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A CONTRIBUIÇÃO DAS CÔLONIAS EUROPEIAS NO DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO GAÚCHO
Elis Cristina Zancan1

RESUMO: O presente artigo tem por finalidade analisar o processo de colonização no Rio
Grande do Sul durante os séculos XIX e XX, enfatizando a participação dos colonos no meio
agrário. Perante revisão bibliográfica de Éverton de Moraes Kozenieski, Vania Beatriz Merlotti
Herédia e outros, investigou-se o Programa de Colonização, a miscigenação entre os povos e a
transformação do território. Houve entendimento que muitos dos planos e contratos do período
foram burlados, que recaíram consequências prejudiciais sobre a comunidade indígena e que as
dinâmicas socioambientais foram afetadas tanto positivamente como negativamente. Dessa
maneira, após interpretar criticamente a formação histórico-geográfica do estado, houve
elucidação do presente, ancorando-se no passado, com ambição de um planejamento futuro
mais consciente.

PALAVRAS-CHAVE: Imigração. Rio Grande do Sul. Colonos. Agricultura.

1. INTRODUÇÃO

A colonização do estado do Rio Grande do Sul esteve diretamente relacionada com a


transformação do território. A partir dos séculos XIX e XX, os colonos modificaram as
paisagens sul-rio-grandenses motivados por interesses capitalistas, por meio da agricultura.
Sabe-se que para isso, o desmatamento foi recorrente, ocasionando a comercialização de
madeira. Vale ressaltar, segundo Kozenieski (2016) que foram conservadas áreas de mata para
proteção hídrica, proteção do gado e nutrição do solo. Depois o cultivo de grãos, frutas e
leguminosas foi gradativamente sendo incorporado, satisfazendo a expectativa dos estrangeiros.
Além de expectativas, eles possuíam uma capacidade formidável de suprir as necessidades da
colônia, o artesanato produzia mantimentos para a alimentação familiar, como a farinha de
milho, vinho e derivados do leite, e ferramentas para o trabalho, como o arado pequeno e a
enxada.
Para facilitar a compreensão, este estudo foi dividido em três partes. A primeira expõe
características e peculiaridades do Programa de Colonização, apresentando as motivações para a
imigração e os protagonistas deste acontecimento. A segunda apresenta a integração entre os
indígenas e os europeus, caracterizando os indígenas presentes no Rio Grande do Sul e as
respectivas relações entre estrangeiro e nativo. A terceira revela as transformações que
aconteceram no território após a chegada dos colonos através da pratica agrícola, explanando os
sucessivos sistemas agrícolas, os diversificados cultivos e a colaboração artesanal.

2. O RIO GRANDE DO SUL E A IMIGRAÇÃO

A história do Rio Grande do Sul, em sua porção de Mata Atlântica, se desenvolveu


através da imigração e da agricultura. A Política de Colonização (séculos XIX-XX) é
consequência direta da Lei de Terras (1850) e da Lei Áurea (1888), ocasionando
desenvolvimento econômico, crescimento demográfico e miscigenação. Segundo Herédia
(2019, p. 172), os colonos “[...] não eram apenas agricultores; muitos entre eles eram
1
Graduanda do 1º semestre do curso de Geografia-licenciatura da Universidade
Federal da Fronteira Sul. CCR: Produção textual Acadêmica. eliscristina2015rs@hotmail.com
camponeses e artesãos e traziam experiências técnicas na sua bagagem de trabalho.” A autora
enfatiza a iniciativa do imigrante em suprir as necessidades do meio, visto que, o artesanato
servia de suporte para a atividade agrícola, abastecendo-a de utensílios e ferramentas.
Para Kozenieski (2016), as serrarias se sobressaíram no período, pois o
desflorestamento era necessário para gerar áreas produtivas. A madeira, principal produto
agrícola, era destinada às moradias, pontes, galpões, barris de vinho, ou seja, na colônia tudo
girava em torno da agricultura. Complementando, Herédia (2019, p. 185) afirma que “As
[indústrias] dinâmicas são as formadas por empresas metalúrgicas, mecânicas, químicas,
farmacêuticas e outras.” Dessa forma, a história sul-rio-grandense pode ser estuda através das
modificações realizadas pelos colonos no espaço, por meio ou em razão da agricultura. Em
suma, une-se história, espaço e sociedade em prol do conhecimento.

Imagem 1- Família de imigrantes, em Ijuí- RS

Fonte: PRATI, André. Ijuí- Família de Imigrantes- Roda Moinho- início século XX. Publicada em: 09
ago. 2018. Disponível em: https://prati.com.br/ijui/ijui-familia-de-imigrantes-roda-moinho-inicio-seculo-
xx.html. Acesso em: 02 out. 2021.

3. O PROGRAMA DE COLONIZAÇÃO

Em 1808, a vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil, até então sua colônia, alterou a
trajetória do país. Um relevante marco é o Programa de Colonização Walkerfield, o qual inicia a
imigração de europeus em território brasileiro. Como já vinha acontecendo antes, mas agora
como maior ênfase, a desigualdade do desenvolvimento de cada região do país é notável. O
estado de São Paulo, em razão da proximidade à capital Rio de Janeiro, teve maior visibilidade
dos imigrantes, que desenvolveram importante participação nas lavouras de café, como
empregados remunerados. Já no Rio Grande do Sul, o Sistema de Colonato foi adotado, nele
havia a fragmentação de uma grande área de terra, a colônia, que favorecia indivíduos de baixa
renda vindos do exterior, os colonos. (HERÉDIA, 2001).
Em relação a finalidade da colonização no Rio Grande do Sul, os governantes tinham
como principal propósito a ocupação e defesa do território. Segundo Kozenieski (2016, p.135-
136), a demarcação das fronteiras do norte-nordeste aconteceu em dois momentos:

Na primeira, caracterizada como fronteira demográfica, coloca-se o


“civilizado” frente ao “selvagem”, [...] Trata-se, diga-se de passagem, da
primeira desterritorialização da população indígena [...]
A segunda fronteira é caracterizada por seus objetivos econômicos. Tem
como marco inicial o final do século XIX e início do século XX,
estabelecendo-se em conformidade com o avanço da ocupação das terras por
colonos. [...] aqueles considerados atrasados pelas forças modernizadoras,
como os indígenas, nesse momento [encontravam-se] aldeados [...]

Outro interesse, estava na substituição da mão de obra escrava e no branqueamento da


raça brasileira. O Movimento Abolicionista estava em pleno curso, assim as concepções acerca
da raça ainda eram primitivas. Por esse motivo, a maioria dos europeus eram vindos da
Alemanha e da Itália, ou seja, indivíduos de pele branca, cabelos loiros/castanhos claro e olhos
azuis/verdes. Além da cor, a mão de obra familiar livre era perfeita para a situação histórica, na
qual a escravidão aos poucos se acabara. Dessa forma, surge uma classe social entre o senhor de
terras e o escravo, que inicia a prática do assalariamento, o que mais tarde resultará nas
dinâmicas urbanas de empregabilidade. (HERÉDIA, 2001).
Outro objetivo desse processo estava no desenvolvimento econômico, através da
agricultura. Como meio de comprovação, ao chegar na colônia eram entregues para cada
família: 4.000 m de arame farpado, 14 vacas, 1 touro, 4 bois, 2 cavalos, 1 carroça, 1 grade,
ferramentas, entre outros. (KOZENIESKI, 2016). Esses elementos marcaram a paisagem da
região, influências essas que podem ser vistas atualmente. Diferente da região do Pampa
Gaúcho, que conta com cercas de pedra, os colonos construíram cercas de arame farpado para
resguardar seus animais. Quanto aos animais, tinham o intento de suprir as necessidades
alimentares familiares e o excedente era comercializado, com o leite, o queijo, a manteiga e a
carne bovina. Já os implementos agrícolas eram responsáveis pela renda, que aos poucos
pagaria a área de terra comprada.
Em 1848, cada província brasileira recebeu 36 léguas quadradas de terras do Governo
Geral para fins de colonização, respeitando as sesmarias 2. As terras devolutas, como foram
denominadas, inicialmente eram para ser gratuitas, mas passaram a valer no mínimo trezentos
mil réis (300$000). (HERÉDIA, 2001). A explicação para essa mudança é o sistema capitalista
que começava a vigorar, todos os interesses estavam em torno da obtenção de lucro e
desenvolvimento econômico. Segundo estimativa aproximada, a conversão de réis para reais
obedece a relação 1$ para R$0,123, assim o menor valor para comprar uma área de terra era de
R$36.900,00.
Em relação as dimensões da área comprada, ela teve variações significativas, sendo
maior no início da colonização e progressivamente diminuiu até a menor área registrada.
Segundo Kozenieske (2016, p.166), “Os imigrantes, denominados de colonos, foram assentados
majoritariamente em pequenas propriedades rurais, as quais apresentavam na microrregião [de
Erechim] dimensões que variam de 12,5 a 250 hectares.” Comparando essas informações com a
predominância de alemães no início da colonização e italianos no final, pode-se identificar uma
desigualdade até mesmo entre os colonos. Segundo Herédia (2001, p.7-8),

[...] o governo de 1859 a 1875 registra o número de 12.563 estrangeiros


entrados na Província, das seguintes nacionalidades: alemães (8.312),
austríacos (1.452), italianos (729), franceses (648), suíços (263) e outros
(105). [...] Entre 1875 e 1914, a estimativa oficial de imigrantes italianos,
entrados no Rio Grande do Sul, era de 84.000.

O pagamento da área de terra podia ser à vista ou a prazo em 5 prestações iguais,


cobradas a partir do segundo ano de estadia, com acréscimo de 20%. Se o pagamento fosse
adiantado havia abate de 6% do valor, por outro lado, se em dois anos o colono não
estabelecesse moradia e cultura agrícola ele perdia o lote. Quanto ao registro das terras, como
também registro de casamentos, nascimentos e óbitos, o vigário tinha essa responsabilidade com
sua freguesia, na ocasião das missas. (HERÉDIA, 2001). Dessa forma, percebe-se a
proximidade dos colonos com a religião católica, herança trazida de sua terra-natal. Logo, o
padre era considerado uma autoridade e o governo tinha apenas intenções lucrativas, sem
aproximação direta.
Outro ponto fundamental, são os agentes da imigração. No início, a colonização era
realizada pelo governo provincial, até o momento que houve necessidade de contratar empresas
particulares, como a Companhia Caetano Pinto e Irmãos e a Holtzwissig e Cia., porém essas não
cumpriram com as exigências, por isso, representantes contratados pela Província
desenvolveram o papel de agentes da imigração, são exemplos José Antônio Rodrigues Rasteiro
e Coronel Antônio José da Silva Guimarães, sendo seu sucessor Lourenço Alencastro

2
Sesmarias foi um sistema adotado no Brasil entre 1530 e 1822, onde terrenos
abandonados pertencentes a Portugal eram entregues para ocupação e cultivo agrícola.
Guimarães. Já no século XX, o governo local firmou convênio com a União, o que pouco se viu
resultados, pois o Presidente da Província Borges de Medeiros 3 concluiu que o número de
imigrantes estava elevado, uma vez que 1/3 da população se encontrava no meio rural, e a
imigração se encaminhou para o final. (HERÉDIA, 2001)

4. A RELÇÃO ENTRE COLONOS E INDÍGENAS

Seguramente dizer que o território brasileiro em sua origem foi habitado por indígenas é
algo inquestionável. Porém, generalizar as etnias indígenas é um grande equívoco. Segundo
Kozenieski (2016), a presença de dois grupos éticos foi registrada na área de posterior
colonização: os Coroados (Kaingangs) e os Guaranis. Em relação as suas particularidades, os
kaingangs “Estabeleciam-se nos pontos mais elevados, preferindo a visibilidade para enfrentar
inimigos do que a proximidade das nascentes de água.” (KOZENIESKI apud MARINI, 2016,
p.128). quanto aos guaranis “Os bens e excedentes de produção seguiam a lógica da econômica
da reciprocidade, motivando festejos e a distribuição de produtos, sob a perspectiva de dar e
receber dons gratuitamente.” (KOZENIESKI, 2016, p.127).
Diferentemente do que foi visto no Programa de Colonização, Bringmann (2009) afirma
que nem todas as terras destinadas à colonização eram devolutas, algumas consistiam em
território Kaingang, o qual foi bravamente defendido das tribos Guarani e Xokleng. Para
estabelecer as colônias foi preciso aldear os indígenas, algo complexo, visto que, as Missões
Jesuíticas já tinham fracassado na tentativa de remoldar os costumes indígenas.
Complementando Kozenieski (2016, p.130) afirma que “Entre 1848 e 1850 foram implantados
no Rio Grande do Sul três aldeamentos: Guarita, Nonohay e Campo do Meio.” De tal modo,
constata-se que houve irregularidades frente ao plano inicial de imigração, no qual o indígena
teve seu território suprimido.
Com a chegada dos primeiros colonos alemães em 1824, houve uma divisão dos
indígenas em dois grupos, partindo dos interesses do imigrante. Os índios bravos foram aqueles
tratados com rigidez e até mesmo exterminados, enquanto aos índios mansos foram convencidos
e partindo disso houve negociações e relações comerciais. A partir de 1828, eram comuns os
assaltos praticados por índios bravos nas colônias, seguidos por homicídios, fazendo-se
necessários os bugreiros, caboclos ou indígenas de outras partes do país armados e experientes
na mata. Em contrapartida, as lideranças dos índios mansos ajudaram no aldeamento e no
aprisionamento/extermínio dos índios bravos, prática essa conhecida por Colaboracionismo.
(BRINGMANN, 2009).
Durante a integração desses povos, houve a fricção interétnica, ou seja, ocorreu uma
transmutação de valores e ideais, que ocasionou a interdependência dos envolvidos. Como
exemplo, a terra para os indígenas era um mosaico de recursos, para os alemães um recurso
lucrativo. Todavia, vale relembrar que o indígena foi convencido a seguir os costumes europeus
e não o oposto, logo há uma fragmentação do identitário em prol da colonização. Assim, o
objetivo consistia em estabilizar a fronteira sociedade nacional-indígena, transformando a
mentalidade do nativo e tornando-o um cidadão produtivo, iniciativa esta que deprecia a cultura
indígena. (BRINGMANN, 2009)

3
Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) foi presidente do Rio Grande do Sul
durante a República Velha, por 5 mandatos que resultam em 25 anos e 5 meses à frente do
governo. Tem seu nome relacionado a defesa de valores positivistas.
5. O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

No decorrer dos séculos, o conceito de espaço e a sua existência física estiveram em


constante discussão. Por vezes, houve maior valorização das mudanças temporais,
transformando o espaço em palco, substrato ou ponto de fixação de exclusividade humana.
Contudo, sabe-se atualmente que o espaço é um processo ainda em curso, composto de estórias
vividas até o agora. (ARANHA, 2019). No caso do território sul-rio-grandense, compreende-se
que as transformações efetivas no espaço aconteceram após a chegada dos europeus, como
exposto anteriormente no Programa de Colonização. Considerando o sistema capitalista em
vigência, essas modificações tinham como finalidade o desenvolvimento econômico, realizado
por meio agropecuário, pois quando chegavam os colonos recebiam animais e equipamentos
para o plantio agrícola.
Para melhor analisar os desdobramentos da agricultura colonial, os diferentes modos de
uso da terra são divididos em sistemas. O primeiro deles consiste no desflorestamento de uma
parte do lote e implementação de uma cultura agrícola, após a colheita outra parte do lote é
desflorestada e a área de exploração se torna cada vez maior, o que se define como Sistema de
Rotação de Terras Primitivas. Em seguida, temos o Sistema de Rotação de Terras Melhoradas,
no qual o desmatamento cessa, a área produtiva se estabiliza, surgem os moinhos e há
comunicação/comercialização com a capital Porto Alegre, motivada pela construção de
estradas. Por último, o Sistema de Rotação de Terras Combinada com a Criação de Gado
introduz os bovinos como meio de tração animal e adubação do solo, sem contar com o cultivo
diversificado de leguminosas e o advento da eletricidade e das fábricas. (KOZENIESKI, 2016).
Os imigrantes buscavam no Rio Grande do Sul uma realidade melhor que a europeia, a
qual foi encontrada. As condições para a agricultura eram favoráveis, terra fértil e água
abundante, que proporcionavam colheitas fartas, diferente do cenário de fome, desemprego e
miséria que assolava a Europa. (HERÉDIA, 2001). Os principais produtos agrícolas do período
colonial foram, respectivamente, a madeira, a erva-mate e a banha. Através deles, a
infraestrutura arquitetônica da região destaca-se pela presença de serrarias, que manipulavam a
madeira, e de moinhos, que transformavam grãos em alimento para os porcos, dos quais se
retira a banha. Em relação a erva-mate, teve importância na exportação para países vizinhos,
como Uruguai e Argentina. (KOZENIESKI,2016).
Neste período, um alimento se sobressaiu, por estar presenta nas três refeições diárias do
colono, o milho, sendo a polenta uma tradição italiana. Eram realizadas de seis a dez safras de
milho, enquanto o solo descansava por dois ou três anos encoberto pela capoeira. Em setembro,
acontecia a queimada da capoeira, a primeira safra era de milho entre outubro e maio, e a
segunda safra de trigo entre junho e dezembro. A rotação de terras foi uma prática introduzida
em solo gaúcho, algo que não era comum na Europa. Outras adequações aconteceram após anos
de cultivo, devido a infertilidade da terra. Houve a introdução do centeio, cevada, feijão, batata-
doce, cana e mandioca, como cultivos de verão, e no inverno o arroz e trigo. Além do plantio de
frutas tropicais, a exemplo da uva, maçã, pera e marmelo. (HERÉDIA, 2001).
Em relação a destinação de cada parte do lote para as necessidades do colono, “Em
geral, os lotes médios coloniais apresentavam uma superfície média de 25 hectares, [...]. O lote
era aproveitado em parreiral (2 hectares), potreiro (4 hectares), lavoura em rotação de terras (19
hectares), cultivo (3 hectares).” (HERÉDIA, 2001, p. 12). Conclui-se, que o imigrante possuía
iniciativa de desenvolver as atividades necessárias para suprir suas necessidades, porém alguns
se especializavam em uma área especifica e prestavam serviços para os demais. Como
explicação, “O isolamento geográfico das colônias fundadas na época forçou o advento da
pequena indústria.” (HERÉDIA, 2019, p.173).
O artesanato serviu de suporte para a agricultura, estimulando a mecânica, metalurgia e
produção alimentícia, com destaque para as vinícolas. Para exemplificação, a metalurgia
produziu componentes para montaria, talheres, cuias e bombas, cintos, camas, fogões, objetos
de cutelaria, troféus, munições, bombas e motores elétricos. Observando tamanha importância
do artesanato, o presidente Borges de Medeiros ofereceu investimentos para aperfeiçoamento
das técnicas, a Estação Agronômica Experimental- Porto Alegre é exemplo disso, atuante na
qualificação do vinho. Outros contribuintes foram a importação de maquinário da terra-natal do
imigrante, havendo ampliação após a Primeira Guerra Mundial e a municipalização das
colônias, contando como a construção de linhas telegráficas e ampliação das ferrovias. Ressalta-
se nesse período, um legado presente até os dias atuais, a presença de aprendizes nas fabricas,
conhecidos agora como menores-aprendizes. (HERÉDIA, 2019)
Relacionando a interação que existia entre colonos e comerciantes, observa-se uma
diferença significativa no capital acumulado por eles. O capital 467% maior do comerciante
proporcionou-o a chance de mais tarde investir nas fabricas. Já os colonos, metade estavam em
situação moderada e a outra metade dividia-se entre pobres e ricos. Devido a isso, como
também pela partilha das terras em herdeiros, ocorreu o declínio das colônias, resultando em
ondas migratórias para o oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná e o Movimento Sem-
Terra. (KOZENIESKI, 2016).

Imagem 2- Moinho Colonial Cavichion, em Gramado- RS.

Fonte: TripAdvisor LLC. Moinho Colonial Cavichion. Publicado em: ago. 2013. Disponível em:
https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303536-d6819021-i104591470-
Moinho_Colonial_Cavichion-Gramado_State_of_Rio_Grande_do_Sul.html. Acesso em: 02 out. 2021.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os autores citados, a imigração europeia no Rio Grande do Sul consistiu
na ocupação e defesa do território, disponibilidade de mão de obra familiar de indivíduos
brancos e desenvolvimento econômico agrícola. Com a invasão de área indígenas, percebeu-se
interesses capitalistas vindos dos agentes de colonização, sejam eles da Província, de empresas
particulares ou da União. Neste contexto, há destaque para o aldeamento, o Colaboracionismo e
a fricção interétnica. Após ocupado o território, as modificações espaciais são nítidas, as quais
seguem cronologicamente: o Sistema de Rotação de Terras Primitivas, Sistema de Rotação de
Terras Melhoradas e Sistema de Rotação de Culturas Combinada com a Criação de Gado.
Além disso, temos contribuições arquitetônicas recorrentes da extração de madeira e da
manipulação do milho para alimentação dos porcos, os quais forneciam banha. O trabalho
artesanal foi outro destaque, pois auxiliou no cultivo de produtos agrícolas. As modernizações
do último século também contribuíram, como a eletricidade. Mais tarde, as oficinas artesanais
tornaram-se industrias, principalmente porque o capital estava concentrado no domínio do
comerciante. Em compensação, os colonos tiveram diferentes destinos, alguns permaneceram
nos seus lotes mesmo depois do término das colônias, já outros se obrigaram a imigrar para
estados vizinhos.
Aproximando os fatos históricos com a realidade, as irregularidades do Programa de
Colonização e da apropriação do território, como também as implicações ambientais, sociais e
econômicas da prática agrícola, são aspectos que exigem nossa atenção. Primeiramente, a venda
das terras é algo contestável, pois o governo aproveitou a situação caótica da Europa para suprir
sua demanda, por isso deveria ofertar os lotes e não os vender. Em seguida, o descompromisso
com os acordos firmados resultou na lentidão da ocupação, sendo preciso várias tentativas até a
efetiva povoação. A invasão do território indígena, desrespeitando o Programa que previa a
ocupação de terras devolutas, resultou no extermínio de nativos, diminuição do seu território de
influência e dispersão do identitário local.
A agricultura, área de trabalho do colono, teve papel decisivo nos rumos que a
sociedade gaúcha percorreu. A retirada de floresta transformando o solo propício para cultivo,
acarretando desequilíbrios ambientais, como temperaturas elevadas e escassez de chuva. Por
outro lado, a sociedade e a economia obtiveram resultados positivos. É notável como os
imigrantes influenciaram seus descendentes há permanecer no meio rural, apesar do intenso
êxodo rural dos últimos anos. A economia permanece, em nível nacional, destacada pela
produção de alimentos e geração de emprego.
REFERÊNCIAS

ARANHA, Lorena Marinho. Estórias pelo/sobre/no espaço: A produção geográfica como


processo em composição. Experimentações, Rio de Janeiro, v.9, n. especial, p.61-66, 16 out.
2019. DOI: https://doi.org/10.22409/geograficidade2019.90.a27294. Disponível em:
file:///C:/Users/User/Downloads/27294-Texto%20do%20Artigo-129106-1-10-20191016.pdf.
Acesso em: 24 ago. 2021.

BRINGMANN, Sandor Fernando. Kaingang vs. colonos: Um fenômeno de fronteiras étnico-


geográficas no Rio Grande do Sul do século XIX. Histórica: Revista on line do Arquivo
Público do Estado de São Paulo, São Paulo, n.35, pag.18- 29, abr. 2009. Disponível em:
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/assets/publicacao/anexo/historica35.pdf#page=18.
Acesso em: 06 set. 2021.

HERÉDIA, Vania. A imigração Européia do século passado: O programa de colonização no Rio


Grande do Sul. Scripta Nova: Revista Electrónica de Geografia y Ciencias Sociales.
Barcelona, n. 94 (10), 01 ago. 2001. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/sn-94-10.htm.
Acesso em: 06 set. 2021.

HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti. A industrialização e a imigração europeia no Sul do Brasil.


In: CURI, Alcides Beretta. Artesanos de dos mundos: diálogos y problemas de investigación.
Montevideo: Faculdad de Humanidades y Ciencias de la Educación, Universidad de la
República, 2019. p.171- 187.

KOZENIESKI, Éverton de Moraes. Espaço e tempo: A ocupação do rural na microrregião de


Erechim. In: KOZENIESKI, Éverton de Moraes. A produção do espaço rural: transformações
das dinâmicas produtivas e da agricultura na microrregião de Erechim. Porto Alegre, 2016. Tese
(Doutorado em geografia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. cap.5. p.115-170.
Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/151330. Acesso em: 06 set. 2021.

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