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ECONÔMICO GAÚCHO
Elis Cristina Zancan1
RESUMO: O presente artigo tem por finalidade analisar o processo de colonização no Rio
Grande do Sul durante os séculos XIX e XX, enfatizando a participação dos colonos no meio
agrário. Perante revisão bibliográfica de Éverton de Moraes Kozenieski, Vania Beatriz Merlotti
Herédia e outros, investigou-se o Programa de Colonização, a miscigenação entre os povos e a
transformação do território. Houve entendimento que muitos dos planos e contratos do período
foram burlados, que recaíram consequências prejudiciais sobre a comunidade indígena e que as
dinâmicas socioambientais foram afetadas tanto positivamente como negativamente. Dessa
maneira, após interpretar criticamente a formação histórico-geográfica do estado, houve
elucidação do presente, ancorando-se no passado, com ambição de um planejamento futuro
mais consciente.
1. INTRODUÇÃO
Fonte: PRATI, André. Ijuí- Família de Imigrantes- Roda Moinho- início século XX. Publicada em: 09
ago. 2018. Disponível em: https://prati.com.br/ijui/ijui-familia-de-imigrantes-roda-moinho-inicio-seculo-
xx.html. Acesso em: 02 out. 2021.
3. O PROGRAMA DE COLONIZAÇÃO
Em 1808, a vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil, até então sua colônia, alterou a
trajetória do país. Um relevante marco é o Programa de Colonização Walkerfield, o qual inicia a
imigração de europeus em território brasileiro. Como já vinha acontecendo antes, mas agora
como maior ênfase, a desigualdade do desenvolvimento de cada região do país é notável. O
estado de São Paulo, em razão da proximidade à capital Rio de Janeiro, teve maior visibilidade
dos imigrantes, que desenvolveram importante participação nas lavouras de café, como
empregados remunerados. Já no Rio Grande do Sul, o Sistema de Colonato foi adotado, nele
havia a fragmentação de uma grande área de terra, a colônia, que favorecia indivíduos de baixa
renda vindos do exterior, os colonos. (HERÉDIA, 2001).
Em relação a finalidade da colonização no Rio Grande do Sul, os governantes tinham
como principal propósito a ocupação e defesa do território. Segundo Kozenieski (2016, p.135-
136), a demarcação das fronteiras do norte-nordeste aconteceu em dois momentos:
2
Sesmarias foi um sistema adotado no Brasil entre 1530 e 1822, onde terrenos
abandonados pertencentes a Portugal eram entregues para ocupação e cultivo agrícola.
Guimarães. Já no século XX, o governo local firmou convênio com a União, o que pouco se viu
resultados, pois o Presidente da Província Borges de Medeiros 3 concluiu que o número de
imigrantes estava elevado, uma vez que 1/3 da população se encontrava no meio rural, e a
imigração se encaminhou para o final. (HERÉDIA, 2001)
Seguramente dizer que o território brasileiro em sua origem foi habitado por indígenas é
algo inquestionável. Porém, generalizar as etnias indígenas é um grande equívoco. Segundo
Kozenieski (2016), a presença de dois grupos éticos foi registrada na área de posterior
colonização: os Coroados (Kaingangs) e os Guaranis. Em relação as suas particularidades, os
kaingangs “Estabeleciam-se nos pontos mais elevados, preferindo a visibilidade para enfrentar
inimigos do que a proximidade das nascentes de água.” (KOZENIESKI apud MARINI, 2016,
p.128). quanto aos guaranis “Os bens e excedentes de produção seguiam a lógica da econômica
da reciprocidade, motivando festejos e a distribuição de produtos, sob a perspectiva de dar e
receber dons gratuitamente.” (KOZENIESKI, 2016, p.127).
Diferentemente do que foi visto no Programa de Colonização, Bringmann (2009) afirma
que nem todas as terras destinadas à colonização eram devolutas, algumas consistiam em
território Kaingang, o qual foi bravamente defendido das tribos Guarani e Xokleng. Para
estabelecer as colônias foi preciso aldear os indígenas, algo complexo, visto que, as Missões
Jesuíticas já tinham fracassado na tentativa de remoldar os costumes indígenas.
Complementando Kozenieski (2016, p.130) afirma que “Entre 1848 e 1850 foram implantados
no Rio Grande do Sul três aldeamentos: Guarita, Nonohay e Campo do Meio.” De tal modo,
constata-se que houve irregularidades frente ao plano inicial de imigração, no qual o indígena
teve seu território suprimido.
Com a chegada dos primeiros colonos alemães em 1824, houve uma divisão dos
indígenas em dois grupos, partindo dos interesses do imigrante. Os índios bravos foram aqueles
tratados com rigidez e até mesmo exterminados, enquanto aos índios mansos foram convencidos
e partindo disso houve negociações e relações comerciais. A partir de 1828, eram comuns os
assaltos praticados por índios bravos nas colônias, seguidos por homicídios, fazendo-se
necessários os bugreiros, caboclos ou indígenas de outras partes do país armados e experientes
na mata. Em contrapartida, as lideranças dos índios mansos ajudaram no aldeamento e no
aprisionamento/extermínio dos índios bravos, prática essa conhecida por Colaboracionismo.
(BRINGMANN, 2009).
Durante a integração desses povos, houve a fricção interétnica, ou seja, ocorreu uma
transmutação de valores e ideais, que ocasionou a interdependência dos envolvidos. Como
exemplo, a terra para os indígenas era um mosaico de recursos, para os alemães um recurso
lucrativo. Todavia, vale relembrar que o indígena foi convencido a seguir os costumes europeus
e não o oposto, logo há uma fragmentação do identitário em prol da colonização. Assim, o
objetivo consistia em estabilizar a fronteira sociedade nacional-indígena, transformando a
mentalidade do nativo e tornando-o um cidadão produtivo, iniciativa esta que deprecia a cultura
indígena. (BRINGMANN, 2009)
3
Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) foi presidente do Rio Grande do Sul
durante a República Velha, por 5 mandatos que resultam em 25 anos e 5 meses à frente do
governo. Tem seu nome relacionado a defesa de valores positivistas.
5. O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Fonte: TripAdvisor LLC. Moinho Colonial Cavichion. Publicado em: ago. 2013. Disponível em:
https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303536-d6819021-i104591470-
Moinho_Colonial_Cavichion-Gramado_State_of_Rio_Grande_do_Sul.html. Acesso em: 02 out. 2021.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os autores citados, a imigração europeia no Rio Grande do Sul consistiu
na ocupação e defesa do território, disponibilidade de mão de obra familiar de indivíduos
brancos e desenvolvimento econômico agrícola. Com a invasão de área indígenas, percebeu-se
interesses capitalistas vindos dos agentes de colonização, sejam eles da Província, de empresas
particulares ou da União. Neste contexto, há destaque para o aldeamento, o Colaboracionismo e
a fricção interétnica. Após ocupado o território, as modificações espaciais são nítidas, as quais
seguem cronologicamente: o Sistema de Rotação de Terras Primitivas, Sistema de Rotação de
Terras Melhoradas e Sistema de Rotação de Culturas Combinada com a Criação de Gado.
Além disso, temos contribuições arquitetônicas recorrentes da extração de madeira e da
manipulação do milho para alimentação dos porcos, os quais forneciam banha. O trabalho
artesanal foi outro destaque, pois auxiliou no cultivo de produtos agrícolas. As modernizações
do último século também contribuíram, como a eletricidade. Mais tarde, as oficinas artesanais
tornaram-se industrias, principalmente porque o capital estava concentrado no domínio do
comerciante. Em compensação, os colonos tiveram diferentes destinos, alguns permaneceram
nos seus lotes mesmo depois do término das colônias, já outros se obrigaram a imigrar para
estados vizinhos.
Aproximando os fatos históricos com a realidade, as irregularidades do Programa de
Colonização e da apropriação do território, como também as implicações ambientais, sociais e
econômicas da prática agrícola, são aspectos que exigem nossa atenção. Primeiramente, a venda
das terras é algo contestável, pois o governo aproveitou a situação caótica da Europa para suprir
sua demanda, por isso deveria ofertar os lotes e não os vender. Em seguida, o descompromisso
com os acordos firmados resultou na lentidão da ocupação, sendo preciso várias tentativas até a
efetiva povoação. A invasão do território indígena, desrespeitando o Programa que previa a
ocupação de terras devolutas, resultou no extermínio de nativos, diminuição do seu território de
influência e dispersão do identitário local.
A agricultura, área de trabalho do colono, teve papel decisivo nos rumos que a
sociedade gaúcha percorreu. A retirada de floresta transformando o solo propício para cultivo,
acarretando desequilíbrios ambientais, como temperaturas elevadas e escassez de chuva. Por
outro lado, a sociedade e a economia obtiveram resultados positivos. É notável como os
imigrantes influenciaram seus descendentes há permanecer no meio rural, apesar do intenso
êxodo rural dos últimos anos. A economia permanece, em nível nacional, destacada pela
produção de alimentos e geração de emprego.
REFERÊNCIAS