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Organização

Comunitária
Uma história de formação de
lideranças rurais e associativismo
com agricultores e agricultoras familiares
do Assentamento Nova Cotriguaçu - MT
Organização Comunitária

Uma história de formação de lideranças rurais e


associativismo com agricultores e agricultoras
familiares do Assentamento Nova Cotriguaçu - MT

1ª Edição
Cotriguaçu - Mato Grosso - Brasil - 2014
EXPEDIENTE
PROJETO COTRIGUAÇU SEMPRE VERDE
ICV – Instituto Centro de Vida, 2014. Coordenador do Projeto:
Organização Comunitária - Uma história de formação Renato Farias
de lideranças rurais e associativismo com agricultores e
Assistente de Coordenação:
agricultoras familiares do Assentamento Nova
Cotriguaçu - MT. Camila Rodrigues

Textos: Camila Rodrigues, Daniel Ferreira, Suzanne Equipe técnica:


Scaglia – Cotriguaçu, MT: Instituto Centro de Vida, 2014 Carolina Jordão (Gestão Ambiental Municipal);
68p. : il. Elisângela Sodré e Suzanne Scaglia (Governança
Socioambiental nos Assentamentos); Rodrigo
1. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA 2. ASSOCIATIVISMO Marcelino (Integração Áreas Protegidas); Sandra
3. AGRICULTURA FAMILIAR. I. Rodrigues, Camila. II. Regina Gomes (BPA Leite); Vando Oliveira, Eduardo
Ferreira, Daniel. III. Scaglia, Suzanne. IV: Título.
Florence e Vilmar Andretta (BPA Corte); Bruno
Simionato (Prodemflor); Vinícius Silgueiro
(Geotecnologias); e Daniela Torezzan e Andrés
Pasquis (Comunicação).
Essa licença não vale para fotos e ilustrações, que permanecem em copyright.
Você pode: Textos:
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Projeto Gráfico:
Thiago Almeida | thipublicitario@gmail.com
AGRADECIMENTOS
Às famílias envolvidas no Projeto;

Aos grupos e associações do


Assentamento Nova Cotriguaçu – MT;

Ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais e à


Prefeitura Municipal;

E à equipe, parceiros e colaborares do ICV.


ÍNDICE
Toda história tem um começo 05

Sistematização promove conhecimento 07

Por dentro do Instituto Centro de Vida 08

Projeto Cotriguaçu Sempre Verde 10

Sobre Cotriguaçu 12

Um pouco das comunidades 14

Organização que gera comunhão 16

Fortalecendo o associativismo e o trabalho em grupo 28

Olhando para os resultados 31

Abraçando o futuro 35

Fontes de pesquisa 38
TODA HISTÓRIA TEM UM COMEÇO...
Esta cartilha nasceu como proposta de
sistematizar e registrar a experiência
do Projeto Cotriguaçu Sempre Verde
no componente de apoio à governança
social e ambiental no Assentamento
Nova Cotriguaçu, no município de
Cotriguaçu, no estado do Mato Grosso.
Surge como instrumento dentro da
estratégia institucional e comunicacio-
nal e, também, como mecanismo de
construir e disseminar a produção do
conhecimento junto às famílias agri-
cultoras.

A publicação registra o protagonismo


das famílias agricultoras na gestão
coletiva e mais sustentável dos recur-
sos naturais do seu entorno. Ao siste-
matizar, percorre-se uma trajetória
envolvendo os/as agricultores/as nas

05
ações de organização e planejamento vos para a aprendizagem a partir desta
comunitário, além das iniciativas à pro- experiência, a inovação social e o
dução sustentável, beneficiamento e desenvolvimento de capacidades
de comercialização coletiva. desse grupo de agricultores/as envol-
vidos/as e de outras famílias. A seguir
A sistematização foi um processo de inicia-se uma história de vários olhares
reconstrução crítica das experiências e com várias mãos na construção de Sistematização é um
feita de forma coletiva e participativa. experiências de organização comuni- processo de
Promoveu a geração de aprendizagens tária, empoderamento social e políti-
desde o saber local (conhecimento co, baseadas na promoção da igualda-
reconstrução crítica
local) dos e com os protagonistas da de de gênero, na sustentabilidade e das experiências feita
experiência, que permitiram organizar, preservação da floresta, e na geração de forma coletiva e
analisar (explicar) e reconstruir uma de renda para garantir uma vida digna
prática social a partir das dinâmicas e às famílias do campo. participativa.
relações entre as famílias, das condi-
ções do contexto e dos conceitos, Uma ótima história. Uma prazerosa
enfoques e métodos utilizados para leitura!
alcançar êxito.

Esperamos que esta cartilha permita


identificar, validar e compartilhar
conhecimentos valiosos e significati-

06
PARTE I
SISTEMATIZAÇÃO PROMOVE CONHECIMENTO
A sistematização, como uma atividade importante o resgate e a reconstrução
de produção de saberes, permite os da experiência para as famílias agricul-
sujeitos se apropriarem de sua experi- toras. Empoderar-se do seu próprio
ência. Não se trata apenas de ordenar saber de maneira coletiva, alcançando
logicamente os passos das ações uma compreensão profunda sobre os
desenvolvidas e dos seus resultados, aprendizados e resultados desta expe-
trata-se, sobretudo, da construção de riência Enfim, esta publicação permite
saberes que essa ação está proporcio- dar sentido a essa trajetória vivenciada
nando às famílias agricultoras. pelos grupos de agricultores e agricul-
toras, tendo eles e elas protagonista
A sistematização garante a apropria- dessa história.
ção da experiência pelos protagonis-
tas, permitindo colocar em prática seus Diálogos sobre a experiência

conhecimentos antigos, aprender Os/as agricultores/as participaram de uma Oficina de


Sistematização. Foi um momento de olhar para trás e
novos conhecimentos e disseminar Sistematização que vira letras de
recontar a história de cada um/uma com o Projeto.
histórias de vida e gera conhecimento
mais e outros conhecimentos. A produ- (Agricultora Frailda dos Santos da Na ocasião, as famílias agricultoras resgataram os
ção do conhecimento está orientado comunidade Nova Esperança) processos de organização comunitária desencadea-
dos e os principais passos dados para chegarem a uma
por saberes tradicionais e outros sabe- rios. A produção do conhecimento se experiência exitosa. Ao mesmo, tempo foram identifi-
res (exteriores, técnicos) adquiridos ao dá fundamentalmente no espaço do cados os elementos chaves de sucesso, os acertos e as
falhas, os resultados e os aprendizados, as dificulda-
longo da vida dos/as agricultores/as. E coletivo. des e os desafios, e as perspectivas de futuro.
esse conhecimento se processa, cons- Foi uma oportunidade de cada um/uma olhar e refletir
trói-se a partir das práticas comunitá- Esse conhecimento é dinâmico e em a partir da experiência e refazer todo o itinerário dessa
caminhada dentro do Assentamento.
rias, nas relações e rituais comunitá- contínua mudança, por isto é muito

07
PARTE II
POR DENTRO DO INSTITUTO CENTRO DE VIDA
O Instituto Centro de Vida (ICV) é sede na Capital do Estado e escritórios campo, sempre buscando a participa-
uma Organização da Sociedade Civil de nos municípios de Alta Floresta e ção efetiva e ativa dos atores locais
Interesse Público (OSCIP), fundada em Cotriguaçu. O ICV desenvolve suas nesses processos.
1991. Apresenta como missão “cons- ações baseadas em sete iniciativas
truir soluções compartilhadas para a temáticas (Transparência Florestal, A disseminação da produção do conhe-
sustentabilidade do uso da terra e dos Incentivos Econômicos, Defesa Socio- cimento é um campo importante para
recursos naturais” e tem como visão de ambiental, Pecuária Integrada, Desen- o ICV, e dá por meio da comunicação
futuro que o “Mato Grosso torne-se volvimento Rural Comunitário, Bom socioambiental, capacitação e empo-
referência em governança ambiental e Manejo Florestal e Municípios Susten- deramento de grupos sociais em seus
controle do desmatamento, com as táveis) e três núcleos (Articulação em mais diversos contextos. Um marca
áreas protegidas efetivamente conser- Redes, Comunicação e Geotecnolo- importante também na caminhada do
vadas e manejadas, uma produção gias). Instituto é o trabalho em parceria, que
empresarial agropecuária e florestal contribui para ampliar resultados e
pautadas em práticas sustentáveis e O trabalho do ICV consiste em cons- incentivar a formação de redes com
uma agricultura familiar fortalecida truir ações compartilhadas e articula- outras organizações e coletivos de
com base agroecológica” das de sustentabilidade que visam diversos setores da sociedade.
conciliar a produção agropecuária e
Nesses 23 anos de trajetória no Mato florestal com a conservação e recupe-
Grosso, o ICV já atuou em regiões do ração dos ecossistemas naturais e de
Território Portal da Amazônia, do seus serviços. A atuação do Instituto
Médio Norte, do Noroeste e da Bacia tem como base estudos e análises,
do Alto Paraguai. O Instituto possui bem como experiências práticas no

08
Saiba mais sobre
o ICV e conheça
nossas ações através
do nosso portal
www.icv.org.br

09
Imponência da floresta
PARTE III
PROJETO COTRIGUAÇU SEMPRE VERDE
Bom Manejo Florestal (Prodemflor); 3)
Apoio à Governança social e ambien-
tal dos recursos naturais nos assen-
tamentos; 4) Integração das áreas
protegidas (Terra Indígena Escondi-
do); e 5) Boas Práticas Agropecuárias
(BPA) para o gado de corte e leite.

A cartilha resgata a trajetória do com-


ponente Governança social e ambien-
tal dos recursos naturais no Assenta-
mento. Uma experiência que contri-
buiu para a organização e o envolvi-
mento comunitários das famílias agri-
Apresentação do Projeto às comunidades em Nova Esperança em 2011
cultoras das comunidades de Novo
O Cotriguaçu Sempre Verde é um pro- degradação florestal e apoiando o Horizonte, Nova Esperança, Ouro
jeto realizado pelo ICV e apoiado pelo desenvolvimento de atividades produ- Verde e Santa Clara do Assentamento
Fundo Vale, com atuação para a pro- tivas com menos impacto sobre os Nova Cotriguaçu. Além da estratégia
moção de uma nova trajetória socioe- recursos naturais. da governança, o Projeto tem como
conômica e ambiental para o municí- pilar a conscientização da conserva-
pio de Cotriguaçu. As atividades do O Projeto trabalha em cinco grandes ção da floresta e seus recursos natu-
Projeto visam a manutenção da flores- frentes: 1) Gestão ambiental municipal; rais, e a promoção da geração de
ta, reduzindo o desmatamento e a 2) Programa de Desenvolvimento do renda para o coletivo.

10
As estratégias de atuação do Projeto
envolvendo quatro das comunidades
do Assentamento estão centradas na
busca da melhoria da qualidade de vida
as famílias agricultoras assentadas,
através da gestão coletiva e mais racio-
nal dos recursos naturais. Foram
desenvolvidas ações de organização e
planejamento comunitário, além de
apoio à produção sustentável e comer-
cialização coletiva. Busca-se também a
redução do desmatamento e das quei-
madas e a melhor conservação dos
solos e dos recursos hídricos.

Objetivos do fortalecimento da organização comunitária.


11
PARTE III
SOBRE COTRIGUAÇU
Com 23 anos de emancipação política regional e pela diversidade das tipolo-
o município de Cotriguaçu está locali- gias fundiárias e usos da terra presen-
zado no Noroeste do estado do Mato tes em seu território.
Grosso. Tem uma população estimada
em 16.689 habitantes (IBGE, 2013) É um importante polo florestal, apre-
numa área de 9.460 km². Possui três senta uma atividade pecuária em forte
áreas protegidas, que são o Parque expansão, com um rebanho de mais de
Estadual Igarapés do Juruena, Parque 200 mil cabeças. Apesar da exploração
Nacional do Juruena e a Terra Indígena da madeira e da produção de gado
Escondido. leiteiro e de corte, a agricultura fami-
liar é expressiva no município. Está
A população rural é de 9.855 habitan- presente em áreas rurais do entorno de
tes, totalizando 2.571 famílias rurais. É Cotriguaçu e em três assentamentos Município de Cotriguaçu (em verde)
no centro do Arco do desmatamento (em vermelho)
um município rural quando analisado o PA (Projeto de Assentamento): Jurue-
número de moradores da área urbana na, Cederes e Nova Cotriguaçu, que
de 5.132 habitantes. ocupam 20% do território municipal.

Cotriguaçu está entre os 23 municípios Amazônia Legal é uma área que corresponde a 59% do território brasileiro e engloba a totalidade de oito
da Amazônia Legal, considerados prio- estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Estado do
Maranhão, perfazendo 5 milhões de km².
ritários para ações de controle e
Nela, residem 56% da população indígena brasileira. O conceito de Amazônia Legal foi instituído em 1953 e seus
prevenção do desmatamento. O muni- limites territoriais decorrem da necessidade de planejar o desenvolvimento econômico da região e, por isso, não
cípio se destaca por uma taxa de des- se resumem ao ecossistema de selva úmida, que ocupa 49% do território nacional e se estende também pelo
território de oito países vizinhos.
matamento mais elevada que a média

12
ASSENTAMENTO
NOVA COTRIGUAÇU

Fundado em 1993, está localizado ao


oeste do município de Cotriguaçu
numa área de 100 mil hectares, faz
divisa entre as Terras Indígenas Escon-
dido (ao leste) e o Parque Nacional de
Juruena (ao norte). Ao todo, são 10
comunidades dentro do Assentamen-
to, destas duas são núcleos urbanos
(Nova Esperança e Nova União). E no
total, o Assentamento está dividido em
1.502 lotes com cerca de 1.300 famílias.
Agricultura familiar é expressiva no assentamento Nova Cotriguaçu
O Assentamento é muito rico em (Agricultora Iolanda dos Santos da comunidade Novo Horizonte)
recursos hídricos, como nascentes,
córregos, riachos e cachoeiras. Todas A chegada da energia elétrica é recen- diariamente do Assentamento para
as áreas rurais têm acesso à água potá- te na localidade, e ainda parcial, com comercialização em Cotriguaçu e em
vel. Até mesmo no momento de estia- pouco lotes ligados à rede até hoje. O outros municípios.
gem não falta água. Durante o período uso das telecomunicações (orelhão)
seco, várias nascentes e minas secam e ainda é limitado. As estradas principais
alguns córregos somem, mas não falta e vicinais são de péssimo acesso,
água para o consumo humano ou devido às constantes chuvas que
animal. A maioria das casas tem água caiem na região e ao tráfego de cami-
encanada que chega da serra por gravi- nhões e carretas pesadas com madei-
dade. ra, gado e tanques de leite – que saem

13
PARTE IV
UM POUCO DAS COMUNIDADES
As quatro comunidades contam, apro-
ximadamente, com 270 famílias. Res-
pectivamente, 100 em Nova Esperan-
ça, 70 em Novo Horizonte, 70 em
Ouro Verde e 100 em Santa Clara.

A renda das famílias agricultoras que


vivem nessas comunidades vem da
pecuária de corte extensiva, explora-
ção da floresta, produção leiteira,
comércio (na vila de Nova Esperança),
produções agrícolas de subsistência
(mandioca, horta, café, pupunha,
milho, feijão, fruteiras), diárias (traba-
lho na comunidade ou fora do Assenta-
mento), aposentadorias, pensões e
programas sociais. Foi a partir do diag-
nóstico envolvendo as comunidades
que foram identificadas também
alguns desafios e fragilidades, como Trabalho de diagnóstico na comunidade Nova Esperança em 2011
dificuldades de comunicação (em
especial com a telefonia), falta de ener-
gia, estradas de péssimas condições,

14 14
presença de atravessadores na comer- Diagnosticando
dades de planejamento e ação. Não se pretende
cialização, falta de acesso ao crédito O ICV realizou um diagnóstico participativo unicamente colher dados dos participantes, mas,
de financiamento e às tecnologias de (Diagnóstico Social, Econômico e ambiental e sim, que estes iniciem um processo de autorreflexão
planejamento Participativo, 2012) envolvendo sobre os seus próprios problemas e as possibilidades
produção, irregularidade ainda nas as famílias no intuito de entender a realidade e para solucioná-los.
questões fundiárias, e a falta de orga- características socioeconômicas e ambientais
O objetivo principal do diagnóstico é apoiar a
das comunidades. Através de oficinas, reuniões e
nização social das comunidades e rodas de diálogos, procurou-se conhecer a vida, autodeterminação da comunidade pela participação
desarticulação enquanto grupos e os anseios e os desafios das famílias agricultoras e, assim, fomentar um desenvolvimento sustentá-
e identificar as potencialidades locais. vel. Além de incentivar o envolvimento e a integra-
associações rurais. Ao mesmo tempo, ção de todos/as os/as envolvidos/as durante todo o
havia um sentimento dos agricultores O diagnóstico pode trazer um retrato de diversos processo do diagnóstico, facilita também o
temas relacionados ao cotidiano das comunida- intercâmbio de informações entre as famílias
e agricultoras de descrença e falta de des, como qualidade de vida, produção e comer- agricultoras e estabelece nexos entre setores, tais
confiança nas associações. cialização agrícolas, geração de renda, meio como floresta, agricultura, saúde, educação,
ambiente, organização comunitária, associati- associação e outros.
vismo e acesso a serviços básicos de educação,
O obstáculo maior seria trazer de volta saúde, transportes, estradas e comunicação. Ao
a confiança pelas associações e o enga- mesmo tempo, foi uma oportunidade das
famílias resgatarem suas histórias e reconhece-
jamento dos/as agricultores/as nessa rem seus principais problemas e potenciais.
lógica de organização e associativismo O diagnóstico participativo é uma metodologia
comunitários. O conjunto destas fragi- que permite que as comunidades façam o seu
lidades foi o ponto chave para puxar a próprio diagnóstico e a partir daí comecem a
autogerenciar o seu planejamento e desenvolvi-
linha do novelo e tecer uma história de mento. Desta maneira, os participantes poderão
engajamento comunitário envolvendo compartilhar experiências e analisar os seus
conhecimentos, a fim de melhorar as suas habili-
essas quatro comunidades do Projeto.

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PARTE V
ORGANIZAÇÃO QUE GERA COMUNHÃO
A organização comunitária promove a
autonomia das comunidades em seus
mais diversos processos. Busca-se des-
pertar nas comunidades a importância
da organização na vida comunitária,
algo importante no reconhecimento
perante a sociedade, os governos, e
outras instituições. Nesse mesmo
caminho, o ICV tem procurado realizar
ações de assessoria e capacitações
para capacitas as comunidades sobre
organização comunitária e associati-
vismo, através de reuniões, oficinas e
cursos.

Diversos momentos oportunizaram a


formação das famílias agricultoras e
de grupos de mulheres e de trocas de
conhecimentos através de temas
como gênero, associativismo, planeja-
Organização: todos juntos por um objetivo comum
mento, comercialização, liderança
(Primeiro módulo de formação em agroecologia na comunidade Ouro Verde em 2013) comunitária, produção e agroecologia.

16
COMUNICAÇÃO E
MOBILIZAÇÃO SOCIAL

Estas atividades de assessoria e capa- Através do Projeto, as pessoas foram


citação possibilitaram fortalecer espa- provocadas a atuarem na busca de um
ços de reunião, planejamento e avalia- propósito comum, decidindo e agindo
ção comunitários, gerando resultados em tono de um objetivo comum: resol-
expressivos, como o surgimento de ver problemas e propor soluções con-
novas lideranças, a reorganização das juntas. As famílias agricultoras foram
associações, a formação de quatro Precisa agora potencializar chamadas a se envolverem e participa-
grupos de mulheres e a ocupação de rem das suas escolhas em todos os pro-
todo esse capital social, que
diversos espaços políticos e sociais no cessos, desde as formações, passando
município, como conselho municipal são os grupos e as pelo planejamento até as decisões de
de meio ambiente e fórum regional de associações, seja reativação e de renovação das direto-
desenvolvimento rural sustentável. caminhando com as rias das associações.
Organização comunitária
próprias pernas seja
buscando parcerias ou A mobilização junto às famílias agricul-
É iniciativa da mobilização e organização de um
conjunto de moradores/as de uma determinada toras se construiu através de ações de
comunidade (território ou região) para obter, por si, acessando projetos. comunicação visando a ampla divulga-
melhorias para a população (comunidade) junto ao
Estado/Poder Público e a outros atores sociais. Mobilizados e organizados é ção das atividades nas atividades de
Trata-se, portanto, de uma forma de ativismo
político, com a identificação de necessidades ou
preciso que as famílias forma clara e eficiente, através de
carências da comunidade, a mobilização de recursos
e a formulação de estratégias de ação.
avancem daqui pra frente, cartazes e folders – de iniciativas dos
É encabeçada por um líder comunitário, mas as buscando sempre a grupos, pelo boca a boca ou pelo
decisões e os debates acerca de temas que dizem “velho” recado.
respeito à comunidade são conduzidos no coletivo. A melhoria do coletivo.
organização comunitária promove a integração,
união, fortalecimento, empoderamento e comunhão
da comunidade, além de favorecer a solidariedade,
as atitudes de reciprocidade, e a melhor eficiência e
transparência na gestão e no uso coletivo dos Renato Farias
recursos locais. Coordenador do Projeto
17
Os momentos de formação e de capa- organizar e gerir os rumos das associa-
citação técnica também estavam ções e dos grupos do Assentamento
voltados nos princípios da educação e Nova Cotriguaçu.
da comunicação populares, construin-
do os conhecimentos de forma dialo-
É necessário que as gada e partilhada. Os agricultores e as É muito bom a gente fazer parte
comunidades rurais estejam agricultoras passaram a ter acesso às do grupo. A gente fica mais
informações que antes não tinham, e a informado, por dentro das
minimamente organizadas produzirem e trocarem conhecimento
para que as políticas coisas. É um espaço onde a
dentro desse coletivo.
públicas cheguem na base. gente pensa em contribuir com a
Nesse sentido, o ICV tem Valorizou os saberes os locais do agri- nossa comunidade; buscar a
sido um grande parceiro cultor/a e os saberes técnico-científico melhoria do nosso lugar.
por parte da assessoria do ICV; e pro-
para o município,
moveu a multiplicação desses conheci-
contribuindo na mentos e dessas novas práticas de
organização e no organização comunitária. No intuito de
empoderamento local das alcançar a todos/todas, sempre houve
comunidades. cuidado de fazer uso de linguagem
adequada e simples, de forma a não
excluir os públicos nos diversos espa-
Amilton Castanha
ços de formações, reuniões e encon-
Secretário Municipal de tros. E assim, a comunicação e mobili-
Desenvolvimento Econômico, zação se juntam nessa estratégia de Cirlene de Oliveira Barbosa
Agricultura, Meio Ambiente 21 anos / Grupo Mulheres da Paz
e Assuntos Fundiários construção de um novo jeito de se da comunidade Santa Clara
18
FORMAÇÃO DE
LIDERANÇA COMUNITÁRIA

O ICV promoveu uma capacitação para


formação de lideranças em dois módu-
los com pessoas de perfis de líderes
comunitários já reconhecidos ou
demonstrando o potencial necessário
em termos de confiança, carisma,
responsabilidade e poder de mobiliza-
ção para se tornarem lideres de fato. A
proposta da formação foi mobilizar
lideranças para o protagonismo no
processo de desenvolvimento local;
capacitar para a gestão coletiva comu-
nitária; construir visões críticas sobre a Oficina de Formação de Lideranças Comunitárias na comunidade de Novo Horizonte em 2012
realidade da agricultura familiar, o
território e suas dinâmicas; e sensibili- ciou o papel do líder, buscando mos- líder ter poder de motivação e servir
zar sobre o papel da liderança, por trar a importância do associativismo e de espelho aos demais. Assim ele ou
meio de reflexões sobre relações inter- da conquista dos seus direitos. O ela conseguirá liderar grupos, comuni-
pessoais, desafios dos trabalhos coleti- trabalho promoveu o resgate da credi- dades ou associações, sendo o guia
vos, organização social, comunicação, bilidade das associações comunitárias dos processos de organização comu-
participação, resolução de conflitos, e de suas lideranças junto às comuni- nitária e sempre incentivando a liber-
mobilização de recursos, apoios e dades. dade de opinião e expressão do grupo.
parcerias, representatividade, e gestão É muito importante a construção de
de pequenos projetos. A liderança comunitária compreende a uma relação harmoniosa e de confian-
forma de saber lidar com as pessoas e ça entre comunidade e liderança.
Essa sensibilização e formação eviden- com momentos difíceis. É papel do
19
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE UM BOM LÍDER COMUNITÁRIO:

Estas características foram construídas pelos grupos


durante as oficinas de formação de liderança.

1 Liderança coletiva, mobilizadora e conciliadora;

A prática da agricultura 2 Não ser um líder que se impõe, ouvir e receber bem as opiniões;

familiar também perpassa 3 Apoiar a troca e a mudança de liderança e estimular novas lideranças;
as questões de gênero, e é
importante colocar as
4 Definir papéis e responsabilidades;

trabalhadoras rurais no 5 Estimular e trabalhar em cooperação


centro das discussões e no
6 Saber se comunicar com o grupo;
protagonismo das ações. Os
agricultores organizados em 7 Repassar e compartilhar as informações;

grupos fortalecem todo um 8 Avaliar e replanejar sempre;


conjunto de atores locais, 9 Estimular a união, o diálogo, o entendimento e a participação;
prefeitura, associações e as
organizações, como o 10 Buscar apoios e parcerias;

próprio ICV. 11 Ser persistente, confiante e transparente, e estar sempre pronto para ajudar.

José Carlos Sudré


Articulador das Iniciativas
Comunitárias e Assuntos
Fundiários/Prefeitura Municipal
20
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

zar na situação atual, e que não depen-


dem só de fatores externos fora do
controle do grupo. O planejamento foi
construído pelos grupos, aproveitando
as fortalezas do coletivo e as oportuni-
dades que se apresentam, procurando
melhorar as fragilidades.

Além de contribuir para motivar e


oportunizar o envolvimento de cada
um/uma, o planejamento fortaleceu a
identidade, o compromisso e serviu de
referência para a mobilização de recur-
sos e elaboração de projetos. O plane-
jamento foi um processo que serviu de
ferramenta importante de gestão das
Assessoria à diretoria da associação comunitária de Novo Horizonte em 2013 ações coletivas.

É necessário pensar as atividades que Para se acertar melhor o caminho


serão organizadas para o futuro, de traçado, os planejamentos com os
modo que se articulem de forma clara grupos se basearam também nas
e ordenada para diminuir o risco de informações levantadas pelo diagnós-
fracasso. Neste sentido, o ICV promo- tico realizado, e sobre objetivos alme-
veu diversas oficinas de planejamento jados pelo grupo, de modo a que se
com os grupos envolvidos no Projeto. proponha ações possíveis de concreti-
21
MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS

A mobilização de recursos deve ser


pensada com a finalidade ajudar o
grupo ou associação. Buscar recursos É necessário que a gente se
para promover, fortalecer e engajar o organize. Trabalho em grupo
Quando começamos, a grupo. não é fácil, cada um tem um
associação tava parada. As
jeito de lidar, de pensar. Mas, é
pessoas não acreditavam no A captação de recursos não se dá,
todo mundo unido que a gente
trabalho da associação devido à somente, por apresentação de proje-
tos através de editais. É expressiva a consegue trazer os benefícios
desonestidade de gestões
capacidade de mobilização de recur- para a nossa comunidade. Com
anteriores. O ICV foi
sos por essas comunidades do Assen- o trabalho de organização
incentivando e aos poucos fomos
tamento em benefício do coletivo, conseguimos um trator para o
reativando a associação. Hoje, já através de mutirões de trabalho, doa- Assentamento.
são 25 sócios. Fizemos até curso ções, festas e rifas para conseguir
sobre associativismo. É juntar um pequeno fundo ou ainda
importante a gente se associar. solicitar patrocínio e doações, em
Juntos, a gente consegue as comércios do entorno ou junto de
coisas para nossa comunidade. instituições parceiras (Igrejas, CRAS
Trabalhando assim conseguimos (Centro de Referência de Assistência
Social) e Secretaria de Ação Social).
colocar energia na nossa
comunidade. Pensando assim, o ICV assessorou a
Gercina de Souza Chagas elaboração de pequenos projetos para
Vice-presidente da Associação aquisição de instrumentos, produtos e Jorge Belcavello
Juntos Chegamos Lá da Associação dos Pequenos
Produtores de Santa Clara
22 comunidade de Novo Horizonte
PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

equipamentos de panificação e benefi-


ciamento de frutas, e de implantação
de unidades familiares de avicultura
agroecológica junto aos grupos de
mulheres. Os projetos foram financia-
dos pelo Fundo Socioambiental CASA
a partir de uma realidade e de uma
necessidade do coletivo em potencia-
lizar o aproveitamento do babaçu,
mandioca, cacau e frutas - por meio de
beneficiamento e comercialização dos
seus produtos, como farinha, bolos,
biscoitos, doces e polpas de frutas. Capacitação em Boas práticas de Beneficiamento de frutas na
comunidade de Nova Esperança em 2012

Os grupos, ao participarem da elabo- A equipe do ICV foi desafiada a apoiar, Algumas vezes, essas formações
ração de projetos, estabelecem um incentivar e potencializar grupos pro- foram realizadas em parceria com o
compromisso com os resultados. Esse dutivos para qualificação da gestão, da Senar (Serviço Nacional de Aprendiza-
compromisso foi marcado também produção e do aprimoramento da gem Rural), Empaer (Empresa Mato--
por uma motivação, uma atitude e um comercialização. As famílias passaram grossense de Pesquisa, Assistência e
comportamento frente à realidade o por algumas oficinas de formação, Extensão Rural), Ceplac (Comissão
seu entorno: o empoderamento, a como horticultura orgânica, aprovei- Executiva do Plano da Lavoura do
autonomia e a geração de renda para o tamento de alimentos, criação de gali- Cacau) ou por contratação de consul-
grupo. nha, beneficiamento do babaçu e de tores especializados.
frutas, artesanatos e panificação.
23
na vizinhança e em eventos no Assen- também uma maneira de assegurar de
tamento, mas também em alguns forma mais planejada a geração de
pontos de venda (comércio local e renda às famílias agricultoras envolvi-
Oficina de aproveitamento do babaçu na regional) e de forma articulada com das no Projeto. A assessoria do ICV
comunidade de Santa Clara em 2012 outras inciativas da economia solidá- incentivou a comercialização a partir
A assessoria do ICV tem ajudado a ria. Além de parcerias com o SISCOS - dos princípios da economia popular
construir novas possibilidades para a Sistema de Comercialização Solidária, solidária.
atuação de produção e comercializa- AJOPAM – Associação Juinense Orga-
ção junto às famílias agricultoras, nizada para Ajuda Mútua, no municí-
como apoio em planejamento, elabo- pio de Juína-MT e Coopercotri - Coo-
ração de projetos e articulações comu- perativa Agropecuária de Cotriguaçu,
nitárias e políticas. Através de finan- ampliaram os canais de comercializa-
ciamentos, como o apoio do Fundo ção institucional governamental,
Socioambiental CASA, os grupos aces- como o acesso ao PAA - Programa de
saram recursos para trabalharem com Aquisição de Alimento e ao PNAE -
beneficiamento do babaçu, do cacau e Programa Nacional de Alimentação
da mandioca, criação de galinha de Escolar, e também passaram a vender
base agroecológica, panificação, apro- em feiras de agricultura familiar e
veitamento de alimentos, beneficia- exposições do município e da região.
Seminário sobre comercialização e
mento de frutas (produção doces, acesso ao mercado na comunidade de
compotas, licores e polpas), artesana- Além de incentivar a organização da Nova Esperança em 2012
tos e hortas. produção e comercialização comuni-
tária, através de ações junto às asso-
Os produtos passaram a ser comercia- ciações locais e demais grupos que
lizados principalmente de forma direta compõem as comunidades, foi
24
Os grupos de mulheres das comunida- de preço de qualidade, panfleto e
des de Nova Esperança, Santa Clara e registro de fregueses.
Ouro Verde estão comercializando
artesanato, doces de frutas, compotas,
farinha e os subprodutos do babaçu A nossa associação ficou muito
Economia Popular Solidária
localmente e ainda a farinha do meso- tempo parada por falta de esforço
carpo de babaçu, para consumo Engloba em seu conceito e em sua prática das gestões anteriores. Através do
humano e para ração animal. Esta pro- as dimensões social, econômica, política, ICV, fomos incentivados a reativar
ecológica e cultural; isso faz dela algo
dução é comercializada via Cooperco- singular e ao mesmo tempo, pluridirecio-
a associação e nos organizar
tri, trazendo reconhecimento do traba- nal. Este tipo de economia enobrece o novamente. O grupo queria formar
lho das agricultoras, diversificando a indivíduo ao lhe devolver o sentimento de outra associação, pois havia muito
produção e gerando renda entre elas. A autonomia e de igualdade, visto que não
entrave, muita coisa atrasada
existe a espoliação por parte de um supe-
ideia é ampliar a produção, pois a para resolver e pagar. Agora,
rior, e os sujeitos têm direitos e deveres
demanda já começa a crescer na iguais dentro de um processo de produção tamos com 99% regularizado.
região. e distribuição de renda. Fizemos uma mobilização para
Além de cultivar valores e atitudes mais
cativar e chamar novamente os
Já o grupo de mulheres da comunidade
humanas, a economia popular solidária é sócios, e reformulamos a diretoria.
de Novo Horizonte está comercializan-
uma grande aliada no combate à pobreza A gente unido é mais forte e fica
do os frangos com base na produção e ao desemprego, ao gerar oportunidades
agroecológica diretamente nas comu- mais fácil para conseguir as coisas
iguais aos envolvidos, distribuir renda e
nidades do Assentamento e nos núcle- conhecimento e amplificar o sentido de para comunidade.
os urbanos próximos. Estão se organi- coletividade, solidariedade e união.
zando para divulgar o produto de
forma padronizada, com uma política Ezequias De Souza Barros
Associação de Pequenos Produtores
Rurais de Nova Esperança 25
PROTAGONISMO DAS MULHERES

Por muito tempo, as mulheres não ras, autônomas e donas de si, do seu
eram vistas dentro do meio rural como conhecimento, da sua vontade.
liderança e protagonista na organiza-
ção comunitária ou na formação de
grupos. Aos olhos de muitos, seu papel
Esse trabalho fez com que
se resumia aos trabalhos domésticos e,
para a organização sindical, muitas tivesse mais voz. Não é que
vezes, implicava somente acesso à as mulheres estão mais
assistência em saúde e em benefícios poderosas de que os
previdenciários, como aposentadoria homens, simplesmente a
por idade e licença maternidade remu- Autonomia: geração de renda com beneficiamento gente tem vez. Agora, o
do babaçu na comunidade de Santa Clara em 2013
nerada. No entanto, especificamente (Agricultoras Maria Margarida e Iranilda Varela) marido até incentiva.
no Assentamento, a partir de uma
demanda delas e graças a um movi- enfrentar a barreira do machismo
mento de articulações, mobilizações e dentro dos seus lares. Alguns esposos
formação com o apoio do ICV, as colocavam dificuldades, ou até impe-
mulheres vêm construindo seus espa- diam que elas participassem das reuni-
ços com formação de grupos, ocupan- ões, dos encontros e dos momentos de
do diversos espaços políticos, como formação. Muitos maridos, até então,
associação, conselhos e sindicato, que não acreditavam nesse trabalho. Foi só
até então muitas vezes só tinha a quebrar as amarras do preconceito, e
presença dos homens. assim conquistar outros horizontes.
Hoje, tem-se mulheres líderes do seu Terezinha Alves Ferreira Inhanse
As agricultoras foram desafiadas a se grupo, da sua associação e da sua Grupo de Mulheres Esperança
da comunidade Nova Esperança
lançarem para fora, saírem de casa e comunidade; mulheres empreendedo-
26
No caso dos quatro grupos de mulheres Aliadas às atividades produtivas, por
(Grupo de Mulheres Esperança/ Nova meio de assessoria e oficinas realiza-
Esperança, Grupo de Mulheres Prima- das pelo ICV, essas mulheres passa-
vera/ Novo Horizonte, Grupo de Mulhe- ram por processos de formação em
res Unidas/ Ouro Verde e Grupo de gênero, mediante discussões acerca
Mulheres da Paz/ Santa Clara) que dos fundamentos das relações sociais
surgiram espontaneamente ao longo de gênero - a partir da reflexão do
da caminhada do Projeto, é marcante a cotidiano das mulheres; e de capacita- A agroecologia traz muitos
força da determinação das mulheres, ções em agroecologia na perspectiva benefícios, inclusive a diversidade
seu compromisso com o coletivo e sua de uma agricultura familiar sustentá- na produção e renda para os
coragem perante as dificuldades e as vel, socialmente justa e saudável com agricultores. Muitas pessoas ainda
críticas que muitas vezes são expressas uma diversidade de produção consor- desconhecem o papel e da
na própria família e/ ou na comunidade. ciada em harmonia com a natureza importância da agroecologia.
(sistemas produtivos).
Desse engajamento forte das mulhe- Fizemos cursos sobre
res, nasceram várias iniciativas bem agroecologia. Foi uma
sucedidas de geração de renda. Os oportunidade boa de trocar
resultados alcançados permitiram informações e mais ideias.
transformar o olhar das suas próprias
famílias e até das autoridades públicas
sobre a importância das mulheres
rurais no desenvolvimento comunitá- Gercina Souza Chagas
Associação Juntos Chegamos Lá
rio, passando a valorizar mais as opini- da comunidade de Novo Horizonte
ões femininas, a abrir espaços e a pro- Formação em agroecologia na
curar apoios para a realização de suas omunidade de Ouro Verde em 2013
atividades enquanto grupo. 27
PARTE VI
FORTALECENDO O ASSOCIATIVISMO E O
TRABALHO EM GRUPO
Ninguém vive sozinho. O trabalho em
conjunto com objetivos comuns gera
bons resultados para um grupo e enri-
quece as experiências individuais, prin-
cipalmente quando se trabalha dentro
de comunidades rurais. É nesse cami-
nho que os grupos, as associações e
suas lideranças tiveram oficinas sobre
associativismo. Esses momentos de
capacitação demonstraram a impor-
tância da organização, da gestão, da
legalidade, do controle social e da
transparência quando se pretende
trabalhar com os coletivos.

Trabalhar no associativismo permite o


crescimento coletivo. Esse jeito de se Grupo de Mulheres Primavera da comunidade de Novo Horizonte em 2011
organizar em associação proporciona
mais ideias e pessoas contribuir na na organização e no planejamento de estoques e escoamento de produ-
melhoria da comunidade. comunitário. Através da associação, o ção. A comunidade em associação
grupo pode ter mais facilidade para permite que as decisões também
O intercâmbio de experiências e as acesso a crédito e a comercialização de sejam tomadas de forma compartilha-
trocas de informações facilitam o pro- seus produtos, compartilhando custos da e coletiva.
cesso criativo e no desenvolvimento, e serviços como transportes, controle

28
O QUE NÃO PODE FALTAR NO COMO ORGANIZAR
TRABALHO EM UM GRUPO O GRUPO

De início, deve-se responder a simples


pergunta “será que há mesmo necessi-
dades comuns?” Se a resposta for
“sim”, mas qual é a necessidade do
grupo? Tendo clareza desta resposta, o
novo grupo deve estar confiante e bem
disposto a trabalhar reunido. Antes de
ir para um próximo passo, deve-se
escolhe um nome para o grupo, o líder
e o secretário. Escolher um nome que
Primeira reunião do Grupo de Mulheres Primavera da comunidade Novo Horizonte em 2011
identifique bem a identidade, a missão
Acreditar - É uma “porta de entrada” preensão mútua, a solidariedade e o e os empreendimentos do conjunto,
na caminhada do grupo ou da associa- respeito. que tenha a ver com os objetivos de
ção. Deve-se confiar em que um grupo todos/as. Um nome inspirador, que
unido é forte. Ninguém sabe mais e Sempre trabalhar na busca da unidade funcione como uma verdadeira ban-
pode mais do que um grupo. E buscar e na diversidade. Entender que as pesso- deira do grupo.
reconhecer a igualdade, em que todos as são diferentes, mas se unem para
têm a sua importância no grupo. Todos atingir objetivos comuns. No grupo, Para coordenar os trabalhos do grupo,
possuem uma necessidade em cada um tem um talento que comple- o líder deve ter algumas característi-
comum. Por isso, sempre se procurou menta o do outro. Assim, juntos são cas: gostar de se relacionar, preocupar-
construir momento de entrosamento mais fortes. E ter consciência de que o -se com o bem-estar do coletivo,
pessoal nas atividades coletivas e nas resultado de um afeta todos. Todos/to- buscar resultados concretos, ser firme,
dinâmicas, e reflexões resgatando a das são responsáveis pelo sucesso do ágil, saber ouvir, compartilhar informa-
importância dos valores do associati- empreendimento coletivo. ções e, principalmente, gostar de
vismo, destacando-se a união, a com- tomar decisões conjuntamente. E se
29
não houver alguém assim no grupo? construir o plano de ação coletiva, para
Hora de capacitar um novo líder. atender a uma necessidade comum,
lembre-se de tudo o que foi dito ante- Diagnóstico e planejamento com o Grupo de
riormente, listando: Mulheres Esperança da comunidade
Os grupos não podem se isolar das dinâmicas Nova Esperança em 2011
da associação. Dentro de uma única associa-
ção comunitária pode haver vários grupos, NECESSIDADES COMUNS − Indique PARTICIPAÇÃO
como grupos de mulheres, grupo de artesana-
to, grupo de jovens.
as necessidades comuns.
É importante sempre participar das reuniões do
O QUE FAZER − Descreva as ativida- grupo ou da associação. Conversando e se
O grupo não precisar ser pessoa jurídica (com
registro e estatuto). Os grupos para acessarem des a serem realizadas para atender às reunindo que aparecem as necessidades
projetos ou outras fontes de financiamento necessidades comuns. comuns e é planejando as ações que os
podem ser via associação comunitária objetivos são alcançados pelo do grupo,
COMO FAZER − Escreva como tudo associação ou comunidade.
deve ser feito para que as atividades
O secretário ou secretária convoca os do item anterior aconteçam.
membros para reuniões, anota as deci- QUANDO FAZER − Indique o prazo
sões tomadas nas reuniões, comparti- para realizar essa ação.
lha informações, isto é, todas as ano- QUEM FAZ − Defina o responsável
tações e decisões tomadas, organizar pela execução da ação. Lembre-se de
os dados dos membros do grupo. Ou que não precisa ser o líder. Qualquer
seja, deve ser bem organizado/a para pessoa no grupo pode e deve se
guardar e atualizar todas as informa- responsabilizar por ações que visam ao
ções. atendimento das necessidades
comuns. Pode-se ter um responsável
É importante que o grupo tenha um diferente para cada ação.
plano de ação coletiva. Na hora de QUANTO − No quadro “recursos”,

30
PARTE VII
OLHANDO PARA
OS RESULTADOS
Ao propor trabalhar a organização e a mas de produção de base agroecológi-
gestão comunitárias como parte de ca e comercialização coletiva), na
um componente dentro do Projeto formação de lideranças locais, no
Cotriguaçu Sempre Verde, o ICV foi apoio à elaboração e gestão de proje-
desafiado a atuar com as quatro comu- tos produtivos comunitários, no apoio
nidades diante da dificuldade de criar à articulação local e regional, na parti-
uma dinâmica comunitária no Assen- cipação em eventos e espaços de Além da volta da nossa
tamento, em que as associações esta- diálogo, na assessoria a informações organização comunitária, a gente
vam muito fragilizadas. Em princípio, sobre políticas públicas, e na regulari- passou aproveitar mais as coisas
as famílias toparam em receber a zação, gestão administrativa e finan- da natureza gerando mais um
assessoria do Projeto através da ceira das organizações de base. Ainda dinheirinho pra nós, como o
formação de grupos informais (grupos promoveram a geração de renda para aproveitamento do babaçu e a
de mulheres e famílias interessadas na as mulheres rurais e o fortalecimento fazer doces e bolos; a produzir
diversificação da produção) e, gradati- da economia local nas comunidades, o coloque todosmais
melhor com os recursos necessários
qualidade. Tenho
vamente, se convenceram de resgatar estabelecimento de articulação políti- à realização da ação. Esses recursos
uma horta e não uso agrotóxicos.
e reativar suas associações comunitá- ca pelos grupos comunitários, e a visão podem ser financeiros e/ou materiais.
Já vieram pessoas de outros
rias como forma de empoderamento e do desenvolvimento comunitário
lugares conhecer minha área;
legitimidade. sustentável com base agroecológica. Se necessário, o grupo pode buscar
alguns adotaram
aperfeiçoar a gestãoessas coisas
e novos em
conheci-
As ações do Projeto centraram esforço Algumas conquistas de todo esse pro- suasdeterras.
mentos através formações, cursos,
na mobilização comunitária, na asses- cesso de mobilização e organização palestras ou oficinas para o coletivo.
soria à implementação dos planos promovida pelo Projeto, que são bem
comunitários (capacitações e inter- expressivas, foram trazer de volta a Maria Margarida de Oliveira
câmbios em organização social, siste- autoestima, o empoderamento, o Grupo Mulheres da Paz
comunidade Santa Clara
31
engajamento e a autoconfiança das associações comunitárias, em vez de
famílias agricultoras. A confiança foi fundar outra associação. Ainda com a
um elemento importante no desenvol- assessoria do Projeto, foram realiza-
vimento dos trabalhos. Confiança neles das orientações e acompanhamento à
mesmos; mostrar que eles são capazes organização dos registros e ferramen-
e têm potencial. Retomada da confian- tas de gestão dos grupos e associa-
ça nas suas organizações comunitárias, ções, como formação de novas direto- Resgatamos a confiança
reconhecendo como coletivos de rias, uso adequado de livro de ata de comunitária. No início, havia
representação e diálogo. E a confiança reunião, e controle e registro financei- medo e desconfiança nesse
que foi construída e conquistada entre ro. trabalho. Depois viram que
os/as agricultores/as e equipe do ICV. poderia dar certo, pediram apoio e
Existiram alguns entraves no que diz perceberam que o caminho poderia
O ICV iniciou um processo de apoio à respeito à reorganização e à gestão
ser esse. A grande conquista foi
gestão e regularização das associa- das associações, como a falta de com-
resgatar e trazer de volta essa
ções, e dos grupos de mulheres. preensão da linguagem documental e
confiança e autoestima. Mostrar
Entendendo que é preciso unir esforços da informação clara, e a morosidade
do coletivo para soluções dos proble- que esbarram a burocracia dos orga- que as famílias são capazes. E isso
mas da associação. nismos e das instituições. Todo esse veio fortalecer também a
processo foi um desafio para as lide- capacidade local de gestão e de
Foram realizados também alguns ranças e uma aprendizagem para o liderança deles e delas.
momentos de estudo e readequação ICV.
dos estatutos das associações, e cons-
trução dos regimentos internos dos Vale destacar que foi realizado um Suzanne Scaglia
grupos de mulheres, que acabaram se levantamento do histórico e da situa- Educadora em práticas
incorporando nas suas respectivas ção de cada associação, e que o sustentáveis do ICV
32
AVANÇOS NA GESTÃO
Houve mudanças nas estruturas de algumas associações comunitárias. Os grupos de mulheres estão se organizan-
do, formando sua diretoria e elaborando seus regimentos internos.
A Associação da comunidade de Santa clara foi regularizada. As comunidades Santa Clara e Novo Horizonte
construíram o seu barracão comunitário em regime de mutirão, envolvendo a comunidade.
Na comunidade Nova Esperança, as famílias se mobilizaram para reativar a associação. Conseguiram equipamen-
tos para uma implantação de uma unidade de beneficiamento comunitário através de projeto com o Fundo
Socioambiental CASA. E, estão construindo um barracão para a associação em um terreno doado pela prefeitura
de Cotriguaçu. Hoje, os diferentes grupos de mulheres e as quatro associações estão se articulando para conversar
pautas e reinvindicações comuns para a região, e realizar a gestão coletiva de recursos compartilhados.

Esse movimento de organização


Projeto facilitou todos os processos mento, queimadas, uso de agrotóxico, dentro do Assentamento traz o
junto do cartório, Receita Federal, conservação dos recursos hídricos e a fortalecimento da própria
escritórios contábeis, advogados e prática sustentável do extrativismo,
Secretaria municipal de Agricultura. principalmente no tocante à ao babaçu agricultura familiar. A
– em que os grupos de mulheres fazem associação é base de tudo para
Outro ponto relevante conquistado a beneficiamento como sabão, óleo, o trabalho em comunidade,
partir do Projeto foi um maior desen- farinha e bolacha. onde tudo acontece para as
volvimento da conscientização
ambiental permanente em todos os Atualmente, as lideranças locais con- políticas públicas chegarem.
momentos de diálogo e vivencias nas duzem a facilitação dos processos
comunidades. Procurou-se fazer com internos, tais como realização de
que as famílias agricultoras empode- assembleias gerais das associações,
rassem dessa temática, incorporando reuniões de grupos locais e planeja- Givanildo da Silva Ribeiro
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores
cada vez mais práticas respeitosas e mentos (manejo, artesanato, grupo de e Trabalhadoras Rurais de Cotriguaçu
harmoniosas em relação à floresta e mulheres). As associações passaram a
seus recursos naturais. Em diversos ter procedimentos próprios para reali-
momentos foram tratados sobre a zação das reuniões comunitárias para
gestão de recursos naturais, desmata- discussão de suas pautas, tanto de
33
inserção em programas de comerciali- público local, e da articulação com
zação institucional governamental, da entidades municipais e regionais.
Produção de doces em conservas na aproximação e do diálogo com o poder
comunidade Nova Esperança em 2012

organização social, quanto de organi-


zação para produção e comercializa- Encontro de saberes e sabores
ção. Em julho de 2012 e agosto de 2013, as comunidades
realizaram o Encontro de Saberes e Sabores do Assen-
tamento Nova Cotriguaçu, respectivamente, em Nova
O incentivo à organização comunitá- Esperança e Santa Clara. O espaço vem servindo de
ria, ao desenvolvimento da diversidade palco para as organizações (associações e grupos de
das cadeias sócioprodutivas e à acesso mulheres) se colocarem, apresentando sua visão do
desenvolvimento local, seus objetivos de trabalho e os
ao mercado vem contribuindo não só resultados alcançados para os convidados, represen-
para a edificação do associativismo e tantes do poder público e de instituições como coope-
rativas, sindicato, mídia e moradores da região.
do cooperativismo comunitários, mas
Também foi um momento importante para as famílias
a construção de uma economia solidá- agricultoras se integrarem, conhecerem e socializarem
ria, valorizando a produção da socio- experiências, além de exporem e comercializarem toda
a riqueza e a diversidade da produção local, numa feira
biodiversidade com preço justo, e das
onde os grupos vendem seus produtos, como artesa-
trocas e vendas diretas sem atravessa- nato, doces e bolos. O momento serve também para
dores. Ao mesmo tempo, toda essa confraternização, com muita culinária local num
banquete realizado com a produção das próprias
trajetória entorno do resgate e do comunidades, onde os/as agricultores/as recebem
fortalecimento da organização social e visitantes de outras regiões e assentamentos. No
local, acontecem apresentações culturais e artísticas
da gestão comunitária vem trazendo a de moradores/as da própria localidade.
adoção das práticas de mutirões, da

34
PARTE VIII
ABRAÇANDO O FUTURO
A mobilização e a realização das ativi-
dades envolvendo as quatro comuni-
dades sempre se deram de forma O ICV tem que estar junto com
participativa junto às famílias envolvi- o nosso grupo ainda. Mas,
das no Projeto, no intuído de fomentar acho que vai ter uma hora que
assim um protagonismo desses atores vamos caminhas sozinhas. A próxima parte dessa caminhada é
locais e reforçar a capacidade das Queremos como meta ter uma apoiar a consolidação do trabalho.
comunidades de se organizarem em renda para não depender só do Agregar mais fortalezas nesse
prol do seu próprio desenvolvimento, dinheiro do marido e comprar o processo de organização, como
criando condições de autogestão e que quero sem pedir pra ele. buscar parcerias e projetos, com foco
autonomia gradativa em relação à
d Minha cabeça não quer só na produção agroecológica e na
assessoria fornecida pelo Projeto.
pensar em lavar roupa. comercialização. Sabemos que há
As associações e os grupos voltaram a muitos desafios nessa estrada do
ter uma rotina de reuniões, estão com associativismo, mas já demos o
pautas para serem discutidas, e perce- primeiro passo que foi resgatar a
beram que não é sempre fácil tomar autoestima e confiança das famílias,
decisões coletivas e lidar com a diversi- e animá-las para serem protagonistas
dade de opiniões no coletivo. Eis o dos processos de organização e
primeiro desafio: dar continuidade mobilização comunitários.
desse trabalho em grupo caminhando
sozinho - independente da participa-
ção e da assessoria do ICV nos proces- Camila Rodrigues
Leidemar Maria Eloi Moza Assistente de Coordenação do Projeto
sos, respeitando as contradições e as Comunidade Ouro Verde
divergências de trabalho em grupo.
35
Uma lição importante pelos grupos é gem e experiência suficientes de se
que tem de dar tempo ao tempo para organizarem, ou seja, um passo a cada
aprender a trabalhar juntos, e por isso etapa.
é importante que a associação tenha
uma vida por si só, que não seja apenas Engajados e mobilizados, outro desa-
vista como uma ferramenta de capta- fio é agora é acessar de forma mais
ção de recursos e projetos. Está mais organizada outras políticas públicas.
Muitas colegas desistiram,
claro para os grupos que é bom come- Vislumbrar outros canais de fomento e
acharam dificuldades; as que
çar com projeto pequenos no início, e desenvolvimento nas diversas áreas do
ficaram tocaram o barco. O grupo
depois ampliar para acumular baga- entorno e da vida das comunidades,
que ficou tem força de vontade,
acredita na organização. A gente
trabalha junto com a associação,
pois fazemos parte dela também.
Foi um bênção o ICV chegar É importante a gente se organizar
aqui e começar incentivar a para acesso às coisas. A gente
gente. Tinha dor ver as organizado é bem visto. Hoje, crio
mulheres querendo produzir e mais de 50 galinhas. Nossa
comercializar e sem poder dificuldade maior é com a
fazer nada. Hoje, depois que a comercialização.
gente formou o grupo de
mulheres, uma incentiva e
Luiza Coelho de Carvalho
apoia a outra. Grupo de Mulheres Esperança Irene de Souza Batista
da comunidade Nova Esperança Grupo de Mulheres Primavera da
comunidade de Novo Horizonte
36
como agricultura familiar, infraestru- tivo comum. E isso é viver em comuni-
tura, geração de renda, educação do dade, em comunhão, em coletivo com
campo, comercialização e produção. os mesmos ideais. Trabalhar em grupo
ou em associação é sempre desafia-
É reconhecido os laços com outros dor, mas os resultantes são sempre
atores locais, como igreja, sindicato e positivos, concretos e coletivos, para o
poder público local. Deve-se procurar bem de todos e todas. É hora de abra- Às vezes, eu brinco que a gente
outras parcerias institucionais, por çar o futuro, caminhar e continuar a trabalha como vendedores de
exemplo, com o comércio local, orga- escrever esta história. sonho. E o desafio é sempre deixar a
nizações da sociedade civil e empre- chama acessa dentro dessa relação
sas. O momento também é chegar em de confiança conquistada com as
outros espaços políticos e sociais, famílias agricultoras. Que as
como redes de agroecologia, econo- famílias não desistam, perseverem
sempre. Houve muita mudança para
mia solidária e trabalhadoras rurais.
as famílias, nesses últimos três
Buscar o diálogo com outros grupos ou
anos. Desenvolveram-se
associações, intercambiar experiên- pessoalmente, e aumentaram a
cias e informações, e potencializar autoestima de pertencer a um grupo
cada vez mais a produção bom base e ou associação e de se reconhecerem
princípios agroecológicos. como agricultor e agricultora,
fortalecendo sua identidade no
Parece que até aqui essa história, essa meio rural.
caminhada, serviu de laboratório para
as famílias agricultoras aprenderem e
desenvolverem sua capacidade de Elisangela Sodré
Educadora em práticas
trabalhar juntas em torno de um obje- sustentáveis do ICV 37
FONTES DE PESQUISA
- Associação - Série empreendimentos - Por que sistematizar? Francisco
coletivos. Brasília: Sebrae, 2009. Souza. Almanaque de Metodologia da
Educação Popular. Centro Nordestino
- Diagnóstico Social, Econômico e de Animação Popular Recife-PE: CEPE
Ambiental Planejamento Participati- - Companhia Editora de Pernambuco,
vo. ICV, 2012. 1998.

- Diagnóstico Rural Participativo - Um - SEI - Unir forças para melhorar. Lacy


guia prático. Miguel Expósito Verdejo. de Oliveira Silva e Maria Lucia Scarpini
MDA: Brasília, 2006. Wickert. Brasília: SEBRAE, 2012.

- O Que é Sistematização? Uma


pergunta. Diversas repostas. CUT: São Sites
Paulo, 2000.
- www.coletivoverde.com.br
- Planejamento e elaboração de proje-
tos para grupos comunitários. Edison - www.agricultura.gov.br
José Corrêa e Roseni Rosângela de
Sena. 2ª edição. Belo Horizonte: - www.sebrae.com.br
NESCON – Núcleo de Educação em
Saúde Coletiva, 2009.

38
39
Realização

Apoio

39

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