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Introdução ao pensamento social

Referência:
BLACHE, Paul Vidal de la. Relações da sociologia com a geografia. Tradução:
Guilherme Ribeiro. 8. n. Local: OpenEdition Journals, 2010. Disponível em:
http://journals.openedition.org/confins/6302. Acesso em: 17 nov. 2021.
Resumo
As ciências sociologias e as ciências geográficas são autônomas, mas podem
complementar-se em certos estudos. A geografia humana analisa a ocupação da Terra
pelos grupos humanos desiguais e variados, que atualmente persiste, pois, a posição
de uma região influenciou na chegada de correntes humanas e, consequentemente,
nos seus hábitos. Além disso, a apropriação das regiões foi reflexo das necessidades
humanas ali presentes, constituindo um fato geográfico. A relação homem-natureza
tem, simultaneamente, dinamismo e limitações. Deste modo, a região se tornar
humanizada. Essa vida local, hábitos, ritos, crenças e ideias, torna-se atrativa quando
há modificação pelo contato com povos ou necessidades ainda não conhecidos. Para a
geografia, há interesse na fisionomia terrestre, que está em constante transformação,
há alteração da composição da vida, dos aspectos da superfície e da quantidade e da
relação dos grupos humanos. Enfatiza-se as extensões, as distâncias e as proporções.
A geografia humana é o estudo da Terra, partindo da terra ao homem, através de
perspectiva física e biológica. As transformações são radicais quando o grau de
intensidade da ação humana for elevado.
Citações diretas
“O homem se liga ao meio que ele adotou e fez seu na proporção do que ele próprio
fixou.”. (p.2)

Realizar a leitura do texto "relações da sociologia com a geografia" e escrever


algumas linhas de reflexão sobre o texto e trazendo algum exemplo de fenômeno social
que pode ser estudado tanto desde a perspectiva geográfica quanto das ciências sociais.

Considerando a geografia uma ciência que analisa as relações entre natureza e


sociedade, tanto os impactos naturais na humanidade, como as transformações do meio
pela ação humana, seriam impossíveis dissocia-los, pois a humanidade precisa do
espaço para se desenvolver, assim como o espaço contém marcas da vivencia humana.
Logo, a geografia interessa-se pelas transformações do espaço terrestre, diferente das
ciências sociais que focam na sociedade, no homem e nas relações políticas.
A atual configuração do território Norte-Nordeste do Rio Grande do Sul é
exemplo de como um fenômeno social pode transformar o ambiente natural.
Primeiramente, a região por se tratar de uma região de fronteira precisava de habitantes
para defesa do território, por isso foi ocupada por imigrantes europeus, pois diversos
países europeus enfrentavam problemas econômicos, que despertavam nos cidadãos o
desejo de buscar melhores condições. Esse aspecto é de interesse das ciências sociais,
pois trata da sociedade, da economia e da política. Por outro lado, a chegada dos
imigrantes alterou o território. Notavelmente, a retirada da mata nativa para o
desenvolvimento da agricultura e pecuária e a construção de estradas para escoamento
da produção modificaram a natureza. Os nutrientes dos solos foram explorados, a área
de floresta diminuída, as nascentes preservadas para hidratação dos animais. Assim, o
território gaúcho foi alterado segundo os hábitos trazidos pelos imigrantes.
Referência:
TEXEIRA, Aloisio. Introdução. In: TEIXEIRA, Aloisio. Utópicos, Heréticos e
Malditos. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 13-45.
Resumo
• A Era Moderna tem início no século XIX, marcada pelo capitalismo. Contudo,
desde o Renascimento e o Mercantilismo, o modo de produção vem sendo alterado
pelos avanços científicos e culturais.
 O primeiro acontecimento marcante é a Revolução Gloriosa (1640-1648) -
Inglaterra, uma revolução burguesa que instaurou um parlamento que limitou o poder
monarca e religioso. Seu desfecho foi a abolição da monarquia absoluta e
enfraquecimento da autoridade dos senhores feudais e da Igreja. As propriedades da
Igreja foram expropriadas e as terras comunais privatizadas, os camponeses
independentes (vitoriosos da guerra) transformaram-se em arrendatários e houve
migração de camponeses às cidades, formando o mercado interno.
 O segundo acontecimento marcante é a Revolução Industrial Inglesa, século XVIII,
quando as fábricas se transferiram do campo para a cidade, com a invenção dos teares
que operavam simultaneamente diversos fios de algodão, as fábricas têxtis e a
máquina à vapor.
 A Independência dos Estados Unidos também é um fato marcante. A luta dos
colonos contra o parlamento, o qual fechou o Porto de Boston e restringiu o
desenvolvimento industrial e comercial, deflagrou o Primeiro Congresso Continental
(1774), pedindo diminuição dos impostos e flexibilização das restrições econômicas.
Os combates aconteceram entre 1775 e 1781, resultando no Tratado de Paris (1782).
Em 1776, constitui-se uma nova nação, com influência da burguesia agrária e
mercantil.
 A Revolução Francesa (1789-1799) foi o mais marcante acontecimento neste
contexto, iniciado pela Queda da Bastilha até a tomada do poder por Napoleão,
eliminado o feudalismo e consolidando uma burguesia financeira e mercantil. Surge a
concepção, que o regime deveria garantir os direitos naturais à liberdade, igualdade e
propriedade, alcançados foram os direitos civis, a propriedade não.
• No século XIX, o artesanato, a manufatura e a indústria rural são substituídas pelo
sistema fabril, maquinofatura e indústria moderna. Inicialmente, a produção mercantil
(produção de bens para terceiros, transferida por troca, em larga escala e sob o
domínio do capital, com trabalhadores separados) tinha base técnica artesanal, onde
os trabalhadores determinavam a natureza, velocidade, intensidade e qualidade dos
bens. As máquinas acarretaram na desvalorizando do trabalho e introdução de
mulheres e crianças no meio, correspondendo até 2/3 dos empregados.
• O capitalismo afetou a velocidade de produção, a criação de novos produtos, a
variedade e extensão do comercio e mudanças na divisão do trabalho e nas relações
de emprego. Também, agravou a desigualdade entre países, setores econômicos e
sociedade, as condições de vida e de trabalho eram deploráveis. Jornadas de 16 a 18 h
de trabalho, locais infectos, sem iluminação, salários baixíssimos, etc. As pessoas
foram obrigadas a sair do campo, chegando as cidades não conseguiam emprego,
quando conseguiam eram em condições miseráveis e ainda manuais.
• Período de supremacia da Inglaterra e conflitos na Europa, porém até mesmo a
Inglaterra sofreu com movimentos operários de massa. Houve quebra das máquinas e
criação dos sindicatos. O “sufrágio universal” era o principal direito a ser
conquistado, surge dessa vontade o cartismo, obtendo poucos resultados. Aos
poucos, o sufrágio foi alcançado, o parlamento fichado e os direitos sociais
implementados. Há uma transformação geopolítica e nas relações estruturais internas
de cada país.
• Afastamento entre desenvolvimento econômico e social.
• Socialista utópicos: Saint-Simon, Fourier e Robert Owen. Sendo o socialismo,
surgido em 1830 na França/Inglaterra, inicialmente era o oposto do individualismo,
depois foi associado as cooperativas e agora é o contrário do capitalismo; e utopia
referente a projetos sociais sem aspectos políticos, práticos e concretos.
• Socialistas ricardianos: John Gray, Tomas Hodgiskin, Wiiliam Thompson e John
Francis Bray. Corrente de pensamento econômico socialista revolucionaria do
movimento operário contra a burguesia. Partem da teoria do valor-trabalho de
Ricardo, aceitando a distinção de trabalho produtivo e improdutivo, do trabalho como
fonte de toda a riqueza e entendendo a apropriação do valor trabalho (salários) e do
valor produto (preço) pelo capital o gerador da exploração, opressão e miséria do
capitalismo. A mais-valia é a relação entre valor trabalho+ lucro, renda da terra e
juros= valor produto.
Citações diretas
“[...]os trabalhadores se convenceram de que a culpa pela miséria e pelo desemprego
não era das máquinas.” (p.21)
“E, nesse sentido, sempre que usarmos a designação “utópico”, daqui pra frente, ela
terá esse exato sentido: projetos de organização da sociedade, desligados da realidade
política e social da época, e fé inabalável na ciência e na educação como meios de
transformação da realidade.” (p.29)
“[Para Thompson] o capitalismo é inevitavelmente um sistema de exploração,
degradação, instabilidade, sofrimento e grotescos extremos de opulência e miséria.”
(p.37)

Referência:
COSTA, Cristina. A emergência do pensamento social em bases científicas. In:
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo:
Moderna, 2005. p. 64-80.
Resumo
Darwinismo social
 Europa, século XVIII, sociedade capitalista.
 No final do século, havia um excedente de oferta em relação à demanda,
ocasionando falência das empresas e, consequentemente, uma crise econômica. As
empresas sobreviventes substituíram a livre concorrência pelos monopólios e
oligopólios. O capital financeiro passou a financiar a produção, gerando dívidas,
solicitando uma expansão do mercado. Os alvos eram a África e a Ásia, pois
abrigavam matéria-prima e mão-de-obra barata, pequeno mercado consumidor e área
extensa para obras de infraestrutura. A estrutura social dos explorados- politeísmo,
poligamia, castas sociais, agricultura de subsistência, comercio local, artesanato
doméstico- foi totalmente modificada em moldes capitalistas. As justificativas
mascaram os interesses econômicos transformando-os em uma “Missão
Civilizatória”, a qual buscava elevar essas civilizações primitivas a um nível
desenvolvido. Essa ação foi influenciada pela evolução biológica das espécies
animais de Charles Darwin, da qual a adaptação garante a sobrevivência, havendo
uma competição natural, onde os seres mais aptos e evoluídos sobrevivem. A
transposição de conceitos físicos e biológicos para estudos da sociedade e do
comportamento humano esconderam o preconceito e os interesses particulares
existentes. O darwinismo manteve-se com os EUA e a URRS, quando o primeiro
invadiu o Afeganistão e o Iraque, o Nazismo/Neonazismo e o Fascismo/Neofascismo
e a questão dos refugiados.
 O desenvolvimento industrial gerou muitos conflitos sociais, os operários e
camponeses pobres e explorados pediam por mudanças econômicas e políticas. Em
contrapartida, o positivismo definiu o conceito de “ordem e progresso”, sendo ordem
o princípio regulador que garante o ajustamento e a integração dos componentes da
sociedade a um objetivo comum, e progresso o princípio que rege as transformações
sociais em direção à evolução das sociedades. Dessa forma, reinvenções, revoltas e
conflitos colocavam em risco a ordem e inibiam o progresso, por isso, eram contidos.
 August Conte identificou o movimento dinâmico- passagem para formas mais
complexas de existência- e o movimento estático- preservação dos elementos
permanentes de toda organização social, mantidos pela família, religião, propriedade,
linguagem, direito-. Para ele, o movimento estático é privilegiado, pois o progresso
deveria aperfeiçoar os elementos da ordem e não os ameaçar.
Evolucionismo
 Montesquieu, precursor nos estudos das diferentes sociedades humanas,
considerava um destino comum a trajetória do homem na Terra. Seu conceito de
história social baseava-se em leis gerais e invisíveis, que não se manifestavam em
eventos individuais (derrotas em guerras, fracassos de governos) e sim em desvios
explicados posteriormente aos fatos. As leis agem de forma espontânea, sem que
tenham consciência de sua existência. Quando feridas sua moral levam a decadência,
como em Roma tomada pelos vícios do poder.
Os diferentes movimentos da história de cada sociedade são etapas de uma grande
epopeia da humanidade, onde a igualdade dos seres eleva-se as características
distintivas.
Positivismo
 O positivismo sistematizou o pensamento sociológico, definiu seu objeto de
estudo, estabeleceu conceitos, suas especificidades e uma metodologia de
investigação. Seu principal representante foi o pensador francês August Conte. O
positivismo é uma derivação do cientificismo (crença no poder dominante da razão
humana em conhecer a realidade e traduzi-la em leis reguladoras da vida, da natureza
e do universo), que propunha substituir explicações teológicas, filosóficas e do senso
comum. Considerado uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação
humana, influenciado por Descartes. Os princípios reguladores do mundo físico e
social estavam relacionados a acontecimentos exteriores ao homem e outros a
questões humanas. Devido à forte influência dos cientistas naturalistas, o positivismo
também foi chamado de organicismo, pois a sociedade foi considerada um organismo
constituído de partes integrantes e coesas com funcionam harmônico.
De maneira negativa, foi lema da ação política conservadora e justificativa para
relações desiguais entre sociedades. Contudo, foi precursor no estudo da vida em
sociedade, da existência da natureza social do homem e da influência histórica e
social nas formas de vida.
Pensadores sociais positivistas franceses
Hipolite Taine- considerou a raça (fundamento biológico), o meio (aspecto físico e
social) e o momento (sucessões históricas) como forças primordiais na concepção da
realidade histórica.
Gustav Le Bom- formulou a “psicologia das multidões”, onde as crenças sociais mais
gerais criam uma “mentalidade coletiva”, agindo de formas diferentes em cada
indivíduo da multidão.
Pierre Le Play- estabeleceu a família como menor unidade social, básica e universal,
sendo as relações sociais decorrentes das relações familiares, com grau de
complexidade variável.
Citações diretas
“[...] o mais alto grau de civilização a que um povo poderia chegar seria o já
alcançado pelos europeus- a sociedade capitalista industrial do século XIX.” (p.65)
“[...] darwinismo social- o princípio a partir do qual as sociedades se modificam e se
desenvolvem de forma semelhante, segundo o mesmo modelo e que tais
transformações representam sempre a passagem de um estágio inferior para outro
superior, em que o organismo social se transformaria mais evoluído, mais adaptado e
mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos-
sociedades e indivíduos-, mais fortes e mais evoluídos.” (p.66-67)
“[...] explicaram as diferenças sociais como diferenças de graus de desenvolvimento e
de evolução.” (p.69)

Referência:
LAPLANTINE, François. O século XVIII: a invenção do conceito de homem; O
Tempo dos Pioneiros: Os pesquisadores-eruditos do século XIX; Os pais fundadores
da etnografia: Boas e Malinowski; Os primeiros teóricos da antropologia: Durkheim e
Mauss. In: LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo:
Brasiliense, 2003. (p. 39-72)
Resumo
• Século XVIII, Modernidade, propicia possibilidades históricas, culturais e
epistemológicas para o surgimento da Antropologia. Seu projeto buscava construir
conceitos, inclusive o de homem como objeto do saber; construir um saber de
observação, do homem com existência concreta, como ser vivo, que trabalha, pensa,
fala; romper com o pensamento do mesmo e precedência da linguagem, criando a
problemática da diferença, que será abordada por escritores na comparação entre
diferentes formas de humanidade; e introdução do método de observação e analise
indutivo, estudo empírico dos grupos sociais, considerados sistemas naturais, afim de
extrair leis.
• As mudanças que propiciaram o surgimento da Antropologia foram: a natureza dos
objetos observados (cosmográfico para etnográfico) e transição do destaque do objeto
de estudo para a atividade epistemológica (observação e descrição para elaboração).
• Surgem as viagens filosóficas, onde os filósofos esclarecem as observações dos
viajantes a partir de suas reflexões. Contudo, todos os filósofos não consideram os
viajantes filósofos e vice-versa. Acredita-se na importância do apreender de forma
correta, observar e esclarecer, resultando nas Sociedades dos Observadores do
Homem (1799-1805) formadas por ideólogos.
• O Antropologia resultou na abordagem da distinção do saber cientifico e filosófico,
porém sua prática acontecerá somente quando seu objeto de estudo passa a ser
indivíduos de uma época e cultura estudados por outro indivíduo; e sua independência
acontece apenas no evolucionismo, pois o discurso da época estava ligado ao seu
momento histórico natural, rumo ao progresso.

• Até o século XVI, a humanidade era vista como selvagem. No século XVIII, a
humanidade passa a ser iluminada pelos pensamentos filosóficos. Mas somente no
século XIX, que a antropologia surge para estudar as sociedades primitivas em
diversos aspectos: biológico, técnico, econômico, político, religiosos, linguístico,
psicológico, ... Tal surgimento foi motivado pela Revolução Industrial Inglesa e a
Revolução Política Francesa, que representaram uma ruptura nunca antes vista.
Também são notórias as conquistas coloniais, em especial pelo Tratado de Berlim,
que define a partilha da África entre países europeus.
• A antropologia moderna se constitui na emigração europeia à África, Índia,
Austrália e Nova Zelândia, quando pesquisadores metropolitanos, destaque para Grã-
Bretanha, enviam questionários para todo o mundo. O indígena não europeu passa de
selvagem para primitivo, ancestral do civilizado. Logo, a antropologia é o
conhecimento do primitivo, conhecimento da nossa origem, das formas simples de
organização social e mentalidades. Considera-se evolucionista, visto que a espécie
humana é idêntica, por outro lado as populações se desenvolvem em ritmos desiguais,
mas as etapas de evolução são as mesmas e levam a civilização. Dessa forma, convém
determinar a sequência de estágios dessa evolução.
• Essa antropologia, com pretensão cientifica, atenta as populações mais arcaicas do
mundo- aborígenes australianos-, ao parentesco- evidenciam o sistema de filiação
matrilinear sobre o sistema patrilinear- e a religião- mitos, magia, crença, superstição.
As últimas são as duas vias de acesso privilegiado ao conhecimento das sociedades
orientais, que permanecem até a atualidade. Todos os antropólogos da época são
antirreligiosos, Frazer considera magia, religião e ciência um processo universal e
sucessório, as crenças primitivas são a origem das sobrevivências dos civilizados, a
magia seria o controle ilusório da natureza e um obstáculo à razão, sendo a magia
uma potência que dará lugar a ciência que executará seus objetivos.
• As críticas envolvem a importância do atraso das sociedades que deveriam buscar o
progresso técnico e econômico do Ocidente, considerando a produção econômica,
religião monoteísta, propriedade privada, família monogâmica e moral vitoriana; e o
pesquisador definindo seu objeto de pesquisa através das sociedades primitivas e as
vantagens da sua civilização.
• A antropologia evolucionista julga possível extrair leis universais do
desenvolvimento da humanidade, parecendo ser cientifica, mas na verdade é
filosófica fundamentada numa enorme documentação. Há interesse em compreender
todas as culturas, inclusive as longínquas e desconhecidas, no tempo e espaço mais
longo possível. Os estudos em particular de tais sociedade aparecerem
posteriormente.
• No século XIX, surgem as primeiras sociedades científicas de etnografia, as
primeiras cadeiras universitárias e os museus. Período marcado pelo intenso trabalho
dos antropólogos, pela problemática da universalidade e diversidade das técnicas,
instituições, comportamentos e crenças, considerando as distancias espaciais e
temporais das populações. Extrai-se a hipótese da unidade da espécie humana. Com
Morgan, o objeto da antropologia passa a ser a análise dos processos de evolução de
ligações entre relações sociais, políticas, ... que constituem características de um
determinado período da história humana. As sociedades arcaicas passam a ser
integradas na humanidade. A história adquire bases materiais e não só escritas. Os
elementos de análise comparativa são redes de interação formando sistemas e não
mais costumes bizarros. Até então, o conhecimento cientifico se constitui numa teoria
que lhe serve de paradigma.
No século XX, a repartição das tarefas entre observador e pesquisador erudito chega
ao fim. Surge então a etnografia, quando o pesquisador efetua no campo sua própria
pesquisa, sendo essa observação direta parte da pesquisa. O objeto de pesquisa passa
de informador para mestre, o pesquisador passa a ser um deles, assim o trabalho de
campo é a fonte da pesquisa.
 Franz Boas (1858-1942), americano de origem alemã, homem do campo que
estudou detalhadamente o campo: casas, cantorias, as versões de um mito ou receita.
Para ele, o costume deve estar relacionado ao seu contexto e isso só pode ser feito
pelo antropólogo, detectando a unidade dessa cultura. Assim, todos os objetos são
dignos da ciência, com ênfase para o acesso a língua. Ficou pouco conhecido, visto
que não publicou livros nem formulou teses. Reconhecido como professor dos
primeiros antropólogos.
 Bronislaw Malinowski (1884-1942), inglês de origem polonesa, um dos primeiros
a viver com as populações que estudava. Penetrou na mentalidade, compreendeu o
sentimento dos pertencentes daquela cultura, com apenas um costume/objeto traçou o
perfil do conjunto daquela sociedade. Para ele, uma sociedade deve ser estuada na sua
totalidade, como é observada, perguntando o que é uma sociedade em si mesma, sua
viabilidade para os constituintes, observando-a hoje através das interações do
passado. Sua teoria, o funcionalismo, afirma que partindo das necessidades do
individuo cada cultura encontra maneiras para satisfaze-las. Há preocupação em
estudar o homem biologicamente, socialmente e psicologicamente, não apenas
analisando e sim revivendo. Sua imagem era controversa, pois contrariava os
antropólogos da época que consideravam as civilizações primitivas aberrações, para
ele as civilizações industriais eram aberrações; e ao elaborar uma teoria rígida, onde
as sociedades primitivas eram estáveis e sem conflitos, relacionando ao
funcionalismo, não explicando as mudanças sociais. Cria as leis cientificas da
sociedade. Seu legado é expresso através da observação participante; o social
deixando de ser anedota, curiosidade, descrição ou coleção, se observa fatos
minúsculos para alcançar todas as dimensões do homem na totalidade da cultura; e a
restituição da existência desses povos, agregando sensibilidade artística ao projeto
cientifico.
A escola francesa de sociologia buscava autonomia na elaboração cientifica, quadro
teórico, conceitos e modelos próprios da investigação social.
 Durkheim considera necessário investigar as sociedades considerando os materiais
recolhidos nas sociedades primitivas. Preocupava-se em emancipar a sociologia das
outras áreas de estudo do homem, como a psicologia. Os fatos sociais só podiam ser
explicados por outros fatos sociais. Teve maior influencia no seu país e na Inglaterra.
 Marcel Mauss (1872-1950), sobrinho do anterior, concorda com a autonomia do
social, mas exige um estatuto e a pluridisciplinaridade. Luta pelo reconhecimento da
antropologia como uma ciência verdadeira e não uma disciplina anexa. Forjou o
conceito de fenômeno social total, integrando diferentes aspectos de uma realidade
social que devem ser apreendidos integralmente. Os fenômenos sociais também
podem ser fisiológicos e psicológicos. Para compreender um fenômeno social
devemos apreende-lo totalmente, por fora e por dentro, vendo e vivenciando. Já que o
objeto e o sujeito são da mesma natureza, o sujeito vive nele mesmo as experiencias
do estudo. Aproximou-se de Malinowski.
Citações diretas
“[...] as disparidades culturais entre os grupos humanos não eram de forma alguma a
consequência de predisposições congênitas, mas apenas o resultado se situações
técnicas e econômicas. Assim, uma das características principais do evolucionismo
[...] é o seu antirracismo.” (p.54)

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