DIREÇÃO UNICESUMAR
palavra do reitor
Reitor
Wilson de Matos Silva
Pró-Reitor de EaD
Willian V. K. de Matos Silva
boas-vindas
Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino
Kátia Solange Coelho Fabrício Lazilha
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está conceitos teóricos em situação de realidade, de ma-
iniciando um processo de transformação, pois quando neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou pro- estes materiais têm como principal objetivo “provocar
fissional, nos transformamos e, consequentemente, uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
transformamos também a sociedade na qual estamos forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
inseridos. De que forma o fazemos? Criando opor- em busca dos conhecimentos necessários para a sua
tunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de formação pessoal e profissional.
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. mento e construção do conhecimento deve ser apenas
O Centro Universitário Cesumar mediante o geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou
durante todo este processo, pois conforme Freire seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual
(1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, as-
mação do mundo”. sista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além
Os materiais produzidos oferecem linguagem disso, lembre-se que existe uma equipe de professores
dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- e tutores que se encontra disponível para sanar suas
dagógica, contribuindo no processo educacional, dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
complementando sua formação profissional, desen- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e
volvendo competências e habilidades, e aplicando segurança sua trajetória acadêmica.
Cozinha Internacional
Apresentação do Livro
Professor Especialista
Hugo Leonardo de Castro Alves
Caro(a) aluno(a), prepare suas malas! Neste livro, você viajará, apreciará e conhecerá as
principais cozinhas do nosso planeta, aprendendo um pouco sobre cada civilização, suas
influências e a relação dela com o alimento.
A gastronomia ultrapassa o conceito de alimentação, por ela é possível compreender os
preceitos culturais e como uma civilização se relaciona com os recursos disponíveis. Nosso
aprofundamento será nas particularidades culinárias, religiosa e nos hábitos alimentares
dos principais países de cada continente, conhecendo os principais elementos que tor-
naram pratos simples do cotidiano de um povo ícones da gastronomia mundial. Como
o livro é denso e trará muitas informações, vou dividir o estudo de forma continental.
Posteriormente, abordaremos as cozinhas de cada continente. O primeiro será o
Americano, a gastronomia é bem diversificada, devido à pluralidade de povos, climas e
vegetações, que acabam levando à mesa pratos saborosos e coloridos. De todas as gastro-
nomias, não abordaremos a culinária brasileira, pois essa terá uma disciplina exclusiva.
Após isso, viajaremos para o outro lado do globo, para conhecer a exótica culinária
asiática e do oriente médio, conhecer os principais métodos e utensílios utilizados no
preparo de alimentos. Aqui, a diversidade cultural é gigante e os povos são influenciados
fortemente pela religião e pela economia. Por exemplo, os japoneses, por morarem em
uma pequena ilha, têm peixe e frutos do mar em seus principais pratos; os indianos,
devido à religião, não consomem carne, tornando os pratos vegetarianos sua marca.
Nossa viagem continua no velho mundo. A gastronomia europeia é fascinante,
tornou-se conhecida por sua pluridade, requinte e simplicidade. Aqui, você conhecerá
as principais gastronomias do continente, só não abordaremos a culinária francesa e
italiana, pois cada uma terá uma disciplina exclusiva.
Finalizaremos nossa viagem no braço da mãe África, onde os pratos são fortes e
substanciosos, com preparo simples. Então, caro(a) aluno(a), prepare-se para a viagem
pelo universo da gastronomia internacional.
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
Cozinhas da Europa e
Africana: A influência na
Gastronomia Mundial
81 Gastronomia Europeia: Cozinha
da Alemanha e Espanha
Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar
sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade
prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos.
Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de
determinado conteúdo. . Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando principais conceitos.
Saiba mais: Informações adicionais ao conteúdo.
O Que é Gastronomia Internacional
e a Cozinha das Américas
HUGO LEONARDO DE CASTRO ALVES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os aspectos relacionados à palavra internacional na
gastronomia e à evolução das cozinhas internacionais pelo mundo, bem
como as regiões gastronômicas do continente americano e sua impor-
tância para a gastronomia internacional.
• Entender os aspectos característicos e históricos dos principais países,
exceto o Brasil, que formam o continente americano.
• Conhecer a gastronomia típica e suas influências, as preparações que
marcaram a culinária local.
11
Introdução
Já estão de malas prontas? Nossa viagem pelo mundo gastronômico começa agora. Para que não
se perca pelo caminho, é importante entender que a gastronomia é uma expressão cultural de
uma civilização, sendo assim, é viva e altera-se no tempo, um exemplo é a influência de outras
culturas e do processo de colonização; a chegada de novos hábitos e costumes trazidos de outras
civilizações, com o tempo, acaba sendo imprimida, incorporada e adaptada aos costumes, às
crenças religiosas dos colonizados.
Independente das características de cada região, a gastronomia internacional foi impactada
por três escolas. No primórdio, a preocupação era em caráter quantitativo, dando aos pratos
um aspecto mais rústico e simples; esse período é conhecido como Cozinha Clássica. Com o
passar do tempo e o surgimento de novas tecnologias, tornou-se possível a utilização de novos
alimentos, mais leves e frescos, dando origem a cozinha Mincer, que, posteriormente, se tornou
a famosa Nouvelle Cuisine, em que o tempo e as porções de alimentos são menores, entretanto
há um refino na apresentação dos pratos. A globalização e a troca de informação e de produtos
com maior facilidade tornaram possível a Fusion Food, em que os clássicos da culinária inter-
nacional são apropriados e adaptados à cultura e aos recursos de uma região.
Finalizaremos nossos estudos da unidade conhecendo a gastronomia das Américas, para
facilitar o estudo, utilizei a subcontinental (norte, centro e sul). Começaremos pela gastrono-
mia do Sulista. A pluralidade de povos, climas e vegetações acabou dispondo pratos saborosos
e coloridos. Nesta unidade, você conhecerá, de forma sucinta, as principais gastronomias, com
um destaque especial para as carnes argentinas e a culinária litorânea do Peru.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 13
A Cozinha Internacional
e sua Evolução
Agora, é necessário que você compreenda a eti- Indo para os pressupostos históricos, desde os pri-
mologia da palavra INTERNACIONAL. Segundo mórdios da humanidade, a obtenção de comida é
o dicionário Michaelis (2009), internacional é uma necessidade e, inicialmente, o homem só con-
tudo aquilo que é relativo às representações de sumia produtos nascidos e regionais. Com o passar
diferentes nações. do tempo, a humanidade aprendeu a domesticar
Ao pesquisar sobre algumas cozinhas in- plantas e desenvolveu técnicas de conservação,
ternacionais, com o intuito da criação de um tornando possível o transporte da comida. A isso
menu ou mesmo de um restaurante étnico, é foi dado o nome de Revolução Agrícola, marco de
importante que faça uma reflexão histórica e passagem da pré-história à história.
cultural daquela civilização, pois a cozinha de O segundo marco social que influenciou a
cada país é um elemento cultural da sociedade, gastronomia foi a expansão europeia. As nave-
sendo assim, é influenciada pelo meio, como: gações portuguesas e espanholas, a cada viagem
geografia, religião e cultura geral. de desbravamento ou colonização, voltavam
Cozinha Clássica
As principais receitas dessa cozinha são basea- época. Chamado de Marie-Antoine Carême,
das na alimentação medieval na Europa; a cozi- mais conhecido como Antoine Carême, o rei
nha clássica tem na composição de suas receitas dos chefs de cozinha. Macedo (2006, p.52)
principalmente gorduras, açúcares e farinhas. completa.
Primordialmente, as porções dessa cozinha eram O maior cozinheiro de todos os tempos
maiores e a preocupação era nutritiva. foi Marie-Antoine Carême. Ele causou
Após o período medieval na Europa, o que verdadeiro impacto na cozinha, tendo
enfatizado três questões importantes:
marcou a cozinha clássica foi a chegada da ali-
delicadeza, ordem e economia. Carême
mentação na idade contemporânea, com isso a e renovador da arte culinária, tendo
gastronomia francesa ganha características da servido importantes figuras como, por
exemplo, os imperadores da Rússia e da
cozinha clássica italiana, por esse motivo é que,
Austrália e o rei da Inglaterra (...). Devido
quando falamos de cozinha clássica, sempre a sua paixão pelos bolos arquitetados de
teremos França e Itália como protagonistas. forma monumental, Carême dizia que as
Essas características da cozinha italiana belas-artes eram cinco: pinturas, poesia,
música, escultura e arquitetura, incluin-
conquistaram Napoleão Bonaparte, o impera-
do aí a pastelaria.
dor francês, pois sua preferência era por pratos
tradicionais, sem muitas especiarias e com Uma das especialidades e paixão de Carême
praticamente nenhuma sofisticação. Napoleão na cozinha foi a sopa, ele afirmava que toda a
achava perda de tempo a degustação por igua- refeição deveria começar com uma bela sopa.
rias e pratos sofisticados. Observe a opinião Por coincidência, Carême foi o primeiro a usar
de Napoleão. a nomenclatura nouvelle cuisine, que mais tarde
(...) quero que a cozinha seja simples, seria utilizada por todos na gastronomia a partir
não gosto de cozinheiros muito espiri- do século XX.
tuosos; um bom refogado à genovesa,
Carême cresceu numa época em que a
arroz com carneiro à moda milanesa
sopa era a comida saudável da moda, e
e talharins à Corsa valem mais para
mais tarde, durante a vida, sempre foi
mim do que toda as maravilhas da
categórico em afirmar que toda a refeição
arte de Beuvilliers (proprietário do
deveria começar com uma sopa. Para ele,
primeiro restaurante de luxo em Paris) essa era uma questão tanto de filosofia e
(MACEDO, 2006, p.50). de medicina quanto de culinária (...) ele
chamou seus menus que tinham a sopa
No entanto a maior personalidade da gastro- como base da nouvelle cuisine (KELLY,
nomia de todos os tempos apareceu nessa 2005, p. 37).
Cozinha Internacional
Nouvelle Cuisine
No início dos anos 70, o chefe Michel Guerárd
revolucionou a gastronomia criando a cozinha
Mincer, à base de molhos magros, feito de caldos
Não deixe de revisitar sempre a disciplina
concentrados, utilizando ingredientes frescos e de Cozinha Clássica, para utilizá-la como
de melhor qualidade, com legumes “al dente”. complemento de estudo para o conteúdo
desta tão importante disciplina.
Em seguida, chefs conceituados no cenário gas-
tronômico, como o famoso Paul Bocuse e os
irmãos Troigros, executavam em seus restauran-
tes preparações mais leves, frescas, em peque-
nas porções e, ainda, com sabores marcantes, Fusion Food
mas harmoniosos entre os ingredientes. Outra Existem relatos que indicam que esse conceito
característica dessa cozinha é o requinte na de- surgiu em Nova Iorque, trazido pelos chefes
coração dos pratos. Posso citar como exemplo franceses, pois, nos EUA, os trabalhadores da
os clássicos da gastronomia francesa, o Boeuf cozinha foram se profissionalizando e transfor-
Bourguignon, com mais leveza, o Cassoulet, mando a gastronomia da época.
tendo uma quantidade menor de gordura em A ideia da fusion food é trabalhar os pratos
sua composição, porém sem perder a identidade tradicionais e repaginá-los, misturando as formas
do prato original. de preparo criadas na França, China, Japão ou
Itália com insumos cultivados na região, man-
tendo a qualidade superior.
Gastronomia
Internacional Contemporânea
Atualmente, a cozinha espanhola começou a sendo inovador, o chefe tem uma rotina ali-
ganhar destaque no cenário mundial da gas- mentar muito simples, como qualquer campo-
tronomia, sendo vista como a nova tendência nês espanhol, à base de frutos do mar e arroz,
da gastronomia mundial; para conhecê-la, é mostrando que a real comida não é sempre que
importante conhecer os principais ícones da se perpetua.
gastronomia atual. O Chefe Santi Santamaria é conhecido pelas
Começemos em 1961, com o chefe da co- três estrelas Michelin que conquistou para o
zinha do hotel Porca, Josep Mercader, que re- restaurante Can Fabes, em Sant Celoni. Ele con-
solveu incluir em seu cardápio pratos simples firma a ideia de Adrià e acredita que o cozinheiro
e da Cataluña com recriações originais, como não deve cozinhar o que gosta de comer, e sim
um Ratatoulle à base de molho de assados ou o que é interessante para seu cliente, fazendo
o creme catalão, que utiliza a mesma técnica do o que esse gosta de comer.
creme Brulée, mas com sorvete. Outro chefe
reconhecido é Ramon Cabal, que inaugura o
restaurante Agut d´ Avignon com objetivo de
recriar pratos clássicos com ingredientes sazo-
nais, e acabou cometendo suicídio alguns meses
após vender seu restaurante.
Já em Barcelona, o restaurante Sant Feliu,
dirigido pelo chefe catalão Lluis Cruanyes, tem
o intuito de criar pratos que despertam os sabo-
res regionais. A rotina do Restaurante é princi-
palmente direcionada para testes e pesquisas,
sendo que ele abre para o público somente na
alta temporada, primavera-verão, os outros seis
meses são dedicados à pesquisa de novas téc-
nicas e ingredientes para um novo cardápio.
O restaurante El Bulli, dirigido pelo chefe
Ferran Adrià, ficou conhecido pelos seus pratos
reconstruídos com novos ingredientes; mesmo
Cozinha Internacional
A
gastronomia contemporânea
mantém a tradição juntamente com
a evolução; para escrever o novo,
não devemos nos esquecer do pas-
sado. A partir dessas definições, é possível ter
um olhar diferente para as variadas cozinhas
existentes no planeta. Para melhor compreen-
são, as cozinhas, neste livro, foram divididas da
seguinte forma:
Américas:
Olhando por uma ótica mais atual das cozi-
nhas do Chile, Argentina e Peru, México, Caribe,
E.U.A e Canadá.
Europa e África:
Do continente europeu e africano, falaremos
dos países em maior evidência na gastronomia,
exceto França e Itália, que já foram tratadas em
uma disciplina separada.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 19
Aspectos Históricos e
Característicos da
Gastronomia dos
principais Países da
América do Sul
Cozinha da Argentina
Nossos rivais no futebol tiveram sua coloni-
zação dos italianos, espanhóis, franceses e
judeus do centro e leste da Europa, por isso,
sua gastronomia é bem distinta do resto da
América. Suas tradições vêm dos índios guara-
ni, nativos da região, com novos ingredientes
e técnicas.
Cozinha Internacional
A Cozinha do Chile
Banhado pelo oceano pacífico e com um relevo
acidentado, montanhoso e vulcânico, o Chile
tem peculiaridades culturais e econômicas.
As Montanhas possuem terra fértil, pos-
sibilitando plantio principalmente de uva,
cana-de-açúcar, maçã, trigo, milho e uma va-
riedade de batatas.
Quando falamos de pecuária, esta é simples e
limitada, desenvolvida basicamente em planícies
costeiras, o que dificulta o confinamento e a engorda
dos rebanhos de gado bovino, ovino; em contrapar-
tida, a sua grande extensão marítima possibilita
uma pesca pesada para consumo e exportação.
Aspectos Históricos e
Característicos da
Gastronomia dos
principais Países da
América Central e
do Norte
A Cozinha do México
Os mexicanos possuem uma gastronomia muito rica, com diferen-
tes pratos, doces e bebidas tradicionais, distintos para cada região
e povoado. Mas, no geral, a base da cozinha mexicana sustenta-se
de milho, feijão e chilli.
As populações indígenas dessa região, principalmente dos
Astecas, cultivavam cacau, baunilha, agave, milho, feijão, abacate,
abacaxi, tomate, chilli, coentro, folha de abacateiro e orégano; esses
eram os ingredientes base de sua dieta.
Cozinha Internacional
A chegada dos colonizadores espanhóis incorporou A região norte é a principal produtora de carne
novos ingredientes, como arroz, canela, azeitona, próxima à fronteira norte e os cortes feitos são
porco, frango, cebola e grão de bico e os queijos. ao estilo norte-americano. Quando falamos
Mas, na dieta mexicana, os defumados e o de gastronomia, ali foram criados os pratos
alho são consumidos diariamente e as tortilhas, fajitas e enchiladas, utilizando ingredientes
de trigo ou milho, são primordiais para os princi- peculiares, como cactos, insetos e animais
pais pratos desse país. Quase como um processo de caça.
de produção artesanal, tão antigas quanto o país, O território mexicano é pouco favo-
uma boa tortilha precisa de grãos de milhos bem rável à agropecuária. A presença de
cozidos, para que sejam triturados e amassados montanhas e de clima árido e semi-
árido reduz a possibilidade de áreas
até formarem uma pasta consistente. Em segui-
cultiváveis. Ainda assim esse setor em-
da, essa pasta é modelada e colocada sobre uma prega cerca de 20% da PEA (população
chapa quente para assar e dourar. economicamente ativa) do país. Cerca
de 40% do territorio é ocupado pela
Depois de prontas, essas delícias mexicanas
pecuária, voltada principalmente para
são utilizadas de várias formas – como frias, a criação de gado bovino e praticada
quentes, fritas ou tostadas. O recheio delas pode no centro-norte do país (ADAS, 2011,
ser carnes, feijões ou guacamole (um tradicional p. 169).
O clima do México em sua maioria é tropi- A economia dos países da América cen-
cal árido e não tem abundância aquifera. tral continental tem por base a agrope-
Toda a água consumida no país é extraída cuária, com destaque para a produção
de seis mil poços perfurados. de café, banana, açúcar, algodão, frutas
tropicais e carne. O principal parceiro co-
Fonte: Adas (2011, p. 166). mercial são os Estados Unidos, recebem
em média 50% das exportações desses
países (ADAS, 2011 p. 254).
E, quando falamos de bebida, Caribe é referência Mas, como falei no começo, a gastronomia
no mundo na produção de rum, uma bebida estadunidense é regional e tem hábitos alimen-
fermentada à base de canas frescas trituradas tares dos países de origem e condições geoclimá-
e de seu melado. ticas específicas de cada região dos EUA.
Já os hábitos alimentares de cada região
A Cozinha dos Estados Unidos foram diferenciados conforme adaptações dos
A culinária dos EUA nunca poderia ser definida imigrantes, além das influências geoclimáticas
como única, sua civilização foi estabelecida pela de cada local.
fusão das distintas tribos nativas e os coloniza- Os Estados Unidos são o país que tem
dores de vários grupos sociais, políticos e religio- a mais extensa superfície cultivada,
sos. Essas várias influências culturais criaram com lavouras que ocupam aproximada-
mente 21% do território (no Brasil as
uma gastronomia não homogênea, sendo um
lavouras ocupavam apenas 9% da área
conjunto de culinárias mundiais, influenciado total do país em 2006). Isso somado à
pelos hábitos dos nativos americanos. Os três porcentagem de áreas ocupadas pelas
pastagens (21% do território), permite
ingredientes principais, em todo o país, são
afirmar que as atividades agropecuárias
milho, feijão e abóbora. ocupam quase a metade do território
Os principais imigrantes que influencia- desse país (no Brasil, a agricultura e a
ram a gastronomia estadunidense foram os pecuária ocupam juntas, 30% da área
total) (ADAS, 2011, p 124).
italianos, que vieram, no início do século XIX,
trazendo pratos como pastas, pizzas, ossobu- Quando falamos de carnes, as mais consumi-
co e minestrone. Outro grupo imigrante forte das são bovina, suína com cortes bem especí-
são os trabalhadores chineses, que vieram para ficos. Para assar, a principal técnica utilizada é
construção das ferrovias; eles, por opção ou o churrasco, usando a técnica dos nativos para
obrigação, viviam em guetos americanos. Foi tempero, com especiarias secas e líquidas.
somente nas últimas décadas que alguns pratos Fazer churrasco envolve usar um tempe-
e técnicas foram inclusos na mesa com sabores ro líquido ou seco, aplicado a um pedaço
de carne antes que essa seja assada len-
agridoce, salgado e picante. Não existe nenhum
tamente sobre uma cova em que há um
registro de pratos criados pelos imigrantes chi- fogo aberto. No Sudoeste, utiliza-se so-
neses, porém existem relatos de que o arroz bretudo o porco, mas as carnes de boi,
de frango e de caça também são boas
Chop Suey é uma receita criada nos Estados
para isso. Os temperos líquidos e secos
Unidos, por um cozinheiro chinês que traba- variam de casa para casa, de restau-
lhava nas ferrovias. rante para restaurante de pessoas para
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 33
F
inalizando a gastronomia americana,
precisamos falar da sua principal ex-
portação cultural, os fast-foods, lojas
de conveniência, snack bar, coquetéis, O que identifica a culinária Americana é a
sorvetes, enlatados, que são criações tipica- grande diversidade de origens. A mistura de
ingredientes e modos de cozer indígenas,
mente americanas que dominaram o mundo,
somados àqueles do fluxo constante de ex-
devido, principalmente, ao nosso estilo de vida, ploradores, conquistadores e imigrantes, fez
em que “tempo é dinheiro”, além do aprimo- com que se desenvolvesse uma culinária
que mostra as marcas de muitas culturas
ramento das técnicas de conservação dos ali-
mentos, que proporcionou o surgimento dessa Fonte: CIA (2009, p. 59).
A Cozinha do Canadá
A cozinha Canadense não é muito conhecida e hortaliças nas sopas, das quais as mais fa-
e difundida fora de sua região, por não conter mosas são as de cebola e couve. O prato mais
muitos diferenciais gastronômicos. Entretanto típico é o tourtierre, pastel de batata e carne de
o país é rico em agricultura, com muitas zonas caça como perdiz, veado e coelho, usualmente
rurais atrativas para Gourmets, onde encon- preparado com carne de porco. Quando vamos
tram-se maravilhosos ingredientes, além de para Toronto, a cozinha já é mais temperada.
muitas especialidades da gastronomia regio- O salmão faz parte da cultura nacional e seu
nal, como os alimentos próprios dos nativos preparo e consumo são muito usuais no país.
locais, tais como a carne de alce, búfalo, veado, Podem-se reconhecer no Canadá, três
peixes, arroz selvagem e uma grande variedade regiões agrícolas: a região dos Grandes
Lagos, e do Vale do Rio São Lourenço, a
de bagas.
região das planícies centrais e a região da
Na região de Quebec, a cozinha tem influên- Columbia Britânica. Na região dos gran-
cias francesas e é caracterizada como uma cozi- des lagos e do vale do rio são lourenço,
nha mais equilibrada e suave, que trabalha mais a policultura (cereais, frutas, hortaliças
e beterraba açucareira) e a pecuária in-
com ingredientes regionais, como porco, aves tensiva (produção leiteira) abastecem o
e caça, e, também, faz a introdução de legumes mercado interno (ADAS, 2011 p. 150).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 37
considerações finais
N
esta unidade, entendemos um pouco mais sobre a concepção da
cozinha internacional e o caminho percorrido em sua evolução,
mostrando as diferentes transfomações marcadas por mudanças
de identidades na forma de escolher e preparar os alimentos.
Vivenciamos, com a chegada dos exploradores e imigrantes, a evolução comer-
cial trazida pelas embarcações, depois, pelos chefs franceses, com a utilização
de menos gordura, menos açúcar e mais sabor, e a exportação de chefs profis-
sionais franceses por várias partes do mundo, até a cozinha contemporânea
elaborada pelos chefs espanhóis e outros chefs ao redor do planeta.
Aprofundamos um pouco mais nossos conhecimentos sobre os países
que compõem as Américas do Sul, Central e do Norte, suas influências com
a chegada dos colonizadores, exploradores e imigrantes, transformando o
cotidiano dos povos nativos e incorporando suas formas de cultivo, preparo
e consumo dos alimentos, adaptando-se à religião e à economia local.
Citamos alguns ingredientes e bebidas produzidos e consumidos pelos
povos que ali viviam, juntamente com as técnicas utilizadas para o cultivo e
preparo desses alimentos.
Com esse primeiro contato com os países que fazem parte do continente
Americano, descobrimos que muitos de nossos hábitos e da maneira de en-
xergar a gastronomia estão ligados a outros povos que nos cercam; para tudo
existe um porquê em nossa alimentação, trazendo um entendimento mais
criterioso no momento de desenvolvermos alguma preparação. Por trás de um
simples prato preparado em um restaurante existe muita história envolvida.
Agora, podemos iniciar a próxima unidade, na qual vamos falar dos
principais países milenares que compõem o continente Asiático, como Japão,
China, Tailândia e Índia, juntamente com o Oriente Médio, compostos por
Síria, Líbano e Egito.
Cozinha Internacional
atividades de estudo
leitura complementar
As especiarias e as
novas rotas marítimas
Depois da chegada dos europeus, a América passou a ser fonte de novos alimentos. Ao mesmo
tempo, introduzia-se na Europa o gosto por sabores inteiramente novos e a possibilidade de uma
dieta muito mais rica.
Quando os conquistadores chegaram em território americano, certas culturas indígenas uti-
lizavam técnicas agrícolas muito mais avançadas que da Europa. Por conseguinte, os ameríndios
também se alimentavam de maneira muito mais variada que a maioria dos europeus.
Além de haverem aperfeiçoado o cultivo de milho, os maias, os astecas e os incas cultivavam
batata, várias espécies de feijão, abóboras e muitos outros produtos desconhecidos na Europa, tais
como: tomate, amendoim, pimentão, cacau, baunilha, goiaba, abacate e abacaxi.
Frei Bernardino de Sahagún, que esteve no México antes da consolidação da conquista, ficou
impressionado com a variedade dos produtos à venda nos mercados.
Elisabeth Lambert Ortiz comenta que os espanhóis, por causa da obsessão pelo ouro, não se
deram conta, inicialmente, de que milho, batata, tomate, pimenta, pimentão, cacau, tabaco, abacate,
amendoim, mandioca, feijão, abóbora, baunilha e batata doce consistiam em um verdadeiro tesouro.
Havia na América extensos campos cultivados. Diego Colombo, irmão de Cristovão, conta ter
andado cerca de trinta quilômetros numa plantação bem cuidada de milho, abóbora e feijão. Era cos-
tume plantar diferentes tipos de abóbora com milho para impedir o crescimento de ervas daninhas!
A humanidade deve muito de sua alimentação diária às conquistas da agricultura ameríndia,
sobretudo se nos lembrarmos de que grande parte da carne, do leite, da manteiga e do queijo é
obtida de animais alimentados com milho.
Afirmou-se sempre que o milho zea mays é originário da America central. Em 1961, entretanto,
escavações arqueológicas no Equador, em território ocupado pela cultura Valdívia de 4000 a 200
a. C., revelam a existência de cerâmica decorada com impressões de grão de milho. Os fragmentos
dessa cerâmica datam de 2020 a.C.
Fonte: Franco (2010, p. 117-118).
Cozinha Internacional
material complementar
Objetivos de Aprendizagem
• Compreender a milenar cozinha chinesa, como referência no
continente Asiático, e a cozinha japonesa, com a sua sutileza e
autenticidade.
• Entender os aspectos característicos e históricos que influencia-
ram as cozinhas da Índia e da Tailândia.
• Explorar os aspectos da culinária do Oriente médio e as influên-
cias da Líbia, Síria e Egito.
43
Introdução
Querido(a) aluno(a), nesta unidade, vamos conhecer melhor as características do continente
Asiático, entendendo suas regionalidades, tipicidades e influências. Sabemos que o continente
Asiático e a região do Oriente médio são muito vastos, por isso, vamos conhecer os principais
países com cenário Gastronômico reconhecido.
Sendo o maior continente do mundo, a Ásia foi berço de várias civilizações, vamos conhecer
a milenar culinária chinesa, com seus ingredientes e técnicas próprias de preparo bem distintas
dos nossos padrões ocidentais. Posteriormente, conheceremos a icônica culinária japonesa, com
raiz bem autêntica e conceituada de uma forma bem distinta de todos os outros países que com-
põem o continente. Ainda no leste Asiático, falaremos sobre a culinária da Tailândia, conhecida
pelos seus sabores picante e agridoce; um dos grandes diferencias da cozinha do continente é a
influência dos padrões ocidentais no preparo e hábitos alimentares.
Indo agora para o oeste, em sentido ao Oriente Médio, falaremos da Índia, a rainha aro-
mática, com influência religiosa significante e com hábitos alimentares bem representativos,
como não uso de talheres.
Continuando a nossa viagem para o oeste, conheceremos com maestria a culinária Árabe,
composta, principalmente, pelo Líbano, Síria e Egito. É uma região com influência forte da
religião na forma de se alimentar; por se tratar de países próximos, os ingredientes são muito
parecidos, porém cada povo traz características autênticas em seus pratos.
Em linhas gerais, esta unidade será nosso primeiro estudo gastronômico falando de outro
continente. É importante, caro(a) aluno(a), que entenda que nosso foco é conhecer os ingredien-
tes típicos de cada civilização, apresentar suas técnicas de preparo e as identidades culinárias
que cada civilização apresenta.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 45
Referência de
Gastronomia Oriental:
Cozinha da China
e do Japão
A Cozinha da China
Os primeiros registros gastronômicos que Historicamente, até o século XVI, a China era o
mostravam a culinária da China são datados país mais rico do mundo. Não havia civilização
há mais de 4 mil anos, são manuscritos feitos mais esplendora que ela, tão rica que chamou
por poetas e escritores chineses. Mas os prin- a atenção do economista escocês Adam Smith,
cipais registros vieram de um nobre, Confúcio, que, no livro Riqueza das Nações, de 1776, faz
nascido por volta de 540 a.C. Apreciador inúmeras referências a esse país. Mas, no século
da culinária, formou e estabeleceu inúme- XIX, devido às ocupações inglesas, alemãs e
ras formas de preparação e apresentação de russas, mergulhou em profunda decadência. Os
pratos, baseado em seu conhecimento no re- anos de Guerra levaram o país a um grande ra-
quinte e na sofisticação. Surgiu na mesma cionamento de alimentos e, devido à densidade
época os discípulos de Lao-Tsé, da religião populacional, o povo chinês teve que aproveitar
Taoista, que tinham como doutrina a simpli- todos os recursos naturais disponíveis na época,
cidade e o retorno à natureza. resultando em técnicas e ingredientes diferen-
A China, apesar de ter mais de um bilhão de tes e estranhos, como carne de gato, cachor-
habitantes, tem somente 10% do seu território ro, cobra, macaco, órgãos internos de peixes,
cultivado. A pecuária também é complicada, porcos, fungos de madeira, flores comestíveis
por não obter em sua geografia muitas áreas ou ninhos de pássaros para caldos.
livres para pastos. Sua magnitute geográfica Outro grande fato que influencia fortemente
permite várias regiões distintas com monta- os chineses é a religião. O taoismo, religião predo-
nhas, planícies altas, desertos, regiões costeiras, minante na China, acredita que a harmonia deve
regiões com clima gélido e outras tropicais, além estar em todos os aspectos da vida, sendo repre-
das intervenções urbanas, que criaram espaços sentada pelas duas forças, Yin e Yang. Esse concei-
completamente urbanizados. to implica na alimentação. Dentro dessa filosofia,
Assim como em outras civilizações, a histó- o Yin significa o negativo e passivo, refrescante,
ria e as disponibilidades locais influenciaram a frio e leve; Yang, o oposto, positivo e dinâmico,
gastronomia chinesa, criando costumes distin- forte, quente e pesado. Isso traz a importância
tos, resultando em cozinhas regionais diferentes para os chineses de sua alimentação ser harmo-
e com sua identidade técnica de cocção. niosa, vivendo uma vida saudável e balanceada.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 47
Segundo Pham: Sob muitos aspectos, a Ásia é a terra dos aperitivos e das entradas. Da China e
do japão até a Índia, o Vietnã, a Tailândia e Malásia, esse é realmente o paraíso da “comida de
rua”, termo que descreve a comida tipicamente preparada e degustada no caminho, em tigelas
e pratos pequenos, e lanches servidos em espetos ou folha de bananeira. Esses pratos, sempre
muito saborosos, são feitos em porções pequenas, para viagem; e são ótimos aperitivos.
Isso não quer dizer que o fast-food ocidental pode ser comparado com a comida de rua asiática,
pois a comida de rua oriental ocupa seu lugar de autêntica e única cozinha, com produtos frescos
e feitos com habilidades únicas e por famílias passando de geração para geração, tendo sua exis-
tência muito antes dos primeiros restaurantes ocidentais (SABORES DO ORIENTE, 2011 p. 16).
De uma forma geral, as crenças e filosofias mile- A técnica chao é muito parecida com o nosso
nares criaram uma cozinha chinesa com sabores salteado, é colocada em uma wok uma pequena
entre azedo, salgado, amargo e doce, utilizando quantidade de óleo frio e, em seguida, são co-
várias técnicas de cocção que fazem com que locados temperos secos, como alho e gengibre;
sabores e texturas se complementem de forma as carnes são colocadas e agitadas para serem
harmoniosa e saudável. seladas, na sequência, entra os vegetais, que
A mais famosa das técnicas de cocção usada também são agitados e, finalmente, os líqui-
pelos chineses é o stir-fry que necessita de uma dos, isso tudo sempre em altas temperaturas,
panela wok e tem 2 tipos diferentes de técnicas: mantendo, assim, as características próprias
chao e bao. dos alimentos.
Cozinha Internacional
Na outra técnica, bao, a wok é muito aquecida, processo de cocção, a carne é embebida várias
normalmente, utiliza-se o óleo de amendoim, vezes com uma mistura muito doce, composta
que tem seu ponto de saturação mais alto, e, por mel e açúcar, molho de soja ou óleo, dando
a partir disso, adiciona-se em uma sequência a ela um aspecto brilhante e crocante. Um dos
rápida temperos, carnes e vegetais, pois são pratos mais famosos da gastronomia chinesa
cortados em tamanhos menores para que cozi- que utiliza essa técnica é o pato de Pequim.
nhem rápida e uniformemente. Outra técnica chinesa muito utilizada mun-
Outra técnica bastante usada pelos chi- dialmente é a fritura por imersão, com alimentos
neses é a hung-shu ou cozimento vermelho. empanados com amido de milho e claras de ovos.
Basicamente, cozinha-se uma quantidade Essa mistura é muito utilizada nessa técnica,
grande de carne em molho de soja e água, dando porque bloqueia a água dos alimentos, o que faz
sabor e cor avermelhada às carnes. com que se tornem macios e saborosos, além de
uma maior absorção dos caldos e molhos.
Por fim, outra técnica muito utilizada é o
cozimento a vapor, principalmente para legu-
mes, pois mantém seus nutrientes e sabores
característicos.
Cantão (Sul)
Com clima subtropical e cidades importantes, vapor, grelhados e stir-fry, pois preferem manter
como Macau e Hong Kong, essa região tem mais o sabor natural dos alimentos. Um prato típico
recursos naturais que qualquer outra região da da região conhecido no ocidente é a carne suína
China. Na agricultura, há predomínio de frutas, com molho agridoce.
legumes, pimentas, batata-doce e arroz, com Além do tradicional arroz, o Cantão utiliza
plantio mais produtivo do mundo, com até 3 em sua cozinha os ingrediente tropicais, como:
colheitas por ano. cana de açúcar, abacaxi, lichias, brócolis, cogu-
Por ser uma região com costa marítima melos e feijões.
de mais de 1000 km de extensão, possui uma
grande variedade de frutos do mar, como: Pequim (Norte)
camarão, lula, lagosta, berbigão, caramujo e Com um clima relativamente frio e árido e solo
siri, e, em terra, cria animais como marreco, seco, a capital chinesa sempre foi sede da corte
porco, pato. imperial, por isso, sua culinária ficou conhecida
Sua culinária se difere das outras pela pouca como criativa e sofisticada. Dentre os ingre-
utilização de temperos. Usa-se, normalmente, dientes típicos, podemos encontrar trigo, soja,
molho de soja, alho, molho de ostra e de ameixa, acelga, alho, cebolinha, molho de soja escuro,
as técnicas mais utilizadas são o cozimento em couve-chinesa, maçã, peras e uvas.
Cozinha Internacional
Por proximidade com a Mongólia, a região foi típicos pratos bêbados, muito característicos
muito influenciada por seus costumes, como o dessa região, além da cura de carnes e conserva
consumo de carne de carneiro, aves, ovelhas e de legumes e tubérculos.
cabras. Devido aos costumes mongol, a região
não consome carne suína. Os dois pratos mais Sichuan (Oeste)
emblemáticos da região são o pato de Pequim O interior da China é muito conhecido por conter
e o Huo Guo. Como no fondue, os alimentos em suas características pratos muito temperados,
são cozidos em caldos quentes, sopas ou óleo oleosos e agridoce, possivelmente pela influência
por imersão, sendo segurados por um palito. da Índia e do Paquistão nos hábitos. A criação
de animais, como gado bovino e suíno, também
Xangai (Costa Leste) aparece em alta nessa região, a agricultura não
Região com os maiores portos do mundo, pesca varia muito das outras regiões, composta por
e agricultura são abundantes, além das várias ri- trigo, batata-doce, soja, açúcar e chá.
quezas naturais, como lagos e rios, que também O destaque da culinária é o uso de óleo de
favorecem a região. Os principais ingredientes gergelim e da pimenta que aparece de várias
utilizados na culinária são arroz, frutas, brotos, formas: assada com sal, em pasta, moída, fresca
verduras e legumes, peixes e fruto do mar. ou em infusão em óleo.
Sua culinária tem como principal concei- A técnica de conservação mais utilizada é a
to manter o sabor natural dos alimentos com desidratação e os principais alimentos conser-
pouco tempero, molhos leves e a preferência vados são frutas, cogumelos e carne.
sempre foi por comida adocicada, os pratos re- As técnicas de preparo dos alimentos que
gionais são aromatizados, como molho de soja, predominam em Sichuan são o cozimento a
açúcar e gengibre, e os pratos doces são à base vapor e o stir-fry.
de gema, açúcar e frutas. Apesar das singularidades de cada região, é
As técnicas de cocção mais utilizadas nessa possível encontrar pontos comuns nas cozinhas,
região são stir-frying, cozimento vermelho em como a estética de pratos, o grande consumo de
baixa temperatura, cozimento por vapor e arroz e macarrão, a importância dos legumes e
cozimento no saquê, esse último originou os o processo rápido de preparações.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 51
A cozinha do Japão
Japão é um dos principais países da Ásia, com- verão, essencial para o plantio do ingrediente
posto por um arquipélago que, no total, chega primordial, o arroz, e, devido ao seu tamanho,
a, aproximadamente, mais de três mil ilhas. não possui grandes áreas para criação agrícola
Quatro dessas ilhas são as maiores e mais im- ou de pastagens, sendo os principais alimentos
portantes. Seu clima é bastante chuvoso no japoneses retirados do oceano.
Há relatos de que os primeiros moradores das ou em água sem sal. Uma preparação na qual
ilhas japonesas foram os chineses vindos do todos pensam quando falamos em culinária ja-
continente, e a religião predominante é o bu- ponesa é o sushi, porém o que todos não sabem
dismo, que veio em meados do século VIII e se é que o sushi foi um método de conservação
espalhou facilmente. Uma das singularidades criado pelos chineses para que o peixe ficasse
da religião que influencia é proibir o consumo conservado por mais tempo, pois o arroz o con-
de animais de 4 patas. servava, liberando ácidos próprios. É comum
As influências chinesas também trouxeram pensarmos, também, na farinha de trigo para
os grãos, trigo e cevada, o arroz cozido no vapor fazer macarrão e no saquê, muito utilizado.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 53
Cozinha Internacional
Porém nem só de influências orientais foi for- Podemos definir as características da cozinha
mada a cultura alimentar dos japoneses. A vinda japonesa típica de várias formas, como a cozinha
dos portugueses também trouxe a fritura que, da alimentação simples, em que não existe hábito
por sua vez, deu origem ao tempurá; sua forma de misturar sabores ou ingredientes; comida ra-
de preparo é basicamente uma mistura de fa- cionada e básica com arroz, peixe e legumes; uma
rinha de trigo e água, produzindo uma massa comida natural com ênfase no próprio sabor dos
grossa, em que os ingredientes são submersos alimentos, sem temperos ou cocção, em muitos
e, depois, fritos em gordura quente até dourar. casos, o peixe cru, em alguns casos, marinados
Com a expulsão dos portugueses e estrangei- suavemente em vinagre e sal; legumes crocantes
ros, as fronteiras japonesas foram fechadas e o cozidos apenas no vapor rapidamente, resultando
comércio interno se desenvolveu com os produ- em uma alimentação leve e saudável.
tos e produtores locais, com isso, alguns pratos A apresentação dos pratos também é levada
que hoje são conhecidos apareceram naquela em conta pelos japoneses, as porções em quan-
época, como sushi, que nada mais era do que tidades pequenas, servidas em louças adequadas
uma forma de conservação do peixe para faci- a cada preparação, sem esquecer do ambiente
litar o seu transporte envolto em arroz e algas, relaxado com uma atmosfera leve.
e obentô (marmitas). Certa vez, ouvi um cozinheiro japonês expe-
Após um longo período fechado para o riente dizer que um alimento tem 48 horas para
mundo é que o Japão resolveu se modernizar em ser consumido a partir do momento que ele é
tudo e o consumo de carne começou a aparecer, retirado do seu ambiente natural. Isso quer dizer
porém foi após a segunda guerra mundial que que a filosofia japonesa de alimentos frescos
laticínios, pão, especiarias, café, vinho, cerveja, vai muito além de produtos recém colhidos. Os
embutidos e os famosos restaurantes fast-foods produtos sazonais são muito utilizados no país,
apareceram para fazer parte do dia a dia dos traduzindo uma alimentação de alta qualidade
japoneses. e uma das expectativas de vida mais altas do
Mesmo com a evolução da tecnologia, os mundo. As carnes mais consumidas são a carne
japoneses não deixaram de valorizar sua co- de porco, a carne bovina de altíssima qualida-
zinha tradicional e de serem reconhecidos in- de com a raça Kobe e as aves, principalmente
ternacionalmente por terem uma cozinha de o frango, com o título de maior consumidor
característica única, diferente do resto da Ásia, do mundo; normalmente, as carnes são pouco
com algumas influências do resto do mundo. cozidas e acompanhadas de legumes no vapor.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 55
Nesse momento, destacaremos algumas das de uma proteína, em sua grande maioria, o peixe.
principais técnicas de preparo dos alimentos. Além disso, a refeição japonesa acompanha
• Horokuyaki: é baseada na cocção vegetais cozidos e em conserva e saquê. Ao final
ao vapor, em que se é colocada uma da refeição, a sopa e o arroz são servidos, antes
camada de sal em um recipiente cha- da sobremesa, normalmente composta de frutas
mado (horoku), que é pré-aquecido, em e doces simples, e o chá, preparações que não
seguida, colocam-se os alimentos sobre podem faltar na alimentação diária dos japoneses.
esse sal, o recipiente é tampado e volta
para o fogo onde o alimento é cozido
pelo vapor criado.
• Nimono: consiste em ferver o alimento
em um líquido ou sopa temperado.
• Sukiaki: tem a opção de ser fervido em
líquido temperado ou grelhado à mesa.
• Teriyaki: sua tradução significa grelhado
brilhante, é composto de uma marina-
da de shoyu, saquê e açúcar, o alimento
é grelhado normalmente e pincelado
ou regado com a marinada para dar
acabamento.
A Cozinha da Índia
A gastronomia indiana, hoje, reflete a di- Os principais produtos cultivados são: le-
versidade cultural e religiosa de todo o país, gumes, grãos, cana-de-açúcar, frutas, vegetais,
caracterizada pelo uso de muitos temperos, chá, café, pimentas e especiarias. A carne bovina
pimentas e especiarias. Podemos classificar é limitada, pois há restrições religiosas em seu
o paladar da comida indiana em seis sabores consumo, 80% da população seguem a religião
predominantes: do hinduísmo, que acredita no respeito de tudo
• Ácido, doce (agridoce) que respira, por isso, são vegetarianos, mas con-
• Salgado somem o leite, o queijo e o iogurte extraído
• Amargo do leite. Temos que ressaltar, porém, que não
• Picante são todos da população que fazem parte dessa
• Extremamente picante. crença, é muito comum que a vaca seja criada
solta em centros urbanos, pois uma grande parte
Os pratos conferem e têm por essência a utiliza- da população a respeita e acredita que, quando
ção em grande quantidade de legumes, dando o um desses animais adentra sua casa, é sinal de
título de país com a maior utilização de legumes sorte e bênção.
em todo o mundo, isso se dá, pois, praticamente Carnes de carneiro, aves, peixes de mar e
a maioria dos indianos são vegetarianos, em rios também são consumidos pela população
grande parte pela escolha religiosa. não vegetariana.
Apesar de mais da metade do país ser cul-
tivado, a importação de alimentos é inevitável
devido ao crescimento da população.
Fonte: o autor
Cozinha Internacional
Outra característica curiosa é que as louças de aromáticos, podendo ser picante, até extre-
são compostas, em sua maioria, de folhas de mamente picante, à base de ervas, especiarias
bananeira e casca de coco, os talheres não são e pimenta. Quando falamos em curry em pó, é
utilizados, pois se come com a mão direita. a masala que, preparada, se transforma na base
Em todas as regiões, percebem-se costumes do prato curry, sua combinação na mistura de
em comum na gastronomia local, o uso indis- temperos e especiarias secas ganha diversos
criminado de especiarias como cardamomo, nomes devido às diferentes combinações, por
cúrcuma, cominho, cravo, semente de erva doce, exemplo, Garam masala, Kashimiri masala,
alho, gengibre, feno grego e açafrão. Madras masala, dentre outros. As masalas são
A índia foi parte do império britânico, na usadas para dar sabor a carnes, aves e arroz.
época de sua colonização, em muitas regiões, a
língua inglesa era mais falada que a língua local,
os indianos também foram viver na Inglaterra,
levando consigo sua gastronomia, tornando-a
popular para os ingleses. Há relatos de que o
curry foi criado pelos ingleses na época da colo-
Em uma das nossas aulas conceituais,
nização da índia, por sentir falta da sua comida
aprendemos a preparar um Curry de
nativa, incentivaram o preparo de pratos típicos Cordeiro, trabalhando as técnicas de pre-
britânicos utilizando ingredientes locais e, para paro utilizadas na cozinha indiana! Não
deixe de conferir!
diminuir a intensidade das pimentas, adiciona-
ram o leite de coco, para suavizar o ensopado,
dando origem a um prato ícone da gastronomia
indiana e podemos dizer inglesa também. O curry
se espalhou para todo o país, diferenciando-se de O povo indiano conhece as características tera-
uma região para outra, dependendo da utilização pêuticas das masalas e sabe sempre apreciar os
de produtos locais e do costume dos habitantes. sabores inigualáveis que têm o poder de estimula-
Todos pensam que o curry é aquele tempero rem o apetite e, também, de ajudarem na digestão.
amarelo que compramos nos supermercados As frutas são encontradas em formato de
e que leva esse nome, porém o legítimo curry chutneys ou relishs, as conservas agridoces
indiano é um prato tipo um ensopado à base de também aparecem com lugar de destaque. O
verduras, peixes ou carne cozida e algum líquido ghee ou manteiga clarificada, muito utilizado
de tomate, leite de coco, iogurte, acompanhado na gastronomia indiana, vem ganhando cada
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 61
vez mais adeptos em todo o mundo, devido aos Existem inúmeras farinhas, além da de trigo,
seus benefícios culinários, por ter seus resíduos utilizadas para a preparação de pães na Índia como
lácteos extraídos após uma cocção lenta, muitas as farinhas de: lentilha, grão de bico, feijão, milho e
vezes, em banho Maria, ela se conserva por mais arroz são as mais empregadas na sua gastronomia.
tempo, aguenta altas temperaturas sem queimar A região norte da Índia é considerada a região
e sem ficar rançosa. mais fértil na agricultura, no cultivo de grãos e ce-
O Raita é uma preparação à base de iogurte, reais. O ingrediente que predomina na região é o
pepino e especiarias e está sempre acompanhan- arroz. Como em todo o país e o continente asiáti-
do os pratos picantes para suavizar o calor trazido co, é uma região provida de muitos rios e lagos, o
pelas pimentas. As Dal, preparações que com- que fornece uma grande variedade de peixes para
põem a dieta indiana à base de legumes secos e a população. A raiz de lótus também é consumi-
leguminosas, estão na essência das refeições, cos- da em substituição à carne animal. Em muitos
tumeiramente combinados com grão ou carnes e casos, na região, as sobremesas são, em sua
vegetais em forma de purê. Os vegetais são peças grande maioria, à base de leite e creme de leite.
importantes na dieta dos indianos, sendo servi- O Parathas (pão recheado com legumes e tem-
dos de inúmeras formas, por exemplo: assados, peros) é outro produto bastante conhecido no
fritos, tostados, ensopados ou recheados etc. norte do país.
Cozinha Internacional
Na região leste da Índia, o sabor dominante é Depois de conhecermos um pouco sobre as ca-
o agridoce. A região também tem um costume racterísticas históricas e culturais que levaram
de se alimentar de muitos peixes vindos dos a gastronomia indiana para o cenário interna-
rios e lagos, principalmente o salmão; tem em cional, agora, vamos falar das técnicas de pre-
sua produção local os produtos lácteos como: paro dos alimentos mais empregadas e de suas
iogurte, queijos e coalhadas. O broto de bambu características.
também é um ingrediente típico daquela região. • Baghar: forma de preparo dos alimentos
Um prato com a identidade do leste da Índia que consiste em aquecer os temperos na
é o filé de peixe coberto com cúrcuma e frito em manteiga clarificada (ghee) para intensi-
óleo de mostarda, muito picante. ficar seu sabor, podendo ser utilizada no
Já o sul tem em sua característica culinária início de um prato ou até mesmo no final.
uma comida muito mais picante que o resto do • Bhuma: cocção na técnica chinesa de stir-
país, sempre presente o cultivo do arroz, que é -fry que trata de cozinhar o alimento em
consumido em todas as refeições. O arroz basmati chama forte com pequenas quantidades
tem um grão mais fino e comprido que outras va- de água, tornando o prato dourado com
riedades de arroz que conhecemos, é a variedade molho reduzido.
preferida dos indianos. • Dum: consiste no cozimento a vapor,
As principais preparações são Dosa (recheada com panela sobre brasas.
de batata e legumes, servida com ghee e chutney • Tandoori: método de cozimento muito
de coco), Idli (bolinho de arroz recheado de le- conhecido na gastronomia internacional,
gumes e carne de ovelha servido com chutney). quando falamos de Índia, usado para assar
O oeste indiano é a parte mais cosmopolita e grelhar, o alimento é cozido em espetos,
da Índia a gastronomia é a combinação perfeita dentro do tandoor, um forno de barro.
entre as cozinhas do sul e do norte, o arroz, • Talana: muito parecido com o Tempurá
como seu principal alimento, acompanhado de japonês, é feita uma massa mole de fa-
uma grande quantidade de peixes e frutos do rinha de grão de bico e água, são mer-
mar, marreco, filé de peixe seco, o uso do limão, gulhadas as carnes em geral e vegetais
cominho e coentro devido à influência portu- dentro dessa massa e frita por imersão
guesa, pratos com carne suína e sabor agridoce. em óleo quente.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 63
A Cozinha da Tailândia
A Tailândia é um país que reúne suas duas maio- começou a disseminar nos países do ocidente
res influências, chinesa e indiana, misturadas a ideia de que a cozinha tailandesa é muito con-
com algumas lembranças do ocidente. dimentada e extremamente picante.
Por ser uma das rotas marítimas da Europa Com o tempo, os palitos chineses foram sendo
para a China, muitos comerciantes acabavam descartados e dando lugar aos garfos e colheres,
passando pela Tailândia e deixando suas in- as mesas e as cadeiras também foram roubando
fluências, como os portugueses, holandeses, espaço dos tatames na hora da refeição, tudo re-
franceses e, da Ásia, os japoneses. Em meados flexo trazido pelos imigrantes ocidentais. Já as
do século XVII, os missionários, passando pelo facas não são permitidas na mesa dos tailandeses.
país, introduziram a pimenta malagueta que, A gastronomia thai, como é conhecida in-
depois, se tornou símbolo do país pela sua ternacionalmente, tem sua identidade própria,
grande utilização, tornando-se o ingrediente mostrando ao mundo uma explosão de sabores,
mais importante dessa cozinha. Foi aí que se cores e aromas.
Cozinha Internacional
Devido à influência chinesa, a religião que seu tamanho avantajado, é muito apreciado por
mais predomina no país é o budismo, influen- turistas e moradores locais.
ciando nos costumes alimentares do povo. As massas em fio podem ser encontradas
Cultuar a natureza e viver em harmonia com em vários tamanhos, por exemplo, fios finos,
os animais é uma das filosofias budista que planos e largos, semelhante aos talharins, nor-
se reflete diretamente na gastronomia local, malmente constituídas de arroz ou feijão mung,
com a utilização de muitas frutas, legumes, uma espécie nativa da região; as massas em
cereais e verduras. fio são um diferencial na dieta dos tailandeses,
O arroz é um dos pilares da gastronomia tai- trazendo leveza para seus pratos, já que se torna
landesa, pois está bem longe de ser um acompa- difícil acharmos sua utilização nos países do
nhamento, como acontece nos países ocidentais. ocidente. Medina (2006, p. 60) completa:
Seu consumo e cultivo são intensos na Tailândia, Na Tailândia, cada refeição converte-se
utilizado também como farinha em formato numa experiência única, num momento
singular vivido com intensidade e fas-
de macarrão, porém seu maior consumo é em
cinação. Fruto de inúmeras influências
arroz, dividido em duas variedades: o arroz gluti- culturais, a cozinha tailandesa destaca-se
noso, muito consumido nos países que formam pelo frequente uso das frutas e verduras,
que proporcionam pratos de um colorido
o continente asiático, China e Japão, seguido
espetacular, aliados à fulgurante explo-
do arroz de jasmim que, por sua vez, é um dos são de aromas e sabores. É como se o
destaques dessa cozinha, por ter suas caracte- perfume das cozinhas asiáticas se reu-
nisse à mesa, convertendo cada garfada
rísticas próprias, como estimular a fome, um
numa experiência aromática única. Na
aroma inconfundível que é liberado ao cozinhar culinária tailandesa, navegamos entre a
e uma aparência comprida e cristalina, muito sofisticação do curry e dos mil matizes
próxima do arroz indiano basmati. que ele incorpora. A saborosa sensa-
ção de ardor disfarçado da malagueta,
O consumo de carne é mínimo, normalmen- a elegante sensualidade do gengibre, a
te é consumido por pessoas de outras religiões, e alegria que espalha o capim-limão. Até
até mesmo os açougueiros do país são de outras mesmo a presença familiar do coentro
– em forma de sementes em folhas – ou
nacionalidades, por se tratar de um povo vege-
do manjericão transformam-se, aqui em
tariano praticamente em sua totalidade. Por sensações desconhecidas. São aromas
esse motivo, a proteína mais consumida é a nascidos do encontro de especiarias e
ervas aromáticas, definidores de uma
de peixes e frutos do mar, que acontece muito,
cozinha que avança em sintonia com a
também, devido ao seu litoral extenso. O ca- natureza e que procura se ajustar aos
marão tailandês é protagonista dos mares pelo princípios filosóficos do yin e do yang.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 65
Podemos dizer que a culinária tailandesa se baseia anteriormente. As únicas diferenças vão ocorrer
nos mesmos conceitos dos chineses com relação quando o cultivo de ingredientes específicos
ao yin e yang: equilíbrio e contrastes, picante, ocorrem por fatores de misturas típicas desse
doce, salgado, amargo, ácido e agridoce, como ou daquele país. Por exemplo, o Vietnã, que são
referência de seus sabores. Porém nenhum prato famosos por utilizarem uma grande quantidade
ou tempero se destacou ou se usou tanto na co- de ervas aromáticas em seus pratos.
zinha internacional como os currys tailandeses, Na Indonésia, podemos observar o uso
divididos entre o curry vermelho à base de pimen- indiscriminado do amendoim nos pratos. Os
tas vermelhas, o curry verde à base de pimentas currys indianos à base de molho também são
verdes, o amarelo à base de cúrcuma. O que di- bastante consumidos nessa região, assim como
ferencia o curry tailandês do indiano é que os o uso de tamarindo e pimentas.
currys tailandeses são pastas à base de pimentas A Coreia segue praticamente a mesma linha
e especiarias, utilizadas, em sua grande maioria, culinária da China, pois suas técnicas de prepa-
na hora de se preparar os pratos, como temperos; ro dos alimentos também são praticamente as
para equilibrar esse ardor dos currys, o leite de mesmas do resto da Ásia. Sua característica é de
coco, as frutas tropicas e o arroz são incorporados uma gastronomia extremamente aromatizada,
nas refeições, trazendo o que podemos chamar de que utiliza pimentas vermelhas, alho, soja, ger-
equilíbro de sabores, aromas e texturas. gelim e cebolinha. A sopa e o macarrão também
Para falarmos das técnicas de preparo dos ali- são muito consumidos e acompanham quase
mentos e utensílios mais utilizados, só precisamos todas as refeições juntamente com o arroz.
lembrar-nos dos utilizados pelos chineses, pois,
devido a suas influências sobre os tailandeses,
podemos observar que estão presentes frituras
em geral, normalmente por imersão, Stir-Fry, a
técnica de preparo mais comum, Wok, utensílios
mais importante da cozinha tailandesa, vaporeira,
recipiente de bambu próprio para o cozimento a
vapor, e, finalmente, o pilão, imprescindível no
preparo dos currys e especiarias para os molhos.
No outros países do sudoeste asiático, é pos-
sível encontrarmos as mesmas formas de pre-
paro dos alimentos e ingredientes que falamos
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 67
Um detalhe importante é que essa região foi o bastante utilizados nos países árabes, sem nos
berço da civilização. Segundo Ferguson (2012), esquecermos da batata, abobrinha, alho poró,
o modelo de civilização Ocidental que conhe- repolhos, berinjela, alho e tomates.
cemos hoje surgiu no Oriente, às margens dos Utilizadas em pratos doces e salgados, as
rios Nilo, Tigre e Eufrates. Esses rios formaram frutas secas ou desidratadas são parte funda-
o Crescente Fértil, que, em razão das cheias, mental dessa gastronomia, podendo ser ser-
formavam em suas margens uma extensa área vidas separadamente. Os chás e os cafés são
cultivável, permitindo que ali se desenvolves- bebidas que fazem parte da cultura alimentar
sem as primeiras experiências dos homens em dos árabes em seu dia a dia.
sociedades organizadas jurídica e politicamente. A gastronomia Síria e Libanesa são bem
Dentre os grãos consumidos por esses próximas em sua forma de preparo, porém, além
países, podemos ver o trigo como seu principal dos nomes dos pratos serem diferentes, podem
alimento, consumido de várias formas: pré-cozi- também ter uma pequena variação, dependendo
do no trigo para quibe, em grãos, pães fermen- de sua região de preparo.
tados ou o pão pita sem fermento, semolina etc. Por estarem muito próximos do mar me-
A lentilha e o grão de bico também apare- diterrâneo, a utilização de azeites, azeitonas,
cem como sendo grãos bem importantes na abobrinhas recheadas, berinjelas, legumes
dieta dos países árabes. locais, carnes, pescados, aves, arroz, especiarias,
Já as carnes mais consumidas são as de condimentos e sobremesas são comuns. Esses
carneiro, que têm uma resistência e facilidade pratos são muito perfumados devido à utilização
de se adaptarem a locais áridos. Além da carne, de especiarias secas e frescas, mostrando sua
produzem a lã para comércio; a cabra da mesma identidade ao mundo.
família; o camelo, como meio de transporte, por É costume dos países árabes servirem o
possuir uma resistência ao calor e consumir o mezzês, que são pequenas porções servidas em
mínimo de água; frango e boi em algumas re- louças bem decoradas, por exemplo, o homus,
giões. Os peixes de água doce e do mar fazem uma pasta à base de grão de bico, tempera-
parte da dieta de acordo com a sua disponibi- da com muito azeite, falafel ou tabule, esses
lidade na região. são alguns dos pratos da cozinha árabe mais
O leite de cabra e camela são importantes conhecidos internacionalmente. Esses pratos
para a produção de iogurte, queijos simples e fazem parte da alimentação diária desses países,
manteiga, que, em algumas regiões, é clarificada. acompanhados do pão pita, usado como talher
Dentre os vegetais, os pepinos e a cebola são no momento da refeição.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 69
Dentre os pratos principais à base de carne, os outros países que consomem esse produto: na
mais conhecidos são kebab, cafta, quibe, frango Turquia, ele não é coado e, ainda, é considera-
ou peixe grelhado; como sobremesas, frutas do pela população turca uma bebida nacional,
locais fazem a vez, juntamente com doces feitos todos esses aspectos criaram uma culinária
com massa folhada, castanhas e mel em geral. tipicamente árabe.
Para finalizar uma refeição, o café e o narguilé Medina (2006, p.8) completa: uma cozinha
não podem faltar para satisfazer a todos, esses entre dois mundos. A cozinha turca nasce num
hábitos são extremamente comuns em todo o singular cruzamento de caminhos que marca de
oriente médio. modo definitivo a sua natureza. Na Turquia, as-
Em algumas regiões, como na Turquia, é siste-se, diariamente, ao encontro entre Oriente
costume servir frutas secas, como damasco, e Ocidente, dando vida a uma cozinha enrique-
uvas passas, avelã, amêndoas, pistaches e pi- cida pela convivência de culturas e religiões.
nholes, esses ingredientes são utilizados em Muçulmanos, judeus e cristãos deixaram seus
muitas preparações doces e salgadas. Não po- hábitos na forma de comer dos turcos, que gira
demos nos esquecer do café turco, que tem em em torno do cordeiro como produto santificado
seu preparo uma característica diferente dos por todas essas religiões.
Cozinha Internacional
Hoje em dia, o kebab deu a volta ao mundo, mas encontramos o chá de hortelã como a bebida
com ele encontramos também espetinhos, guisa- mais apreciada.
dos com iogurte, almôndegas etc. Depois do cor- Conforme dito anteriormente, não pode-
deiro, temos os espetaculares peixes que oferecem mos nos esquecer da grande utilização dos la-
o mar mediterrâneo ou as receitas mais conhecidas, ticínios; seus derivados são utilizados de forma
como o homus, o caviar de berinjelas, as folhas de geral na maioria dos países árabes, como o io-
uva etc. É uma breve pincelada de uma cozinha gurte, o chancliche e a coalhada são bastante
que se move entre a herança suntuosa e sofisti- consumidos.
cada da corte otomana e os hábitos observados O Egito tem por base em sua alimentação le-
nas cozinhas do dia a dia (MEDINA, 2006, p. 60). gumes desidratados e pães que, indiferente de qual
Outra bebida muito popular é o arak, acom- país estamos falando, não podem faltar na dieta
panhada de café e vinho no Líbano. Já na Síria, dos países árabes. Medina (2006, p. 59) diz que
Segundo os que gostam de reduzir qualquer acontecimento a uma frase feita, deveríamos apre-
sentar a cozinha egípcia como “a cozinha dos faraós”. E, em parte, a afirmação está correta: poucas
cozinhas podem se gabar de uma trajetória tão perene e de um passado tão esplendoroso. Os
pesquisadores encontram referências milenares sobre a elaboração da cerveja e a engorda do paro.
Sabemos que dispunha de 15 tipos de pães diferentes, que assavam patos e que eram conhece-
dores de uma grande variedade de produtos e técnicas de elaboração que, ainda em nossos dias,
podemos considerar modernas. Apesar disso, hoje em dia, a cozinha egípcia é muito mais do que
o legado histórico dos faraós. Acabou por receber a influência de produtos vindos, primeiro, do
extremo oriente e, mais tarde, da América. Partilha, por sua vez, usos, modos e propostas com
cozinhas como a turca ou a grega e faz a transição ao encontro das cozinhas da África negra.
Os egípcios possuem um prato típico pouco co- para filho, o que faz com que muitas delas sejam
nhecido no cenário da gastronomia internacio- preparadas da mesma forma que seus ancestrais
nal, o ful, que nada mais é do que favas grandes preparavam há milhares de anos.
marinadas em azeite temperado com especiarias A religião muçulmana tem uma influência
diversas e regado com suco de limão. Mesmo muito grande nos países árabes. A carne de car-
ocupando uma vasta região geograficamente, o neiro é a preferida e mais consumida pelos ha-
povo árabe mantém as características culinárias bitantes dessa região. Já a carne de cabrito e de
bem homogêneas, dando pouca importância ao aves, como o peru e a galinha, também chegam
uso de temperos, ervas e especiarias em todas à panela; os grãos são o grande destaque dessa
as preparações. As receitas são passadas de pai cozinha, por exemplo, favas, grão de bico, feijão,
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 71
ervilha e lentilha que muito apreciadoscomo: doces, por sua vez, são preparados com açúcar
frutas, legumes e verduras também fazem parte extraído da beterraba, pois o cultivo de cana-
da dieta em conserva, forma ancestral de con- -de-açúcar é praticamente impossível devido
servar os alimentos ou em recheios. No litoral, o ao terreno árido da região, isso faz com que as
consumo de peixes e frutos do mar é abundante. sobremesas não fiquem muito doces como em
Já o mel marca muitos doces à base de massa filo outros continentes.
e castanhas, aparecendo até em pratos salgados. Em alguns países do oriente médio, algumas
As técnicas de conservação usando a defu- religiões proíbem o consumo de carne suína e
mação são atribuídas aos egípcios, porém há re- de seus derivados, a carne de outros animais
latos de que todos os países árabes já utilizavam só pode ser consumida mediante um ritual, no
a defumação para a conservação dos alimentos qual existe uma forma de sacrificar esse animal,
para secarem frutas, peixes e frutos do mar, para que sua carne não se torne impura. Esse
especiarias, carne de sol, dentre outros. ritual consiste em virar o animal para Meca e
Em alguns países árabes, a alimentação é com uma faca abrir seu pescoço e dizer a frase:
baseada no arroz e compõe sua alimentação com “em nome de Deus”. O animal deve sangrar até
pratos agridoces. Muitos pratos são assados e o fim e, depois, é feita a limpeza. No Irã, carnes
ensopados, as nozes são misturadas com suco de exóticas são consumidas, como as de leão, leo-
romã e adicionadas aos pratos para dar sabor; Os pardo, lobo e aves com garras.
Cozinha Internacional
considerações finais
Chegamos ao final da nossa segunda unidade do livro de cozinha internacional.
Até aqui, familiarizamo-nos com os países das Américas, Ásia, Oriente
Médio e suas tipicidades, cumprimos nosso objetivo de formar uma base de
conhecimentos sólidos da cozinha internacional desses países.
Nesta unidade, pudemos compreender as características milenares dos
países asiáticos e sua tradição até os dias atuais, com poucas mudanças em
seus hábitos alimentares e de preparação dos alimentos, sua rica cozinha e
ingredientes.
No oriente médio, observamos um pouco da força que a religião tem
sobre os hábitos alimentares dos povos, também vimos os hábitos compar-
tilhados por todos os povos de forma semelhante, seja no modo de preparo
dos alimentos, utensílios, chagando aos ingredientes usuais.
No que diz respeito à cozinha internacional, o continente asiático e o
oriente médio são, em sua grande maioria, culturas que, ao longo do tempo,
tiveram o seu desenvolvimento em outros países, adaptando seus pratos a
ingredientes locais, por exemplo, os sushis com goiabada e cream cheese, o
yakisoba, as esfihas de carne bovina, dentre outras preparações que tiveram
que ser modificadas para agradar o paladar típico e financeiro daquele país.
Criam-se novos conceitos de gastronomia internacional, muitas vezes, fora
dos países de origem, que é o caso também dos famosos fast-food de culinária
asiática e culinária árabe.
Agora, você está familiarizado com as principais técnicas de preparo dos
alimentos do continente asiático e do oriente médio e com seus principais
ingredientes, assim, pode iniciar nossa última unidade sobre o continente
europeu e africano.
Cozinha Internacional
atividades de estudo
leitura complementar
Cozinha e Tradição
O Japão, Meca internacional da gastronomia, Daí não ser novidade para o universo japonês
ostenta 31 restaurantes 3 estrelas do Guia a culinária ser considerada arte.
Michelin, versão 2012, e mais de 400 com 2 Hoje o congresso com o encontro de Lima
e 1 estrelas, o que qualifica como país com o potencializou a troca de ideias. Chefs e insumos
maior número de estabelecimentos reconhecidos circulam com mais dinamismo pelo mundo e
com o padrão de excelência. Lá ainda persiste experimentam criações alheias não para copiar,
a consciência de que a gastronomia pertence mas para se inspirar mutuamente . Assim os
ao sentido clássico das artes, daqueles que são conceitos de culinária tradicional japonesa vem
herdados por gerações, via linha familiar ou na sendo comentados, como uma das grandes fontes
relação entre mestre e discípulo. Restaurantes de inspiração também na culinária ocidental,
consagrados contam quatro séculos de existência especialmente a partir da nouvelle cuisine fran-
ininterrupta, como é o caso do Hyotei, em Kyoto, cesa, que ostensivamente adotou procedimentos
hoje uma culinária de excelência formal, com do kaiseki ryôri (a refeição em diversas etapas,
postura artesanal, e seu padrão é mantido há servidas em sequência) do Japão. E aí entra a
séculos, muito antes da fama internacional que importância de conhecer o peso das tradições e
os holofotes do recente jornalismo gastronômico o reconhecimento das técnicas. Muitas dessas
lhe dirigiram. A intimidade culinária japone- técnicas são resultado do conhecimento depura-
sa tradicional com outras artes, especialmente do por séculos, saberes herdados sobre os quais
com a criação dos jardins e a cerimônia do chá, é dispensável qualquer questionamento.
está ligada a sintonia que essas artes tem com a Antes de querer ser um Adria ou um chef
mudança sazonal e como delas são absorvidas a exuberante, o cozinheiro tem que conhecer a
linguagem e a mensagem estética. Evidencia-se, técnica assimilada em seu próprio corpo. Essa
assim, o status de arte que a cozinha japonesa é a lição que todos os chefs importantes dão
sempre ostentou, sem precisar de justificativa a iniciantes no ramo. O manejo da faca e das
pública. panelas é um procedimento que o corpo é ins-
O fato é que essa intimidade da culinária truído de responder intuitivamente, como um
tradicional japonesa com as outras artes, lem- pintor trabalha com seus pincéis ou o dançarino
brando também a cerimônia do chá, introduziu com o seu corpo.
até no ato da refeição em si o apelo à estética. Fonte: Takashi (2012, p. 16).
Cozinha Internacional
CHEF PROFISSIONAL
Instituto americano de culinária
Editora: Senac São Paulo
Sinopse: Chef profissional é essencial para qualquer chef
que deseja aprender e aperfeiçoar suas técnicas. Essa bíblia
dos chefs reflete, como poucas obras, a forma como as pes-
soas cozinham e comem e ainda procura discutir uma vasta
gama de assuntos, que vão de uma análise do trabalho do
chef a capítulos específicos sobre molhos, sopas, carnes,
vegetais, grãos, café da manhã, bolos, pães etc., de receitas
simples a preparações mais sofisticadas. O livro inclui in-
formações essenciais sobre nutrição, segurança alimentar e da cozinha,
equipamentos e ingredientes, assim como mais de 640 receitas e suas
variações.
Cozinhas da Europa e da África:
A influência na Gastronomia Mundial
HUGO LEONARDO DE CASTRO ALVES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os principais países europeus na gastronomia interna-
cional e seus costumes alimentares.
• Compreender a importância da Alemanha, Portugal, Espanha e
Europa oriental na gastronomia internacional.
• Apresentar a cultura e formas de se alimentar dos principais
países que compõem o continente africano e sua influência nos
hábitos alimentares em outros continentes.
79
Introdução
Olá, aluno(a)!
É com imensa alegria que chegamos a nossa última unidade, porém não menos importante
que as outras pelas quais passamos. Nesta unidade, focaremos no continente europeu, berço da
evolução gastronômica, onde os holofotes estão sempre atentos a uma nova tendência criada por
chefs internacionais e onde as novidades acontecem no mundo da gastronomia. Podemos consi-
derá-lo o continente mais estrelado e premiado do mundo, no qual os melhores e mais famosos
profissionais e estabelecimentos se encontram, mostrando para o mundo qual a tendência a ser
seguida e copiada. Falaremos da característica inconfundível e marcante da gastronomia alemã e
de todas as suas influências, por exemplo, o exótico sanduíche de peixe em conserva, consumido
no café da manhã. Descobriremos a culinária portuguesa tão rica e, ao mesmo tempo, barata
para se preparar, cheia de sabores e aromas característicos de seu preparo, com uma infinidade
de doces à base de ovos, como o inconfundível pastel de belém.
Faremos uma viagem pela diversificada e moderna cozinha espanhola, com suas ideologias
e paladares expressivos, seus ingredientes típicos conjugados com tecnologias na forma de pre-
parar os alimentos e suas misturas de sabores e cores que fazem dela uma cozinha relaxante e,
ao mesmo tempo, alegre. Teremos a oportunidade de conhecer a Europa oriental, com a Rússia
ditando a gastronomia regional, grande em seu território e especial por sua comida caseira,
veremos, também, pratos clássicos que ganharam fama internacional.
Teremos a oportunidade de fecharmos o ciclo da gastronomia internacional com o continente
africano, autêntico, marcante e exótico por natureza, refletido em suas tradições e influências
de outros países. Contrastes relativos à escassez de insumos e, ao mesmo tempo, recursos para
uma alimentação equilibrada, fazendo da racionalização uma obrigação para seu povo.
Concluiremos com o fechamento da disciplina e aspectos que marcaram a cozinha
internacional.
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 81
Gastronomia Europeia:
Cozinha da Alemanha
e Espanha
A Cozinha da Alemanha
A gastronomia alemã tem por característica ser muito conhecido na região da floresta negra.
marcante por misturar frutas às comidas salga- No café da manhã alemão, o rollmopsbrötchen,
das. Um bom exemplo são as sopas de cereja e a um sanduíche de pão de trigo recheado com
sopa de enguias, basicamente preparadas com alface, tomate e filés de sardinha em conserva,
cenoura picada, ervilhas, aspargos, ameixas e faz as honras. O tradicionalíssimo Himmel
damascos. Sendo essa uma especialidade da und Erde, traduzido como céu e terra, feito
famosa cidade de Hamburgo, também muito com purê de maçãs e batatas acompanhado
conhecida por ser a cidade que originou um dos de salsichões grelhados, uma infinidade de
pratos mais consumidos pelo norte americano, embutidos e defumados, faz parte da dieta
o Hambúrguer. alemã. Do café da manhã ao jantar, os embu-
Há, também, um lombo de veado recheado tidos, ou mais conhecidos como salsichões,
com frutas vermelhas e servido com maçãs, aparecem como os produtos mais consumidos
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 83
de trigo até o seu limite, deixando-a fina como crustáceos, como ostra e mexilhões.
uma folha de papel; essa massa é pincelada com Também podemos observar que a região
manteiga derretida e recheada com maçã, açúcar que faz fronteira com a Dinamarca possui um
e canela, por fim, enrolada e pincelada com gema rebanho considerável de vacas leiteiras, em que
de ovo e assada. Suas características depois de as produções de produtos derivados do leite,
pronta é ser crocante e dourada por fora e sa- como manteiga e queijos alemães, saem dali.
borosa e macia por dentro. A cereja também é A cidade de Munique abriga a conhecida e
uma fruta muito apreciada, sua utilização se dá famosa Oktoberfest, o festival da cerveja, consi-
no preparo de um destilado da fruta, mundial- derado a maior festa da cerveja de todo o mundo,
mente conhecido como kirsch. com uma variedade imensa de cervejas e pratos
As sobremesas aparecem com influências dos típicos. A região de Baden tem em sua culinária
países europeus, é o exemplo do autêntico folhado influências francesas, devido a sua localização
francês, muito consumido pelos alemães, seguido geográfica ser próxima da França, e é considera-
dos biscoitos, os inconfundíveis bolos acrescidos de da por alguns como o verdadeiro paraíso gour-
especiarias, além do típico bolo de natal gigante em met dentro da Alemanha. Os ingredientes mais
forma de árvore, o baumkuchen. No norte alemão, conhecidos são peixes, truta e carpas, além da
encontramos as influências holandesas, escandi- carne de caça, em especial, da carne de veado,
navas e polonesas que se misturam às tradições muito comum na região da floresta negra; os
dos alemães. As sopas de caldo espesso, as carnes cogumelos selvagens e hortaliças também são
e os peixes defumados estão sempre presente nas bem consumidos e procurados naquela região.
refeições diárias dos habitantes locais. A região conhecida como Rheinland encon-
Na região central da Alemanha, cereja, pão, tra-se na zona do Reno, famosa por ter uma
presunto e vegetais frescos são ingredientes produção grande de batatas, um ingrediente
muito utilizados na alimentação, além de folha- muito consumido, como dissemos anteriormen-
dos tipicamente eslavos. Na famosa região da te, além de se destaca pelos excelentes vinhos.
Bavária alemã, a cerveja, as carnes e a pâtisserie A região que faz fronteira com os países baixos
roubam a cena e fazem essa região ser muito europeus é onde se concentra a produção e o
visitada por turistas do mundo todo. consumo dos melhores presuntos e salsichas
Na região norte próximo ao mar, não seria alemãs, a região é chamada de Westfalen. O
diferente, a alimentação é basicamente de peixes presunto preparado na região é defumado com
e frutos do mar local, os peixes mais consumidos zimbro, o que dá um sabor totalmente caracte-
são o arenque, sardinha, cavala, enguia e muitos rístico ao alimento.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 85
Fonte: <http://www.oktoberfestblumenau.com.
br/oktoberfest/historia>.
Cozinha Internacional
A cozinha da Espanha
vinho trazidos pelos Romanos; com o passar dos branco cozido com embutidos, açafrão e carne
séculos, a cozinha local mesclou os ingredientes de porco), além do queijo e da famosa sidra, um
trazidos de outros países com os produtos típicos vinho à base de maçã.
do mediterrâneo, como: peixes, frutos do mar, Já a região da Cantábria nos oferece muitas
aves, porco, carneiro, alho, cebola, salsa. diversidades de ingredientes, por possuir uma
Como é de costume do povo espanhol, o cozinha derivada do mar em suas regiões mon-
café da manhã não tem muita importância, é tanhosas, com pratos de grande qualidade, com
basicamente jamon com pão, churros e tortilha carne de vaca, anchovas frescas e os derivados
espanhola, uma espécie de omelete recheada do leite. Alguns tipos de pratos dignos de serem
com batatas. Importante mesmo é o almuer- mencionados vem da região da Galícia, como o
zo (almoço), que tem em sua composição, na guisado, as caldeiras, o polvo e os derivados de
maioria das regiões, ovo, pães e embutidos. Já leite e os doces.
os tapas espanhóis são famosos por todas as As regiões de Aragon, La Riojas e Navarra
partes do mundo. Fazem parte do cardápio: desencantam-se com as frutas e hortaliças, pois
frutos do mar, carne de porco, cedro ibérico são produzidas em seus vales férteis, verda-
(porco selvagem de pelagem negra), azeitonas, deiros paraísos, onde encontramos aspargos,
legumes, carneiro, arroz e azeite. Os espanhóis pimentões, pêras e pêssegos, que desfrutam
também carregam o título de um dos maiores da fama por serem de altíssima qualidade. Os
exportadores desses produtos, juntamente com ensopados à base de verduras e as batatas macias
as frutas. dão lugar às deliciosas trutas dos rios de monta-
Na região norte, o clima úmido e chuvoso nhas que complementam a gastronomia local,
favorece uma gastronomia muito rica e varia- sem esquecer das carnes preparadas com uma
da, pois nessa região a criação de gado bovino espécie de refogado de tomate, pimentões e
prevalece. Os peixes e as batatas também são de outros ingredientes. Fechando com delicados
ótima qualidade. Conhecida como país Basco, e harmoniosos vinhos da região de La Riojas.
essa região desenvolve uma gastronomia de A confeitaria tem seu lugar de destaque,
pratos próprios, como é o caso do marmitako pois sofreu influências francesas. Nas sobre-
(composto por batatas e atum). mesas, principalmente na região norte, deriva-
Na província de Asturias, conhecida como dos de leite, frutas secas, achocolatadas ou em
paraíso natural, prevalece o consumo de peixes conserva aparecem. Completam a gastronomia
e frutos do mar, em especial, o marisco, mas o os pães de grande qualidade e diversidade, que
seu prato mais característico é a fabada (feijão são apreciados por todos.
Cozinha Internacional
A cozinha mediterrânea espanhola aparece como do queijo e do iogurte, dos peixes e dos frutos
uma das principais, quando falamos de dieta do mar, das frutas e carnes de caça e de criações;
mediterrânea, baseada na trilogia do trigo, azeite é uma cozinha variada e completa, ao mesmo
de oliva e do vinho, a qual é muito benéfica para tempo em que encanta a todos pela sua sutileza,
a saúde. Essa cozinha se completa com con- características diferentes e identidade, sendo
tribuições importantes, como as do arroz, das uma das mais importantes da gastronomia mo-
leguminosas, do azeite, do alho, das hortaliças, derna. Medina (2006, p. 50) diz que
Apesar de um traço comum: a habilidade de conciliar a riqueza de espécies marinhas com a at-
mosfera familiar e aconchegante que se respira junto aos fogões nas montanhas e nos vales que
protegem a costa, estendendo-se para o interior. O mar oferece, a cada dia, uma infinidade de
espécie de camarões, lagostas, caranguejos, pescadas, linguados, sardinhas e enguias.
Já a terra abastece a cozinha com deliciosos legumes, o arroz de qualidade; das saborosas ver-
duras aos inigualáveis cogumelos do campo e às trufas; do leite aos queijos. Lugar especial da
cozinha espanhola é reservado às carnes, destacando-se o sabor sublime e inconfundível do
presunto ibérico. Dando um toque especial à culinária farta e original, temos a excelência de
seus famosos azeites.
Para completar a prazerosa experiência de uma refeição com a marca da Espanha, vale a pena
ainda explorar o requinte de seus doces, descubrir algumas das inúmeras sutilezas desta cozinha
tradicional que merece ser apreciada.
A Cataluña, por sua vez, conta com uma cozinha foi o mundialmente conhecido creme brulée
rica e refinada, isso desde a idade média. É for- espanhol ou crema catalana, em que é prepara-
mada pelos ingredientes do seu litoral com uma do basicamente um mingau com ovos servido
variedade de peixes e frutos do mar, enquanto, gelado; o charme fica por conta do açúcar que é
em seu interior, roubam a cena caldos e guisa- derretido com um maçarico em sua superfície.
dos de carne de caça, em que o arroz é a estrela Na região Múrcia, a grande influência árabe
principal. As influências árabes aparecem com se junta com a cozinha do mediterrâneo, com
os doces, turrones e sorvetes preparados diaria- um grande consumo de peixes e frutos do mar,
mente, os churros, também muito conhecidos devido ao seu litoral. Essa foi a primeira região
por todo o mundo, foram introduzidos nessa a receber o povo árabe na Península Ibérica.
região e logo caíram no gosto popular de todo Seu solo era composto por pedras e rochas, a
o país. Outra sobremesa que surgiu na Cataluña cultura árabe ajudou a transformar a região,
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 91
construindo muitos jardins, não é por acaso A região de Castilla y Leon tem em sua dieta prin-
que hoje é considerada o jardim espanhol. Uma cipal o consumo representativo de leguminosas,
região onde a agricultura também tem seus mé- tais como grão de bico e lentilhas; a carne de porco
ritos, a produção de legumes e verduras dita os também é muito usada em sua gastronomia local,
hábitos alimentares do povo. Contribui, junto os suínos são alimentados à base de castanha, o
com a região de Valência, com uma importante que deixa em sua carne uma coloração mais amar-
produção de laranjas, que é exportada para o ronzada, diferente dos outros animais criados
restante da Europa. regularmente. Outra característica é o alto grau de
qualidade e sabor da carne. Também, vamos en-
contrar outros produtos típicos da região: carne
de caça, cordeiro de leite, cabrito e leitão assado.
As trutas dos rios de águas límpidas e a grande va-
riedade de queijos à base de leite de vaca, ovelha
e cabra são o diferencial dessa região. A expressão
Você sabia que na região de Valência
existe o famoso tribunal das águas? Pois
árabe também é encontrada na confeitaria, com
bem, por ser uma região árida e rocho- utilização de gemas e massa folhada.
sa, as águas dos rios são consideradas Destacam-se, também, os produtos e pratos
pelos habitantes muito preciosas; essas
derivados de suíno ibérico, sua alimentação à
águas são irrigadas por meio de peque-
nas fissuras nas rochas, não sendo muito base de cereais, castanhas, avelã e ervas selva-
abundante, por esse motivo, seu uso é gens proporciona uma carne de alta qualidade,
controlado. Quando um agricultor viola
muito utilizada na preparação do conhecidíssi-
o uso da água, usando em excesso, por
exemplo, ele é julgado por esse tribu-
mo jamón, um tipo de presunto curado.
nal. Esse julgamento é uma herança da Guisados de peixes e carnes (guisado de carne
cultura local, normalmente realizado em de cabrito ou cordeiro cozido ao ponto, em seguida,
ruas e praças movimentadas, tendo forte
as carnes são fritas e temperadas com especiarias,
caráter de punição moral. Esse tribunal é
organizado pelos próprios agricultores e pimentão e vinagre), os escabeches frios também
camponeses que dependem desse bem aparecem como produtos regionais; cogumelos,
tão precioso, a água.
alho poró e uma grande variedade de queijos ar-
Fonte: adaptado de Alves (2015). tesanais tornam a gastronomia típica espanhola
fascinante. Os conventos da região de Extremadura
produzem os queijos artesanalmente.
Cozinha Internacional
Castilla La Mancha tem, em sua característica base de tomates) vem dessa região; as frituras
gastronômica, o uso de um dos mais famosos in- em azeite de oliva são técnicas de preparo incon-
gredientes espanhóis, o açafrão. O mel também fundíveis dos espanhóis, tornando particular essa
aparece junto com o queijo à base de leite de gastronomia de grande apelo popular.
ovelha manchego, muito consumido na região. A região das famosas Islas Canárias fica
Madrid aparece com sua contribuição: os pratos localizada na costa atlântica da África, desfruta
de bacalhau e o cozido madrileno (cozido de de uma cozinha muito diferente do resto do país
carne de vaca, porco, grão de bico e legumes), e, ao mesmo tempo, pessoal; sua base é farinha
já como frutas, temos os morangos, que são de cereais torrados, isso devido às influências
famosos pelos seus tamanhos exagerados, cha- africanas. O molho de pimenta é um de seus
mados localmente de fresones. atrativos, juntamente com o cultivo de legumes
No sul da Espanha, mais precisamente em e frutas tropicais.
Andaluzia, há mistura de culturas, que criou seu Os romanos, por sua vez, expandiram a vi-
patrimônio gastronômico; encontramos grandes nicultura por toda a Espanha, transformando o
plantações com terrenos férteis, com hortas e vinho em um elemento fundamental em todas
frutas, os intensos guisados no inverno e uma as cozinhas regionais do país, isso tornou a
cozinha completamente mediterrânea no litoral. Espanha um dos maiores produtores de vinho.
Sua confeitaria, como em outras regiões, vem Atualmente, sua qualidade está sujeita a ri-
de herança árabe, o consumo e os pro- gorosos controles e apresenta uma grande
dutos à base de carne de porco variedade de comarcas
é variado. O famoso vinícolas.
gaspacho (sopa
fria à
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 93
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 95
Gastronomia Europeia:
Cozinha de Portugal e
Europa Oriental
A cozinha de Portugal
A cozinha portuguesa é conhecida principalmente pelas receitas com bacalhau. Isso é a mais
absoluta verdade, já que não existe outro país, no mundo, nem sequer entre os produtores de
peixes salgados, que iguale o número e a variedade de receitas dedicadas a essa espécie de peixe.
Mas a culinária portuguesa vai muito além. É o resultado de uma intensa viagem de busca em
todo o mundo e ao longo da história. Percurso no qual foram reunidos produtos, aromas, ideias e
combinações que logo souberam aplicar, com imaginação e graciosidade, a uma gastronomia que
funde, de forma surpreendente sólida, suas raízes nas tradições culinárias da terra. Daí nasce uma
cozinha de ares familiares, que se nutre tanto do trabalho nos fogões mais humildes quanto das
fórmulas desenvolvidas no calor das cozinhas palacianas, adornadas de vez em quando, com deta-
lhes tão sugestivos como um “marisco em cataplana” ou o sempre tentador “porco com vôngoles”.
Os portugueses já nasceram com vocação marí- aqueles que dizem que existem mais de 365 ma-
tima e isso se reflete na quantidade de peixes e neiras diferentes de se preparar o bacalhau, uma
frutos consumidos no país. Dentre a infinidade para cada dia do ano. As sardinhas assadas na
de peixes, o bacalhau toma seu lugar de desta- brasa também são muito populares, assim como
que, considerado a identidade do país no quesito polvo e mariscos.
gastronômico, o prato nacional de Portugal; há A carne é amplamente usada na cozinha
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 97
de queijos de qualidade fica por conta da região e salsicha); o peixe fresco como em outras regi-
de Azeitão, com os deliciosos queijos à base de ões costeiras aparece, tripas de porco também
leite de ovelha, tudo artesanal. Os vinhos co- são consumidas em forma de um prato típico
nhecidos internacionalmente pela sua qualidade local. Na confeitaria, aparece o tradicionalíssi-
ficam por conta da região de Palmela. mo pudim de arroz e o pão de ló, acompanhados
Na Costa Prata, como não poderia ser di- por um dos melhores vinhos do porto.
ferente de uma região banhada pelo oceano, os Na magnífica Região das Planícies, em
pratos mais apreciados pela população local e época de outono, feiras com a gastronomia
por turistas são os peixes e frutos do mar. Suas local devem ser visitadas em Santarém, onde
especialidades são a lagosta suada, as aromáti- produtos vindos de todos os quatro cantos do
cas caldeiradas, angula ao escabeche, sardinhas país são comercializados. Nessa região, podemos
assadas e peixe fresco no peniche. degustar um prato exótico da cozinha portugue-
As carnes também fazem parte da dieta dos ha- sa, o porco com marisco. Outros pratos também
bitantes, tais como o leitão da barriada (cochillo aparecem, como os diferentes tipos de salsichas,
assado), ou o frango caipira (cozido na panela de lombo de porco e carnes de caça. Nos doces, a
barro). É uma região também muito famosa pela principal sobremesa fica por conta dos bolos mo-
produção de vinho de alta qualidade, prove- násticos feitos, é claro, com ovos. Dos produtos
niente das vinícolas bucaso ou bairrada. coloniais, o queijo de Serpa, acompanhado do
Na confeitaria, podemos encontrar os pão produzido no local, regado de vinho tinto
maravilhosos doces de ovos de Aveiro, de Cartaxo e Almeirim, Redondo, Reguengos
ou as cavacas de calda de rainha. são acompanhamentos excelentes.
Na famosa região da Costa
Verde, a alimentação
dos habitantes
locais não é
muito di-
ferente do “Ó mar salgado.
resto das Quanto do teu sal,
trada, um caldo
verde (sopa de repolho
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 99
nativos e visitantes. Na confeitaria, o bolo de pérgolas. Mais ao leste, temos as zonas vinícolas
caco e mel faz as honras, acompanhado de um mais antigas do país, cortadas pelo rio, onde se
delicioso vinho local, conhecido como vinho da iniciou e produz até hoje o vinho do porto, que
ilha. tem em suas características o fato de ser rico e
Não conseguiríamos falar de Portugal sem forte quando jovem, suave e sedoso quando en-
mencionar a belíssima ilha dos Açores, com suas velhece. Também podemos encontrar produções
paisagens deslumbrantes e natureza que sur- de vinhos brancos e tintos nessa região. Ao sul
preende. Sua cozinha é muito variada, e por ser do rio, na região de Dão, prepara-se o melhor
uma ilha, os peixes e frutos do mar são bastante vinho tinto de mesa do país, com características
consumidos, porém as carnes aparecem com fortes e marcantes, que são a combinação ideal
mais frequência em forma de cozidos. Aparecem para as comidas típicas bem temperadas.
nos pratos açorianos com mais frequência la- Próximo à capital Lisboa, existem zonas
gostas, percebes, cavaco, cracas etc. Os queijos rurais que produzem bons e conhecidos vinhos.
também são muito atraentes, principalmente os Na região de Bucelas, o vinho branco rico apare-
mais conhecidos, como o queijo da ilha do pico ce como uma boa escolha, já em Colares, devido
ou da ilha São Jorge. Para finalizar as delícias ao seu terreno arenoso, as vinhas crescem ma-
do Açores, há as pinhas da ilha de São Miguel tizando seus sabores.
e os vinhos de Pico e Verdelho. Na região sul, encontra-se Setubal, com
Portugal é conhecida como a terra dos vi- vinhos de características fortes e doces, e os
nhedos, pois os vinhos portugueses merecem da serra Arrábida, excelentes para acompanhar
uma atenção especial. Em todo o mundo, o frutos do mar. Nas Planícies, quase todos tintos,
vinho português encanta, pela sua ampla va- têm suas características suaves e aromáticas.
riedade e, mais do que isso, pela sua extrema Não podemos nos esquecer da região da ma-
qualidade, pois refletem a variedade de seus deira, em que os vinhos são influenciados pela
microclimas. Para entendermos melhor, vamos característica do solo vulcânico, proporcionando
falar das principais regiões vinícolas de Portugal. condições únicas para a elaboração de vinhos
A região noroeste é famosa pelo vinho com identidade forte e rico, com destaque para
verde, com característica refrescante, o qual o malvasia, doce, vermelho, escuro e perfumado,
podemos considerar um bom vinho de mesa, perfeito de aperitivo.
que acompanha bem peixes e mariscos. As Nas ilhas dos Açores, é muito comum a
vinhas são cultivadas no método tradicional, produção e o consumo da aguardente e, para o
conhecido como suspendidas, e apoiadas em aperitivo, o vinho Pico se concentra.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 101
Quando falamos de Europa Oriental, a Rússia de salmão de massa leve) e, para a confeitaria,
é o país que tem a gastronomia predominan- a Charlotte Russe (torta cremosa assada com
te nessa região, e seu território é tão grande biscoitos).
quanto a variedade de sua cozinha. Para que Falando dos pratos típicos, encontramos
possamos melhor entender a gastronomia da a Shci (sopa de repolho) e a Pokhloba (sopa de
Rússia, vamos dividi-la em culinária típica ca- batatas), sempre acompanhadas de um pão
seira e pratos que conseguiram renome inter- escuro, normalmente produzido com farinha de
nacional, os clássicos russos. centeio, ambas são muito consumidas devido ao
Medina (2006, p. 50) diz: frio rigoroso que afeta o país boa parte do ano.
Uma cozinha com história. As árduas Dentre as bebidas do dia a dia, estão a Vodka e
condições geográficas da Rússia e o es- a Kvass, (cerveja leve produzida à base de pão
forço dos seus habitantes em se mante- fermentado). O chá é normalmente servido em
rem unidos deram origem a uma cozinha
um recipiente próprio, chamado de samovar ou,
do povo, sólida e de ares invernais, que
só encontra uma alternativa mais firme até mesmo, em chaleiras.
na cozinha praticada no princípio do
século XX, na corte dos Romanov. Esta
última desenvolve uma gastronomia
com nomenclatura de tons míticos,
como o bife strogonoff, a galinha com
molho de noz picante (satsivi), o esturjão
à Rússia, a salada Olivier ou os morangos
romanov. Referências obrigatórias para
uma cozinha de recorte aristocrático, que
tem como destaque e reconhecimento
mundial o caviar. Iguaria em risco de ex-
tinção e cujo dedicado sabor é um delei-
te, permitindo inúmeras combinações e
sendo sempre sinal de sofisticação onde
estiver presente.
O que seria da gastronomia internacional sem o • Rogate: pão em forma de lua crescente.
famoso caviar russo (ovas de peixes retiradas do • Paczi: sonho frito (doce).
esturjão), sempre acompanhadas de blinis, torra-
das e um cálice de vodka para esquentar o corpo? Na Polônia, a sopa se destaca em seu cardápio
Na Polônia, as florestas são predominantes devido ao inverno rigoroso, composta geral-
em quase todo o seu território, fazendo com mente por carnes e cogumelos e sempre acom-
que as carnes de caça e frutas silvestres tenham panhada de pães.
maior destaque em sua gastronomia. As frutas A região da Hungria demonstra em sua
são utilizadas no preparo de sopas deliciosas. O gastronomia a marca das influências culturais
destaque polonês no cenário gastronômico vem sofridas durante um tempo, isso é nitidamente
de seus bolos de mel e gengibre, principalmente, refletido em sua alimentação. A realidade é que
e pelos biscoitos fritos. Dentre as bebidas mais todos os países balcânicos têm sua produção de
consumidas, a vodka, por influência russa, é a vinhos, e a Hungria tem seu lugar de destaque na
preferência nacional, na maioria das vezes, aro- elaboração de vinhos, tendo os mais conhecidos.
matizada de diversas formas, tais como: frutas Já no principal lago do país, o Balaton, a pesca
silvestres, folhas, casca de limão, anis e pimenta e o consumo da truta e de carpas são intensos.
do reino. Um banquete polonês apelidado de A confeitaria húngara é mais conhecida
polacos tem em sua composição a apresentação pelos outros países do mundo, pelo seu lugar
de nove iguarias, por exemplo: de destaque. Um exemplo é a rétes, uma sobre-
• Pierogi (um tipo de pastel feito de fari- mesa parecida com o strudel. Outra que aparece
nha de trigo, queijo, requeijão, batatas, bem no cenário internacional é a torta dobosh
cozido em leite e servido com um molho (basicamente um bolo em camadas com recheio
de manteiga ou com fatias de toucinho). de chocolate e cobertura de caramelo).
• Korowaj (pão grande): tem em sua com- Os pratos típicos da Hungria são:
posição farinha de trigo, com formato • Gulyás: ensopado à base de carne bovina,
redondo, geralmente é enfeitado de tran- aves, batatas, cebola, cenoura e páprica.
ças e marrequinhos da mesma massa. • Polkolt: um ensopado basicamente de
• Chleb razowy: semi-integral feito de fa- cebolas.
rinha de centeio e trigo sarraceno. • Tokány: ensopado rico em aspargos, er-
• Zacierki: tradicional nhoque de batata. vilhas e carnes.
• Strucel: um tipo de pão de farinha de • Bogrács Bulyas: uma sopa criada por va-
trigo trançado. queiros do interior.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 103
Cozinha Internacional
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 105
Gastronomia Africana:
a influência cultural
em outros povos
A cozinha da África
Em quase todas as culturas locais, a dieta é ba- As técnicas de cocção produzem diferentes signi-
seada em frutas disponíveis na região, grãos, ficados, mais ainda nos hábitos de comer e beber
vegetais, leite e carne, sendo que, em algumas do continente entre as regiões sul, central, norte,
tribos africanas, predomina o leite, coalha e soro leste e oeste.Na grande maioria, os vegetais mais
de leite na alimentação. Inesperadamente, em consumidos no continente africano vieram de
algumas regiões a criação de vaca é rara, como a outros continentes, como é o caso do milho,
região tropical; nessas regiões, o leite de ovelha do feijão, da mandioca, e todos são originários
e de cabras são mais utilizados. das Américas, trazidos pelos europeus por volta
Os colonizadores portugueses chegaram do século XVI. Outro fato interessante é que a
na África efetiva no século XV, apresentando a maior parte dos vegetais verdes cultivados em
fritura como cocção e a maioria dos vegetais solo africano são resistentes à seca e ao calor
consumidos até hoje, que são originários das rigoroso.
Américas. Em praticamente todos os quatro cantos
Na composição de vários pratos são utiliza- do continente africano vamos encontrar o
dos vegetais locais, sendo eles fonte de vitami- maffé, um prato típico da região de Mali que
nas e proteínas dos habitantes. Em sua maioria, ficou muito famoso por ter na sua composição
os legumes e vegetais são originários de outro legumes, carne, verduras, amendoim moído.
continente, trazidos pelos colonizadores e explo- Esse prato é considerado uma refeição pesada,
radores, sendo os principais: milho, mandioca, porém eles consomem porções menores.
inhame, abóbora e feijão. Em algumas regiões, Na região do Senegal, vem outro clássico
também utilizam-se verduras de folhas verdes, da cozinha africana, o tradicional thieboudien-
e legumes com o com caule jovem. Esses são ne. Esse é o prato do dia de todos os sene-
colhidos, higienizados e preparados usando o galeses, nos restarantes, do mais simples ao
vapor para cocção, ou fervidos com temperos mais refinado, esse é um prato obrigatório
e especiarias. do cardápio.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 107
do Oriente médio, em especial, das regiões do importante para os africanos é o feijão, existe
Quénia, África do Sul, Tanzânia e Madagascar, um enorme número de variedades na região. É
os pratos mais tradicionais são elaborados à base natural que as famílias que vivem junto à costa
de molhos, ervas e especiarias, provenientes da tenham maior quantidade de proteínas prove-
Índia, China e região Árabe. Um dos pratos que nientes do oceano, já os agricultores e suas famí-
retratam bem essas influências é o sambusa, lias se alimentam do que vem da terra, mesmo
um triângulo de massa frita acompanhado de com algumas criações de animais; a carne, na
carne moída e aromatizada. maioria das vezes, é consumida no domingo ou
Na Etiópia, uma das regiões mais pobres do em celebrações especiais.
continente africano, há uma preparação muito Não podíamos falar da África sem citar a co-
consumida pelos habitantes locais chamada zinha da Angola, aqui, como nas outras regiões
enjerá, um tipo de crepe ou massa de pizza, do planeta, os produtos locais e trazidos pelos
com uma cor grafite e característica esponjosa, explorados determinaram sua culinária local.
seu sabor é ácido e sua composição é à base de Ainda hoje podemos encontrar cereais cultiva-
um cereal exclusivo nessa região, chamado tef, dos há muitos anos, tais como sorgo, milho e
que, depois de colhido, é moído em ponto de pânico, os legumes, como o feijão frade e as len-
farinha para ser utilizado. Outra preparação que tilhas, além dos tubérculos, como inhame e ve-
acompanha esse prato é o wet, sua base pode getais, quiabo. Uma fruta tipicamente africana
variar: frango, carneiro ou vaca; é adicionado um que encontramos em muitos países é a melancia,
molho picante composto por pimentão picante, cuja alta concentração de água é bem-vinda.
ervas e especiarias; verduras, tomates, favas e O uso da polpa e de sementes do tamarindo
batatas também fazem parte. A composição do aparece em muitas regiões, devido à alta con-
wet mais apreciada é o de carneiro. centração de árvores do fruto em todo território
Na região costeira, também encontramos nacional, o fruto é chamado de pão macaco,
o caril, um típico guisado de vegetais, às vezes, muito utilizado em receitas típicas e para pre-
é incorporada uma quantia pequena de carne parações de bebidas variadas, assim como suas
seca ou peixe, porém os vegetais são utilizados folhas, que são utilizadas em sopas e cozidos.
na maioria das vezes unicamente. O amendoim, Não podemos dizer que o continente africa-
não só na região costeira, é largamente utilizado no ficou isolado do resto do mundo. Os asiáticos,
em forma de farinha, pois é pilado, sua utiliza- principalmente os árabes mercadores, foram
ção é em forma de base de muitos pratos, como quem introduziram no continente africano as
é o caso do caril. Outra fonte de proteína muito famosas bananas variadas e seu uso, o arroz
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 109
asiático, que apareceu para substituir o arroz Quando falamos de técnicas africanas de preparo
vermelho africano, as frutas manga e fruta pão, nos alimentos, nunca podíamos imaginar que o
a cana-de-açúcar que se adaptou bem ao clima papilote fosse uma técnica vinda desse continente
africano, sem nos esquecermos do gengibre e da e difundida por todo o mundo, pois consiste em
cheirosa pimenta preta. Mais tarde, ocorreu o assar peixes e legumes, envolto em folhas de ba-
contato com os europeus, principalmente pelos naneiras, seu objetivo é cozinhar o alimento sem
portugueses exploradores, contribuindo com a deixá-lo ressecar com o calor do fogo de braseiros
introdução dos alimentos trazidos dos conti- e fornos à lenha. Além das ervas e especiarias
nentes americanos, como mandioca, tomate, trazidas do oriente e das Américas, o uso de alho,
milho, feijão, amendoim, malagueta e batata. manjericão, açafrão e cúrcuma também acontece.
O famoso grão do paraíso, conhecido como Algumas carnes exóticas também aparecem
pimenta Guiné, uma pimenta oriunda da África nas refeições típicas de determinadas regiões
ocidental, que, anos atrás, fez fortuna na região, africanas. É o caso do uso de serpentes, hipo-
foi perdendo espaço para novas especiarias e pótamos e macacos. Já as bebidas favoritas e
hoje é raro na cozinha africana, trocada pela muito consumidas na África são cerveja à base
pimenta preta do oriente e pelas famosas ma- de sorgo, suco de frutas, vinho de palma, café
laguetas vindas das Américas; na região da turco e a famosa infusão de uma planta local
Angola, ficou conhecida como gindugo. chamada de kinkeliba. Alguns vinhos feitos na
África do Sul vêm despertando apreciadores e
ganhando expressão no mundo todo, porém são
exclusivamente para a exportação.
Podemos observar que, ao norte do con-
tinente africano, algumas regiões têm em sua
identidade características da cozinha Árabe, tais
como Marrocos, Argélia e Tunísia. A principal
refeição nessas regiões é baseada no cuscuz, pro-
duzido com a sêmola do trigo duro, acompanha-
do de carnes, legumes, peixes e frutos do mar.
As carnes de coelhos e pombos também
são apreciadas, além do carneiro, frango e boi.
Os famosos tagines são preparos típicos
dessa região especificamente, nos utensílios de
Cozinha Internacional
Como acontece em outras culturas, em Marrocos também existem pratos que tomam o nome do
recipiente que são preparados. Na realidade, chama-se tayin a todos os pratos confeccionados
num recipiente especial, concebido para cozinhar todos os ingredientes ao mesmo tempo
considerações finais
Querido(a) aluno(a), nesta nossa última unidade, vimos o continente Europeu e
as particularidades históricas, econômicas e alimentares de Portugal, Alemanha
e Espanha, todas cozinhas que colonizaram alguns continentes com suas
características presentes em muitos países fora da Europa. Seguimos para
a Europa oriental, sem muita tradição no cenário internacional, porém com
identidade expressiva em seus produtos, como o caviar de esturjão, cultivado
nas águas geladas da Rússia. Assim, viajamos juntos para a Rússia e região,
conhecendo um pouco de suas origens e formas de consumo dos alimentos,
em que, em sua grande maioria, se destaca a cozinha caseira modesta e com
produtos locais.
No continente africano, destacaram-se as características de sua alimen-
tação, forma de preparo dos alimentos e ingredientes que foram introduzidos
pelos exploradores que por lá passaram, mostrando a importância dos co-
lonizadores nos hábitos alimentares do povo que por ali vive. Observamos,
também, as diferentes formas de consumos e cultivo dos alimentos de uma
região para outra, da mais simples das refeições até as mais temperadas, com
ervas e especiarias. Vimos a diferença de uma região para a outra no que diz
respeito ao consumo de carnes, em que algumas regiões menos desprovidas
de carne animal têm sua alimentação restrita a momentos festivos, porém,
em outras regiões, identificamos um consumo alto de carne animal nas
refeições diárias.
Também, falamos dos utensílios típicos utilizados no preparo dos ali-
mentos, nas diferentes partes do continente africano, a influência da religião
nos hábitos alimentares do povo, assim como o fator socioeconômico de cada
canto da África.
Terminamos entendendo que a África tem suas particularidades, quando
falamos de alimentação, e que não se restringe a safáris e pratos simples em
sua gastronomia rica e de raiz.
Cozinha Internacional
atividades de estudo
leitura complementar
A Alimentação na África ocidental:
História da Alimentação no Brasil
Não tinham a mandioca, o milho americano, o pela Voandzeia que tentou aclimar-se, esque-
amendoim, midubim, que seriam cem anos mais cida pelos próprios patrícios que o amendoim
tarde fundamentos tão comuns que pareceriam seduzira, definitivamente. O conde de Ficalho
autocrones. Receberam a troco do inhame, ca- admirava-se da rapidez surpreendente com que
na-de-açúcar, bananeira, azeite de dendê, en- o amendoim brasileiro divulga-se no continente
viados. Mastigavam a cana-de-açúcar como os e ilhas africanas, suplantando a variedade local.
indígenas amerabas, sugando o sumo. Pouco A caça era oficio, divertimento, orgulho,
sal e produzido, em maior percentagem, pela dignidade. Congo quer dizer “caçador”. Elefante,
decoada de cinzas de palmeiras. Ainda no tempo búfalos, a interminável série de gazelas e
de Stanley no Congo preferiam uma pedra de antílopes, o nédio hipopótamo, o gordo croco-
sal a um torrão de açúcar. A carne usual era dilo, eram peças dignas de menção e consumo.
a dos animais caçados e não pastoreados nos Sempre assadas. Também as cabras, carneiro
campos ou guardados nos currais. Carne de caça sem lã (Ovislongipes), lebres (Lepus), ausên-
não a do gado, existente desde o Senegal, mas cia de coelhos (Oryctolagus), porcos monteses
defendido pela assombrosa custódia dos tabus. para aqueles que não eram fiéis ao Deus cle-
Fabricavam a manteiga para untar-se com ela. mente e misericordioso dos maometanos, caça
Vinho de palma, fresco quando bebido logo e miúda dos campos, roedores, lagartas túmidas
entontecer vinte e quatro horas depois, vinho de creme. E cães, pouco afeitos a nobreza ci-
de mel, vinho de milho, zamburro, o sorghum, negéticas e mais destinados às refeições; cães
milho da guiné, milho da Índia, com sinonímia muytis e gordos e os comê, registrou Valentim
inacabável, variando e consumido em todas as Fernandes, pagos a sete pesos de ouros e som
variedades. Popularíssima a mancarra da Guiné, pequenos. Imagine-se da excelência do pitéu,
ginguba em Angola, quubaci do Congo, segundo para os mandingas e capiis ou capeos de então.
Marcgrave, Voandzeia subterrânea, Thouars, Ainda hoje os bobos, majacos, papéis, são co-
pistácio de Madagáscar, mancarra-bjagó, pois medores cães. Os beafadas sepultam-nos com
bambara, mais rico em amido do que em óleo, o falecido dono, como os Wittos do Amazonas.
o inverso do amendoim brasileiro (Arachis hu- Comem-nos em Angola também.
pogaea L.), irmão e concorrente que a derrotaria
na África para onde foi e no Brasil, visitando Fonte Cascudo (2011, 166-167).
Cozinha Internacional
material complementar
Conclusão
Caríssimo(a) aluno(a), chegamos ao final de e criando ferramentas para grandes oportuni-
mais uma etapa! dades em busca da inovação.
Juntamente com essa unidade, finalizamos Independente do caminho escolhido para se
a disciplina de Cozinha Internacional. Espero aperfeiçoar ou seguir no universo da gastrono-
que você tenha aprendido um pouco mais com mia, temos que ter o conhecimento de formas
esse material e que tenha contribuído para sua e preferências alimentares de várias partes do
formação profissional. mundo, para que possamos identificar mais fa-
Não podemos nos esquecer de como a cilmente as diferentes culturas alimentares e,
gastronomia internacional vem evoluindo e se assim, tomarmos decisões corretas no momento
aperfeiçoando a cada dia, por isso, queremos de criar cardápios ou executar pratos típicos.
formar profissionais altamente qualificados e Nosso intuito é estar sempre ampliando
pensantes, estimulando vocês a criarem pratos seu universo do conhecimento, mostrando-lhe
utilizando técnicas e ingredientes de diferentes o caminho para ir mais além na busca de novas
partes do mundo, dando alternativas ao con- formas de aprendizado na área da gastronomia.
sumidor. Neste livro, podemos compreender Nunca se esqueça de que o conhecimento nunca
como as culturas dos continentes mencionados é suficiente e o aperfeiçoamento é indispensável
nos apresentam uma grande oferta de riquezas para profissionais que almejam o sucesso no
gastronômicas, facilitando nosso entendimento setor. Espero encontrá-lo(a) em breve!
Cozinha Internacional
referências
gabarito
UNIDADE I
1. Argentina, Chile e Peru.
2. Feijão, frutas tropicais, milho e coentro.
3. Stir-fry oriental, seguido pelo vapor, assado e grelhado.
UNIDADE II
1. Resposta correta (d).
2. Defumação.
3. Os estilos de Pequim, Xangai, Sichuan e Catão.
UNIDADE III
1. Papilote: consiste em assar peixes e legumes, envolto em folhas de bananeiras, seu objetivo é
cozinhar o alimento sem deixá-lo ressecar com o calor do fogo de braseiros e fornos à lenha.
Guisado: uma preparação cuja carne é picada, refogada e cozida com legumes verduras e
condimentos.
Espeto assado: carnes assadas em espetos, os kebabs; são utilizados animais inteiros ou em
pedaços, temperados com muitos condimentos.
2. Cuscuz, produzido com a sêmola do trigo duro.