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Referência:
BLACHE, Paul Vidal de la. Relações da sociologia com a geografia. Tradução:
Guilherme Ribeiro. 8. n. Local: OpenEdition Journals, 2010. Disponível em:
http://journals.openedition.org/confins/6302. Acesso em: 17 nov. 2021.
Resumo
As ciências sociologias e as ciências geográficas são autônomas, mas podem
complementar-se em certos estudos. A geografia humana analisa a ocupação da Terra
pelos grupos humanos desiguais e variados, que atualmente persiste, pois, a posição
de uma região influenciou na chegada de correntes humanas e, consequentemente,
nos seus hábitos. Além disso, a apropriação das regiões foi reflexo das necessidades
humanas ali presentes, constituindo um fato geográfico. A relação homem-natureza
tem, simultaneamente, dinamismo e limitações. Deste modo, a região se tornar
humanizada. Essa vida local, hábitos, ritos, crenças e ideias, torna-se atrativa quando
há modificação pelo contato com povos ou necessidades ainda não conhecidos. Para a
geografia, há interesse na fisionomia terrestre, que está em constante transformação,
há alteração da composição da vida, dos aspectos da superfície e da quantidade e da
relação dos grupos humanos. Enfatiza-se as extensões, as distâncias e as proporções.
A geografia humana é o estudo da Terra, partindo da terra ao homem, através de
perspectiva física e biológica. As transformações são radicais quando o grau de
intensidade da ação humana for elevado.
Citações diretas
“O homem se liga ao meio que ele adotou e fez seu na proporção do que ele próprio
fixou.”. (p.2)
Referência:
COSTA, Cristina. A emergência do pensamento social em bases científicas. In:
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo:
Moderna, 2005. p. 64-80.
Resumo
Darwinismo social
Europa, século XVIII, sociedade capitalista.
No final do século, havia um excedente de oferta em relação à demanda,
ocasionando falência das empresas e, consequentemente, uma crise econômica. As
empresas sobreviventes substituíram a livre concorrência pelos monopólios e
oligopólios. O capital financeiro passou a financiar a produção, gerando dívidas,
solicitando uma expansão do mercado. Os alvos eram a África e a Ásia, pois
abrigavam matéria-prima e mão-de-obra barata, pequeno mercado consumidor e área
extensa para obras de infraestrutura. A estrutura social dos explorados- politeísmo,
poligamia, castas sociais, agricultura de subsistência, comercio local, artesanato
doméstico- foi totalmente modificada em moldes capitalistas. As justificativas
mascaram os interesses econômicos transformando-os em uma “Missão
Civilizatória”, a qual buscava elevar essas civilizações primitivas a um nível
desenvolvido. Essa ação foi influenciada pela evolução biológica das espécies
animais de Charles Darwin, da qual a adaptação garante a sobrevivência, havendo
uma competição natural, onde os seres mais aptos e evoluídos sobrevivem. A
transposição de conceitos físicos e biológicos para estudos da sociedade e do
comportamento humano esconderam o preconceito e os interesses particulares
existentes. O darwinismo manteve-se com os EUA e a URRS, quando o primeiro
invadiu o Afeganistão e o Iraque, o Nazismo/Neonazismo e o Fascismo/Neofascismo
e a questão dos refugiados.
O desenvolvimento industrial gerou muitos conflitos sociais, os operários e
camponeses pobres e explorados pediam por mudanças econômicas e políticas. Em
contrapartida, o positivismo definiu o conceito de “ordem e progresso”, sendo ordem
o princípio regulador que garante o ajustamento e a integração dos componentes da
sociedade a um objetivo comum, e progresso o princípio que rege as transformações
sociais em direção à evolução das sociedades. Dessa forma, reinvenções, revoltas e
conflitos colocavam em risco a ordem e inibiam o progresso, por isso, eram contidos.
August Conte identificou o movimento dinâmico- passagem para formas mais
complexas de existência- e o movimento estático- preservação dos elementos
permanentes de toda organização social, mantidos pela família, religião, propriedade,
linguagem, direito-. Para ele, o movimento estático é privilegiado, pois o progresso
deveria aperfeiçoar os elementos da ordem e não os ameaçar.
Evolucionismo
Montesquieu, precursor nos estudos das diferentes sociedades humanas,
considerava um destino comum a trajetória do homem na Terra. Seu conceito de
história social baseava-se em leis gerais e invisíveis, que não se manifestavam em
eventos individuais (derrotas em guerras, fracassos de governos) e sim em desvios
explicados posteriormente aos fatos. As leis agem de forma espontânea, sem que
tenham consciência de sua existência. Quando feridas sua moral levam a decadência,
como em Roma tomada pelos vícios do poder.
Os diferentes movimentos da história de cada sociedade são etapas de uma grande
epopeia da humanidade, onde a igualdade dos seres eleva-se as características
distintivas.
Positivismo
O positivismo sistematizou o pensamento sociológico, definiu seu objeto de
estudo, estabeleceu conceitos, suas especificidades e uma metodologia de
investigação. Seu principal representante foi o pensador francês August Conte. O
positivismo é uma derivação do cientificismo (crença no poder dominante da razão
humana em conhecer a realidade e traduzi-la em leis reguladoras da vida, da natureza
e do universo), que propunha substituir explicações teológicas, filosóficas e do senso
comum. Considerado uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação
humana, influenciado por Descartes. Os princípios reguladores do mundo físico e
social estavam relacionados a acontecimentos exteriores ao homem e outros a
questões humanas. Devido à forte influência dos cientistas naturalistas, o positivismo
também foi chamado de organicismo, pois a sociedade foi considerada um organismo
constituído de partes integrantes e coesas com funcionam harmônico.
De maneira negativa, foi lema da ação política conservadora e justificativa para
relações desiguais entre sociedades. Contudo, foi precursor no estudo da vida em
sociedade, da existência da natureza social do homem e da influência histórica e
social nas formas de vida.
Pensadores sociais positivistas franceses
Hipolite Taine- considerou a raça (fundamento biológico), o meio (aspecto físico e
social) e o momento (sucessões históricas) como forças primordiais na concepção da
realidade histórica.
Gustav Le Bom- formulou a “psicologia das multidões”, onde as crenças sociais mais
gerais criam uma “mentalidade coletiva”, agindo de formas diferentes em cada
indivíduo da multidão.
Pierre Le Play- estabeleceu a família como menor unidade social, básica e universal,
sendo as relações sociais decorrentes das relações familiares, com grau de
complexidade variável.
Citações diretas
“[...] o mais alto grau de civilização a que um povo poderia chegar seria o já
alcançado pelos europeus- a sociedade capitalista industrial do século XIX.” (p.65)
“[...] darwinismo social- o princípio a partir do qual as sociedades se modificam e se
desenvolvem de forma semelhante, segundo o mesmo modelo e que tais
transformações representam sempre a passagem de um estágio inferior para outro
superior, em que o organismo social se transformaria mais evoluído, mais adaptado e
mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos-
sociedades e indivíduos-, mais fortes e mais evoluídos.” (p.66-67)
“[...] explicaram as diferenças sociais como diferenças de graus de desenvolvimento e
de evolução.” (p.69)
Referência:
LAPLANTINE, François. O século XVIII: a invenção do conceito de homem; O
Tempo dos Pioneiros: Os pesquisadores-eruditos do século XIX; Os pais fundadores
da etnografia: Boas e Malinowski; Os primeiros teóricos da antropologia: Durkheim e
Mauss. In: LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo:
Brasiliense, 2003. (p. 39-72)
Resumo
• Século XVIII, Modernidade, propicia possibilidades históricas, culturais e
epistemológicas para o surgimento da Antropologia. Seu projeto buscava construir
conceitos, inclusive o de homem como objeto do saber; construir um saber de
observação, do homem com existência concreta, como ser vivo, que trabalha, pensa,
fala; romper com o pensamento do mesmo e precedência da linguagem, criando a
problemática da diferença, que será abordada por escritores na comparação entre
diferentes formas de humanidade; e introdução do método de observação e analise
indutivo, estudo empírico dos grupos sociais, considerados sistemas naturais, afim de
extrair leis.
• As mudanças que propiciaram o surgimento da Antropologia foram: a natureza dos
objetos observados (cosmográfico para etnográfico) e transição do destaque do objeto
de estudo para a atividade epistemológica (observação e descrição para elaboração).
• Surgem as viagens filosóficas, onde os filósofos esclarecem as observações dos
viajantes a partir de suas reflexões. Contudo, todos os filósofos não consideram os
viajantes filósofos e vice-versa. Acredita-se na importância do apreender de forma
correta, observar e esclarecer, resultando nas Sociedades dos Observadores do
Homem (1799-1805) formadas por ideólogos.
• O Antropologia resultou na abordagem da distinção do saber cientifico e filosófico,
porém sua prática acontecerá somente quando seu objeto de estudo passa a ser
indivíduos de uma época e cultura estudados por outro indivíduo; e sua independência
acontece apenas no evolucionismo, pois o discurso da época estava ligado ao seu
momento histórico natural, rumo ao progresso.
• Até o século XVI, a humanidade era vista como selvagem. No século XVIII, a
humanidade passa a ser iluminada pelos pensamentos filosóficos. Mas somente no
século XIX, que a antropologia surge para estudar as sociedades primitivas em
diversos aspectos: biológico, técnico, econômico, político, religiosos, linguístico,
psicológico, ... Tal surgimento foi motivado pela Revolução Industrial Inglesa e a
Revolução Política Francesa, que representaram uma ruptura nunca antes vista.
Também são notórias as conquistas coloniais, em especial pelo Tratado de Berlim,
que define a partilha da África entre países europeus.
• A antropologia moderna se constitui na emigração europeia à África, Índia,
Austrália e Nova Zelândia, quando pesquisadores metropolitanos, destaque para Grã-
Bretanha, enviam questionários para todo o mundo. O indígena não europeu passa de
selvagem para primitivo, ancestral do civilizado. Logo, a antropologia é o
conhecimento do primitivo, conhecimento da nossa origem, das formas simples de
organização social e mentalidades. Considera-se evolucionista, visto que a espécie
humana é idêntica, por outro lado as populações se desenvolvem em ritmos desiguais,
mas as etapas de evolução são as mesmas e levam a civilização. Dessa forma, convém
determinar a sequência de estágios dessa evolução.
• Essa antropologia, com pretensão cientifica, atenta as populações mais arcaicas do
mundo- aborígenes australianos-, ao parentesco- evidenciam o sistema de filiação
matrilinear sobre o sistema patrilinear- e a religião- mitos, magia, crença, superstição.
As últimas são as duas vias de acesso privilegiado ao conhecimento das sociedades
orientais, que permanecem até a atualidade. Todos os antropólogos da época são
antirreligiosos, Frazer considera magia, religião e ciência um processo universal e
sucessório, as crenças primitivas são a origem das sobrevivências dos civilizados, a
magia seria o controle ilusório da natureza e um obstáculo à razão, sendo a magia
uma potência que dará lugar a ciência que executará seus objetivos.
• As críticas envolvem a importância do atraso das sociedades que deveriam buscar o
progresso técnico e econômico do Ocidente, considerando a produção econômica,
religião monoteísta, propriedade privada, família monogâmica e moral vitoriana; e o
pesquisador definindo seu objeto de pesquisa através das sociedades primitivas e as
vantagens da sua civilização.
• A antropologia evolucionista julga possível extrair leis universais do
desenvolvimento da humanidade, parecendo ser cientifica, mas na verdade é
filosófica fundamentada numa enorme documentação. Há interesse em compreender
todas as culturas, inclusive as longínquas e desconhecidas, no tempo e espaço mais
longo possível. Os estudos em particular de tais sociedade aparecerem
posteriormente.
• No século XIX, surgem as primeiras sociedades científicas de etnografia, as
primeiras cadeiras universitárias e os museus. Período marcado pelo intenso trabalho
dos antropólogos, pela problemática da universalidade e diversidade das técnicas,
instituições, comportamentos e crenças, considerando as distancias espaciais e
temporais das populações. Extrai-se a hipótese da unidade da espécie humana. Com
Morgan, o objeto da antropologia passa a ser a análise dos processos de evolução de
ligações entre relações sociais, políticas, ... que constituem características de um
determinado período da história humana. As sociedades arcaicas passam a ser
integradas na humanidade. A história adquire bases materiais e não só escritas. Os
elementos de análise comparativa são redes de interação formando sistemas e não
mais costumes bizarros. Até então, o conhecimento cientifico se constitui numa teoria
que lhe serve de paradigma.
No século XX, a repartição das tarefas entre observador e pesquisador erudito chega
ao fim. Surge então a etnografia, quando o pesquisador efetua no campo sua própria
pesquisa, sendo essa observação direta parte da pesquisa. O objeto de pesquisa passa
de informador para mestre, o pesquisador passa a ser um deles, assim o trabalho de
campo é a fonte da pesquisa.
Franz Boas (1858-1942), americano de origem alemã, homem do campo que
estudou detalhadamente o campo: casas, cantorias, as versões de um mito ou receita.
Para ele, o costume deve estar relacionado ao seu contexto e isso só pode ser feito
pelo antropólogo, detectando a unidade dessa cultura. Assim, todos os objetos são
dignos da ciência, com ênfase para o acesso a língua. Ficou pouco conhecido, visto
que não publicou livros nem formulou teses. Reconhecido como professor dos
primeiros antropólogos.
Bronislaw Malinowski (1884-1942), inglês de origem polonesa, um dos primeiros
a viver com as populações que estudava. Penetrou na mentalidade, compreendeu o
sentimento dos pertencentes daquela cultura, com apenas um costume/objeto traçou o
perfil do conjunto daquela sociedade. Para ele, uma sociedade deve ser estuada na sua
totalidade, como é observada, perguntando o que é uma sociedade em si mesma, sua
viabilidade para os constituintes, observando-a hoje através das interações do
passado. Sua teoria, o funcionalismo, afirma que partindo das necessidades do
individuo cada cultura encontra maneiras para satisfaze-las. Há preocupação em
estudar o homem biologicamente, socialmente e psicologicamente, não apenas
analisando e sim revivendo. Sua imagem era controversa, pois contrariava os
antropólogos da época que consideravam as civilizações primitivas aberrações, para
ele as civilizações industriais eram aberrações; e ao elaborar uma teoria rígida, onde
as sociedades primitivas eram estáveis e sem conflitos, relacionando ao
funcionalismo, não explicando as mudanças sociais. Cria as leis cientificas da
sociedade. Seu legado é expresso através da observação participante; o social
deixando de ser anedota, curiosidade, descrição ou coleção, se observa fatos
minúsculos para alcançar todas as dimensões do homem na totalidade da cultura; e a
restituição da existência desses povos, agregando sensibilidade artística ao projeto
cientifico.
A escola francesa de sociologia buscava autonomia na elaboração cientifica, quadro
teórico, conceitos e modelos próprios da investigação social.
Durkheim considera necessário investigar as sociedades considerando os materiais
recolhidos nas sociedades primitivas. Preocupava-se em emancipar a sociologia das
outras áreas de estudo do homem, como a psicologia. Os fatos sociais só podiam ser
explicados por outros fatos sociais. Teve maior influencia no seu país e na Inglaterra.
Marcel Mauss (1872-1950), sobrinho do anterior, concorda com a autonomia do
social, mas exige um estatuto e a pluridisciplinaridade. Luta pelo reconhecimento da
antropologia como uma ciência verdadeira e não uma disciplina anexa. Forjou o
conceito de fenômeno social total, integrando diferentes aspectos de uma realidade
social que devem ser apreendidos integralmente. Os fenômenos sociais também
podem ser fisiológicos e psicológicos. Para compreender um fenômeno social
devemos apreende-lo totalmente, por fora e por dentro, vendo e vivenciando. Já que o
objeto e o sujeito são da mesma natureza, o sujeito vive nele mesmo as experiencias
do estudo. Aproximou-se de Malinowski.
Citações diretas
“[...] as disparidades culturais entre os grupos humanos não eram de forma alguma a
consequência de predisposições congênitas, mas apenas o resultado se situações
técnicas e econômicas. Assim, uma das características principais do evolucionismo
[...] é o seu antirracismo.” (p.54)