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A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO RIO GRANDE DO SUL

Aluna: BARBIERI FILIPPON, Diana Maria1


Professor Orientador: VICENTINI, Willian Roberto 2

RESUMO

O presente artigo é um estudo sobre a emigração da Itália para o Brasil no final do


século XIX e início do século XX em busca de trabalho e tem o objetivo de informar
às novas gerações sobre o que foi a epopeia imigratória. “Foi um fenômeno que
levou para o mundo milhões de italianos e europeus em busca de um futuro para
suas famílias, que mudou radicalmente a estrutura político-econômica da Europa e
do Brasil”. (MIAZZO, 2016, p. [01]). A viagem foi um processo penoso, degradante,
sem higiene ou dignidade. Contrariando os infortúnios, chegaram às colônias.
Contribuíram na agricultura e na indústria, levando o país a um alto nível de
desenvolvimento econômico e cultural. Desses agricultores, os que se empenharam
em novos empreendimentos, fundaram e desenvolveram empresas transformadas
em verdadeiros impérios da indústria. Muitas ainda em plena atividade, contribuindo
em impostos para o país até os dias de hoje. Sua vida era dura, pesada e ingrata. O
nome “imigrante” é sinônimo de trabalho e isto foi força motora para a sobrevivência
e continuidade dessa geração colonizadora. A religiosidade e musicalidade que unia
as famílias pioneiras foram arrimos para que não sucumbissem nos primeiros anos.
Mesmo sendo um ponto obscuro na história da Itália, o legado do imigrante é
imensurável, como o trabalho, a língua (talian), a culinária, a cultura e a fé. Aos
poucos, esta história está sendo resgatada e os descendentes de italianos vão
conhecendo melhor e reconhecendo sua história.

Palavras-chave: Imigrante. Italianos. Colônias. Desenvolvimento. Legado.

1 INTRODUÇÃO

Na Europa recentemente industrializada, cresciam os aglomerados urbanos e


os trabalhadores rurais não podiam introduzir melhorias nas práticas agrícolas. O
povo vivia em péssimas condições de higiene, em um ambiente cujas doenças como
a difteria e a pelagra se espalhavam sem piedade, acometendo adultos e crianças.

1
Diana Maria Barbieri Filippon, Graduanda Licenciatura em História – UNINTER – Polo Lajeado/RS,
RU 1577766.
2
Willian Roberto Vicentini - 51833
2

“As ofertas de trabalho eram inferiores à procura. As populações, longe dos campos,
perderam suas raízes e enfrentavam graves dificuldades.” (KARAM, 1992, p. 37).
Consequentemente, buscaram uma vida melhor nos países do novo mundo.
A Igreja católica e companhias de navegação faziam propaganda de lugares aonde
havia terras e trabalho, aproveitando para divulgar o catolicismo e angariar lucros
fáceis e assumiram o encargo do transporte e alojamento.

Autorizando as empresas a agenciarem os mesmos na Europa e direcioná-


los para as fazendas ou colônias, o governo acreditava que poderia
aumentar o fluxo imigratório para o Brasil. No Rio Grande do Sul, a empresa
privada contratada fora Caetano Pinto & Irmão e Holtzweissig & Cia.
(FACHIN, 2016, p. 9).

Pouco importava que a viagem se realizasse em condições penosas, sem as


mínimas condições de higiene ou humanidade. “A certeza de encontrar terras e
trabalho de qualquer modo, aprisionava os pobres incautos, muitos, artífices rurais a
quem a fábrica arruinou”. (KARAM 1992, p. 38).
O contingente anual de pessoas que emigraram foi uma consequência da
crise de 1845-48, da abolição da servidão na Europa central.
Grande parte desses imigrantes estabeleceu-se no Rio Grande do Sul, nas
Colônias de Conde d’Eu e Dona Isabel, hoje as cidades de Garibaldi e Bento
Gonçalves, respectivamente e após Caxias e Silveira Martins, esta denominada a
Quarta Colônia. Posteriormente, povoaram a colônia Alfredo Chaves. “A colônia de
Guaporé instalou-se oficialmente em 1892.” (BACCA; MAZZOTI, 2016 p. 30)
Estabelecidos nas colônias, iniciaram o desbravamento da mata, cultivaram
as terras com as sementes e mudas que haviam trazido da Itália. Não havia
assistência médica ou religiosa. O pouco material que receberam do governo,
deveria ser pago em cinco anos. No início o governo forneceu essas ferramentas,
mas no decorrer dos anos os colonos tiveram que fabricá-las. Os colonos com
habilidades para a metalurgia, funilaria e marcenaria fundaram empresas do ramo e
prosperaram conduzindo a região a um alto nível de desenvolvimento.
A religiosidade, a fé, o trabalho, a musicalidade e a língua, os mantiveram
unidos e perseverantes.
Nas décadas de 1940 a 1970, levaram esse trabalho e perseverança para
outros estados do Brasil, iniciando uma moderna saga colonizadora, conforme traz
Karam (1992, p. 62): “Para o centro-oeste de Santa Catarina o movimento iniciou na
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década de 1920 e se estendeu até 1940; para o oeste e centro-oeste do Paraná, em


busca de terras mais férteis, a debanda se efetivou entre 1940/1975”.
Também é mencionado conforme Bacca e Mazzoti (2016, p. 28): “Foi nas
décadas de 30 e de 40 que a maior parte dos descendentes dos primeiros
imigrantes, partindo de território gaúcho, se instalaram no meio-oeste e oeste
catarinense.”

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - IMIGRAÇÃO

O presente artigo teve origem na leitura do “Memórias da Linha 11” de Bacca


e Mazzoti (2016), e do livro “Raízes da Colonização” de Karam (1992), onde ambos
mencionam a lacuna que existe nos livros didáticos da Itália e também do Rio
Grande do Sul sobre a imigração Italiana. Conforme Bacca e Mazzoti (2016, p. 22),
a emigração na Itália foi propositalmente esquecida: “Por mais de um século a
História da emigração italiana, na Itália, ficou soterrada sob uma camada de tabus,
preconceitos e vergonha”. Karam (1992, p. 54), reforça esse entendimento
salientando que a Itália possuía “[...] uma política fiscal e comercial inadequada à
realidade”. Confirma-se esse esquecimento pela análise dos livros didáticos da Área
de Ciências Humanas do Ensino Fundamental e Médio e pelo fato de os
descendentes italianos mais jovens não conhecerem a sua história. Esses jovens
estão perdendo a identidade, principalmente com a língua.
Este artigo busca, aos poucos, resgatar e divulgar a luta, a força, o trabalho
desses colonizadores bem como valorizar seu legado.

2.1 A IMIGRAÇÃO COLONIZADORA

Entre anos de 1840 e 1880 a industrialização esvaziou os campos e inchou as


periferias das cidades. Não havia trabalho para tamanho contingente humano e as
populações do campo enfrentavam graves dificuldades.
“Na Itália, a insatisfação contra as novas leis do Estado, com a criação de
mais impostos, mobilizaram-se camponeses do norte da península na segunda
metade do século XIX”. (VENDRAME, 2016, p. 23).
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Em busca de terra e trabalho os camponeses italianos do Vale Vêneto, de


Friuli-Veneza Giulia e da região de Trento, deixaram suas casas, parentes e amigos
aventurando-se em busca da “terra prometida” na esperança de encontrar trabalho
digno e prosperidade.
Schnerb (1958 apud KARAM 1992, p. 37): A propaganda empenha-se sem
entraves em atrair os pobres diabos. [...] a certeza de encontrar terras e, de qualquer
modo, trabalho, aguilhoa o pobre. Constituem minoria aqueles que as crises políticas
ou a perseguição religiosa obrigam ao exílio”.
Além da situação econômica, a Igreja católica também sofria revezes para
manter seus fiéis e com isso o governo orientou a “[...] fundar uma colônia religiosa
na América”. (VENDRAME, 2016, p. 41).
Ainda afirma que:

Como “terra da promissão”, o Brasil era descrito como o lugar onde seria
possível preservar a cultura religiosa dos camponeses vênetos, além de
garantir a sobrevivência, tendo em vista a intensa propaganda que se fazia
das riquezas naturais, como terra fértil e abundante. A fome, as pestes e as
guerras, diferentemente do que era vivenciado na península, não faria parte
das preocupações daqueles que se estabelecessem em território brasileiro.
Nesse local, os camponeses encontrariam uma vegetação exuberante e
fartura de alimentos, sem dispor de tanto trabalho. Assim, o caminho da
emigração surgia como uma rota de fuga para as mais variadas dificuldades
cotidianas, como problemas de ordem econômica, religiosa e política. (p.
41)

Em “Raízes da Colonização”, Karam (1992, p. 38), traduz o que a propaganda


que governo imperial propagava. “A política executada por D. Pedro I foi a de atrair
colonos, implantando núcleos coloniais com distribuição gratuita de lotes aos
imigrantes, além de fornecer-lhes recursos adicionais para iniciarem a exploração da
terra. Pelas razões alinhadas, deduz-se que não foi tarefa difícil convencer europeus
a aceitarem vir para o Brasil”.

2.2 POVOAMENTO E COLONIZAÇÃO DO BRASIL

A transferência da corte e do governo português para o Brasil em 1808,


originou a necessidade de uma política de povoamento. Após estabelecer-se, vendo
a necessidade e disposto a povoar e colonizar o Brasil, D. João VI em 1812,
recorreu à imigração. Inicialmente foram famílias germânicas e suíças e, a partir de
1820, o Brasil recebeu qualquer imigrante que se intitulasse católico.
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Após a Independência do Brasil ao assumir o trono, D. Pedro I manteve--se


fiel à política de colonização estabelecendo a distinção existente entre o imigrante,
homem livre, e o escravo africano, trazido à força e que não tinha a experiência
técnica que aquele oferecia. Conforme AHNRJ (apud KARAM 1992, p. 36) em 1823,
ao comunicar a vinda de alemães para o Brasil, o Imperador explicou sobre: “[...] a
superior vantagem de se empregar gente branca e a aquisição de colonos
prestadios que aumentem os braços de que tanto carecemos”.
Assim, também em função dos movimentos abolicionistas o Brasil precisava
de braços e a Europa necessitava de espaço e trabalho para suas populações,
reforçado no texto de Oliveira (2012, p. 51):

A partir da Lei Eusébio de Queirós, intensificou-se a busca de soluções para


o problema do suprimento de mão de obra para o trabalho agrícola. A
imigração foi desde logo alçada à condição de saída viável para o problema,
embora muitos problemas de ordem prática, legal e financeira ainda
tivessem de ser encarados e solucionados até sua viabilização em grande
escala.

Na Europa, a situação se agravava entre 1845 e 1848 e proporcionava


verdadeiras fugas para outros países fora do continente. Milhares de pessoas não
souberam o que fazer após abandonarem os campos e aumentaram o cinturão de
pobreza nas periferias. Os que ficaram no campo enfrentavam graves dificuldades e
sofriam com novos impostos, mobilizaram-se a partir da segunda metade do século
XIX.
Diante do exposto, Karam (1992, p. 54) expõe a situação da população rural
italiana na época:

A terra sofrera esgotamento e já não produzia como antes, o que originou


reiteradas crises na agricultura praticava, outrossim, uma política fiscal e
comercial inadequada à realidade. Diante de tal quadro a emigração do
povo italiano para outros países resolveria o problema social e, ao mesmo
tempo, as finanças do governo. Esse período europeu e italiano coincidiu
fase brasileira em que houve grande aumento na produção de café.
Precisávamos de mão e obra europeia excedente

Assim, o povoamento e colonização com grandes levas de italianos começou


em 1875.
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2.2.1 Um olhar sobre o Rio Grande do Sul de 1870

Cinco anos antes da grande imigração italiana, o Rio Grande do Sul era uma
província que vivia quase que exclusivamente da pecuária. A força econômica e
demográfica encontrava-se principalmente na capital e em algumas pequenas
cidades ao sul do estado cuja principal atividade era a criação de gado. Essa
população era de origem açoriana e havia se estabelecido nessas regiões, conforme
lhes fora ordenado. Posteriormente, com a vinda dos imigrantes alemães outras
cidades foram povoadas no Vale do Rio Caí e Rio dos Sinos.
Alguns colonos alemães havia se aventurado para a parte superior da
Encosta. “Mas todos eles terminaram por voltar aos vales de origem” (BACCA;
MAZZOTTI, 2016, p. 21).
Nesse sentido o Nordeste do estado ainda estava inabitado e a imigração
italiana foi a solução para o povoamento e colonização.

A parte superior da Encosta da Serra, situada entre os Campos de Cima da


Serra e as terras ocupadas pelos alemães, em 1870, ainda estava deserta.
Pois foi essa área que o Governo Provincial pretendeu colonizar [...].
O presidente da Província, por ato de 24 de maio de 1870, decidiu que
esses territórios chamar-se-iam e que, Colônia Conde d'Eu – em
homenagem ao genro do Imperador e de Colônia Dona Isabel em
homenagem à Princesa Imperial (BACCA; MAZZOTI, 2016, p. 21).

2.3 A EPOPEIA DE UM POVO

Em 1874, num acordo entre o Governo Provincial do Rio Grande do Sul e o


Império Brasileiro, instalaram-se as correntes migratórias. Entre 1875 e 1889
chegaram ao Rio Grande do Sul mais de sessenta mil italianos, principalmente
agricultores que iniciaram suas atividades e garantiram seu sustento com o plantio
de feijão, milho, trigo e uva. Expandiram-se através do artesanato de produtos de
couro e têxteis e, principalmente, na produção do vinho, derivado da colheita e
processamento de suas preciosas uvas, cujas mudas (as parreiras) haviam
valentemente resistido ao longo e demorado trajeto. Inicialmente garantiram a
sobrevivência das famílias com a carne de caça, a colheita e o consumo do produto
nativo, o pinhão.
Para Costa (1982 apud KARIM, 1992, p. 48) sobre a fala de Ludovico Maestri
em 1886: “Recordo-me que no almoxarifado distribuíam farinha podre aos
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imigrantes. Quis a sorte que tivéssemos uma boa safra de pinhão, pois, de outro
modo, teríamos sofrido uma grande fome”.

No Rio Grande do Sul, o processo imigratório italiano ocorre em maior fluxo


a partir de 1882, com o intuito de vender as terras devolutas do Império,
gerando o aumento agrícola e populacional, principalmente de mão de obra
livre europeia. As primeiras colônias a receberem estes imigrantes foram
Conde D’Eu, Dona Isabel e Caxias, entre os anos de 1875 a 1889.
(FACHIN, 2016, p. 16)

Os grupos de imigrantes eram constituídos de famílias, normalmente


oriundos da mesma região e deveriam possuir conhecimento sobre ou trabalhar na
agricultura.
“A principal característica imposta para a recepção dos mesmos era a de
constituírem núcleos familiares e possuírem conhecimento agrícola ou serem
camponeses, garantindo o desenvolvimento agrícola pretendido”. (FACHIN, 2016, p.
16)
Muitos dos que aqui chegaram não se adaptaram ao trabalho rural, conforme
relatam Moreira e Meucci (2012, p. 126):

Àqueles que não se adaptaram ao trabalho rural, fosse nas colônias do Sul,
fosse nas fazendas e café em São Paulo, restavam duas alternativas: o
repatriamento ou a remigração para centros urbanos. O ingresso do
elemento estrangeiro nas cidades permitiu a criação da classe média
urbana, caracterizada pela atuação na pequena indústria, no pequeno
comércio.

Porém, esses imigrantes que aventuraram-se para além do da agricultura,


muito contribuíram para o desenvolvimento da região que estava sendo colonizada.

2.4 A HISTÓRIA ESQUECIDA

Em seu livro, “Memórias da Linha 11”, Bacca e Mazzoti (2016), revela que por
mais de um século a História da emigração italiana, na Itália, ficou soterrada sob
uma camada de tabus, preconceito e vergonha. A saída de levas de campesinos e
artesãos doentes e famintos permitiu que os que lá permaneceram, sobrevivessem.
E sobreviveram. Isto porque as parcas reservas de víveres passaram a alimentar um
número menor de pessoas e porque os que partiram jamais esqueceram os seus.
Assim que conseguiram sustentar-se no novo país, enviaram parte de sua poupança
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aos que ficaram na terra-mãe. Mas a Itália esqueceu os pobres miseráveis que
partiram fugindo da fome, da pelagra e da servidão.
Villa (2016 apud BACCA; MAZOTTI, 1992, p. 353-354):

Tive em mãos a Storia d’Italia de Montanelli, a Enciclopedia Garzanti, livros


de história que são utilizados nas escolas e não tem, ao menos, um aceno à
emigração. Nunca existiu. Por que os italianos apagaram a emigração de
sua memória? Talvez, uma aventura dramática é preferível submergi-la em
sombras. Ou talvez por não entenderem o que aconteceu. Talvez, ainda,
porque haja na alma da nação, um sentimento de culpa, remorso por ter
afastado da Península, milhões de pessoas sem lhes oferecer, nem ao
menos, uma sacola.

Esse fato, apesar da relevância histórica, é desconhecido da maioria dos


descendentes de imigrantes que vivem no sul do Brasil.

2.5 A TRAVESSIA NUMA VIAGEM SEM VOLTA

A longa viagem se iniciava no vilarejo natal e seguia até a primeira cidade que
tivesse transporte ferroviário. Dessa cidade os retirantes prosseguiam para a cidade
de Gênova, onde havia o porto de embarque para a América. Eram acompanhados
de familiares e alguns religiosos. Em “Memórias da Linha 11”, Bacca e Mazzoti
(2016) cita o historiador Olívio Manfroi, que em sua “A colonização Italiana no Rio
Grande do Sul”, transcreveu as tristes palavras de D. Giovani Scalabrini, bispo que
em 1887 fundou a Congregação de São Carlos, com a finalidade de cuidar dos
imigrantes italianos. Em 1901, o bispo visitou os imigrantes italianos nos Estados
Unidos e, em 1904, no Brasil. Essa congregação católica foi responsável pelo apoio
e amparo religioso e até econômico dos imigrantes e continua seu atendimento aos
migrantes até os dias atuais. Eram essas as palavras:
Manfroi (2016 apud BACCA; MAZZOTI, 1974, p. 22):

Em Milão, há alguns anos, assisti a uma cena que causou uma impressão
de tristeza profunda. De passagem pela estação, vi a vasta sala, os pórticos
laterais e a praça adjacente, invadidos por três ou quatro centenas de
indivíduos pobremente vestidos, divididos em diversos grupos. Em seus
rostos bronzeados pelo sol, sulcados pelas rugas precoces produzidas pela
privação, transparecia o tumulto dos efeitos que agitavam, naquele
momento, seus corações. Eram velhos, curvados pela idade e pelo
cansaço, homens na flor da virilidade, mulheres acompanhadas de crianças,
jovens, todos unidos num só pensamento, todos endereçados a uma meta
comum. Eram emigrantes. Pertenciam às diversas províncias da Alta Itália e
esperavam, com ansiedade, o trem que os conduziria às margens do
Mediterrâneo e de lá, partiriam para as longínquas Américas, onde
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esperavam encontrar a fortuna menos adversa e a terra menos ingrata aos


seus suores. Partiam, aqueles pobrezinhos, alguns chamados pelos
parentes que os haviam precedido no êxodo voluntário, outros, sem saber
exatamente para onde seriam dirigidos, levados por aquele poderoso
instinto que faz emigrar os pássaros. Iam para a América, onde existia
(ouviram repetir tantas vezes) trabalho bem remunerado para todos os que
tivessem braços fortes e boa vontade. Não sem lágrimas, tinham dado o
adeus ao vilarejo natal, com o qual estavam ligados por tantas doces
recordações, mas, sem lamento, se dispunham a abandonar a pátria que
conheciam unicamente sob duas formas odiosas, pois, para o deserdado, a
pátria é a terra que lhe dá o pão e, lá longe, esperavam encontrar o pão
menos raro e menos suado. Palavras de D. Giovanni Scalabrini, transcrito
de A Colonização Italiana no Rio Grande do Sul.

Nessas palavras, percebe-se claramente a situação da população rural


italiana da época e que levou a uma emigração em massa.

2.6 A CHEGADA AO BRASIL E O DESTINO RUMO ÀS COLÔNIAS

A penosa travessia durava “trentasei giorni”, trinta e seis a quarenta dias, em


navios cuja capacidade era de setecentas pessoas mas que transportava mais de
mil, como se fossem animais, sem as mínimas condições de higiene, amontoados
junto às bagagens, animais e mudas de árvores frutíferas. Devido a essas
condições, as doenças como a cólera, varíola e crupe eram comuns e muitos
morreram na viagem, sendo sepultados no mar. Muitos contraíram essas doenças
na viagem e acabaram morrendo após a chegada. Na viagem sonhavam com a
América mas também tinham a convicção de voltar enriquecidos.
“Nesse período, eram construídas as expectativas em relação ao novo lar,
mas ambém era o tempo de planejar o retorno. Aliás, a grande maioria veio com a
convicção de regresso com prosperidade material.” (MOREIRA; MEUCCI, 2012, p.
127).
Os imigrantes chegavam cansados, deprimidos, entregues a si mesmos,
expostos às doenças contagiosas e ao calor que não lhes era habitual pois os
governos Imperial e Provincial não se entendiam quanto às providências a serem
tomadas. Após as denúncias do jornal L”Italiano, o governo federal decidiu construir
um pavilhão, chamado de “barracão”, para instalar os imigrantes em Porto Alegre,
aonde pudessem refazer as forças, antes de começar a longa jornada que os
aguardava. Desses barracões, os imigrantes eram encaminhados, por via fluvial às
Colônias de Conde d’Eu, Princesa Isabel e Caxias. Posteriormente alguns seguiriam
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para Silveira Martins, mais conhecida como a Quarta Colônia, que receberia
imigrantes a partir de 1877.
A viagem era longa e penosa, através de piques abertos na mata. “As
primeiras estradas nada mais eram do que tortuosos piques abertos em meio a mata
virgem, servindo inicialmente, para a passagem de pessoas a pé ou a cavalo”.
(FERRI, 1988, p. 390). Eram guiados por grupos de carreteiros dissidentes da
Guerra do Paraguai que se refugiaram na região de Taquari
As mulheres grávidas, crianças e idosos seguiam de carroça que eram
puxadas por quatro ou cinco juntas de bois. Os demais seguiam a pé para não
sobrecarregar os animais. Quando aproximavam-se de algum rio, os animais
destinados à criação subiam o rio a nado, sendo acompanhados às margens pelos
viajantes. “Nos últimos séculos, os rios do estado tiveram grande influência nos
movimentos migratórios, servindo como estrada natural para os migrantes”. (FERRI,
1988, p. 51).
Não raro ocorriam perdas devido à correnteza ou intempéries. Levantavam-se
muito cedo, mas avançavam muito devagar. Viajavam algumas horas de manhã e
outras poucas horas à tarde. Eram frequentes as queixas de mau tratamento por
parte dos carreteiros condutores, falta de espaço, perda de bagagens, falta de
atendimento médico e a má qualidade da alimentação. Pelo fato de serem
trabalhadores extremamente ativos e pela ansiedade de chegar ao destino, havia
inconformidade com os carreteiros que os conduziam em ritmo “abrasilianado”, sem
pressa. Conforme relatam Moreira e Meucci (2012, p. 128), os imigrantes:
“Enxergavam uma certa arrogância na forma como os brasileiros se comportavam –
como donos da terra - e tendiam a classificá-los como pouco devotados ao trabalho
e de aspecto doentio”.
Também, os imigrantes não entendiam porque os carreteiros ficavam mais de
hora ao amanhecer, sugando um chá amargo e fervente, dentro de um porongo,
com um canudo de lata. Só prosseguiam viagem após os carreteiros condutores
cumprirem esse ritual o que, para eles como trabalhadores natos, era um
desperdício de tempo (com o decorrer do tempo, esse hábito foi adotado pelos
imigrantes e hoje faz parte do dia-a-dia dos descendentes desses imigrantes: o
chimarrão).
Nessas viagens, a alimentação era basicamente de carne seca fervida
durante o pernoite com a qual temperavam o feijão, previamente cozido. Assim os
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imigrantes conheceram o charque ou “carne secada”. À noite, dormiam sob barracas


armadas com lençóis sobre gravetos e capim, para poderem continuar a jornada.
Essa viagem, de Porto Alegre às colônias, durava de quinze a vinte dias. Muitas
vezes faltou comida. Nessas fases da viagem alimentavam-se basicamente de caça
e frutas que encontravam na mata. O pinhão alimentou muitos imigrantes nas
viagens de inverno e ainda depois, quando instalados em seus lotes na colônia.
Durante a pesquisa e percebeu-se a dificuldade de adaptação dos viajantes e
da não aceitação desses imigrantes por parte dos brasileiros:

A atitude dos brasileiros em relação aos estrangeiros é de curiosidade, mas


também, não raras vezes, de hostilidade. A curiosidade se dava pelas
formas diferentes de se trajar, de se comunicar de festejar e marcar a
passagem da vida. A hostilidade vinha, comumente a reboque da
incompreensão das formas que essas culturas diferentes assumiam.
(MOREIRA; MEUCCI, 2012, p. 128)

2.7 O ASSENTAMENTO

Foram três as colônias a receberem inicialmente os imigrantes: Conde d’Eu,


atual município de Garibaldi, Princesa Isabel, hoje Bento Gonçalves e Caxias. A
quarta colônia, Silveira Martins, não recebeu muitos imigrantes e os poucos que
recebeu, migraram para os estados de Santa Catarina e Paraná antes do final do
século XIX.
Cada colônia possuía uma sede central, onde se estabelecia a administração,
estabelecimentos comerciais, praça, escola e, principalmente, a Igreja. Muitas
vezes, as ruas eram dentro da mata fechada. Havia lotes urbanos que eram
vendidos aos que queriam ali se estabelecer. Porém, o objetivo principal e a
prioridade, eram os lotes rurais divididos em linhas de seis a sete quilômetros de
extensão. A reunião de várias casas, capela e escola formavam um núcleo aonde os
imigrantes organizavam sua vida religiosa, social e econômica conforme os seus
vilarejos de origem. Esse novo povoado era denominado de “Linha” conforme seu
número ou com o nome do Santo titular da capela.
Os lotes recebidos pelos colonos deveriam ser pagos dentro de cinco ou dez
anos e não receberam qualquer incentivo do governo provincial ou imperial. Todas
as ferramentas, enxadas, pás, picaretas, mudas ou sementes foram pagas com o
trabalho árduo de cada família. Aqueles que trabalhavam para o governo na
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construção de estradas, ferrovias ou construção de pontes, recebiam a remuneração


devida e nada mais.
O trabalho nas colônias era duro e as moradias denominadas “fogos”, eram
barracas construídas de toras toscas de árvores, cobertas por tábuas (scándole)
serradas à mão e com algum capim por sobre elas. Posteriormente foram surgindo
as casas modernas de madeira, com porão de pedra e a cozinha separada da casa
principal. Separavam a cozinha da casa grande para evitar que, em caso de
acidente com fogo, este se espalhasse para os outros cômodos da casa.
Nos primeiros anos ou safras, os imigrantes viveram à base da caça, coleta
de frutas nativas, como a pitanga, amora, ingá e pinhão. Criavam gado para o
trabalho na lavoura, produção de carne e leite. O relevo acidentado não permitia o
cultivo de vários produtos em extensão como o feijão e o milho. Assim,
desenvolveram a produção de uvas, pois o clima lhe era propício e adaptava-se
melhor às condições do terreno. Além disso, enfrentavam problemas e lutavam
contra as pragas sazonais características da região da serra.
“Houve muitas perdas em consequência das pragas na região. As mais
frequentes eram de gafanhotos que devoravam toda espécie de folhas verdes. De
1905 a 1947 houve seis surtos dessa praga na região colonizada”. (FERRI, 1988, p.
123). Mas, como a característica desses imigrantes era o trabalho, rapidamente
organizaram-se e desenvolveram diversas atividades além da agricultura. Muitos
destacaram-se como colonos artesãos que trabalhavam algumas horas da semana
na confecção de objetos de cutelaria, como canivetes, foices e a marcenaria.
Mas, apesar de tudo, da saudade e com o pouco que tinham e produziam,
começaram a comercializar em maior escala. Comercializavam a banha, vinho
(cujas mudas de parreira haviam trazido da Itália), objetos de cutelaria, extraíam
madeira e consequentemente produziam objetos de marcenaria. Os produtos eram
transportados em lombo de mulas para as cidades portuárias aonde faziam a troca
por sementes, implementos agrícolas, tecidos e víveres como açúcar branco, café e
bebidas como a aguardente para consumo próprio ou para ser revendido na vila.
Separavam parte do pequeno lucro para ser enviado aos familiares que ficaram na
Itália.
No final dos anos 1890 o empreendedorismo começou a tomar forma nas
colônias italianas.
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2.8 EMPREENDEDORES

A fome de trabalho, a sede de prosperidade bem como a inquietude, a


vontade de vencer e mandar notícias boas juntamente com recursos aos parentes
que ficaram na Itália, impulsionou diversos imigrantes na região da serra a irem além
do trabalho a que foram destinados. Conforme relata Fachin (2016, p.16):

Muitos destes, no entanto, possuíam outros ofícios e profissões, que


acabaram contribuindo com o crescimento das colônias e de suas vilas,
onde se estabelecem além dos agricultores também os imigrantes que
serão industriais, comerciantes e artesãos.

Estabeleceram-se com sapatarias, funilarias, alfaiatarias, serrarias,


cachaçarias, olarias, marcenarias, moinhos, fábricas de detergentes e de café ou
refino da banha. Eram empresas lucrativas e algumas ainda funcionam atualmente.
Conforme Moreira e Meucci (2012, p. 126): “Alguns tiveram tamanha prosperidade
que alcançaram a condição de riqueza”.
Nas Colônias Dona Isabel, Conde d’Eu e Caxias, surgiram a empresa
Tramontina, fundada em 1911 no ramo da metalurgia, a ouriversaria e Funilaria
Abramo Eberle & CIA em 1896. Em 1889 a empresa Amadeo Rossi iniciou em
diversos ramos como a funilaria, fabricação de caldeiras, peças para montaria,
posteriormente estabelecendo-se na região metropolitana de Porto alegre no ramo
de fabricação de armas.
Na colônia de Guaporé em 1905 estabeleceu-se a fábrica refino de banha de
Agostinho Costi e em 1926 a fábrica de curtimento de couro de Corbetta Irmãos &
Cia Ltda, que ainda está em funcionamento.

2.9 A MULHER IMIGRANTE

Junto desses homens empreendedores destaca-se o trabalho da mulher


imigrante, cujas funções não eram apenas de cuidar da casa, do marido e dos filhos
conforme expõe Fachin (2016, p. 39):

As mulheres por sua vez se ocupavam das tarefas domésticas e em


pequenas atividades como a criação de animais, horta e os cuidados com
os filhos, no entanto, sempre estavam ao lado do homem ativamente
quando preciso, principalmente quando o mesmo se fazia ausente.
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Participava ativamente tanto na vida social, religiosa, educacional e cultural


da formação da família, quanto na economia familiar. Com a ajuda delas as famílias
conseguiram desenvolver financeiramente.
Foi imensa a contribuição feminina na formação e desenvolvimento das
colônias italianas. A sabedoria e cultura trazida da Itália foram passando de geração
em geração pelas mãos dessas “mammas e nonas” (mães e avós) perto do fogão à
lenha, através do dialeto vêneto, nos bordados, na máquina de costura e
principalmente na culinária.
A necessidade de alimentar tantas pessoas por família fez com que muitas
mães e avós, se reinventassem, adaptassem os temperos italianos e brasileiros que
alimentariam uma etnia forte e trabalhadora que estava surgindo: os ítalo-brasileiros,
ou mais precisamente como o povo se autodenomina em todo o Rio Grande do Sul:
os italianos.
Além de confeccionar toda a roupa da família, com tecidos de algodão
riscado, pois toda mulher devia saber costurar e bordar
Também, essas imigrantes ajudaram na educação e na alfabetização das
crianças. À noite, reunidos no “filó” (costume de se reunirem à noite, na casa de um
dos habitantes da linha para matar as saudades da Itália), as mulheres que sabiam
ler ensinavam o básico para a alfabetização aos próprios filhos e aos filhos dos
outros, conforme relata Karam (1992, p. 187):

Logo que minha mãe chegou aqui, alguns pais pediram para ela dar aulas
para os filhos deles, porque havia crianças sem escola. Ela sentava as
crianças em volta de uma mesa comprida, com muito lugares. Ela sentava
as crianças em volta e dava aulas em casa mesmo. Ela nos dizia que, como
falava e escrevia bem o italiano, chegavam pessoas adultas para pedir que
ela lesse cartas que recebiam da Itália e para que ela escrevesse as
respostas e outras cartas, para parentes que tinham na Itália, tudo em
língua italiana. Lecionou como professora na linha Ernesto Alves, onde ia a
cavalo. Tinha gente com 16, 17 anos.

Quando, em 1887, a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos


Borromeu ou Irmãs Carlistas (fundada pelo bispo João Batista Scalabrini) iniciou
suas atividades junto às colônias, as crianças começaram a frequentar a escola.
Assim, a escolarização ficou a cargo dessa congregação religiosa católica.
Também vale destacar neste artigo, a contribuição dos pracinhas
descendentes de imigrantes que deram sua contribuição à Pátria de seus ancestrais.
Foram jovens que serviram o país, no Serviço Militar em 1944 e atenderam ao
15

chamado do Presidente Getúlio Vargas. “Foi feito um pedido aos soldados para
participarem, voluntariamente, da Força Expedicionária Brasileira. Betóglio e Baldo
deram um passo à frente, prontificando-se para a sua incorporação” (FERRI 1988, p.
260).
Esses soldados permaneceram na Itália até o final da guerra, em maio de
1945, e regressaram salvos em julho daquele ano.

2.10 DE IMIGRANTES A EMIGRANTES

A colonização foi rápida e em poucos anos os territórios que receberam


imigrantes estavam totalmente ocupados. As famílias eram numerosas e não havia
mais terras para todos. Nas décadas de 1930 e 1940 os colonos migraram para
outros estados do Brasil, para acomodarem seus descendentes ou imigrantes que
ainda chegavam. Foram instalar-se no meio oeste do Brasil, oeste catarinense e
norte do Paraná. Eram incentivados pelos programas de governo como a “Marcha
para o Oeste” e programas de assentamento desenvolvidos pelas cooperativas
agropastoris.

De 1920 a 1940, dos primitivos núcleos de colonização italiana houve uma


irradiação para outros pontos não só do Rio Grande do Sul, mas para outros
estados: para o oeste e centro-oeste de Santa Catarina, Paraná, Mato
Grosso e Minas Gerais, em busca de terras mais férteis. Lotavam
caminhões comuns, carroceria aberta, repleta de móveis, utensílios, roupas,
filhos, alguns animais, instrumentos agrícolas e sementes. Nunca se soube
se tudo aquilo chegou ao seu destino e como. (KARAM, 1992, p. 62).

Novas levas de emigrantes do Rio Grande Sul rumo ao Mato Grosso


ocorreram na década de 1970, recentemente incentivados pelo espírito de
nacionalização do regime militar e amparados pelo Estatuto da Terra, subsidiados
ainda por cooperativas, adquirindo grandes extensões de terra a preços baixos e
financiadas a perder de vista. Assim, os primeiros imigrantes deixaram seu legado
na região Nordeste do Rio Grande do Sul, recomeçaram e desbravaram outras
regiões do Brasil, justificando o lema de que “imigrante é trabalho”.
Conforme Moreira e Meucci (2012, p. 12) “A devoção ao trabalho é uma
característica que marca de maneira contundente todos os imigrantes,
independentemente de sua origem. Afinal, o trabalho seria o meio pelo qual eles
alcançariam a prosperidade econômica”.
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2.11 METODOLOGIA ADOTADA

Inicialmente houve a definição do tema e após a sondagem de literatura


disponível, bem como a disponibilidade de acesso aos Arquivos Históricos da região
Nordeste do estado e do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
Em seu desenvolvimento o trabalho baseou-se na pesquisa bibliográfica
tendo como objeto o estudo de livros didáticos, leitura de livros publicados por
historiadores, consulta nos arquivos históricos do Rio Grande do Sul e cidades da
Serra Gaúcha, documentários, acervos fotográficos, Jornal Correio Rio-grandense
(edições antigas), bem como sites publicados pelas entidades ligadas ao turismo da
imigração, tendo como orientação o artigo de Mazzetto (2008, p. 12):

Na exploração do problema – que no caso é a história dos italianos e/ou


seus descendentes para além dos livros didáticos de história -, procura-se
identificar quais os fatores influenciadores e determinantes que possam
estar associados. Dessa forma, busca-se perceber a complexidade do
problema e reescrevê-lo.

O acervo fotográfico particular da família também foi pesquisado.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa sobre a imigração italiana abriu-me novo olhar sobre a questão da


situação da população rural italiana no final do século XIX. A bibliografia sobre o
assunto nos mostra inicialmente um povo sofrido pela miséria, pela fome, pela
doença. Uma parte da Itália que foi esquecida e desterrada, lançada à própria sorte.
Mas há de se ressaltar que todos esses revezes deram força, vontade, iniciativa e
principalmente esperança a esse povo que confiou em seu maior tesouro: o
trabalho. Alicerçados firmemente na fé, na união familiar e na confiança de
prosperidade através de seu esforço, esses laboriosos e perseverantes
colonizadores “fizeram l’América”, levando prosperidade, pujança e desenvolvimento
a um mundo novo. E essa foi uma dificuldade de identificação encontrada entre o
público jovem, descendente de italianos: não conhecer verdadeiramente a sua
história.
Vale recomendar o artigo do professor Gino Marzio Ciriello Mazzetto:
Imigração italiana: uma possibilidade metodológica para o ensino de História.
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“Repensar a história apresentada pelos livros didáticos no que diz respeito aos
imigrantes italianos é importante para o estudante passar a compreender a
imigração não de forma estanque - portanto, a-histórica -, mas baseado em
problematizações”. (MAZETTO, 2008, p. 5)
Reconhece-se e reforça-se a importância de se introduzir no currículo do
Ensino Fundamental e Médio, o estudo da imigração. Não somente a imigração
italiana, mas todas as que colaboraram para o desenvolvimento do estado do Rio
Grande do Sul da região. Municípios ligados ao turismo, estão trabalhando nesse
sentido, em particular sobre a língua: o “talian”.
Portanto, aprofundar o estudo da imigração de um modo geral, contemplando
todas as etnias, é importante, principalmente para que os jovens e crianças
aprendam sobre isso e não esqueçam suas raízes, entendendo e repassando às
futuras gerações o legado daqueles bravos colonizadores.

REFERÊNCIAS

ADAMI, João Spadani. Arquivo Histórico Municipal. Prefeitura Municipal. Caxias


do Sul: Museu Municipal, 2018.

BACCA, Ademir Antônio; MAZZOTI, Fabiano. Memórias da Linha 11. Serafina


Corrêa: Prefeitura Municipal, 2016.

BENTO GONÇALVES (Município). Museu Municipal de Bento Gonçalves. Bento


Gonçalves-RS, 2018.

CAGGIANI, Ivo. Flores da Cunha. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1997.

DAMINATO, Sérgio. Gianni. Encantado: Grafen Editora, 1995.

DEI FIORI, Mazzolin-Societá Italiana - Porto Alegre –RS

FACHIN, Gabriela. Imigração Italiana na Colônia Conde d’Eu e a Societá Italiana


di Mútuo Soccorso Stella d’Itália. 2016. 93f. Monografia (Graduação) - Curso de
Licenciatura em História, Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES, Lajeado,
2016.

FAGGION, Cassiano Alberto. 100 anos de Vespasiano Corrêa. Mostra Fotográfica.


Vespasiano Corrêa, 2017

FERRI, Gino. Muçum (General Osório)-Princesa das Pontes. Caxias do Sul:


Universidade de Caxias do sul, 1988.
18

FOSSÁ, Genuino Luiz. Álbum Lembranças. Caxias do Sul: Editora São Miguel,
1956.

GUAPORÉ (Município). Arquivo Histórico Municipal e Museu de Guaporé.


Guaporé-RS: SMEC, 2018.

KARAM, Elaine Maria Consoli. Raízes da Colonização. Porto Alegre: CORAG,


1992.

KOCH, Siziane. Rio Grande do Sul-Espaço e Tempo. São Paulo: Ática, 2014.

MANFROI, Olivio. A Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre:


Grafosul, 1974.

MAZZETTO, Gino Marzio Ciriello. Imigração Italiana: uma possibilidade


metodológica para o ensino de História. Secretaria de Estado da Educação,
Londrina, 2008, p. 1-34. Disponível em: <https://gtenshist.webnode.com.br/pde/>.
Acesso em: 16 nov. 2018.

MIAZZO, Giorgia. Talian é legado cultural da imigração. Jornal Correio Rio-


grandense, Caxias do Sul-RS, 04 mar. 2016. Disponível em:
<http://www.correioriograndense.com.br/noticias/especial/04-03-2016/talian-e-
legado-cultural-da-imigracao> Acesso em: 16 nov. 2018.

MOREIRA, Claudia Regina Baukat Silveira; MEUCCI, Simone. História do Brasil:


sociedade e cultura. Curitiba: InterSaberes, 2012.

OLIVEIRA, Dennison de. História do Brasil: política e economia. Curitiba:


InterSaberes, 2012.

RIO GRANDE DO SUL (Estado). Arquivo Público. Porto Alegre: SMED-RS, 2018.

TOMASI, Silvano; ROSOLI, Gianfausto. Scalabrini e le Migrazioni Moderne. Scritti e


Carteggi. Associazione Belunezzi Nel Mondo, Lucerna, 2015. Disponível em:
<http://www.bellunesinelmondo.it/scalabrini-e-le-migrazioni-moderne/>. Acesso em:
15 fev. 2019.

VENDRAME, Maíra. Em busca da “República de Deus”: revoltas camponesas e


agentes da emigração no norte italiano (século XIX). Tempo, v. 23, n. 1, 2017.

VOGT, Olgário Paulo; ROMERO, Maria Rosilane Zoch. Uma luz para história do
Rio Grande. Santa Cruz do Sul: Gazeta Santa Cruz, 2010.
19

ANEXO A - LIVRO DE PARTITURAS


20

ANEXO B - PASSAPORTE POR NÚCLEO FAMILIAR FAMÍLIA DE FRISANCO –


FRIULI VENEZA-GIULIA – 1883
21

ANEXO C - LIVRO DE POESIAS


22

ANEXO D - LIVRO DE “PREGHIERE” – ORAÇÕES


23

ANEXO E – IMIGRANTES DE SANTA BÁRBARA – COLÔNIA DONA ISABEL


24

ANEXO F – IMIGRANTES E MOINHO ROSSATI – LINHA ESPERANÇA –


COLÔNIA DE GUAPORÉ
25

ANEXO G - IMIGRANTE OSVALDO FILIPPON JAZIGO DE OSVALDO FILIPPON


E MARIA FILIPPI (CONFORME PASSAPORTE1883) SANTA BÁRBARA,
MUNICÍPIO MONTE BELO DO SUL ANTIGA COLÔNIA D.ISABEL)
26

ANEXO H – FAMÍLIA DO IMIGRANTE FELICE FILIPPON (PASSAPORTE DE


1883), EM 1928 COM FAMÍLIA CONSTITUÍDA.
27

ANEXO I - DIVISA ENTRE AS COLÔNIAS RELAÇÃO DE INDÚSTRIAS E


PROFISSÕES NA COLÔNIA DE GUAPORÉ 1899

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