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Técnica Dietética

Queila Turchetto
Missão
“Promover a educação de qualidade nas
diferentes áreas do conhecimento, forman-
do profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária”

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva


Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Edu-
cação a Distância:
Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Técnica e Dietética. Queila Turchetto
Maringá - PR.: Unicesumar, 2015.
164 p. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
“Graduação em Gastronomia - EaD”.
1. Gastronomia. 2. Técnica. 3. Dietética. EaD. I. Título. Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado
Hilton Pereira, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Direção
CDD - 22ª Ed. 641.3 de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Dayane Almeida, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício
Lazilha, Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo, Projeto Gráfico
e Editoração José Jhonny Coelho, Designer Educacional Rossana
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Costa Giani, Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi, Ana Caroline
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050- de Abreu, Ilustração Bruno Pardinho e André Luís Onishi, Fotos
900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Shutterstock e Istockphoto.
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palavra do reitor
Reitor
Wilson de Matos Silva

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um as demandas institucionais e sociais; a realização de


grande desafio para todos os cidadãos. A busca por uma prática acadêmica que contribua para o desen-
tecnologia, informação, conhecimento de qualida- volvimento da consciência social e política e, por fim,
de, novas habilidades para liderança e solução de a democratização do conhecimento acadêmico com a
problemas com eficiência tornou-se uma questão de articulação e a integração com a sociedade.
sobrevivência no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar
Cada um de nós tem uma grande responsabilida- almeja ser reconhecida como uma instituição uni-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos versitária de referência regional e nacional pela qua-
fará grande diferença no futuro. lidade e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar competências institucionais para o desenvolvimento
assume o compromisso de democratizar o conheci- de linhas de pesquisa; consolidação da extensão uni-
mento por meio de alta tecnologia e contribuir para versitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial
o futuro dos brasileiros. e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade
No cumprimento de sua missão – “promover a interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis-
educação de qualidade nas diferentes áreas do conhe- trativa; compromisso social de inclusão; processos
cimento, formando profissionais cidadãos que con- de cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
tribuam para o desenvolvimento de uma sociedade como também pelo compromisso e relacionamento
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar permanente com os egressos, incentivando a educa-
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com ção continuada.
boas-vindas

Pró-Reitor de EaD
Willian V. K. de Matos Silva

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade A apropriação dessa nova forma de conhecer


do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores
Essa é a característica principal pela qual a de agregação de valor, de superação das desigualdades,
UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, Logo, como agente social, convido você a saber
é importante destacar aqui que não estamos falando cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar
mais daquele conhecimento estático, repetitivo, a tecnologia que temos e que está disponível.
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
renovável em minutos, atemporal, global, demo- modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as
cratizado, transformado pelas tecnologias digitais tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipa-
e virtuais. mentos e aplicações estão mudando a nossa cultura
De fato, as tecnologias de informação e comuni- e transformando a todos nós.
cação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Priorizar o conhecimento hoje, por meio da
lugares, informações, da educação por meio da conec- Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o
tividade via internet, do acesso wireless em diferentes contato com ambientes cativantes, ricos em infor-
lugares e da mobilidade dos celulares. mações e interatividade. É um processo desafiador,
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets acelera- que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
ram a informação e a produção do conhecimento, que oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem
não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD
em segundos. da Unicesumar se propõe a fazer.
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boas-vindas
Diretora Pedagógica
Kátia Solange Coelho

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está conceitos teóricos em situação de realidade, de ma-
iniciando um processo de transformação, pois quando neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou estes materiais têm como principal objetivo “provocar
profissional, nos transformamos e, consequente- uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
mente, transformamos também a sociedade na forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? em busca dos conhecimentos necessários para a sua
Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças formação pessoal e profissional.
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento Portanto, nossa distância nesse processo de
compatível com os desafios que surgem no mundo crescimento e construção do conhecimento deve
contemporâneo. ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
O Centro Universitário Cesumar mediante o pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA
durante todo este processo, pois conforme Freire – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
(1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e partici-
mação do mundo”. pe das discussões. Além disso, lembre-se que existe
Os materiais produzidos oferecem linguagem uma equipe de professores e tutores que se encontra
dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
dagógica, contribuindo no processo educacional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
complementando sua formação profissional, desen- trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
volvendo competências e habilidades, e aplicando acadêmica.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Apresentação do Livro

Professora Especialista
Queila Turchetto

Querido(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Técnica Dietética.


Sou a professora Queila Turchetto, nutricionista formada pelo Centro Universitário de
Maringá e fisiologista pela Universidade Estadual de Maringá, atualmente mestranda em
Tecnologias Limpas. Sou apaixonada pela gastronomia desde criança, quando participava
dos eventos realizados com meus pais. Prestei consultoria em nutrição a restaurantes,
a bares e também a escolas do ensino fundamental, em que trabalhei na melhora do
cardápio e com questões de higiene e educação nutricional, nesta oportunidade também
ministrei aulas práticas e teóricas de cozinha saudável a crianças.
Após essa experiência, iniciei como docente em gastronomia e aperfeiçoei meus
conhecimentos na área, relacionando-os à nutrição. A disciplina de Técnica Dietética foi
a primeira que ministrei e é com esse carinho especial que a partir deste momento vamos
entrar nesse mundo maravilhoso das técnicas associadas à dietética para a Gastronomia.
Na unidade I, vamos trabalhar com os conceitos da Técnica Dietética associados às
características dos alimentos, verificando como neles correm as transformações ocasio-
nadas pelo processo da cadeia de produção dos alimentos que promovem modificações,
nesse sentido também estudaremos as características organolépticas dos alimentos e
veremos como elas são identificadas pelo nosso organismo.
Faremos ainda uma pequena revisão sobre os métodos de conservação dos alimentos
e, a partir de técnicas de pesagem e medição de ingredientes secos, líquidos e gordurosos,
identificaremos os erros na hora da elaboração da produção e como essas técnicas fazem
muita diferença no controle de custos e de desperdício de alimentos.
Vamos conhecer e calcular o fator de correção e cocção, que auxilia na elaboração
da ficha técnica para controle de custos em um restaurante, que é determinada como
ferramenta importantíssima no controle de desperdício de alimentos.
Fecharemos a unidade I discutindo sobre o desperdício nas unidades de alimentação
e sobre o reaproveitamento, identificando onde estão presentes as principais fontes de
desperdício e as possíveis ferramentas para a sua redução.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 7

Na unidade II, vamos relacionar os produtos de origem animal e a técnica e dietética.


Inicialmente, vamos trabalhar com os ovos, identificando a sua estrutura, composição
química e temperaturas para cocção de acordo com a coagulação de suas proteínas e
constituintes.
Dando continuidade, vamos trabalhar com as gorduras, que podem ter tanto origem
animal quanto vegetal. Elas possuem papel importante para a gastronomia e para a
Técnica Dietética, utilizá-las de forma correta promove grande diferença para controle
de custos, sendo também um importante componente nutricional.
Vamos ainda nessa unidade trabalhar com leite, que é um ingrediente demasia-
damente complexo. Tal complexidade pode ser observada já na sua produção, sendo
sua utilização na indústria e na culinária importantíssima, o que pode ser observado e
comprovado pela quantidade de receitas que levam esse ingrediente e pela quantidade
de produtos dele derivados. Falando em derivados, vamos diferenciar alguns produtos
industrializados à base do leite, como iogurtes, bebidas lácteas, queijo, tudo vem do
leite, porém do leite integral, vamos decifrar essas terminologias identificando como
são feitos esses ingredientes.
Fechamos a unidade II falando sobre o tema “carnes”. Quando estamos falando
de carne, não me refiro somente à vermelha, à carne de gado, mas também à carne de
aves, peixes e frutos do mar. Cada ingrediente possui uma estrutura diferente, a qual
se modifica mediante os métodos de cocção. Assim, a partir da Técnica Dietética, ao
trabalhar com um determinado ingrediente, vamos diferenciá-lo para reduzir custos
por meio do aprendizado a respeito dele.
Na unidade III, iremos discutir sobre os produtos de origem vegetal. Nossos estudos
se iniciam com os cereais. O trigo e o arroz são exemplos de grãos que estão na base de
nossa pirâmide alimentar, e sua ingestão diária pode ser considerada um fator primordial
à sobrevivência, sendo necessário o consumo de 6 a 11 porções desses alimentos por
dia. Por meio do beneficiamento, vamos diferenciar os cereais refinados dos integrais e
entender o que determina a qualidade nutricional.
Após estudarmos os cereais, vamos estudar sobre massas e seus agentes de cres-
cimento, os comumente chamados de fermento, que são responsáveis por produzir
diferentes preparações saborosas do nosso dia a dia. Os pães, por exemplo, têm entre
Té c n i c a D i e t é t i c a

seus ingrediente o fermento biológico, que pode ser considerado um fermento vivo,
já os bolos levam fermento químico, que nada mais do que a mistura de bicarbonato
misturado a uma substância cítrica.
Ainda nessa unidade, vamos estudar as leguminosas, alimentos fontes de proteí-
nas e carboidratos. Em suas variadas formas de apresentação, as leguminosas são um
grupo fascinante de fonte de nutrientes, elas acompanham os cereais na bases de nossa
alimentação, tanto para onívoros quanto para vegetarianos e veganos, por causa da
quantidade expressiva de proteínas, sendo que, quando associadas aos cereais, formam
uma proteína completa para o consumo.
No último tópico deste livro, vamos trabalhar com as frutas, hortaliças, corantes e
edulcorantes. As frutas são ingredientes versáteis na cozinha assim como as hortaliças.
Seu colorido é fonte de nutrientes e ajuda a moldar um prato composto. As frutas podem
se utilizadas em sobremesas, tanto cruas como cozidas enriquecem qualquer cardápio.
As hortaliças, com suas texturas e teor de fibras, também podem ser utilizadas em sua
forma original, cruas, ou cozidas, elas fornecem nutrientes, sabor e cor para produção
de um cardápio equilibrado.
Para finalizar, estudaremos os corantes e edulcorantes, que podem ser naturais ou
artificiais. A forma natural sempre trará benefícios para saúde se utilizada de forma
correta, ao passo que o alimento artificial nem sempre poderá ser considerado algo
seguro ao consumo.
A Técnica Dietética nos ajuda a olhar os ingredientes de forma diferente e, como
sempre falo, estudar sobre os ingredientes é o que faz o verdadeiro gastrônomo.
SUMÁRIO
UNIDADE 1

Bases da Técnica Dietética


15 Introdução à Técnica Dietética
25 Técnicas de Pesagem, Medição
e Fator de Correção

37 Reaproveitamento de Alimentos

UNIDADE 2

Características e Uso Culinário


de Produtos de Origem Animal
55 Ovos e Gorduras
69 Leite e Derivados
83 Carnes, Aves e Pescados

UNIDADE 3

Características e Uso Culinário


de Produtos de Origem Vegetal
107 Cereais, Massas e Agentes
do Crescimento

125 Leguminosas
133 Frutas e Hortaliças,
Corantes e Edulcorante
Legendas de
Ícones

dica do chef habilidades mão na massa saiba mais

fatos e dados minicaso reflita recapitulando

Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar
sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade
prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos.
Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de
determinado conteúdo. . Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando principais conceitos.
Saiba mais: Informações adicionais ao conteúdo.
Introdução
Bases ao
da Mundo
TécnicadaDietética
Gastronomia
JANAINA OLIVEIRA DE AZEVEDO LEAL
QUEILA TURCHETTO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Avaliação
Introduçãonutricional
à Técnica Dietética
• Técnicas
Recomendações
de pesagem
nutricionais
e medição e fator de correção
• Reaproveitamento
Características da cozinha
de alimentos
natural

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar as características dos
da avaliação
alimentos.
nutricional
• Determinarasa quantidade
Apresentar características
de organolépticas
calorias necessárias
dos alimentos.
para população adulta
• Relacionar asasrecomendações
Determinar técnicas de pesagem
nutricionais
e medição.
ás DRIs
• Verificar os
Realizar as cálculos
características
do fator
dadecozinha
correção
natural
e cocção dos alimentos.
• Diferenciaro os
Promover reaproveitamento
Macronutrientesdee alimentos.
Micronutrientes
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Introdução
A Técnica Dietética é uma das ferramentas que buscam promover uma alimentação cada vez
Nesta unidade,e consciente
mais saudável vamos falare que
um pouco
incluemsobre nutrição.
a produção A minha proposta
de alimentos é que,mais
mais seguros, por saudáveis
meio das
bases
e maisdarentáveis,
nutrição evitando
normal, teremos um suporte
o desperdício para trabalhar
de alimentos. com Dietética
A Técnica a cozinha não
natural. A cozinha
é exclusiva da
natural é relativamente nova, na verdade se formos
nutrição e pode ser considerada base para a gastronomia. ver pelo contexto da palavra natural, ela
nemVeremos,
existiria,nesta
porémunidade, os conceitos
esse assunto iniciais
nós vamos da técnica
abordar dietética,
de forma maisfalando das características
detalhada.
dos Veremos
alimentoscomo
e dos fazer
fatores
umaqueavaliação
promovem suas modificações.
nutricional Inicialmente,
básica, contendo vamos estudar
IMC (Índice de Massaas
características
Corporal) que éorganolépticas dos alimentos
um famoso indicador e como elas
da composição são identificadas
nutricional de formae vamos
da população, fisiológica por
identi-
nosso
ficar seorganismo. A partir
esse parâmetro disso,
pode serfaremos uma
utilizados porpequena revisão
todo tipo sobre os
de pessoa. métodos
Vamos de conservação
ainda, determinar,
dos alimentos, sabendo que o alimento seguro é base da técnica dietética e para a gastronomia.
por meio do Cálculo do Gastro Energético Basal (GEB), a quantidade de energia que devemos
Ao trabalharmos com o padrão de técnicas de pesagem e medição de ingredientes secos,
ingerir durante o repouso, isto que dizer, quando não fazemos nenhum tipo de atividade, e,
líquidos e gordurosos, identificaremos alguns erros que cometemos. Assim, a metodologia e o
associado às nossas atividade diárias, o Fator Atividade (FA), também vamos calcular o Gasto
uso de técnicas, na hora da elaboração da produção, fazem muita diferença no controle de custos
Energético Total (GET), assim saberemos estimar a quantidade de calorias necessárias para a
e desperdício de alimentos.
população
Vamosadulta durante
aprender um dia,
a calcular e utilizar
o fator esses dados
de correção para determinar
e cocção, que auxilia anaquantidade
elaboraçãodedaMacro
ficha
etécnica
de Micronutrientes que podemos ingerir.
e ajuda no controle de custos em um restaurante, sendo uma ferramenta importantís-
simaAdentrar ao assunto
no controle das recomendações
de desperdício de alimentos. nutricionais no qual abordaremos os macronu-
Fecharemos
triente esta unidade determinando
e os Micronutrientes, discutindo sobre
as ocaracterísticas
desperdício gerado
de cadanas unidades
grupo de alimenta-
e relacionando-os
ção e sobre o tema “reaproveitamento”,
ás recomendações identificando
determinadas pelas Dietary ondeIntakes
Reference estão presentes
(DRIs). as principais fontes
de geração de resíduosoeque
Será diferenciado identificar possíveis
é carboidrato, ferramentas
dividindo-o empara a suae compostos.
simples redução em Também
unidades di-
de
alimentação
ferenciaremose nutrição.
as proteínas e suas funções e fecharemos os macronutrientes, falando sobre as
Devemos lembrar que uma boa prática da Técnica Dietética deve alinhar a nutrição à gas-
gorduras e suas características principais.
tronomia e, como veremos nesta unidade, à redução da geração de resíduos.
Em relação aos micronutrientes, vamos diferenciá-los em vitamina, sendo vitaminas hi-
drossolúveis e vitaminas lipossolúveis e minerais. Faremos um tour sobre os micronutrientes e
suas as principais funções no organismo, e quais são as consequências de sua deficiência, como
também vamos identificar as suas principais fontes.
Esta unidade ainda aborda as principais características da cozinha natural, que determina
a utilização dos produtos orgânicos, frescos e de boa qualidade, que favoreça sua sazonalidade,
e também a substituição inteligente de ingredientes, como a troca de alimentos refinados por
integrais, assim faremos uma ponte com o índice glicêmico dos alimentos.
Para finalizar a unidade, abordaremos a utilização correta das gorduras, e óleos, em relação
à sua qualidade determinada quanto a interferência da temperatura.
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 15

Introdução à
Técnica Dietética

Vamos iniciar nossos estudos conhecendo um pouco mais sobre a


técnica dietética. Ornellas (2006, p. 1) define que “Técnica Dietética
é a disciplina que, baseada em ciências exatas, estuda as operações
a que são submetidos os alimentos depois de cuidadosa seleção
e as modificações que os mesmos sofrem durante os processos
culinários”. Eu, particularmente, gosto muito dessa definição, uma
vez que ela aproxima a Gastronomia das ciências exatas, posto que
estas são fundamentais para a área da nutrição.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Objetivos da
Técnica Dietética

Quais são os objetivos da Técnica Dietética (TD), na disciplina de Higiene e Segurança. Alguns
já que estamos falando de cálculos, nutrição e grupos de alimentos, mesmo quando adquiridos
gastronomia? O primeiro dos objetivos da TD em boas condições higiênicas e sanitárias, se
está relacionado aos aspectos nutricionais, em deterioram facilmente por serem ótimos meios
que se procuram preservar os nutrientes dos de cultura, por exemplo, os alimentos perecíveis
alimentos, assunto que também estudamos na como a carne, assim cuidados com a higiene e
disciplina de Cozinha Natural e Produção de segurança, são primordiais a uma boa TD.
Ingredientes, sendo o intuito oferecer sempre Falamos até agora dos aspectos nutricionais e
o melhor da nutrição e dos nutrientes que o de higiene e segurança, soma-se a eles outro obje-
alimento pode oferecer. tivo da TD, que visa à interação do alimento com
o corpo. Em outras palavras, o terceiro objetivo da
TD preocupa-se com a maneira como o alimento
será metabolizado pelo nosso organismo, sendo
uma questão digestiva, ou seja, cada alimento
representa uma fonte de nutriente, alguns podem
ser consumidos crus e outros necessitam de mo-
“Cozinhar bem, no sentido de saber pre-
dificação através dos métodos de cocção para sua
parar pratos complicados, não significa
cozinhar corretamente, o ideal é aliar a digestão, isso vai depender também da idade e
teoria à arte”. condições de saúde do indivíduo.
Todas as questões elencadas até agora as-
sociam-se ao objetivo sensorial do alimento,
em que as técnicas de preparo vão desenvolver
cores, aromas, texturas que promovam a acei-
Outro objetivo da TD é a Higiene e Segurança. tação do alimento ao comensal.
Todo alimento deve apresentar condições hi- E, por fim, os objetivos econômicos, em que
giênico-sanitárias confiáveis para o consumo. a elaboração do cardápio deve estar relacionada
Alguns alimentos podem ser veículos de mi- com a renda familiar, não excluindo alimentos,
cro-organismos patogênicos capazes de trans- mas sim programando, utilizando o alimento por
mitir doenças e contaminação, como visto completo, reaproveitando ao máximo, adquirindo
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 17

os produtos da época, os “sazonais”, favorecendo (cortes), os alimentos irão, de uma forma ou


com todas essas questões uma melhor absorção de outra, ser transformados (salada). Essas
de nutrientes e com um custo mais acessível. transformações modificam as características
Lembra de quando falamos de sazonalidade na sensoriais dos alimentos, porém, para poder-
disciplina de Cozinha Natural e Produção de mos apreciar sua formação sensorial (a salada),
Ingredientes (relembre lá na página 38)? é necessário conhecer quais são as característi-
A partir do momento que levamos vários cas que podem ser modificadas nos alimentos
ingredientes para a cozinha (tomate, cebola, e quais os fatores que levam a essas alterações.
pepino), independente do método de cocção De acordo com Ornellas (2006, p. 06):

CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS:

1) Características físicas: aspecto, cor, cheiro, sabor, consistência e estrutura.

2) Estado físico dos alimentos: emulsão, suspensão, solução, estado líquido, estado
sólido, estado viscoso etc.

3) Características biológicas: propriedade de modificar-se por ação de fermentos,


enzimas ou bactérias, adquirindo características novas de sabor, digestibilidade
e valor nutritivo.

4) Composição química dos alimentos: os nutrientes que integram os alimentos


podem alterar-se fundamentalmente pelas operações e pelos tratamentos em-
pregados na cozinha.

5) Características físico-químicas: solubilidade, termoabilidade; termoestabilidade;


propriedades especiais de embebição, hidratação ou gelatinização; coagulação;
hidrólise por ação de cocção, enzimas, bactérias ou ácidos e outros fatores que
interferem em processos fisiológicos.

FATORES QUE MODIFICAM OS ALIMENTOS:

1) Físicos: subdivisão, dissolução, união e temperatura.

2) Químicos: cocção e ação de ácidos e álcalis; reações e combinações químicas.

3) Biológicos: fermentos ou enzimas e bactérias e fungos.


Té c n i c a D i e t é t i c a

Q
uando degustamos um alimento,
ele estimula nossos sentidos, é uma
viagem de sabores, aromas e textu-
ras que mexe com a memória, basta
associarmos o cheiro de café a um dia bom
Das muitas histórias que acontecem
que, todas as vezes que sentirmos novamente
no dia a dia de sala de aula, me recor-
aquele aroma, lembranças serão despertadas do de uma que ocorreu há alguns anos,
por aquele cheiro, podemos dizer: “Comida é quando estava explicando a uma turma
memória” (frase dita no filme a 100 passos de de gastronomia do primeiro ano sobre
alterações e características organolép-
um sonh,o lançado em 2015). Essas caracterís-
ticas e relacionando-as à cozinha mole-
ticas são denominadas organolépticas, pois elas cular. Estava tentando apresentar que o
impressionam os sentidos e são responsáveis processo criativo de um prato deve ter
seus limites por uma questão de bom
pela aceitação ou rejeição de um prato.
senso. Para exemplificar, mencionei um
arroz azul, pensando, nesse momento,
na figura do meu pai, italiano e cheio
de tabus alimentares, para quem seria
muito difícil e estranho a visão de um
arroz azul.
Um dos meus alunos na época criou
um prato com um arroz azul, ovos per-
feitamente cozidos e salada de alface,
muito simples e lindo, foi um dos exem-
plos, para mim, de que, na gastronomia,
associando técnicas e favorecendo as
características organolépticas dos ali-
mentos, o inimaginável é possível. Foi
uma experiência fantástica que mudou
meu discurso, hoje sempre incentivo a
criar e a explorar, pois só vamos saber o
resultado se tentarmos.

Fonte: caso verídico que foi vivenciado


pela autora deste livro.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 19

Estamos falando de aromas, texturas, sabor e isto me desperta várias sensações, eu falo
de como tudo isso fascina na gastronomia. O que é uma parte mágica de um cozinhei-
gosto, no sentido de sabor, é algo mais do que ro, já pararam para pensar o porquê do
o desfrute de um sentido, ele é formado por um sachet d’épices no fundo de legumes? Os
conjunto de elementos que permite apreciá-lo aromas são responsáveis pela formação
por suas características organolépticas, pelas da memória e estão diretamente envolvi-
dimensões afetivas e pelo seu valor simbólico. dos com a aceitação de um alimento. Os
A gastronomia considera o gosto tanto em seus aromas são obtidos por meio de compo-
prazeres quanto em seus desprazeres, e propor- nentes precursores, que, por influência
cionar prazer está relacionado à qualidade do térmica ou enzimática, geram aromas
alimento e às sensações despertadas em quem característicos em cuja composição pos-
se alimenta (CARDOSO; MARQUES, 2004). E suem aminoácidos, açúcar e lipídeos
quais são essas características? (ORNELAS, 2006).
3. Sabor: o sabor é identificado pelas papilas
CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS DOS gustativas do sentido paladar. O sabor é
ALIMENTOS uma sensação que está ligada ao olfato.
1. Cor: a cor é identificada pelo sentido da Já reparou que, quando estamos resfria-
visão. Sempre digo que a aparência (cores, dos, perdemos o apetite? Essa sensação
formas, texturas) é o primeiro aspecto de perda de apetite não se dá pela perda
identificado pelo comensal. O pigmen- do gosto, mas sim pela dificuldade de
to dos alimentos pode sofrer alterações identificar o aroma, que, associado aos
provocadas pelas técnicas de cocção, tais sabores identificados pelas papilas en-
transformações podem ser tanto boas contradas na língua, formam o sabor,
quanto ruins. Em habilidades básicas podemos dizer assim que a língua é o
de cozinha, por exemplo, você realizou órgão receptor do sabor.
técnicas de branqueamento para ressaltar Na língua, encontramos regiões que iden-
a cor de diversos alimentos, assim melho- tificam sabores específicos: na pontinha
rando suas características organolépticas da língua, sentimos mais o gosto adoci-
e favorecendo sua apresentação. cado, nas laterais e também na ponta,
2. Aroma: o aroma é identificado pelo senti- o gosto salgado, o ácido nas laterais
do do olfato. Quando falamos de aromas, mais para o meio da língua, e o amargo
Té c n i c a D i e t é t i c a

é sentido mais no final da língua, como 4. Consistência: a textura ou consistência


mostra a Figura 01. Essas sensações são é identificada pelo sentido do tato. A
alteradas de acordo com a idade, por consistência do alimento traz fidelidade
uma simples questão de sobrevivência, a ao prato ou alimento, texturas, assim
criança, por exemplo, sente mais o gosto como o aroma, marcam a nossa memó-
amargo para evitar que ela coma alimen- ria. Um exemplo disso acontece quando
tos que não consegue identificar como você morde aquela bolacha esperando
perigo e, conforme os anos passam, esse aquela textura crocante, mas ela está
sabor de amargo mais acentuado vai se murcha. Em uma questão de segundos,
perdendo, principalmente nas mulheres. seu cérebro já identifica aquele alimento
Isso me lembra algo engraçado, sua avó já como ruim. A mesma situação também
falou para você comer jiló dizendo que é pode ocorrer com aquela banana muito
uma delícia? Podemos dizer: tudo é uma madura, com o caqui verde, com a batata
questão de sobrevivência. frita fria e assim por diante, texturas
estimulam o paladar ou desestimulam.
Pincelamos aqui as características orga-
nolépticas, que estimulam os sentidos e
fazem toda a diferença na elaboração de
um prato. Alinhar todos esses sentidos
promove um prato surpreendente, afinal,
por que utilizar somente sal e pimenta?
Abuse dos temperos, aproveite de forma
criativa as técnicas de cocção e estimule
todos os sentidos nos pratos e você irá
se surpreender.

MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO
Além de promover alimentos nutricionalmente
equilibrados e saborosos, os alimentos devem
Figura 01: Esquema fisiológico das papilas gustativas
Ilustração: Bruno Pardinho. ser seguros. Vimos no início da unidade que
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 21

esse era um dos objetivos da TD. Você já passou evaporação (leite). Outra forma de conservação
pela disciplina de Higiene e Segurança, e os co- seria a adição de substâncias químicas, que são
nhecimentos que você adquiriu com ela devem os famosos conservantes, que atuam na redução
ter se enraizado no dia a dia, em casa, nos res- da proliferação de micro-organismos, havendo
taurantes e em qualquer estabelecimento onde ainda a irradiação, que é um método que au-
se manipulam alimentos, pois isso é uma ques- menta o tempo de vida (prateleira) do alimento
tão de saúde pública. Vamos relembrar quais e é utilizada em algumas frutas.
métodos podemos utilizar para conservar os Podemos citar ainda como método de
alimentos. conservação as embalagens a vácuo, processo
Um dos métodos mais conhecidos para con- em que o ar é retirado. Essa técnica é utilizada
servação dos alimentos é o calor. Quando cozi- em embalagens de conservas, de compotas e
nhamos os alimentos, a alta temperatura acaba também em embalagens de alimentos como o
eliminando os micro-organismos, porém, após café. E, por último, a refrigeração, que paralisa
o resfriamento, ele pode ser fonte de contami- ou diminui a multiplicação bacteriana, porém
nação novamente, o que pode estar relacionado não a elimina, apenas adormece as bactérias.
ao tipo de alimento, aos micro-organismos ou Assim, resumindo algumas regras básicas
aos métodos de cocção. Os métodos de cocção para conservação:
que envolvem o calor são determinados como • Limpar os alimentos antes de conservar
esterilização, panificação, cozimento, fritura e (fruta/vegetais).
a pasteurização. • Envolver os alimentos em plásticos ou
Outro processo de conservação dos ali- em recipientes plásticos fechados para
mentos é a desidratação, que está ligada à vida manter o sabor e não ressecar.
de prateleira do alimento (prazo de validade). • Sanitizar à base de cloro: depois de ter
Retirando-se a umidade, a proliferação de mi- lavado em água corrente, utilizar uma
cro-organismos é reduzida, sendo esta uma solução clorada cuja proporção é de 1
técnica mais econômica de conservação e de litro de água para 1 colher de sopa de
fácil armazenamento (porque reduz o volume água sanitária, deixando por 15 minutos.
do alimento e não precisa de refrigeração). Em seguida, enxaguar novamente, secar
Exemplos: secagem ao sol (charque); salga- e guardar, assim como mostra a Figura
ção (bacalhau, carne); uso de açúcar (frutas); 02 a seguir.
Té c n i c a D i e t é t i c a

1º 2º

Figura 02: Processo de sanitização de frutas e verduras


Fonte: Sesc (2003, online).

A conservação do alimento é uma arte que con- conservar é manter as características organolépti-
siste em manter o alimento o mais estável possí- cas dos alimentos estáveis, por isso é importante
vel. Quando falamos em conservar os alimentos, conhecer o alimento, para que ele seja preservado
precisamos pensar nas três características: físi- com boa qualidade em toda sua cadeia produtiva,
cas, químicas e biológicas. Podemos dizer que isso quer dizer, do prato ao prato.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 23
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 25

Técnicas de Pesagem, Medição e


Fator de Correção

A Técnica Dietética, como já vimos, é uma ciência cujas bases são


voltadas às ciências exatas. Quando falamos em planejamento,
em controle de custos e em gerenciamento de restaurante, preci-
samos conciliar a arte de cozinhar à Técnica Dietética. Quero dizer
sucintamente que essa arte precisa de um padrão e, para ter-se
um padrão, é preciso quantificar. Para exemplificar, quando você
utiliza a receita da sua avó, do bolo mais famoso da família, ele fica
igual? Um dos motivos para que ele não fique nos padrões pode
ser as medidas utilizadas, um copo e uma xícara têm a mesma
quantidade? Vamos discutir um pouco sobre isso.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Unidades de Medida

O Sistema Internacional de Unidades (SI) é o mais complexo e sofisticado,


foi adotado pelo Brasil, em 1962, e retificado pela Resolução n012, de 1988,
do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Conmetro), tornando-se de uso obrigatório em todo o território nacional.
As unidades de medida são as ferramentas chaves para promover um padrão
e substituir as medidas caseiras, como colher de sopa, xícara de chá, o que
ajuda a estabelecer um padrão.

Unidade de massa
O Grama
O quilograma é a unidade de massa (e não de peso, nem força); ele é igual à
massa do protótipo internacional do quilograma. O grama pertence ao gênero
masculino, por isso, ao escrever e pronunciar essa unidade, seus múltiplos
e submúltiplos, façam a concordância corretamente. O símbolo é um sinal
convencional e invariável utilizado para facilitar e universalizar a escrita e a
leitura das unidades SI, por isso mesmo não é seguido de ponto.
Exemplos:

1 mg miligrama 0,001 g

Dois quilogramas 2 kg 1 cg centigrama 0,01 g

Duzentos e dez gramas 1 dg decigrama 0,1 g

Quinhentos miligramas 1 g grama 0,001 kg

Oitocentos e um gramas 1 dag decigrama 10 g

Quilograma kg 1 kg quilograma 1000 g

1 t tonelada 1000 kg
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 27

Unidade de volume
A unidade de volume, para determinações de alta precisão, é o volume ocu-
pado pela massa de 1 quilograma de água pura em sua densidade máxima e
sob pressão atmosférica normal; este volume é chamado de litro. No Brasil,
adota-se letra l (manuscrita) como símbolo do litro e na falta desta, a letra L
(maiúscula). Assim mesmo, a SI define que a palavra litro pode ser utilizada
como nome especial que define o dm3. Recomenda que o nome litro não se
aplique para exprimir resultados de volume de alta precisão.

1 litro = 0,001 m3 → 1m3 = 1000 litros

1 litro = 1 dm3

1 litro = 1.000 cm3

1 litro = 1.000.000 mm3

Densidade
Define-se como densidade da substância que constitui um corpo o quociente
entre a massa do corpo e o seu volume. Picnômetros são sempre utilizados com
balanças para determinar a massa de uma amostra volumétrica. Densímetros
digitais medem a oscilação de um tubo em U carregado com a amostra; o período
de oscilação medido pelo instrumento é diretamente mostrado pelo instrumento
como densidade: a quantidade ou massa a serem comportadas em um determi-
nado utensílio variam em função das preparações em um serviço de alimentação.
O volume, ou massa, quantificado poderá auxiliar na aquisição de equipamentos.

d = m/V
d = densidade (g/cm3)
m = massa (g)
V = volume (cm3)
Té c n i c a D i e t é t i c a

O termo peso designa uma grandeza da mesma natureza que uma força;
o peso de um corpo é o produto da massa desse corpo pela aceleração
da gravidade; em particular, o peso normal de um corpo é o produto da
massa desse corpo pela aceleração normal da gravidade. O número adotado
pelo SI para o valor de aceleração normal da gravidade é 980,665 cm/S2.

Fonte: INMETRO (2012, online).

Falamos até aqui das unidades de medidas mais utilizadas na cozinha,


como o grama, referente à unidade de massa, o litro ou cm3, referente ao
volume, e o g/cm3 referente à densidade. Sabendo utilizar essas medidas,
passemos para a forma de medição correta dos alimentos, em que utili-
zamos essas unidades para transformar medidas caseiras em números,
facilitando assim a elaboração e fichas técnicas para manter o padrão
das produções.

MEDIÇÃO CORRETA DOS ALIMENTOS


Visto quais são as unidades de medidas utilizadas e determinadas, precisamos
saber como fazer a medição correta destes alimentos.

Como medir ingredientes secos


A medição de ingredientes secos, como a farinha, necessita de certos cuidados
para a medição correta. Esses ingredientes são de difícil medição, pelo fato de
terem a tendência de compactar no fundo do recipiente, de modo que o peso
por volume aumenta. Se simplesmente os pesarmos compactados, altera-se
o resultado. Assim, para fazer a medição correta, é necessário peneirar, para
o peso por volume diminuir.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 29

Para peneirar a farinha, é necessário seguir os seguintes passos:


• Peneirar segurando a peneira a 10 cm do recipiente, pois evita-se que
ela fique calcada pelo próprio peso ao cair.
• Colocar a farinha dentro da xícara como uma colher até transbordar,
sem sacudir, calcar ou socar, utilizando medidas caseiras ou medindo
em gramas na hora de pesar.
• Retirar o excesso da farinha com espátula ou lado reto da lâmina de
uma faca em posição horizontal.

Ingredientes como amido de milho, bicarbonato de sódio fubá, devem ser


revolvidos no recipiente, antes de serem medidos, devendo ser colocados no
medidor sem comprimi-los. Já o açúcar deve ser peneirado caso apresente
textura cristalizada ou grânulos.

Como medir ingredientes líquidos


Para medir ingredientes líquidos, devem ser utilizados instrumentos que
ofereçam maior precisão. Destacam-se, nesse sentido, as provetas (Figura
03), que oferecem maior precisão do que os Beckers (Figura 04).

Figura 03: Proveta Figura 04: Beckers


Ilustrador: Bruno Pardinho. Ilustrador: Bruno Pardinho.

Para usar corretamente esses medidores, coloque o recipiente medidor sobre


uma superfície plana, se possível, ao nível dos olhos, verta o líquido sobre o
recipiente medidor até atingir a quantidade desejada. Posicione o medidor
Té c n i c a D i e t é t i c a

ao nível dos olhos. Assim, será possível verificar a medida sem distorções nas
marcações, fazendo a leitura na altura do menisco. Não medir líquidos com o
medidor à mão livre ou suspendê-lo no ar até o nível dos olhos.

Como medir ingredientes pastosos e gordurosos


Para medir os ingredientes pastosos e gordurosos, como manteiga, margarina
e banha, é importante que os ingredientes estejam em temperatura ambien-
te para serem medidos. É preciso colocar o ingrediente dentro do utensílio
medidor, em medidas caseiras, o recipiente pode ser uma xícara, um copo
ou então um utensílio que mede em gramas. Comprima o ingrediente no
recipiente para preencher os espaços vazios, em seguida, nivele com uma
espátula ou dorso de uma faca.

Como medir frações


Para medir as frações, como ½ colher, encher a colher, nivelar e cortar ao meio
no sentido do comprimento e tirar a metade. Se necessária a medição de ¼,
cortar ao meio a metade explicada anteriormente.
Vimos até aqui quais são as unidades de medidas utilizadas e como fazer
a medição correta dos alimentos. Essas informações são extremamente im-
portantes para produção de uma receita, para manter o padrão, porém elas
não são a única ferramenta, uma vez que podemos ainda recorrer à questão
das compras e ao fator de correção.

Aquisição empírica
Quando falamos em aquisição de produtos, devemos salientar que existem
várias formas de adquirir um produto. À medida que se ampliam e diversificam
as mercadorias oferecidas e promovidas para consumo, aumentam-se o estímulo
e até a compulsão pelo uso de produtos necessários ou não à boa alimentação.
As decisões relativas à compra resultam de hábitos e motivações subjeti-
vas, desejos (necessidades emocionais, curiosidade, emulações, medo, tabus,
orgulho, conforto etc.) e motivações objetivas, necessidades reais (qualidade,
garantia, custo, segurança, convivência).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 31

Para entender melhor o que é uma aquisição empírica, vamos dar um exemplo:
a mulher sai às compras com o intuito de comprar uma saia amarela, porém
volta do shopping com uma bolsa azul. Dizemos que esse tipo de compra
empírica é subjetiva, não havia necessidade de comprar a saia amarela e
muito menos a bolsa azul. Já a aquisição empírica objetiva seria o homem no
shopping, ele sai para comprar o cinto preto e adquire o cinto preto.

Aquisição dirigida
Em um restaurante, não podemos trabalhar com uma aquisição empírica.
Para o controle de custos e gerenciamento de uma unidade de alimentação,
a compra racional de alimentos deve ser fundamentada em conhecimentos
científicos e técnicos de nutrição, para que haja redução de desperdício de
alimentos e, consequentemente, de custos. Assim, a compra de insumos de
um restaurante deve ser sempre dirigida.

Quantidade
Para o cálculo das quantidades a serem adquiridas, devem ser consideradas as
quotas diárias per capita, levando-se em conta o fator de correção que prevê
as perdas inevitáveis, como cascas, aparas, ossos etc. Por exemplo: numa casa
onde houver 10 pessoas, a quantidade de leite a comprar diariamente é de
500 ml x 10 = 5 litros de leite; a quantidade de carne é de 100 g x 10 = 1 kg
(carne limpa), nessa proporção já estão acrescentadas as perdas relacionadas
ao fator de correção.
A frequência de compra depende da capacidade de armazenamento. Os
folhosos devem ser preparados primeiro ou até o segundo dia de compra,
sob pena de perderem as características de frescura. Portanto, sabendo a
quantidade por pessoa, a quantidade total diária de cada alimento segundo
o cardápio escolhido para aquele dia, é fácil planejar as compras.

Preço
Devemos levar em consideração que o preço dos alimentos envolve toda uma
rede de custos, o correto é tentar adquirir o alimento diretamente do produtor.
Té c n i c a D i e t é t i c a

É preciso conhecer o preço real dos alimentos, fazendo uma pesquisa de mer-
cado, pois as flutuações de preços são constantes. É de extrema importância
saber o que vai comprar, pois, às vezes, o preço aparente não é o preço real,
o que novamente evidencia a questão da compra dirigida.

Custos
Kimura (2003) define custos como a soma dos valores de bens e serviços
consumidos ou aplicados para a obtenção de novos bens e serviços.
Classificação de custos:
• Custos diretos: qualquer despesa ou gasto perfeitamente identificável,
relacionado diretamente com o produto fabricado ou serviço prestado.
Exemplos: matéria-prima, descartáveis etc.
• Custos indiretos: correspondem aos gastos que não contribuem de
forma direta para a fabricação dos produtos ou serviços. Exemplos:
equipamentos de proteção individual, utensílios etc.
• Custos fixos: são valores consumidos ou aplicados, independentemen-
te do fato de haver ou não produção ou de produzir maior ou menor
quantidade de bens ou serviços. Exemplos: mão de obra, locação de
equipamentos etc.

Fator de correção
Chegamos então ao cálculo do fator de correção. O fator de correção é utilizado
para determinar o valor das quantidades certas, principalmente dos alimen-
tos que contêm perdas inevitáveis. O abacaxi é um exemplo disso, visto que,
para ser consumido, perde massa em relação ao seu estado natural, porém
pagamos também pela casca quando o compramos, contudo não a utilizamos
para ingeri-lo ou no produto final.
Para calcular o fator de correção, utilizamos a formula a seguir, onde:
FC → Fator de correção, PB → Peso bruto, PL → Peso líquido.
FC= PB/PL

Vamos exemplificar o cálculo do fator de Correção:


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 33

Exemplo 01: Foram adquiridos na venda A 1000 g de tomate (“peso bruto”)


e, após o pré-preparo do tomate para utilização, o “peso líquido” foi de 830 g,
vamos calcular o fator de correção.

FC = PB/PL
Substituindo na fórmula
FC = 1000/830 => FC = 1.20

Assim, o fator de correção do tomate é de 1.20.


Cada serviço de alimentação deve estabelecer sua tabela de fator de correção
de acordo com o tipo de alimento que adquire, com o seu fornecedor e pré-pre-
paro, para que assim haja maior segurança a respeito das quantidades a comprar.

Fator de cocção
Além do fator de correção, existe o fator de cocção, que tem como objetivo
auxiliar na obtenção de um determinado peso ao final da preparação, ou seja,
está relacionado ao rendimento e ao volume. Para calcular o fator de cocção,
utiliza-se a fórmula:

FCç → Peso da preparação pronta/soma dos ingredientes crus

Apenas nas preparações líquidas, como chá, café etc., a água é contabilizada
para encontrar o fator de cocção. Nas situações restantes, ou seja, em prepa-
rações sólidas ou semissólidas, ela entra hidratando o alimento.
O objetivo principal do fator de cocção é verificar o ganho ou perda de
peso do alimento, então:
• quando FCç for menor que 1, significa que o alimento perde peso
(baixo rendimento);
• quando FCç for maior que 1, o alimento ganha peso (alto rendimento).

No primeiro caso, o alimento desidrata enquanto que, no segundo caso, se


hidrata.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Exemplos de FCç com baixo rendimento são alimentos que desidratam


no processo de cocção, como as carnes.
Vamos exemplificar o cálculo do fator de cocção:

Exemplo 01: Foram adquiridos no açougue 1000 g de costela, que foram assados
em calor seco. Após a cocção, foi pesada a costela e ela apresentava 650 g. Qual
foi o fator de cocção da costela?

FCç = Peso da preparação pronta/soma dos ingredientes crus


FCç = 650/1000g = 0.65
Resultado: o fator de cocção da costela é menor que 1. Sendo assim,
significa que a costela apresenta baixo rendimento.

Como exemplo de FCç com alto rendimento, podem ser citados os alimentos
que hidratam no processo de cocção, como os cereais.
Vamos exemplificar o cálculo do fator de cocção:

Exemplo 02: Foram adquiridos 500 g de arroz agulinha, que foram cozidos em
calor úmido. Após a cocção, foi pesado o arroz e ele apresentava 1050 g. Qual
foi o fator de cocção do arroz?

FCç = Peso da preparação pronta/soma dos ingredientes crus


FCç = 1050/500g = 2.1
Resultado: o fator de cocção do arroz é maior que 1. Sendo assim, significa
que o arroz apresenta alto rendimento.

Caro(a) aluno(a), apresentamos até agora os tipos de aquisição de alimentos


e as unidades de medida bem como fazer corretamente as medições dos ali-
mentos secos, líquidos e gordurosos. Aprendemos ainda a calcular o fator de
correção e cocção dos alimentos, vimos que, por meio desses cálculos, podemos
perceber que, se a compra não for dirigida, o desperdício de alimentos será
imensurável, pois, além das questões dos custos, temos as questões ambientais.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 35
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 37

Reaproveitamento
de Alimentos

Caro(a) aluno(a), neste tópico vamos estudar sobre as questões


relacionadas ao desperdício e reaproveitamento de alimentos.
Muitos dos alimentos que são descartados todos os dias podem
ser reaproveitados no dia a dia da cozinha, podemos citar como
exemplo as cascas de frutas e legumes, que podem servir de adubo
em forma de compostagem, de ração animal e até mesmo serem
ingredientes de uma nova receita. Em uma das minhas consultorias,
utilizamos as cascas raladas da melancia para produção de uma
salada que foi chamada de salpicão de melancia, tendo sido com-
plementada com maionese e frutas, foi um sucesso no restaurante.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Chega de Desperdício

Já parou para pensar sobre qual é o fluxo que também acontece com os grãos e cereais, não
o alimento segue até chegar a sua mesa/res- somente com as frutas e hortaliças. Ele mostra
taurante? Será que muitos desses alimentos se que se perde cerca de 10% no campo, 50% no
perdem no caminho? manuseio e transporte, 30% nas centrais de
Segundo o último relatório, divulgado abastecimento e comercialização e 10% nos
pela Organização das Nações Unidas para a supermercados e consumidores.
Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 1
bilhão de toneladas de alimentos produzidos
no mundo são desperdiçados a cada ano. No
caso de hortaliças e frutas, os maiores problemas
apresentados são a falta de infraestrutura e o
manuseio inadequado. Perde-se no plantio, na co-
lheita, da horta ao fornecedor, do fornecedor ao
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
mercado, do mercado ao consumidor e, por fim,
Agropecuária) realiza pesquisas que
no pré-preparo. A maioria dos alimentos possui buscam formas de evitar o desperdício de
um fator de correção altíssimo provocado pela alimentos, principalmente de hortaliças e
exigência de determinados cortes ou utilização frutas. Os projetos identificam que a maior
parte da perda de alimentos é ocasionada
de partes específicas de determinados alimentos.
pelo manuseio inadequado e infraestrutura
O artigo apresentado por Antonio Gomes inapropriada de conservação dos alimen-
Soares (apud PESQUISAS..., online), pesquisa- tos. Os pesquisadores visam melhorar e
diminuir os efeitos negativos de cada etapa
dor da Embrapa, diz que, se o Brasil diminuir o
da cadeia produtiva, desde o manuseio,
desperdício, poderá aumentar a oferta de pro- processamento, mercado até a distribuição,
dutos aos consumidores sem aumentar a pro- isto é, do campo à mesa do consumidor.
dução agrícola, afirma ainda que isso reduziria Para saber mais sobre o assunto, acesse o site
da Embrapa e do Instituto Guandu disponíveis
os custos e preços, pois todos os segmentos,
em: <https://www.embrapa.br/> e <http://ins-
desde a produção até a comercialização, traba- titutoguandu.com/>. Acesso em: 15 ago. 2015.

lham com margem de perdas e computam isso Fonte: a autora

como custos, aumentando os preços em várias


etapas da cadeia produtiva, sendo que tudo isso
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 39

Como reduzir o desperdício de alimentos


Reduzir o desperdício não é só tarefa do poder
público, deveria ser ato de consciência de todos.
Evitar o desperdício significa reduzir os exces-
sos, comer o suficiente, levar uma vida saudável
e sustentável. Um comportamento sustentá-
vel visa reduzir ao máximo o desperdício e traz
grandes benefícios ao meio ambiente, à saúde
e à economia. Uma das formas de executar as
boas práticas é comprar e cozinhar quantidades
adequadas e suficientes, lembra do fator de cor-
reção? É uma ótima ferramenta para o cálculo
correto do que deve ser comprado. Conservar
os alimentos de forma correta é mais uma das
ferramentas. Promover a compra com plane-
jamento observando seus prazos de validade,
reciclar as sobras e aprender a utilizar o que
não é lixo é conservar alimentos que seriam
transformados em lixo. Uma importante medida foi a recente re-
gulamentação – ocorrida por intermédio
Para evitar a reciclagem das sobras, cozinhe
do Decreto 3.664, de 17/11/2000 –, da
em quantidades menores em casa e, no res- Lei 9.972, de 25/5/2000, chamada de Lei
taurante, planeje as compras e utilize sempre de Classificação Vegetal. Um dos grandes
uma balança, pois esses procedimentos são boas avanços da nova legislação foi a obriga-
toriedade de classificação de produtos de
práticas que evitam a produção de grandes re-
origem vegetal para consumo humano, uma
síduos. Nem sempre, no entanto, é possível vez que a lei anterior, a lei 6.305, de 1975,
evitar a produção de resíduos, nesse caso, é referia-se apenas a produtos vegetais des-

importante conservar os alimentos de forma tinados à comercialização interna.

adequada para que esses resíduos possam ser Fonte: Soares (online).

reaproveitados em outras receitas, no lugar de


irem direto para o lixo.
Té c n i c a D i e t é t i c a

forma, precisamos pensar além e entender toda


a cadeia para utilizarmos o ingrediente com
sabedoria.
Segundo um estudo da Global Food Losses
Você sabe diferenciar rejeito de resíduo?
A sobra de determinado produto (embala-
and Food Waste, apresentado em 2011 pela FAO,
gem, casca) ou processo (uso do produto) frutas, verduras, legumes, raízes e tubérculos
é o resíduo sólido gerado que pode ser são os produtos que geram o maior percentual
reaproveitado e servir para outra finali-
de resíduos. Entre os resíduos de alimentos que
dade (reutilização) ou até ser reciclado. Já
o rejeito é um tipo específico de resíduo descartamos, de fato, há poucos que não sejam
sólido - quando todas as possibilidades de comestíveis, sendo possível produzir receitas
reaproveitamento ou reciclagem já tiverem
com talos de verduras e legumes, cascas e folhas,
sido esgotadas e não houver solução final
para o item ou parte dele, e as únicas des-
com custo zero (CASALI, 2013).
tinações plausíveis são encaminhá-lo para
um aterro sanitário licenciado ambiental-
mente ou para incineração.

Para saber mais sobre o assunto, acesse a Lei


12.305, que versa sobre as políticas nacionais
de resíduos sólidos: < http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.
htm>. Acesso em: 17 ago. 2015.

Fonte: baseado em Você... (online).

No dia a dia de uma cozinha, em nossas casas


e/ou no restaurante, se começarmos a obser-
var a quantidade de lixo gerado, percebemos
que uma grande quantidade de alimento que
é jogada fora poderia ser utilizada como ingre-
diente. Nesse sentido, temos que ter consciên- Na Tabela 01, proposta por Casali, estão repre-
cia de que não é só o alimento que está sendo sentados o percentual de alimentos que são
descartado, mas sim uma série de recursos que descartados e o índice do que deles poderia ter
a produção daquele alimento demandou. Dessa sido aproveitado.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 41

Percentual de
Alimentos Resíduos Descarte evitável
resíduos comestíveis

Batata Casca 14% Menos de 20%

Beterraba Casca e folhas 15% Menos de 20%

Cebola Casca 28% De 21% a 40%

Cenoura Casca e folhas 25% De 21% a 40%

Pepino Casca 23% De 21% a 40%

Rabanete Folhas 26% De 21% a 40%

Repolho e Couve Caule e folhas externas 37% De 21% a 40%

Salsão Folhas e pontas 38% De 21% a 40%

Casca e fibras que envolvem


Abóbora 52% Mais de 41%
as sementes e sementes

Parte fibrosa do talo e


Alcachofra 60% Mais de 41%
folhas externas

Alho-Poró
Partes verdes 60% Mais de 41%
e cebolinhas

Aspargos Parte fibrosa 48% Mais de 41%

Brócolis Folhas e talos 51% Mais de 41%

Cítricos Casca 47% Mais de 41%

Couve-flor Caule e folhas 48% Mais de 41%

Erva-doce Ramagem e caule 60% Mais de 41%

Leguminosas Vagens 68% Mais de 41%

Maçã e pera Casca e miolo 41% Mais de 41%

Melancia Casca e sementes 53% Mais de 41%

Pele, líquido desperdiçado


Tomate 43% Mais de 41%
no corte e sementes

Tabela 01: Resíduos de frutas, legumes e verduras: quanto jogamos fora habitualmente e quanto, na verdade, poderíamos comer
Fonte: Casali (2013).
Té c n i c a D i e t é t i c a

O aproveitamento integral dos alimentos tem sido produtos produzidos em locais mais próximos,
adotado como prática sustentável ecologicamente esse desperdício já será minimizado e, para ser
correta, pois a maior utilização de recursos natu- ainda mais sustentável, comprar de empresas
rais permite a redução de gastos com alimentação que promovem a venda direta ao consumidor.
da família, estimula a diversificação dos hábitos Sempre adquirira hortaliças inteiras, muitas
alimentares sem esquecer da questão nutricional. vezes, algumas partes do vegetal costumam ser
Entretanto, só pode ser efetivo com a criação de descartadas na seleção para venda ao consumi-
programas de educação alimentar voltados para dor para embelezar os produtos. O fato de essas
o aproveitamento e utilização de alimentos não cascas, talos e folhas serem ótimos indicadores de
convencionais, como cascas, folhas, caules e se- frescor dos alimentos é um dos principais motivos
mentes (SANTANA; OLIVEIRA, 2005). de eles serem retirados, o que maquia um produto
Priorizar a saúde na produção de alimentos que já não está tão novo, visto que essas partes
é fator primordial, como vimos na disciplina de mencionadas são as que amarelam e murcham
Cozinha Natural e Produção de Ingredientes, mais rapidamente. Outro motivo para comprar
conhecer a origem e a qualidade biológica dos vegetais inteiros seria a possibilidade de usar as
nossos alimentos é essencial para a promoção partes que seriam descartadas em diversos pre-
da saúde e redução do desperdício. Nesse senti- paros, um deles pode ser um fundo de legumes
do, os alimentos podem ser classificados como que você aprendeu em habilidades básicas e que
alimento convencional, orgânico, hidropônico, foi utilizado também na cozinha natural.
funcional, transgênicos, diet, light e enriqueci- Ainda falando sobre o desperdício, imagine
dos. Conhecer essa classificação pode facilitar as verduras e legumes vendidos já higienizados
a compra dos alimentos. e picados, tente mensurar a quantidade de ali-
mentos que são jogados no lixo. Agora, pense
Compras mais além, nos produtos industrializados, eles
Para evitarmos o desperdício, a compra ecológi- certamente possuem um índice de desperdício
ca apoia-se na sustentabilidade, a qual diz que, superior ao dos vegetais mencionados anterior-
sempre que possível, é válido plantar alguns itens mente, por esse motivo é importante evitar, ao
para o restaurante ou para casa. Outra dica seria máximo, adquirir frutas, verduras e legumes
organizar uma cooperativa de compras, comprar processados, selecionados, acondicionados,
em feiras de pequenos produtores (lembra do dando preferência aos produtos inteiros, com
percentual de alimentos que é perdido somente todas partes íntegras e com aspecto fresco. Sua
no transporte?), uma vez que, se compramos saúde agradece e seu bolso, mais ainda.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 43

Economizando na cozinha para o cálculo de custos do restaurante ou dos


Economizar recursos naturais significa racionalizar custos de sua própria residência.
o consumo. Sem grandes esforços, é possível eco-
nomizar enquanto cozinhamos, basta se atentar a Boas práticas no reaproveitamento de alimentos
alguns cuidados. Esses cuidados podem ser aplica- • Utilizar a panela de pressão ajuda a re-
dos a um dos conceitos da Produção Mais Limpa, duzir o consumo de água e gás.
que, de acordo com o CNTL (1999), é a aplicação • Reutilizar a água de cozimento.
contínua de uma estratégia econômica, ambiental • Escolher panelas e tampas adequadas ao pre-
e tecnológica integrada aos processos e produtos, paro: não cozinhar 1 batata em uma panela
que visa aumentar a eficiência no uso de maté- grande, por exemplo, pois assim é desperdi-
rias-primas, água e energia através da não geração, çada uma grande quantidade de água.
minimização ou reciclagem de resíduos gerados • Utilizar panelas com cestos para cocção a
em todos os setores produtivos. Assim, utilizando vapor (assim reduz-se a quantidade de água
determinadas técnicas e alterando processos dentro utilizada e de nutrientes que se perdem na
da cozinha, promovemos uma produção mais limpa. água durante a cocção, que passam do ali-
Da mesma maneira que não podemos exigir mento para o recipiente encontrado abaixo).
coleta seletiva se não fazemos a separação do • Utilize faca e tábua de corte de boa qua-
lixo, igualmente, devemos ser coerentes redu- lidade, a faca deve estar bem afiada para
zindo o desperdício no preparo e no pré-preparo cortar e não amassar os alimentos.
antes de o apontarmos no plantio e transporte. • Máquina de embalagem a vácuo é uma
Vamos começar onde podemos mudar, isto é, aquisição mais cara, porém auxilia na
em nossa própria cozinha. conservação dos alimentos, sendo uma
Promover a conscientização dos manipula- ótima ferramenta na redução de desper-
dores de alimentos, portanto, é muito impor- dício dos alimentos.
tante. Considere, por exemplo, o preparo de
molho de tomate, se na limpeza do vegetal seu Querido(a) aluno(a), tudo é uma questão de
funcionário o limpar de forma errada e descartar consciência e respeito. Para conseguirmos
mais da metade do tomate, a quantidade de des- mudar algo que culturalmente nunca foi tra-
perdício de alimentos seria muito grande. Sendo balhado em nossas rotinas, é preciso disciplina
assim, é muito importante que se mantenha um e conhecimento, mudar nossos hábitos não é
padrão do fornecedor em relação à qualidade do fácil, porém nosso planeta clama por isso, vamos
produto, para que haja um fator de correção fixo juntos reduzir a quantidade de lixo produzido.
Té c n i c a D i e t é t i c a

considerações finais

Nesta unidade, foram introduzidas as primeiras gastronomia é explorar os sentidos por meio dos
noções acerca da Técnica Dietética. Inicialmente, alimentos, sendo essa uma das “brincadeiras”
identificamos que um de seus objetivos principais mais prazerosas para o cozinheiro, pois é nesse
visa a questões de higiene e segurança, que são processo que identificamos as características
indispensáveis para a produção de um alimento dos alimentos e como elas podem ser alteradas,
seguro, isento de contaminação para promoção por métodos de cocção, de corte, dentre outros.
de saúde e prevenção de doenças. Outro aspecto Vimos também questões básicas sobre
trabalhado pela Técnica Dietética são os objetivos unidades de medidas, as quais são utilizadas
nutricionais e sensoriais, que estão relacionados mais corriqueiramente na cozinha e os métodos
às necessidades de se produzir alimentos sau- corretos para medição de alimentos, líquidos,
dáveis e saborosos para que o nosso organismo secos e gordurosos, sempre visando à questão
possa absorver e metabolizar todos nutrientes de redução de desperdício e padrão na hora da
ingeridos, promovendo assim a saúde. O terceiro reprodução de receitas (ficha técnica).
e último ponto que estudamos foram os aspec- Como a Técnica Dietética tem como base a
tos econômicos, que visam à redução de custos ciência exata, trabalhamos também com o fator
e descarte desnecessário de alimentos. Vimos, de correção e cocção, ferramentas base para
nesse sentido, que existem cálculos e técnicas de cálculo de cardápio que relaciona a qualidade de
reaproveitamento de alimentos que nos auxiliam alimentos ao seu rendimento, o que promove a
a evitar o desperdício e a reduzir custos. produção mínima de resíduo em uma cozinha.
Promover uma boa TD é uma questão de Resumindo, a Técnica Dietética trabalha com
necessidade nos dias atuais, pois é muito ex- diversos métodos que visam à melhoria da quali-
pressiva a quantidade de lixo gerado e de ali- dade da utilização dos alimentos, visando ainda a
mentos não seguros que podem ser causa de uma compra mais objetiva e dirigida pelos cálcu-
doenças, sendo essa uma situação que podemos los de custos e, consequentemente, à redução de
encontrar na padaria ao lado, no restaurante da desperdício de alimentos e recursos financeiros.
esquina do trabalho e até nas nossas cozinhas. A gastronomia em si é vista como a arte
Trabalhamos também, nesta unidade, as de cozinhar e deve utilizar todas as ferramen-
características sensoriais dos alimentos, tais tas para a produção de alimentos cada vez
como sabor, aroma e textura. Estudamos que a mais seguros, saudáveis, que promovam a
parte mais importante para o cozinheiro e para a sustentabilidade.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 45

atividades de estudo
1. Quando degustamos um alimento, ele estimula nossos sentidos,
é uma viagem de sabores, aromas e texturas que mexe com nossa
memória, basta associarmos o cheiro de café a um dia bom, que
todas as vezes que sentirmos novamente aquele aroma, todas lem-
branças voltarão através do cheiro, assim, podemos dizer: “Comida
é memória”. Relacione as colunas de acordo com as características
organolépticas e os sentidos.
(1) Aroma. (a) Visão.
(2) Sabor. (b) Papilas gustativas.
(3) Crocância. (c) Olfato.
(4) Cor. (d) Tato.

2. De acordo com o fator de correção, calcule: o acém tem um fator de


correção de 1,11, quando feito em calor úmido, e custa R$ 20,80.
Já quando usado em calor seco, o seu fator de correção passa a ser
1,28. Sendo assim, responda quanto em kg eu utilizarei a mais para
preparar 5 kg de acém, e quanto isso representa em custo.

3. Responda quantos kg terei que comprar dos seguintes alimentos de


acordo com o seu fator de correção:
a. 10 kg de berinjela sendo seu fator de correção 1,08.
b. 8 kg de rabanete sendo seu fator de correção 1,10.
c. 5 kg de tomate sendo seu fator de correção 1,25.
d. 2 kg de salsão sendo seu fator de correção 1,10.
Té c n i c a D i e t é t i c a

leitura complementar

Para entender um pouco mais sobre sustentabilidade,


sugiro a leitura da introdução do seguinte artigo:

Sustentabilidade: da evolução dos conceitos à


implementação como estratégia nas organizações

Os últimos três séculos foram marcados pelas desenvolvimento com a melhora da interação
revoluções industriais e tecnológicas que cul- humana com o meio ambiente e com outros
minaram com o surgimento de novas técnicas seres humanos. Todo esse fervor fez com que,
produtivas. Toda essa mudança fez a capacidade em 1968, fosse criado o Clube de Roma, uma
de produção aumentar de maneira acelerada. No organização formada por intelectuais e estudio-
entanto tamanha velocidade do crescimento e a sos, cujo principal objetivo era discutir assuntos
consequente necessidade de geração de riquezas relacionados à política, economia, meio ambien-
acabaram culminando numa série de efeitos te e desenvolvimento sustentável. Pode-se dizer
colaterais para a sociedade na qual o modelo que seu maior produto foi publicado na reunião
produtivo se insere, o que levou a questões sobre de 1972, quando foi apresentado um relatório
a impossibilidade de subsistência (MALTHUS, intitulado “Os Limites do Crescimento”.
1998; JEVONS 1865 apud MUELLER, 1998). Esse estudo, contratado junto ao
Desde então, essa sociedade passou a enfren- Massachusetts Institute of Technology (MIT),
tar o agravamento de problemas, como con- e liderado por Meadows (1972), se baseava em
centração de riquezas, desigualdade social, uma série de modelos matemáticos usados para
desemprego, prejuízos ambientais (CARSON, prever a relação entre o crescimento da popula-
1962), novas formas de abordagem em relação ção mundial, a industrialização, a produção de
ao planeta (BOULDING, 1966), dificuldades alimentos e a diminuição dos recursos naturais.
nas relações entre as empresas, e destas com Concluiu-se que, caso as formas de produção
a sociedade (FRIEDMAN, 1970; CARROLL, continuassem no ritmo apresentado no mo-
1979), além de questões relacionadas à própria mento do estudo, os limites de crescimento
possibilidade de subsistência. Esses fatores fize- seriam alcançados em um prazo de 100 anos
ram surgir diversas correntes de pensamentos, e, devido a isso, as formas de todos os itens
estudos e pesquisas, com o objetivo de gerar analisados deviam ser “congeladas” de modo
um modelo que permita aliar estas formas de que o crescimento fosse contido. Porém esse
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 47

leitura complementar
estudo foi muito criticado, principalmente por rejeição dos países desenvolvidos e de pesqui-
Solow (1974), uma vez que ele pregava a ideia sadores mais conservadores (CAVALCANTI
de que era injusto impedir o crescimento dos et al., 1994). Diante desse paradigma e das
países pobres, baseado num discurso ecologista, discussões por ele geradas, surgiu, em 1987, o
uma vez que esse problema havia sido provo- termo “Sustentabilidade”, sendo apresentado
cado, principalmente, pelos países ocidentais oficialmente na Comissão Mundial sobre Meio
desenvolvidos. Em 1973, foi lançado o conceito Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), da
de Ecodesenvolvimento, pelo francês Maurice Organização das Nações Unidas (ONU), pre-
Strong, como uma política de desenvolvimento sidida pela ex-primeira-ministra da Noruega,
alternativo. Ainda na década de 70, vale desta- Gro Harlem Brundtland, sendo definido como
car as argumentações de Ul Haq (1973 apud “[...] a capacidade de satisfazer as necessidades
CAVALCANTI et al., 1994), que defendeu vee- do presente sem comprometer a capacidade das
mentemente a separação entre países centrais gerações futuras de satisfazerem suas próprias
e países periféricos na elaboração das medidas necessidades” (COMISSÃO..., 1988, p. 9).
abordadas no ano anterior sobre o argumen- O tema foi aceito como prioritário por pra-
to de que os últimos deviam ter garantido seu ticamente todos os países, e isso elevou a im-
direito ao desenvolvimento, além de criticar o portância dessa discussão também no mundo
relatório devido ao fato de os resultados apre- empresarial. O conceito do Triple Bottom Line
sentarem muitas variações com a alteração de (TBL) ganhou destaque nas discussões devido
poucos parâmetros. ao fato de criar um modelo que balizaria as dis-
A Declaração de Cocoyok, também divul- cussões sobre o tema, tornando o assunto mais
gada em 1973, foi o produto da reunião da atrativo para as organizações que ainda não
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio- haviam se sensibilizado. Desde então, muitas
Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de organizações passaram a comunicar seus de-
Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), e sempenhos econômico, ambiental e social e
concluiu que os países industrializados contri- suas inter-relações, baseadas neste conceito
buíam para os problemas de subdesenvolvi- (ISENMANN; BEY; WELTER, 2007). As or-
mento devido ao seu alto grau de consumo. O ganizações de grande porte possuem grande
Relatório Dag-Hammarskjöld (1975), estudo interação com o ambiente e as comunidades
elaborado pela UNEP, em conjunto com pes- do entorno da área de operação, demandando,
quisadores e políticos de 48 países, veio re- muitas vezes, grandes quantidades de inves-
forçar a Declaração de Cocoyok, angariando a timento financeiro. Além disso, o crescente
Té c n i c a D i e t é t i c a

leitura complementar

número de leis e regulamentações, criadas nos gestão, muitos dos quais de grande qualidade,
últimos anos, faz com que as questões susten- porém que não demonstram a capacidade de
táveis se tornem praticamente obrigatórias para executar tal interação entre a sustentabilidade
essas organizações. De acordo com Trevisan et e a estratégia de negócios na qual a empresa
al. (2008, p. 2), a “[...] responsabilidade socio- está inserida (BAUMGARTEN, 2002). Como
ambiental deixou de ser uma opção para as orga- mencionado acima, o presente estudo tem como
nizações, ela é uma questão de visão, estratégia objetivo propor diretrizes de gestão, de modo a
e, muitas vezes, de sobrevivência”. No entan- promover o alinhamento entre a sustentabilida-
to, embora todas elas tenham incluído a busca de e a estratégia organizacional. Este modelo de-
pela sustentabilidade em suas missões e visões, nomina-se “Matriz de Alinhamento Estratégico
ainda são raras as empresas reconhecidas como Sustentável (MAES)” e seu estudo se dará em
exemplo a ser seguido nesse campo. Isso se deve, função da apresentação do seu desenvolvi-
principalmente, à falta de um modelo que alie, mento conceitual e aplicação em uma empresa
de forma eficaz, o planejamento estratégico, de grande porte. A relevância situa-se, dentre
particularmente o Balanced Scorecard (BSC) outras, na contribuição à elaboração das bases
(KAPLAN; NORTON, 1996; NORREKLIT, conceituais e metodológicas para a engenharia
2000; PRIETO et al., 2006), com os conceitos de produção, no que tange à “engenharia da
da sustentabilidade. sustentabilidade”, uma das áreas da engenharia
O que se encontra, na prática da gestão em- de produção definidas pela Associação Brasileira
presarial, é uma diversidade de instrumentos de de Engenharia de Produção (ABEPRO).

Fonte: Oliveira et al. (2012, p. 70 – 82).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 49

Esta edição do programa “Documento UNIESP” tem como tema o desperdício de


alimentos. Nele são discutidas as dificuldades e as soluções possíveis para esse
problema. No Brasil, o desperdício de comida chega a 26,3 milhões de toneladas
por ano. No mundo, um terço dos alimentos produzidos é desperdiçado anualmente,
o que gera um prejuízo de US$ 750 bilhões por ano, segundo a FAO, Agência para
Agricultura e Alimentação das Nações Unidas. O vídeo traz depoimento de espe-
cialistas no assunto e o destino dos alimentos que chegam ao maior entreposto da
América Latina, o CEAGESP. 
Vídeos disponíveis em:

Parte 01: <https://www.youtube.com/watch?v=ewhsOTUNQaQ>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Parte 2: <https://www.youtube.com/watch?v=NEZayEMZmcQ>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Desperdício de alimentos - quem paga essa conta? - Caminhos da Reportagem

Há mais de duas décadas, o tema chama a atenção de especialistas em segurança


alimentar e, mais recentemente, também de ativistas que defendem o meio am-
biente. A perda de alimentos também significa perda de recursos naturais. Hoje, um
terço do que é produzido no campo não chega à mesa do consumidor. No Brasil,
60% dos alimentos produzidos no campo já são desperdiçados entre a colheita, o
transporte e o manuseio. Outros 30% se perdem nas Centrais de Abastecimento,
as Ceasas, e mais 10% são jogados fora nos supermercados e nas residências.
A equipe de reportagem mostra como e onde ocorre grande parte dessa perda de
alimentos e apresenta exemplos de gente que encontrou maneiras de contribuir
para mudar essa realidade.

Assista ao documentário no link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8d-


-IbTYlQz4>. Acesso em: 21 jul. 2015.
Características e Uso Culinário de
Produtos de Origem Animal
QUEILA TURCHETTO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Ovos e gorduras
• Leite e derivados
• Carnes, aves e pescados

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar as características e o uso culinário de ovos.
• Determinar as características e o uso culinário de gorduras.
• Descrever as características e o uso culinário do leite.
• Identificar as características e o uso culinário de derivados do leite.
• Descrever as características e o uso culinário de carnes.
53

Introdução
Querido(a) aluno(a), nesta unidade, vamos estudar sobre os ingredientes de origem animal e
as gorduras. Inicialmente, vamos falar sobre os ovos, identificando a sua estrutura, composição
química e temperaturas de cocção de acordo com a coagulação de suas proteínas constituintes.
Após trabalharmos com ovo, vamos discutir sobre as gorduras. As gorduras, tanto as de
origem animal quanto as de origem vegetal, possuem papel importante para a gastronomia e
para Técnica Dietética, pois, se utilizadas de forma correta, as gorduras fazem toda diferença
tanto para controle de custos como para o fator nutricional.
Vamos ainda nesta unidade trabalhar com leite, que é um ingrediente demasiadamente
complexo tanto na produção quanto na utilização na indústria e na culinária. Tal ingrediente
traz fatores importantíssimos para sua utilização em receitas de cozinha bem como para a
elaboração de um derivado industrializado. A respeito dos derivados, vamos diferenciar alguns
produtos industrializados à base do leite, como iogurtes, bebidas lácteas, queijo etc. Todos eles
vêm do leite, porém do leite integral, vamos decifrar essas terminologias identificando como
são feitos esses ingredientes.
Fechamos esta unidade falando sobre carnes. Quando estamos falando de carne, não me
refiro somente à vermelha, a "carne de gado", mas também à carne de aves, peixes e frutos do
mar. Cada ingrediente possui uma estrutura diferente que se modifica por meio dos métodos
de cocção. Assim, a partir da Técnica Dietética, vamos diferenciar e aprender a trabalhar com o
ingrediente para reduzir custos a partir do aprendizado com o ele, sobre o qual nunca devemos
parar de aprender, pois estudar os ingredientes é trabalho constante para a gastronomia.
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 55

Ovos e
Gorduras

Olá, caro(a) aluno(a), vamos iniciar nossos estudos com produtos


de origem animal, falando sobre o ovo, que é um dos ingredientes
mais versáteis na cozinha. Nós o utilizamos em preparações doces
e preparações salgadas, podendo ser o ingrediente principal ou o
coadjuvante. Ele é tão importante na cozinha que existe o dia do
ovo, que acontece no dia 08 de outubro.
Té c n i c a D i e t é t i c a

A
ideia de criar o dia mundial do ovo Podemos conceituar o ovo como um corpo uni-
foi da International Egg Commission, celular, formado no ovário ou oviduto. Compõe-
que o considera um ingrediente se de protoplasma, vesículas germinativas e
perfeito para qualquer refeição. envoltórios e contém os nutrientes essenciais
Servido de formas diferentes, mexidos no para nutrir o gérmen da respectiva espécie
café da manhã, omelete no almoço e frito no (ORNELLAS, 2008).
jantar, o ovo é um dos ingredientes mais ver- A Figura 05 mostra diversas estruturas que
sáteis e acompanha qualquer refeição do dia, são encontradas em um ovo. A sua cor, seu ta-
por isso vamos estudar sobre esse ingrediente manho e formato variam de acordo com a es-
maravilhoso. pécie e tipo de alimentação do animal, podem
variar pelas condições nutricionais e clima em
que o animal foi criado.

O consumo de ovo per capita nos Estados


Unidos diminuiu de 310 ovos por ano
para 235, e essa queda foi relacionada às
ú
restrições de ingestão de ovos propostas
entre 1970 e 1995 (MCNAMARA, 2000). No
Brasil, segundo dados da União Brasileira Figura 05: Desenho esquemático do ovo
de Avicultura (UBA), a média per capita de Fonte: André Luís Onishi.
consumo é de 141 unidades; o campeão
mundial em consumo de ovos/ano é o
México, com média de 360 unidades, se-
guido pelo Japão (347) e pela China (310) Um ovo é constituído por aproximadamen-
(ANTON et al., 2006). te 63% de albúmen, 27,5% de gema e 9,5%
Fonte: Aguiar, Zaffari, Hübscher (2009, online). de casca. Vamos identificar algumas dessas
estruturas:
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 57

• Blastocisto: também conhecido como geralmente se forma na parte mais acha-


disco germinal, está envolvido no pro- tada. Durante o seu armazenamento, o
cesso reprodutivo na galinha. ovo perde água, o que faz essa câmera
• Gema: é composta por carotenóides, aumentar, sendo que tal aumento pode
proteínas e gorduras. No ovo fresco, servir de indicativo de deterioração do
apresenta-se localizada ao centro e tem ovo.
forma esférica (arredondada), sua cor é • Chalazas ou calazas: é uma das estrutu-
alterada pela alimentação da ave. ras mais importantes, elas identificam a
• Casca: é uma estrutura única, cujas fun- frescura dos ovos, uma vez que, confor-
ções primárias incluem proteção do ovo me eles envelhecem, essas estruturas se
contra rompimentos e invasão de micro- enfraquecem e descentralizam a gema.
-organismos, controla também a troca de
gases e evaporação de água através dos
poros da casca. É importante destacar
que a casca do ovo fresco tem a colora-
ção opaca.
• Albúmen ou saco albuminoso: também
conhecido como clara, é composto
Na culinária, os ovos têm inúmeras fun-
por uma mistura de proteínas e água. ções. Em preparações como cremes,
Contém 70% albuminas, conalbumina, molhos e sopas, servem para espessar;
nas m
  ousses  e suflês para ajudar a crescer
ovoglobulina (lisozima e avidina com-
e aerar; nos bolos e pudins, ajudam a unir
plexa-se a biotina B7 ou B8, conhecida os ingredientes; em maioneses, recheios
como vitamina H, que torna o ovo cru e sorvetes, emulsificam; além de decorar,
antinutricional) e ovomucina, que é res- vedar e cobrir preparações à milanesa. Os
ovos são um dos ingredientes mais úteis
ponsável pela formação da clara em neve,
e valiosos na cozinha, sendo que muitas
e vitaminas do complexo B. receitas não seriam possíveis sem suas
• Câmara de ar: a câmara de ar se forma qualidades e funções (ARAÚJO, 2007).

após postura do ovo, devido ao resfria-


mento com a temperatura ambiente, ela
Té c n i c a D i e t é t i c a

Após a galinha botar o ovo, ocorrem alterações ovo velho e sem condições de consumo.
que são chamadas de modificações pós-postura. O ovo ainda pode ser fonte de contaminação,
O ovo pós-postura, também considerado como mesmo a casca sendo uma forte proteção, o ovo
ovo fresco, possui pH ácido que é determinado pode ser modificado por micro-organismos, a sua
pelo CO2 que se mistura na clara. Quando o ovo contaminação ocorre antes da postura ou após a
envelhece, boa parte desse CO2 contido na clara mesma. Um dos micro-organismos mais perigo-
dissipa-se pelos poros da casca e pela câmara de ar, sos que podem contaminar o ovo é a salmonela,
assim o ovo se torna mais alcalino. O ar deposita- que pode causar sérios danos à saúde humana.
do entre as membranas forma uma câmara de ar A casca do ovo possui uma película delicada,
maior, à medida que o ar entra, a clara vai ficando que representa uma barreira para a entrada de
mais liquefeita, a gema se desloca pelo rompimento micro-organismo, contudo a destruição dela
das calazas (devido à entrada de ar e à alteração de facilita possíveis contaminações por fungos e
pH). Em casos mais extremos, a membrana vitalina bactérias, que promovem várias alterações, que
se rompe e a gema se mistura a clara, tornando o estão descritas na Tabela 02 e 03.

Bactérias Fungos

• Atingem em maior número • Mudança de cor


• Mudança de cor • Transformação da ordem
• Aparecimento de manchas • Apodrecimento

Tabela 02: Modificações ocasionadas por fungos e bactérias em ovos. Fonte: Ornelas (2008).

Alteração Característica Bactéria causadora

A clara toma cor verde e posteriormente a Pseudomonas fluorescens


Alteração verde
gema se desfaz, misturando-se à clara. e coliformes

A gema se enegrece e se desintegra, o ovo


Alteração negra Pseudomonas, Proteus etc.
adquire aspecto de iodo e cheiro pútrido.

A alteração bicolor modifica a cor da


Alteração bicolor Proteus melanovofenes
gema (negra) e da clara (escura).

Precipitado rosa na gema e


Alteração rosa Pseudomonas
tonalidade rosa na clara.

A gema se desfaz e libera odor de frutas


Alteração incolor Pseudomonas e Enterobacter
com características de apodrecimento.
Tabela 03: Alteração bacteriana em ovos. Fonte: Ornellas (2008).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 59

Temos que tomar cuidado porque algumas depois de congelada. Então a melhor solução é
vezes, em consequência da ação de bactérias, quebrar o ovo num recipiente, bater levemente
pode-se desprender do ovo um odor desagradá- e misturar tudo. Em seguida, coloque a mistu-
vel e pronunciado, sem demonstrar visualmente ra em formas de gelo e leve ao freezer. Assim
qualquer alteração. que congelarem, desenforme e armazene em
Como vimos, o ovo é uma fonte de conta- sacos plásticos sem ar e bem fechados. Os ovos
minação em potencial, então, como devemos devem ser descongelados dentro da geladeira,
conservá-lo? A principal forma de conservação na embalagem. Quando estiverem desconge-
se dá pela temperatura de refrigeração, cerca de lados, acrescente 1 pitada de sal ou 1 colher
5º a 7ºC com umidade relativa maior que 80%. de café de açúcar para cada ovo, dependendo
Se o ovo for comprado fresco e com a casca do tipo de prato em que eles serão usados.
perfeita (coloração opaca e sem manchas), o As claras também podem ser congeladas em
ovo se conservará por até 10 dias em gela- formas de gelo, desinformados e guardadas
deira, principalmente se for acondicionado em saco plástico. Para as gemas, bata levemen-
com a ponta voltada para baixo (para evitar te com 1 pitada de sal ou 1 colher de café de
as trocas de ar pela câmera de ar). Também na açúcar e siga o mesmo procedimento das claras.
geladeira, o ovo quebrado pode conservar-se Como os ovos congelados dificultam o cálculo
por até 2 dias. da quantidade para uso nas receitas, siga essa
Cozido com casca, o ovo se conserva por até dica : 1 ovo inteiro é igual a 3 colheres de sopa
4 dias; depois de descascado, por 2 dias. Como da mistura, 1 clara é igual a 2 colheres de sopa,
a casca é porosa, é melhor deixá-lo separado e 1 gema é igual a 1 colher de sopa. O ovo, a
de alimentos que possuem cheiro forte, como gema ou a clara se conservam por um período
queijo e cebola. de 9 a 12 meses. O descongelamento da gema
O melhor lugar da geladeira para se guardar e da clara também deve ser feito dentro do
os ovos é na parte interna da geladeira em uma refrigerador.
vasilha com tampa, para assim evitar o fluxo de
ar da geladeira e contaminações cruzadas. Composição química
O ovo pode ser congelado, porém não Vamos agora identificar a composição quí-
inteiro com a casca, porque o seu conteúdo mica dos ovos. Os principais componentes
se expande, o que faz romper a casca. O ovo são: água (75%), proteínas (12%), lipídios
cozido inteiro também não pode ser congelado, (12%), além de conter carboidratos, minerais
pois a clara cozida fica com um aspecto ruim e vitaminas.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Sabemos que os ovos de variadas espécies são valendo-se de voltas rápidas do ovo na esteira.
ótimas fontes de alimentos. O mais famoso é O estado da clara pode também ser determinado
o ovo de galinha, que pesa aproximadamente pela posição e pela liberdade de movimento
50g, seguido pelo ovo de codorna, que pesa em da gema: claras mais espessas estão associa-
torno de 12-15 g. das a gemas menos móveis e menos visíveis
No Quadro 01, está descrita a quantidade (GRISWOLD, 1972).
de nutrientes em 100 g de ovo cru e fresco, to- Para efeito de comercialização, os ovos são
talizando 2 unidades de ovos. agrupados em três classes (MADRID et al.,
1996):
Nutrientes Unidade Valor por 100 g
• Ovos frescos: aqueles que, apresentando
Relacionados
Calorias kcal 147 cor e sabor característicos, não sofreram
Proteínas g 12.58 outras manipulações além de limpeza
Lipídios totais a seco. Observados em um ovoscópio,
g 9.94
(gordura)
aparecem completamente claros, sem
Minerais
Cálcio, Ca mg 53 qualquer tipo de sombra. A clara é firme,
Ferro, Fe mg 1.83 transparente e sem turvações. A gema
Colesterol mg 423 é de cor uniforme, podendo oscilar do
Quadro 01: Composição química em
amarelo claro ao laranja avermelhado,
100 g de ovo de galinha cru
Fonte: USDA (online). sem aderência com a casca e conservan-
do-se fechada e inteira. Mantêm esse
Podemos destacar em relação a sua composição status se forem comercializados em até
química a quantidade de proteína. Sabemos que, 15 dias após a postura.
dessa quantidade de proteína, a maior parte está • Ovos refrigerados: os que se mantêm de
concentrada na clara, e a de colesterol/gordura, 15 a 30 dias após a postura, em câmaras
na gema. Observa-se que não há lipídios na frigoríficas ou locais, onde a temperatura
clara, no entanto a gema possui proteínas. não passe dos 4°C.
A classificação comercial do ovo é deter- • Ovos conservados: aqueles que perma-
minada pelo uso do ovoscópio. A condição do neceram em câmara frigorífica a 0°C du-
ovo é julgada segurando-o em frente a um foco rante um período entre um e seis meses.
de luz, em uma sala escura. A luz do ovoscópio
revela a condição da casca, o tamanho da câmara Como dito anteriormente, os ovos na gastro-
de ar, a nitidez, a cor e a mobilidade da gema, nomia possuem diversas funções. Em receitas
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 61

que misturam ovos com leite ou outro tipo de Como visto no quadro, após 10 minutos de
líquido, geralmente a função do ovo é coagular cocção em fogo baixo, obtém-se um ovo cozido,
a preparação, nesses casos as proporções dos duro. Não deixe a água borbulhar para não que-
ingredientes estão totalmente relacionadas brar o ovo.
com a capacidade da clara e da gema reterem O ovo imediatamente retirado da geladeira não
água. Também é necessário obedecer às pro- deve ser colocado na água em ebulição, porque
porções em preparações que utilizam somente a diferença da pressão interna do ovo muda
a gema como emulsionante para a preparação subitamente, o que pode provocar a ruptura da
não desandar. casca. Por isso, deve-se primariamente colocá-lo
Já as preparações que devem ser submeti- na água que esteja em temperatura ambiente e
das à cocção não devem exceder a temperatura depois elevar lentamente a temperatura. Logo
indicada para que as miscelas proteicas não se que a água entre em ebulição, 1/3 da clara já
aglomerem demasiadamente, pois a prepara- está coagulada.
ção pode se tornar áspera e granulosa, como Para a cocção do ovo pela técnica de fri-
pode ocorrer, por exemplo, na cocção do famoso tura, é necessário observar a temperatura e
molho holandês, que deve ser cozido em fogo quantidade da gordura para preparação do
baixo em banho-maria. ovo. A quantidade adequada de gordura vai
A cocção do ovo quente, do à La coque e do ovo evitar que o ovo grude na frigideira. No ovo
duro serão determinadas pelo tempo de cocção frito, apenas a clara deve coagular, e a gema
após o início da fervura da água, a cada minuto, deve permanecer parcialmente crua, para fa-
ocorre alterações no ovo que determinam sua cilitar a digestão. Um ovo encharcado com a
apresentação, como mostra no Quadro 02: clara ressecada, formando uma camada de
pergaminho, dificulta o processo digestivo
3 minutos 1/3 da clara
(ORNELAS, 2008).
4 minutos 2/3 da clara
Existem diversas formas de se utilizar
5 minutos Toda clara
os ovos, como: ovos quentes; ovos moles;
6 minutos 1/3 da gema
ovos cozidos; ovos pochês; ovos mexidos;
7 minutos 2/3 da gema
ovos fritos; ovos ao forno; omelete; fritada;
8 minutos Toda gema
10 minutos Ovo duro
suspiro ou merengue; suflê; massa líquida,
dentre outras. Assim fechamos nossos estu-
Quadro 02: Relação tempo e
cocção do ovo de galinha dos sobre ovos e agora vamos falar um pouco
Fonte: Ornelas (2008, p. 85). sobre gorduras.
Té c n i c a D i e t é t i c a

ambiente, dada a natureza dos ácidos


graxos que os integram. Podem ser
aquecidos a temperaturas mais altas
e são mais fácies de digestão que as
Para evitar que se forme uma camada
escura de sulfureto entre a clara e a gema gorduras retidas em rede tissular.
no ovo cozido, esfriá-lo rapidamente em c. O creme de leite e a gordura da gema do
água corrente depois de retirado do fogo.
ovo encontram-se em forma emulsiona-
No resfriamento lento, reagem o enxofre
aquecido e volátil da clara com o ferro da, que é de mais fácil digestão, podendo
da gema (por isso a gema fica escura) ser introduzida diretamente até o jejuno
(ORNELAS, 2008, p. 86). (dietas especiais).
d. A manteiga, que resulta do batido do
creme de leite, apresenta estrutura de rede
de gordura que retém partículas de caseí-
Gorduras na e lactose. É também de fácil digestão,
porém decompõe-se facilmente quando
O conceito determina que as gorduras são subs- submetida a temperatura acima de 120oC.
tâncias untosas ao tato e ao paladar. São res- e. A margarina é uma mistura de gorduras,
ponsáveis por fixarem e ressaltarem o sabor dos principalmente de origem vegetal (depen-
alimentos, servem de meio de cocção por calor de da fabricação). A gordura líquida hi-
seco, concentrando os alimentos e ativando seu drogenada toma a consistência cremosa e
sabor, têm valor energético elevado e veiculam sólida à temperatura natural. A margarina
vitaminas lipossolúveis (ORNELLAS, 2008). deve ser enriquecida de vitaminas A e D e
As gorduras são diferenciadas por sua es- de substâncias que tornam sua cor e sabor
trutura. Aqui vamos classificar as gorduras co- semelhantes aos da manteiga. Do ponto
mestíveis descritas por Ornelas (2008, p. 206): de vista da Técnica Dietética, obtêm-se re-
a. O toicinho e gorduras de carnes encon- sultados bastante satisfatórios com o uso
tram-se retidos em rede tissular, donde da margarina em substituição da mantei-
se separam quando submetidos ao calor, ga, exceto no sabor das preparações. Há os
pela fusão ou pela distribuição do tecido que discutem a relação do índice de diges-
que os envolve. tibilidade de ambas. A margarina, sendo
b. Os óleos e azeites estão livres de estru- de origem vegetal, seria mais indicada para
tura celular, são líquidos à temperatura as dietas com restrições de colesterol. Pelo
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 63

processo de hidrogenização (saturação de Já conhecemos e diferenciamos os tipos de óleos


ácidos graxos, passando da forma “cis” e gorduras na disciplina de Cozinha Natural e
para “trans”), alteram-se as propriedades Produção de Ingredientes. Sabemos que óleos
das gorduras poli-insaturadas. Pode ser e gorduras compõem o grupo de alimentos que
parcialmente mantida no produto (mar- mais fornecem energia, cerca de 9 kcal/g, en-
garina cremosa) pelo acréscimo de óleo quanto as proteínas e os carboidratos fornecem
vegetal líquido. 4 kcal/g. As gorduras são consideradas ótimas
f. Existem hoje no mercado produtos in- fontes calóricas na dieta e exercem funções es-
dustrializados do amendoim (manteiga senciais no nosso organismo, como fornecer
de amendoim) que podem ser usados ácidos graxos, protetor e carreador de vitaminas
para enriquecer o valor nutritivo da lipossolúveis (A, D E e K), têm ação lubrificante,
alimentação. e, como todo mundo sabe, contribuem para a
g. A lecitina é um composto orgânico rico melhora do sabor na preparação dos alimen-
em fósforo (fosfolipídio), obtida comer- tos. A quantidade de gordura nos alimentos
cialmente da soja e gema do ovo. Tem é variada: a carne possui cerca de 20-30% de
aplicação como agente estabilizante e gordura; ovos, 11%; queijo, dependendo da
emulsificante em produtos lácteos, mar- variedade, cerca de 25%, como no queijo prato;
garina, chocolate, sorvetes e é encontrada dentre outros alimentos. Além disso, pode-se
em grande variedade de alimentos. Não se adicionar gordura durante o preparo na forma
justifica seu uso isolado em dietas exóticas. de óleos, gordura animal, manteiga e margarina,
dentre outros.
Atualmente, alguns estudos têm demons-
trado que a ingestão de diferentes tipos de
gorduras afeta o equilíbrio entre o LDL e o
HDL. Dietas com ingestão de gorduras ricas
em ácidos graxos saturados, como gorduras
Na culinária, as gorduras têm funções muito de origem animal, podem elevar o nível de
importantes, tais como: amaciar, envolver,
LDL e colesterol sérico. Porém o consumo de
emulsionar, servir de substrato à fritura e
ao grelhado, temperar, dando aos alimentos gorduras contendo ácidos graxos poli-insatu-
preparados um sabor especial etc. rados (gorduras de origem vegetal) favorece o
aumento do nível de HDL e abaixa o nível de
colesterol sérico.
Té c n i c a D i e t é t i c a

As gorduras e óleos podem estragar com de cada gordura utilizada, não prolongando a
facilidade, adquirindo um gosto/cheiro de exposição à ação do calor, nem acrescentando
ranço. Esse fenômeno é causado por alte- novas quantidades à medida que ela se esgota,
rações de ordem físico-química, alterando não devendo ainda ser reutilizada por mais de
suas características organolépticas, tornan- duas vezes.
do-se impróprias para o consumo. O ranço, Podemos encontrar no comércio diversos
além de alterar suas características organo- tipos de óleos, como o de soja, de canola, de
lépticas, inativa a absorção das vitaminas milho, de girassol, de arroz, de uva, de coco, de
lipossolúveis. palma, de palmiste, de gergelim, óleo misto ou
A oxidação ocorre quando as gorduras sa- composto, vegetal saborizado ou azeite sabori-
turadas são expostas ao ambiente sem proteção zado, azeite de oliva e de dendê.
(luz, calor e umidade), a presença de traços me- A gordura é utilizada em diversas formas
tálicos como ferro também acelera o processo de cocção:
de oxidação.
A decomposição da gordura também 1. DOURAR: para dourar o alimento previa-
pode ocorrer pelo aquecimento excessivo. mente cozido (croquetes e bolinhos), que
Inicialmente, a gordura se desdobra em ácidos deve permanecer o mínimo de tempo em
graxos e glicerol, quanto mais se aquece, o gli- uma gordura aquecida a 190ºC - 198ºC,
cerol se desidrata, produzindo aldeído acrílico, para não se embeber demais.
também chamado acroleína. 2. CORAR: quando se deseja corar apenas
A temperatura alta que produz a acroelina a superfície do alimento (batata sauté),
é denominada ponto de fumaça. As gorduras e utiliza-se quantidade pequena de gordu-
óleos apresentam diferentes pontos de fumaça, ra aquecida a 130ºC ou 150ºC e passa-se
quando utilizados em frituras, devem ser esco- rapidamente o alimento já cozido pela
lhidos aqueles que tiverem maior resistência a gordura.
altas temperaturas. 3. FRITAR: na fritura propriamente dita, o
As gorduras e os óleos podem ser protegi- alimento é cozido na gordura, utilizan-
dos do ranço com o uso de antioxidantes. Além do-a assim em maior quantidade para
disso, pode-se conservá-los em refrigeração cocção (imersão na fritura), e a tempe-
em embalagens herméticas, opacas e a vácuo. ratura também é mais elevada (180ºC,
Para protegê-la da rancificação pela tempe- 200ºC ou mais), dependendo do tipo de
ratura, deve-se respeitar o ponto de fumaça gordura escolhida.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 65

A proporção de gordura irá depender do tipo de A margarina foi desenvolvida a partir de


preparo a ser realizado. Nas frituras por imersão, um concurso realizado na França, em 1866, que
o óleo deverá cobrir a porção. Posteriormente, o instituiu um prêmio para quem inventasse um
alimento será escorrido para não se impregnar produto similar à manteiga e que fosse mais
de gordura. Quando os alimentos a serem fritos barato, para ser usado pela marinha e pela po-
possuem envoltório de farinha e ovo (empana- pulação mais pobre. Assim, um farmacêutico de
dos), eles absorvem mais gordura. nome Mouries teve a brilhante ideia de baratear
Ao refogar os alimentos, devemos estar uma gordura fundida a mais ou menos 24°C com
atentos à temperatura para não queimar a gor- o creme de leite, obtendo assim uma emulsão*
dura, o que não deve acontecer nunca durante com um ponto de fusão satisfatório, fácil de
esse processo. Quanto à quantidade de gordu- espalhar e com boa durabilidade. O produto
ra utilizada para refogar, a proporção é de, no foi chamado de óleo margarina por seu aspecto
máximo, uma colher de café de óleo para cada nacarado (do grego margaron = branco perolado).
porção. A margarina ainda tem na sua constituição:
A gordura é utilizada para dar sabor aos sal, amido, glicose ou lactose, emulsificante,
alimentos e pode ser utilizada em dietas comuns aditivos como: aromatizantes, conservantes e
se forem preparadas com as devidas preocupa- antioxidantes.
ções, sem excessos e na temperatura correta. Existem diversos tipos de margarina que
É sempre bom lembrar que a fritura adiciona são diferenciados de acordo com o fim ao qual
uma quantidade significativa de calorias, por elas se destinam:
isso não abuse das frituras. • Margarina de mesa: consistência macia
e fácil de espalhar no pão, própria para
Margarinas ser usada crua.
As margarinas podem ser consideradas uma • Margarina standart: boa consistência e
emulsão de óleo com leite, cujas características pode ser aquecida.
organolépticas são parecidas com a da mantei- • Margarina especial: contém 1% de man-
ga. Estão contidas nas margarinas corantes, teiga, saborosa e com boa resistência
aromas, vitaminas A e D e conservantes. Os para cocção.
maiores constituintes das margarinas são os • Margarina para fritura: especial para fri-
óleos líquidos parcialmente hidrogenados, a tura de imersão, pode ser usada várias
proporção é determinada de acordo com a fi- vezes.
nalidade do produto. • Margarina vegetal: feita somente de
Té c n i c a D i e t é t i c a

óleos vegetais hidrogenados, indicada da embalagem, pois o contato com o ar


para uma alimentação equilibrada, com provoca oxidação, e a umidade pode fa-
textura macia, podendo também ser uti- vorecer o aparecimento de mofos.
lizada na cocção. • Cuidar da rotatividade de estoque.
• Margarina dietética: rica em ácidos • Colocar na cozinha ou confeitaria (“mise
graxos poli-insaturados e vitamina A e en place”) as quantidades suficientes
E, podendo ser usada crua ou para cozer. para a utilização, pois as contínuas mu-
• Margarina para confeitaria: ela é adap- danças de temperatura (refrigeração -
tada aos diferentes usos em confeitaria meio ambiente -refrigeração) favorecem
profissional, sua consistência (ponto de o aparecimento de ranço.
fusão) varia segundo a estação, a tem- • A margarina utilizada para massa folha-
peratura do local de trabalho e o uso. da não deve ser colocada em refrigeração,
A margarina para massa folhada, por pois a mudança de temperatura para o
exemplo, deve suportar uma variedade preparo da massa pode provocar um tipo
de temperaturas ao longo do preparo da de granulação no produto, que será pre-
massa, deve ter maleabilidade e plasti- judicial ao preparo (local seco e fresco).
cidade que permitam seu estiramento e • A linha superior da margarina em conta-
achatamento (sem romper), formando to com o ar deve ser a mais reta possível,
uma lâmina fina como um filme entre pois retiradas feitas com colher deixam
as camadas das dobraduras da massa. buracos no produto, aumentando sua
Graças ao poder de absorção de ar e de superfície de contato e propiciando o
líquidos, ao ser batida, no preparo de aparecimento de ranço.
certas massas (bolos, tortas etc.), a mar-
garina vai produzir um produto leve e Sabemos que as gorduras são substâncias untuo-
arejado. sas ao tato e ao paladar, que ressaltam o sabor dos
alimentos e servem de meio de cocção por calor
Cuidados gerais seco, concentrando os alimentos e ativando seu
• Conservar em refrigeração, sempre tam- sabor, porém têm alto valor energético. Existem
pada e longe de alimentos com cheiro vários tipos de gorduras, as boas e as ruins. Nos
forte. ovos, encontramos um exemplo de gordura boa,
• Respeitar a data de utilização do produ- a colina. Se considerarmos o consumo de dois
to, verificando também a integridade ovos por dia, essa quantidade fornece metade
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 67

das necessidades diárias de colina para um indi- absorção de colesterol, evitando a formação de
víduo adulto, sendo esse nutriente fundamental placas de ateroma, além de seu perfil de gordu-
para o funcionamento cerebral e formação celular ras monoinsaturadas exercer importante papel
(FORNÉS, 2008). Podemos afirmar, segundo cardioprotetor. Sempre devemos pensar no tipo
Nakamura et al. (2006), que a presença dos fos- de gordura e na melhor forma de utilizá-la nutri-
folipídios, um tipo de gordura dos ovos, reduz a cionalmente e gastronomicamente.
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 69

Leite e
Derivados

Outro ingrediente de vasta utilização na gastronomia é o leite e


seus derivados, como iogurte, nata, creme de leite, leite conden-
sado etc. São inúmeras as produções que se beneficiam com a sua
utilização, assim, a partir de agora, vamos discutir, pela perspectiva
da Técnica Dietética, sobre esses ingredientes.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Conceituação e Definições produção leiteira, porém a produção máxima


de uma vaca será atingida se ela for alimentada
O leite é um produto íntegro, não alterado, ou de maneira mais conveniente. Por isso existem
adulterado e sem colostro, higienicamente or- diversos estudos para uma melhora genética e
denhado, de procedência regular, completa e alimentar desses animais, para que sempre pro-
ininterrupta das fêmeas mamíferas, domésti- duzam mais. Isso quer dizer que a alimentação
cas, sadias e bem alimentadas. Quando se fala deve ser balanceada e não demasiada.
em leite, a referência é sempre o leite de vaca, A idade da vaca está relacionada ao período
quando de outros animais, será necessário iden- de produção, que aumenta a partir dos três anos
tificar de qual o produto provém. até seis anos de idade. Até o oitavo ano, há uma
O leite é o produto da secreção da glândula estabilização da produção e, a partir daí, obser-
mamária dos mamíferos. O leite e o mel são va-se um declínio no volume de leite produzido.
as únicas substâncias na natureza destinadas, Já de acordo com o número de crias, da
exclusivamente, a servir de alimentos. O leite segunda até a sexta cria, a produção é crescente,
mais usado na nossa alimentação é o leite de daí em diante se estabiliza e, a partir da oitava
vaca, seguido do leite de cabra. cria, entra em declínio.
No que diz respeito ao tempo de lactação,
a quantidade de leite no início é menor, porém
com um teor de gordura maior, já no final da
Composição do lactação, a quantidade diminui, mas a de gor-
Leite de Vaca dura, por exemplo, aumenta.
As variações climáticas repentinas de tem-
A composição do leite de vaca é determinada peratura, tais como de frio, diminuem não só a
em função da raça, da alimentação, da idade, quantidade de leite produzido, mas também o
do número de crias, do tempo de lactação do seu teor de gordura.
animal, assim como das variações climáticas. Assim, de acordo com essas variáveis, o
A influência da raça incide principalmen- tipo de leite terá uma composição nutricional
te na porcentagem de gordura. Uma vaca ho- diferente. Porém, para classificar o produto,
landesa produz mais leite que uma Jérsei, por essa alteração é mais utilizada pela indústria,
exemplo, porém com teor de gordura menor. que seleciona a raça e determina a época de
Já a alimentação dos pais e avós de cada produção que é influenciada pelos fatores
animal tem a capacidade de determinar a sua climáticos.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 71

O leite é composto por água, macro e micro- A proteína principal do leite é a caseína, a
nutrientes. A água é o item mais importante qual representa entre 77% e 82% de suas proteí-
relacionado à quantidade no leite, a maior parte nas totais. Em contato com o coalho, ou alguma
encontra-se como água livre, embora haja água substância ácida, se produz uma massa coagu-
ligada às proteínas, à lactose e aos minerais. lada (firme) chamada coalhada que, além da
A coloração branca deve-se ao resultado caseína, traz consigo gordura, água e nutrientes
da dispersão da luz em proteínas, gorduras, como minerais. Essa massa coagulada, prensa-
fosfatos e citrato de cálcio. O processo de ho- da, salgada e amadurecida irá se transformar no
mogeneização do leite acentua ainda mais a queijo que tanto gostamos. Outras proteínas do
coloração branca do leite, pois as partículas leite são a albumina e a globulina.
fragmentadas dispersam mais a luz. O leite Outro macronutriente importante no leite
desnatado apresenta tonalidade mais azula- é a gordura, que se encontra em suspensão e
da, já que existe baixa quantidade de grandes forma milhares de glóbulos. Ao deixar o leite
partículas na suspensão. em repouso, esses glóbulos sobem para a su-
perfície e formam uma capa de nata (facilmente
observada quando fervemos o leite). Assim, o
leite, quando passa por centrifugação, separa-se
dessa nata e desse processo é possível obter dois
produtos distintos: o leite desnatado e a nata
para diversos usos (fabricação de manteiga, nata
preparada etc.).
Uma fonte de cálcio na dieta é o queijo,
Em nível industrial, o leite é submetido ao
que é um concentrado lácteo constituído
de proteínas, lipídios, carboidratos, sais
processo de homogeneização, o qual consiste em
minerais, cálcio, fósforo e vitaminas, entre dividir cuidadosamente os glóbulos, de maneira
elas a vitamina A e a B. É um dos alimentos que fiquem mais tempo em suspensão, evitando
mais nutritivos que se conhece: um queijo
a separação e formação da nata. O leite, quando
com 48% de gordura contém de 23% a
25% de proteína, o que significa que, em submetido a esse processo, não serve mais para
termos de valor proteico, 210 g desse pro- produzir o queijo.
duto equivalem a 300 g de carne.
O carboidrato encontrado no leite é a lacto-
Fonte: Francisque (2009). se. A lactose faz parte da composição do leite,
cerca de 37 a 54g/l, ela é quebrada pela lactase,
enzima responsável pela quebra da molécula
Té c n i c a D i e t é t i c a

para que o organismo possa absorver o nu- após resfriamento. A lactose tem um sabor ado-
triente. Algumas pessoas não possuem essa cicado, delicado, se comparada a outros açúcares.
enzima ou tem baixa produção, ocasionando A Tabela 04 faz um comparativo entre os leites
a intolerância à lactose. de vaca e cabra, leite humano e o extrato de soja
Quando aquecemos o leite ou um derivado, em relação aos seus macro e micronutrientes e
a solubilidade da lactose aumenta e cristaliza teor de lactose.

Nutrientes (100 ml) Leite humano Leite de vaca Leite de cabra Extrato de soja

Calorias 70 Kcal 61 Kcal 93 Kcal 33 Kcal

Carboidratos 7g 5g 5,4 g 2g

Proteína 1g 3,6 g 3,9 g 3g

Lipídio 4g 3g 6,2 g 2g

Lactose - 4,6 g 4,7 g -

Vitamina C 5 mg 1 mg 1 mg -

Sódio 17 mg 49 mg 50 mg 12 mg

Potássio 51 mg 152 mg 204 mg 141 mg

Cálcio 32 mg 123 mg 100 mg 4 mg

Ferro - 90 mg 0,20 mg 1 mg

Tabela 04: Comparação entre os leites e extrato de soja


Fonte: Wattiaux (2005).

Listamos até aqui a composição do leite, iden- Em casa, o método de conservação pelo calor
tificando seus macro e micronutrientes, assim é feito com a fervura durante 3 minutos. Ao
observamos que o leite é um ótimo meio de ferver o leite, devemos saber que se alteram o
cultura para micro-organismos, por isso ele é teor de vitamina C e o sabor, se comparado ao
considerado, enquanto cru, um alimento ex- leite natural.
tremamente perecível. Então, qual a melhor O método industrial pode ser dividido em
forma para conservá-lo? Podemos apontar duas dois, a pasteurização baixa ou a pasteurização
metodologias: a caseira e a industrial. por placas. Ambos os processos são feitos em
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 73

ambientes fechados, para reduzir as perdas de definida de acordo com o padrão do leite de
gases dissolvidos no leite e não alterar suas ca- consumo, são eles:
racterísticas iniciais. • Leite Evaporado: consiste na evaporação de
Certamente, você já viu em filmes, ou até 50% da água do leite, à temperatura de 54°C
pessoalmente, cenas em que o leiteiro deixava a 60oC em equipamento a vácuo, para evitar
na porta de casa aquelas garrafas de vidro com que se coagulem as proteínas. A preparação
leite. Estudos realizados mostraram que enva- final tem duplicada a concentração dos
sar o leite em recipientes transparente facilita elementos nutritivos porque reduziu à
a oxidação e a perda de nutrientes, por isso, metade seu volume inicial.
hoje em dia, o leite vem sendo distribuído em • Leite Condensado Açucarado: é utilizado
recipiente de cartão impermeabilizado e forra- em grande escala nos doces brasileiros,
do com folha de alumínio, ou ainda em sacos possui o açúcar como agente capaz de res-
plásticos, opacos, de 1 litro, com indicação da tringir o crescimento bacteriano. Sendo
data para o uso e tipo de leite contido. o açúcar agente bacteriostático, substitui
Hoje em dia, uma das coisas mais difíceis relativamente bem a esterilização mais
de encontrar é o leite cru, salvo quem tem os rigorosa (higienização), devido à possibi-
animais produtores em sua propriedade ou lidade de crescimento de fungos em sua
compra em algum lugar específico, até os leites superfície exposta. É acondicionado em
de saquinho, que anteriormente eram somente latas de pequeno porte ou embalagens
pasteurizados, hoje em dia, já vêm padronizados tetra pak. A conservação do leite conden-
e “homogeneizados”, tornando-se cada dia mais sado açucarado é satisfatória devido a sua
industrializados. baixa atividade de água, enquanto produ-
Vamos discutir um pouco mais sobre os tos similares, a exemplo do doce de leite,
leites e seus subprodutos que passam por providos de teores elevados de açúcar
industrialização. requerem tratamentos adicionais (tra-
Um dos achados da indústria láctea são tamento térmico) para sua conservação.
os leites concentrados, que são obtidos pela Outro tipo de leite industrializado que encon-
evaporação parcial de água e podem ter açúcar tramos para compra são os leites desidratados,
adicionado em sua composição. Esses produtos mais conhecido como leite em pó. A qualidade
devem sempre ser obtidos de matéria-prima desses produtos está intimamente ligada à qua-
de boa qualidade, apresentando características lidade da matéria-prima. O leite desidratado é
organolépticas próprias, composição química classificado em:
Té c n i c a D i e t é t i c a

a. Farinhas lácteas: resultam da desidrata- TIPO TEOR DE GORDURA

ção de uma mistura de leite com farinha Integral ou Gordo Mínimo de 26%

de cereais e leguminosas, empregando- Padronizado Mínimo de 24%


-se com frequência a farinha de trigo Magro Mínimo de 16%
tostada. Devem ser obtidas por meio Semidesnatado Mínimo de 10%
de matéria-prima de boa qualidade, se
Desnatado Mínimo de 10%
apresentam características organolép-
Tabela 05: Classificação do leite em pó segundo o teor de
ticas normais. gordura. Fonte: Ordóñez (2005).
b. Leite modificado: é modificado vi-
sando atender às necessidades do Mostramos até aqui alguns tipos de produtos
consumidor, principalmente crianças, obtidos por meio do leite modificado industrial-
simulando-se a composição do leite mente, porém existem diversos outros produtos
materno, com adição de vitaminas, que veremos a partir de agora.
ferro, lactose, gorduras. Pode conter De início, vamos falar do leite fermentado
sacarose e ser adicionado de soro de ou acidificado. Segundo a resolução nº 5, de 13
queijo desmineralizado. de novembro de 2000, do MAA,
c. Leite maltado: obtido pela secagem e Entende-se por Leites Fermentados os
moagem de uma mistura de leite com produtos resultantes da fermentação
extrato de malte. Deve apresentar boa do leite pasteurizado ou esterilizado,
por fermentos lácticos próprios. Os
solubilidade, no máximo 3% de umida-
fermentos lácticos aludidos nesse item
de, 9% de gordura, 2,8% a 4% cinzas, devem ser viáveis, ativos e abundantes
6% a 10 % de caseína, 12% a 15% de no produto final durante seu prazo de
validade (BRASIL, 2000).
proteínas, 10% a 16 % de lactose e 38%
de maltose.
d. Leite em pó: obtido pela desidratação O tipo e o aspecto do leite fermentado depende-
completa do leite in natura com teores rão das características do substrato e do tipo de
de gordura ajustados de acordo com os microrganismos utilizado para fermentação bem
padrões para o tipo desejado. É encontra- como da tecnologia empregada no processamento.
do no mercado nas formas de leite em pó O maior desafio da produção dos leites fermen-
instantâneo e leite em pó convencional tados é manter os probióticos ativos até o fim do
e pode ser classificado quanto ao teor prazo de validade. A Tabela 06 lista os principais
de gordura: leites fermentados encontrados para a venda.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 75

Natureza da • Sabor: natural, com frutas ou aro-


Tipo
fermentação
matizado, de acordo com a ausência
Iogurte Média acidez de flavor, presença de fruta ou de
Leite acidófilo Acidez média flavorizante.
• Pós-processamento: pasteurizado, con-
Buttermilk bulgarian Alta acidez
centrado, congelado e desidratado.
Buttermilk fermentado Baixa acidez • Teor de gordura: com creme, integrais,
kefir Ácido e álcool parcialmente desnatados e desnatados.

koumiss Ácido e álcool


Diferenciado do iogurte, temos a bebida láctea.
Tabela 06: Tipos de leites fermentados
Fonte: Kosikowski e Mistry (1997). Segundo a Instrução Normativa N.º 36, de 31
de outubro de 2000, do M.A.A.:
Um derivado do leite muito apreciado é o iogur- Bebida Láctea é o produto obtido a partir
te, cuja definição, segundo resolução nº 5, de 13 de leite ou leite reconstituído e/ou deri-
de novembro de 2000, do MAA, é: vados de leite, reconstituídos ou não, fer-
mentado ou não, com ou sem adição de
entende-se por iogurte o produto resul- outros ingredientes, onde a base láctea
tante da fermentação do leite pasteuri- represente pelo menos 51% (cinqüenta
zado ou esterilizado, cuja fermentação se e um por cento) massa/massa (m/m)
realiza com cultivos protosimbióticos de do total de ingredientes do produto
Streptococcus salivarius subsp. thermo- (BRASIL, 2000b).
philus e Lactobacillus delbrueckii subsp.
bulgaricus aos quais podem-se acompa- Outro derivado do leite não menos impor-
nhar, de forma complementar, outras bac-
tante é a manteiga, que é um produto lácteo
térias ácido-lácticas que, por sua atividade,
contribuem para a determinação das carac- conhecido há mais de 600 anos. Associada ao
terísticas do produto final (BRASIL, 2000). pão, a manteiga, junto à margarina, gerou um
importante mercado denominado de “gorduras
Os tipos de iogurtes são diferenciados de acordo amarelas”.
com a sua textura, sabor, pós-processamento e Nos últimos 40 anos, devido à preocupação
teor de gordura: com a alimentação e às mudanças nos hábitos
• Textura: massa firme, massa batida e de vida das pessoas, houve uma publicidade
massa líquida, conhecidos respectiva- negativa em relação às gorduras amarelas, isso
mente como iogurte tradicional, batido refletiu sobre a indústria que reduziu o teor de
e líquido. gordura nos alimentos oferecidos.
Té c n i c a D i e t é t i c a

A Portaria nº146, do M.A.A., de 07 de março de leite de vaca e ingredientes opcionais, como


1996 (BRASIL, 1996), define manteiga como: o cloreto de sódio (respeitando a quantidade

o produto gorduroso obtido exclusiva- máxima de 2 g/100 g de manteiga - manteiga


mente pela bateção e malaxagem, com salgada) ou ainda fermento lácticos selecionados
ou sem modificação biológica de creme (manteiga maturada).
pasteurizado derivado exclusivamente
A manteiga possui características senso-
do leite de vaca, por promessa tecnolo-
gicamente adequados. A matéria gorda riais inconfundíveis, seu aspecto apresenta uma
deverá estar composta exclusivamente consistência sólida e pastosa à temperatura de
de gordura láctea.
20ºC, sua textura é lisa, uniforme e untosa, com
distribuição uniforme de água (umidade), de cor
Ja o creme, segundo a definição da mesma por- branca amarelada, sem manchas ou pontos de
taria, seria “o produto lácteo relativamente rico outra coloração. Seu sabor é suave e caracterís-
em gordura retirada do leite por procedimento tico, com aroma delicado.
tecnologicamente adequados, que apresenta a Sua classificação está relacionada à quali-
forma de uma emulsão de gordura em água" dade da matéria-prima bem como às transfor-
(BRASIL, 1996). mações ocorridas durante o seu processamento,
A composição da manteiga é determinada uma vez que esses fatores resultam em produ-
pela utilização de ingredientes obrigatórios, tos com diferentes composições. Em média,
como o creme pasteurizado obtido a partir do a manteiga apresenta a seguinte composição
percentual:

83% de gordura
16% de água
0,4% de lactose
0,15% de cinzas e sal.

Manteiga de mesa: pode ser classificada em


“extra”, “primeira qualidade” ou “comum”.
Manteiga de cozinha: diferente dos padrões
previstos para o tipo de manteiga de mesa, tem
aproveitamento em culinária, incluindo-se nesta
categoria a manteiga fundida.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 77

Características Extra 1º Qualidade Comum

Gordura > 83,0% > 80,0% > 80,0%

Acidez < 3,0 < 8,0 < 10,0

Sal < 2,0 < 2,5 < 6,0

Corante vegetal Ausente Facultativo Obrigatório

Tabela 07: Classificação da manteiga segundo suas características


Fonte: Grandi (2001).

U
m dos derivados mais importan- ordenha, mais leite que o necessário e a sobra
tes do leite e também um dos mais desse leite, como não havia armazenamento,
apreciados pelos amantes da gas- transformou-se em coágulo e em soro.
tronomia é o queijo. Ele pode ser Essa coalhada obtida, separada do soro e
determinado tanto como produto fresco quanto salgada, resultou em um queijo primitivo e sim-
como produto maturado, é obtido por coagula- ples. Desse queijo primitivo até os tipos mais
ção e separado do soro, usando como substrato sofisticados, houve um processo evolutivo que
leite, nata, leite total ou parcialmente desnata- ocorreu de forma muito lenta. Um ditado po-
do, soro de manteiga ou uma mistura desses pular francês diz que quanto mais progresso na
substratos. Ao falarmos em queijo fresco, que- produção do queijo de um país, mais elevado é
remos dizer que o mesmo está pronto para o seu nível cultural. Com o decorrer do tempo,
consumo imediato, já o queijo maturado sofre esse queijo foi sendo aprimorado quanto ao seu
trocas bioquímicas necessárias de acordo com aspecto, gosto, aroma e apresentação. A linha
a variedade do queijo. seguida pelos produtores buscava obter sempre
A fabricação de queijo nasceu, pode-se dizer, um melhor alimento e gosto mais apurado. No
com a domesticação de animais produtores de Quadro 03, podemos visualizar a classificação
leite. A história conta que, provavelmente, de de queijos de acordo com a sua consistência e
forma natural, algumas pessoas obtiveram, na com o tratamento da coalhada.
Té c n i c a D i e t é t i c a

A classificação dos queijos baseia-se em características decorrentes do tipo de leite


utilizado, do tipo de coagulação, da consistência da pasta, do teor de gordura, do
tipo de casca, do tempo de cura etc. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), o queijo é “o produto fresco ou maturado que se obtém por
separação parcial do soro do leite ou leite reconstituído (integral, parcial ou totalmen-
te desnatado) ou de soros lácteos, coagulados pela ação física do coalho, enzimas
específicas de bactérias específicas, de ácidos orgânicos, isolados ou combinados,
todos de qualidade apta para uso alimentar, com ou sem agregação de substâncias
alimentícias e/ou especiarias e/ou condimentos, aditivos especificamente indicados,
substâncias aromatizantes e matérias corantes.” A legislação complementa essa
definição, reservando o nome queijo exclusivamente para produtos cuja base láctea
não contenha gordura e/ou proteínas de outra origem.

Fonte: Perry (2004).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 79

CRITÉRIO CLASSIFICAÇÃO DE QUEIJOS EXEMPLOS


Brandos: podem ser Requeijão cremoso,
espalhados facilmente. Queijo creme, Quark.
Semibrandos: não se espalham
Minas frescal
facilmente, podem ser cortados.
Semiduros: permitem ser
Consistência Prato, Gouda, Edam
cortados fatiados.
Duros: bastante resistentes ao
Emmenthal, Cheddar, Suíço.
corte e baixa umidade.
Extraduro: Não permitem o corte,
Parmesão, Romano, Gana-padano.
sendo utilizados ralados.
Gordo 40%GES

Teor de gordura Semigordo >25%GES


no extrato seco Magro >15%GES
Desnatado <15%GES
Frescos: queijos não maturados. Minas frescal, Campesino
Maturados A maioria
Por bactérias: maturados por
Prato, Minas, Gouda
fermentos lácticos.
Grau de maturação
Por mofos e bactérias: maturados
Roquefort, Brie, Cammembert
interna e/ou externamente.
Queijos de casca lavada: maturados
Saint-Paul
externamente com Brevibacterium.
Aberta: com olhaduras na massa de
Prato, Emmenthal
Textura tamanho e números variados.
Fechada: sem olhaduras. Cheddar
Massa filada: o tratamento da coalhada
pronta sofre um processo de acidificação
natural ou dirigida, durante o qual o
Tratamento da Mussarela, Provolone, Cacciocavalo,
paracaseinato bicálcico é transformado em
coalhada pronta Queijo de Pescoço.
paracaseinato monocálcico, que, por ação
do calor, permite a formação de fios longos
que facilitam a moldagem do queijo.
Extra
Qualidade
1a qualidade
(consistência, sabor textura, cor e apresentação)
2a qualidade

Quadro 03: Classificação de queijos


Fonte: Gava (2009).
Té c n i c a D i e t é t i c a

Na hora de conservar os mais diversos tipos


de queijo, deve se ter o cuidado de guardá-los
em ambientes que não tenham excesso de lu-
minosidade e corrente de ar. O mofo que se
forma na casca do queijo é natural e deve ser
removido com um pano umedecido com vinho
ou salmoura. Em hipótese alguma congele os
queijos, pois isso afeta seu sabor e sua textura.
Os queijos de massa mole podem ser guardados
na parte inferior da geladeira, sempre em reci-
pientes fechados. Os de massa semicozida, após
cortados, devem ser guardados na parte inferior
da geladeira, embrulhados em papel alumínio, se
estiverem íntegros, devem ser armazenados em
ambientes com temperatura constante, cobertos
com pano úmido com vinho. Já os queijos duros
e defumados devem ser cobertos e guardados
em temperatura de adega, em torno de 18oC.
Encerramos aqui a apresentação das carac-
terísticas do leite e da produção industrial de
seus derivados. Quando falamos de gastrono-
mia e de Técnica Dietética, um dos itens mais
importantes a se entender é sobre ingredientes,
sua composição e tudo que envolve a sua pro-
dução. Saber diferenciar uma bebida láctea de
um iogurte, por exemplo, ou então saber que
esses ingredientes são diferentes determina a
qualidade na reprodução de uma receita, pois
a escolha de produtos para a substituição pode
trazer diversas vantagens, por isso, sempre pes-
quise sobre ingredientes. No próximo tópico,
vamos falar sobre carnes.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 81
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 83

Carnes, Aves e Pescados

Querido(a) aluno(a), vamos continuar nossos estudos em Técnica


Dietética, trabalhando com um dos ingredientes mais apreciados
pelos onívoros, a carne. Essa proteína de origem animal é um
dos ingredientes mais fáceis e, ao mesmo tempo, mais difíceis de
se trabalhar na cozinha. É preciso antes entendê-la e estudá-la
a fundo para depois incrementar as técnicas de cocção e ter um
ótimo resultado.
Té c n i c a D i e t é t i c a

P
odemos conceituar a carne como conectivo. Esses feixes de fibras somados a mais
todo músculo estriado que recobre feixes de fibras formam o músculo, como pode-
o esqueleto e o diafragma. Esse con- mos observar na Figura 06. As fibras musculares
ceito ainda abrange outras partes do servem como unidade estrutural do músculo,
animal, como a língua, o esôfago e as vísceras, elas são agrupadas formando feixes envolvidos
compreendendo todo o tecido muscular adiposo por uma membrana conjuntiva. Já o tecido adi-
e conjuntivo. Incluímos na designação de carne poso pode ser encontrado em maior ou menor
toda parte comível de animal, seja doméstico ou quantidade, isso vai variar de tipo de animal. A
selvagem: ave, mamífero, peixe, molusco, crustá- gordura pode estar entre as fibras ou entre os
ceo, batráquio e outros (ORNELAS, 2008, p. 87). feixes, ou então na parte externa do músculo,
A carne magra é feita por fibras que se também conhecida como tecido adiposo sub-
reúnem em feixes ligados entre si por tecido cutâneo (gordurinha da picanha).

Tecido conjuntivo

Feixe muscular

Tendão Fibra muscular

Fibra
muscular

Tecido conjuntivo

Seção transversal

Figura 06: Visão esquemática da estrutura da carne


Ilustrador: André Luís Onishi.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 85

Falando ainda sobre a estrutura da carne, as principais tipos de carne consumidos pelos
proteínas dos filamentos exercem papel fisioló- onívoros. É possível visualizar que a porcen-
gico importante, visto que a actina e a miosina tagem de proteína da carne e de água é bem
participam de 75% a 80% da contração muscu- significativa.
lar, sendo em média de 20% - 25% da actina e
50% - 55% da miosina. ESPÉCIE ÁGUA PROTEÍNA LIPÍDIOS CINZAS

A tropomiosina, considerada uma proteína BOVINOS 70-75 20-22 4-8 1


de molécula fibrosa e estreita, e a troponina,
SUÍNOS 68-70 19-20 9-11 1,4
que já é uma proteína complexa e regular, são
consideradas proteínas reguladores. AVES 73,7 20-23 4,7 1

A miosina já possui formato de bastão de Tabela 08: Composição do Tecido Muscular Magro (%)
golfe, a ponta em forma de “cabeça”, vai se ligar Fonte: USDA, 2013.

aos filamentos de actina promovendo o processo


de contração muscular. Ao tratarmos da composição química do
Já a actina é formada por filamentos finos e tecido muscular, encontramos a água como o
em forma de hélice. Junto à miosina formam-se elemento que aparece em maior quantidade.
pontes de integração, que originam o complexo Em carnes magras, esse percentual chega a
químico actimiosina. Esse complexo constitui a 70%-75% do seu peso e, durante o processo
maior parte das proteínas existentes no músculo de cocção, mais água pode ser absorvida por
pós-morte e tem fator primordial na maciez emulsão. Nas carnes, a água tem papel funda-
da carne. mental e está ligada diretamente à suculência,
O processo de abate do animal estuda toda maciez, sabor e cor, por isso, durante o prepa-
a questão da contração da carne, para que, no ro, as técnicas de cocção evitam ao máximo a
abate, todos esses processos fisiológicos tornem perda de líquidos.
a carne mais macia. A carne é uma ótima fonte de proteínas de
A carne é um alimento rico em proteínas e, alta qualidade, de fácil digestibilidade e absor-
dependendo do corte, possui teores de gordura ção pelo organismo, chega a ser absorvida num
diferenciados, podemos dizer que quanto maior percentual de 95% a 100%, enquanto os vegetais
o percentual de gordura do corte, mais macio ficam em torno de 65%-70%. Se observarmos do
este será. ponto de vista biológico, independente das ca-
A Tabela 08 relaciona a composição do lorias, as proteínas são necessárias na formação
tecido muscular magro em porcentagem dos das enzimas, dos hormônios e da hemoglobina.
Té c n i c a D i e t é t i c a

De acordo com sua solubilidade, as proteínas o processo de emulsão da carne na elaboração


são divididas em três grupos: sarcoplasmáticas, de embutidos.
proteínas miofibrilares e proteínas de tecido O tecido conjuntivo é formado pelo coláge-
conjuntivo. no e pela elastina, sendo o colágeno considerado
As proteínas mais conhecidas, presentes no o principal componente desse tipo de tecido.
suco da carne, são as proteínas sarcoplasmáti- Algumas carnes são muito ricas em tecido con-
cas, elas são responsáveis pela cor da carne. Em juntivo, podendo conter até 10% de colágeno.
percentagem, a mioglobina e a hemoglobina das Podemos dizer que uma carne rica em colágeno
proteínas totais correspondem a uma proporção terá seu valor biológico baixo, devido à propor-
de 25% a 30%. ção de aminoácidos essenciais ser relativamente
Para cada tecido, a composição será diferen- baixa. Já a elastina não se degrada pelo calor,
ciada. O tecido muscular é constituído por fibras não apresenta importância tecnológica e não
musculares, como já discutimos. Essas fibras apresenta fator nutritivo importante.
contêm pigmentos, e a quantidade pode variar. Sabemos que a elastina não se degrada
Fica claro se compararmos a cor da carne de vaca pelo calor e que ambos, colágeno e elasti-
e a carne de frango, por exemplo, ou então a cor na, são insolúveis em água fria, se forem
da carne de um animal mais novo com a de um submetidos ao calor seco, vão ressecar mais
adulto, pois este apresenta uma carne bem mais ainda e endurecer. Ao serem cozidos por longo
vermelha. Ao levarmos a carne para cocção, à tempo em calor úmido, esses tecidos vão au-
temperatura de 64°C, ocorre a decomposição da mentar de volume, amolecer e hidrolisar,
hemoglobina, o que forma a hematina, que tem sendo que apenas o colágeno se transforma-
uma cor marrom, essa alteração da cor indica a rá em gelatina. Assim, ele se desprende das
cocção e que a carne atingiu a temperatura de fibras musculares, pois a gelatina é solúvel
64 C, isso não é fascinante?.
o
na água quente. Podemos afirmar que o pro-
Ao tratarmos das proteínas miofibrilares, cesso de gelatinação do colágeno efetua-se
as mais importantes são a miosina e a actina. mais facilmente em temperatura acima de
A miosina participa de 38% do conteúdo 100°C (panela de pressão), tomando muito
proteico do músculo, contra 13% da actina, mais tempo, horas seguidas, quando realizado
juntas elas formam o complexo actomiosina. com ebulição simples (cocção do mocotó). A
Destaca-se ainda que, entre as miofibrilares, obtenção de gelatina ocorre mais rapidamente
a tropomiosina, troponina, a proteína C e as na presença de ácido (vinagre ou limão), pois
proteínas M, que são solúveis em sal, facilitam este facilita a quebra de tecido proteico.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 87

O tecido adiposo é constituído aproxima- se encontra entre os feixes musculares, mesmo


damente de 75% a 90% de gordura, a sua con- que se rompa a membrana celular ou ocorra a
sistência vai variar de acordo com o animal, retração, parte da gordura sempre permanece
como já descrevemos na unidade I deste livro, em seu interior, pode-se observar esse fenômeno
no tópico sobre gorduras. no torresmo. Quanto mais alta a temperatura
Na cocção, as gorduras fundem-se com mais empregada na cocção, maior é a perda de gordura
facilidade quando a temperatura atinge valores para o meio. As carnes que apresentam maior per-
acima de 50°C, que é uma temperatura muito centual de gordura intrafascicular (“marmoreio”)
abaixo da temperatura de coagulação das proteí- são as mais suculentas e macias, pois a gordura
nas. A gordura se desprende, formando o “goteio”, impede que o tecido muscular fique seco, durante
não podemos dizer que a perda de gordura du- o processo de cocção, podemos citar o corte de
rante o processo de cocção seja total, porque esta costela como exemplo.
Té c n i c a D i e t é t i c a

A carne Angus é sinônimo de qualidade em questão de carne marmorizada.

O Angus produz um animal com alta qualidade de carne, apropriada não só para
o mercado interno como também para o mercado externo. O Angus apresenta de
3 a 6 mm de gordura (exigências europeias) e sua carne é marmorizada (gordura
entremeada na carne), o que lhe confere a já famosa maciez e sabor. A perfeita e
uniforme distribuição da gordura no tecido muscular lhe confere um aspecto muito
mais atraente e sabor singular. A importância dessa distribuição é exaltada quando,
da sua preparação: a gordura se derrete parcialmente pela ação do calor e impregna
a parte magra, melhorando apreciavelmente seu valor, tornando-a tenra e apetecível.
Os mercados mais importantes do mundo, que abastecem os consumidores mais exi-
gentes, alcançam ganhos comerciais superiores, valendo-se do que existe de melhor
entre as raças bovinas de corte. Sem hesitar, eles afirmam: ANGUS BEEF IS BEST!
CARACTERISTICAS. Angus, Porto Alegre. Disponível em: <http://angus.
org.br/raca/caracteristicas/>. Acessado em: 03 set. 2015
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 89

Q
uando falamos em cocção da carne, Vários fatores influenciam o transporte de calor
o principal motivo, sabendo que a para o interior da carne durante a cocção, como
carne é um ótimo meio de cultura, é o volume total, formato, espessura, carne com
destruir os micro-organismos patogê- osso ou sem osso, carne congelada ou não, re-
nicos, coagular as proteínas, abrandar o tecido vestimento de camada gordurosa, que facilita
conjuntivo e desenvolver um sabor agradável a penetração de calor. A forma mais precisa de
para torná-la saborosa. verificar se o calor está adequado no centro
Os cortes de primeira qualidade são subme- da carne é usando termômetros, algo que não
tidos ao calor seco, como grelha, mal-assados, é muito comum nas cozinhas, porém é uma
bifes etc., o método será determinado pela es- medida super prática para dar ponto de cocção
pessura do pedaço utilizado. à carne. Usam-se as seguintes temperaturas
Os bifes podem ser submetidos à alta tem- no interior da carne para atingir determinado
peratura para formação da crosta, que impede ponto de cocção: 65º-70oC: carne ao ponto, de
a perda de suco interno, o que promove uma 70º-80oC: carne bem passada e de 80-95oC:
suculência, especialmente no bife mal passa- carne muito bem passada.
do, lembrando sempre que devemos manter a
suculência da carne.
Quando a carne passa por cocção, o sabor da
mesma é exaltado pela desidratação de substân-
cias extrativas que se condensam na superfície
da carne, por causa do aumento de temperatura,
a gordura entre os feixes musculares funde-se
para o meio de cocção, o que reduz o volume
da carne, porém adiciona sabor. Por isso, as
carnes brancas, como a da galinha ou do peru,
devem inicialmente ser colocadas em fogo mais
baixo, para que a retenção das fibras aconteça
lentamente, impedindo que ocorra o goteio,
que torna a carne seca e diminui seu volume
e, consequentemente, seu rendimento, assim,
depois que o alimento estiver cozido, aumen-
ta-se a temperatura para obter o dourado final.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Quando a carne passa pelo método de A escolha do método de cocção está dire-
cocção assado ao forno, o tempo será deter- tamente relacionada ao rendimento da carne
minado pelo peso do corte utilizado. Para os utilizada, uma vez que, por meio desse, é que se
cortes mais macios, como filé mignon, contrafilé consideram a perda de volume através do goteio
e maminha de alcatra pode-se calcular aproxi- na cocção por calor seco e o ganho de volume
madamente 1 hora para assar 1 kg, atingindo o ocorrido em métodos de cocção em calor úmido.
ponto “mal passado”, e até 1 h 45 minutos para Por isso, devemos levar em consideração o fator
chegar ao ponto “bem passado”. Peças maiores cocção para o cálculo de compra.
de 2 kg, de carnes mais rijas, como lagarto, que é Existem ainda tipos de carnes que já pas-
extremamente seco, ou então pernil, língua pre- saram por um processo de maturação, que
sunto defumado levam de 2 horas até 4 horas, podem ser encontradas nas seguintes formas:
em forno, à temperatura de 150 C. Somente
o
carnes cuja base de conservação é o sal seco,
no final, colocar em temperatura mais alta para que tem ação desidratante e bactericida, por
dourar a carne. exemplo: charque, carne de sol. Carnes cuja
Já o método de cocção em calor úmido base de conservação é a salmoura, que pode ser
perde uma parte das proteínas (a mioalbumina injetada no sistema vascular (em peças muito
e a mioglobulina), que vimos no início da nossa grandes), sua ação é hidratante e bactericida,
unidade, para o meio de cocção, e se perdem sendo o presunto um exemplo desse tipo de
também sais minerais e vitaminas solúveis. Por conservação. Carnes defumadas que utilizam
meio da cocção em calor úmido, as proteínas como base de conservação a fumaça, cuja ação
coagulam-se à temperatura de 60oC, adquirindo é desidratante, bactericida, além de fornecer
cor acinzentada. um sabor especial ao produto (geralmente esses
A temperatura alta e a rápida cocção deter- produtos já foram curados). São exemplos cos-
minam o endurecimento da carne pela retração telas de porco.
brusca das fibras musculares e do tecido conjun- E, por fim, a carne picada em que a base de
tivo. A cocção prolongada transforma o colágeno conservação é dada pela adição de: sal, açúcar,
em gelatina e desintegra o tecido conjuntivo condimentos e posterior maturação, sem sofrer
em geral, libertando e abrandando também as ação do calor. São exemplos: embutidos, tais
fibras musculares. como linguiça, salsicha, salame etc.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 91

Pescados

Outro tipo de carne, não menos apreciada que e profunda, obtidos por pesca de linha
a carne de boi, é a carne de pescado. A denomi- (namorado, cherne, garoupa, vermelho,
nação genérica PESCADO consiste de peixes, badejo, robalo, mero).
crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios, ma- • Peixes populares: peixes de água morna,
míferos de água salgada ou doce que se destinam rasa e lamacenta ou os capturados em
à alimentação humana, sendo também enqua- maior volume pelo arrastão (corvina,
dradas as algas, plantas e os animais aquáticos pescadinha, cavalinha, galo, sardinha) e
que se destinam ao mesmo fim (ORNELAS, cuja abundância ou escassez provoca a
2008, p. 99). baixa ou alta do preço.
Para fins de comercialização, classificam-se
comumente os peixes (enorme variedade e no- Quanto ao rendimento nutricional, não há
menclatura confusa), segundo o sabor, quanti- diferença entre peixe fino e popular. A carne
dade e volume de pesca, em: do peixe fresco e magro é de alta digestibilidade,
• Peixes finos: peixes de água fria, clara pela falta de tecido conjuntivo.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Tanto pelo seu conteúdo em proteínas como b. A carne é branca, rosada, com reflexos
em purinas, a carne de pescado se assemelha a madrepérola.
outra carne qualquer. Os peixes em geral têm c. A cauda é firme na direção do corpo.
4% de gordura (pescadinha, robalo, linguado, d. Cheiro característico (de planta aquática).
bonito, lúcio, truta, esturjão, caçonete, namo- e. Olhos salientes e brilhantes.
rado, badejo, galo, vermelho. espada etc.). São f. Guelras vermelhas e com cheiro fresco
ricos em gorduras os que têm de 6% a 15% característico.
(salmão, cavala, carpa, atum, tainha, merlusa, g. Escamas bem aderidas à pele.
enguia, sardinha, arenque etc.). h. Pele brilhante e úmida, sem untuosidade.
Os peixes de água salgada são também i. O ventre não deve estar abaulado.
ótima fonte de iodo, contêm quatro vezes mais a
concentração de cálcio que as carnes comuns, e Ostras:
o baixo conteúdo de tecido conjuntivo os torna a. As conchas das ostras frescas são duras,
de mais fácil desintegração e digestão. O óleo bem ajustadas e, quando comprimidas,
de fígado de peixes (halibut, bacalhau etc.) é não provocam nenhum som.
esplêndida fonte de vitamina A e D. b. A carne é sólida, de cor clara e brilhante
Os moluscos (ostras, mariscos e mexi- e livre de impureza.
lhões) têm valor semelhante à carne de peixes c. O líquido é claro e brilhante, sem adição
magros (proteína de 8,4% a 17% e 1% a 7% de de água.
glicogênio) em geral, enquanto os crustáce- d. O cheiro é característico, o gosto é agra-
os (lagostas, camarões, caranguejos etc.) são dável, nunca acre e desagradável.
comparáveis aos peixes gordos também em
vitaminas e iodo. Oferecem perigo de infecção Nas ostras alteradas, as conchas estão mal ajusta-
quando são retirados de águas poluídas e, tal das e, quando comprimidas, provocam um som
como os peixes, são alimentos que facilmente surdo. A carne é ressecada, de coloração escura,
se deterioram. sem brilho e tem cheiro acre e desagradável.
De acordo com Ornelas (2008), para deter-
minar as características de um pescado fresco, Camarões:
é importante identificar: a. A carne de camarões frescos é firme, de
Peixe: cor branco-acinzentada, tomando cor
a. A carne é firme, elástica e resiste à pres- rosada quando cozida. O cheiro e gosto
são dos dedos. são característicos e agradáveis.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 93

Os camarões alterados desintegram-se com fa- d. Pele de cor embaçada, rugosa e frágil.
cilidade, têm cor escura, azulada ou esverdeada, e. Carne sem brilho, de cor leitosa, sem
têm cheiro e gosto forte, acre e desagradável. elasticidade e conservando o sinal de
Lagosta, siri e caranguejo: pressão dos dedos.
Adquirir a lagosta, de preferência viva, de- f. Cheiro desagradável, acre, pútrido.
vendo ser submetida ao cozimento ainda viva, g. Ventre abaulado, flácido, volumoso.
o que faz com que sua cauda se encurve para
baixo do corpo. Ostras:
Ao comprar lagosta frigorificada, observar a. Conchas mal ajustadas, separadas e,
a direção da cauda, pois, estando em sentido quando comprimidas, provocam um
horizontal, indica que foi cozida depois de som surdo.
morta, devendo opor-se restrições quanto à b. Carne ressecada, descorada ou escura,
sua qualidade. As alterações são: modificações sem brilho, com impurezas.
de colorações dorsal e ventral (barriga preta); c. Líquido ausente ou adicionado de água.
do sabor, textura e odor amoniacal; aspecto d. Cheiro e gosto: acres e desagradáveis.
gelatinoso com opacidade da carne. A retirada
do cefalotórax reduz em 70% a contaminação. Camarões:
Siris e caranguejos também devem estar vivos a. Carne pouco firme, de cor escura, azulada
até a hora da cocção. ou esverdeada, mesmo quando cozidos.
Já os peixes alterados podem apresentar as b. Cheiro e gosto fortes, acres,
seguintes características, de acordo com Ornelas desagradáveis.
(2008):
Peixe: Lagosta:
a. Escamas opacas desprendendo-se facil- Deve ser adquirida, de preferência, viva. A lagos-
mente (para burlar, usam passar cola nas ta frigorificada, com cauda esticada em sentido
escamas). horizontal, indica que foi submetida a cocção
b. Olhos turvos, vítreos, opalinos, afunda- depois de morta. O mesmo vale para outros
dos na órbita. crustáceos (siris, caranguejos) e quelônios.
c. Guelras pálidas, acinzentadas, ressequi- Sempre devemos aproveitar ao máximo os
das, azuladas, com cheiro desagradável ingredientes, o pescado por sua própria natu-
(para burlar, costuma-se passar mercúrio reza apresenta, na pré-preparação do peixe, um
cromo nas guelras). desperdício normal, constituído por vísceras,
Té c n i c a D i e t é t i c a

escamas, cauda e nadadeiras. A cabeça e o es- • Mexilhão - molusco de concha lisa, de cor
pinhaço podem ser aproveitados em caldos, preta azulada, com aproximadamente 6
gelatinas, moquecas e também no preparo de cm, encontra-se aderido às pedras e com
peixes pequenos (sardinha frita), o que significa presença de algas; sua carne é creme e
grande rendimento nutritivo pelo fornecimento laranja com toques de preto.
de quota mais elevada de cálcio e fósforo. • Vôngole - pequeno molusco de concha
Para a cocção do pescado, o peixe, mesmo branca canelada, que habita a costa bra-
tendo tecido conjuntivo, cozinha facilmente sileira; na beira da praia, quando a reben-
em curto período de tempo sem exigir alta tação retorna, o molusco se enterra na
temperatura. Havendo menor retração, por areia, deixando dois furinhos indicativos
ter menos tecidos conjuntivos que a carne de de sua presença no local.
vaca, não perde tão facilmente a forma, exceto • Caramujo - molusco de concha espi-
quando se ultrapassa o tempo de cocção, pois ralada e carne borrachenta, não é en-
daí a carne de peixe se desintegra. Para facilitar contrado em águas brasileiras (produto
a retirada da panela e para manter a forma do importado).
peixe que se cozinha por calor úmido (na água • Camarão - crustáceo de carapaça semi-
ou no vapor), envolvê-lo em pano fino, amar- transparente, sendo encontradas na
rando duas pontas de um triângulo ou de um costa brasileira as seguintes variedades: o
quadrado. 7 barbas (do fundo do mar), um camarão
Dependendo do tipo de pescado, pode ele ser pequeno de, no máximo, 8 cm; o camarão
preparado cozido, assado, grelhado ou frito, es- rosa, com o dobro do tamanho (15 cm);
tando exposto às mesmas perdas e modificações o camarão branco que atinge até 20 cm.
que foram discutidas em relação à carne de vaca. • Lagosta - crustáceo de cor roxa-averme-
lhada ou esverdeada, com o corpo cober-
Os frutos do mar: to de pequenos espinhos e dois pares de
• Ostra - molusco recoberto por concha antenas bem longas, sendo encontrado
áspera, de tonalidade acastanhada, com em tamanho de 30 cm a 50 cm com um
imensa variedade no Brasil, as mais co- peso que varia de 1.200 g a 2.000 g, com
nhecidas são: ostra do mangue, ostra da presença mais frequente na costa do
pedra (mais saborosa) e ostra do fundo Pernambuco e do Rio Grande do Norte.
(maior). Calcular uma média de 8 a 10 • Caranguejo - são várias as espécies de
ostras por pessoa. caranguejo no Brasil: guaiamum preto
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 95

azulado, com carne branca consistente, capacidade de minetização para se de-


principalmente nas pinças; guaiá, de cor fender de seus inimigos; o tipo encon-
entre roxo e alaranjado e a santola que é trado no nosso país atinge até 80 cm de
violácea com carne deliciosa, todos ha- comprimento.
bitantes do mangue. • Escargot: tipo de caramujo terrestre que
• Siri - este crustáceo tem por habitat o mar, é utilizado para consumo na culinária.
seu corpo tem um formato ovalado de cor Duas variedades são econtradas: o es-
esverdeada, que se torna vermelha após a cargot romano de concha listrada de
cocção; sua carne é branca, de sabor muito marrom e branco e o petit gris, menor
mais delicado que a do caranguejo. e de cor acinzentada, também conhe-
• Lula - é também conhecida como cala- cido como caramujo de jardim; o sabor
mar, possui um corpo alongado, como desse animal é surpreendentemente
um saco, mais fino na ponta de onde apimentado.
saem as nadadeiras; esse cefalópode
tem tentáculos ao redor da boca e seu
esqueleto é fino e transparente como
uma antiga pena de escrita; a variedade
de lulas no mundo é muito grande, mas
no Brasil a espécie encontrada tem no
máximo 15 cm de comprimento; uma
característica importante da lula é a
presença de uma bolsa de tinta que se
encontra no interior de seu corpo e que
é usada para se camuflar contra inimigos.
A tinta tem um valor culinário muito
apreciado, sendo usada para o preparo
de risotos e para colorir massas (sépia
de Nero).
• Polvo - este cefalópode tem os tentáculos
ao redor da boca, vive em alto mar e suas
ventosas permitem que ele se agarre às
pedras, dificultando sua captura; tem a
Té c n i c a D i e t é t i c a

Aves

As carnes de aves estão sujeitas às mesmas


modificações e perdas que as demais carnes.
Por que a carne do peito de frango é
Existem variadas formas de se preparar as branca, mas a da coxa é escura? A resposta
aves, elas podem ser: cozidas, assadas, gre- tem a ver com os papéis que os músculos
e as fibras que os compõem representam
lhadas, fritas etc. O tempo de cocção variará
na ave. Olhe para a carne do peito por um
de acordo com o tamanho e idade da ave: para microscópio: você verá fibras musculares
as aves assadas, é preferível usar menor tem- de contração rápida e cores claras prepa-
peratura e mais tempo para obter carne mais radas para explosões de atividade intensa,
como fugir de uma raposa faminta. Essas
tenra e macia.
fibras não queimam gordura, por isso a
Podemos dizer que todo pedaço da carne é bom, carne é magra. As coxas, sobrecoxas e as
desde que preparado adequadamente. Vale res- asas de frango são feitas para a resistên-
cia. Portanto boa parte de suas fibras são
saltar que a carne pode provir de qualquer tipo
escuras, voltadas para atividade contínua.
de animal comestível de nossa fauna. Sabe-se Esses músculos queimam gordura para
que o método de cocção pode interferir nas ca- obter energia, de modo que a carne é mais
racterísticas sensoriais da carne, como aroma, rica em sabor e em cor.

sabor e textura, e isso influencia também em Fonte: Myhrvold e Bilet (2014).

seu rendimento, dependendo da escolha e do


método de cocção empregado.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 97

considerações finais
Querido(a) aluno(a), fechamos mais uma unidade do livro de Técnica Dietética,
na qual trabalhamos com ingredientes de origem animal e gorduras.
Inicialmente, falamos sobre o ovo, um dos ingredientes mais versáteis
utilizados na gastronomia, que está presente tanto no preparo de doces quanto
no de salgados, como figurante ou como ator principal.
Após estudarmos o ovo, trabalhamos com o leite, que também é consi-
derado um dos ingredientes primordiais nas elaborações gastronômicas, pois
pode ser um ingrediente principal ou acompanhar produções. Sua composição
química traz um diferencial importante, uma vez que é rico em gordura e
proteínas, serve de ingrediente para produzir diversos derivados, comu-
mente consumidos como, o iogurte, queijo, creme de leite e manteiga. Nessa
perspectiva, exploramos a questão industrial da produção desses derivados
para entendermos um pouco mais sobre a estrutura química e física desses
ingredientes, sempre reforçando que é de extrema importância entender o
ingrediente, para, posteriormente, colocá-lo na panela.
Fechamos a unidade trabalhando com as carnes, não somente a carne de
gado, mas também a carne de aves, peixe e pescados. Vimos como determinar
a sua qualidade e como os métodos de cocção trabalham em sua estrutura.
Assim, encerramos mais uma unidade trabalhando com os ingredientes
de origem animal e gorduras, envolvendo nesse trabalho a Técnica Dietética
e a redução de custos e controle de qualidade.
Té c n i c a D i e t é t i c a

atividades de estudo

1. A margarina foi desenvolvida em um concurso realizado em 1866,


na França, no qual foi instituído um prêmio para quem inventasse
um produto similar à manteiga que fosse mais barato, para ser usado
pela marinha e pela população mas pobre. Diferencie manteiga de
margarina.
2. Quando a carne passa por cocção, o sabor dela é exaltado pela desi-
dratação de substâncias extrativas que se condensam na superfície
da carne, por causa do aumento de temperatura. A gordura entre
os feixes musculares funde-se para o meio de cocção, o que reduz o
volume da carne, porém adiciona sabor. Como devemos proceder,
em termos de cocção, com carnes com menos gordura como um
peru ou frango?
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 99

material complementar
Um pouco de polêmica sobre o consumo de leite e derivados, por Lair Ribeiro, médico nutró-
logo, falando sobre o consumo desses alimentos.

Nesta entrevista, o escritor, médico e nutrólogo Lair Ribeiro expõe pesquisas científicas sobre
os malefícios do leite e seus derivados na alimentação humana. São dados que merecem uma
reflexão da sociedade, pois muitas doenças estão atreladas ao consumo desse alimento e
de seus derivados.

<https://www.youtube.com/watch?v=eZZD4cuvfd8>.
Té c n i c a D i e t é t i c a

leitura complementar

No livro, trabalhamos com leite e derivados e mencionamos o quefir, para entender-


mos um pouco mais sobre esse probiótico, leia parte do artigo a seguir:

O quefir é uma suspensão de micro-organismos imunomodulação, proteção contra micro-or-


simbiontes formada por um grande número ganismos patogênicos, balanço da microbiota
de cepas de bactérias (predominantemente intestinal , atividade anticarcinogênica e regene-
ácido-lácticas - BAL) e de leveduras, ambas en- ração hepática , entre outras. O presente estudo
capsuladas em uma matriz de polissacarídeos avaliou a possível atividade anti-inflamatória
secretados pelas primeiras. Historicamente, o desse probiótico sobre modelo de indução de
quefir é originário das montanhas do Cáucaso, tecido granulomatoso e contorções abdominais
havendo citações místicas de que seria “um induzidas por ácido acético. A administração de
presente do profeta Maomé ao seu povo, para 1,0 ml/dia de quefir levou à formação de 427,51
a cura de todos os males”. Em eslavo, Kephir sig- + 30,64 mg de tecido granulomatoso, sendo
nifica “bem-estar”. O quefir produz uma bebida estatisticamente diferente do grupo tratado
fermentada utilizada no ocidente por suas pro- com dexametasona (325,08 + 28,20 mg), mas
priedades organolépticas, e seu uso é tradicional diferente do controle, que apresentou 731,15 +
na medicina popular. Seu produto fermentado 30,64 mg. No ensaio de contorções abdominais,
resulta em uma solução ácida contendo com- o resultado foi similar ao da indução de tecido
postos aromáticos, gás carbônico e etanol . granulomatoso. O grupo tratado com quefir
Macroscopicamente, o quefir se apresenta em apresentou número total de contorções de 29,1
grãos gelatinosos, medindo de 3 a 20 mm de + 1,1 significativamente diferente do grupo tra-
tamanho e com propriedades organolépticas de- tado com indometacina (25,1 + 1,4) e ambos do
finidas para cada combinação microbiológica. Os grupo controle (40,3 + 3,2). O ensaio de indução
benefícios que esse produto apresenta incluem de tecido granulomatoso é um método utilizado
redução dos efeitos de intolerância à lactose , para determinação de uma possível atividade
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 101

leitura complementar
anti-inflamatória sobre processos crônicos. A atividade sobre processos inflamatórios. O
administração diária por via oral de 1 ml de grupo tratado com quefir representou inibição
quefir durante 6 dias inibiu a formação do tecido de 28%, comparado ao controle e à indometa-
granulomatoso em 42%, quando comparado ao cina de 36%. Com base nesses resultados, po-
grupo controle e a inibição causada pela dexa- de-se sugerir atividade anti-inflamatória desse
metasona aplicada topicamente foi de 51%. O produto (quefir) nos modelos testados, com o
mecanismo do desenvolvimento de contorções envolvimento nas respostas produzidas na for-
abdominais por ácido acético envolve a produ- mação do granuloma e no processo algogênico
ção de prostaglandinas, em especial, PGE2α por ácido acético.
e PGF2α, mediadores essenciais no processo
inflamatório. A inibição dessas contorções pode
Fonte: Diniz, R.O et al Atividade antiinflamatória de
estar envolvida com o mecanismo de inibição quefir, um probiótico da medicina popular. Rev. Bras.
na gênese de prostaglandinas, apresentando Farmacogn., v. 13, supl., p. 19-21, 2003.
Características e Uso Culinário de
Produtos de Origem Vegetal
QUEILA TURCHETTO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Cereais, massas e agentes de crescimento


• Leguminosas
• Frutas, hortaliças, corantes e edulcorantes

Objetivos de Aprendizagem
• Caracterizar o uso culinário de cereais.
• Identificar as características e uso culinário dos agentes de
crescimento.
• Determinar as características e uso culinário de leguminosas.
• Descrever as características e uso culinário de frutas.
• Relacionar as características e uso culinário de corantes e
edulcorantes.
105

Introdução
Nesta unidade, vamos trabalhar principalmente com ingredientes de origem vegetal. Nossos
estudos se iniciam com os cereais. O trigo, o arroz, a farinha, que podem ser considerados como
a base da nossa alimentação, na pirâmide de alimentos, se encontram como fator primordial à
sobrevivência, sendo necessário o consumo de 6 a 11 porções por dia. Por meio da identificação
do tipo de beneficiamento, vamos diferenciar os cereais refinados dos cereais integrais e, assim,
entender o que determina a qualidade nutricional de cada um.
Após estudarmos os cereais, vamos estudar as massas e seus agentes de crescimento, os
comumente chamados fermentos. Eles são responsáveis por produzir diferentes preparações
saborosas do nosso dia a dia, como os pães, por exemplo, que usam o fermento biológico (que
pode ser considerado um fermento vivo), ou então os bolos, que usam o fermento químico, que
nada mais é do que a mistura de bicarbonato e uma substância cítrica.
Em nosso segundo tópico, vamos estudar as leguminosas, alimentos fontes de proteínas e
carboidratos. Em suas variadas formas de apresentação, as leguminosas apresentam-se como um
grupo fascinante de nutrientes, sendo as bases da alimentação tanto para onívoros quanto para
vegetarianos e veganos, por causa de sua quantidade expressiva de proteínas, que, associadas
aos cereais, podem formar uma proteína completa para o consumo.
O último tópico deste livro irá trabalhar com as frutas, hortaliças, corantes e edulcorantes.
As frutas são ingredientes versáteis na cozinha, assim como as hortaliças. O colorido desses
alimentos é fonte de nutrientes e enriquecem qualquer cardápio. As frutas podem ser utilizadas
em sobremesas tanto cruas como cozidas, assim como as hortaliças, que são ricas em fibras e
também fornecem nutrientes, sabor e cor para a produção de um cardápio equilibrado.
Vamos fechar esta unidade estudando os corantes e edulcorantes, que podem ser naturais
ou artificiais. Como já discutimos, a forma natural sempre irá trazer benefícios para a saúde
se utilizada de forma correta, uma vez que nem todo alimento artificial pode ser considerado
algo seguro ao consumo.
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 107

Cereais, Massas e
Agentes do Crescimento

Vamos iniciar nossos estudos falando dos cereais. Eles são fontes
de carboidratos e, sendo fontes de energia, são a base da nossa
alimentação. Alguns cereais são ótimas opções para saciar a fome,
principalmente, no café da manhã, por causa da quantidade de
fibras que eles fornecem, o que proporciona saciedade. São tantas
as opções a serem elencadas, que fica difícil abordar todas, tanto
no que se refere a valores nutricionais quanto a características
gastronômicas.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Cereais

Podemos conceituar os cereais como grãos que O endosperma do grão de trigo representa 83%
provêm das gramíneas, cujas sementes dão em do peso do grão e é o constituinte principal da
espigas, citamos algumas: trigo, arroz, cevada, farinha branca de trigo. No endosperma, se en-
milho, adlai ou lágrima-de-nossa-senhora, contram a maior parte da proteína que constitui
sorgo, “quinoa” etc. Esses alimentos são usados o grão de trigo, dos hidrocarbonatos, do ferro e
pela civilização, desde as mais remotas eras, das vitaminas do complexo B.
pela facilidade de seu cultivo, conservação, Já a casca compõe cerca de 14,5% do peso do
alto valor calórico e baixo preço (ORNELAS, grão de trigo e está presente na farinha integral,
2008, p. 125). que, por esse motivo, adquire uma cor mais escura,
Para entendermos melhor os cereais, o que a diferencia da farinha branca. A farinha
vamos entender como ele é estruturalmente, integral contém grande quantidade de vitaminas
para isso, vamos estudar o grão de trigo. Como e de fibras, se comparada à farinha branca, sendo
podemos visualizar na Figura 07, ele possui considerada um alimento mais saudável e natural.
três partes principais: o endosperma, a casca O gérmen, que considero o item mais saudá-
e o gérmen. vel e nutritivo do grão, é o embrião da semente
e representa aproximadamente 2,5% do peso do
grão de trigo. Normalmente, é retirado para a
produção de farinhas, pois apresenta um teor
de gordura que prejudica o tempo de prateleira
casca da farinha.
O trigo pertence à família das gramíneas do

endosperma gênero Triticum, é considerado uma gramínea e


um cereal fasciculado de fruto oval, possuindo
diversas espécies. O tipo de maior interesse co-
gérmen
mercial é o Triticum aestivum L, mais conhecido
como o trigo comum utilizado para a panifica-
ção, produção de bolos, biscoitos e produtos
de confeitaria. O tipo Triticum durum é muito
utilizado para o preparo de massas alimentícias,
Figura 07: Composição estrutural do grão de trigo
Ilustrador: André Luís Onishi. devido ao teor mais alto de proteínas.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 109

O grão de trigo chegou ao Brasil, em 1534, trazi- Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do
do por Martin Afonso, que, inicialmente, plan- Sul e São Paulo.
tou as sementes na Capitania de São Vicente e, Os cereais, de uma forma geral, têm valor
posteriormente, se estendeu pelo planalto na nutricional semelhante e possuem cerca de 70%
direção Sul, onde se encontravam condições de carboidratos e 10% de proteínas. Os cereais
climáticas mais favoráveis. possuem proteínas mais simples e carboidratos
Todo trigo consumido no Brasil tem pro- complexos como o amido. Os cereais integrais
cedência nacional e importada dos Estados são mais ricos em fibras, vitaminas e minerais
Unidos, Argentina, Canadá e Alemanha, os do que os grãos refinados. A Tabela 09 mostra a
estados que mais produzem no Brasil são composição média dos grãos de cereais maduros.

Cereal Umidade % Proteína % Carboidrato % Lipídios % Fibra %

Arroz 11 8 65 2 9

Trigo 11 13 69 2 3

Milho 11 10 72 4 2

Aveia 13 10 58 5 10

Cevada 14 12 63 2 6

Centeio 11 12 71 2 2

Sorgo 11 12 70 4 2

Quinoa 6,3 13,1 68,9 5,8 5,9

Tabela 09: Composição média de umidade, proteína, carboidrato, lipídio e fibra dos grãos de cereais maduros e secos
Fonte: Coenders (1996).
Té c n i c a D i e t é t i c a

Os cereais têm cerca de 1 a 13% de proteína, menor capacidade de absorção de água pelas
as proteínas do trigo foram divididas em dois proteínas formadoras do glúten e combinadas
grupos; um grupo é formado pelas albuminas com a capacidade de retenção do gás carbô-
e globulinas, que apresentam juntas 15% das nico, resultando num bom produto final de
proteínas; outro grupo é formado pelas gliadina panificação, ou seja, pão de bom volume, de
e glutenina, que compreendem o montante das textura interna sedosa e de granulometria
85% das proteínas restantes. aberta (GUARIENTI, 1993).
Quando combinadas, a gliadina e a glute-
nina possuem a propriedade de formar uma
rede tridimensional viscoelástica, insolúvel em
água, denominada glúten, esse “ingrediente” é
extremamente importante devido a sua capa-
cidade de influenciar a qualidade dos produtos
finais, tais como, pães, macarrão e biscoitos
(BOBBIO; BOBBIO, 1992). O gérmen e os resíduos da etapa de “lim-
Quando são misturadas farinha de trigo peza” (cleaning house ou screen room),
representam cerca de 25% do grão e são
e água, pode-se observar a formação de uma
considerados economicamente significan-
massa constituída da rede proteica do glúten tes. Tradicionalmente, as camadas externas
ligada a grânulos de amido. O glúten, em pa- do grão têm sido destinadas para a alimen-
tação animal, pelo elevado teor de fibras
nificação, retém o gás carbônico produzido
de sabor amargo e pela susceptibilidade
durante o processo fermentativo e faz que a rancidez.
o pão aumente de volume. Uma farinha de No entanto representam um total de 20%
trigo forte possui, em geral, maior capacidade do trigo, dos quais 16% a 17% são proteí-
nas (WASZCZYNSKY, 1979). O valor nutriti-
de retenção de gás carbônico. Uma farinha
vo das proteínas do farelo é superior ao da
fraca, por sua vez, apresenta deficiência nessa proteína do endosperma. As gorduras são
característica. A expressão “força de uma fari- altamente insaturadas, e o teor de minerais
e vitaminas é elevado.
nha” normalmente é utilizada para designar
a maior ou menor capacidade de uma fari- Fonte: Pomeranz (1971).

nha sofrer um tratamento mecânico ao ser


misturada com água, associada à maior ou
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 111

O cereal é uma excelente fonte de carboidratos proporções de amilose e amilopectina variam


complexos, sendo o mais importante deles o de acordo com o grau de maturação das plan-
amido. Por ser de absorção lenta, o amido é tas. As proporções de amilose e amilopectina
capaz de causar saciedade por períodos mais influem na viscosidade e no poder de gelificação
longos em nosso organismo. Segundo Bobbio do amido (BOBBIO; BOBBIO, 1992a).
e Bobbio (1992), o amido é um homopolissaca-
rídeo neutro formado por duas frações: amilose
e amilopectina. A primeira é composta de uni-
dades de glicose com ligações glicosídicas alfa
-1,4, formando assim unidades de maltose e a
segunda, por unidades de glicose unidas em
alfa -1,4 com cadeias de glicose ligadas em alfa
Não associar a força da farinha com a qua-
-1,6 de modo que, além de unidades de malto- lidade da farinha, para cada produção é
se, temos em menor proporção isomaltose nos necessário um tipo de força da farinha.

pontos de ramificação.
Quando falamos de açúcares, sua presen-
ça é de extrema importância nos processos de
panificação por servir de substrato para o fer-
mento biológico, que produz gás carbônico, que, O grânulo de amido natural tem uma capaci-
por sua vez, é responsável pelo crescimento da dade limitada de absorver água fria, cerca de
massa. Os açúcares, juntamente com as prote- 30% do seu peso em água. Essa capacidade é
ínas, são responsáveis pela cor, sabor e aroma controlada pela estrutura cristalina do grânulo
dos produtos de panificação devido à reação que, por sua vez, depende do grau de associa-
de escurecimento não enzimático (reação de ção e arranjo molecular dos componentes do
Maillard) que ocorre durante o cozimento da amido (CIACCO; CRUZ,1982). Quando grãos de
massa no forno. amido são suspensos em água e a temperatura
As proporções de amilose e amilopectina é aumentada gradualmente, nada acontece até
são variáveis entre os amidos procedentes de atingir uma determinada temperatura, mais
diferentes espécies vegetais e, mesmo entre exatamente um intervalo de temperatura, que
amidos provenientes da mesma espécie, as é chamado de temperatura de gelatinização.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Nessa temperatura, específica para amidos de de gelatinização menor que a temperatura de


diferentes origens, as ligações de hidrogênio cocção do embutido que, normalmente, gera
mais fracas entre as cadeias de amilose e de em torno de 72°C no interior da peça (CIACCO;
amilopectina são rompidas e os grãos de amido CRUZ, 1982).
nessas regiões começam a entumecer e formar Podem-se denominar retrogradação os fe-
soluções consideravelmente viscosas. O entu- nômenos que ocorrem durante o resfriamento e
mescimento dos grãos e, portanto, o aumento o armazenamento de produtos/produções com
de viscosidade das soluções estão relacionados amido. Em soluções que possuem baixa concen-
com a quantidade de água presente. A 120°C tração, em torno de 2%, a pasta torna-se agressi-
todos os grãos estarão dissolvidos (BOBBIO; vamente turva, devido à junção e insolubilização
BOBBIO, 1992). Após a faixa de gelatinização, das moléculas do amido. Pastas que apresentam
as pontes de hidrogênio continuam a ser rom- altas concentrações formam géis, que se tornam
pidas, o grânulo a inchar, e a amilose começa mais rígidos e opacos com a perda do calor, em
a ser lixiviada. Como consequência direta do si o fenômeno é conhecido como sinerese.
entumescimento, ocorre um aumento na solu- Alguns elementos como açúcares, sais,
bilidade do amido, claridade e viscosidade da ácidos e gorduras interferem nas propriedades
pasta. O entumescimento dos grânulos continua do amido. O sal e o açúcar em latas concentra-
até que estes sejam rompidos, e a estrutura gra- ções diminuem a velocidade de gelatinização,
nular deixa de existir. Com o rompimento dos a viscosidade máxima alcançada e a força dos
grânulos, a viscosidade decresce abruptamente géis. Isso ocorre porque o açúcar e o sal compe-
(CIACCO; CRUZ,1982). tem com o amido pela disponibilidade de água,
A tecnologia da gelatinização do amido é com isso os grânulos absorvem menos água e
muito importante na indústria alimentícia, a viscosidade da pasta de amido será menor.
sendo que podemos citar: o aumento da solubili- Quanto maior for a quantidade de açúcar,
dade com a gelatinização é a base para a confec- mais transparente será o gel. Concentrações
ção de alimentos amiláceos pré-preparados, por muito altas de açúcar resultam na formação de
exemplo, pudins, purê de batata pré-preparado, um xarope viscoso em vez de gel. A presença de
polenta, cuscuz etc. Em determinados produtos açúcar também promove a sinerese “retrogra-
embutidos de carne, o amido é usado como es- dação do amido”, já o sal inibe esse fenômeno.
tabilizante de emulsão. Como essa propriedade A presença de ácido durante gelatinização
do amido ocorre com a gelatinização, é neces- causa a quebra do amido, reduzindo a viscosidade
sário usar um amido que tenha temperatura da pasta. Ele atua sobre a membrana rompendo-a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 113

e ou modificando-a, fazendo que o amido não extração da farinha. Os tipos de fibras encon-
retenha a mesma quantidade de água. Esse efeito tradas nos cereais são: celulose; hemicelulose;
é pouco afetado em alimentos com pH entre 4 e 7. lignina e gomas.
Produções com presença de gordura re- As gorduras encontradas nos cereais são
tardam ou impedem o inchaço dos grãos. Isso compostas por glicerídeos de ácido graxo, destes
ocorre porque a gordura reveste o grão de amido os principais são: os ácidos palmíticos, oléicos e
e diminui a absorção de água. Assim, a quanti- linoléicos, que totalizam de 2 a 5% dos lipídios.
dade de amido não gelatinizado aumenta nos Também são encontrados cerca de 4% de fos-
alimentos com o alto teor de gordura. folipídios, como a lecitina. Já os ácidos graxos
saturados constituem 11% a 26% do total, e os
insaturados, 72 a 78%, porém livres de colesterol.
A maior quantidade da gordura está concen-
trada no germe e na parte periférica do grão, por
isso, a riqueza lipídica vai diminuindo à medida
que se vai polindo o grão. Mesmo estando em
A gordura é utilizada nas preparações para
quantidades pequenas, apresentam papel essen-
melhorar a textura, evitando a formação
de grânulos na absorção de água, assim o cial na qualidade das preparações, oferecendo
tempo de conservação dos pães será maior. características, como maciez e volume.
Em relação a vitaminas e minerais, os ce-
reais apresentam quantidades significativas de
vitaminas, como tiamina, riboflavina, niacina,
ácido pantatênico, vitamina E, e minerais, como
Além do amido, são encontrados nos cereais mono, potássio, fósforo, ferro, magnésio e cálcio. A
di e triglisserídeos substâncias como a glicose, mal- maior parte desses nutrientes encontra-se con-
tose e rafinose, embora em pequena quantidade centrada no gérmen e no farelo de cereais.
(1 a 2%) e geralmente na zona próxima ao germe. Encontramos boa parte dos cereais em
Tais substâncias têm importância na utilização das várias formas de farinhas. A moagem do grão
farinhas em processo de fermentação, servindo de cereais é uma arte antiga que visa separar o
como subsídio para crescimento de fermentos endosperma do germe, bem como transformá-lo
biológicos (ORNELAS, 2008, p. 134). em partículas de tamanho reduzido, tornando-o
Nos cereais, a quantidade de fibras pode mais agradável e atraente como alimento, au-
variar, principalmente de acordo com o grão de mentando também sua conservação.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Para a obtenção da farinha de trigo, ocorre a A farinha integral, como o próprio nome diz, é o
moagem dos grãos até obter um pó bem fininho. resultado da moagem de todo o grão, inclusive a
Na maioria das farinhas, a película que envolve casca. Esse tipo de farinha é usado na fabricação
o grão é removida, o que dá o aspecto branco de pães integrais e produções mais naturais.
a ela, quando, no entanto, a casca é mantida, A farinha especial é aquela obtida das cama-
a coloração é mais escura, sendo esse o tom de das internas do grão, é rica em amido e possui
cor da farinha integral. melhor qualidade de proteína contida no grão
Podemos dizer que a farinha branca é o pro- e baixo teor de minerais.
duto resultante da moagem do grão de trigo, E a farinha comum é o produto obtido
retirando-se deste a casca, o farelo e o gérmen. a partir das camadas mais externas do grão.
O endosperma representa de 82% a 85% do Estabelecendo-se uma comparação com a fari-
grão. Entretanto o moleiro só pode extrair de nha especial, a farinha comum apresenta teor
72% a 75% para a obtenção de uma farinha de proteico e de minerais mais elevado e teor de
qualidade. De acordo com o padrão de qualidade amido mais baixo. Contudo, embora com teor
e identidade, define-se farinha como: “Farinha de proteína mais elevado, a qualidade dessa
de trigo, farinha branca, é o produto obtido da proteína é inferior ao da especial.
moagem do trigo e consiste essencialmente dos A qualidade de uma farinha dependerá
amidos e proteínas do endosperma. Não deverá sempre de sua origem, ou seja, da qualidade do
conter mais de 1% de cinzas, não mais de 0,5% de grão. Assim, o fato de ser especial não significa
fibras e não mais de 15% de unidade” (BRASIL, que é de qualidade, pois, se a proteína do trigo
2005). Pela definição, deduz-se que a farinha é do qual foi extraída for de qualidade inferior,
um produto que só pode provir do trigo. naturalmente, a farinha também o será.
Podemos encontrar uma farinha que con- Por outro lado, se para a farinha comum for
tenha todos os itens necessários para ser uma usado um trigo duro, forte, de boa qualidade
farinha de primeira qualidade e ainda assim ela de proteína, essa farinha sem dúvida será de
não o ser. Podemos explicar isso pela qualidade melhor qualidade do que a especial proveniente
do trigo do qual foi obtida, pela habilidade do de um trigo de menor qualidade de proteína.
moageiro e pelo método de extração que foi Consequentemente, a qualidade de uma
aplicado. farinha está relacionada a sua capacidade de
Durante o processo de beneficiamento das cumprir os fins a que se destina. Assim, uma
farinhas, pode-se produzir três tipos distintos: farinha pode ter alta qualidade para o fabrico
integral, especial e comum. de bolos e ser má para pães.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 115
Té c n i c a D i e t é t i c a

Assim, podemos diferenciar os tipos de farinhas alimentação do brasileiro e é consumido por


e suas qualidades e funções como: farinhas du- todas as classes sociais.
ríssimas, farinhas duras, farinhas moles. O arroz é um alimento rico em amido que
a. Farinhas Duríssimas: são provenientes fornece energia, contribui para a síntese de
de trigos duríssimos e de elevada proteína e é isento de glúten, sendo de fácil di-
percentagem de proteína. Destinam-se gestibilidade. Basicamente, o arroz é composto
à fabricação de massas alimentícias. Esse por três partes: casca, farelo e grão. Seu ciclo
tipo de farinha é de difícil panificação e de colheita é de 100 a 140 dias, dependendo
seu conteúdo de proteína é de aproxi- da espécie, da quantidade de luz, da latitude,
madamente 15%. do solo etc.
b. Farinhas Duras: possuem um bom teor Segundo Ornelas (2008), para o consumo
de proteína e são provenientes de trigos de mesa no Brasil, são conhecidos três tipos de
duros. Têm grande poder de absorção, produtos que são classificados em função do
isto é, bebem muita água e requerem tipo de beneficiamento: arroz integral, arroz
mais trabalho de amassamento e mais branco polido e arroz parboilizado.
tempo de fermentação. Seu conteúdo de • Arroz integral: é o preferido pelos
proteína é de 9% a 14% e são indicadas adeptos da alimentação mais natural. Ele
para a fabricação de pães. não é descascado nem polido e, portanto,
c. Farinhas Moles: provenientes de trigos mantém uma maior quantidade de
moles e, consequentemente, com menor fibras, proteínas, cálcio, fósforo, ferro e
quantidade e, principalmente, qualidade vitaminas do complexo B.
de proteína. Seu conteúdo de proteína é • Arroz parboilizado: a origem da denomi-
de 7,5% a 8% e destinam-se à fabricação nação arroz parboilizado deriva do inglês
de bolos. partially bailed (parcialmente fervido),
indicando o tratamento dos grãos em
Falamos até aqui sobre a estrutura do grão de água quente, sob pressão, o que faz que
ceral, utilizando o grão de trigo como exemplo, os nutrientes sejam transferidos da parte
porém existem outros tipos de cereais comuns à externa para a interna. Nesse tipo de
dieta do brasileiro, como o nosso famoso arroz tratamento, conserva-se de 30% a 60%
com feijão de cada dia, hábito sobre o qual po- das vitaminas e sais minerais.
demos dizer que dificilmente será substituído. • Arroz polido: após a colheita, o arroz é
Podemos dizer que o arroz ocupa destaque na descascado e submetido a um processo
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 117

de polimento, conhecido como alveja- de amido, o que deixa a preparação mais


mento, para deixá-lo branco. Em seguida, cremosa e por isso é indicado para os
os grãos são submetidos à oleatura, que risotos. No Brasil, também é conhecido
é basicamente um leve engorduramento como arroz matão, blue-rose, cambraia,
para que eles fiquem brilhantes. Após caiena e zênite.
essas etapas, os grãos são selecionados b. Curto ou beira-campo, rendimento e
conforme o tipo de arroz a ser comercia- saquarema: os grãos são ligeiramente
lizado. Os grãos quebrados, defeituosos, arredondados, acentuadamente curtos
marinheiros e quirela são separados. O e com aspecto “rechonchudo”. Possuem
arroz polido é o tipo mais consumido no comprimento menor que 5,31 mm após
Brasil, sendo classificado em cinco tipos o polimento e, depois de cozidos, ficam
de acordo com a qualidade dos grãos, os “pegajosos” ou com os grãos unidos. É co-
mais conhecidos são os tipos 1 e 2. nhecido como japônico, sendo mais con-
sumido no sudeste asiático, em algumas
O arroz polido é dividido em três classes de regiões da Europa, China e Japão. A textu-
acordo com a sua classificação comercial: longo, ra úmida e os grãos unidos e macios per-
curto e médio. mitem a modelagem durante o preparo.
Longo ou arroz agulha, maravilha, amare-
lão e fortuna: é constituído de grãos espessos e De acordo com a composição química, podemos
largos, com 0,6 mm a 0,9 mm de comprimento, dizer que, durante o processo de beneficiamen-
após o polimento. Trata-se de um grão nativo da to, mais precisamente durante o polimento, o
Índia, sendo o tipo mais consumido em todo o efeito abrasivo causa a remoção do pericarpo, da
mundo. Se cozido corretamente fica bem solti- camada de aleurona e do embrião, tendo como
nho, o que agrada o paladar do brasileiro. consequência a redução drástica dos teores de
a. Médio: também conhecido como arroz vitaminas e sais minerais, que estão presentes
arbóreo ou italiano, esse tipo de arroz no arroz integral.
tem grãos levemente amarelados, um Para se manter as vitaminas do complexo
pouco alongados, com 5,31 mm a 5,99 B, o processo de parboilização recupera cerca
mm de comprimento, após o polimento. de 70% dessas vitaminas, que migram para o
São menos brancos e mais transparentes interior do grão.
que os grãos curtos. Durante o cozimento A Tabela 10 indica a composição nutricional
do arroz arbóreo, há uma maior liberação do arroz polido.
Té c n i c a D i e t é t i c a

ARROZ AGULHINHA

Tabela de Valores Nutritivos Composição Aproximada (em 100 g)

Proteínas 7,2 g

Lipídios 0,6g

Glicídios 79,7 g

Fibra 0,6 g

Cálcio 9 mg

Fósforo 104 mg

Ferro 1,32 mg

Vitamina B1 0,08 mg

Vitamina B2 0,03 mg

Tabela 10: Valor nutricional do arroz


Fonte: USDA (2013).

Podemos dizer que o arroz fica abaixo do trigo e O seu comportamento ao calor em meio úmido
do milho, outros importantes cereais, em valor depende de seu conteúdo em amilose e amilope-
nutritivo, uma vez que a quantidade de proteína tina, que varia de acordo com o processamento
é pequena. Quanto à quantidade de minerais e comercial do arroz. O arroz longo tem de 16% a
algumas vitaminas, o arroz também fica atrás 25% de amilose e o arroz curto, de 12% a 15%.
do milho e do trigo, porém é de fácil digestão Outro cereal muito consumido na mesa
e assimilação pelo organismo, processo cuja dos brasileiros é o milho, que também é muito
duração não ultrapassa uma hora. versátil. Quando utilizado na forma fresca, é
O tratamento térmico empregado no arroz saboroso e classificado como hortaliça rica em
altera as características sensoriais, cargas micro- fibras e, quando seco, como grão, oferecendo
bianas inativas, enzimas e fatores antinutricio- os seguintes derivados: farinha (fubá) nas mais
nais. Os mais conhecidos são os inibidores de variadas espessuras, como grossa, média e fina,
alfa-amilase, que, quando submetidos ao calor que pode ser utilizada para preparos variados,
úmido, aumentam a massa e o volume devido como pães, bolos, polentas, broas, cuscuz etc.
à gelatinização do amido. É utilizado para a produção do amido de milho,
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 119

um dos produtos mais utilizados para obtenção Já a cevada é de bom valor nutritivo, o qual se
de texturas em cremes, molhos e amaciante de perde no beneficiamento, dando origem à ceva-
farinhas de trigo duras etc. Também pode ser dinha, com a qual se faz substanciosas sopas. A
encontrado na forma de xarope de glicose, que cevada é usada para a obtenção do malte, usado na
é obtido pela hidrólise artificial do amido em indústria do uísque, da cerveja e do vinagre. Ainda
forma de canjica, pipoca, cereal pré-cozido e óleo. é possível, após a torrefação, moê-la para fazer um
Ainda na forma de grão, dá origem ao uísque pó semelhante ao café, a “cevada solúvel”, que é
Bourbon, depois de fermentado e destilado. usada por muitos como substituto deste, princi-
Já o uso da aveia pode ser considerado mais palmente pelos adventistas que não o consomem.
restrito, o seu beneficiamento só remove a parte Outro grão utilizado em forma de farinha
externa, sendo, portanto, um alimento de bom que não é um cereal é o trigo sarraceno. Essa
valor nutritivo. Apresenta-se em flocos gros- farinha tem importância na Dietoterapia, pois é
sos, médios, finos e em farinha de aveia, que é indicada para pessoas que não podem ingerir o
utilizada em produções mais naturais e para a glúten. As famosas panquecas russas, os blínis,
produção de mingais. são um exemplo de prato que pode ser feito
Podemos ainda mencionar o centeio, que é usando a farinha de serraceno.
um cereal mais utilizado na forma de farinha e Para a cocção dos cereais, podemos dizer
possui um percentual pequeno de glúten, sendo que o grão de cereal integral (trigo, milho etc.)
usado para pães que, apesar de saborosos, são cozinha mais facilmente quando é submetido
escuros e pesados. previamente ao remolho, facilitando sua desin-
tegração posterior pela cocção. Parte da celulose
se desintegra pela cocção prolongada, o amido se
gelatiniza absorvendo até três vezes seu volume
em água e o grão de cereal aumenta proporcio-
nalmente em seu tamanho inicial.
Para obter o arroz solto, refoga-se na gordura
para impedir a penetração rápida e a adesão da
Ao cozinhar o amido, quebramos as fibras e
superfície e um grão ao outro. Adiciona-se água em
isso reduz o índice glicêmico da aveia. Para
se beneficiar das fibras da aveia, a ideia é ebulição em quantidade justa para ser totalmente
consumi-la crua. absorvida e então abaixa-se a temperatura e abafa-
-se a panela, ajustando bem a tampa para que a ge-
latinização do amido se faça lenta e uniformemente.
Té c n i c a D i e t é t i c a

O grão, quando colocado em um excesso de água mercado. O uso da farinha de trigo na fabricação
e submetido à cocção prolongada, desintegra-se de massas se deve ao fato de ela conter gran-
formando uma papa (como o arroz doce e a des quantidade de glúten. Outros grãos como o
canjica). centeio, a cevada e a aveia contêm quantidade
O calor seco é utilizado para cocção do de glúten que também permite a produção de
grão inteiro, na preparação de milho assado, massa a partir desses ingredientes.
milho pipoca etc. Industrialmente, o calor A indústria de massas alimentícias teve
seco é utilizado conjuntamente com a tritu- grande influência italiana. No Brasil, cada pessoa
ração e o esmagamento do grão por cilindros consome, por ano, aproximadamente 5,7 kg de
aquecidos, na fabricação de cereais pré-cozidos alimentos como o macarrão, superando, dessa
(corn flakes). forma, países mais desenvolvidos como Suécia,
Normalmente, associamos as farinhas à Alemanha, Austrália, Reino Unido e Japão. Por
produção de massas, que são um grupo ali- outro lado, bastante inferior aos anuais 28,2 kg
mentício que possui uma ótima aceitação no por pessoa dos italianos.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 121

País kg habitante/ano País kg habitante/ano

Itália 28,2 Espanha 4,6

Venezuela 12,7 Turquia 4,5

Tunísia 11,7 Holanda 4,4

Peru 9,9 Áustria 4,0

Suíça 9,6 Austrália 4,0

EUA 9 Israel 4,0

Grécia 8,8 Costa Rica 4,0

Chile 8,2 Finlândia 3,2

França 7,3 Polônia 3,0

Argentina 6,8 Reino Unido 2,5

Portugal 6,5 México 2,3

Canadá 6,3 Líbia 2,0

Brasil 5,7 Dinamarca 2,0

Rússia 6,0 Japão 1,7

Suécia 6,0 Romênia 1,3

Bélgica 5,4 Egito 1,2

Alemanha 5,3 Irlanda 1,0

Tabela 11: Consumo Mundial de Massas Alimentícias


Fonte: Abima/SIMABESP (1999).

As massas alimentícias podem ser classifica- sabor, a cor e o aroma dos alimentos e dos pro-
das quanto à composição como: seca; fresca; dutos por meio da reação da Maillard.
instantânea. Gordura: as gorduras mais apropriadas para
As demais substâncias utilizadas na confec- a produção de massas, pão, doce, bolos são aque-
ção das massas são: açúcar, gorduras, líquidos, las que se apresentam sólidas a temperaturas
ovos e agentes do crescimento. ambiente. A manteiga é a que oferece melhor
O açúcar: a sacarose é o mais solúvel dos sabor, sendo substituída pela margarina e pela
açúcares, distribuindo-se bem e acentuado o gordura hidrogenada.
Té c n i c a D i e t é t i c a

A gordura tem ainda um efeito lubrifican- ingredientes, favorece o aparecimento do glúten,


te sobre o glúten, estabelecendo-se a seguinte por ser de natureza proteica e também conter
regra: quanto mais fraca for a farinha, menor a água. Se é adicionada após ter sido batida em
quantidade de gordura a ser usada e vice-versa. neve, no final da operação, contribui para a in-
A gordura é ainda um dos ingredientes da receita corporação de ar e, consequentemente, para o
que não sofre qualquer transformação durante crescimento da massa.
a fermentação, permanecendo totalmente pre- Agentes do crescimento: são fatores empre-
sente na massa. gados para se obter crescimento e porosidade
A gordura age como lubrificante do glúten e da massa. Podem ser de natureza:
como resultado contribui na estrutura do miolo a. Física: vapor de água e clara de ovo batida
e na textura do produto final. O efeito dessa incorporando ar.
lubrificação se faz sentir ainda no fatiamento do b. Química: fermentos em pó contendo
produto por melhorar as condições de corte. A bicarbonato, amido e um sal ácido que,
gordura também age como retentor de umida- em presença de água, deverá reagir ao
de, prolongando a vida do produto e dando-lhe bicarbonato de sódio produzindo anidri-
uma crosta mais macia. Em se tratando de pão do carbônico. Os sais ácidos mais usados
francês, a banha de porco é a mais indicada para são tartaratos, fosfatos, sulfatos de po-
o uso. tássio, cálcio e alumínio.
Líquidos: os mais usados são a água, o suco
de fruta e o leite nas suas diversas formas. Os Agentes químicos ou sais minerais, na presença
líquidos embebem as proteínas, gelatinizam os do calor e da umidade, produzem o gás dióxido
amidos e favorecem a formação do glúten. A pro- de carbono CO2, expandindo-se sob a ação do
porção de líquido para a farinha não é constante, calor no forno. Logo, nesse tipo de fermentação,
podendo ser de 60% a 100%, o que depende da não existe vida e sim expansão ou liberação de
porcentagem de glúten da farinha e do grau de CO2 no forno. A base dos fermentos químicos
embebição do amido. é sempre o bicarbonato de sódio, o qual contém
Ovos: há preparações que levam somente a o CO2 e mais um ácido, como o ácido tartárico,
gema, o que favorece a cor e o sabor. Além disso, cremor de tártaro etc., usados para liberar o gás.
a gema como isolante do glúten da massa tem Assim sendo, o gás ou CO2, para fazer crescer
o mesmo efeito da manteiga ou outra gordura, ou levantar bolos e biscoitos, é produzido em
isto é, torna a massa mais macia. Se a clara é sua quase totalidade no forno, enquanto que,
adicionada no início da operação com os demais nos casos dos fermentos biológicos, o mesmo
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 123

gás é produzido em sua maior parte durante a massas de panificação, devem ser constituídas
fermentação da massa e mais tarde nos “tabu- de 70% de amido, 13% de proteína, 1% de lipí-
leiros”, durante o crescimento do pão, antes de dio, 2,5% de açúcares, 05% de cinza de 13% de
ser forneado. umidade. A figura 08 mostra alguns dos forma-
Certas receitas ricas, principalmente, em tos das massas alimentícias comercializadas.
ovos, os quais possuem elevado teor proteico
sob a forma de claras e albuminas, recebem
ou retêm o ar necessário durante o período de
mistura, ar esse que se expande mais tarde no
forno, na presença do calor.
c. Biológica: os levedos, que, por ação da
zimase, desdobram os glicídios produ-
zindo anidrido carbônico e água.

“Bio” vem do grego e é traduzido como elemento


de composição da vida. Por conseguinte, biológi-
co é aquilo que tem vida, que tem ação por cres-
cimento e reprodução. O fermento fresco tem
a sua ação controlada pela refrigeração e pela
desidatração, quando se retira dele grande parte
da umidade, as células ficam em estado latente.
Por ser um fungo, necessita de alimento, tem-
peratura e umidade para seu desenvolvimento.
As massas alimentícias (talharim, espa- Figura 08: Massas alimentícias
guete, pastel etc.) e as panificações constituem
um grande grupo de alimentos de alto valor Fechamos, assim, este tópico, em que trabalha-
nutricional e de significativa importância social, mos com os cereais, falamos sobre a produção
tendo ampla aceitação. A presença de gliadina das farinhas e das massas alimentícias bem
e glutenina possibilita a formação de glúten, como sobre os tipos de agentes de crescimentos.
e a quantidade dessas proteínas nas farinhas Nos próximos tópicos, vamos discutir sobre as
de trigo determina o produto a ser produzido. leguminosas, que junto aos cereais formam uma
As farinhas duras, ideais para a confecção de dupla perfeita, de sabor e de fatores nutricionais.
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 125

Leguminosas

Vamos estudar a partir de agora as leguminosas, que são considera-


das vegetais localizadas dentro de uma vagem. Classificam-se como
leguminosas todos os tipos de feijão, a lentilha, o grão-de-bico, a
soja, a ervilha seca e fresca, a fava fresca e o amendoim. Muitas são
as espécies dessa grande família, que, depois das gramíneas, cumpre
provavelmente o mais importante papel na alimentação humana.
Té c n i c a D i e t é t i c a

O uso das leguminosas em nossas refeições As leguminosas são grãos (frutos) ricos em
remonta aos registros mais antigos da his- fibras, isso quer dizer que possuem alto valor
tória da humanidade. Elas já eram cultiva- fibroso, os grão chegam a ter de 2-5% de celulose
das no antigo Egito e na Grécia, onde eram e contêm em seu interior cotilédones com 50%
consideradas símbolos da vida. Os antigos de carboidrato e cerca de 23% de proteínas.
romanos usavam as leguminosas extensiva- São classificadas em dois grupos: as olea-
mente em suas festas gastronômicas, utilizan- ginosas (soja e amendoim) e as de grão (feijão,
do-as até mesmo como pagamento de apostas lentilha, ervilha e fava).
(ORNELAS, 2008, p. 113). As leguminosas representam fontes signi-
Esse grupo de alimentos é rico em proteí- ficativas de proteínas, tanto para a população
nas, cerca de 23%. A soja, por exemplo, contém menos favorecida quanto aos adeptos das dietas
cerca de 40% de proteínas. Porém as proteínas veganas. Contudo, como dito anteriormente,
constituintes das leguminosas têm valor bioló- são proteínas pobres no aminoácido metionina.
gico limitado, pois não possuem o aminoácido As leguminosas contêm minerais como
essencial “metionina”. ferro, zinco, potássio bem como quantidades
A combinação de 300 g de arroz com 100 g significativas de vitaminas do complexo B, ácido
de feijão corrige o aminograma, porém, quando fólico e ainda são formadas por 50% de glicídios.
combinamos farinha de milho com feijão, a re- A Tabela 12 mostra uma comparação do valor
lação de aminoácidos fica mais equilibrada. calórico entre tipos de leguminosas:

Leguminosa Valor Calórico


(Quantidade - 3 colheres de sopa) (kcal)

Ervilha cozida sem caldo 70

Feijão cozido com caldo 48

Feijão cozido sem caldo 83

Grão-de-bico cozido sem caldo 119

Lentilha cozida sem caldo 78

Soja cozida sem caldo 94

Tremoço - aperitivo 293

Tabela 12: Comparação entre valor calórico de leguminosas


Fonte: USDA (2013).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 127

As leguminosas podem apresentar fatores an- remolho e ser cozidas na própria água do
tinutricionais, como os inibidores de tripsina, remolho para evitar perdas de vitaminas
os fitatos, os polifenóis e os oligossacarídeos que se dissolveram na água.
(rafinose e estaquiose). • O tempo de cocção varia de acordo com
Esses fitatos e polifenóis normalmente se a temperatura, o tipo de grão e a forma
ligam a elementos, como ferro e zinco, tornan- de cocção.
do-os indisponíveis. A ingestão de vitamina C • No Brasil, soca-se o grão para engrossar
facilita a absorção do ferro, pois se une a ele, o caldo, então a celulose se rompe e o
impedindo sua ligação com os inibidores de amido passa para o meio de cocção.
absorção e aumentando a biodisponibilidade • Na fervura inicial das leguminosas, for-
desses minerais. ma-se uma camada de espuma, que di-
Já os oligossacarídeos estão relacionados minui com o acréscimo de sal e gordura.
à produção de flatulência por fermentação no • Para impedir a descoloração do grão, dar
intestino grosso. Nem o remolho, nem o tra- fervura inicial de 2 minutos sem pressão
tamento térmico reduzem significativamen- e, após 1 hora, submetê-lo à cocção sob
te os teores, mostrando assim que as formas pressão.
de preparo do feijão não são suficientes para • Somente o amendoim, que também
solubilizá-los. é uma leguminosa seca, é submetido
Para a cocção de leguminosas, devemos à cocção seca, pois possui caracterís-
utilizar técnicas diferenciadas de acordo com o ticas individuais: maior teor de lipí-
tipo de oleaginosa (ORNELAS, 2008): dios e menor quantidade de amido.
• Das vagens deve ser retirada a fibra dura É parecido com nozes, sendo rico em
presente ao longo das bordas, podem ser P, vitaminas do complexo B e gordura
cozidas inteiras ou picadas, em água e sal insaturada.
por mais ou menos 20 minutos.
• As ervilhas podem ser cozidas na vagem Existem diversos tipos de feijões com tamanhos,
ou dela retiradas. Podem ser preparadas cores e sabores diferentes. Estes são alguns
refogadas e servidas com manteiga. exemplos de tipos de feijão: feijão preto, feijão
• As leguminosas secas devem ser dei- roxinho, feijão fradinho, mulatinho, branco, jalo,
xadas de remolho antes da cocção para rosinha, rajadinho, canário e o famoso carioca,
abrandar a celulose e hidratar o amido que é considerado a variedade mais consumida
do interior. Devem ser lavadas antes do por nós, brasileiros.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Para facilitar a cocção desse tipo de vegetal, adicionados quando o mesmo já estiver macio
quando seco, deve ser hidratado para cozinhar (cebola, tomate, alho etc.), o mesmo ocorrendo
melhor e com mais rapidez. Essa hidratação com o sal e os produtos salgados usados para
pode ser efetuada de duas maneiras: enriquecer esse alimento.
1. Deixando os grãos de molho na véspera, Para a cocção de outras leguminosas deve-se
para que, ao se hidratarem, dobrem de empregar técnicas diferentes, o grão-de-bico, por
peso, ficando mais fáceis de cozinhar (a exemplo, após ser deixado de molho, deve ter a
água do remolho deve ser aproveitada, casca de seus grãos removida, operação esta que
pois parte dos nutrientes que já estão pode ser realizada colocando-os sobre um guar-
ali contidos). danapo e esfregando-os, como se estivesse en-
2. Ferver os grãos por dois minutos e deixar xugando bem. O procedimento é o mesmo para
nessa água quente por uma hora (o re- o cozimento de feijão, considerando o produto
sultado será o mesmo) com um ganho final desejado: quando for para salada, cozinhar
de tempo. É interessante observar que, com bastante água, escorrendo depois de cozido.
mesmo havendo tempo para deixar o Já como leguminosa, adicionar a quantidade de
feijão de molho na véspera, a técnica da água necessária para cozer e engrossar o caldo.
fervura de dois minutos é aconselhável, Podemos utilizar a mesma técnica para co-
pois, além de facilitar a absorção da água zinhar o feijão branco, com exceção da retirada
pelo grão, vai eliminar micro-organismos das cascas, que não será necessária.
que possam estar presentes nas legumi- Para as lentilhas, pode-se utilizar as técnicas
nosas e que irão se desenvolver na água de cocção utilizadas para o feijão.
do remolho, podendo trazer alterações Entre as leguminosas, a soja se destaca pelo
quando do uso dessa água. seu valor nutricional, pelo teor de proteínas e
pela existência de algumas vitaminas e minerais
A quantidade de água para o cozimento do em quantidades superiores a outros grãos. Do
feijão é de 3/1, em panela tampada e em fogo ponto de vista nutricional, ela apresenta de 35%
brando. Se a panela for de pressão, a medida a 40% de proteínas de médio valor biológico,
baixa para 2/1. Se a água for dura, é provável contendo os dez aminoácidos essenciais em
que o tempo de cozimento e a porcentagem de teor adequado (exceto a metionina), contém de
água e grão sejam alterados. Os ácidos endu- 18% a 22% de lipídios, vitamina A, complexo
recem a casca dos grãos; portanto, ingredien- B, vitamina C e E, magnésio, enxofre, cloro e
tes ácidos para temperar o feijão só devem ser potássio.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 129

Infelizmente, em outras questões que já colesterol ruim (LDL) no sangue e, consequen-


discutimos na disciplina de Cozinha Natural, temente, diminuem o risco para o desenvolvi-
podemos dizer que a soja não é mais a mesma. mento de doenças cardiovasculares. A forma
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa espacial da molécula do fito-hormônio presente
Agropecuária (Embrapa), vinculada ao na soja é muito semelhante à forma espacial da
Ministério da Agricultura e do Abastecimento, molécula do hormônio feminino, assim, quando
cultiva-se hoje para o mercado uma soja cujo esse é consumido, o corpo o identifica como um
sabor é muito mais suave. A BRS 213 é resul- hormônio feminino, por isso ele é considerado
tado do trabalho de melhoramento genético um suplemento natural para a mulher.
realizado por meio de cruzamentos naturais de A quantidade de isoflavonóides contida na
espécies diferentes da leguminosa. É a primeira soja depende da variedade da soja, das condições
conquista da Embrapa Soja na busca da soja climáticas e do metabolismo de cada planta.
totalmente sem o sabor característico  do grão. A soja é um produto que gera diversos deri-
Foram 11 anos de estudos para encontrar uma vados, são alguns exemplos: o óleo de soja, um
qualidade de soja mais adequada ao paladar do dos ingredientes mais utilizados na cozinha; o
brasileiro e própria para a produção do extrato farelo de soja, que provém da extração do óleo e
solúvel ou “leite” de soja e seus derivados, como pode ser utilizado como alimento para animais,
o tofu ou “queijo” de soja. Isso pode até parecer visto que contém de 40% a 55% de proteína;
algo bacana, porém só vamos ter certeza de que podemos encontrar também a soja em forma
os alimentos geneticamente modificados não de farinhas, muito utilizada na indústria de
trazem perigos para a saúde daqui uns anos. alimentos para a produção de pães, biscoitos,
A soja é conhecida há mais de 5000 anos, massas, produtos infantis.
tendo sido descoberta no Oriente. Nas últimas Podemos consumir soja por meio da prote-
décadas, ela se tornou um produto bastante ína texturizada de soja, mais conhecida como
conhecido e seu consumo tem sido incentivado PTS, assim como pelo consumo do extrato de
devido as suas propriedades nutricionais e por soja, vulgarmente conhecido como leite de soja,
ser um alimento funcional. pois possui aparência parecida com o leite de
Essa leguminosa se encontra na classe dos vaca e poder ser substituto perfeito em várias
fito-hormônios (hormônio de origem vegetal) receitas, principalmente a alérgicos à lactose. E,
conhecidos como isoflavonas ou isoflavonói- por fim, também o tofu (queijo de soja), o missô
des, estes são considerados substâncias ricas (pasta de soja) e o shoyo (molho de soja), que
em antioxidantes, que reduzem altas taxas do são ingredientes utilizados na culinária oriental.
Té c n i c a D i e t é t i c a

F
echamos assim mais um tópico desta
unidade, no qual estudamos as legu-
minosas, que são ótimas fontes de
proteínas e que, associadas aos cereais,
formam uma combinação perfeita para uma
alimentação equilibrada. No próximo tópico,
vamos trabalhar com as frutas e hortaliças e
fechar com os corantes e edulcorantes.

Antes do processo de cocção da soja, o ideal


é realizar o choque térmico do grão umas
três vezes, para reduzir as enzimas lipo-
xigenases (pois elas dão gosto ruim), que
são produzidas quando a soja é colocada
em água fria.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 131
Té c n i c a D i e t é t i c a
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 133

Frutas e Hortaliças, Corantes e


Edulcorante

Vamos iniciar esta aula com uma discussão muito triste sobre o
desperdício de alimentos, pois boa parte da produção de frutas
e hortaliças é perdida em virtude do não emprego de técnicas
adequadas de colheita, transporte, armazenamento e na indus-
trialização desses produtos.
Té c n i c a D i e t é t i c a

As frutas e hortaliças, após serem colhidas,


continuam vivas, dessa forma, suas atividades
metabólicas, como a respiração, as transfor-
mações químicas e bioquímicas e os distúr-
O uso de vegetais na alimentação do bra-
bios fisiológicos não são interrompidos, o que sileiro é reflexo dos padrões culturais. Os
promove sua natural degradação. Assim, o índios brasileiros não davam importância
aos vegetais verdes. O uso desses vegetais,
controle desses fatores é indispensável para
característicos da cozinha africana, foi in-
se preservar a qualidade dos produtos tanto troduzido no Brasil pelos negros escraviza-
para o consumidor final quanto para processos dos (GAMBARDELLA, 1999). Tal informação

industriais. pode ser comprovada pelo fato de que no


sertão brasileiro, onde a influência negra
Para entendermos melhor sobre questões
foi menor, o consumo desses vegetais na
relacionadas à conservação desses alimentos alimentação é reduzido.
após a colheita, bem como todos os processos Fonte: Ramalho e Saunders (2000).
bioquímicos que acontecem após a colheita, tor-
na-se necessário o conhecimento da fisiologia
e do desenvolvimento desses órgãos vegetais.
Vamos iniciar nossos estudos trabalhan-
do com as hortaliças. Ornellas (2008, p. 157) Para uma alimentação saudável e equilibrada,
conceitua hortaliças como vegetais geralmente indica-se incluir o consumo diário de um prato
cultivados na horta. De forma genérica, compre- de hortaliças cruas e cozidas, porém sabemos
endem as partes comíveis das plantas: raízes tu- que esse hábito é pouco praticado pelos brasi-
berosas, tubérculos, caules, folhas, flores, frutos leiros. Segundo Zaluar (1980), para as camadas
e sementes. São vulgarmente conhecidas por de baixa renda no meio urbano, existem ali-
verduras e legumes. mentos que são considerados como comida e
O valor nutritivo das hortaliças varia de outros que não são. O conceito de comida para
acordo com a parte da planta. A grande impor- essas pessoas é basicamente feijão, arroz e carne,
tância da inclusão de hortaliças variadas na sendo que as verduras, os legumes e as frutas
alimentação, além do fato de elas favorecerem são citados como alimentos que servem para
o preenchimento das necessidades vitamínicas “tapear a fome”. Essa concepção de que os ve-
e minerais e aumentar os resíduos alimentares getais só servem para tapear a fome, não sendo
no trato digestório, deve-se ao seu efeito alca- considerados como comida, é o que chamamos
linizante sistêmico. de tabu alimentar. De acordo com Castro (1974),
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 135

no clássico livro Geografia da Fome, esses tabus e perde qualidade comercial. Você já deve ter
tornaram-se verdadeiras barreiras psicológicas ido ao mercado bem cedo e observado que os
contra o uso de vegetais na alimentação, fazendo legumes estavam com gotículas de água sobre a
que as pessoas perdessem o gosto por eles e se sua superfície, principalmente em épocas muito
desinteressassem por completo pelo seu cultivo. secas. O ar extremamente úmido mantém tur-
Ao adquirir as hortaliças, o ideal é consumi- gidez e reduz a perda de água, porém, por outro
-las no mesmo dia, pois murcham e amarelam lado, favorece o desenvolvimento de micro-or-
facilmente. Havendo necessidade de conservá- ganismos, principalmente do mofo, em alguns
-las por mais dias, acondicione-as envoltas por outros casos, a umidade alta do ar pode até ini-
papel ou plástico no gavetão ou cesto apropriado ciar processo de germinação, como ocorre com
da geladeira ou refrigerador, que mantém tem- o alho e a cebola.
peraturas mais amenas que evitam que a folha A ocorrência de incidência direta de luz
queime por baixa temperatura. sobre os vegetais também pode ser causa de
O processo de amadurecimento dos vegetais alteração dos processos fisiológicos, como ocorre
está ligado à sua respiração celular. Alguns fato- com a produção da clorofila na batata, o que a
res externos afetam esse processo fisiológico da deixa com um tom mais esverdeado.
planta, podendo alterar o seu prazo de validade. As hortaliças podem ser classificadas de
A temperatura, por exemplo, é considerada fator diversas formas, uma delas é pela parte comes-
determinante para a conservação das frutas, tível, como você pode conferir na Tabela 13.
seguida da umidade relativa do ar. O ar, quando Outra forma de classificação está relacionada
muito seco, favorece a perda da umidade do às exigências climáticas, essa classificação você
produto, consequentemente, o alimento murcha pode checar pela Tabela 14.

Classes ou Grupos Espécies de hortaliças


acelga, agrião, alface, almeirão, alho-poró, cebolinha, coentro, chicória, couve-
Hortaliça-folha
de-bruxelas, couve-chinesa, couve, espinafre, mostarda, rúcula, salsa e salsão.
Hortaliça-flor alcachofra, brócolis, couve-flor.
abóbora, abobrinha, abóbora-menina-brasileira, abóbora-japonesa (moranga
Hortaliça-fruto híbrida), chuchu, ervilha-grão, jiló, maxixe, melancia, milho-verde, moranga,
morango, moranguinho, pimenta, pimentão, pepino, quiabo e tomate.
Hortaliça-legume ervilha-torta e feijão-vagem (fava).
Hortaliça-raiz, batata-doce, beterraba, cenoura, mandioquinha, mandioca, nabo,
tubérculo, bulbo e haste rabanete, cará, inhame, batata, alho, cebola e aspargo.

Tabela 13: Classificação das hortaliças de acordo com a parte comestível. Fonte: Ornelas (2008).
Té c n i c a D i e t é t i c a

Grupos ou Classes Espécies de hortaliças

Hortaliças típicas de inverno agrião-de-água, almeirão, alho, cebola, ervilha.

abóbora, abobrinha, abóbora híbrida, berinjela, jiló,


Hortaliças típicas de verão
melancia, pepino, pimentão, quiabo, vagem.

Hortaliças com variedades de alface, beterraba, brócolis, cenoura, chicória, couve, couve-
inverno e variedades de verão flor, couve chinesa, espinafre, rabanete, repolho, tomate.

Tabela 14: Classificação das hortaliças de acordo com as exigências climáticas


Fonte: Ornelas (2008).

Outra forma de classificar as hortaliças consi- enquanto os tubérculos e raízes contêm muito
dera seu teor de açúcares (glicídios), em que: amido, o que influencia diretamente na escolha
as do tipo A contêm até 5% de glicídios, as do e na forma de sua cocção.
tipo B, 10% e as do tipo C, até 20%. Observe na Pode-se abreviar o tempo de cocção das
Tabela 15 uma relação de hortaliças classificadas hortaliças alcalinizando a água de remolho.
segundo o teor de glicídios. Baseados nesse conhecimento é que muitos
cozinheiros procuram diminuir o tempo de
Tipo A (5%) Tipo B (10%) Tipo C (20%)
remolho adicionando bicarbonato de sódio à
Abobrinha Abóbora Mandioca água, o que é prejudicial porque reduz o teor
Acelga Beterraba Milho verde vitamínico do alimento. É aconselhável, nesses

Agrião Cenoura Girassol


casos, colocar os grãos de molho numa solução
isotônica de cloreto de sódio.
Alface Quiabo Gergelim
A subdivisão e a cocção da celulose permi-
Tabela 15: Classificação das hortaliças de acordo com o
tem o aproveitamento do amido encontrado
teor de glicídios. Fonte: Ornelas (2008).
no interior de grãos e sementes, que de outra
forma não poderiam ser digeridos pela espécie
Quanto ao método de cocção das hortaliças, sua humana. Quanto mais subdividido, mais pron-
escolha se dá de acordo com o grupo ao qual tamente cozinhará o vegetal, porém deve ser
pertencem. Existem hortaliças cujas característi- colocado na água já em ebulição, que produz
cas se assemelham em estrutura e consistência, coagulação superficial, diminuindo perdas por
as folhas, por exemplo, são ricas em celulose, dissolução.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 137

Quando falamos no fator nutricional, uma verdes, a cor é dada principalmente pela clorofila,
parte da celulose deve ser ingerida crua, em que é um pigmento pouco solúvel em água. Já nas
preparações como as saladas, já as frutas podem hortaliças amarelas e alaranjadas, a cor é dada pelo
ser consumidas in natura, para favorecer o pe- caroteno e pela xantofila. A pigmentação verme-
ristaltismo intestinal. lha é dada pelo licopeno, pigmento semelhante
Existe uma enorme variedade de enzimas ao caroteno. As hortaliças vermelho-arroxeadas
existentes nos vegetais. Elas são responsáveis pelas são pigmentadas pela antocianina. E, por fim,
transformações relacionadas às inúmeras modi- as hortaliças brancas e branco-amareladas são
ficações que ocorrem nos vegetais. As enzimas pigmentadas pelas flavinas ou falvonas. A Tabela
que modificam os pigmentos são denominadas 16 mostra as alterações dos pigmentos por ação
clorofilases, hidrolases e oxidases. Nas hortaliças ácida, álcali e cocção prolongada.

Ação cocção
Pigmento Cor Hidrossolubilidade Ação ácida Ação álcali
prolongada

Torna Torna mais Torna


Clorofila Verde Pequena
verde-oliva verde verde-oliva

Caroteno Alaranjado Insolúvel Mínima Mínima Escurece


Xantofila Amarela Pouco solúvel Mínima Mínima Escurece
Licopeno Vermelho Insolúvel Mínima Mínima Escurece

Intensifica Torna roxo


Antocianina Vermelho Muito solúvel Não altera
o vermelho ou azul

Escurecem e,
na presença
Flavinas ou Branco- Ficam Ficam
Solúveis e ferro, ficam
Flavonas Amareladas brancas amareladas
esverdeadas
e pardas

Taninos Incolor Insolúvel Não altera Escurece Anula

Tabela 16: Modificação dos pigmentos de hortaliças pela cocção


Fonte: Hughes (1950).
Té c n i c a D i e t é t i c a

Qualquer que seja o método de cocção empre- abrandamento do alimento, sendo excessivos
gado, impreterivelmente, as hortaliças devem (tempo ou temperatura) ocorre a desintegração
passar por um processo de limpeza inicial, em do mesmo.
que devem ser lavadas em água potável esco- Para a cocção das hortaliças, o ideal é co-
vando as mais compactas. Todas as hortaliças meçar com a cocção na água já em ebulição,
devem ser lavadas parte por parte, folha por pois fogo alto favorece perdas mínimas de nu-
folha, em água corrente. Deve-se ainda colo- trientes. O tempo empregado vai depender do
cá-las em solução de hipoclorito de sódio de tipo de vegetal, devendo ser controlado para
1:1000 (um para mil) durante vinte minutos não ultrapassar o ponto desejado. Lembre-se
e, em seguida, enxaguá-las. sempre de cozinhar os vegetais próximo da
Após o processo de higienização, ocorre a hora do serviço, para manter as suas proprie-
cocção, que facilita a digestão e mastigação e, dades organolépticas.
em alguns casos, melhora a absorção de alguns Quanto aos métodos de cocção empregados
nutrientes. Porém, ao se cozinhar um vegetal, para as hortaliças, há duas possibilidades, o calor
diminui-se o seu teor vitamínico. A vitami- úmido e o calor seco:
na C, por exemplo, tem seus níveis reduzidos
quando um vegetal em que ela está presente é Calor úmido:
aquecido. Esse fenômeno não ocorre somente • Cocção a fogo brando (hortaliças tenras
com a vitamina C, também pode ocorrer com e novas).
outras vitaminas termolábeis, ou seja, sensí- • Cocção por ebulição (hortaliças menos
veis à temperatura. novas, tubérculos e raízes).
Além das vitaminas termolábeis, durante • Cocção por pressão (hortaliças endureci-
o cozimento, ocorre a dissolução de sais mi- das ou naturalmente compactas).
nerais na água, o que reduz mais ainda o seu • Cocção por vapor (hortaliças compactas).
teor nutricional. Para evitar que isso ocorra,
recomenda-se utilizar a menor quantidade de Calor seco:
água possível. • Assada (hortaliças mais apropriadas para
Vamos discutir agora a relação entre tempo serem assadas inteiras).
e temperatura na cocção dos alimentos. Quando • Fritura (hortaliças crua) – encharca.
a temperatura diminui, o tempo de cocção au- Variantes da fritura simples são as pre-
menta, quanto maior a temperatura, menor o parações com envolturas, tais como: mi-
tempo de cocção. Esses dois fatores atuam no lanesas, romanas, croquetes, bolinho etc.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 139

Para a cocção das hortaliças, são indicadas as em ebulição e curto tempo de cocção,
seguintes regras, de acordo com Ornelas (2008): para conservar a cor verde.
• Preparar as hortaliças o mais próximo • Colocar os folhosos de folha dura em
possível da hora de cozinhá-las. panela destampada, em bastante água
• Preparar as hortaliças inteiras ou sub- em ebulição e curto tempo de cocção,
dividi-las o menos possível para preser- para conservar a cor verde.
vá-las de perdas vitamínicas e minerais. • Cozinhar hortaliças de sabor forte – re-
• Cozinhar as hortaliças com casca, sempre polho, couve-flor, nabos etc. – em panela
que houver indicação. destampada e em quantidade maior de
• Cozinhar as hortaliças o mais próximo água. Cozinhá-las demais produz sabor
possível da hora de servi-las. indesejável e escurece-lhes a cor.
• Cozinhar as hortaliças em porções pe- • Cozinhar couve-flor e brócolis com o talo
quenas, preferindo repetir a operação voltado para baixo.
para ter vegetais recém-cozidos a cada • Cozinhar aspargos amarrados em molhos
15 ou 20 minutos. e colocados em panela alongada alta para
• Cozinhar as hortaliças em quantidade submergir os talos e deixar as pontas
pequena de água com sal (2 colheres de para cima.
café por litro), água apenas para cobrir • Colocar vinagre ou limão na água de
o vegetal. Escorrê-las antes de colocá-las cocção dos vegetais vermelhos (uma
na panela. colher de sopa para 1 litro de água), be-
• Nunca adicionar bicarbonato de sódio terraba, repolho roxo.
ao meio da cocção. • Usar a água de cocção das hortaliças para
• Observar o “ponto” de cocção para cada sopas, molhos e ensopados.
hortaliça, devendo ficar apenas tenra, • As partes mais duras dos vegetais e
abrandada, sem desintegrar-se. É im- aqueles que levam mais tempo para
portante conservar-lhe a forma por mo- abrandar-se devem ser colocados
tivos estéticos e para redução de perdas primeiro na panela e depois os mais
nutritivas. tenros, para obter-se uma cocção mais
• Colocar as hortaliças na água já em ebu- uniforme.
lição para encurtar o tempo de cocção.
• Cozinhar vegetais folhosos de folha dura Ao trabalhar com hortaliças congeladas, deve-
em panela destampada, em bastante água mos seguir os seguintes cuidados:
Té c n i c a D i e t é t i c a

Não degelar as hortaliças antes de cozinhá- • Pickles: uma forma especial, picante, de
-las, exceto a abóbora. conservar. Conservam-se as vitaminas
Seguir as instruções que acompanham a hidrossolúveis, além dos demais nutrien-
embalagem. tes que a hortaliça contém.
As normas gerais de cocção são as mesmas
para hortaliças frescas, apenas o tempo de As hortaliças, por seu colorido e variedade
cocção é mais curto porque hortaliças conge- de sabor, melhoram as características sen-
ladas são escaldadas antes de serem empaco- soriais do cardápio, favorecendo sua aceita-
tadas, além de se modificarem no processo de ção. Sabemos que o visual atrai o paladar.
congelamento. Nesse aspecto, as hortaliças influenciam não
No mercado, além de seu estado natural, só na apresentação visual como também no
encontramos as hortaliças das seguintes formas: aroma e sabor propiciados pelo seu grupo de
• Hortaliças enlatadas: a indústria de ali- alimentos.
mentos consegue apresentar alimentos O consumo de hortaliças vem sendo cada
enlatados com teor nutritivo igual ou vez mais incentivado para prevenção de doenças
melhor do que certos alimentos frescos e melhora da qualidade de vida das pessoas.
encontrados no mercado. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia de
• Hortaliças desidratadas: utilizadas cultivos, quase todas as hortaliças são produzi-
apenas para recurso de emergência, em das e comercializadas o ano inteiro. No entan-
casos de calamidades coletivas, quando to existem meses do ano em que a produção
as circunstâncias exigem grande redu- é maior (chamamos isso de período de safra).
ção de volume e maior facilidade de Esses fatores vieram favorecer o consumo de
conservação para transporte em longas hortaliças e frutas, que são muito importantes
distâncias. na alimentação. Como estamos falando de ali-
• Hortaliças congeladas: mantêm melhor mentos fontes de nutrientes e vitaminas, em
as características organolépticas dos ve- nosso próximo assunto vamos trabalhar com
getais que outros processos. as frutas.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 141

Frutas

A definição de frutas é variável, de acordo com o As frutas podem ser classificadas, de acordo
aspecto a ser considerado, todo fruto é produto com Ornelas (2008), como:
do desenvolvimento das flores ou inflorescências • Frutas com caroço: ameixa, cereja, da-
das angiospermas. Algumas podem ser classifica- masco, nectarina e pêssego.
das somente como hortaliças, mas, sob o aspecto • Frutas duras: maçã, maçã ácida e pera.
botânico, são frutos vegetais como o tomate, • Frutas moles: amora, framboesa, mo-
berinjela, pepino etc. No entanto as frutas têm rango e uvas.
características especiais: geralmente de natureza • Frutas cítricas: laranjas, limões, tange-
polposa, aromas próprios, são ricas em açúcares rinas e mexericas.
solúveis, de sabor doce e agradável, podendo ser • Frutas mediterrâneas e tropicais: aba-
consumidas, na maioria das vezes cruas, dispo- caxi, bananas, carambola, caqui, figos,
nibilizando uma gama de nutrientes. As frutas frutas-do-conde, goiaba, lechias, mamão,
devem ser incluídas diariamente nos cardápios, manga, mangostões, maracujá, melão,
pois têm um alto valor vitamínico e mineral. melancia e papaia.
Té c n i c a D i e t é t i c a

O valor nutricional assemelha-se ao das horta- hortaliças, o correto é respeitar a sua sazonali-
liças. No entanto as frutas são ricas em açúca- dade. Esse momento ocorre quando as plantas
res simples, como mono e dissacarídeos, que atingem o máximo de suas propriedades orga-
atribuem o sabor doce às frutas, tornando-as nolépticas e nutricionais. É importante saber-
mais apreciadas, porém devemos observar a mos que, mesmo após a colheita, as frutas e
porção de consumo, pois apresentam um índice hortaliças continuam respirando, e o processo
glicêmico relativamente alto. de amadurecimento continua até atingir a de-
Podemos relacionar a composição das terioração. O envelhecimento é proporcional à
frutas a sua textura. Entre os seus componen- intensidade de respiração de cada espécie, daí
tes, encontramos o amido, que é o que mais con- surgem as classificações de produtos climatéri-
tribui para a sua modificação. Assim, os frutos cos e de produtos não climatéricos.
com grânulos de amido de tamanho menor têm Os produtos climatéricos são aqueles
textura menos farinhenta. O comportamento que iniciam a maturação logo após a colheita,
do amido durante o processamento determina, possuem intensidade respiratória alta, como
em grande parte, a textura do produto final. a banana, goiaba, manga, mamão, melancia,
É importante salientar que as frutas podem caqui e tomate.
ser consumidas de várias formas, como em
sorvetes, sucos, gelatinas, geleias, compotas e
doces, o ideal é usar a técnica de preparo que
não altere muito seu fator nutricional. A pectina,
que permite a confecção de geleias, em meio
ácido e numa concentração de 60% de açúcar,
precipita-se como se fosse cristal maleável e
transparente. Segue uma receita de geleia de morango
deliciosa para utilizar aqueles já bem ma-
Devemos tomar cuidado ao misturar sucos
duros. Adicione suco de 1 limão a cerca de
de frutas, essa combinação pode produzir uma 200 g de morangos bem maduros picados
de cor indesejável, especialmente se o líquido for em cubos pequenos, acrescente 1/2 xícara
de açúcar (cerca de 80 g). Leve ao fogo
mantido à temperatura ambiente e exposto à oxi-
médio, até adquirir ponto de geleia. Fica
dação. Os sucos, se não consumidos logo após o
uma delícia e saudável.
preparo, devem ser armazenados em refrigeração.
As frutas, como vimos, são fontes de nu-
trientes e vitaminas, para a colheita de frutas e
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 143

Os produtos não climatéricos são os que limão, laranja, banana, tâmara, caqui, tomate
necessitam de um longo período para completar etc. Aparentemente a ação do gás somente
seu ciclo de amadurecimento, como os cítricos estimula o metabolismo celular acelerando o
laranja e tangerina, uva, berinjela, alface, pi- amadurecimento, porém esse amadurecimento
menta, pepino, abacaxi. Por isso, não devem artificial influi diminuindo o teor vitamínico,
ser colhidos antes do seu estágio ótimo de especialmente da vitamina C.
amadurecimento. As frutas são classificadas de acordo com a
Gosto de enfatizar que, fugindo da regra da sua concentração de glicídios, que varia de 5%
sazonalidade, encontramos todos os tipos de a 20%, com raras exceções a essa percentagem.
frutas e hortaliças o ano todo no supermerca- Podemos classificá-las em quatro grupos, isto
do, porém nem sempre esses alimentos, pare- é, de 5, 10, 15, 20%. No entanto procurare-
cendo maduros, têm as mesmas características mos agrupá-las em apenas dos grupos A (de
organolépticas. 5-10%) e B (de 15-20%), separando somente
Para que tenhamos esses alimentos o ano as frutas oleaginosas, devido a seu baixo teor
todo, são empregados, principalmente nas de glicídios, porém ótima fonte de gordura
frutas, os gases de etileno para o amadureci- boa. A classificação pode ser identificada na
mento de frutas colhidas verdes, tais como: Tabela 17.

Fruta A 5 % de glicídio Abacaxi, goiaba, caju, melão,


10% de glicídio melancia, laranja, limão,
maracujá, pêssego.

Fruta B 15% de glicídio Ameixa, cereja, figo, maçã,


20% de glicídio mamão, banana, caqui, uva,
35% de glicídio tuturubá, tamarindo.
53% de glicídio

Frutas 16% de glicídio Amêndoas, castanhas,


Oleaginosas 20% de protídio nozes, avelãs.
60% de lipídios

Tabela 17: Classificação segundo o teor de glicídios


Fonte: Ornelas (2008).
Té c n i c a D i e t é t i c a

As frutas possuem uma proteção natural, mais


conhecida como casca, que protege de perdas
de vitaminas por oxidação, dissolução de subs-
tâncias nutritivas em geral e evitam contamina- No Brasil, pela atual legislação, é permi-
ção. Muitas frutas podem ser consumidas com tido o uso de apenas onze corantes arti-
casca, a única contraindicação é para crianças ficiais para alimentos e bebidas, sendo
eles: Amaranto, Vermelho de Eritrosina,
antes de dois anos de idade. Por isso, é indicado
Vermelho 40, Ponceau 4R, Amarelo
consumir a fruta in natura e logo após cortá-la, Crepúsculo, Amarelo Tartrazina, Azul de
pois a retirada da proteção da fruta faz que Indigotina, Azul Brilhante, Azorrubina,
Verde Rápido e Azul Patente V. Isso ocor-
se inicie o processo oxidativo, escurecendo as
reu devido à necessidade de harmonização
frutas e, consequentemente, perdendo seus da legislação entre os países do Mercosul
nutrientes. para o uso de corantes em alimentos. A
Lembrando sempre que todo alimento, em resolução GMC n050/98 trata dessa har-
monização, bem como a Resolução GMC
especial as frutas e hortaliças, deve ser devida-
n052/98, que trata dos critérios para de-
mente higienizado. terminar funções de aditivos, aditivos e
Algumas frutas apresentam grande per- seus limites máximos para todas as cate-
gorias de alimentos.
centagem de desperdício porque têm casca
grossa e caroços grandes em tamanho e Fonte: Netto (2009, p. 46).

número. Como exemplo, podemos mencio-


nar a melancia, o abacaxi e o abacate, cujos
resíduos a serem descartados chegam perto
de 50%. As frutas possuem cerca de 85% de
água, de 5% a 20% de açúcares, alto teor de A partir dessas informações, fechamos nossos
vitaminas e minerais, porém são pobres em estudos sobre as frutas e hortaliças, lembrando
proteínas e gorduras. que esses alimentos são ótimas fontes de nu-
A indústria brasileira de beneficiamento trientes e consumi-las diariamente, conhecendo
de frutas tem passado por intensa mudança sua procedência e respeitando sua sazonalidade,
e progredido em seus métodos de produção propicia experiências agradáveis ao paladar e, con-
de sucos naturais, principalmente do suco de sequentemente, promoção de uma saúde melhor.
frutas cítricas, como laranja, limão, tangerina, Vamos trabalhar agora com os corantes. A
conquistando o mercado de exportação, por coloração é a premissa da qualidade sensorial
sua qualidade. pela qual os alimentos são julgados e, portanto,
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 145

é amplamente utilizada pela indústria de


alimentos para atender as expectativas dos
consumidores, que usualmente associam cor
ao sabor, ao cheiro ou à qualidade do produto.
Já imaginou um suco de laranja sem ser laran-
ja? Ou uma bolacha de morango cujo recheio
não é rosa? O uso de corantes como aditivos
alimentícios tem sido altamente explorado
em alimentos como sucos, balas, guloseimas,
gelatinas e refrigerantes, com a função de tor-
ná-los atrativos aos olhos dos consumidores.
Consequentemente, tem aumentado a preo-
cupação quanto aos riscos toxicológicos desses
produtos e/ou seus metabólitos no organismo
humano (KAPOR, 2001). Lembre-se de que
tudo que foge do natural é artificial. Devido a sua alta demanda e necessidade de
Para comercialização desses compostos fiscalização, a criação de métodos de avaliação
para fins alimentícios, tem sido exigida uma desses compostos, nas mais diversas matrizes
rigorosa avaliação de sua toxicidade e outras em diferentes concentrações, tem sido roti-
propriedades, tais como: solubilidade em água neiramente requerida, tanto no controle de
e/ou solventes alcoólicos, inatividade química qualidade de indústrias alimentícias e águas
ou baixa reatividade com outros componentes de rejeitos quanto na análise desses compostos
do alimento, como ácido, base, aromatizantes em órgãos de vigilância e controle da saúde
e conservantes, assim como estabilidade do co- humana. Os métodos usuais baseiam-se prin-
rante quanto à luz, calor e umidade. No Brasil, cipalmente nos métodos espectrofotométricos
o Ministério da Saúde (Art. n 5.5871/65) tem
o
(BLANCO, 1996), que apresentam limitada
permitido o uso de poucos corantes sintéticos sensibilidade, ou nos métodos cromatográficos
em artigos alimentícios, em concentrações (KIRCHMAYR, 1988), que são economicamen-
rigorosamente controladas (TOLEDO, 1992). te caros e usualmente envolvem várias etapas
Porém existem corantes que não são permiti- de extração. A Tabela 18 apresenta os tipos
dos em outros países e são usados livremente de corantes sintéticos utilizados na indústria
no Brasil. de alimentos.
Té c n i c a D i e t é t i c a

Corantes Origem Aplicação Efeitos adversos

Amarelo Sintetizado a Cereais, balas, A tinta azoica, em algumas pessoas,


Crepúsculo partir do alcatrão caramelos, coberturas, causa alergia, produzindo urticária,
de carvão e xaropes, laticínios, angiodema e problemas gástricos.
tintas azoicas. gomas de mascar.

Azul Sintetizado a Laticínios, balas, Pode causar hiperatividade em crianças,


Brilhante partir do alcatrão cereais, queijos, eczema e asma. Deve ser evitado
de carvão. recheios, gelatinas, por pessoas sensíveis às purinas.
licores, refrescos.

Amaranto Sintetizado a Cereais, balas, laticínios, Deve ser evitado por sensíveis à
ou partir do alcatrão geleias, gelados, aspirina. Esse corante já causou
Vermelho de carvão. recheios, xaropes, polêmica sobre sua toxicidade
Bourdeaux preparados líquidos. em animais de laboratório, sendo
proibido em vários países.

Vermelho Tinta de alcatrão Pós para gelatinas, Pode ser fototóxico. Contém 557 mg de
eritrosina de carvão. laticínios, refrescos, iodo por grama de produto. O consumo
geleias. excessivo pode causar aumento do
hormônio tireoidiano no sangue em
níveis para ocasionar hipertireoidismo.

Indigotina Tinta de alcatrão Goma de mascar, Pode causar náuseas, vômitos,


(azul de carvão. iogurte, balas, hipertensão e ocasionalmente alergia,
escuro) caramelos, pós para com prurido e problemas respiratórios.
refrescos artificiais.

Vermelho Tinta de alcatrão Frutas em caldas, Deve ser evitado por pessoas sensíveis
Ponceau 4R de carvão. laticínios, xaropes de à aspirina e asmáticos. Pode causar
bebidas, balas, cereais, anemia e aumento da incidência de
refrescos e refrigerantes, glomerulonefrite (doença renal).
sobremesas.

Amarelo de Tinta de alcatrão Laticínios, licores, Reações alérgicas em pessoas sensíveis


Tartrazina de carvão. fermentados, à aspirina e asmáticos. Recentemente
produtos de cereais, tem-se sugerido que a tartrazina em
frutas, iogurtes. preparados de frutas causa insônia
em crianças. Há relatos de casos de
afecção da flora gastrointestinal.

Vermelho Sintetizado Alimentos à base de Pode causar hiperatividade em crianças,


40 quimicamente. cereais, balas, laticínios, eczemas e dificuldades respiratórias.
recheios de sobremesa,
xaropes para refrescos,
refrigerantes e geleias.

Tabela 18: Principais tipos de corantes sintéticos artificiais


Fonte: Netto (2009).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 147

Podemos dizer que o emprego de aditivos quí- e existem várias maneiras de classificá-los, uma
micos é, sem dúvida, um dos mais polêmicos delas se dá pelo tipo de comercialização.
avanços alcançados pela indústria de alimentos. O açúcar mascavo é obtido através do
Os corantes artificiais pertencem à classe de adi- melado de cana-de-açúcar. Esse melado bruto
tivos alimentares, que é alvo de muitas críticas, não é refinado, por isso essa terminologia. Ele
já que seu uso em muitos alimentos justifica-se também passa por processo de refinamento,
apenas por questões de hábitos alimentares. mas em menor escala. Pode ser considerado
Como consumidores, devemos estar cien- mais saudável, porém é uma longa discussão
tes de que os alimentos que adquirimos com em se tratando de refinamento e quantidade
cores vibrantes e brilhantes, inclusive alguns de minerais.
dos considerados “naturais”, como a laranja e Açúcar demerara não é um tipo de açúcar
o salmão, são mascarados e passam por uma clarificado e possui cristais grandes que não são
tintura, o que produz uma variação de suas cores lavados por centrifugação, ficando recobertos
naturais. A variação ocasionada pela alternância por uma película do mel. Esse açúcar até há um
das estações do ano e o beneficiamento forçam tempo não era destinado à alimentação humana,
a adição de cor, algo que torna o produto mais sendo matéria-prima para refinarias de açúcar,
atrativo ao comércio. que o transformam em açúcar refinado.
Para fecharmos a discussão sobre os coran- Para a produção do açúcar refinado, o
tes, podemos dizer que o corante alimentar é processo de beneficiamento é mais complexo,
definido como qualquer substância adicionada após a obtenção do melado de cana, igual ao do
ao alimento cuja finalidade é modificar a sua cor. açúcar mascavo, como o produto inicialmente
Pode ser usado tanto industrialmente quanto na é marrom, recebe inicialmente ácido sulfídri-
cozinha, como é o caso do colorau, produzido a co gasoso e substâncias químicas para clarear,
partir da semente de urucum. nesse processo, perdem-se todos os nutrientes
Trabalhamos até aqui com os corantes que presentes no açúcar.
dão cor e atraem pelo olhar e o sabor, vamos dis- Outro açúcar comum muito utilizado na co-
cutir agora sobre os edulcorantes. Assim como zinha, principalmente na confeitaria, é o açúcar
os corantes, existem os edulcorantes naturais de confeiteiro. O açúcar comum se apresenta em
e os artificiais. Os naturais mais comuns são o formato granulado, como o açúcar cristal, ou em
açúcar mascavo, o refinado, o de confeiteiro e a forma de pó fino, como o açúcar refinado. Esse
frutose. O açúcar é produzido por diferentes pro- açúcar mais fino é considerado higroscópico,
cessos tecnológicos em várias regiões do mundo isso quer dizer que ele absorve água e, quando
Té c n i c a D i e t é t i c a

a absorve, endurece. Para evitar que esse endu- Por isso a vantagem de se utilizar a frutose,
recimento ocorra, os fabricantes adicionaram pois se pode reduzir a quantidade sem alterar
um percentual de 3% de amido de milho ao o sabor, evitando sabor residual.
açúcar refinado, assim o açúcar de confeiteiro, Os açúcares possuem propriedades de adição
como ficou conhecido, permanece na forma de de sabor. O poder edulcorante dos açúcares varia
pó sem o aspecto grudento ao absorver a água. de acordo com o tipo de açúcar e com a substân-
Outro tipo de edulcorante natural conside- cia de que são feitos. Para fins de comparação,
rado adoçante é a frutose. A frutose é extraída vamos observar a Tabela 19, considerando que o
principalmente do milho e fornece a mesma sabor doce dos edulcorantes tem como refe-
quantidade de calorias que o açúcar, porém seu rência a sacarose, cujo valor relativo na tabela
poder de adoçar é 33% maior que o do açúcar. é igual a 1.

Açúcares* e edulcorantes não calóricos** Sabor doce relativo

Levulose* 1,75

Frutose* 1,7

Açúcar invertido* 1,3

Glicerol* 1,1

Sacarose* 1,0

Glicose* 0,7

Maltose* 0,3

Galactose* 0,3

Lactose* 0,3

Ciclamato de sódio** 35

Sacarina** 550

*calóricos e **não calóricos


Tabela 19: Sabor doce relativo de açúcares e edulcorantes
Fonte: Salinas (2002).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 149

Os adoçantes artificiais, conhecidos como


adoçante dietéticos, são constituídos por edul-
corantes e agentes de corpo. Devido ao fato de
as substâncias edulcorantes muitas vezes ado-
Os tipos de edulcorantes atualmente per-
çarem quantidades grandes de alimentos, elas mitidos para comercialização no Brasil são:
precisam de “agentes de corpos”, que servem sorbitol, manitol, isomaltitol, maltitol, lac-
titol, xilitol e eritritol como edulcorantes
de soluto para as substâncias, sendo que essa
calóricos; e sacarina, ciclamato, asparta-
mesma característica acaba tornando-as viáveis me, acessulfame k, sucralose, glicosídeos
para a comercialização. de esteviol, neotame e taumatina como

Edulcorantes são substâncias químicas, boa não calóricos (ANVISA, 2008). Atualmente,
nos EUA, apenas cinco edulcorantes não
parte deles artificiais, responsáveis por adoçar
calóricos estão aprovados pela Food and
sem adicionar de calorias às preparações culiná- Drug Administration (FDA): sacarina, aspar-
rias ou industriais. Possuem um poder de adoçar tame, acessulfame k, neotame e sucralose
(MATTES, 2009). Portanto, os edulcoran-
muito superior à sacarose e, muitas vezes, por
tes não calóricos, ciclamato, taumatina
essa condição, chegam a ter um sabor residual e glicosídeos de esteviol, têm utilização
amargo e por isso precisam ser utilizados em regulamentada no Brasil, mas não são per-
porções bem menores do que o açúcar. mitidos pela legislação norte-americana
como aditivos alimentares.
Como os edulcorantes possuem esse alto
Fonte: Zanini (2011).
poder adoçante e a quantidade a ser utilizada
é muito pequena, é necessária a utilização de
agente de corpo, também conhecido como veí-
culos, para dar volumes ao adoçante para que ele
tenha fins comerciais. Como alguns adoçantes Fechamos esta unidade estudando sobre os
podem adoçar até 600 vezes mais do que o açúcar, corantes e edulcorantes naturais e artificiais.
comercializar da forma pura seria praticamen- Quando se trata de novos “ingredientes”, ali-
te impossível, então a diluição é necessária. Os mentos artificiais, novas fórmulas de subs-
agentes de corpos mais utilizados são a água, a tâncias usadas pela indústria de alimentos, as
maltodextrina, a lactose e o manitol. pesquisas estão o tempo todo mostrando prós
São considerados os adoçantes de boa quali- e contras, benefícios e malefícios à saúde. Ainda
dade os que são incolores, inodoros em solução, há muito o que estudar, pesquisar, por isso, leia
estáveis, atóxicos, baratos e que não possuem muito e pesquise bastante antes de incluir esses
sabores residuais. produtos em sua alimentação.
Té c n i c a D i e t é t i c a

considerações finais

Querido(a) aluno(a), fechamos mais um ciclo de estudos relacionados à Técnica


Dietética. Nesta unidade, trabalhamos temas extremamente interessantes e
complexos sobre os cereais.
Estudamos, em seguida, os agentes de crescimento, que podem ser tanto
biológicos quanto químicos. Vimos como eles podem atuar nas receitas e
como se incorporam aos ingredientes em uma produção.
Um dos ingredientes que também estudamos nesta unidade foi o grupo
das leguminosas. Não só de arroz, trigo e milho vive o homem, o feijão é
essencial. A leguminosa faz parte do cardápio do brasileiro e, nesta unidade,
pudemos ver que o feijão carioquinha não está sozinho, está acompanhado
de diversos tipos de leguminosas que, além de muito saborosas, são extre-
mamente nutritivas, sendo utilizadas em larga escala na alta gastronomia.
Frutas e hortaliças também fizeram parte dos nossos estudos, nesta
unidade. Abordamos desde suas propriedades nutricionais até os métodos de
conservação relacionados ao amadurecimento natural das frutas e verduras.
E, por fim, fechamos esta unidade estudando os corantes e edulcorantes,
artificiais ou não, identificando suas características e utilização culinária.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 151

atividades de estudo
1. Os cereais têm de 1% a 13% de proteína, as proteínas do trigo foram
divididas em dois grupos, um deles formado pelas albuminas e glo-
bulinas, que apresentam juntas 15% das proteínas, e outro grupo
formado pelas gliadina e glutenina, que compreendem o montante
das 85% das proteínas restantes. Quando combinadas, a gliadina e a
glutenina possuem a propriedade de formar uma rede tridimensional
viscoelástica, insolúvel em água, denominada glúten. Descreva qual
a finalidade do glúten para a panificação.

2. A qualidade de uma farinha dependerá sempre de sua origem, ou


seja, da qualidade do grão. Assim, o fato de ser especial não significa
que é de qualidade, pois se a proteína do trigo da qual foi extraída
for de qualidade inferior, naturalmente, a farinha também o será.
Por outro lado, se, para a farinha comum for usado um trigo duro,
forte, de boa qualidade de proteína, essa farinha, sem dúvida, será
de melhor qualidade do que a especial proveniente de um trigo de
menor qualidade de proteína. Consequentemente, qualidade de uma
farinha significa a sua capacidade de cumprir os fins a que se destina.
Assim, uma farinha pode ter alta qualidade para o fabrico de bolos e
ser má para pães. De acordo com o tipo de farinha, ligue as colunas:

(1) Farinhas Duríssimas (proteínas 15%).


(2) Farinhas Duras (proteínas 9 - 14%).
(3) Farinhas Moles (7,5 - 8%).

(a) Bolos.
(b) Pães.
(c) Massas Alimentícias.
Té c n i c a D i e t é t i c a

leitura complementar

A Pesquisa de Hábitos
Alimentares Brasileiros

(...) A Pesquisa de Hábitos Alimentares Brasileiros é uma pesquisa empírica,


realizada em dez cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes cada,
com pessoas na faixa etária entre 17 a 65 anos, pertencentes a todos os cinco
segmentos de renda da sociedade brasileira, conforme definição do critério
Brasil. Essa pesquisa envolveu o uso tanto de metodologias qualitativas quanto
quantitativas. As cidades pesquisadas foram Belém, Fortaleza, Recife, Salvador,
Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre,
e a coleta dos dados ocorreu entre fevereiro e maio de 2006. A pesquisa foi
construída em duas etapas distintas: uma qualitativa e uma quantitativa. A
etapa qualitativa foi composta da análise do material de 50 grupos focais, cinco
em cada uma das dez cidades escolhidas, cada um com oito pessoas cada, per-
fazendo um total de 400 participantes. Nessa oportunidade foram discutidos
temas relativos às refeições, à compra de alimentos, à seleção de menus, às
ideologias alimentares, ao conhecimento dos diferentes tipos de alimentos,
às percepções sobre o comer e o cozinhar, entre vários outros temas da forma
menos estruturada possível, permitindo que o grupo conduzisse as discussões
na direção que julgasse melhor. A análise do material desses grupos será apre-
sentada em outra oportunidade, mas ao longo deste artigo ele estará sempre
referido ao material quantitativo. Além disso, o material dos grupos focais foi
a base para a elaboração do questionário utilizado na pesquisa quantitativa.
A amostra quantitativa pode ser definida como uma domiciliar probabi-
lística “mista”. Por isso, entende-se que a seleção dos respondentes foi feita
por meio de uma série de sorteios probabilísticos, partindo de clusters, quar-
teirões e domicílios. No interior destes, contudo, a seleção do respondente
ao questionário não foi feita por sorteio. Foi escolhida, preferencialmente, a
pessoa responsável pela seleção, compra e preparo dos alimentos. Resulta daí
o número consideravelmente maior de mulheres desta amostra.
A pesquisa quantitativa consistiu em um questionário estruturado, aplica-
do a 2136 pessoas, contendo 265 perguntas abertas e fechadas e proposições
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 153

leitura complementar
sobre as quais as pessoas podiam concordar ou discordar. O tempo médio de
duração das respostas foi de duas horas.
Foram inúmeros e variados os tópicos pesquisados, indo desde o con-
teúdo e das atitudes em relação às refeições, passando pelo conhecimento
de comidas de outras regiões e países, até a introdução de novos itens ali-
mentares e pratos no cardápio cotidiano. A pesquisa produziu uma grande
quantidade de dados – grande parte ainda sob análise – o que torna impossível
a sua apresentação como um todo, em um único artigo. Assim sendo, nesta
oportunidade voltaremos nossa atenção apenas para alguns aspectos do que
designamos como o “sistema de refeições brasileiro”, construído a partir dos
dados quantitativos e subsidiado pelos qualitativos e o que esse sistema nos
informa sobre nossas práticas alimentares e como nos inserimos no contexto
das teorias sobre as tendências alimentares da sociedade moderna.

Comida e alimento
Do ponto de vista sociológico, dados agregados sobre produção e consumo
de alimentos pouco nos falam sobre o que, efetivamente, uma população
“come”. A razão disso é uma distinção cultural entre comida e alimento, que
dificilmente é feita quando se aborda esse tema sob a ótica econômica ou
nutricional. Ninguém come genericamente. Come-se feijão preto com muito
ou pouco caldo, com farofa ou arroz; come-se carne ensopadinha ou assada;
come-se pão de trigo sob a forma de bisnaga, pão francês ou croissant; vagem
ensopada ou sob a forma de salada, com sal ou apenas temperada com limão,
entre outras inúmeras e infinitas possibilidades.
Os alimentos são sempre ingeridos sob alguma forma culturalizada. Isso
significa que os alimentos são sempre manipulados e preparados a partir de
uma determinada técnica de cocção, apresentados sob uma forma específica e
ingeridos em determinados horários e circunstâncias, na companhia de certas
pessoas. Hábitos alimentares implicam o conhecimento da comida e das atitudes
em relação a ela e não à classe de alimentos consumidos por uma população.
E comida significa o que, o como, o quando, o com quem, o onde e de que ma-
neira os alimentos selecionados por um determinado grupo humano são ingeridos.
Té c n i c a D i e t é t i c a

leitura complementar

Assim, considera-se comida todo o processo de transformação do alimento


- conjunto de nutrientes necessários à reprodução física da vida humana -
naquilo que se come sob uma forma específica; aquilo de que se gosta ou se
detesta e que é um elemento básico da reprodução social de qualquer grupo
humano, como bem nos lembra Lévi-Strauss.
Embora essa seja uma distinção fundamental, ela é permanentemente
ignorada, fazendo com que na maioria dos trabalhos o que se discuta seja
o consumo agregado de alimentos. Por maior que seja a importância desse
dado, é bom lembrar que grande parte dos alimentos ingeridos pela população
mundial, desde o advento da agricultura, não é, até hoje, muito diferente de
uma sociedade para outra (DIAMOND, 2005).
Portanto, quando falamos de hábitos alimentares a partir da classe de
“alimentos” e não da “comida” estamos informando pouco sobre aquilo que
se come, pois, embora a base de nutrientes seja bastante semelhante entre as
sociedades, a combinatória entre eles é bastante distinta. Essa combinatória a
que chamamos de culinária – um conjunto que engloba manipulação, técnicas
de cocção, representações e práticas sobre as comidas e as refeições – é o prin-
cipal mecanismo que transforma o alimento em comida, ou seja, nos pratos.
Juntos eles produzem os diferentes cardápios que caracterizam as dife-
rentes regiões e sociedades humanas.
Da mesma maneira que não se come nada genericamente, também não
ingerimos os alimentos aleatoriamente. Toda sociedade estabelece normas
e momentos específicos, em que determinados tipos de comida são ingeri-
dos preferencialmente a outros, em uma determinada seqüência, dentro de
uma certa lógica de ingestão e de combinação dos alimentos entre si. Esses
momentos são denominados de refeições.

O sistema de refeições no Brasil


Do ponto de vista das representações (livros e revistas de culinária, nutricio-
nistas, entre outros) e das instituições (escolas, hospitais, empresas) o sistema
de refeições no Brasil é composto de seis refeições ao dia. São elas: café da
manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche (antiga ceia).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 155

leitura complementar
Esse sistema, que para alguns seria “o nosso sistema tradicional”, é hoje
ratificado pelas recomendações médicas e nutricionais que afirmam a con-
veniência de se comer pequenas quantidades, várias vezes ao dia, tanto para
uma boa saúde como para a longevidade. Entretanto os resultados da pesquisa
indicam uma situação bastante distinta. Se, em algum momento, as pessoas
no Brasil ingeriram regularmente seis refeições ao dia, ou se ainda o fazem
no interior do país, na época atual esse número diminui para três (44%) e no
máximo quatro refeições (40%) nos centros urbanos com mais de 1 milhão
de habitantes. Não se registrou quaisquer diferenças significativas entre os
gêneros, as faixas etárias e os segmentos de renda.
O que é importante enfatizar é a discrepância entre o que é admitido
simbolicamente, o recomendado nutricionalmente e o que efetivamente os
brasileiros urbanos dizem praticar. As razões indicadas para a diminuição
do número de refeições, extraídas dos depoimentos de grupos focais, são
o ritmo da vida moderna dos grandes centros urbanos, a distância entre a
casa e o trabalho, em relação ao tempo disponível para o almoço, e as novas
ideologias de um corpo mais magro. Essas razões são bastante semelhantes
às indicadas em outros estudos sobre a população francesa (POULAIN, 1998;
POULAIN; TIBÈRE, 2000).
O fato de as pessoas declararem ingerir um número menor de refeições
ao longo do dia não significa que elas não comam entre elas. Ao contrário, ao
que tudo indica, “beliscar”, “comer porcarias”, comer uma “besteirinha”, é uma
prática bastante comum. O que os dados sugerem é que esse beliscar não tem,
do ponto de vista cultural, o status de uma refeição. Daí o uso constante do
diminutivo para se referir não só ao tamanho pequeno da ingesta – lanchinho,
bobaginha, belisco – mas a sua posição hierárquica inferior a uma refeição.
Essas três ou quatro refeições ao dia são organizadas em três subsistemas:
o sistema de refeições semanal, o de fim de semana e o ritual. O subsistema
ritual subdivide-se em dois: o “coletivo”, que inclui festas comemoradas por
toda a sociedade como Natal, Dia das Mães, Páscoa, entre outras; e o “domés-
tico/familiar”, relacionado às comemorações familiares ou individuais como
aniversários, casamentos, formaturas, bodas, entre outros.
Té c n i c a D i e t é t i c a

leitura complementar

Esses subsistemas diferenciam-se, entre si, pelos valores e lógicas utilizados


para a escolha do cardápio, pelo significado relativo atribuído às refeições entre
si, pelo tipo e grau de elaboração da comida, pelo grau de formalidade à mesa,
pelos atores sociais envolvidos e pelo tipo de sociabilidade que predomina
em cada uma das refeições. (...)

Fonte: Barboza (2007, p. 87 - 116).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 157

material complementar
Alimentos Regionais Brasileiros
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
Atenção Básica

Ano: 2015
Sinopse: A nova edição de “Alimentos Regionais Brasileiros”, como
o próprio nome sugere, divide as espécies por região e exibe em
suas 500 páginas as frutas, hortaliças, leguminosas, tubérculos,
raízes e cereais, farinhas e preparações, ervas, condimentos e
temperos do Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. “Além
de contribuir para a garantia do direito humano à alimentação ade-
quada e saudável da população brasileira, a publicação constitui,
ainda, um instrumento de educação alimentar e nutricional que pode ser utilizado
por profissionais de saúde, educação, assistência social, entre outros, ampliando
o conhecimento sobre essa diversidade dos nossos alimentos e sua valorização”,
sintetizou o pesquisador.

O livro pode ser baixado gratuitamente no site disponível em:


<http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/livro_alimentos_regionais_bra-
sileiros.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2015.

Frutas para um mercado competitivo - Dia de Campo na TV

O Brasil é o terceiro produtor mundial de frutas frescas e quase toda a produção é destinada
ao abastecimento interno. A maioria das frutíferas possui exploração feita predominantemente
em pequenas e médias propriedades, incluindo a agricultura familiar. Esse cenário indica a
possibilidade de expansão do mercado de frutas produzidas no país.

Assista ao vídeo sobre esse tema disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JSQxyhbyxuE>.


Acesso em: 05 ago. 2015.
Té c n i c a D i e t é t i c a

CONCLUSÃO
Fechamos mais um ciclo de estudos com o fim do livro Técnica Dietética, em
que foram trabalhados diversos temas.
Primeiramente, identificamos quais são os objetivos principais para uma
boa técnica dietética, visando a questões de higiene e segurança, mostrando
novamente as necessidades de se produzir um alimento seguro, isento da
contaminação para promoção de saúde e não doença.
Trabalhamos também com os objetivos nutricionais e sensoriais, identifi-
cando a necessidade de se produzir alimentos saborosos e saudáveis para que
o nosso organismo possa absorver todos os nutrientes, promovendo saúde,
sem esquecer dos aspectos econômicos, que visam à redução de custos e de
desperdício,minimizando os impactos ambientais.
Promover uma boa TD é uma questão de necessidade nos dias atuais. A
quantidade de lixo orgânico gerado e de alimento não seguro servido como
promotor de doença está a todo momento nos assombrando, na padaria ao
lado, no restaurante da esquina do trabalho e, até mesmo, nas nossas cozinhas.
Também trabalhamos as características sensoriais dos alimentos, sabor,
cor, aroma e textura. A parte mais importante para o cozinheiro e para a
gastronomia é explorar os sentidos através dos alimentos, essa é uma das
“brincadeiras” mais prazerosas, e para isso identificamos quais as caracterís-
ticas dos alimentos e como elas podem ser alteradas por meio dos métodos
de cocção, corte, dentre outras técnicas.
Vimos também questões básicas sobre as unidades de medida mais cor-
riqueiramente utilizadas na cozinha, identificamos os métodos corretos para
medição de alimentos líquidos, secos e gordurosos, sempre visando à questão
de redução de desperdício e padrão de qualidade na hora da reprodução de
receitas (ficha técnica).
Como a Técnica Dietética se baseia nas ciências exatas, trabalhamos
também com o fator de correção e cocção, ferramentas base para cálculo de
cardápio, relacionando-a à qualidade e rendimento dos alimentos, promovendo
assim a quantidade mínima de resíduo gerado em uma cozinha.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 159

Trabalhamos também com ingredientes de origem animal e gorduras.


Iniciamos com os ovos, um dos ingredientes mais versáteis utilizados na
gastronomia, que vai do preparo do doce ao do salgado, como figurante ou
como ator principal, é considerado um ingrediente base.
Após estudarmos os ovos, trabalhamos com o leite, que também é conside-
rado um ingrediente primordial das elaborações gastronômicas, sendo utilizado
como ingrediente principal ou acompanhando produções. Sua composição
química traz um diferencial importante, pois é rico em gordura e proteínas.
Do leite ainda derivam diversos produtos comumente consumidos, como o
iogurte, queijo, creme de leite, manteiga.
A respeito dos derivados do leite, estudamos neste livro alguns dos mais
importantes, explorando a questão industrial para a produção quanto à estru-
tura química e física desses ingredientes, sempre reforçando que é de extrema
importância entender do ingrediente, para posteriormente colocar na panela.
Em seguida, trabalhamos com as carnes de gado, de aves, de peixe e de
pescados. Vimos como determinar a sua qualidade e como os métodos de
cocção alteram a estrutura desses ingredientes.
Na última unidade, estudamos temas extremamente interessantes e
complexos a respeito dos cereais e dos agentes de crescimento. Outro tema
abordado foi o grupo das leguminosas, as quais fazem parte do cardápio do dia a
dia do brasileiro. Frutas e hortaliças também fizeram parte dos nossos estudos,
sobre elas estudamos desde as propriedades nutricionais até os métodos de
conservação relacionados ao amadurecimento natural das frutas e verduras.
E, por fim, fechamos a última unidade estudando os corantes e edulco-
rantes, identificando suas características e utilização culinária.
Resumindo, a Técnica Dietética trabalha com diversos objetivos que
visam à melhora na qualidade e na utilização de alimentos, almejando uma
compra mais objetiva e dirigida para o cálculo de custos e, consequentemente,
a redução de desperdício de alimentos.
A gastronomia é vista como a arte de cozinhar e deve se utilizar de todas
as ferramentas para a produção de alimentos cada vez mais seguros, saudáveis
e que promovam a sustentabilidade.
Té c n i c a D i e t é t i c a

AGUIAR, M. dos S.; ZAFFARI, S.; HÜBSCHER, G. H. O ovo e sua contribuição na saúde humana.
referências

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Té c n i c a D i e t é t i c a

UNIDADE 01
gabarito

1. Resposta Correta:
(1 - c)
(2 - b)
(3 - d)
(4 - a)

2. Resposta Correta:
Dados:
FC = 1,11 em calor úmido
R$ = 20,80 p/kg
FC = 1,28 em calor seco
Quantidade líquida de preparo = 5kg
Calor Úmido = 5 x 1,11 = 5,55 kg x 20,80 = R$ 104,00 “em calor Úmido, irei gastar 104,00 reais”.
Calor Seco = 5 x 1,28 = 6,40 kg x 20, 80 = R$ 133,12 “em calor Seco, irei gastar 133,12 reais”.
Resposta: é mais vantajoso a produção em calor úmido.

3. Resposta correta:
a. 10 kg x 1,08 = 10,80
b. 8 kg x 1,10 = 8,80
c. 5 kg x 1,25 = 6,25
d. 2 kg x 1,10 = 2,20

UNIDADE 02

1. Resposta correta: Manteiga é um produto à base do creme de leite de vaca, já a margarina é feita a partir
de óleos vegetais.

2. Resposta correta: Por isso, as carnes brancas, como galinha de peru, devem inicialmente ser colocadas
em fogo mais baixo, para que a retenção das fibras aconteça lentamente, impedindo que se produza o
“goteio”, que torna a carne seca e com um menor volume, consequentemente, diminuindo o rendimento,
assim, quando o alimento estiver cozido, aumenta-se a temperatura para obter o dourado final.

UNIDADE 03

1. Resposta correta: O glúten, em panificação, retém o gás carbônico produzido durante o processo fer-
mentativo e faz que o pão aumente de volume.

2. Resposta correta: (1 - c) (2 -b) (3 - a).

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