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Cozinha Internacional

Hugo Leonardo de Castro Alves


Missão
“Promover a educação de qualidade nas
diferentes áreas do conhecimento, forman-
do profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária”

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva


Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
Educação a Distância; ALVES, Hugo Leonardo da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Cozinha internacional. Hugo Leonardo de Castro Alves
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016.
118 p. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
“Graduação em Gastronomia - EaD”.
Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de
1. Cozinha. 2. Internacional. 3. Gastronomia. 4. EaD. I. Título.
Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações
Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção
 CDD - 22ª Ed. 641.56
CIP - NBR 12899 - AACR/2 de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron,
Gerência de Produção de Contéudo Juliano de Souza, Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo,
Coordenador de Contéudo Alexandre Gimenes da Cruz, Projeto
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Gráfico e Editoração Jaime de Marchi Junior e José Jhonny Coelho,
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050- Designer Educacional Paulo Victor Souza e Silva, Revisão Textual
900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Viviane Notari, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.
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palavra do reitor
Reitor
Wilson de Matos Silva

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um as demandas institucionais e sociais; a realização de


grande desafio para todos os cidadãos. A busca por uma prática acadêmica que contribua para o desen-
tecnologia, informação, conhecimento de qualida- volvimento da consciência social e política e, por fim,
de, novas habilidades para liderança e solução de a democratização do conhecimento acadêmico com a
problemas com eficiência tornou-se uma questão de articulação e a integração com a sociedade.
sobrevivência no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar
Cada um de nós tem uma grande responsabilida- almeja ser reconhecida como uma instituição uni-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos versitária de referência regional e nacional pela qua-
fará grande diferença no futuro. lidade e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar competências institucionais para o desenvolvimento
assume o compromisso de democratizar o conheci- de linhas de pesquisa; consolidação da extensão uni-
mento por meio de alta tecnologia e contribuir para versitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial
o futuro dos brasileiros. e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade
No cumprimento de sua missão – “promover a interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis-
educação de qualidade nas diferentes áreas do conhe- trativa; compromisso social de inclusão; processos
cimento, formando profissionais cidadãos que con- de cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
tribuam para o desenvolvimento de uma sociedade como também pelo compromisso e relacionamento
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar permanente com os egressos, incentivando a educa-
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com ção continuada.
boas-vindas

Pró-Reitor de EaD
Willian V. K. de Matos Silva

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade A apropriação dessa nova forma de conhecer


do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores
Essa é a característica principal pela qual a de agregação de valor, de superação das desigualdades,
UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, Logo, como agente social, convido você a saber
é importante destacar aqui que não estamos falando cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar
mais daquele conhecimento estático, repetitivo, a tecnologia que temos e que está disponível.
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
renovável em minutos, atemporal, global, demo- modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as
cratizado, transformado pelas tecnologias digitais tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipa-
e virtuais. mentos e aplicações estão mudando a nossa cultura
De fato, as tecnologias de informação e comuni- e transformando a todos nós.
cação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Priorizar o conhecimento hoje, por meio da
lugares, informações, da educação por meio da conec- Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o
tividade via internet, do acesso wireless em diferentes contato com ambientes cativantes, ricos em infor-
lugares e da mobilidade dos celulares. mações e interatividade. É um processo desafiador,
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets acelera- que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
ram a informação e a produção do conhecimento, que oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem
não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD
em segundos. da Unicesumar se propõe a fazer.
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boas-vindas
Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino
Kátia Solange Coelho Fabrício Lazilha

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está conceitos teóricos em situação de realidade, de ma-
iniciando um processo de transformação, pois quando neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou pro- estes materiais têm como principal objetivo “provocar
fissional, nos transformamos e, consequentemente, uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
transformamos também a sociedade na qual estamos forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
inseridos. De que forma o fazemos? Criando opor- em busca dos conhecimentos necessários para a sua
tunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de formação pessoal e profissional.
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. mento e construção do conhecimento deve ser apenas
O Centro Universitário Cesumar mediante o geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou
durante todo este processo, pois conforme Freire seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual
(1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, as-
mação do mundo”. sista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além
Os materiais produzidos oferecem linguagem disso, lembre-se que existe uma equipe de professores
dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- e tutores que se encontra disponível para sanar suas
dagógica, contribuindo no processo educacional, dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
complementando sua formação profissional, desen- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e
volvendo competências e habilidades, e aplicando segurança sua trajetória acadêmica.
Cozinha Internacional

Apresentação do Livro

Professor Especialista
Hugo Leonardo de Castro Alves

Caro(a) aluno(a), prepare suas malas! Neste livro, você viajará, apreciará e conhecerá as
principais cozinhas do nosso planeta, aprendendo um pouco sobre cada civilização, suas
influências e a relação dela com o alimento.
A gastronomia ultrapassa o conceito de alimentação, por ela é possível compreender os
preceitos culturais e como uma civilização se relaciona com os recursos disponíveis. Nosso
aprofundamento será nas particularidades culinárias, religiosa e nos hábitos alimentares
dos principais países de cada continente, conhecendo os principais elementos que tor-
naram pratos simples do cotidiano de um povo ícones da gastronomia mundial. Como
o livro é denso e trará muitas informações, vou dividir o estudo de forma continental.
Posteriormente, abordaremos as cozinhas de cada continente. O primeiro será o
Americano, a gastronomia é bem diversificada, devido à pluralidade de povos, climas e
vegetações, que acabam levando à mesa pratos saborosos e coloridos. De todas as gastro-
nomias, não abordaremos a culinária brasileira, pois essa terá uma disciplina exclusiva.
Após isso, viajaremos para o outro lado do globo, para conhecer a exótica culinária
asiática e do oriente médio, conhecer os principais métodos e utensílios utilizados no
preparo de alimentos. Aqui, a diversidade cultural é gigante e os povos são influenciados
fortemente pela religião e pela economia. Por exemplo, os japoneses, por morarem em
uma pequena ilha, têm peixe e frutos do mar em seus principais pratos; os indianos,
devido à religião, não consomem carne, tornando os pratos vegetarianos sua marca.
Nossa viagem continua no velho mundo. A gastronomia europeia é fascinante,
tornou-se conhecida por sua pluridade, requinte e simplicidade. Aqui, você conhecerá
as principais gastronomias do continente, só não abordaremos a culinária francesa e
italiana, pois cada uma terá uma disciplina exclusiva.
Finalizaremos nossa viagem no braço da mãe África, onde os pratos são fortes e
substanciosos, com preparo simples. Então, caro(a) aluno(a), prepare-se para a viagem
pelo universo da gastronomia internacional.
UNIDADE 1

SUMÁRIO O Que é Gastronomia


Internacional e a Cozinha
das Américas
13 Ae sua
Cozinha Internacional
Evolução

21 Aspectos Históricos e Característicos


da Gastronomia dos principais
Países da América do Sul

29 Aspectos Históricos e Característicos


da Gastronomia dos principais Países
da América Central e do Norte

UNIDADE 2

Entre sabores, cores e


aromas da Cozinha Asiática
e do Oriente Médio.
45 Referência de Gastronomia
Oriental: Cozinha da China e Japão

57 Gastronomia das Fragrâncias:


Cozinha da Índia e Tailândia

67 Gastronomia do Oriente Médio


Cozinha da Líbia, Síria e Egito

UNIDADE 3

Cozinhas da Europa e
Africana: A influência na
Gastronomia Mundial
81 Gastronomia Europeia: Cozinha
da Alemanha e Espanha

95 Gastronomia Europeia: Cozinha


de Portugal e Europa Oriental

105 Gastronomia Africana: a influência


cultural em outros povos
Legendas de
Ícones

dica do chef habilidades mão na massa saiba mais

fatos e dados minicaso reflita recapitulando

Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar
sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade
prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos.
Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de
determinado conteúdo. . Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando principais conceitos.
Saiba mais: Informações adicionais ao conteúdo.
O Que é Gastronomia Internacional
e a Cozinha das Américas
HUGO LEONARDO DE CASTRO ALVES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• A cozinha internacional e sua evolução


• Aspectos históricos e característicos da gastronomia dos principais
países da América do Sul
• Aspectos históricos e característicos da gastronomia dos principais
países da América Central e do Norte

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os aspectos relacionados à palavra internacional na
gastronomia e à evolução das cozinhas internacionais pelo mundo, bem
como as regiões gastronômicas do continente americano e sua impor-
tância para a gastronomia internacional.
• Entender os aspectos característicos e históricos dos principais países,
exceto o Brasil, que formam o continente americano.
• Conhecer a gastronomia típica e suas influências, as preparações que
marcaram a culinária local.
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Introdução
Já estão de malas prontas? Nossa viagem pelo mundo gastronômico começa agora. Para que não
se perca pelo caminho, é importante entender que a gastronomia é uma expressão cultural de
uma civilização, sendo assim, é viva e altera-se no tempo, um exemplo é a influência de outras
culturas e do processo de colonização; a chegada de novos hábitos e costumes trazidos de outras
civilizações, com o tempo, acaba sendo imprimida, incorporada e adaptada aos costumes, às
crenças religiosas dos colonizados.
Independente das características de cada região, a gastronomia internacional foi impactada
por três escolas. No primórdio, a preocupação era em caráter quantitativo, dando aos pratos
um aspecto mais rústico e simples; esse período é conhecido como Cozinha Clássica. Com o
passar do tempo e o surgimento de novas tecnologias, tornou-se possível a utilização de novos
alimentos, mais leves e frescos, dando origem a cozinha Mincer, que, posteriormente, se tornou
a famosa Nouvelle Cuisine, em que o tempo e as porções de alimentos são menores, entretanto
há um refino na apresentação dos pratos. A globalização e a troca de informação e de produtos
com maior facilidade tornaram possível a Fusion Food, em que os clássicos da culinária inter-
nacional são apropriados e adaptados à cultura e aos recursos de uma região.
Finalizaremos nossos estudos da unidade conhecendo a gastronomia das Américas, para
facilitar o estudo, utilizei a subcontinental (norte, centro e sul). Começaremos pela gastrono-
mia do Sulista. A pluralidade de povos, climas e vegetações acabou dispondo pratos saborosos
e coloridos. Nesta unidade, você conhecerá, de forma sucinta, as principais gastronomias, com
um destaque especial para as carnes argentinas e a culinária litorânea do Peru.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 13

A Cozinha Internacional
e sua Evolução

Olá, caro(a) aluno(a), vamos iniciar, agora, nossos estudos sobre


gastronomia internacional. Para isso, antes de estudarmos sobre
as cozinhas, precisamos compreender o fato social da gastronomia
de um povo. Para Santo Agostinho, filósofo medieval, todos nós
vivemos do passado, haja vista que o presente se torna passado
imediatamente e o futuro também, mas isso não garante que não
ocorram mudanças.
É importante que você tenha conhecimento disso para entender
que a gastronomia de um povo está em eterna evolução, sendo
sempre influenciada, e a consequência disso são novos pratos e
tendências
Cozinha Internacional

Agora, é necessário que você compreenda a eti- Indo para os pressupostos históricos, desde os pri-
mologia da palavra INTERNACIONAL. Segundo mórdios da humanidade, a obtenção de comida é
o dicionário Michaelis (2009), internacional é uma necessidade e, inicialmente, o homem só con-
tudo aquilo que é relativo às representações de sumia produtos nascidos e regionais. Com o passar
diferentes nações. do tempo, a humanidade aprendeu a domesticar
Ao pesquisar sobre algumas cozinhas in- plantas e desenvolveu técnicas de conservação,
ternacionais, com o intuito da criação de um tornando possível o transporte da comida. A isso
menu ou mesmo de um restaurante étnico, é foi dado o nome de Revolução Agrícola, marco de
importante que faça uma reflexão histórica e passagem da pré-história à história.
cultural daquela civilização, pois a cozinha de O segundo marco social que influenciou a
cada país é um elemento cultural da sociedade, gastronomia foi a expansão europeia. As nave-
sendo assim, é influenciada pelo meio, como: gações portuguesas e espanholas, a cada viagem
geografia, religião e cultura geral. de desbravamento ou colonização, voltavam

A cozinha internacional é um tipo de com novas técnicas e ingredientes que outras


cozinha que facilita a alimentação dos civilizações utilizavam.
viajantes, turistas ou não, porque sabem Vamos avançar mais no tempo, vindo para
que nela poderão encontrar pratos de
o fim do século passado e começo deste século,
sabor que eles conhecem bem. Nela
todos os bifes se parecem e todas as o que de novo aconteceu no mundo da gastro-
sopas de confundem nos por menores de nomia? O primeiro ponto foi que a indústria de
seus ingredientes. Isso acaba facilitando
alimentos tornou seus produtos mais acessíveis
a comunicação e a compreensão entre os
povos, fazendo a cozinha internacional e, dentro dos lares, a praticidade é o principal
ser muito bem aceita pela maioria das de uma alimentação.
pessoas (MACEDO, 2006, p. 55). Os produtos estão prontos e foram sendo
Dessa maneira, pode-se optar simplesmente esquecidos ou deixados de lado, ou a gastronomia
por influência de alguma cultura ou região sobre se reinventou e surpreendeu a todos novamente?
ingredientes, preparações escolhidas ou mesmo O que fica explicada é a diferença entre o am-
focar em pratos tradicionais do local escolhido. biente de casa, em que consumir os produtos
O mais importante é manter a mente aberta industrializados prontos ou de fácil preparação
para descobertas inusitadas e exóticas. ganhou mais adeptos, e o que aconteceu com os
A gastronomia é uma área do conhecimento restaurantes profissionais. A partir da década de
humano que tem por função o estudo, a conser- 1970, podemos dizer que três importantes pontos
vação e a apresentação dos alimentos. aconteceram, os quais descreveremos a seguir.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 15

Cozinha Clássica
As principais receitas dessa cozinha são basea- época. Chamado de Marie-Antoine Carême,
das na alimentação medieval na Europa; a cozi- mais conhecido como Antoine Carême, o rei
nha clássica tem na composição de suas receitas dos chefs de cozinha. Macedo (2006, p.52)
principalmente gorduras, açúcares e farinhas. completa.
Primordialmente, as porções dessa cozinha eram O maior cozinheiro de todos os tempos
maiores e a preocupação era nutritiva. foi Marie-Antoine Carême. Ele causou
Após o período medieval na Europa, o que verdadeiro impacto na cozinha, tendo
enfatizado três questões importantes:
marcou a cozinha clássica foi a chegada da ali-
delicadeza, ordem e economia. Carême
mentação na idade contemporânea, com isso a e renovador da arte culinária, tendo
gastronomia francesa ganha características da servido importantes figuras como, por
exemplo, os imperadores da Rússia e da
cozinha clássica italiana, por esse motivo é que,
Austrália e o rei da Inglaterra (...). Devido
quando falamos de cozinha clássica, sempre a sua paixão pelos bolos arquitetados de
teremos França e Itália como protagonistas. forma monumental, Carême dizia que as
Essas características da cozinha italiana belas-artes eram cinco: pinturas, poesia,
música, escultura e arquitetura, incluin-
conquistaram Napoleão Bonaparte, o impera-
do aí a pastelaria.
dor francês, pois sua preferência era por pratos
tradicionais, sem muitas especiarias e com Uma das especialidades e paixão de Carême
praticamente nenhuma sofisticação. Napoleão na cozinha foi a sopa, ele afirmava que toda a
achava perda de tempo a degustação por igua- refeição deveria começar com uma bela sopa.
rias e pratos sofisticados. Observe a opinião Por coincidência, Carême foi o primeiro a usar
de Napoleão. a nomenclatura nouvelle cuisine, que mais tarde

(...) quero que a cozinha seja simples, seria utilizada por todos na gastronomia a partir
não gosto de cozinheiros muito espiri- do século XX.
tuosos; um bom refogado à genovesa,
Carême cresceu numa época em que a
arroz com carneiro à moda milanesa
sopa era a comida saudável da moda, e
e talharins à Corsa valem mais para
mais tarde, durante a vida, sempre foi
mim do que toda as maravilhas da
categórico em afirmar que toda a refeição
arte de Beuvilliers (proprietário do
deveria começar com uma sopa. Para ele,
primeiro restaurante de luxo em Paris) essa era uma questão tanto de filosofia e
(MACEDO, 2006, p.50). de medicina quanto de culinária (...) ele
chamou seus menus que tinham a sopa
No entanto a maior personalidade da gastro- como base da nouvelle cuisine (KELLY,
nomia de todos os tempos apareceu nessa 2005, p. 37).
Cozinha Internacional

Nouvelle Cuisine
No início dos anos 70, o chefe Michel Guerárd
revolucionou a gastronomia criando a cozinha
Mincer, à base de molhos magros, feito de caldos
Não deixe de revisitar sempre a disciplina
concentrados, utilizando ingredientes frescos e de Cozinha Clássica, para utilizá-la como
de melhor qualidade, com legumes “al dente”. complemento de estudo para o conteúdo
desta tão importante disciplina.
Em seguida, chefs conceituados no cenário gas-
tronômico, como o famoso Paul Bocuse e os
irmãos Troigros, executavam em seus restauran-
tes preparações mais leves, frescas, em peque-
nas porções e, ainda, com sabores marcantes, Fusion Food
mas harmoniosos entre os ingredientes. Outra Existem relatos que indicam que esse conceito
característica dessa cozinha é o requinte na de- surgiu em Nova Iorque, trazido pelos chefes
coração dos pratos. Posso citar como exemplo franceses, pois, nos EUA, os trabalhadores da
os clássicos da gastronomia francesa, o Boeuf cozinha foram se profissionalizando e transfor-
Bourguignon, com mais leveza, o Cassoulet, mando a gastronomia da época.
tendo uma quantidade menor de gordura em A ideia da fusion food é trabalhar os pratos
sua composição, porém sem perder a identidade tradicionais e repaginá-los, misturando as formas
do prato original. de preparo criadas na França, China, Japão ou
Itália com insumos cultivados na região, man-
tendo a qualidade superior.

Um dos irmãos Troigros, o Claude Troigros,


veio para o Brasil, especificamente no
Rio de Janeiro, e trouxe as técnicas da
Nouvelle Cuisine adaptada para os ingre-
dientes locais.

Fonte: Figueira (online).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 17

Gastronomia
Internacional Contemporânea
Atualmente, a cozinha espanhola começou a sendo inovador, o chefe tem uma rotina ali-
ganhar destaque no cenário mundial da gas- mentar muito simples, como qualquer campo-
tronomia, sendo vista como a nova tendência nês espanhol, à base de frutos do mar e arroz,
da gastronomia mundial; para conhecê-la, é mostrando que a real comida não é sempre que
importante conhecer os principais ícones da se perpetua.
gastronomia atual. O Chefe Santi Santamaria é conhecido pelas
Começemos em 1961, com o chefe da co- três estrelas Michelin que conquistou para o
zinha do hotel Porca, Josep Mercader, que re- restaurante Can Fabes, em Sant Celoni. Ele con-
solveu incluir em seu cardápio pratos simples firma a ideia de Adrià e acredita que o cozinheiro
e da Cataluña com recriações originais, como não deve cozinhar o que gosta de comer, e sim
um Ratatoulle à base de molho de assados ou o que é interessante para seu cliente, fazendo
o creme catalão, que utiliza a mesma técnica do o que esse gosta de comer.
creme Brulée, mas com sorvete. Outro chefe
reconhecido é Ramon Cabal, que inaugura o
restaurante Agut d´ Avignon com objetivo de
recriar pratos clássicos com ingredientes sazo-
nais, e acabou cometendo suicídio alguns meses
após vender seu restaurante.
Já em Barcelona, o restaurante Sant Feliu,
dirigido pelo chefe catalão Lluis Cruanyes, tem
o intuito de criar pratos que despertam os sabo-
res regionais. A rotina do Restaurante é princi-
palmente direcionada para testes e pesquisas,
sendo que ele abre para o público somente na
alta temporada, primavera-verão, os outros seis
meses são dedicados à pesquisa de novas téc-
nicas e ingredientes para um novo cardápio.
O restaurante El Bulli, dirigido pelo chefe
Ferran Adrià, ficou conhecido pelos seus pratos
reconstruídos com novos ingredientes; mesmo
Cozinha Internacional

A
gastronomia contemporânea
mantém a tradição juntamente com
a evolução; para escrever o novo,
não devemos nos esquecer do pas-
sado. A partir dessas definições, é possível ter
um olhar diferente para as variadas cozinhas
existentes no planeta. Para melhor compreen-
são, as cozinhas, neste livro, foram divididas da
seguinte forma:

Américas:
Olhando por uma ótica mais atual das cozi-
nhas do Chile, Argentina e Peru, México, Caribe,
E.U.A e Canadá.

Ásia e Oriente médio:


Cozinha Oriental e do Oriente médio, focada nos
principais países e em suas técnicas culinárias.

Europa e África:
Do continente europeu e africano, falaremos
dos países em maior evidência na gastronomia,
exceto França e Itália, que já foram tratadas em
uma disciplina separada.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 19

O Guia Michelin surgiu em 1900 com


um apanhado de informações úteis para
ajudar os motoristas em viagem com um
compilado de indicações de onde fazer
manutenção do veículo e sugestões de
lugares para ficar e comer. Atualmente,
categoriza, com estrelas, os principais
restaurantes e hotéis de 20 países. Uma
estrela significa que ele é muito bom con-
forme seus indicadores. Duas estrelas re-
presenta uma cozinha excelente e uma
adega excepcional. E o ápice, dentro da
classificação, são as três estrelas; são pou-
quíssimos restaurantes que conseguem
esse feito, no mundo, atualmente, temos
pouco mais de 80.

Fonte: Grizzo (2010, online).


Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 21

Aspectos Históricos e
Característicos da
Gastronomia dos
principais Países da
América do Sul

O continente americano tem uma ampla extensão territorial no


sentido Norte-Sul. Além disso, tem diversos relevos, climas e ci-
vilizações. Isso tudo acabou proporcionando uma diversidade
cultural e geográfica. Podemos dividi-lo de forma geográfica em três
partes distintas: América do Sul, Central e do Norte. Ou, também,
podemos optar por uma divisão cultural, separando em América
Ibérica, colonizada pelos portugueses e espanhóis, e Anglo Saxônica
(Inglaterra, principalmente).
Cozinha Internacional

A gastronomia do México e do Peru marca


a tendência gastronômica do momento,
pratos como ceviche, pozoles e tiraditos
invadem os menus sofisticados e dentro
dos Fast Food começam a surgir arepas,
tacos e tamales.
E os ingredientes latinos que estão mar-
cantes no momento são: quinoa, yuca,
abacate, pimentas, camu cau, maracujá
e cacau.
Alguns projetos começam a surgir para
inovar a gastronomia internacional, como o
do chefe Andoni Luis Aduriz, um dos cozi- Os colonizadores trouxeram influências religio-
nheiros mais influentes do momento, que sas, alimentares e algumas novas técnicas, mas é a
tem um novo restaurante voltado para os
população originária do local quem mais influen-
sabores latinos.
Outro projeto que surgiu com essa tendên- cia as tradições. A união das culturas europeia e
cia é o restaurante Nikkei em Barcelona. africana, junto com as tradições nativo america-
O chefe Albert Adrià desenvolveu um
nas, enriqueceu ambas. Muitos ingredientes e
cardápio de fusão da cozinha peruana e
japonesa.
técnicas foram apresentados. Enquanto os na-
tivos brasileiros e africanos aprenderam com os
Fonte: Medina (2014, online).
europeus a técnica de fritura, novos ingredientes
foram introduzidos na culinária europeia.
A extensão territorial da América abrigou
Na parte histórica, a América do Sul tem pre- várias civilizações e a gastronomia de cada
dominância da colonização portuguesa e espa- região foi construída pelo choque cultural entre
nhola. Portugal colonizou a região que originou as civilizações nativas e seus colonizadores e
o Brasil e o restante foi de colonização espanho- imigrantes. Alguns pontos podem ser conside-
la, originando os países Paraguai, Argentina, rados comuns, como o milho e uma variedade
Uruguai, Chile, Venezuela, dentre outros. de pimentas na América do Sul.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 23

A grande maioria dos argentinos é de


descendente de italianos, espanhois, e
outras nacionalidades européias. Quase
todos os povos indígenas nativos foram
exterminados durante a colonização, res-
Quando os europeus chegaram aqui e tando algumas comunidades ao norte e
provaram das especiarias locais, tudo nas zonas andinas (ADAS, 2011, p. 179).
que tinha gosto picante recebia o nome
de pimenta, por conta da semelhança com Na vegetação, predominam os pampas, assim
as famosas Pimentas-do-Reino.
como no Rio Grande do Sul, isso explica as
Fonte: Origem… (online). semelhanças culturais. Economicamente, os
argentinos são prestigiados pela sua pecuária.
As carnes de gado, suína e caprina têm padrão
de qualidade reconhecido mundialmente.
Abordaremos a culinária dos outros continen-
tes nas próximas unidades, mas é importante
que saiba que também influenciamos a gas-
tronomia dos países europeus, apresentando
muitos ingredientes e sabores, como tomate,
milho, batata, cacau, além de diversas frutas.
Agora, com esse contexto histórico e cultural,
serão explicadas as cozinhas de mais destaque
na América do Sul.

Cozinha da Argentina
Nossos rivais no futebol tiveram sua coloni-
zação dos italianos, espanhóis, franceses e
judeus do centro e leste da Europa, por isso,
sua gastronomia é bem distinta do resto da
América. Suas tradições vêm dos índios guara-
ni, nativos da região, com novos ingredientes
e técnicas.
Cozinha Internacional

Quando a carne parece estar pronta, ras-


Quando falamos da cultura argentina, o ponto pam-se as partes queimadas com uma
alto é a gastronomia. A cozinha tem como in- faca. Em outras regiões do país, assa-se
gredientes os peixes: traira e dourado, vegetais na grelha tradicional, instalada em um
local construído com esse objetivo, e
como: abóbora, mandioca, milho, feijões e bata- regulada para que se possa alcançar
tas e algumas carnes vermelhas e de caça, como várias alturas. Outra divergência diz
boi, porco, cabra, coelho, veado, javali, lhama e respeito à origem das brasas: alguns
preferem lenha, outros o carvão ve-
cuy (porquinho da índia).
getal, apesar de um certo predomínio
Quando falamos em técnicas, a mais uti- da primeira. Também se assa na grade
lizada, para assar, é churrasco fogo de chão e, ou em cruz, um sistema que se baseia
para conservação, é salga. numa estrutura metálica em forma de
cruz, que serve de suporte para o cor-
deiro inteiro – aberto ao meio, com as
patas estendidas – ou para uma peça
de boi. A cruz é espetada no chão, ligei-
ramente inclinada para frente, diante
de um copioso leito de brasa ou de um
fogo suave, que é sempre renovado
(MEDINA, 2006, p. 10).
Assista com atenção à aula conceitual
sobre a cozinha típica da Argentina, em que
o chef-professor irá preparar um Bife Ancho Outro emblema da gastronomia argentina são
e ensinar as técnicas de manipulação e suas sobremesas, em sua maioria, utilizam
cocção correta desse corte característico! doce de leite, as mais populares são Alfajor e
Mazamorra.
Uma das influências dos imigrantes espa-
nhóis na culinária são as empanadas com uma
Diz-se que o churrasco não é originário
massa simples de farinha e recheio de carne.
da Argentina, mas sim dos pampas bra-
sileiros. Pode ser, mas não é certo, por Finalizo falando que as bebidas tradicionais são
que ambos os países desenvolveram as o mate e o vinho.
suas próprias fórmulas. Entre o rodízio e Por todas essas influências, a mistura de
a grelha crioula interpõe-se um mundo.
ideias, de costumes e a combinação de cozinhas
Os argentinos têm diferentes técnicas de
assado. A técnica tradicional do Pampa fazem com que a gastronomia Argentina ganhe
coloca brasa sobre o chão, o ar livre e a o título de cozinha mais europeia da América
grelha diretamente apoiada sobre elas. do sul.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 25

A Cozinha do Chile
Banhado pelo oceano pacífico e com um relevo
acidentado, montanhoso e vulcânico, o Chile
tem peculiaridades culturais e econômicas.
As Montanhas possuem terra fértil, pos-
sibilitando plantio principalmente de uva,
cana-de-açúcar, maçã, trigo, milho e uma va-
riedade de batatas.
Quando falamos de pecuária, esta é simples e
limitada, desenvolvida basicamente em planícies
costeiras, o que dificulta o confinamento e a engorda
dos rebanhos de gado bovino, ovino; em contrapar-
tida, a sua grande extensão marítima possibilita
uma pesca pesada para consumo e exportação.

O Peru e Chile têm seus litorais banhados A Cozinha do Peru


pelas águas do Oceano pacífico que sofrem O Peru é um país surpreendente em todos os
a influência da corrente de Humboldt. aspectos. Com um ecossistema plural e uma
Essa corrente traz o plâncton, que serve
pré-civilização consistente, os costumes sur-
de alimento para outros animais, isso atrai
e torna essas áreas do Oceano pacífico preendem e apaixonam.
altamente pescosas (ADAS, 2011, p. 208). Em termos Geográficos, o país é diverso,
com montanhas, florestas tropicais e desertos.
As bebidas mais consumidas são vinhos e Basicamente, a agricultura é desenvolvida nas
chás e um prato típico chileno é Porotos planícies costeiras, com uma enorme varieda-
Granados, um guisado com abóbora, feijão, de de batatas, algo próximo de 800 espécies,
arando, milho e tomate, algo bem tradicio- além de milho, amendoim, arroz, batata-doce
nal e admirado por habitantes e pelos turis- e banana da terra.
tas. A gastronomia chilena surgiu de uma A cultura dos peruanos é baseada nas
grande miscigenação das culturas árabes, tradições incas, enriquecida com as influ-
britânicas, indianas, italianas e espanholas, ências vindas dos imigrantes espanhóis e
as últimas influenciaram nos hábitos do uso asiáticos, sendo que o último trouxe técnicas
de tempero com alho e cebola e o consumo de preparo de peixes e frutos do mar. Essa in-
de carne de frango e carne suína. fluência fica clara no conhecido Ceviche, um
Cozinha Internacional

prato da gastronomia peruana que, devido Demais países


à gastronomia de fusão, vem se adaptan- Os outros países que compõem a América do Sul
do à cultura mundial e sendo apreciado no não têm grande expressão em termos de gastro-
mundo inteiro. nomia, no entanto, produzem alguns produtos

Entre os produtos mais genuínos, o importantes para o continente americano.


primeiro é o ají. Nós chamamos de pi- • Uruguai: reconhecido internacionalmen-
mentões e o distinguimos de malague- te pela produção de bovino, o país cria
tas, mas no Peru, o nome abrange uma
seu gado em planícies, dando uma textu-
família que se entende por variedade
doce e picante, pequenas e grandes, o ra e sabor. Um prato que merece destaque
ají panca, o mirasol, o rocoto, o ají colo- é a Parrilla, um sistema de grelhas fixas
rido etc, presentes na grande maioria
ou móveis parecido com nossas chur-
dos ensopados tradicionais do país. O ají
reina desde o Ceviche à sopa de frutos rasqueiras, a diferença é que na parrilla
do mar (parihuela), passando pelo arroz são utilizadas somente brasas para assar.
com marisco ou pelo peixe (à macho) • Colômbia: com recursos naturais abun-
(MEDINA, 2006, p. 09).
dantes e agricultura forte, a Colômbia
produz café e cacau de renome interna-
Uma das bebidas mais populares no Peru é a cional. Quando pensamos na cozinha,
chicha, um tipo de bebida fermentada, como a os ingredientes base são milho, banana
cerveja, preparada à base de milho e feita pelas verde e coco. Um prato clássico são as
mulheres andinas. Também tem o pisco, uma Arepas, uma tortilha grossa à base de
aguardente de uva muito apreciada e utilizada milho.
no drink, chamada de pisco sour, que utiliza • Equador: conhecido mundialmente pela
clara de ovo e licor pisco. sua produção de Jerked Beed, aqui, no

Cuzco é a capital do Império inca, na Brasil, é conhecido como carne seca ou


língua quichua significa “umbigo”, pois, charque. A culinária do Equador é bem
para os incas, essa cidade estava no distinta, como o arroz com abacate, e
centro do mundo. Nessa região vive cerca
uma curiosidade é que a culinária a bei-
de 50% da população peruana, a maioria
indígenas, que praticam a agricultura de ra-mar é bem distinta da litorânea.
subsistência (batata e cereais), a criação • Paraguai: com agricultura de subsistên-
de lhamas, alpacas, ovinos e bovinos e se
cia, concentrada em batata, feijão e man-
dedicam ao trabalho nas minas de cobre,
prata, ouro, zinco, chumbo etc. (ADAS, dioca, tem forte influência indígena e
2011, p. 216). espanhola. Seus pratos usam geralmente
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 27

milho. Um dos pratos mais conhecidos é


a sopa paraguaia, uma mistura de fubá,
ovo cozido, cebola e leite.
• Bolívia: como o Paraguai, sua agricultura
é de subsistência, produzindo principal-
mente cevada, batata e trigo. Quando
falamos da cozinha, os principais ingre-
dientes são o milho, a batata e a pimen-
ta Ají, amendoim, mandioca e arroz, os
pratos típicos distinguem-se de acordo
com a região.
• Venezuela: a cozinha venezuelana é
uma fusão entre as tradições indígenas
e o legado colonial. A culinária é bem
regional, tendo o milho como ingredien-
te base. O Hayaca, uma trouxa feita de
carne e farinha de milho, é um dos pratos
típicos da Venezuela.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 29

Aspectos Históricos e
Característicos da
Gastronomia dos
principais Países da
América Central e
do Norte

A Cozinha do México
Os mexicanos possuem uma gastronomia muito rica, com diferen-
tes pratos, doces e bebidas tradicionais, distintos para cada região
e povoado. Mas, no geral, a base da cozinha mexicana sustenta-se
de milho, feijão e chilli.
As populações indígenas dessa região, principalmente dos
Astecas, cultivavam cacau, baunilha, agave, milho, feijão, abacate,
abacaxi, tomate, chilli, coentro, folha de abacateiro e orégano; esses
eram os ingredientes base de sua dieta.
Cozinha Internacional

A chegada dos colonizadores espanhóis incorporou A região norte é a principal produtora de carne
novos ingredientes, como arroz, canela, azeitona, próxima à fronteira norte e os cortes feitos são
porco, frango, cebola e grão de bico e os queijos. ao estilo norte-americano. Quando falamos
Mas, na dieta mexicana, os defumados e o de gastronomia, ali foram criados os pratos
alho são consumidos diariamente e as tortilhas, fajitas e enchiladas, utilizando ingredientes
de trigo ou milho, são primordiais para os princi- peculiares, como cactos, insetos e animais
pais pratos desse país. Quase como um processo de caça.
de produção artesanal, tão antigas quanto o país, O território mexicano é pouco favo-
uma boa tortilha precisa de grãos de milhos bem rável à agropecuária. A presença de
cozidos, para que sejam triturados e amassados montanhas e de clima árido e semi-
árido reduz a possibilidade de áreas
até formarem uma pasta consistente. Em segui-
cultiváveis. Ainda assim esse setor em-
da, essa pasta é modelada e colocada sobre uma prega cerca de 20% da PEA (população
chapa quente para assar e dourar. economicamente ativa) do país. Cerca
de 40% do territorio é ocupado pela
Depois de prontas, essas delícias mexicanas
pecuária, voltada principalmente para
são utilizadas de várias formas – como frias, a criação de gado bovino e praticada
quentes, fritas ou tostadas. O recheio delas pode no centro-norte do país (ADAS, 2011,
ser carnes, feijões ou guacamole (um tradicional p. 169).

creme à base de abacate).


As zonas mais férteis produzem o tomate, Já na região central do país está localizada a
o pequeno tomate verde, a abóbora, da Cidade do México, onde se concentra a maior
qual se aproveitam a polpa, as sementes
parte da população e movimenta a economia
(que moídas constituem um apreciado
tempero) e a flor considerada deliciosa ou do país.
os nopal (figueira da índia), que propor- A conservação da carne utiliza técnica de
cionam os nopalitos (ramos carnudos da
salga que garante ótimos pedaços de carne seca.
planta) e o fruto, o figo da índia. Também
se destacam uma imensa variedade de pi- Por fim, ao sul, tem costa litorânea intensa, o
mentões e pimentas que povoam a cozinha que permite alguns molhos crus e apimentados,
mexicana. Os aromas de coentro, epazote,
achiote ou de absinto flutuam sobre os
à base de tomates, peixes e frutos do mar. Nessa
fogões mexicanos. Não nos esqueçamos região, é perceptível uma influência europeia,
do orégano, imprescindível na cozinha de por utilizarem ingredientes típicos do medi-
guerrero, ou da manjerona. Os feijões cons-
tituem outro ponto de união entre todas as terrâneo, como azeite, alcaparras, azeitonas e
cozinhas do país (MEDINA, 2006, p. 10). jalapeños.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 31

distinção no preparo entre as ilhas. Os ingre-


dientes base da culinária são arroz, feijão, frutas
tropicais, milho e coentro.

O clima do México em sua maioria é tropi- A economia dos países da América cen-
cal árido e não tem abundância aquifera. tral continental tem por base a agrope-
Toda a água consumida no país é extraída cuária, com destaque para a produção
de seis mil poços perfurados. de café, banana, açúcar, algodão, frutas
tropicais e carne. O principal parceiro co-
Fonte: Adas (2011, p. 166). mercial são os Estados Unidos, recebem
em média 50% das exportações desses
países (ADAS, 2011 p. 254).

Dentre as ilhas do Caribe, a culinária mais


As bebidas são baseadas em ervas e plantas em expressiva é a cubana, conhecida também como
que se destilam diferentes licores, dentre eles, cozinha crioula, ela é baseada nas tradições dos
a mais conhecida no mundo é a Tequila, obtida colonizadores espanhóis, com influência dos
a partir da fermentação e destilação do suco de escravo africanos, aborígenes da ilha e chineses,
agave azul; outra bebida também produzida que migraram para trabalhar nas lavouras em
dessa planta é o mezcal, conhecida por ser mais 1942.
rústica e com destilação simples; para garantir Apesar de a cozinha cubana acolher
o seu teor alcoólico, um verme proveniente da tanta influência, [...] ela também tem
planta é colocado junto à bebida. suas preferências. Para começar, perce-
be-se uma absoluta devoção à carne de
porco, que vem sempre acompanhada de
A Cozinha do Caribe arroz, feijões e uma longa lista de pro-
Segundo o CIA (2009), a gastronomia caribenha dutos “imprescindíveis”, sem os quais o
porco, o arroz e os feijões perderiam a
é constituída de influências dos povos nativos,
graça (MEDINA, 2006, p. 10).
provenientes do Peru, e dos colonizadores es-
panhóis, franceses, ingleses e holandeses, além Os pratos da gastronomia cubana vêm sempre
dos portugueses, irlandeses, chineses e india- acompanhados de arroz branco, sempre muito
nos que trouxeram seus hábitos mais tarde, nutritivos, tendo cozidos e ensopados como
quando foram instaladas indústrias cafeeira, base. Uma das características é que não existe
açucareira e tabacal. etapa na refeição, como nos jantares europeus
Por ser um aglomerado de ilhas, a culiná- na cozinha caribenha é sempre oferecido um
ria é baseada em peixes e frutos do mar, tendo prato farto e nutritivo.
Cozinha Internacional

E, quando falamos de bebida, Caribe é referência Mas, como falei no começo, a gastronomia
no mundo na produção de rum, uma bebida estadunidense é regional e tem hábitos alimen-
fermentada à base de canas frescas trituradas tares dos países de origem e condições geoclimá-
e de seu melado. ticas específicas de cada região dos EUA.
Já os hábitos alimentares de cada região
A Cozinha dos Estados Unidos foram diferenciados conforme adaptações dos
A culinária dos EUA nunca poderia ser definida imigrantes, além das influências geoclimáticas
como única, sua civilização foi estabelecida pela de cada local.
fusão das distintas tribos nativas e os coloniza- Os Estados Unidos são o país que tem
dores de vários grupos sociais, políticos e religio- a mais extensa superfície cultivada,
sos. Essas várias influências culturais criaram com lavouras que ocupam aproximada-
mente 21% do território (no Brasil as
uma gastronomia não homogênea, sendo um
lavouras ocupavam apenas 9% da área
conjunto de culinárias mundiais, influenciado total do país em 2006). Isso somado à
pelos hábitos dos nativos americanos. Os três porcentagem de áreas ocupadas pelas
pastagens (21% do território), permite
ingredientes principais, em todo o país, são
afirmar que as atividades agropecuárias
milho, feijão e abóbora. ocupam quase a metade do território
Os principais imigrantes que influencia- desse país (no Brasil, a agricultura e a
ram a gastronomia estadunidense foram os pecuária ocupam juntas, 30% da área
total) (ADAS, 2011, p 124).
italianos, que vieram, no início do século XIX,
trazendo pratos como pastas, pizzas, ossobu- Quando falamos de carnes, as mais consumi-
co e minestrone. Outro grupo imigrante forte das são bovina, suína com cortes bem especí-
são os trabalhadores chineses, que vieram para ficos. Para assar, a principal técnica utilizada é
construção das ferrovias; eles, por opção ou o churrasco, usando a técnica dos nativos para
obrigação, viviam em guetos americanos. Foi tempero, com especiarias secas e líquidas.
somente nas últimas décadas que alguns pratos Fazer churrasco envolve usar um tempe-
e técnicas foram inclusos na mesa com sabores ro líquido ou seco, aplicado a um pedaço
de carne antes que essa seja assada len-
agridoce, salgado e picante. Não existe nenhum
tamente sobre uma cova em que há um
registro de pratos criados pelos imigrantes chi- fogo aberto. No Sudoeste, utiliza-se so-
neses, porém existem relatos de que o arroz bretudo o porco, mas as carnes de boi,
de frango e de caça também são boas
Chop Suey é uma receita criada nos Estados
para isso. Os temperos líquidos e secos
Unidos, por um cozinheiro chinês que traba- variam de casa para casa, de restau-
lhava nas ferrovias. rante para restaurante de pessoas para
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 33

pessoas, alguns exemplos de ingredien-


tes para temperar a seco são: sal, açúcar, No oeste, a última região a ser colonizada, onde os
páprica, alho, pimenta do reino, cebola colonizadores utilizaram para cocção as lareiras,
e ervas, enquanto os ingredientes para as refeições eram sempre robustas e somente um
um tempero líquido poderiam incluir
óleo, ervas, especiarias, vinagre, vinho,
prato. Em linhas gerais, a gastronomia utiliza in-
suco de frutas cítricas e purê de tomate gredientes energéticos e a principal técnica utiliza-
(IAC, 2009, p. 63). da é a defumação. Os principais pratos são queijos,
liguiças e peixe defumado. Uma das cozinhas com
A região nordeste foi colonizada por ingleses, maior destaque é a californiana, com produtos
escoceses e irlandeses, com inverno rigoroso e frescos e utilização de alimentos da época. Isso
com áreas de plantio reduzidas, acabou desen- acaba não tradicionalizando nenhum prato, tudo
volvendo uma culinária robusta e simplistas. é desenvolvido conforme a sazonalidade dos pro-
As técnicas mais utilizadas para conservação dutos locais. Mas, mesmo sem tradição gastro-
de carne é salga e defumação, um dos pratos nômica, aquela região não permitiu a entrada da
típicos é corned beef, uma carne salgada e, culinária europeia, provando seu espírito patriota.
posteriormente, fervida lentamente em vi- Outras regiões mais afastadas possuem suas
nagre. Mesmo com essas características, a regionalidades, como o Alaska, que, mesmo com
diversidade de povos dessa região acabou seu inverno rigoroso, possui áreas cultiváveis,
criando várias pequenas cozinhas, como a onde são plantados batata, repolho e frutas.
nova iorquina ou amish. A economia é basicamente vinda da indústria
Indo, agora, para região Sul, temos um clima pesqueira e a criação de gado e de outros animais
tropical com solo fértil, propício para agricultura de corte acontece em pequena escala.
abundante. Devido a condições históricas, colo- Outra região bem singular é o arquipélago
nização espanhola e coronelismo, a população é do Havaí, constituído por mais de 8 mil ilhas,
formada em grande parte pelos latinos, tendo foi colonizado por vários povos; os primeiros a
como ingredientes primordiais chilles, milho, chegarem, posteriormente, foram os ingleses,
batata doce, amendoim, carne suína e de caça, chineses, japoneses, coreanos, vietnamitas e tai-
além de peixes e frutos do mar. landeses. A principal técnicas de cocção é o stir-
A regionalidade aqui também predomina -fry, o cozimento no vapor, assado e grelhado.
nas técnicas. As cozinhas mais relevante são a Atualmente, alguns hábitos europeus foram
Cajun, influenciada pelos imigrantes franceses, e incorporados à gastronomia havaiana, devido à
a creoula, oriunda dos negros escravos da região, chegada dos chefes franceses para trabalharem
com pratos à base de arroz e de frutos do mar. em grandes hotéis e resorts da região.
A Cozinha dos Estados Unidos
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 35

F
inalizando a gastronomia americana,
precisamos falar da sua principal ex-
portação cultural, os fast-foods, lojas
de conveniência, snack bar, coquetéis, O que identifica a culinária Americana é a
sorvetes, enlatados, que são criações tipica- grande diversidade de origens. A mistura de
ingredientes e modos de cozer indígenas,
mente americanas que dominaram o mundo,
somados àqueles do fluxo constante de ex-
devido, principalmente, ao nosso estilo de vida, ploradores, conquistadores e imigrantes, fez
em que “tempo é dinheiro”, além do aprimo- com que se desenvolvesse uma culinária
que mostra as marcas de muitas culturas
ramento das técnicas de conservação dos ali-
mentos, que proporcionou o surgimento dessa Fonte: CIA (2009, p. 59).

nova cultura alimentar.


Cozinha Internacional

A Cozinha do Canadá

A cozinha Canadense não é muito conhecida e hortaliças nas sopas, das quais as mais fa-
e difundida fora de sua região, por não conter mosas são as de cebola e couve. O prato mais
muitos diferenciais gastronômicos. Entretanto típico é o tourtierre, pastel de batata e carne de
o país é rico em agricultura, com muitas zonas caça como perdiz, veado e coelho, usualmente
rurais atrativas para Gourmets, onde encon- preparado com carne de porco. Quando vamos
tram-se maravilhosos ingredientes, além de para Toronto, a cozinha já é mais temperada.
muitas especialidades da gastronomia regio- O salmão faz parte da cultura nacional e seu
nal, como os alimentos próprios dos nativos preparo e consumo são muito usuais no país.
locais, tais como a carne de alce, búfalo, veado, Podem-se reconhecer no Canadá, três
peixes, arroz selvagem e uma grande variedade regiões agrícolas: a região dos Grandes
Lagos, e do Vale do Rio São Lourenço, a
de bagas.
região das planícies centrais e a região da
Na região de Quebec, a cozinha tem influên- Columbia Britânica. Na região dos gran-
cias francesas e é caracterizada como uma cozi- des lagos e do vale do rio são lourenço,
nha mais equilibrada e suave, que trabalha mais a policultura (cereais, frutas, hortaliças
e beterraba açucareira) e a pecuária in-
com ingredientes regionais, como porco, aves tensiva (produção leiteira) abastecem o
e caça, e, também, faz a introdução de legumes mercado interno (ADAS, 2011 p. 150).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 37

considerações finais
N
esta unidade, entendemos um pouco mais sobre a concepção da
cozinha internacional e o caminho percorrido em sua evolução,
mostrando as diferentes transfomações marcadas por mudanças
de identidades na forma de escolher e preparar os alimentos.
Vivenciamos, com a chegada dos exploradores e imigrantes, a evolução comer-
cial trazida pelas embarcações, depois, pelos chefs franceses, com a utilização
de menos gordura, menos açúcar e mais sabor, e a exportação de chefs profis-
sionais franceses por várias partes do mundo, até a cozinha contemporânea
elaborada pelos chefs espanhóis e outros chefs ao redor do planeta.
Aprofundamos um pouco mais nossos conhecimentos sobre os países
que compõem as Américas do Sul, Central e do Norte, suas influências com
a chegada dos colonizadores, exploradores e imigrantes, transformando o
cotidiano dos povos nativos e incorporando suas formas de cultivo, preparo
e consumo dos alimentos, adaptando-se à religião e à economia local.
Citamos alguns ingredientes e bebidas produzidos e consumidos pelos
povos que ali viviam, juntamente com as técnicas utilizadas para o cultivo e
preparo desses alimentos.
Com esse primeiro contato com os países que fazem parte do continente
Americano, descobrimos que muitos de nossos hábitos e da maneira de en-
xergar a gastronomia estão ligados a outros povos que nos cercam; para tudo
existe um porquê em nossa alimentação, trazendo um entendimento mais
criterioso no momento de desenvolvermos alguma preparação. Por trás de um
simples prato preparado em um restaurante existe muita história envolvida.
Agora, podemos iniciar a próxima unidade, na qual vamos falar dos
principais países milenares que compõem o continente Asiático, como Japão,
China, Tailândia e Índia, juntamente com o Oriente Médio, compostos por
Síria, Líbano e Egito.
Cozinha Internacional

atividades de estudo

1. Cite quais são os países da América do Sul em que o milho é a prin-


cipal fonte de alimentos.
2. O Caribe é composto por várias ilhas, fazendo com que o consumo
de peixes e frutos do mar seja abundante, cite 4 ingredientes que
fazem parte de sua alimentação.
3. Na região americana do Havaí, muitas técnicas de preparo dos ali-
mentos foram trazidas pelos imigrantes que chegaram. Indique quais
foram as técnicas trazidas pelos imigrantes.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 39

leitura complementar
As especiarias e as
novas rotas marítimas

Depois da chegada dos europeus, a América passou a ser fonte de novos alimentos. Ao mesmo
tempo, introduzia-se na Europa o gosto por sabores inteiramente novos e a possibilidade de uma
dieta muito mais rica.
Quando os conquistadores chegaram em território americano, certas culturas indígenas uti-
lizavam técnicas agrícolas muito mais avançadas que da Europa. Por conseguinte, os ameríndios
também se alimentavam de maneira muito mais variada que a maioria dos europeus.
Além de haverem aperfeiçoado o cultivo de milho, os maias, os astecas e os incas cultivavam
batata, várias espécies de feijão, abóboras e muitos outros produtos desconhecidos na Europa, tais
como: tomate, amendoim, pimentão, cacau, baunilha, goiaba, abacate e abacaxi.
Frei Bernardino de Sahagún, que esteve no México antes da consolidação da conquista, ficou
impressionado com a variedade dos produtos à venda nos mercados.
Elisabeth Lambert Ortiz comenta que os espanhóis, por causa da obsessão pelo ouro, não se
deram conta, inicialmente, de que milho, batata, tomate, pimenta, pimentão, cacau, tabaco, abacate,
amendoim, mandioca, feijão, abóbora, baunilha e batata doce consistiam em um verdadeiro tesouro.
Havia na América extensos campos cultivados. Diego Colombo, irmão de Cristovão, conta ter
andado cerca de trinta quilômetros numa plantação bem cuidada de milho, abóbora e feijão. Era cos-
tume plantar diferentes tipos de abóbora com milho para impedir o crescimento de ervas daninhas!
A humanidade deve muito de sua alimentação diária às conquistas da agricultura ameríndia,
sobretudo se nos lembrarmos de que grande parte da carne, do leite, da manteiga e do queijo é
obtida de animais alimentados com milho.
Afirmou-se sempre que o milho zea mays é originário da America central. Em 1961, entretanto,
escavações arqueológicas no Equador, em território ocupado pela cultura Valdívia de 4000 a 200
a. C., revelam a existência de cerâmica decorada com impressões de grão de milho. Os fragmentos
dessa cerâmica datam de 2020 a.C.
Fonte: Franco (2010, p. 117-118).
Cozinha Internacional

material complementar

LAROUSSE DA COZINHA DO MUNDO AMÉRICAS


Larousse do Brasil

Sinopse: Com mais de 120 ilustrações e cerca de 200


receitas, esta obra apresenta a culinária e a cultura dos
países sul-americanos (com destaque para o Brasil),
Caribe, América Central, México, Estados Unidos e Canadá.
Para cada país, ou conjunto de países, o leitor encontra
receitas típicas, informações interessantes sobre a cultu-
ra e a gastronomia, temperos e ingredientes mais usados.
Além disso, para cada um, apresenta-se uma su-
gestão de cardápio dividida em: entradas, molhos,
pratos principais, sobremesas, pães e biscoitos e bebidas.
As receitas, explicadas detalhadamente, trazem o tempo de cozimento
e o rendimento. Para alguns pratos, há sugestão da melhor bebida
para acompanhá-lo. No final das receitas, há dicas de como escolher
acompanhamentos ou adaptar o prato, caso seja difícil encontrar algum
ingrediente.
Entre sabores, cores e aromas da
Cozinha Asiática e do Oriente Médio.
HUGO LEONARDO DE CASTRO ALVES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Referência de gastronomia oriental: Cozinha da China e do Japão


• Gastronomia das fragrâncias: Cozinha da Índia e Tailândia.
• Gastronomia do Oriente médio: Cozinha da Líbia, Síria e Egito.

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender a milenar cozinha chinesa, como referência no
continente Asiático, e a cozinha japonesa, com a sua sutileza e
autenticidade.
• Entender os aspectos característicos e históricos que influencia-
ram as cozinhas da Índia e da Tailândia.
• Explorar os aspectos da culinária do Oriente médio e as influên-
cias da Líbia, Síria e Egito.
43

Introdução
Querido(a) aluno(a), nesta unidade, vamos conhecer melhor as características do continente
Asiático, entendendo suas regionalidades, tipicidades e influências. Sabemos que o continente
Asiático e a região do Oriente médio são muito vastos, por isso, vamos conhecer os principais
países com cenário Gastronômico reconhecido.
Sendo o maior continente do mundo, a Ásia foi berço de várias civilizações, vamos conhecer
a milenar culinária chinesa, com seus ingredientes e técnicas próprias de preparo bem distintas
dos nossos padrões ocidentais. Posteriormente, conheceremos a icônica culinária japonesa, com
raiz bem autêntica e conceituada de uma forma bem distinta de todos os outros países que com-
põem o continente. Ainda no leste Asiático, falaremos sobre a culinária da Tailândia, conhecida
pelos seus sabores picante e agridoce; um dos grandes diferencias da cozinha do continente é a
influência dos padrões ocidentais no preparo e hábitos alimentares.
Indo agora para o oeste, em sentido ao Oriente Médio, falaremos da Índia, a rainha aro-
mática, com influência religiosa significante e com hábitos alimentares bem representativos,
como não uso de talheres.
Continuando a nossa viagem para o oeste, conheceremos com maestria a culinária Árabe,
composta, principalmente, pelo Líbano, Síria e Egito. É uma região com influência forte da
religião na forma de se alimentar; por se tratar de países próximos, os ingredientes são muito
parecidos, porém cada povo traz características autênticas em seus pratos.
Em linhas gerais, esta unidade será nosso primeiro estudo gastronômico falando de outro
continente. É importante, caro(a) aluno(a), que entenda que nosso foco é conhecer os ingredien-
tes típicos de cada civilização, apresentar suas técnicas de preparo e as identidades culinárias
que cada civilização apresenta.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 45

Referência de
Gastronomia Oriental:
Cozinha da China
e do Japão

Caríssimo(a) aluno(a), é evidente que o continente asiático é um


dos mais importantes para a gastronomia internacional, pois, além
de ter características bem equilibradas, é rico em técnicas e sabores
exóticos. É, também, autêntico na sutileza de seus pratos e, ao
mesmo tempo, imponente nos temperos e sabores que aparecem
na composição dos alimentos. Vamos juntos descobrir essa região
que fascina os profissionais e amantes da gastronomia.
Cozinha Internacional

A Cozinha da China

Os primeiros registros gastronômicos que Historicamente, até o século XVI, a China era o
mostravam a culinária da China são datados país mais rico do mundo. Não havia civilização
há mais de 4 mil anos, são manuscritos feitos mais esplendora que ela, tão rica que chamou
por poetas e escritores chineses. Mas os prin- a atenção do economista escocês Adam Smith,
cipais registros vieram de um nobre, Confúcio, que, no livro Riqueza das Nações, de 1776, faz
nascido por volta de 540 a.C. Apreciador inúmeras referências a esse país. Mas, no século
da culinária, formou e estabeleceu inúme- XIX, devido às ocupações inglesas, alemãs e
ras formas de preparação e apresentação de russas, mergulhou em profunda decadência. Os
pratos, baseado em seu conhecimento no re- anos de Guerra levaram o país a um grande ra-
quinte e na sofisticação. Surgiu na mesma cionamento de alimentos e, devido à densidade
época os discípulos de Lao-Tsé, da religião populacional, o povo chinês teve que aproveitar
Taoista, que tinham como doutrina a simpli- todos os recursos naturais disponíveis na época,
cidade e o retorno à natureza. resultando em técnicas e ingredientes diferen-
A China, apesar de ter mais de um bilhão de tes e estranhos, como carne de gato, cachor-
habitantes, tem somente 10% do seu território ro, cobra, macaco, órgãos internos de peixes,
cultivado. A pecuária também é complicada, porcos, fungos de madeira, flores comestíveis
por não obter em sua geografia muitas áreas ou ninhos de pássaros para caldos.
livres para pastos. Sua magnitute geográfica Outro grande fato que influencia fortemente
permite várias regiões distintas com monta- os chineses é a religião. O taoismo, religião predo-
nhas, planícies altas, desertos, regiões costeiras, minante na China, acredita que a harmonia deve
regiões com clima gélido e outras tropicais, além estar em todos os aspectos da vida, sendo repre-
das intervenções urbanas, que criaram espaços sentada pelas duas forças, Yin e Yang. Esse concei-
completamente urbanizados. to implica na alimentação. Dentro dessa filosofia,
Assim como em outras civilizações, a histó- o Yin significa o negativo e passivo, refrescante,
ria e as disponibilidades locais influenciaram a frio e leve; Yang, o oposto, positivo e dinâmico,
gastronomia chinesa, criando costumes distin- forte, quente e pesado. Isso traz a importância
tos, resultando em cozinhas regionais diferentes para os chineses de sua alimentação ser harmo-
e com sua identidade técnica de cocção. niosa, vivendo uma vida saudável e balanceada.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 47

Segundo Pham: Sob muitos aspectos, a Ásia é a terra dos aperitivos e das entradas. Da China e
do japão até a Índia, o Vietnã, a Tailândia e Malásia, esse é realmente o paraíso da “comida de
rua”, termo que descreve a comida tipicamente preparada e degustada no caminho, em tigelas
e pratos pequenos, e lanches servidos em espetos ou folha de bananeira. Esses pratos, sempre
muito saborosos, são feitos em porções pequenas, para viagem; e são ótimos aperitivos.
Isso não quer dizer que o fast-food ocidental pode ser comparado com a comida de rua asiática,
pois a comida de rua oriental ocupa seu lugar de autêntica e única cozinha, com produtos frescos
e feitos com habilidades únicas e por famílias passando de geração para geração, tendo sua exis-
tência muito antes dos primeiros restaurantes ocidentais (SABORES DO ORIENTE, 2011 p. 16).

De uma forma geral, as crenças e filosofias mile- A técnica chao é muito parecida com o nosso
nares criaram uma cozinha chinesa com sabores salteado, é colocada em uma wok uma pequena
entre azedo, salgado, amargo e doce, utilizando quantidade de óleo frio e, em seguida, são co-
várias técnicas de cocção que fazem com que locados temperos secos, como alho e gengibre;
sabores e texturas se complementem de forma as carnes são colocadas e agitadas para serem
harmoniosa e saudável. seladas, na sequência, entra os vegetais, que
A mais famosa das técnicas de cocção usada também são agitados e, finalmente, os líqui-
pelos chineses é o stir-fry que necessita de uma dos, isso tudo sempre em altas temperaturas,
panela wok e tem 2 tipos diferentes de técnicas: mantendo, assim, as características próprias
chao e bao. dos alimentos.
Cozinha Internacional

Na outra técnica, bao, a wok é muito aquecida, processo de cocção, a carne é embebida várias
normalmente, utiliza-se o óleo de amendoim, vezes com uma mistura muito doce, composta
que tem seu ponto de saturação mais alto, e, por mel e açúcar, molho de soja ou óleo, dando
a partir disso, adiciona-se em uma sequência a ela um aspecto brilhante e crocante. Um dos
rápida temperos, carnes e vegetais, pois são pratos mais famosos da gastronomia chinesa
cortados em tamanhos menores para que cozi- que utiliza essa técnica é o pato de Pequim.
nhem rápida e uniformemente. Outra técnica chinesa muito utilizada mun-
Outra técnica bastante usada pelos chi- dialmente é a fritura por imersão, com alimentos
neses é a hung-shu ou cozimento vermelho. empanados com amido de milho e claras de ovos.
Basicamente, cozinha-se uma quantidade Essa mistura é muito utilizada nessa técnica,
grande de carne em molho de soja e água, dando porque bloqueia a água dos alimentos, o que faz
sabor e cor avermelhada às carnes. com que se tornem macios e saborosos, além de
uma maior absorção dos caldos e molhos.
Por fim, outra técnica muito utilizada é o
cozimento a vapor, principalmente para legu-
mes, pois mantém seus nutrientes e sabores
característicos.

As diversas técnicas que você aprender Segundo o pensamento taoísta, viver de


em Técnicas clássicas de cocção, na di- acordo com o ciclo das estações é indis-
ciplina Habilidades de Cozinha, servirão pensável para estar em harmonia com
como base e referência para estudar outras as forças que regem o universo, gozar de
técnicas e pratos. saúde e alcançar a longevidade. Isso im-
plica comer o que o ciclo sazonal oferece,
Fonte: o autor.
norma enfatizada por algumas cozinhas
orientais (FRANCO, 2010, p. 130).

Podemos dividir a gastronomia chinesa em


Na região conhecida como Cantão, é muito quatro grandes grupos no país, devido aos es-
utilizada a técnica de laqueamento, em que, no tilos diferente de cozinha:
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 49

Cantão (Sul)
Com clima subtropical e cidades importantes, vapor, grelhados e stir-fry, pois preferem manter
como Macau e Hong Kong, essa região tem mais o sabor natural dos alimentos. Um prato típico
recursos naturais que qualquer outra região da da região conhecido no ocidente é a carne suína
China. Na agricultura, há predomínio de frutas, com molho agridoce.
legumes, pimentas, batata-doce e arroz, com Além do tradicional arroz, o Cantão utiliza
plantio mais produtivo do mundo, com até 3 em sua cozinha os ingrediente tropicais, como:
colheitas por ano. cana de açúcar, abacaxi, lichias, brócolis, cogu-
Por ser uma região com costa marítima melos e feijões.
de mais de 1000 km de extensão, possui uma
grande variedade de frutos do mar, como: Pequim (Norte)
camarão, lula, lagosta, berbigão, caramujo e Com um clima relativamente frio e árido e solo
siri, e, em terra, cria animais como marreco, seco, a capital chinesa sempre foi sede da corte
porco, pato. imperial, por isso, sua culinária ficou conhecida
Sua culinária se difere das outras pela pouca como criativa e sofisticada. Dentre os ingre-
utilização de temperos. Usa-se, normalmente, dientes típicos, podemos encontrar trigo, soja,
molho de soja, alho, molho de ostra e de ameixa, acelga, alho, cebolinha, molho de soja escuro,
as técnicas mais utilizadas são o cozimento em couve-chinesa, maçã, peras e uvas.
Cozinha Internacional

Por proximidade com a Mongólia, a região foi típicos pratos bêbados, muito característicos
muito influenciada por seus costumes, como o dessa região, além da cura de carnes e conserva
consumo de carne de carneiro, aves, ovelhas e de legumes e tubérculos.
cabras. Devido aos costumes mongol, a região
não consome carne suína. Os dois pratos mais Sichuan (Oeste)
emblemáticos da região são o pato de Pequim O interior da China é muito conhecido por conter
e o Huo Guo. Como no fondue, os alimentos em suas características pratos muito temperados,
são cozidos em caldos quentes, sopas ou óleo oleosos e agridoce, possivelmente pela influência
por imersão, sendo segurados por um palito. da Índia e do Paquistão nos hábitos. A criação
de animais, como gado bovino e suíno, também
Xangai (Costa Leste) aparece em alta nessa região, a agricultura não
Região com os maiores portos do mundo, pesca varia muito das outras regiões, composta por
e agricultura são abundantes, além das várias ri- trigo, batata-doce, soja, açúcar e chá.
quezas naturais, como lagos e rios, que também O destaque da culinária é o uso de óleo de
favorecem a região. Os principais ingredientes gergelim e da pimenta que aparece de várias
utilizados na culinária são arroz, frutas, brotos, formas: assada com sal, em pasta, moída, fresca
verduras e legumes, peixes e fruto do mar. ou em infusão em óleo.
Sua culinária tem como principal concei- A técnica de conservação mais utilizada é a
to manter o sabor natural dos alimentos com desidratação e os principais alimentos conser-
pouco tempero, molhos leves e a preferência vados são frutas, cogumelos e carne.
sempre foi por comida adocicada, os pratos re- As técnicas de preparo dos alimentos que
gionais são aromatizados, como molho de soja, predominam em Sichuan são o cozimento a
açúcar e gengibre, e os pratos doces são à base vapor e o stir-fry.
de gema, açúcar e frutas. Apesar das singularidades de cada região, é
As técnicas de cocção mais utilizadas nessa possível encontrar pontos comuns nas cozinhas,
região são stir-frying, cozimento vermelho em como a estética de pratos, o grande consumo de
baixa temperatura, cozimento por vapor e arroz e macarrão, a importância dos legumes e
cozimento no saquê, esse último originou os o processo rápido de preparações.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 51

Bem diferente do hábito visto no continente americano, os chineses possuem


costumes muito peculiares baseados em tradições e em sua religião. Um exemplo
bem interessante é que, para os chineses, não existe prato principal, todos os pratos
preparados são entregues ao mesmo tempo, pois para eles todos os alimentos têm
a mesma importância, o uso de palitos como talheres e como utensílio no preparo
dos alimentos, o arroz é o ingrediente que deve conter em todas as refeições feitas
pelo chineses, é a sua base na alimentação, seu preparo varia no cozimento a vapor
ou fervido. Os pratos são, em sua grande maioria, bem elaborados e decorados.
O arroz marca a forma de comer em grande parte do país, inclusive em zonas onde
parecia impossível encontrar um palmo de terra plano. Na maior parte da China,
o arroz aparece na mesa no início da refeição, em terrinas individuais, fazendo a
vez do pão: serve para acompanhar todos os pratos. Sua produção e consumo são
menores no norte, onde é substituído por pãezinhos cozidos a vapor e por finas
tortas de trigo, que se consomem também na parte central do país.

Fonte: Medina (2006, p. 11).


Cozinha Internacional

A cozinha do Japão

Japão é um dos principais países da Ásia, com- verão, essencial para o plantio do ingrediente
posto por um arquipélago que, no total, chega primordial, o arroz, e, devido ao seu tamanho,
a, aproximadamente, mais de três mil ilhas. não possui grandes áreas para criação agrícola
Quatro dessas ilhas são as maiores e mais im- ou de pastagens, sendo os principais alimentos
portantes. Seu clima é bastante chuvoso no japoneses retirados do oceano.

Tradição e modernidade a serviço de uma cozinha espetacular, refinada como poucas,


sutil, de baixas calorias... todos os adjetivos parecem insuficientes quando aplicados
à cozinha que seduziu o mundo ocidental. Tão tradicional e, ao mesmo tempo, tão
moderna. Grandes partes das preparações revelam uma trajetória secular, apesar de
ter sido convertida, na modernidade, na fonte inspiradora da gastronomia atual. A
estética minimalista, a pureza dos sabores, os pontos de cozimento – por vezes, ine-
xistentes – os contrastes de paladares que pontuam as combinações de especiarias e
a depuração da técnica que envolve suas frituras tornaram-se referência obrigatória
de um movimento que começou por inundar o mundo ocidental de restaurantes
japoneses e prosseguiu com o surgimento de uma corrente que funde duas cozinhas,
unindo sabores da culinária local às da japonesa num mesmo prato. Uma cozinha que
nasce da união dos opostos, o yig e o yang, o cru e o cozido, o simples e o sofisticado...
E, todavia, uma cozinha que está ao alcance de quase todos. É só questão de praticar
e liberar a criatividade. (MEDINA 2006, p. 60).

Há relatos de que os primeiros moradores das ou em água sem sal. Uma preparação na qual
ilhas japonesas foram os chineses vindos do todos pensam quando falamos em culinária ja-
continente, e a religião predominante é o bu- ponesa é o sushi, porém o que todos não sabem
dismo, que veio em meados do século VIII e se é que o sushi foi um método de conservação
espalhou facilmente. Uma das singularidades criado pelos chineses para que o peixe ficasse
da religião que influencia é proibir o consumo conservado por mais tempo, pois o arroz o con-
de animais de 4 patas. servava, liberando ácidos próprios. É comum
As influências chinesas também trouxeram pensarmos, também, na farinha de trigo para
os grãos, trigo e cevada, o arroz cozido no vapor fazer macarrão e no saquê, muito utilizado.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 53
Cozinha Internacional

Porém nem só de influências orientais foi for- Podemos definir as características da cozinha
mada a cultura alimentar dos japoneses. A vinda japonesa típica de várias formas, como a cozinha
dos portugueses também trouxe a fritura que, da alimentação simples, em que não existe hábito
por sua vez, deu origem ao tempurá; sua forma de misturar sabores ou ingredientes; comida ra-
de preparo é basicamente uma mistura de fa- cionada e básica com arroz, peixe e legumes; uma
rinha de trigo e água, produzindo uma massa comida natural com ênfase no próprio sabor dos
grossa, em que os ingredientes são submersos alimentos, sem temperos ou cocção, em muitos
e, depois, fritos em gordura quente até dourar. casos, o peixe cru, em alguns casos, marinados
Com a expulsão dos portugueses e estrangei- suavemente em vinagre e sal; legumes crocantes
ros, as fronteiras japonesas foram fechadas e o cozidos apenas no vapor rapidamente, resultando
comércio interno se desenvolveu com os produ- em uma alimentação leve e saudável.
tos e produtores locais, com isso, alguns pratos A apresentação dos pratos também é levada
que hoje são conhecidos apareceram naquela em conta pelos japoneses, as porções em quan-
época, como sushi, que nada mais era do que tidades pequenas, servidas em louças adequadas
uma forma de conservação do peixe para faci- a cada preparação, sem esquecer do ambiente
litar o seu transporte envolto em arroz e algas, relaxado com uma atmosfera leve.
e obentô (marmitas). Certa vez, ouvi um cozinheiro japonês expe-
Após um longo período fechado para o riente dizer que um alimento tem 48 horas para
mundo é que o Japão resolveu se modernizar em ser consumido a partir do momento que ele é
tudo e o consumo de carne começou a aparecer, retirado do seu ambiente natural. Isso quer dizer
porém foi após a segunda guerra mundial que que a filosofia japonesa de alimentos frescos
laticínios, pão, especiarias, café, vinho, cerveja, vai muito além de produtos recém colhidos. Os
embutidos e os famosos restaurantes fast-foods produtos sazonais são muito utilizados no país,
apareceram para fazer parte do dia a dia dos traduzindo uma alimentação de alta qualidade
japoneses. e uma das expectativas de vida mais altas do
Mesmo com a evolução da tecnologia, os mundo. As carnes mais consumidas são a carne
japoneses não deixaram de valorizar sua co- de porco, a carne bovina de altíssima qualida-
zinha tradicional e de serem reconhecidos in- de com a raça Kobe e as aves, principalmente
ternacionalmente por terem uma cozinha de o frango, com o título de maior consumidor
característica única, diferente do resto da Ásia, do mundo; normalmente, as carnes são pouco
com algumas influências do resto do mundo. cozidas e acompanhadas de legumes no vapor.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 55

Nesse momento, destacaremos algumas das de uma proteína, em sua grande maioria, o peixe.
principais técnicas de preparo dos alimentos. Além disso, a refeição japonesa acompanha
• Horokuyaki: é baseada na cocção vegetais cozidos e em conserva e saquê. Ao final
ao vapor, em que se é colocada uma da refeição, a sopa e o arroz são servidos, antes
camada de sal em um recipiente cha- da sobremesa, normalmente composta de frutas
mado (horoku), que é pré-aquecido, em e doces simples, e o chá, preparações que não
seguida, colocam-se os alimentos sobre podem faltar na alimentação diária dos japoneses.
esse sal, o recipiente é tampado e volta
para o fogo onde o alimento é cozido
pelo vapor criado.
• Nimono: consiste em ferver o alimento
em um líquido ou sopa temperado.
• Sukiaki: tem a opção de ser fervido em
líquido temperado ou grelhado à mesa.
• Teriyaki: sua tradução significa grelhado
brilhante, é composto de uma marina-
da de shoyu, saquê e açúcar, o alimento
é grelhado normalmente e pincelado
ou regado com a marinada para dar
acabamento.

Podemos citar os alimentos mais importantes


dessa culinária, tais como: arroz, molho de soja,
pasta de soja, vinagre de arroz, saquê, caldo
de peixe, raiz forte e gengibre. As algas kombu
e nori são muito utilizadas, principalmente a
nori, nos sushis, são cultivadas dentro do mar;
a kombu é muito utilizada em caldos e arroz.
Uma refeição do dia a dia japonês, ao contrá-
rio do que todos pensam, não consiste em sushis
e sashimis, e sim do tradicional arroz, da sopa e
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 57

Gastronomia das Fragrâncias:


Cozinha da Índia
e da Tailândia

A Cozinha da Índia

A Índia, assim como a China, também é um país muito extenso,


dividido por 48 estados em 7 territórios, com cozinhas regionais
distintas, clima, em geral, subtropical e tropical, com montanhas
ao norte; regiões litorâneas e desertos fazem da índia um país
diversificado em sua geografia. É o segundo país mais populoso
do mundo; com mais de um bilhão de pessoas, uma sociedade
pluralista, multilíngue e multiétnica, a Índia ainda sofre com altos
níveis de pobreza, analfabetismo, desnutrição e doenças.
Cozinha Internacional

busca de suas tão cobiçadas especiarias, que,


como você bem sabe, revolucionaram as práti-
cas culinárias naquele contexto. No século XIX,
foi a Inglaterra que estabeleceu nesse país um
processo de colonização, saindo de lá somen-
te em meados do século XX. Isso, sem dúvida
alguma, não poderia ter deixado de influenciar
na alimentação e na cultura culinária local. Com
a introdução do colonialismo e do comércio de
especiarias entre Índia e Europa, surgiram novos
alimentos, ao mesmo tempo em que influenciou
as cozinhas de todo o mundo, principalmente
sudeste da Ásia, Ilhas britânicas e Caribe.

Surpreendente, sofisticada e exótica: um


leque de adjetivos qualifica a cozinha
de um país onde, para muitos, existia o
jardim do Éden. Da índia são originários
inúmeros vegetais e frutas que fazem
parte das mesas de todos nós. Alimentos
em tão grande variedade quanto às reli-
giões que ali se praticam. Mulçumanos,
hindus, budista e cristãos, entre outros,
A culinária indiana é conhecida como única
dão vida a receita em que existe lugar
devido aos seus ingredientes sazonais, às in- para tudo, desde a carne de porco ou da
fluências agrícolas históricas e, principalmente, vaca, proibida para alguns e consumida
por outros, até à dieta vegetariana de
religiosas e culturais; os principais ingredientes
muitos hindus.
utilizados na culinária local são as especiarias,
legumes e frutas nativas. Qualquer que seja a prática religiosa ou a
latitude, a gastronomia da Índia é, acima
A Índia foi um país muito importante no de tudo, um mostruário de aromas único
cenário da colonização europeia. O primeiro país no mundo. Ervas, sementes, frutos
a explorar economicamente seu território foi frescos ou secos, hortaliças e molhos
combinam-se em muitos pratos, pro-
Portugal. Foi em direção a esse país que Vasco
porcionando uma explosão de aromas
da Gama (1488), Cristóvão Colombo (1492) e de sabores absolutamente fascinantes
e Pedro Álvares Cabral (1500) partiram em (MEDINA, 2006, p. 60).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 59

A gastronomia indiana, hoje, reflete a di- Os principais produtos cultivados são: le-
versidade cultural e religiosa de todo o país, gumes, grãos, cana-de-açúcar, frutas, vegetais,
caracterizada pelo uso de muitos temperos, chá, café, pimentas e especiarias. A carne bovina
pimentas e especiarias. Podemos classificar é limitada, pois há restrições religiosas em seu
o paladar da comida indiana em seis sabores consumo, 80% da população seguem a religião
predominantes: do hinduísmo, que acredita no respeito de tudo
• Ácido, doce (agridoce) que respira, por isso, são vegetarianos, mas con-
• Salgado somem o leite, o queijo e o iogurte extraído
• Amargo do leite. Temos que ressaltar, porém, que não
• Picante são todos da população que fazem parte dessa
• Extremamente picante. crença, é muito comum que a vaca seja criada
solta em centros urbanos, pois uma grande parte
Os pratos conferem e têm por essência a utiliza- da população a respeita e acredita que, quando
ção em grande quantidade de legumes, dando o um desses animais adentra sua casa, é sinal de
título de país com a maior utilização de legumes sorte e bênção.
em todo o mundo, isso se dá, pois, praticamente Carnes de carneiro, aves, peixes de mar e
a maioria dos indianos são vegetarianos, em rios também são consumidos pela população
grande parte pela escolha religiosa. não vegetariana.
Apesar de mais da metade do país ser cul-
tivado, a importação de alimentos é inevitável
devido ao crescimento da população.

No ocidente a religião influencia a alimen-


tação como acontece no oriente?

Fonte: o autor
Cozinha Internacional

Outra característica curiosa é que as louças de aromáticos, podendo ser picante, até extre-
são compostas, em sua maioria, de folhas de mamente picante, à base de ervas, especiarias
bananeira e casca de coco, os talheres não são e pimenta. Quando falamos em curry em pó, é
utilizados, pois se come com a mão direita. a masala que, preparada, se transforma na base
Em todas as regiões, percebem-se costumes do prato curry, sua combinação na mistura de
em comum na gastronomia local, o uso indis- temperos e especiarias secas ganha diversos
criminado de especiarias como cardamomo, nomes devido às diferentes combinações, por
cúrcuma, cominho, cravo, semente de erva doce, exemplo, Garam masala, Kashimiri masala,
alho, gengibre, feno grego e açafrão. Madras masala, dentre outros. As masalas são
A índia foi parte do império britânico, na usadas para dar sabor a carnes, aves e arroz.
época de sua colonização, em muitas regiões, a
língua inglesa era mais falada que a língua local,
os indianos também foram viver na Inglaterra,
levando consigo sua gastronomia, tornando-a
popular para os ingleses. Há relatos de que o
curry foi criado pelos ingleses na época da colo-
Em uma das nossas aulas conceituais,
nização da índia, por sentir falta da sua comida
aprendemos a preparar um Curry de
nativa, incentivaram o preparo de pratos típicos Cordeiro, trabalhando as técnicas de pre-
britânicos utilizando ingredientes locais e, para paro utilizadas na cozinha indiana! Não
deixe de conferir!
diminuir a intensidade das pimentas, adiciona-
ram o leite de coco, para suavizar o ensopado,
dando origem a um prato ícone da gastronomia
indiana e podemos dizer inglesa também. O curry
se espalhou para todo o país, diferenciando-se de O povo indiano conhece as características tera-
uma região para outra, dependendo da utilização pêuticas das masalas e sabe sempre apreciar os
de produtos locais e do costume dos habitantes. sabores inigualáveis que têm o poder de estimula-
Todos pensam que o curry é aquele tempero rem o apetite e, também, de ajudarem na digestão.
amarelo que compramos nos supermercados As frutas são encontradas em formato de
e que leva esse nome, porém o legítimo curry chutneys ou relishs, as conservas agridoces
indiano é um prato tipo um ensopado à base de também aparecem com lugar de destaque. O
verduras, peixes ou carne cozida e algum líquido ghee ou manteiga clarificada, muito utilizado
de tomate, leite de coco, iogurte, acompanhado na gastronomia indiana, vem ganhando cada
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 61

vez mais adeptos em todo o mundo, devido aos Existem inúmeras farinhas, além da de trigo,
seus benefícios culinários, por ter seus resíduos utilizadas para a preparação de pães na Índia como
lácteos extraídos após uma cocção lenta, muitas as farinhas de: lentilha, grão de bico, feijão, milho e
vezes, em banho Maria, ela se conserva por mais arroz são as mais empregadas na sua gastronomia.
tempo, aguenta altas temperaturas sem queimar A região norte da Índia é considerada a região
e sem ficar rançosa. mais fértil na agricultura, no cultivo de grãos e ce-
O Raita é uma preparação à base de iogurte, reais. O ingrediente que predomina na região é o
pepino e especiarias e está sempre acompanhan- arroz. Como em todo o país e o continente asiáti-
do os pratos picantes para suavizar o calor trazido co, é uma região provida de muitos rios e lagos, o
pelas pimentas. As Dal, preparações que com- que fornece uma grande variedade de peixes para
põem a dieta indiana à base de legumes secos e a população. A raiz de lótus também é consumi-
leguminosas, estão na essência das refeições, cos- da em substituição à carne animal. Em muitos
tumeiramente combinados com grão ou carnes e casos, na região, as sobremesas são, em sua
vegetais em forma de purê. Os vegetais são peças grande maioria, à base de leite e creme de leite.
importantes na dieta dos indianos, sendo servi- O Parathas (pão recheado com legumes e tem-
dos de inúmeras formas, por exemplo: assados, peros) é outro produto bastante conhecido no
fritos, tostados, ensopados ou recheados etc. norte do país.
Cozinha Internacional

Na região leste da Índia, o sabor dominante é Depois de conhecermos um pouco sobre as ca-
o agridoce. A região também tem um costume racterísticas históricas e culturais que levaram
de se alimentar de muitos peixes vindos dos a gastronomia indiana para o cenário interna-
rios e lagos, principalmente o salmão; tem em cional, agora, vamos falar das técnicas de pre-
sua produção local os produtos lácteos como: paro dos alimentos mais empregadas e de suas
iogurte, queijos e coalhadas. O broto de bambu características.
também é um ingrediente típico daquela região. • Baghar: forma de preparo dos alimentos
Um prato com a identidade do leste da Índia que consiste em aquecer os temperos na
é o filé de peixe coberto com cúrcuma e frito em manteiga clarificada (ghee) para intensi-
óleo de mostarda, muito picante. ficar seu sabor, podendo ser utilizada no
Já o sul tem em sua característica culinária início de um prato ou até mesmo no final.
uma comida muito mais picante que o resto do • Bhuma: cocção na técnica chinesa de stir-
país, sempre presente o cultivo do arroz, que é -fry que trata de cozinhar o alimento em
consumido em todas as refeições. O arroz basmati chama forte com pequenas quantidades
tem um grão mais fino e comprido que outras va- de água, tornando o prato dourado com
riedades de arroz que conhecemos, é a variedade molho reduzido.
preferida dos indianos. • Dum: consiste no cozimento a vapor,
As principais preparações são Dosa (recheada com panela sobre brasas.
de batata e legumes, servida com ghee e chutney • Tandoori: método de cozimento muito
de coco), Idli (bolinho de arroz recheado de le- conhecido na gastronomia internacional,
gumes e carne de ovelha servido com chutney). quando falamos de Índia, usado para assar
O oeste indiano é a parte mais cosmopolita e grelhar, o alimento é cozido em espetos,
da Índia a gastronomia é a combinação perfeita dentro do tandoor, um forno de barro.
entre as cozinhas do sul e do norte, o arroz, • Talana: muito parecido com o Tempurá
como seu principal alimento, acompanhado de japonês, é feita uma massa mole de fa-
uma grande quantidade de peixes e frutos do rinha de grão de bico e água, são mer-
mar, marreco, filé de peixe seco, o uso do limão, gulhadas as carnes em geral e vegetais
cominho e coentro devido à influência portu- dentro dessa massa e frita por imersão
guesa, pratos com carne suína e sabor agridoce. em óleo quente.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 63

A Cozinha da Tailândia

A Tailândia é um país que reúne suas duas maio- começou a disseminar nos países do ocidente
res influências, chinesa e indiana, misturadas a ideia de que a cozinha tailandesa é muito con-
com algumas lembranças do ocidente. dimentada e extremamente picante.
Por ser uma das rotas marítimas da Europa Com o tempo, os palitos chineses foram sendo
para a China, muitos comerciantes acabavam descartados e dando lugar aos garfos e colheres,
passando pela Tailândia e deixando suas in- as mesas e as cadeiras também foram roubando
fluências, como os portugueses, holandeses, espaço dos tatames na hora da refeição, tudo re-
franceses e, da Ásia, os japoneses. Em meados flexo trazido pelos imigrantes ocidentais. Já as
do século XVII, os missionários, passando pelo facas não são permitidas na mesa dos tailandeses.
país, introduziram a pimenta malagueta que, A gastronomia thai, como é conhecida in-
depois, se tornou símbolo do país pela sua ternacionalmente, tem sua identidade própria,
grande utilização, tornando-se o ingrediente mostrando ao mundo uma explosão de sabores,
mais importante dessa cozinha. Foi aí que se cores e aromas.
Cozinha Internacional

Devido à influência chinesa, a religião que seu tamanho avantajado, é muito apreciado por
mais predomina no país é o budismo, influen- turistas e moradores locais.
ciando nos costumes alimentares do povo. As massas em fio podem ser encontradas
Cultuar a natureza e viver em harmonia com em vários tamanhos, por exemplo, fios finos,
os animais é uma das filosofias budista que planos e largos, semelhante aos talharins, nor-
se reflete diretamente na gastronomia local, malmente constituídas de arroz ou feijão mung,
com a utilização de muitas frutas, legumes, uma espécie nativa da região; as massas em
cereais e verduras. fio são um diferencial na dieta dos tailandeses,
O arroz é um dos pilares da gastronomia tai- trazendo leveza para seus pratos, já que se torna
landesa, pois está bem longe de ser um acompa- difícil acharmos sua utilização nos países do
nhamento, como acontece nos países ocidentais. ocidente. Medina (2006, p. 60) completa:
Seu consumo e cultivo são intensos na Tailândia, Na Tailândia, cada refeição converte-se
utilizado também como farinha em formato numa experiência única, num momento
singular vivido com intensidade e fas-
de macarrão, porém seu maior consumo é em
cinação. Fruto de inúmeras influências
arroz, dividido em duas variedades: o arroz gluti- culturais, a cozinha tailandesa destaca-se
noso, muito consumido nos países que formam pelo frequente uso das frutas e verduras,
que proporcionam pratos de um colorido
o continente asiático, China e Japão, seguido
espetacular, aliados à fulgurante explo-
do arroz de jasmim que, por sua vez, é um dos são de aromas e sabores. É como se o
destaques dessa cozinha, por ter suas caracte- perfume das cozinhas asiáticas se reu-
nisse à mesa, convertendo cada garfada
rísticas próprias, como estimular a fome, um
numa experiência aromática única. Na
aroma inconfundível que é liberado ao cozinhar culinária tailandesa, navegamos entre a
e uma aparência comprida e cristalina, muito sofisticação do curry e dos mil matizes
próxima do arroz indiano basmati. que ele incorpora. A saborosa sensa-
ção de ardor disfarçado da malagueta,
O consumo de carne é mínimo, normalmen- a elegante sensualidade do gengibre, a
te é consumido por pessoas de outras religiões, e alegria que espalha o capim-limão. Até
até mesmo os açougueiros do país são de outras mesmo a presença familiar do coentro
– em forma de sementes em folhas – ou
nacionalidades, por se tratar de um povo vege-
do manjericão transformam-se, aqui em
tariano praticamente em sua totalidade. Por sensações desconhecidas. São aromas
esse motivo, a proteína mais consumida é a nascidos do encontro de especiarias e
ervas aromáticas, definidores de uma
de peixes e frutos do mar, que acontece muito,
cozinha que avança em sintonia com a
também, devido ao seu litoral extenso. O ca- natureza e que procura se ajustar aos
marão tailandês é protagonista dos mares pelo princípios filosóficos do yin e do yang.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 65

Podemos dizer que a culinária tailandesa se baseia anteriormente. As únicas diferenças vão ocorrer
nos mesmos conceitos dos chineses com relação quando o cultivo de ingredientes específicos
ao yin e yang: equilíbrio e contrastes, picante, ocorrem por fatores de misturas típicas desse
doce, salgado, amargo, ácido e agridoce, como ou daquele país. Por exemplo, o Vietnã, que são
referência de seus sabores. Porém nenhum prato famosos por utilizarem uma grande quantidade
ou tempero se destacou ou se usou tanto na co- de ervas aromáticas em seus pratos.
zinha internacional como os currys tailandeses, Na Indonésia, podemos observar o uso
divididos entre o curry vermelho à base de pimen- indiscriminado do amendoim nos pratos. Os
tas vermelhas, o curry verde à base de pimentas currys indianos à base de molho também são
verdes, o amarelo à base de cúrcuma. O que di- bastante consumidos nessa região, assim como
ferencia o curry tailandês do indiano é que os o uso de tamarindo e pimentas.
currys tailandeses são pastas à base de pimentas A Coreia segue praticamente a mesma linha
e especiarias, utilizadas, em sua grande maioria, culinária da China, pois suas técnicas de prepa-
na hora de se preparar os pratos, como temperos; ro dos alimentos também são praticamente as
para equilibrar esse ardor dos currys, o leite de mesmas do resto da Ásia. Sua característica é de
coco, as frutas tropicas e o arroz são incorporados uma gastronomia extremamente aromatizada,
nas refeições, trazendo o que podemos chamar de que utiliza pimentas vermelhas, alho, soja, ger-
equilíbro de sabores, aromas e texturas. gelim e cebolinha. A sopa e o macarrão também
Para falarmos das técnicas de preparo dos ali- são muito consumidos e acompanham quase
mentos e utensílios mais utilizados, só precisamos todas as refeições juntamente com o arroz.
lembrar-nos dos utilizados pelos chineses, pois,
devido a suas influências sobre os tailandeses,
podemos observar que estão presentes frituras
em geral, normalmente por imersão, Stir-Fry, a
técnica de preparo mais comum, Wok, utensílios
mais importante da cozinha tailandesa, vaporeira,
recipiente de bambu próprio para o cozimento a
vapor, e, finalmente, o pilão, imprescindível no
preparo dos currys e especiarias para os molhos.
No outros países do sudoeste asiático, é pos-
sível encontrarmos as mesmas formas de pre-
paro dos alimentos e ingredientes que falamos
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 67

Gastronomia do Oriente Médio


Cozinha da Líbia,
Síria e Egito

No oriente médio, podemos chamar de cozinha Árabe a culinária


dos países que o compõem. A cozinha árabe, no decorrer do tempo,
não se modificou em termos de utilização de ingredientes por ser
uma cozinha bastante uniforme e antiga.
Os países que compõem o oriente médio são prejudicados por
terem uma agricultura pobre e deficiente, pois possuem poucas
terras que são cultivadas; em grande parte, as terras são compostas
por areia.
Cozinha Internacional

Um detalhe importante é que essa região foi o bastante utilizados nos países árabes, sem nos
berço da civilização. Segundo Ferguson (2012), esquecermos da batata, abobrinha, alho poró,
o modelo de civilização Ocidental que conhe- repolhos, berinjela, alho e tomates.
cemos hoje surgiu no Oriente, às margens dos Utilizadas em pratos doces e salgados, as
rios Nilo, Tigre e Eufrates. Esses rios formaram frutas secas ou desidratadas são parte funda-
o Crescente Fértil, que, em razão das cheias, mental dessa gastronomia, podendo ser ser-
formavam em suas margens uma extensa área vidas separadamente. Os chás e os cafés são
cultivável, permitindo que ali se desenvolves- bebidas que fazem parte da cultura alimentar
sem as primeiras experiências dos homens em dos árabes em seu dia a dia.
sociedades organizadas jurídica e politicamente. A gastronomia Síria e Libanesa são bem
Dentre os grãos consumidos por esses próximas em sua forma de preparo, porém, além
países, podemos ver o trigo como seu principal dos nomes dos pratos serem diferentes, podem
alimento, consumido de várias formas: pré-cozi- também ter uma pequena variação, dependendo
do no trigo para quibe, em grãos, pães fermen- de sua região de preparo.
tados ou o pão pita sem fermento, semolina etc. Por estarem muito próximos do mar me-
A lentilha e o grão de bico também apare- diterrâneo, a utilização de azeites, azeitonas,
cem como sendo grãos bem importantes na abobrinhas recheadas, berinjelas, legumes
dieta dos países árabes. locais, carnes, pescados, aves, arroz, especiarias,
Já as carnes mais consumidas são as de condimentos e sobremesas são comuns. Esses
carneiro, que têm uma resistência e facilidade pratos são muito perfumados devido à utilização
de se adaptarem a locais áridos. Além da carne, de especiarias secas e frescas, mostrando sua
produzem a lã para comércio; a cabra da mesma identidade ao mundo.
família; o camelo, como meio de transporte, por É costume dos países árabes servirem o
possuir uma resistência ao calor e consumir o mezzês, que são pequenas porções servidas em
mínimo de água; frango e boi em algumas re- louças bem decoradas, por exemplo, o homus,
giões. Os peixes de água doce e do mar fazem uma pasta à base de grão de bico, tempera-
parte da dieta de acordo com a sua disponibi- da com muito azeite, falafel ou tabule, esses
lidade na região. são alguns dos pratos da cozinha árabe mais
O leite de cabra e camela são importantes conhecidos internacionalmente. Esses pratos
para a produção de iogurte, queijos simples e fazem parte da alimentação diária desses países,
manteiga, que, em algumas regiões, é clarificada. acompanhados do pão pita, usado como talher
Dentre os vegetais, os pepinos e a cebola são no momento da refeição.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 69

Dentre os pratos principais à base de carne, os outros países que consomem esse produto: na
mais conhecidos são kebab, cafta, quibe, frango Turquia, ele não é coado e, ainda, é considera-
ou peixe grelhado; como sobremesas, frutas do pela população turca uma bebida nacional,
locais fazem a vez, juntamente com doces feitos todos esses aspectos criaram uma culinária
com massa folhada, castanhas e mel em geral. tipicamente árabe.
Para finalizar uma refeição, o café e o narguilé Medina (2006, p.8) completa: uma cozinha
não podem faltar para satisfazer a todos, esses entre dois mundos. A cozinha turca nasce num
hábitos são extremamente comuns em todo o singular cruzamento de caminhos que marca de
oriente médio. modo definitivo a sua natureza. Na Turquia, as-
Em algumas regiões, como na Turquia, é siste-se, diariamente, ao encontro entre Oriente
costume servir frutas secas, como damasco, e Ocidente, dando vida a uma cozinha enrique-
uvas passas, avelã, amêndoas, pistaches e pi- cida pela convivência de culturas e religiões.
nholes, esses ingredientes são utilizados em Muçulmanos, judeus e cristãos deixaram seus
muitas preparações doces e salgadas. Não po- hábitos na forma de comer dos turcos, que gira
demos nos esquecer do café turco, que tem em em torno do cordeiro como produto santificado
seu preparo uma característica diferente dos por todas essas religiões.
Cozinha Internacional

Hoje em dia, o kebab deu a volta ao mundo, mas encontramos o chá de hortelã como a bebida
com ele encontramos também espetinhos, guisa- mais apreciada.
dos com iogurte, almôndegas etc. Depois do cor- Conforme dito anteriormente, não pode-
deiro, temos os espetaculares peixes que oferecem mos nos esquecer da grande utilização dos la-
o mar mediterrâneo ou as receitas mais conhecidas, ticínios; seus derivados são utilizados de forma
como o homus, o caviar de berinjelas, as folhas de geral na maioria dos países árabes, como o io-
uva etc. É uma breve pincelada de uma cozinha gurte, o chancliche e a coalhada são bastante
que se move entre a herança suntuosa e sofisti- consumidos.
cada da corte otomana e os hábitos observados O Egito tem por base em sua alimentação le-
nas cozinhas do dia a dia (MEDINA, 2006, p. 60). gumes desidratados e pães que, indiferente de qual
Outra bebida muito popular é o arak, acom- país estamos falando, não podem faltar na dieta
panhada de café e vinho no Líbano. Já na Síria, dos países árabes. Medina (2006, p. 59) diz que

Segundo os que gostam de reduzir qualquer acontecimento a uma frase feita, deveríamos apre-
sentar a cozinha egípcia como “a cozinha dos faraós”. E, em parte, a afirmação está correta: poucas
cozinhas podem se gabar de uma trajetória tão perene e de um passado tão esplendoroso. Os
pesquisadores encontram referências milenares sobre a elaboração da cerveja e a engorda do paro.
Sabemos que dispunha de 15 tipos de pães diferentes, que assavam patos e que eram conhece-
dores de uma grande variedade de produtos e técnicas de elaboração que, ainda em nossos dias,
podemos considerar modernas. Apesar disso, hoje em dia, a cozinha egípcia é muito mais do que
o legado histórico dos faraós. Acabou por receber a influência de produtos vindos, primeiro, do
extremo oriente e, mais tarde, da América. Partilha, por sua vez, usos, modos e propostas com
cozinhas como a turca ou a grega e faz a transição ao encontro das cozinhas da África negra.

Os egípcios possuem um prato típico pouco co- para filho, o que faz com que muitas delas sejam
nhecido no cenário da gastronomia internacio- preparadas da mesma forma que seus ancestrais
nal, o ful, que nada mais é do que favas grandes preparavam há milhares de anos.
marinadas em azeite temperado com especiarias A religião muçulmana tem uma influência
diversas e regado com suco de limão. Mesmo muito grande nos países árabes. A carne de car-
ocupando uma vasta região geograficamente, o neiro é a preferida e mais consumida pelos ha-
povo árabe mantém as características culinárias bitantes dessa região. Já a carne de cabrito e de
bem homogêneas, dando pouca importância ao aves, como o peru e a galinha, também chegam
uso de temperos, ervas e especiarias em todas à panela; os grãos são o grande destaque dessa
as preparações. As receitas são passadas de pai cozinha, por exemplo, favas, grão de bico, feijão,
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 71

ervilha e lentilha que muito apreciadoscomo: doces, por sua vez, são preparados com açúcar
frutas, legumes e verduras também fazem parte extraído da beterraba, pois o cultivo de cana-
da dieta em conserva, forma ancestral de con- -de-açúcar é praticamente impossível devido
servar os alimentos ou em recheios. No litoral, o ao terreno árido da região, isso faz com que as
consumo de peixes e frutos do mar é abundante. sobremesas não fiquem muito doces como em
Já o mel marca muitos doces à base de massa filo outros continentes.
e castanhas, aparecendo até em pratos salgados. Em alguns países do oriente médio, algumas
As técnicas de conservação usando a defu- religiões proíbem o consumo de carne suína e
mação são atribuídas aos egípcios, porém há re- de seus derivados, a carne de outros animais
latos de que todos os países árabes já utilizavam só pode ser consumida mediante um ritual, no
a defumação para a conservação dos alimentos qual existe uma forma de sacrificar esse animal,
para secarem frutas, peixes e frutos do mar, para que sua carne não se torne impura. Esse
especiarias, carne de sol, dentre outros. ritual consiste em virar o animal para Meca e
Em alguns países árabes, a alimentação é com uma faca abrir seu pescoço e dizer a frase:
baseada no arroz e compõe sua alimentação com “em nome de Deus”. O animal deve sangrar até
pratos agridoces. Muitos pratos são assados e o fim e, depois, é feita a limpeza. No Irã, carnes
ensopados, as nozes são misturadas com suco de exóticas são consumidas, como as de leão, leo-
romã e adicionadas aos pratos para dar sabor; Os pardo, lobo e aves com garras.
Cozinha Internacional

Os seguidores do islamismo só podem comprar crustáceos e peixes sem escamas. As carnes


carnes de abatedouros onde o ritual de abate e derivados de leite nunca devem ser mis-
acontece, para considerar a carne pura. Outra turadas na mesma preparação, os grãos que
regra para os seguidores do islã é não consumir fermentam e fritura em manteiga também
bebidas alcoólicas. estão proibidos no consumo. A mesma coisa
Nos países árabes, ainda existem grupos acontece com carne de boi e com os molhos
de nômades que levam consigo utensílios derivados do leite.
leves, para serem carregados por todo lugar, Os alimentos podem ser misturados, pois
e, ao mesmo tempo, resistentes, para aguentar existe um ritual de lavagem da louça, bem como
as viagens; os fogões por onde eles passam vasilhas separadas para certos tipos de alimen-
são feitos de pedra ou chapas de metais. Nos tos. Antes de iniciar o preparo ou a cocção dos
dias atuais, os nômades possuem refrigera- alimentos, é necessário fazer uma prece agra-
dores nos carros, facilitando o transporte de decendo ao alimento que lhe foi ofertado. Não
alimentos de um lugar para o outro, e as re- se pode cozinhar no período entre o pôr do sol
feições são compartilhadas em grandes potes da sexta-feira e do sábado.
de pedra, em que toda a família se alimenta Algumas frutas são diferentes do restante
usando as mãos. do oriente médio, tais como a cédrat, utilizada
Já nas cozinhas urbanas, encontram-se para a cristalização da casca, grapefruit, limão
utensílios como panelas de ferro, taginas, pe- doce da palestina e limão eureka. Os queijos
neiras, vários tipos de caçarolas, com os mais são frescos nessa região de Israel e elaborados
variados tipos de material. Os fogões ficam nos com o leite de cabra, ovelha e vaca. O consumo
fundos ou fora das casas. de carnes de aves e peixes é maior por terem
Não é possível falar do oriente médio sem um preço mais acessível, mas a carne bovina
falar do judaísmo, mais comum em Israel. aparece em alguns pratos típicos. O consumo
Quase sempre os ingredientes são os mesmos de vinho aparece em rituais e também deve
da cozinha árabe, e as preparações mudam fazer parte da categoria de produtos kosher,
conforme designadas por Torah. Os alimentos que denomina os produtos produzidos sob o
proibidos são: porco, coelho, lebre, moluscos, controle do rabino.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 73

considerações finais
Chegamos ao final da nossa segunda unidade do livro de cozinha internacional.
Até aqui, familiarizamo-nos com os países das Américas, Ásia, Oriente
Médio e suas tipicidades, cumprimos nosso objetivo de formar uma base de
conhecimentos sólidos da cozinha internacional desses países.
Nesta unidade, pudemos compreender as características milenares dos
países asiáticos e sua tradição até os dias atuais, com poucas mudanças em
seus hábitos alimentares e de preparação dos alimentos, sua rica cozinha e
ingredientes.
No oriente médio, observamos um pouco da força que a religião tem
sobre os hábitos alimentares dos povos, também vimos os hábitos compar-
tilhados por todos os povos de forma semelhante, seja no modo de preparo
dos alimentos, utensílios, chagando aos ingredientes usuais.
No que diz respeito à cozinha internacional, o continente asiático e o
oriente médio são, em sua grande maioria, culturas que, ao longo do tempo,
tiveram o seu desenvolvimento em outros países, adaptando seus pratos a
ingredientes locais, por exemplo, os sushis com goiabada e cream cheese, o
yakisoba, as esfihas de carne bovina, dentre outras preparações que tiveram
que ser modificadas para agradar o paladar típico e financeiro daquele país.
Criam-se novos conceitos de gastronomia internacional, muitas vezes, fora
dos países de origem, que é o caso também dos famosos fast-food de culinária
asiática e culinária árabe.
Agora, você está familiarizado com as principais técnicas de preparo dos
alimentos do continente asiático e do oriente médio e com seus principais
ingredientes, assim, pode iniciar nossa última unidade sobre o continente
europeu e africano.
Cozinha Internacional

atividades de estudo

1. Na Ásia, existem várias técnicas de preparo dos alimentos, assinale a alternativa


correta, levando em conta as principais técnicas utilizadas pelos mesmos países
(China, Japão, Tailândia e Índia):
I. Stir-fry, vapor e tandori.
II. Stir-fry, fritura por imersão e vapor.
III. Tandori, teriaky e stir-fry.
IV. Vapor, stir-fry e fritura por imersão.
Podemos afirmar que:
a. Somente a alternativa I está correta.
b. Somente as alternativas I e II estão corretas.
c. Somente as alternativas III e IV estão corretas.
d. Somente a alternativa IV está correta.
e. Todas as alternativas estão corretas.

2. No Oriente Médio, as cozinhas são muito parecidas, suas técnicas de conservação


dos alimentos também são usadas em todo o continente; há relatos de que as
primeiras formas de conservação dos alimentos foram criadas pelos egípcios.
Diga qual a técnica usada para conservar os alimentos e quais os alimentos que
eram conservados.

3. A culinária chinesa é caracterizada em 4 diferentes estilos. Quais são eles?


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 75

leitura complementar
Cozinha e Tradição

O Japão, Meca internacional da gastronomia, Daí não ser novidade para o universo japonês
ostenta 31 restaurantes 3 estrelas do Guia a culinária ser considerada arte.
Michelin, versão 2012, e mais de 400 com 2 Hoje o congresso com o encontro de Lima
e 1 estrelas, o que qualifica como país com o potencializou a troca de ideias. Chefs e insumos
maior número de estabelecimentos reconhecidos circulam com mais dinamismo pelo mundo e
com o padrão de excelência. Lá ainda persiste experimentam criações alheias não para copiar,
a consciência de que a gastronomia pertence mas para se inspirar mutuamente . Assim os
ao sentido clássico das artes, daqueles que são conceitos de culinária tradicional japonesa vem
herdados por gerações, via linha familiar ou na sendo comentados, como uma das grandes fontes
relação entre mestre e discípulo. Restaurantes de inspiração também na culinária ocidental,
consagrados contam quatro séculos de existência especialmente a partir da nouvelle cuisine fran-
ininterrupta, como é o caso do Hyotei, em Kyoto, cesa, que ostensivamente adotou procedimentos
hoje uma culinária de excelência formal, com do kaiseki ryôri (a refeição em diversas etapas,
postura artesanal, e seu padrão é mantido há servidas em sequência) do Japão. E aí entra a
séculos, muito antes da fama internacional que importância de conhecer o peso das tradições e
os holofotes do recente jornalismo gastronômico o reconhecimento das técnicas. Muitas dessas
lhe dirigiram. A intimidade culinária japone- técnicas são resultado do conhecimento depura-
sa tradicional com outras artes, especialmente do por séculos, saberes herdados sobre os quais
com a criação dos jardins e a cerimônia do chá, é dispensável qualquer questionamento.
está ligada a sintonia que essas artes tem com a Antes de querer ser um Adria ou um chef
mudança sazonal e como delas são absorvidas a exuberante, o cozinheiro tem que conhecer a
linguagem e a mensagem estética. Evidencia-se, técnica assimilada em seu próprio corpo. Essa
assim, o status de arte que a cozinha japonesa é a lição que todos os chefs importantes dão
sempre ostentou, sem precisar de justificativa a iniciantes no ramo. O manejo da faca e das
pública. panelas é um procedimento que o corpo é ins-
O fato é que essa intimidade da culinária truído de responder intuitivamente, como um
tradicional japonesa com as outras artes, lem- pintor trabalha com seus pincéis ou o dançarino
brando também a cerimônia do chá, introduziu com o seu corpo.
até no ato da refeição em si o apelo à estética. Fonte: Takashi (2012, p. 16).
Cozinha Internacional

O LIVRO ESSENCIAL DA COZINHA ASÍATICA


Tatiana de Weber
Editora: H.F. Ullmann
Sinopse: Ricamente ilustrado, o livro reúne uma deliciosa
seleção de receitas da cozinha asiática, que não é apenas
bastante variada, mas também gostosa e saudável. Com
este livro, o leitor empreende uma viagem de descoberta ao
império dos aromas exóticos e dos temperos desconhecidos.
Inclui informações sobre os ingredientes asiáticos e métodos
de confecção, assim como dados sobre a história cultural
desses países, proporcionando ao leitor uma visão geral
sobre o tema. É um guia para todos que querem desvendar os segredos
da cozinha asiática.

CHEF PROFISSIONAL
Instituto americano de culinária
Editora: Senac São Paulo
Sinopse: Chef profissional é essencial para qualquer chef
que deseja aprender e aperfeiçoar suas técnicas. Essa bíblia
dos chefs reflete, como poucas obras, a forma como as pes-
soas cozinham e comem e ainda procura discutir uma vasta
gama de assuntos, que vão de uma análise do trabalho do
chef a capítulos específicos sobre molhos, sopas, carnes,
vegetais, grãos, café da manhã, bolos, pães etc., de receitas
simples a preparações mais sofisticadas. O livro inclui in-
formações essenciais sobre nutrição, segurança alimentar e da cozinha,
equipamentos e ingredientes, assim como mais de 640 receitas e suas
variações.
Cozinhas da Europa e da África:
A influência na Gastronomia Mundial
HUGO LEONARDO DE CASTRO ALVES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Gastronomia europeia: cozinha da Alemanha e Espanha


• Gastronomia europeia: cozinha de Portugal e europa oriental
• Gastronomia africana: a influência cultural em outros povos.

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os principais países europeus na gastronomia interna-
cional e seus costumes alimentares.
• Compreender a importância da Alemanha, Portugal, Espanha e
Europa oriental na gastronomia internacional.
• Apresentar a cultura e formas de se alimentar dos principais
países que compõem o continente africano e sua influência nos
hábitos alimentares em outros continentes.
79

Introdução
Olá, aluno(a)!
É com imensa alegria que chegamos a nossa última unidade, porém não menos importante
que as outras pelas quais passamos. Nesta unidade, focaremos no continente europeu, berço da
evolução gastronômica, onde os holofotes estão sempre atentos a uma nova tendência criada por
chefs internacionais e onde as novidades acontecem no mundo da gastronomia. Podemos consi-
derá-lo o continente mais estrelado e premiado do mundo, no qual os melhores e mais famosos
profissionais e estabelecimentos se encontram, mostrando para o mundo qual a tendência a ser
seguida e copiada. Falaremos da característica inconfundível e marcante da gastronomia alemã e
de todas as suas influências, por exemplo, o exótico sanduíche de peixe em conserva, consumido
no café da manhã. Descobriremos a culinária portuguesa tão rica e, ao mesmo tempo, barata
para se preparar, cheia de sabores e aromas característicos de seu preparo, com uma infinidade
de doces à base de ovos, como o inconfundível pastel de belém.
Faremos uma viagem pela diversificada e moderna cozinha espanhola, com suas ideologias
e paladares expressivos, seus ingredientes típicos conjugados com tecnologias na forma de pre-
parar os alimentos e suas misturas de sabores e cores que fazem dela uma cozinha relaxante e,
ao mesmo tempo, alegre. Teremos a oportunidade de conhecer a Europa oriental, com a Rússia
ditando a gastronomia regional, grande em seu território e especial por sua comida caseira,
veremos, também, pratos clássicos que ganharam fama internacional.
Teremos a oportunidade de fecharmos o ciclo da gastronomia internacional com o continente
africano, autêntico, marcante e exótico por natureza, refletido em suas tradições e influências
de outros países. Contrastes relativos à escassez de insumos e, ao mesmo tempo, recursos para
uma alimentação equilibrada, fazendo da racionalização uma obrigação para seu povo.
Concluiremos com o fechamento da disciplina e aspectos que marcaram a cozinha
internacional.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 81

Gastronomia Europeia:
Cozinha da Alemanha
e Espanha

A Cozinha da Alemanha

Para aqueles que moram na região Sul do Brasil, a culinária alemã


não é algo desconhecido, haja vista a grande quantidade de imi-
grantes germânicos que por aqui desembarcaram nos dois últimos
séculos (XIX e XX). Cidades como Rolândia, Toledo e Marechal
Cândido Rondon, no Estado do Paraná; Blumenau, Piratuba e
muitas outras do Estado de Santa Catarina; Nova Petrópolis, no
Rio Grande do Sul são apenas alguns exemplos que atestam a im-
portância da cultura alemã no Brasil. Por isso, a grande relevância
de estudarmos a sua gastronomia, como forma de conhecermos
um pouco mais as características que dão cor e sabor aos alimentos
de origem teuto.
Cozinha Internacional

A gastronomia alemã tem por característica ser muito conhecido na região da floresta negra.
marcante por misturar frutas às comidas salga- No café da manhã alemão, o rollmopsbrötchen,
das. Um bom exemplo são as sopas de cereja e a um sanduíche de pão de trigo recheado com
sopa de enguias, basicamente preparadas com alface, tomate e filés de sardinha em conserva,
cenoura picada, ervilhas, aspargos, ameixas e faz as honras. O tradicionalíssimo Himmel
damascos. Sendo essa uma especialidade da und Erde, traduzido como céu e terra, feito
famosa cidade de Hamburgo, também muito com purê de maçãs e batatas acompanhado
conhecida por ser a cidade que originou um dos de salsichões grelhados, uma infinidade de
pratos mais consumidos pelo norte americano, embutidos e defumados, faz parte da dieta
o Hambúrguer. alemã. Do café da manhã ao jantar, os embu-
Há, também, um lombo de veado recheado tidos, ou mais conhecidos como salsichões,
com frutas vermelhas e servido com maçãs, aparecem como os produtos mais consumidos
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 83

pelas famílias do país.


Aliás, não podemos nos esquecer de falarmos que
foi a charcutaria que deu destaque aos alemães
no cenário gastronômico, por sua qualidade e di-
versidade, podendo ser grelhada, frita ou cozida
com uma infinidade de tipos de carnes, tem-
perada com especiarias secas ou ervas frescas.
Outro produto que não pode faltar na mesa
alemã são as variedades imensas de pães, com for-
matos e cores variados, deixando as refeições mais
abundantes e substanciosas. As farinhas mais
usadas na elaboração desses pães são as de centeio,
de trigo, temperadas com gergelim e cominho.
Já os derivados do leite, os lacticínios, apare-
cem com os queijos, dentre as variedades existen- lidera a preferência nacional e é muito conhecido
tes, o que mais se destaca é o famoso queijo Quark, em outros continentes onde os alemães tiveram
que tem em sua característica uma consistência sua imigração. As batatas também não ficam de
mole, acrescido de cebola desidratada, páprica e fora quando o assunto são legumes. Na Europa
ervas secas, trazendo um sabor inconfundível e na Alemanha não seria diferente, o consumo
para o queijo. de pratos à base de batatas é bem significativo.
Com relação às proteínas animais, carnes, Como acompanhamento, a batata também tem
aves, peixes e frutos do mar são de fácil acesso seu lugar de destaque, principalmente preparada
em todo o território nacional, com muitas em forma de purê.
variedades de espécies. Os crustáceos mais As frutas aparecem em forma de geleias e
apreciados pelo povo alemão são as ostras e os conservas, técnicas de conservação das frutas
mariscos, já as aves tem como preferência na- criadas para que durassem por mais tempo e,
cional a galinha e o ganso, a carne moída bovina assim, abastecerem as famílias por longos pe-
também é muito apreciada na capital Berlim. ríodos de inverno rigoroso. Dentre as frutas
Os vegetais também têm um papel importan- mais típicas, estão as maçãs, muito utilizadas
te na subsistência alemã, dentre eles, o repolho para a preparação do famoso apfelstrudel, mais
é o mais apreciado, é claro, empregado principal- conhecido no Brasil por Strudel de maçã. Seu
mente no chucrute, um repolho fermentado que preparo consiste em esticar uma massa à base
Cozinha Internacional

de trigo até o seu limite, deixando-a fina como crustáceos, como ostra e mexilhões.
uma folha de papel; essa massa é pincelada com Também podemos observar que a região
manteiga derretida e recheada com maçã, açúcar que faz fronteira com a Dinamarca possui um
e canela, por fim, enrolada e pincelada com gema rebanho considerável de vacas leiteiras, em que
de ovo e assada. Suas características depois de as produções de produtos derivados do leite,
pronta é ser crocante e dourada por fora e sa- como manteiga e queijos alemães, saem dali.
borosa e macia por dentro. A cereja também é A cidade de Munique abriga a conhecida e
uma fruta muito apreciada, sua utilização se dá famosa Oktoberfest, o festival da cerveja, consi-
no preparo de um destilado da fruta, mundial- derado a maior festa da cerveja de todo o mundo,
mente conhecido como kirsch. com uma variedade imensa de cervejas e pratos
As sobremesas aparecem com influências dos típicos. A região de Baden tem em sua culinária
países europeus, é o exemplo do autêntico folhado influências francesas, devido a sua localização
francês, muito consumido pelos alemães, seguido geográfica ser próxima da França, e é considera-
dos biscoitos, os inconfundíveis bolos acrescidos de da por alguns como o verdadeiro paraíso gour-
especiarias, além do típico bolo de natal gigante em met dentro da Alemanha. Os ingredientes mais
forma de árvore, o baumkuchen. No norte alemão, conhecidos são peixes, truta e carpas, além da
encontramos as influências holandesas, escandi- carne de caça, em especial, da carne de veado,
navas e polonesas que se misturam às tradições muito comum na região da floresta negra; os
dos alemães. As sopas de caldo espesso, as carnes cogumelos selvagens e hortaliças também são
e os peixes defumados estão sempre presente nas bem consumidos e procurados naquela região.
refeições diárias dos habitantes locais. A região conhecida como Rheinland encon-
Na região central da Alemanha, cereja, pão, tra-se na zona do Reno, famosa por ter uma
presunto e vegetais frescos são ingredientes produção grande de batatas, um ingrediente
muito utilizados na alimentação, além de folha- muito consumido, como dissemos anteriormen-
dos tipicamente eslavos. Na famosa região da te, além de se destaca pelos excelentes vinhos.
Bavária alemã, a cerveja, as carnes e a pâtisserie A região que faz fronteira com os países baixos
roubam a cena e fazem essa região ser muito europeus é onde se concentra a produção e o
visitada por turistas do mundo todo. consumo dos melhores presuntos e salsichas
Na região norte próximo ao mar, não seria alemãs, a região é chamada de Westfalen. O
diferente, a alimentação é basicamente de peixes presunto preparado na região é defumado com
e frutos do mar local, os peixes mais consumidos zimbro, o que dá um sabor totalmente caracte-
são o arenque, sardinha, cavala, enguia e muitos rístico ao alimento.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 85

No Brasil, a cidade de Blumenau, em Santa


Catarina, no mês de outubro, apresenta a
Oktoberfest em homenagem aos coloni-
zadores alemães da cidade, assim, ficou
conhecida como a maior festa da cerveja
do Brasil, com cervejas e comidas típicas
alemãs.

Fonte: <http://www.oktoberfestblumenau.com.
br/oktoberfest/historia>.
Cozinha Internacional

Países Nórdicos As renas tinham o papel fundamental para esse


povo, pois era o animal que mais se adaptou
Medina (2006, p. 50) diz a essas regiões montanhosas e geladas, por
A cozinha que veio do frio: parece ter isso, sua pele, carne e leite eram consumidos.
chegado a hora do degelo para as cozi- No sul da Noruega, a criação de ovelhas
nhas dos países Escandinavos.
também era grande, pois a lã, a carne e o leite
O momento de se mostrar e definiti-
vamente trazer a luz a singularidade também tinham um papel fundamental para
dos seus grandes recursos culinários. a sobrevivência daquele povo. Os rios gelados
Uma diversidade de preparações des-
conhecidas, até mesmo pelos países também abrigam um dos peixes mais famosos
europeus mais próximos. Basta um daquela região, o salmão. Seu consumo e pesca
breve vislumbre sobre as cozinhas da
também acontecem, assim como o do badejo,
Noruega, Finlândia, Suécia e Dinamarca
para encontrarmos recursos culinários e arenque e a sardinha vindos do oceano atlân-
pratos que transcendem o lugar comum. tico. Um prato típico do norueguês se chama
Assim, em conjunto com produtos já
conhecidos por todos, o salmão, os aren-
Farikal, um guisado de carne de carneiro e
ques, o bacalhau, a carne de porco, a couve cozida.
couve e as batatas – descobrimos carnes Os suecos, por sua vez, aproveitam ao
tão singulares como a da rena, a do alce e
até a do urso, ou propostas tão suculen- máximo o verão em suas casas de campo e
tas como o ganso, o pato ou carnes ver- litoral, pois os invernos são escuros e frios;
melhas, que ocupam a liderança entre as
na temporada de verão, eles preparam muitos
produzidas, além da curiosa variedade
de frutos e legumes silvestres. peixes e almôndegas de carne, com um con-
sumo tipicamente regional.
Não podíamos falar da Europa sem citar um Os países nórdicos, em sua maioria, têm
pouco da região da Escandinávia, não por ter uma alimentação baseada em peixes e alguns
uma gastronomia renomada ou famosa, mas frutos do mar; pela escassez de variedade de
para entendermos como países com climas ingredientes, a criatividade precisa ser aflo-
tão severos podem contribuir com suas ca- rada, encontrando pratos à base de peixes
racterísticas na gastronomia internacional. Os servidos doces ou salgados. A carne de porco
principais países que compõem essa região são: aparece não com tanta frequência, porém é
Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia. Foi consumida acompanhada de maçãs verde bem
nessa região que nasceram os famosos Vikings, ácidas e alguns legumes, como cenoura. A con-
que tinham em sua alimentação pratos simples, feitaria sueca aparece em lugar de destaque
saborosos e, ao mesmo tempo, substanciosos. na Europa pela sua qualidade e criatividade.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 87

Na Dinamarca, a receptividade do povo se A Finlândia, após ser colônia Russa e Sueca,


reflete em sua gastronomia, principalmen- transformou-se em um país com uma in-
te na confeitaria, com os famosos bolos dústria moderna e, ao mesmo tempo,
de Copenhagen e os famosos chocolates. contemporânea.
Apesar de sua localização no continente eu- Sua alimentação é baseada na agricultura
ropeu, a Dinamarca é um país de cozinha de cereais, como aveia e centeio, porém as
rica. Os pescados, por exemplo, são muito batatas também são bastante consumidas. A
comercializados e consumidos pelos dina- criação de bovinos se faz bastante importante
marqueses. A qualidade da sua agricultura e para a Finlândia; a carne de porco tem seu
pecuária, com técnicas avançadas, dão des- consumo por meio dos defumados e embu-
taque ao país, sem nos esquecermos das tidos. Não podemos nos esquecer da pesca
frutas colidas nos bosques. Um prato típico por ter um grande perfil econômico e social
da preferência local é o Smorrebrod, basi- da região. Nos curtos verões, os cogumelos e
camente pão com embutidos, queijo, peixe, as frutas selvagens que nascem são bastante
legumes, conservas de pepinos, alcaparras, apreciados por lá. O pão também faz parte
cebolas, mostarda e muito molho picante. da base da alimentação.
Cozinha Internacional

A cozinha da Espanha

A Espanha, assim como Portugal, pertence à portugueses se tornaram a porta de entrada


região geográfica da Península Ibérica. Essa para esse continente, para quem vem do oceano
região foi dominada por quase mil anos pelos Atlântico; o resultado disso não poderia ser di-
mouros – norte africanos convertidos ao isla- ferente de uma grande interação cultural.
mismo e que chegaram à Península, em 711. A gastronomia espanhola tem em sua iden-
Em razão disso, percebemos muito a influên- tidade a marca inconfundível da diversidade. O
cia desse povo, tanto em sua arquitetura como intercâmbio de alimentos aconteceu por muito
na gastronomia ibérica. Por ser um país que tempo, por exemplo, o arroz e as especiarias tra-
se situa na “entrada” da Europa, espanhóis e zidos pelos Árabes, juntamente com pão, azeite e
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 89

vinho trazidos pelos Romanos; com o passar dos branco cozido com embutidos, açafrão e carne
séculos, a cozinha local mesclou os ingredientes de porco), além do queijo e da famosa sidra, um
trazidos de outros países com os produtos típicos vinho à base de maçã.
do mediterrâneo, como: peixes, frutos do mar, Já a região da Cantábria nos oferece muitas
aves, porco, carneiro, alho, cebola, salsa. diversidades de ingredientes, por possuir uma
Como é de costume do povo espanhol, o cozinha derivada do mar em suas regiões mon-
café da manhã não tem muita importância, é tanhosas, com pratos de grande qualidade, com
basicamente jamon com pão, churros e tortilha carne de vaca, anchovas frescas e os derivados
espanhola, uma espécie de omelete recheada do leite. Alguns tipos de pratos dignos de serem
com batatas. Importante mesmo é o almuer- mencionados vem da região da Galícia, como o
zo (almoço), que tem em sua composição, na guisado, as caldeiras, o polvo e os derivados de
maioria das regiões, ovo, pães e embutidos. Já leite e os doces.
os tapas espanhóis são famosos por todas as As regiões de Aragon, La Riojas e Navarra
partes do mundo. Fazem parte do cardápio: desencantam-se com as frutas e hortaliças, pois
frutos do mar, carne de porco, cedro ibérico são produzidas em seus vales férteis, verda-
(porco selvagem de pelagem negra), azeitonas, deiros paraísos, onde encontramos aspargos,
legumes, carneiro, arroz e azeite. Os espanhóis pimentões, pêras e pêssegos, que desfrutam
também carregam o título de um dos maiores da fama por serem de altíssima qualidade. Os
exportadores desses produtos, juntamente com ensopados à base de verduras e as batatas macias
as frutas. dão lugar às deliciosas trutas dos rios de monta-
Na região norte, o clima úmido e chuvoso nhas que complementam a gastronomia local,
favorece uma gastronomia muito rica e varia- sem esquecer das carnes preparadas com uma
da, pois nessa região a criação de gado bovino espécie de refogado de tomate, pimentões e
prevalece. Os peixes e as batatas também são de outros ingredientes. Fechando com delicados
ótima qualidade. Conhecida como país Basco, e harmoniosos vinhos da região de La Riojas.
essa região desenvolve uma gastronomia de A confeitaria tem seu lugar de destaque,
pratos próprios, como é o caso do marmitako pois sofreu influências francesas. Nas sobre-
(composto por batatas e atum). mesas, principalmente na região norte, deriva-
Na província de Asturias, conhecida como dos de leite, frutas secas, achocolatadas ou em
paraíso natural, prevalece o consumo de peixes conserva aparecem. Completam a gastronomia
e frutos do mar, em especial, o marisco, mas o os pães de grande qualidade e diversidade, que
seu prato mais característico é a fabada (feijão são apreciados por todos.
Cozinha Internacional

A cozinha mediterrânea espanhola aparece como do queijo e do iogurte, dos peixes e dos frutos
uma das principais, quando falamos de dieta do mar, das frutas e carnes de caça e de criações;
mediterrânea, baseada na trilogia do trigo, azeite é uma cozinha variada e completa, ao mesmo
de oliva e do vinho, a qual é muito benéfica para tempo em que encanta a todos pela sua sutileza,
a saúde. Essa cozinha se completa com con- características diferentes e identidade, sendo
tribuições importantes, como as do arroz, das uma das mais importantes da gastronomia mo-
leguminosas, do azeite, do alho, das hortaliças, derna. Medina (2006, p. 50) diz que

Apesar de um traço comum: a habilidade de conciliar a riqueza de espécies marinhas com a at-
mosfera familiar e aconchegante que se respira junto aos fogões nas montanhas e nos vales que
protegem a costa, estendendo-se para o interior. O mar oferece, a cada dia, uma infinidade de
espécie de camarões, lagostas, caranguejos, pescadas, linguados, sardinhas e enguias.

Já a terra abastece a cozinha com deliciosos legumes, o arroz de qualidade; das saborosas ver-
duras aos inigualáveis cogumelos do campo e às trufas; do leite aos queijos. Lugar especial da
cozinha espanhola é reservado às carnes, destacando-se o sabor sublime e inconfundível do
presunto ibérico. Dando um toque especial à culinária farta e original, temos a excelência de
seus famosos azeites.

Para completar a prazerosa experiência de uma refeição com a marca da Espanha, vale a pena
ainda explorar o requinte de seus doces, descubrir algumas das inúmeras sutilezas desta cozinha
tradicional que merece ser apreciada.

A Cataluña, por sua vez, conta com uma cozinha foi o mundialmente conhecido creme brulée
rica e refinada, isso desde a idade média. É for- espanhol ou crema catalana, em que é prepara-
mada pelos ingredientes do seu litoral com uma do basicamente um mingau com ovos servido
variedade de peixes e frutos do mar, enquanto, gelado; o charme fica por conta do açúcar que é
em seu interior, roubam a cena caldos e guisa- derretido com um maçarico em sua superfície.
dos de carne de caça, em que o arroz é a estrela Na região Múrcia, a grande influência árabe
principal. As influências árabes aparecem com se junta com a cozinha do mediterrâneo, com
os doces, turrones e sorvetes preparados diaria- um grande consumo de peixes e frutos do mar,
mente, os churros, também muito conhecidos devido ao seu litoral. Essa foi a primeira região
por todo o mundo, foram introduzidos nessa a receber o povo árabe na Península Ibérica.
região e logo caíram no gosto popular de todo Seu solo era composto por pedras e rochas, a
o país. Outra sobremesa que surgiu na Cataluña cultura árabe ajudou a transformar a região,
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 91

construindo muitos jardins, não é por acaso A região de Castilla y Leon tem em sua dieta prin-
que hoje é considerada o jardim espanhol. Uma cipal o consumo representativo de leguminosas,
região onde a agricultura também tem seus mé- tais como grão de bico e lentilhas; a carne de porco
ritos, a produção de legumes e verduras dita os também é muito usada em sua gastronomia local,
hábitos alimentares do povo. Contribui, junto os suínos são alimentados à base de castanha, o
com a região de Valência, com uma importante que deixa em sua carne uma coloração mais amar-
produção de laranjas, que é exportada para o ronzada, diferente dos outros animais criados
restante da Europa. regularmente. Outra característica é o alto grau de
qualidade e sabor da carne. Também, vamos en-
contrar outros produtos típicos da região: carne
de caça, cordeiro de leite, cabrito e leitão assado.
As trutas dos rios de águas límpidas e a grande va-
riedade de queijos à base de leite de vaca, ovelha
e cabra são o diferencial dessa região. A expressão
Você sabia que na região de Valência
existe o famoso tribunal das águas? Pois
árabe também é encontrada na confeitaria, com
bem, por ser uma região árida e rocho- utilização de gemas e massa folhada.
sa, as águas dos rios são consideradas Destacam-se, também, os produtos e pratos
pelos habitantes muito preciosas; essas
derivados de suíno ibérico, sua alimentação à
águas são irrigadas por meio de peque-
nas fissuras nas rochas, não sendo muito base de cereais, castanhas, avelã e ervas selva-
abundante, por esse motivo, seu uso é gens proporciona uma carne de alta qualidade,
controlado. Quando um agricultor viola
muito utilizada na preparação do conhecidíssi-
o uso da água, usando em excesso, por
exemplo, ele é julgado por esse tribu-
mo jamón, um tipo de presunto curado.
nal. Esse julgamento é uma herança da Guisados de peixes e carnes (guisado de carne
cultura local, normalmente realizado em de cabrito ou cordeiro cozido ao ponto, em seguida,
ruas e praças movimentadas, tendo forte
as carnes são fritas e temperadas com especiarias,
caráter de punição moral. Esse tribunal é
organizado pelos próprios agricultores e pimentão e vinagre), os escabeches frios também
camponeses que dependem desse bem aparecem como produtos regionais; cogumelos,
tão precioso, a água.
alho poró e uma grande variedade de queijos ar-
Fonte: adaptado de Alves (2015). tesanais tornam a gastronomia típica espanhola
fascinante. Os conventos da região de Extremadura
produzem os queijos artesanalmente.
Cozinha Internacional

Castilla La Mancha tem, em sua característica base de tomates) vem dessa região; as frituras
gastronômica, o uso de um dos mais famosos in- em azeite de oliva são técnicas de preparo incon-
gredientes espanhóis, o açafrão. O mel também fundíveis dos espanhóis, tornando particular essa
aparece junto com o queijo à base de leite de gastronomia de grande apelo popular.
ovelha manchego, muito consumido na região. A região das famosas Islas Canárias fica
Madrid aparece com sua contribuição: os pratos localizada na costa atlântica da África, desfruta
de bacalhau e o cozido madrileno (cozido de de uma cozinha muito diferente do resto do país
carne de vaca, porco, grão de bico e legumes), e, ao mesmo tempo, pessoal; sua base é farinha
já como frutas, temos os morangos, que são de cereais torrados, isso devido às influências
famosos pelos seus tamanhos exagerados, cha- africanas. O molho de pimenta é um de seus
mados localmente de fresones. atrativos, juntamente com o cultivo de legumes
No sul da Espanha, mais precisamente em e frutas tropicais.
Andaluzia, há mistura de culturas, que criou seu Os romanos, por sua vez, expandiram a vi-
patrimônio gastronômico; encontramos grandes nicultura por toda a Espanha, transformando o
plantações com terrenos férteis, com hortas e vinho em um elemento fundamental em todas
frutas, os intensos guisados no inverno e uma as cozinhas regionais do país, isso tornou a
cozinha completamente mediterrânea no litoral. Espanha um dos maiores produtores de vinho.
Sua confeitaria, como em outras regiões, vem Atualmente, sua qualidade está sujeita a ri-
de herança árabe, o consumo e os pro- gorosos controles e apresenta uma grande
dutos à base de carne de porco variedade de comarcas
é variado. O famoso vinícolas.
gaspacho (sopa
fria à
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 93
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 95

Gastronomia Europeia:
Cozinha de Portugal e
Europa Oriental

A cozinha de Portugal

A gastronomia portuguesa carrega sua identidade por ter pratos


ricos, cheios de sabor e baratos em seu preparo, isso pelas influ-
ências da comida nas antigas colônias, especialmente na grande
variedade de temperos utilizados. Há, também, influências árabe
e moura, em especial, na região sul de Portugal. O alho é o prota-
gonista, com uma larga utilização pelos habitantes dessa região,
assim como a salsa. Medina (2006 p. 50) completa:
Cozinha Internacional

A cozinha portuguesa é conhecida principalmente pelas receitas com bacalhau. Isso é a mais
absoluta verdade, já que não existe outro país, no mundo, nem sequer entre os produtores de
peixes salgados, que iguale o número e a variedade de receitas dedicadas a essa espécie de peixe.
Mas a culinária portuguesa vai muito além. É o resultado de uma intensa viagem de busca em
todo o mundo e ao longo da história. Percurso no qual foram reunidos produtos, aromas, ideias e
combinações que logo souberam aplicar, com imaginação e graciosidade, a uma gastronomia que
funde, de forma surpreendente sólida, suas raízes nas tradições culinárias da terra. Daí nasce uma
cozinha de ares familiares, que se nutre tanto do trabalho nos fogões mais humildes quanto das
fórmulas desenvolvidas no calor das cozinhas palacianas, adornadas de vez em quando, com deta-
lhes tão sugestivos como um “marisco em cataplana” ou o sempre tentador “porco com vôngoles”.

Os portugueses já nasceram com vocação marí- aqueles que dizem que existem mais de 365 ma-
tima e isso se reflete na quantidade de peixes e neiras diferentes de se preparar o bacalhau, uma
frutos consumidos no país. Dentre a infinidade para cada dia do ano. As sardinhas assadas na
de peixes, o bacalhau toma seu lugar de desta- brasa também são muito populares, assim como
que, considerado a identidade do país no quesito polvo e mariscos.
gastronômico, o prato nacional de Portugal; há A carne é amplamente usada na cozinha
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 97

portuguesa, tendo especialidades de porco e ca- seu alto teor de qualidade.


brito, sendo as carnes de maior consumo dentre Dos pratos mais famosos, o caldo verde,
os portugueses. acompanhado por uma broa de milho fresca, é
As técnicas de preparo dos alimentos mais o prato de orgulho nacional, diretamente ligado
comuns são o calor seco (assado) e úmido (en- ao minho, uma produtora de vinho.
sopado). Com as sobras das carnes, os portu- A gastronomia típica portuguesa utiliza
gueses costumam transformar uma variedade seus ingredientes regionais de forma bastante
de produtos à base de carne, especialmente, diversificada, por exemplo, açorda, ou qualquer
linguiças, salsichas de porco com cebolas, alho e sopa que leva pão, em sua maioria, pães caseiros
pimenta; e o chouriço uma salsicha com aspecto assados no forno à lenha; a sopa pode ser de
seco e sabor picante. peixe, vegetais, porco, frango e escargot.
Já o consumo de vegetais é muito variado, Para melhor entender e distinguir as varie-
tomate, repolho, couves de diferentes tipos, dades da gastronomia portuguesa, dividiremos
pimentões e cebolas são os mais populares em a apresentação por regiões gastronômicas.
sua culinária; o arroz é bastante usado, assim No litoral, são predominantes os pratos
como batatas. com peixes e frutos do mar, já no interior, as
Sua confeitaria é um dos pontos fortes de sua influências alentejanas são evidentes como,
gastronomia típica, especialmente as sobremesas por exemplo, os pratos típicos: peixe guisado
compostas de gema de ovo, que são, muitas vezes, à marinheira, angulas guisadas, as famosas
temperadas com canela e baunilha. As preparações sopas de peixes com espécies do tipo tamboril,
doces mais populares no país são o pastel de Belém, muito consumidas no interior, acompanhadas
arroz doce, pudim de claras, quindim, dentre dife- de poleos, um tipo de marisco local, e os jureles
rentes variedades de doces com gemas. Bolos de assados.
pão de ló e pastéis também são muito populares. Na zona alentejana, as migas com carne
Portugal, assim como a maioria dos países de porco são uma ótima pedida, nada mais são
europeus, conserva sua tradição e notoriedade do que uma sopa de alho local com carne de
na produção de derivados do leite, tais como porco, o coelho frito ou o pé de porco assado ao
queijo da serra da estrela, feito à base de leite forno. Na confeitaria, o destaque fica por conta
de ovelha de uma raça específica, que faz do da pinhonata da região de Alcácer, os deliciosos
queijo um artigo único, por ter seu centro muito e atraentes doces de laranja de Setúbal, sem se
amanteigado. Os vinhos portugueses e o azeite esquecer das internacionais pêras cozidas ao
de oliva também são muito consumidos pelo vinho moscatel da região de Palmela. A produção
Cozinha Internacional

de queijos de qualidade fica por conta da região e salsicha); o peixe fresco como em outras regi-
de Azeitão, com os deliciosos queijos à base de ões costeiras aparece, tripas de porco também
leite de ovelha, tudo artesanal. Os vinhos co- são consumidas em forma de um prato típico
nhecidos internacionalmente pela sua qualidade local. Na confeitaria, aparece o tradicionalíssi-
ficam por conta da região de Palmela. mo pudim de arroz e o pão de ló, acompanhados
Na Costa Prata, como não poderia ser di- por um dos melhores vinhos do porto.
ferente de uma região banhada pelo oceano, os Na magnífica Região das Planícies, em
pratos mais apreciados pela população local e época de outono, feiras com a gastronomia
por turistas são os peixes e frutos do mar. Suas local devem ser visitadas em Santarém, onde
especialidades são a lagosta suada, as aromáti- produtos vindos de todos os quatro cantos do
cas caldeiradas, angula ao escabeche, sardinhas país são comercializados. Nessa região, podemos
assadas e peixe fresco no peniche. degustar um prato exótico da cozinha portugue-
As carnes também fazem parte da dieta dos ha- sa, o porco com marisco. Outros pratos também
bitantes, tais como o leitão da barriada (cochillo aparecem, como os diferentes tipos de salsichas,
assado), ou o frango caipira (cozido na panela de lombo de porco e carnes de caça. Nos doces, a
barro). É uma região também muito famosa pela principal sobremesa fica por conta dos bolos mo-
produção de vinho de alta qualidade, prove- násticos feitos, é claro, com ovos. Dos produtos
niente das vinícolas bucaso ou bairrada. coloniais, o queijo de Serpa, acompanhado do
Na confeitaria, podemos encontrar os pão produzido no local, regado de vinho tinto
maravilhosos doces de ovos de Aveiro, de Cartaxo e Almeirim, Redondo, Reguengos
ou as cavacas de calda de rainha. são acompanhamentos excelentes.
Na famosa região da Costa
Verde, a alimentação
dos habitantes
locais não é
muito di-
ferente do “Ó mar salgado.
resto das Quanto do teu sal,

regiões cos- São lágrimas do meu Portugal”

teiras. De en- (Fernando Pessoa)

trada, um caldo
verde (sopa de repolho
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 99

Localizado no sudoeste europeu, Algarve


contém um litoral extenso de onde vem sua
principal fonte de alimento. Uma das especiali-
dades da região é um prato chamado cataplana
de marisco, um cozido feito em uma panela
local. A sardinha assada também é levada a
sério e os doces são preparados à base de figos
e amêndoas. A região também concentra alguns
magníficos vinhos de Lagos, Lagoa e Tavira.
A região das montanhas portuguesas ficou
conhecida por seus produtos coloniais e artesa-
nais, dentre muitos, os que se destacam são as
alheiras de mirandela, um tipo local de salsicha
de frango, o presunto curado e o inesquecível
queijo da serra da estrela, um verdadeiro queijo
de montanha, feito nos períodos de outubro a
maio, muito apreciado por lá. Eu não poderia
deixar de mencionar o famoso vinho do porto e
os deliciosos vinhos de Dão, todos vindos dessa
região.
Chegamos à famosa região de Madeira, onde
a vista do oceano nos encanta. Como não seria
diferente da maioria das regiões banhadas pelo
oceano, Madeira se destaca utilizando os peixes
e frutos do mar em sua gastronomia local. As
carnes também aparecem em lugar de desta-
que; ao chegar, você pode degustar um prato Complemente seus estudos revisitando
sempre a disciplina de Cozinha Brasileira
de carne servido no espeto de laurel, ou, para
de Raiz, que aborda, também, as princi-
quem aprecia peixes, o filete de atum com cereais pais influências dos portugueses na nossa
fritos também é uma boa pedida. Outros peixes gastronomia!

e frutos do mar, como peixe espada, marisco,


bogavante, aparecem na lista de consumo dos
Cozinha Internacional

nativos e visitantes. Na confeitaria, o bolo de pérgolas. Mais ao leste, temos as zonas vinícolas
caco e mel faz as honras, acompanhado de um mais antigas do país, cortadas pelo rio, onde se
delicioso vinho local, conhecido como vinho da iniciou e produz até hoje o vinho do porto, que
ilha. tem em suas características o fato de ser rico e
Não conseguiríamos falar de Portugal sem forte quando jovem, suave e sedoso quando en-
mencionar a belíssima ilha dos Açores, com suas velhece. Também podemos encontrar produções
paisagens deslumbrantes e natureza que sur- de vinhos brancos e tintos nessa região. Ao sul
preende. Sua cozinha é muito variada, e por ser do rio, na região de Dão, prepara-se o melhor
uma ilha, os peixes e frutos do mar são bastante vinho tinto de mesa do país, com características
consumidos, porém as carnes aparecem com fortes e marcantes, que são a combinação ideal
mais frequência em forma de cozidos. Aparecem para as comidas típicas bem temperadas.
nos pratos açorianos com mais frequência la- Próximo à capital Lisboa, existem zonas
gostas, percebes, cavaco, cracas etc. Os queijos rurais que produzem bons e conhecidos vinhos.
também são muito atraentes, principalmente os Na região de Bucelas, o vinho branco rico apare-
mais conhecidos, como o queijo da ilha do pico ce como uma boa escolha, já em Colares, devido
ou da ilha São Jorge. Para finalizar as delícias ao seu terreno arenoso, as vinhas crescem ma-
do Açores, há as pinhas da ilha de São Miguel tizando seus sabores.
e os vinhos de Pico e Verdelho. Na região sul, encontra-se Setubal, com
Portugal é conhecida como a terra dos vi- vinhos de características fortes e doces, e os
nhedos, pois os vinhos portugueses merecem da serra Arrábida, excelentes para acompanhar
uma atenção especial. Em todo o mundo, o frutos do mar. Nas Planícies, quase todos tintos,
vinho português encanta, pela sua ampla va- têm suas características suaves e aromáticas.
riedade e, mais do que isso, pela sua extrema Não podemos nos esquecer da região da ma-
qualidade, pois refletem a variedade de seus deira, em que os vinhos são influenciados pela
microclimas. Para entendermos melhor, vamos característica do solo vulcânico, proporcionando
falar das principais regiões vinícolas de Portugal. condições únicas para a elaboração de vinhos
A região noroeste é famosa pelo vinho com identidade forte e rico, com destaque para
verde, com característica refrescante, o qual o malvasia, doce, vermelho, escuro e perfumado,
podemos considerar um bom vinho de mesa, perfeito de aperitivo.
que acompanha bem peixes e mariscos. As Nas ilhas dos Açores, é muito comum a
vinhas são cultivadas no método tradicional, produção e o consumo da aguardente e, para o
conhecido como suspendidas, e apoiadas em aperitivo, o vinho Pico se concentra.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 101

A cozinha da Europa Oriental

Quando falamos de Europa Oriental, a Rússia de salmão de massa leve) e, para a confeitaria,
é o país que tem a gastronomia predominan- a Charlotte Russe (torta cremosa assada com
te nessa região, e seu território é tão grande biscoitos).
quanto a variedade de sua cozinha. Para que Falando dos pratos típicos, encontramos
possamos melhor entender a gastronomia da a Shci (sopa de repolho) e a Pokhloba (sopa de
Rússia, vamos dividi-la em culinária típica ca- batatas), sempre acompanhadas de um pão
seira e pratos que conseguiram renome inter- escuro, normalmente produzido com farinha de
nacional, os clássicos russos. centeio, ambas são muito consumidas devido ao
Medina (2006, p. 50) diz: frio rigoroso que afeta o país boa parte do ano.

Uma cozinha com história. As árduas Dentre as bebidas do dia a dia, estão a Vodka e
condições geográficas da Rússia e o es- a Kvass, (cerveja leve produzida à base de pão
forço dos seus habitantes em se mante- fermentado). O chá é normalmente servido em
rem unidos deram origem a uma cozinha
um recipiente próprio, chamado de samovar ou,
do povo, sólida e de ares invernais, que
só encontra uma alternativa mais firme até mesmo, em chaleiras.
na cozinha praticada no princípio do
século XX, na corte dos Romanov. Esta
última desenvolve uma gastronomia
com nomenclatura de tons míticos,
como o bife strogonoff, a galinha com
molho de noz picante (satsivi), o esturjão
à Rússia, a salada Olivier ou os morangos
romanov. Referências obrigatórias para
uma cozinha de recorte aristocrático, que
tem como destaque e reconhecimento
mundial o caviar. Iguaria em risco de ex-
tinção e cujo dedicado sabor é um delei-
te, permitindo inúmeras combinações e
sendo sempre sinal de sofisticação onde
estiver presente.

Começando pelos mais famosos, encontramos


o conhecidíssimos Strogonoff de carne, pas-
sando pelo frango Kiev, a kulebiaka (torta alta
Cozinha Internacional

O que seria da gastronomia internacional sem o • Rogate: pão em forma de lua crescente.
famoso caviar russo (ovas de peixes retiradas do • Paczi: sonho frito (doce).
esturjão), sempre acompanhadas de blinis, torra-
das e um cálice de vodka para esquentar o corpo? Na Polônia, a sopa se destaca em seu cardápio
Na Polônia, as florestas são predominantes devido ao inverno rigoroso, composta geral-
em quase todo o seu território, fazendo com mente por carnes e cogumelos e sempre acom-
que as carnes de caça e frutas silvestres tenham panhada de pães.
maior destaque em sua gastronomia. As frutas A região da Hungria demonstra em sua
são utilizadas no preparo de sopas deliciosas. O gastronomia a marca das influências culturais
destaque polonês no cenário gastronômico vem sofridas durante um tempo, isso é nitidamente
de seus bolos de mel e gengibre, principalmente, refletido em sua alimentação. A realidade é que
e pelos biscoitos fritos. Dentre as bebidas mais todos os países balcânicos têm sua produção de
consumidas, a vodka, por influência russa, é a vinhos, e a Hungria tem seu lugar de destaque na
preferência nacional, na maioria das vezes, aro- elaboração de vinhos, tendo os mais conhecidos.
matizada de diversas formas, tais como: frutas Já no principal lago do país, o Balaton, a pesca
silvestres, folhas, casca de limão, anis e pimenta e o consumo da truta e de carpas são intensos.
do reino. Um banquete polonês apelidado de A confeitaria húngara é mais conhecida
polacos tem em sua composição a apresentação pelos outros países do mundo, pelo seu lugar
de nove iguarias, por exemplo: de destaque. Um exemplo é a rétes, uma sobre-
• Pierogi (um tipo de pastel feito de fari- mesa parecida com o strudel. Outra que aparece
nha de trigo, queijo, requeijão, batatas, bem no cenário internacional é a torta dobosh
cozido em leite e servido com um molho (basicamente um bolo em camadas com recheio
de manteiga ou com fatias de toucinho). de chocolate e cobertura de caramelo).
• Korowaj (pão grande): tem em sua com- Os pratos típicos da Hungria são:
posição farinha de trigo, com formato • Gulyás: ensopado à base de carne bovina,
redondo, geralmente é enfeitado de tran- aves, batatas, cebola, cenoura e páprica.
ças e marrequinhos da mesma massa. • Polkolt: um ensopado basicamente de
• Chleb razowy: semi-integral feito de fa- cebolas.
rinha de centeio e trigo sarraceno. • Tokány: ensopado rico em aspargos, er-
• Zacierki: tradicional nhoque de batata. vilhas e carnes.
• Strucel: um tipo de pão de farinha de • Bogrács Bulyas: uma sopa criada por va-
trigo trançado. queiros do interior.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 103
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 105

Gastronomia Africana:
a influência cultural
em outros povos

A culinária africana se reflete nas tradições nativas, juntamente com


as influências europeias, árabes e asiáticas. O continente africano
é considerado o segundo maior continente territorial do planeta, o
lar de inúmeras tribos, etnias e grupos sociais. Com tudo isso, essa
diversidade cultural aparece na culinária africana, na diversidade
de insumos básicos, formas de preparação e cocção.
Cozinha Internacional

A cozinha da África

Em quase todas as culturas locais, a dieta é ba- As técnicas de cocção produzem diferentes signi-
seada em frutas disponíveis na região, grãos, ficados, mais ainda nos hábitos de comer e beber
vegetais, leite e carne, sendo que, em algumas do continente entre as regiões sul, central, norte,
tribos africanas, predomina o leite, coalha e soro leste e oeste.Na grande maioria, os vegetais mais
de leite na alimentação. Inesperadamente, em consumidos no continente africano vieram de
algumas regiões a criação de vaca é rara, como a outros continentes, como é o caso do milho,
região tropical; nessas regiões, o leite de ovelha do feijão, da mandioca, e todos são originários
e de cabras são mais utilizados. das Américas, trazidos pelos europeus por volta
Os colonizadores portugueses chegaram do século XVI. Outro fato interessante é que a
na África efetiva no século XV, apresentando a maior parte dos vegetais verdes cultivados em
fritura como cocção e a maioria dos vegetais solo africano são resistentes à seca e ao calor
consumidos até hoje, que são originários das rigoroso.
Américas. Em praticamente todos os quatro cantos
Na composição de vários pratos são utiliza- do continente africano vamos encontrar o
dos vegetais locais, sendo eles fonte de vitami- maffé, um prato típico da região de Mali que
nas e proteínas dos habitantes. Em sua maioria, ficou muito famoso por ter na sua composição
os legumes e vegetais são originários de outro legumes, carne, verduras, amendoim moído.
continente, trazidos pelos colonizadores e explo- Esse prato é considerado uma refeição pesada,
radores, sendo os principais: milho, mandioca, porém eles consomem porções menores.
inhame, abóbora e feijão. Em algumas regiões, Na região do Senegal, vem outro clássico
também utilizam-se verduras de folhas verdes, da cozinha africana, o tradicional thieboudien-
e legumes com o com caule jovem. Esses são ne. Esse é o prato do dia de todos os sene-
colhidos, higienizados e preparados usando o galeses, nos restarantes, do mais simples ao
vapor para cocção, ou fervidos com temperos mais refinado, esse é um prato obrigatório
e especiarias. do cardápio.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 107

Dentre os senegaleses o thieboudiene é


comido em um grande prato comum, com
as mãos.

Fonte: Afreaka (online)

Na regão da África ocidental, os pratos prepara-


dos utilizam peixe, folha de mandioca e óleo de
palma. Um exemplo de prato é o pitéu, muito
conhecido na região, sua composição é feita
basicamente desses ingredientes.
Na região do Togo, consome-se amplamente
um prato chamado mutsella, à base de peixe com
verduras e especiarias, e o yekumé, um tipo de
prato picante.
Já na região da África central, encontramos
a mandioca como ingrediente principal na ali-
Em wolof, língua franca do país, thieboudiene mentação. A preparação mais comum entre os
significa “arroz com peixe”. Esse prato tem in- habitantes locais é o fufú (mandioca fermentada
fluência da culinária asiática e é preparado com e moída em ponto de farinha, depois misturada
peixe local e um arroz bem temperado com a com água fervente; o intuito é transformá-la em
água dos legumes que acompanham o prato. uma massa compacta). Outro hábito é utilizar
Outro prato muito conhecido da gastro- a mandioca com verduras picadas e, depois,
nomia africana é o Yassa. Muito aprecidado na trituradas, ao final, é temperado com azeite,
Costa do Marfim, do Burkina Faso e do Mail. cebola e molho de tomate.
Esse prato é composto primordialmente por Agora, vamos conhecer um pouco sobre
frango, um molho de cebolas, limão e pimen- a região costeira da África Oriental. Nessa
tões, é servido com arroz cozido região, podemos observar as influências vindas
Cozinha Internacional

do Oriente médio, em especial, das regiões do importante para os africanos é o feijão, existe
Quénia, África do Sul, Tanzânia e Madagascar, um enorme número de variedades na região. É
os pratos mais tradicionais são elaborados à base natural que as famílias que vivem junto à costa
de molhos, ervas e especiarias, provenientes da tenham maior quantidade de proteínas prove-
Índia, China e região Árabe. Um dos pratos que nientes do oceano, já os agricultores e suas famí-
retratam bem essas influências é o sambusa, lias se alimentam do que vem da terra, mesmo
um triângulo de massa frita acompanhado de com algumas criações de animais; a carne, na
carne moída e aromatizada. maioria das vezes, é consumida no domingo ou
Na Etiópia, uma das regiões mais pobres do em celebrações especiais.
continente africano, há uma preparação muito Não podíamos falar da África sem citar a co-
consumida pelos habitantes locais chamada zinha da Angola, aqui, como nas outras regiões
enjerá, um tipo de crepe ou massa de pizza, do planeta, os produtos locais e trazidos pelos
com uma cor grafite e característica esponjosa, explorados determinaram sua culinária local.
seu sabor é ácido e sua composição é à base de Ainda hoje podemos encontrar cereais cultiva-
um cereal exclusivo nessa região, chamado tef, dos há muitos anos, tais como sorgo, milho e
que, depois de colhido, é moído em ponto de pânico, os legumes, como o feijão frade e as len-
farinha para ser utilizado. Outra preparação que tilhas, além dos tubérculos, como inhame e ve-
acompanha esse prato é o wet, sua base pode getais, quiabo. Uma fruta tipicamente africana
variar: frango, carneiro ou vaca; é adicionado um que encontramos em muitos países é a melancia,
molho picante composto por pimentão picante, cuja alta concentração de água é bem-vinda.
ervas e especiarias; verduras, tomates, favas e O uso da polpa e de sementes do tamarindo
batatas também fazem parte. A composição do aparece em muitas regiões, devido à alta con-
wet mais apreciada é o de carneiro. centração de árvores do fruto em todo território
Na região costeira, também encontramos nacional, o fruto é chamado de pão macaco,
o caril, um típico guisado de vegetais, às vezes, muito utilizado em receitas típicas e para pre-
é incorporada uma quantia pequena de carne parações de bebidas variadas, assim como suas
seca ou peixe, porém os vegetais são utilizados folhas, que são utilizadas em sopas e cozidos.
na maioria das vezes unicamente. O amendoim, Não podemos dizer que o continente africa-
não só na região costeira, é largamente utilizado no ficou isolado do resto do mundo. Os asiáticos,
em forma de farinha, pois é pilado, sua utiliza- principalmente os árabes mercadores, foram
ção é em forma de base de muitos pratos, como quem introduziram no continente africano as
é o caso do caril. Outra fonte de proteína muito famosas bananas variadas e seu uso, o arroz
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 109

asiático, que apareceu para substituir o arroz Quando falamos de técnicas africanas de preparo
vermelho africano, as frutas manga e fruta pão, nos alimentos, nunca podíamos imaginar que o
a cana-de-açúcar que se adaptou bem ao clima papilote fosse uma técnica vinda desse continente
africano, sem nos esquecermos do gengibre e da e difundida por todo o mundo, pois consiste em
cheirosa pimenta preta. Mais tarde, ocorreu o assar peixes e legumes, envolto em folhas de ba-
contato com os europeus, principalmente pelos naneiras, seu objetivo é cozinhar o alimento sem
portugueses exploradores, contribuindo com a deixá-lo ressecar com o calor do fogo de braseiros
introdução dos alimentos trazidos dos conti- e fornos à lenha. Além das ervas e especiarias
nentes americanos, como mandioca, tomate, trazidas do oriente e das Américas, o uso de alho,
milho, feijão, amendoim, malagueta e batata. manjericão, açafrão e cúrcuma também acontece.
O famoso grão do paraíso, conhecido como Algumas carnes exóticas também aparecem
pimenta Guiné, uma pimenta oriunda da África nas refeições típicas de determinadas regiões
ocidental, que, anos atrás, fez fortuna na região, africanas. É o caso do uso de serpentes, hipo-
foi perdendo espaço para novas especiarias e pótamos e macacos. Já as bebidas favoritas e
hoje é raro na cozinha africana, trocada pela muito consumidas na África são cerveja à base
pimenta preta do oriente e pelas famosas ma- de sorgo, suco de frutas, vinho de palma, café
laguetas vindas das Américas; na região da turco e a famosa infusão de uma planta local
Angola, ficou conhecida como gindugo. chamada de kinkeliba. Alguns vinhos feitos na
África do Sul vêm despertando apreciadores e
ganhando expressão no mundo todo, porém são
exclusivamente para a exportação.
Podemos observar que, ao norte do con-
tinente africano, algumas regiões têm em sua
identidade características da cozinha Árabe, tais
como Marrocos, Argélia e Tunísia. A principal
refeição nessas regiões é baseada no cuscuz, pro-
duzido com a sêmola do trigo duro, acompanha-
do de carnes, legumes, peixes e frutos do mar.
As carnes de coelhos e pombos também
são apreciadas, além do carneiro, frango e boi.
Os famosos tagines são preparos típicos
dessa região especificamente, nos utensílios de
Cozinha Internacional

cozinha, temos as panelas de barro em formato Medina (2006) completa:


de cone, onde são preparados diversos tipos de O reino dos aromas: dizem que os zocos,
guisados, uma preparação cuja a carne é picada, os mercados de Marrocos, exalam os
refogada e cozida com legumes, verduras e con- aromas de mil e uma noites. Nesse ex-
traordinário conto, entrecruzam-se as
dimentos, acompanhados de cuscuz.
fragrâncias do cravo da índia e da horte-
Também nessa região, carnes assadas em lã, do açafrão e do coentro, das semen-
espetos, os kebabs, são bastante utilizadas com tes de noz moscada e do anis estrelado,
animais inteiros ou em pedaços, temperados da canela e do cardamomo, do zimbro
e da pimenta caiana, do gengibre e do
com muitos condimentos; As linguiças extre-
orégano, da páprica.... Os mesmos per-
mamente aromatizadas e temperadas são outra
fumes que destilam, em combinações
atração nessa região; dentre as especiarias de às vezes barrocas e às vezes de uma
ervas empregadas nos pratos, temos hortelã, simplicidade particular, todas as cozi-
salsinha, louro, cominho, coentro, tomilho, aniz nhas do país. Esses são apenas alguns
dos aromas que marcam o caráter da
estrelado e feno grego.
cozinha marroquina. É preciso acres-
Na confeitaria não seria diferente, o uso centar a melancia, o limão ou a laranja
indiscriminado da massa folhada em doces e desidratados, as mil caras que adquire,
salgados; as sobremesas, em sua grande maioria, nessas terras, a hortelã pimenta ou a
poderosa influência do rãs El hanout,
acompanham frutas secas, castanha e mel, dentre
essa mistura de especiarias de conteúdo
as frutas mais comuns, temos a laranja e a me- incerto, cuja composição só é conhecida
xerica; as tâmaras e as nozes também aparecem. do seu próprio criador.

Como acontece em outras culturas, em Marrocos também existem pratos que tomam o nome do
recipiente que são preparados. Na realidade, chama-se tayin a todos os pratos confeccionados
num recipiente especial, concebido para cozinhar todos os ingredientes ao mesmo tempo

Fonte: Medina (2006, p. 39).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 111

considerações finais
Querido(a) aluno(a), nesta nossa última unidade, vimos o continente Europeu e
as particularidades históricas, econômicas e alimentares de Portugal, Alemanha
e Espanha, todas cozinhas que colonizaram alguns continentes com suas
características presentes em muitos países fora da Europa. Seguimos para
a Europa oriental, sem muita tradição no cenário internacional, porém com
identidade expressiva em seus produtos, como o caviar de esturjão, cultivado
nas águas geladas da Rússia. Assim, viajamos juntos para a Rússia e região,
conhecendo um pouco de suas origens e formas de consumo dos alimentos,
em que, em sua grande maioria, se destaca a cozinha caseira modesta e com
produtos locais.
No continente africano, destacaram-se as características de sua alimen-
tação, forma de preparo dos alimentos e ingredientes que foram introduzidos
pelos exploradores que por lá passaram, mostrando a importância dos co-
lonizadores nos hábitos alimentares do povo que por ali vive. Observamos,
também, as diferentes formas de consumos e cultivo dos alimentos de uma
região para outra, da mais simples das refeições até as mais temperadas, com
ervas e especiarias. Vimos a diferença de uma região para a outra no que diz
respeito ao consumo de carnes, em que algumas regiões menos desprovidas
de carne animal têm sua alimentação restrita a momentos festivos, porém,
em outras regiões, identificamos um consumo alto de carne animal nas
refeições diárias.
Também, falamos dos utensílios típicos utilizados no preparo dos ali-
mentos, nas diferentes partes do continente africano, a influência da religião
nos hábitos alimentares do povo, assim como o fator socioeconômico de cada
canto da África.
Terminamos entendendo que a África tem suas particularidades, quando
falamos de alimentação, e que não se restringe a safáris e pratos simples em
sua gastronomia rica e de raiz.
Cozinha Internacional

atividades de estudo

1. Exemplifique três técnicas de cocção dos alimentos existentes no


continente Africano.
2. Na região norte da África, podemos observar o consumo de um in-
grediente que não é muito comum em outras regiões do continente.
Diga qual o ingrediente e sua composição.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 113

leitura complementar
A Alimentação na África ocidental:
História da Alimentação no Brasil

Não tinham a mandioca, o milho americano, o pela Voandzeia que tentou aclimar-se, esque-
amendoim, midubim, que seriam cem anos mais cida pelos próprios patrícios que o amendoim
tarde fundamentos tão comuns que pareceriam seduzira, definitivamente. O conde de Ficalho
autocrones. Receberam a troco do inhame, ca- admirava-se da rapidez surpreendente com que
na-de-açúcar, bananeira, azeite de dendê, en- o amendoim brasileiro divulga-se no continente
viados. Mastigavam a cana-de-açúcar como os e ilhas africanas, suplantando a variedade local.
indígenas amerabas, sugando o sumo. Pouco A caça era oficio, divertimento, orgulho,
sal e produzido, em maior percentagem, pela dignidade. Congo quer dizer “caçador”. Elefante,
decoada de cinzas de palmeiras. Ainda no tempo búfalos, a interminável série de gazelas e
de Stanley no Congo preferiam uma pedra de antílopes, o nédio hipopótamo, o gordo croco-
sal a um torrão de açúcar. A carne usual era dilo, eram peças dignas de menção e consumo.
a dos animais caçados e não pastoreados nos Sempre assadas. Também as cabras, carneiro
campos ou guardados nos currais. Carne de caça sem lã (Ovislongipes), lebres (Lepus), ausên-
não a do gado, existente desde o Senegal, mas cia de coelhos (Oryctolagus), porcos monteses
defendido pela assombrosa custódia dos tabus. para aqueles que não eram fiéis ao Deus cle-
Fabricavam a manteiga para untar-se com ela. mente e misericordioso dos maometanos, caça
Vinho de palma, fresco quando bebido logo e miúda dos campos, roedores, lagartas túmidas
entontecer vinte e quatro horas depois, vinho de creme. E cães, pouco afeitos a nobreza ci-
de mel, vinho de milho, zamburro, o sorghum, negéticas e mais destinados às refeições; cães
milho da guiné, milho da Índia, com sinonímia muytis e gordos e os comê, registrou Valentim
inacabável, variando e consumido em todas as Fernandes, pagos a sete pesos de ouros e som
variedades. Popularíssima a mancarra da Guiné, pequenos. Imagine-se da excelência do pitéu,
ginguba em Angola, quubaci do Congo, segundo para os mandingas e capiis ou capeos de então.
Marcgrave, Voandzeia subterrânea, Thouars, Ainda hoje os bobos, majacos, papéis, são co-
pistácio de Madagáscar, mancarra-bjagó, pois medores cães. Os beafadas sepultam-nos com
bambara, mais rico em amido do que em óleo, o falecido dono, como os Wittos do Amazonas.
o inverso do amendoim brasileiro (Arachis hu- Comem-nos em Angola também.
pogaea L.), irmão e concorrente que a derrotaria
na África para onde foi e no Brasil, visitando Fonte Cascudo (2011, 166-167).
Cozinha Internacional

material complementar

A COZINHA AFRICANA DA BAHIA


Guilherme Radel

Sinopse: Este livro, como A Cozinha Sertaneja da Bahia e A


Cozinha Praiana da Bahia, do mesmo autor, não é apenas de
receitas culinárias. Quem o possuir vai ter acesso também
à história da cozinha afro-baiana, a partir do conhecimento
de suas origens, a base de seus alimentos, os utensílios
usados no passado, as feiras e os mercados do século XIX ao
século XX, as formas de transporte, do saveiro ao caminhão,
a destruição de mitos e aspectos históricos de cada alimento.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 115

Conclusão
Caríssimo(a) aluno(a), chegamos ao final de e criando ferramentas para grandes oportuni-
mais uma etapa! dades em busca da inovação.
Juntamente com essa unidade, finalizamos Independente do caminho escolhido para se
a disciplina de Cozinha Internacional. Espero aperfeiçoar ou seguir no universo da gastrono-
que você tenha aprendido um pouco mais com mia, temos que ter o conhecimento de formas
esse material e que tenha contribuído para sua e preferências alimentares de várias partes do
formação profissional. mundo, para que possamos identificar mais fa-
Não podemos nos esquecer de como a cilmente as diferentes culturas alimentares e,
gastronomia internacional vem evoluindo e se assim, tomarmos decisões corretas no momento
aperfeiçoando a cada dia, por isso, queremos de criar cardápios ou executar pratos típicos.
formar profissionais altamente qualificados e Nosso intuito é estar sempre ampliando
pensantes, estimulando vocês a criarem pratos seu universo do conhecimento, mostrando-lhe
utilizando técnicas e ingredientes de diferentes o caminho para ir mais além na busca de novas
partes do mundo, dando alternativas ao con- formas de aprendizado na área da gastronomia.
sumidor. Neste livro, podemos compreender Nunca se esqueça de que o conhecimento nunca
como as culturas dos continentes mencionados é suficiente e o aperfeiçoamento é indispensável
nos apresentam uma grande oferta de riquezas para profissionais que almejam o sucesso no
gastronômicas, facilitando nosso entendimento setor. Espero encontrá-lo(a) em breve!
Cozinha Internacional

referências

ADAS, M. Expedições geográficas 8 ano. São Paulo: Editora Moderna, 2011.


CASCUDO, L. da C. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Editora Global, 2011.
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afreaka.com.br/manteiga-de-karite-uma-joia-da-cosmetica/>. Acesso em: 18 fev. 2016.
FIGUEIRA, R. “Amo a cozinha brasileira”, diz chef Claude Troisgros. Terra. Disponível
em: <http://culinaria.terra.com.br/receitas/chef/amo-a-cozinha-brasileira-diz-chef-
-claude-troisgros,72cc11e84ba49310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>. Acesso
em: 05 jan. 2016.
FRANCO, A. De caçador a gourmet: uma história da gastronomia. 5 ed. São Paulo:
Editora Senac, 2010.
GRIZZO, A. O mundo estrelado. Revista Adega. Disponível em: <http://revistaadega.uol.
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INSTITUTO Americano de Culinária. Chef Profissional. Tradução Renata Lucia Bottini.
São Paulo: Senac Editoras, 2009.
KELLY, I. Carême: cozinheiro dos reis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
MEDINA, I. Cozinha país a país. São Paulo: Editora Moderna, 2006.
MEDINA, I. A América possui gostos diferentes. O Globo. Disponível em: <http://noblat.
oglobo.globo.com/geral/noticia/2014/12/america-latina-possui-gostos-diferentes.html>.
Acesso em 05 jan. 2016.
ORIGEM e história da pimenta. Sabiá. Disponível em: <http://www.molhosabia.com.
br/blog/origem-e-historia-da-pimenta/>. Acesso em 05 jan. 2016.
PHAM, M. Sabores do oriente. The culinary institute of america. Tradução: Elvira
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TAKAHASHI, J. A cor do sabor: A culinária afetiva de Shin Koike. São Paulo: Editora
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THIEBOUDIENNE: o arroz e feijão senegalês. Afreaka. Disponível em: <http://www.afre-
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TURISMO gastronômico: as comidas imperdíveis da América do Sul. Viajantes.com.
Disponível em: <http://www.viajantes.com/artigos/1528-turismo-gastronomico-as-co-
midas-imperdiveis-da-america-do-sul>. Acesso em: 06 jan. 2016.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 117

gabarito
UNIDADE I
1. Argentina, Chile e Peru.
2. Feijão, frutas tropicais, milho e coentro.
3. Stir-fry oriental, seguido pelo vapor, assado e grelhado.

UNIDADE II
1. Resposta correta (d).
2. Defumação.
3. Os estilos de Pequim, Xangai, Sichuan e Catão.

UNIDADE III
1. Papilote: consiste em assar peixes e legumes, envolto em folhas de bananeiras, seu objetivo é
cozinhar o alimento sem deixá-lo ressecar com o calor do fogo de braseiros e fornos à lenha.
Guisado: uma preparação cuja carne é picada, refogada e cozida com legumes verduras e
condimentos.
Espeto assado: carnes assadas em espetos, os kebabs; são utilizados animais inteiros ou em
pedaços, temperados com muitos condimentos.
2. Cuscuz, produzido com a sêmola do trigo duro.

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