais e
reorganizar o sistema educativo partindo da continuidade e globalização.
• A aprendizagem acontece seguindo a informação, o conhecimento e o saber, a
informação é externa e possível se capturada por nossos órgãos sensoriais, o
conhecimento é uma experiencia vivida que não pode ser transmitida como a
informação (o conhecimento pessoal acerca do amor ou da morte são exemplos) e o
saber é uma informação produzida por alguém para que outro possa se apropriar.
Parte do aprendizado é passagem de informação, cópia e treino, contudo, é preciso
relacionar, atualizar e aproxima da experiencia individual as informações,
construindo conhecimento, pois se apenas armazenarmos as informações, elas se
perdem.
Citações diretas
“Pede-se à educação, entendida em um sentido amplo como um processo de conhecer
e intervir no mundo, uma contribuição decisiva para que possamos encontrar uma
“saída” para as questões de civilização que nos atinge.” (p.12)
“[...] o ensino, por mais competente e sofisticado que seja, não garante que haja
aprendizagem. Felizmente o inverso é verdadeiro, ou seja, a maior parte das nossas
aprendizagens não é resultado de uma atividade de ensino.” (p.25)
“[a escola do futuro] Penso que a única maneira de fazê-lo consiste em nos
descentrarmos da realidade escolar que nos é familiar e tentar imaginar a escola a
partir do que sabemos sobre a educação não escolar.” (p.44)
“Em suma, o professor precisa comportar-se como um profissional zeloso, capaz de
compartilhar o rigor, a eficácia e a capacidade de ser inovador.” (48)
Referência:
A EDUCAÇÃO PROIBIDA. Direção: German Doin. YouTube. 13 ago. 2012. 2h 25
min 38s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OTerSwwxR9Y.
Acesso em: 28 nov. 2021.
Resumo
•Não se deve apenas entender a realidade, mas transforma-la. Existem tantas escolas
como realidades sociais, visando incluir ou formar trabalhadores ou levar a
excelência.
•O aluno não fracassa, o sistema é mau projetado. O adulto fornece as informações, as
crianças se calam e obedecem, pois se trata de uma matéria estática, que usa apenas
palavras, buscando somente pelo desenvolvimento curricular. Constrói-se uma
educação preventiva, para usa-la no futuro, contudo, as mudanças da sociedade não
estão sendo acompanhadas pelo sistema educacional. Nas escolas, os objetivos são
mensuráveis, quantificável e observável, buscam-se as regras, as classificações,
comparam-se frente a um padrão. Surgem, então, os conflitos, uns são ganhadores,
outros perdedores. As crianças são estimuladas a competir entre elas, sendo a
competição o princípio da guerra. Todos falam em paz, mas poucos educam para a
paz.
• As escolas nem sempre existiram. Em Atenas, as academias de Platão era um
espaço de reflexão, conversação e experimentação livre, a instrução obrigatória era
para os escravos. Em Esparta, a educação era uma instrução militar, o Estado se
desfazia daqueles que não alcançavam os resultados esperados, com aulas
obrigatórias, castigos, dor e sofrimento. Até o século XVIII, a educação era
responsabilidade da Igreja, após se tornou pública, gratuita e obrigatória, sendo
iniciada na Prússia, durante o Despotismo Esclarecido, objetivando evitar revoluções,
manter o absolutismo, incluindo princípios iluministas para satisfazer o povo. As
escolas faziam a divisão por classes e castas, mantendo a disciplina e obediência
espartana, queriam formar súditos, para as guerras, e não cidadãos. As escolas
espalharam-se pelo mundo, prometendo igualdade, porém trouxe elitismo e divisão de
classes, havendo interesse de controlar a opinião pública. A escola como formadora
de trabalhadores, conservadora da estrutura social, financiada por empresários, pois
as crianças deveriam ficar em algum lugar para os pais trabalharem e serem educadas
para, posteriormente, também trabalhar. A educação desumanizada e generalizadora
de grupos, desenvolvimentos e resultados, forma pessoas consumistas, eficientes e
obedientes. Todos devem saber e fazer as mesmas coisas, sem atender as
necessidades individuais, um centro de instrução e exclusão, seleciona pessoas para
faculdades, empregos, elite. A escola é um velho mapa da sabedoria, a educação é o
território onde todo o aprendizado acontece.
• Não queremos ensinadores, mas educadores. Para colaborar com o desenvolvimento
de uma pessoa, primeiro precisamos conhece-la. As crianças nascem criativas,
observadoras, curiosas, pensam divergente, é da natureza do homem aprender,
contudo, isso se perde com o tempo. De muitas das coisas que aprendemos na escola,
de pouco precisamos na vida cotidiana. Nossa aprendizagem é influenciada pelo
tempo, espaço, ações, gostos, emoções, reações, argumentos, estruturas, crenças,
pensamentos, tradições, filosofias e sugestões. Que ambiente é ofertados para as
crianças se desenvolverem? Aos jovens, a rebeldia é castigada e espontaneidade
contida, esse, na verdade, é o seu desenvolvimento natural.
• A maneira como o conteúdo é apresentado não estimula ninguém, pois se baseia na
repetição e não na compreensão que gera conhecimento. Não exija mais que a criança
pode oferecer, deve haver uma decisão particular em aprender, que está ligada à
vontade, interesse e curiosidade que resulta em prazer. De brincadeira em brincadeira,
aprende-se muito. Aprender através da natureza é todos os dias ter motivos novos
para agradecer por estar vivo, sendo o papel do educador mostrar mistérios e questões
novas para o educando. No século XX, passou-se a usar material concreto nas aulas,
possibilitando a própria correção do erro pela criança, pois são os erros que permitem
os avanços. Não importa o erro, mas a aprendizagem; não importa ganhar, mas sim
melhorar. O professor não deve oferecer respostas, mas contribuir para a revelação
daquilo. As pessoas aprendem com a interação com o outro e com o ambiente. As
ações do ser humano não começam com sensibilidade e percepção diante da vida ou
conexão com a natureza, mas motivadas por objetivos exteriores, não se estuda para
aprender, mas para ser aprovado, enfatizando o resultado, não mensurando o que seja
necessário para consegui-lo. As crianças não tem um lugar para alcançar, a valia está
no caminho percorrido, respeitando o ritmo de cada um.
• Devo adaptar a cultura à criança ou a criança à cultura? O sistema pesquisa e
modela os alunos. Se as florestas que ainda existem, só existem porque o homem não
interviu, as crianças devem se desenvolver sem intervenção, pois precisam apenas de
um ambiente propicio para esse desenvolvimento. O amor é vital na aprendizagem e
desenvolvimento, sendo ele apoio emocional, entendimento, aceitação, respeito e
confiança. Se muito repreendidos forem, suas ações passam a ser controladas pelo
medo, resultando no medo da mudança, do progresso, de amar, de ser ele mesmo e
mostrar isso para o mundo. O ter torna-se o centro e o ser uma aparência.
•Biologicamente somos iguais, culturalmente e socialmente somos diferentes. A
diversidade prova que somos originais, contudo, na atualidade as diferenças são
diagnosticadas como doenças psicológicas. O equilíbrio quando adulto advém de um
tratamento amoroso quando criança de muita atenção, aprendendo a expressar suas
emoções, reconhecer suas virtudes, conseguir definir o próprio destino. As artes são
fundamentais para despertar nossa personalidade. A inteligência holística é o
equilíbrio entre razão, emoção e ação, considerando o todo. A aprendizagem deve ser
integrada e não segmentada, tudo se relaciona com tudo, educação cósmica.
•Devemos aprender a tomar decisões, fazer escolhas, assim encontraremos caminhos
para a vida futura. Saber resolver situações por você mesmo, faz com que adquira
responsabilidade. A escola é um centro educacional, onde todos podem aprender com
todos, as experiencias nos integram. O objetivo da educação é aprender a desenvolver
capacidades humanas. A avaliação deve compreender questões emocionais, a
maturidade, a socialização e a independência.
• Há sempre o medo que a liberdade e a falta de autoridade leve a indisciplina e
desordem. Porém, a disciplina é a capacidade de gerenciar a conduta. Podemos citar
uma disciplina autoritária com regras propostas por uma autoridade, uma disciplina
funcional onde as regras surgem de experiencias reais conjuntas e uma autodisciplina
onde cada um tem consciência da construção da própria conduta. Obediência se
contrapõem a respeito e limites, sendo a primeira imposta e a segunda aprendida na
convivência. As regras deveriam atender as necessidades e opiniões das crianças. Na
natureza a cooperação acarreta na sobrevivência. A participação deve ser aprendida
na escola, para que se faça presente na sociedade futura. A pessoa precisa permitir o
diálogo, a troca e o afeto com o outro, através do vínculo. A educação não termina
nuca, pois aprende-se com o interior e o exterior, tal fluxo é continuo.
• O professor deve ter a capacidade de aceitar o fluir da vida, havendo necessidade de
humildade e observação. O segredo é o olhar de cada ser humano sobre o outro.
Deve-se descobrir além da educação que recebeu, por meio da sensibilidade,
consciência, harmonia e alegria, ame tudo aquilo que já viveu. Não se pode dar o que
não se tem, para ensinar precisasse ter experiencia. Se na educação você não é feliz,
você não está educando. Falar com sinceridade, a verdade leva a escuta.
• A família é responsável por toda vida da pessoa que está criando, sendo
determinante na sua formação, contudo, há mais confiança em profissionais. As
crianças são o reflexo da sociedade que vivemos. Educar para se adaptar na sociedade
ou para criticamente analisar e melhorar a sociedade. Uma criança que não foi amada,
dificilmente aprenderá a amar.
Citações diretas
“Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de cria-las e recriá-las.” (Paulo Freire)
“É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.” (Aristóteles)
“Na verdade, só existe o ato de amar... Significa dar vida, aumentar a sua vitalidade.
É um processo que se desenvolve e se intensifica a si mesmo.” (Erich Fromm)
“Toda vivencia humana acontece em conversa e é nesse espaço que se cria a realidade
em que vivemos.” (Humberto Maturana)

Referência:
ADORNO, Theodor Wiesengrund Educação para quê? In: ADORNO, Theodor
Wiesengrund. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Maar. São Paulo:
Paz e Terra, 1995. (p.138-153)
Resumo
• Educação para quê intenciona prever para onde ela deve nos conduzir, considerando
os objetivos educacionais frente aos campos e veículos de educação. Segundo Hegel,
esses conceitos eram substancias, compreensíveis por si mesmo na totalidade de uma
cultura, contudo hoje tornam-se problemáticos. Atualmente, a educação deixa de
intermediar modelos ideias preestabelecidos para declarar sobre o comportamento do
mundo, pois se não fosse pela educação a simples e acelerada mudança da situação
social já exigiria indivíduos flexíveis, críticos e emancipatórios. O modelo ideal
possui heteronomia, ou seja, o autoritarismo em que alguém faz escolhas em relação a
orientação da educação dos outros. O conceito de homem autônomo e emancipado de
Kant é contrariado.
• A educação não deve modelar pessoas, nem apenas transmitir conhecimento, mas
produzir uma consciência verdadeira. Sendo uma exigência política, visto que a
democracia é operante em uma sociedade emancipada. A emancipação, decisão
consciente independente de cada indivíduo em particular, é democracia, em oposição
ao coletivismo-revolucionário, tendencia de apresentar ideias exteriores que não se
originam na própria consciência emancipada, mas que se legitimam frente a ela.
• Não se deve confundir homem emancipado como um ideal orientador, visto que a
juventude não quer uma consciência crítica e sim modelos ideais. Contudo, em
alguma fase da vida (em especial na adolescência) os modelos ideais encontram-se
ameaçados, para isso as práticas educacionais devem aplicar o principio de
esclarecimento da consciência. A emancipação deve ser inserida no pensamento e
prática educacional, porém sofre interferência da organização do mundo/ideologia
dominante e pela diferença de adaptação. Logo, a educação emancipatória objetiva
uma preparação para a adaptação e para orientação no mundo, havendo ambiguidade
na possibilidade de resultar em pessoas bem ajustadas. O que não pode acontecer é o
conformismo e a perda de individualismo.
• A importância da educação em relação a realidade muda historicamente, os
processos de adaptação eram automáticos e tornaram-se forçados. A educação formal
é mais importante que a educação não formal, a igualdade das oportunidades
educacionais vem do rompimento da barreira da língua antes da escolarização
obrigatória, podendo ser reparada até o 5º ano do ensino fundamental. Intermediar
uma consciência da realidade deve começar desde a primeira educação infantil,
relacionando adequadamente teoria e pratica.
• Hoje em dia, as crianças não conseguem mais aprender tais coisas, havendo
empobrecimento do repertório de imagens, da linguagem e das expressões. Sua
educação familiar, principalmente burguesa, acaba por não os incluir na
aprendizagem de saberes naturais naquele ambiente.
• O processo de conscientização deve ocorrem paralelamente ao processo de
promoção da espontaneidade. Segundo o pedagogo polonês Bogdan Suchodolski, a
educação é a “preparação para a superação permanente da alienação.” Os homens não
são mais aptos a experiencia, colocando uma camada estereotipada entre-os. Há muita
historicidade em nossa educação, abandonou-se a experimentação imediata da
realidade, evidenciando a relação perturbada entre teoria e prática.
• Os adolescentes odeiam aquilo que é diferenciado, porque ocasiona sua exclusão ou
dificultam sua orientação existência. Então escolhem contra vontade aquilo que não é
seu desejo. Podendo ser revertida pela aptidão à experiencia e, consequentemente, a
consciência, acarretado reflexão.
•Consciência e racionalidade não são a capacidade de pensar ou o desenvolvimento
lógico formal, mas o pensar em relação a realidade/conteúdo e a capacidade de fazer
experiencias intelectuais, estimulando a imaginação.
• As possibilidades sociais, ou seja, os processos de trabalho não exigem propriedades
especificamente individuais, dificultando a educação individualista. Por outro lado, as
mudanças no processo de trabalho requerem novos comportamentos individuais.
Sendo necessária uma educação para resistência e para o controle das mudanças,
mesmo que o colaboracionismo seja exaltado, visto que ele enfraquece o eu. A
formação acontece simultaneamente para a individualidade e para sua função social.

Referência:
NÓVOA, Antônio. Relação Escola/Sociedade: Novas Respostas Para Um Velho
Problema. III Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Águas de São Pedro,1994.
Resumo
A história da escola é considerada de progresso, sendo ela resolutória dos
problemas sociais, resultando em grandes nações. Porém, e a contribuição da política,
economia, justiça, saúde? Ao professor foi dada essa missão, os aproximando do
Estado e separando-os das famílias/comunidades. Por isso, devemos repensar a
aproximação entre escola e sociedade. É espantoso como o desenvolvimento
cientifico e conhecimento do mundo dos últimos anos tenha resultado numa pequena
sabedoria do homem consigo, com o outro e com a natureza. Precisa-se de uma escola
da aceitação alheia, reconhecimento da pluralidade dos sentidos e compreensão dos
seus limites.
A escola como regeneradora da sociedade
 Na história “O diabo e a escola”, o diabo vendo que havia homens bons e felizes na
Terra decidiu criar a escola, para modificar essa realidade, ainda na infância. Ocorreu
uma transformação entre o que as crianças gostavam e o que a escola impuseram,
brincar-trabalhar, palpar-pensar, falar-silêncio, esmiuçar-memorizar, liberdade-
obediência. Essa história foi escrita no final da Primeira Guerra Mundial,
considerando a escola de massas fixa numa gramática de ensino: alunos agrupados
por idade, o saber dividido em disciplinas, a sala de aula como espaço, os períodos
como tempo. Ela ocupou papel central na criação dos modelos de governo e Estados-
Nação do século XIX, pois era vista como provedora da homogeneidade cultural e
cidadania nacional. A crítica sustenta-se na escola antiga, pois a nova é libertadora,
incapaz de levar a guerra novamente. Dessa forma, as potencialidades regeneradoras
da escola são exaltadas. Os professores tornaram-se agentes estatais, considerados
profissionais, enquanto as crianças se tornam alunos.
As ciências da educação se firmaram quando a especialização do conhecimento
tornou seus profissionais autoridades dentro da própria disciplina, defendendo a
objetividade: fenômenos naturais, realidade atemporal e busca da “verdade pela
verdade”. A estrutura de ensino da Educação Nova é estatização, profissionalização e
cientificação. Nos anos vinte, os professores por algumas horas escolarizavam, no
restante do dia a sociedade desfazia seus esforços, mesmo que os entregassem toda a
responsabilidade da formação dos alunos, revelando a função civilizadora e
moralizadora da escola. As críticas a essa perspectiva surgem nos anos sessenta,
acusando-a de manter a ordem social injusta e as desigualdades sociais e a criar mais
discriminação e exclusão social. É preciso reconhecer a escola como parte de uma
rede institucional que participa da construção do futuro da sociedade.
Crise identitária dos professores, enfatizando a autonomia profissional
 A crise docente constata-se externamente, com instâncias de controle
dimensionando um caráter técnico, e internamente, com procura de sentido
profissional dimensionando um caráter reflexivo. O primeira corresponde a
racionalização do ensino, professores vistos como técnicos de ideias elaboradas por
terceiros, comprometendo sua autonomia e intensificando seu trabalho. Tais aspectos
levaram a privatização do ensino, controle externo. Em suma, racionalização,
proletarização e privatização. A segunda traz o professor como centro do processo
educativo, visando autonomia. As semelhanças entre professores são derivadas da
assimilação da cultura profissional dominante. O processo identitário é a construção
da identidade profissional: ideias educativas próprias, métodos e práticas conforme a
maneira de ser, estilos pessoais de reflexão...
 Cada professor é único em vontades, gostos, experiências, gestos, rotinas,
comportamentos, organização, movimentação, dialogo ... Esses profissionais tem
dificuldade com a mudança, são rígidos e tendem a seguir a moda, atualmente devido
a velocidade da circulação de ideias e inovações tecnológicas. A moda é a mudança
que não muda. É preciso praticar uma vigilância crítica ante ao que é proposto, sendo
refletida e apropriada.
 Em relação ao saber mobilizado pela pedagogia, durante muito tempo este foi
disciplinar, sendo os professores transmissores de conhecimento cientifico. Engana-se
quem pensa que ensino é a transposição de conhecimento científico em escolar, é
preciso transforma-las em currículo escolar. Lee Shulman afirma que o professor não
só deve conhecer a matéria, mas compreender sua constituição histórica. A
compreensão torna possível o ensino. Os professores são consumidores e produtores
de conhecimento, executores e criadores de instrumentos pedagógicos, técnicos e
profissionais críticos e reflexivos. Deve-se valorizar o intelectual e a autonomia.
Síntese
 A relação escola-sociedade deve ser baseada na participação das
famílias/comunidades na escola e na autonomia e competência dos professores.
 Durante a Revolução Francesa, havia a ideia que os cidadãos pertenciam à pátria
mais que aos pais. A escola se tornou um lugar privilegiado da educação, olhando
para o futuro. A Igreja e, depois, o Estado interferiam na educação, afastando o
restante da sociedade (inclusive os analfabetos), sendo os professores especialistas.
Contribuindo com isso, o fatalismo sociológico/cultural afirmava que crianças
desfavorecidas estavam condenadas ao fracasso. Philipe Perrenoud relaciona escola e
justiça enquanto fabricas de julgamento, relacionando níveis salariais com
condenações por roubo. Podendo, a escola e a justiça, aumentar ou diminuir as
desigualdades sociais.
 O poder dos professores deve ser investido positivamente, sem os culpar ou
desvalorizar. A sociedade os desconfia e acredita ser deficiente sua formação, por
outro lado são considerados elementos essenciais para qualidade de ensino e
progresso social. A partir dos anos cinquenta, a grande atenção as crianças chocou-se
com a expansão do trabalho feminino, assim a escola ficaria como responsável por
isso.
Metáforas antigas já não satisfazem, o professor-escultor (molda a matéria),
professor-piloto (conduz a educação em meio as tormentas sociais), professor-espelho
(modelo para imitação), professor-jardineiro (cria um ambiente favorável para o
desenvolvimento espontâneo). Quanto são lembrados os instrumentos e gestos da
última metáfora, ela perde todo o sentido. De tal modo, somos obrigados escolher
opções cruzando maneiras de ser e ensinar. Atualmente, temos os professores
investigadores, reflexivos, experimentadores, decididores, construtores de currículo,
valorizando a teoria e a intelectualidade, construindo o saber de referencias a partir da
reflexão de suas praticas e elevando a autonomia.
Escola e sociedade não se excluem, se articulam em prol da democratização escolar,
questiona-se o papel do Estado. A sociedade tecnológica tem contribuindo para uma
consciência planetária, contudo criou novas exclusões sociais. A escola não deve ser
tecnoprática, socialmente asséptica, culturalmente descomprometida, havendo uma
indiferença com a injustiça. O professor é o conjunto de critérios técnicos e
competências cientificas, aderindo a princípios e valores, crendo no sucesso do todo.
A escola não pode ser vista como econômica ou tecnológica, eficácia e racionalidade.
É preciso refletir sobre o oficio e as condições atuais de cidadania, que perpassam a
escola.
A classe política via o futuro das sociedades prospecto, hoje preocupam-se apenas
com crises. Os sindicatos passam de forças utópicas para lógicas negociais. Os meios
de comunicação deixaram de ser doutrinadores para disputarem entre si. Os
intelectuais compram ideias da moda, sem reflexão coerente e sistemática, vendidas
num mercado mediático e avaliadas num sucesso imediato. Os investigadores e
cientistas são muitos, mas os sábios que produzem síntese de conhecimento são
poucos. As fundações e organizações mesmo agindo prospectivamente são
influenciadas pela política e pelos patrocinadores. As multinacionais não são
democráticas e podem influenciar em forças visionais dependentes de lucro,
crescimento e conquista. Em contrapartida, a escola concentra a maioria dos
qualificados, distantes de confrontos políticos, competições comerciais e tentações
gestacionais. Sendo os professores, o grupo de profissionais mais numerosos e
qualificados, associando o profissional e o pessoal.
Citações diretas
“O professor é a pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor.” (p.8)

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