Você está na página 1de 110

Confeitaria Clássica

e Brasileira
Carolina Carmona Dias
Missão
“Promover a educação de qualidade nas
diferentes áreas do conhecimento, forman-
do profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária”

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva
Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-
Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Educação a Distância; DIAS, Carolina Carmona
Confeitaria Clássica e Brasileira. Carolina Carmona Dias
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpressão, 2021. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
110 p. Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento
“Graduação em Gastronomia - EaD”. de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff,
1. Gastronomia. 2. Confeitaria. 3. Brasileira EaD. I. Título. Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos Próprios James
Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de
CDD - 22ª Ed. 641 Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdo
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Rodolfo Pinelli, Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo,
Impresso por: Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida
Toledo, Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda,
Coordenador de Conteúdo Alexandre Gimenes da Cruz, Projeto
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Gráfico e Editoração Jaime de Marchi Junior e José Jhonny Coelho,
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050- Designer Educacional Yasminn Talyta Tavares Zagonel, Revisão
900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Textual Gabriel Bruno Martins e Pedro Afonso Barth, Ilustração Bruno
Pardinho e Marta Sayuri Kakitani, Fotos Shutterstock.
3

palavra do reitor
Reitor
Wilson de Matos Silva

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um as demandas institucionais e sociais; a realização de


grande desafio para todos os cidadãos. A busca por uma prática acadêmica que contribua para o desen-
tecnologia, informação, conhecimento de qualida- volvimento da consciência social e política e, por fim,
de, novas habilidades para liderança e solução de a democratização do conhecimento acadêmico com a
problemas com eficiência tornou-se uma questão de articulação e a integração com a sociedade.
sobrevivência no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar
Cada um de nós tem uma grande responsabilida- almeja ser reconhecida como uma instituição uni-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos versitária de referência regional e nacional pela qua-
fará grande diferença no futuro. lidade e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar competências institucionais para o desenvolvimento
assume o compromisso de democratizar o conheci- de linhas de pesquisa; consolidação da extensão uni-
mento por meio de alta tecnologia e contribuir para versitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial
o futuro dos brasileiros. e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade
No cumprimento de sua missão – “promover a interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis-
educação de qualidade nas diferentes áreas do conhe- trativa; compromisso social de inclusão; processos
cimento, formando profissionais cidadãos que con- de cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
tribuam para o desenvolvimento de uma sociedade como também pelo compromisso e relacionamento
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar permanente com os egressos, incentivando a educa-
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com ção continuada.
boas-vindas

Pró-Reitor de EaD
Willian V. K. de Matos Silva

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade A apropriação dessa nova forma de conhecer


do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores
Essa é a característica principal pela qual a de agregação de valor, de superação das desigualdades,
UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, Logo, como agente social, convido você a saber
é importante destacar aqui que não estamos falando cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar
mais daquele conhecimento estático, repetitivo, a tecnologia que temos e que está disponível.
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
renovável em minutos, atemporal, global, demo- modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as
cratizado, transformado pelas tecnologias digitais tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipa-
e virtuais. mentos e aplicações estão mudando a nossa cultura
De fato, as tecnologias de informação e comuni- e transformando a todos nós.
cação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Priorizar o conhecimento hoje, por meio da
lugares, informações, da educação por meio da conec- Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o
tividade via internet, do acesso wireless em diferentes contato com ambientes cativantes, ricos em infor-
lugares e da mobilidade dos celulares. mações e interatividade. É um processo desafiador,
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets acelera- que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
ram a informação e a produção do conhecimento, que oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem
não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD
em segundos. da Unicesumar se propõe a fazer.
5

boas-vindas
Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino
Kátia Solange Coelho Fabrício Lazilha

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está conceitos teóricos em situação de realidade, de ma-
iniciando um processo de transformação, pois quando neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou pro- estes materiais têm como principal objetivo “provocar
fissional, nos transformamos e, consequentemente, uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
transformamos também a sociedade na qual estamos forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
inseridos. De que forma o fazemos? Criando opor- em busca dos conhecimentos necessários para a sua
tunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de formação pessoal e profissional.
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. mento e construção do conhecimento deve ser apenas
O Centro Universitário Cesumar mediante o geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou
durante todo este processo, pois conforme Freire seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual
(1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, as-
mação do mundo”. sista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além
Os materiais produzidos oferecem linguagem disso, lembre-se que existe uma equipe de professores
dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- e tutores que se encontra disponível para sanar suas
dagógica, contribuindo no processo educacional, dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
complementando sua formação profissional, desen- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e
volvendo competências e habilidades, e aplicando segurança sua trajetória acadêmica.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Apresentação do Livro

Professora Especialista
Carolina Carmona Dias

Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Confeitaria Clássica e Brasileira, do curso de


Gastronomia.
Sou a professora Carolina Carmona Dias e estarei com vocês para estudarmos e compreender-
mos a confeitaria clássica e brasileira.
Em 2011, formei-me em Gastronomia pelo Unicesumar (Centro Universitário Cesumar). No
ano de 2013, concluí a Especialização em Gestão de Unidades de Alimentação com Ênfase em
Gastronomia pela UNIFIL (Centro Universitário Filadélfia). Possuo cursos de aperfeiçoamento na
área de panificação e confeitaria pela escola Lenôtre, além de outros cursos que contribuíram para
a minha formação.
Atualmente, exerço a função de docente de Gastronomia no SENAC (Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial) da cidade de Londrina (PR), e também na instituição UNIFIL.
Sou uma entusiasta da cozinha. Desde criança estava entre as panelas e fiz disso minha profissão.
Dentre todas as vertentes da gastronomia, a que mais me identifico, sem dúvida nenhuma, é a
confeitaria. Para mim, é uma área que explora muito a criatividade e a sensibilidade do profissional.
Neste livro, iremos explorar o maravilhoso mundo da confeitaria. Estudaremos os fatores
históricos, desde o seu início – você verá, por exemplo, que o mel foi o primeiro adoçante da hu-
manidade – até a descoberta do açúcar, o seu uso e todas as mudanças ocasionadas na confeitaria
devido a isso. Analisaremos, também, toda a influência que a França teve na confeitaria para,
posteriormente, adentrarmos no estudo da confeitaria contemporânea e todas as suas influências.
Após os aspectos históricos, observaremos as técnicas e bases clássicas aplicadas à confeitaria,
bem como os principais utensílios e ingredientes.
Finalizaremos nosso material de estudo focando na história da confeitaria brasileira e sua
formação e os tradicionais doces. Conheceremos um pouco mais a respeito da nossa confeitaria,
nossa riqueza de ingredientes, assim como seus métodos de utilização e meios para a valorizarmos.
Vamos iniciar nossos estudos e aprofundar nessa vertente tão fantástica da gastronomia –
que é a confeitaria –. Acompanhe nas próximas páginas os conteúdos para você aprimorar seus
conhecimentos e se apaixonar por esse fantástico mundo doce.
Bons estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE 1

Histórico da Confeitaria
13 Início da Confeitaria

19 França: O Berço da
Confeitaria Clássica

23 Confeitaria Contemporânea

UNIDADE 2

Técnicas da Confeitaria
37 Principais Utensílios e Ingredientes

51 Técnicas Profissionais e
Preparos Básicos

63 Grandes Clássicos da Confeitaria

UNIDADE 3

Confeitaria Brasileira
83 Formação da Confeitaria Brasileira

89 Doces Tradicionais

97 A Valorização da
Confeitaria Brasileira
Legendas de
Ícones

dica do chef habilidades mão na massa saiba mais

fatos e dados minicaso reflita recapitulando

Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar
sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade
prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos.
Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de
determinado conteúdo. . Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando principais conceitos.
Saiba mais: informações adicionais ao conteúdo.
Histórico da Confeitaria
CAROLINA CARMONA DIAS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Início da confeitaria
• França: o berço da confeitaria clássica
• Confeitaria contemporânea

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender a história e formação da confeitaria.
• Entender a formação da confeitaria francesa e identificar suas influên-
cias para a confeitaria clássica.
• Conhecer as influências e técnicas contemporâneas aplicadas à
confeitaria.
11

Introdução
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, será realizada uma abordagem histórica com o objetivo de
compreender a formação da confeitaria e sua evolução.
Os doces nem sempre foram da maneira que conhecemos hoje. Produzidos por egípcios,
por volta de 3.000 a.C., os primeiros preparos da confeitaria consistiam em bolos rudimentares
adoçados com frutas secas e mel. O mel, considerado o alimento dos deuses, era o único adoçante
conhecido até então.
Com a descoberta do açúcar e sua chegada à Europa, as preparações passam a ser mais elabora-
das. Um grande marco para a confeitaria foi quando Catherine de Médici, uma aristocrata italiana,
casou-se com o futuro rei da França, Henrique II. A nobre levou à corte alguns de seus cozinheiros
e confeiteiros italianos, os quais contribuíram para a sofisticação da confeitaria francesa.
A partir do século XVII, são redigidos os primeiros livros direcionados aos confeiteiros,
como o “Le Pâtissier François” e “Le Confiturier François”, ambos escritos por La Varrene, um
grande cozinheiro da sua época. Após a Revolução Francesa, notou-se um aumento no número de
confeitarias instaladas em Paris. Nesse mesmo século, viveu um grande chef chamado Antonin
Carême, considerado o “rei dos cozinheiros”. Carême foi inovador ao criar sobremesas como
o merengue e a bavaroise, ao desenvolver técnicas empregadas até a atualidade e ao refazer a
massa folhada – que deu origem aos vol au vents e à famosa mil folhas.
No início do século XX, os confeiteiros franceses já eram reconhecidos por sua maestria. A
confeitaria clássica tem a França como modelo desde técnicas a nomenclaturas.
Após tecer o panorama histórico acima, será realizado um estudo sobre a confeitaria contempo-
rânea, cujo destaque recai sobre preparações leves, delicadas e executadas com técnicas avançadas da
cozinha de vanguarda. Sendo assim, a unidade será concluída apontando a sinergia entre gastrono-
mia e ciência, que vem sendo aplicada tanto em pratos quentes e, principalmente, em sobremesas.
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 13

Início da
Confeitaria

Caro(a) aluno(a), a história da confeitaria inicia-se de forma bas-


tante rudimentar. Os primeiros registros de massas doces são
bolos rústicos produzidos por gregos e egípcios por volta de 3.000
a.C. Com características bastante diferentes dos bolos consumidos
hoje, eram preparos mais pesados com textura próxima ao pão,
enriquecidos com sementes e frutas secas. Eram consumidos em
rituais religiosos, passagem de ano, aniversários e casamentos.
Segundo Suas (2012, p. 8), “um bolo típico poderia ser um pão
adocicado, passado no mel e coberto com sementes”.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Adoçantes
O mel foi o único adoçante conhecido e utilizado A cana de açúcar, originária da Nova Guiné,
por séculos. Ele esteve presente em diversos demorou séculos para ser difundida e refinada.
períodos da História. Considerado o “alimento A Índia foi um dos primeiros países a utilizar o
dos deuses”, simbolizava o prazer e a satisfação. açúcar em sua forma não refinada. Para McGee
De acordo com Ribeiro (2006, p. 19), (2011), pouco antes de 500 a.C., os indianos já

os romanos além de utilizarem o mel, desenvolviam a técnica do açúcar não refinado


como os egípcios, para darem cor e oriundo do suco da cana fervido e reduzido a
adoçar seus bolos, o utilizavam como uma massa escura.
conservante de muito de seus produtos,
Somente com as Cruzadas, no final do século X,
como carne e frutas. Normalmente, seus
bolos e doces costumavam ser tâmaras é que o açúcar da cana chega ao Ocidente por
recheadas e cozidas em mel; misturas meio dos árabes. Reconhecido como uma espe-
de nozes, mel e demais ingredientes,
ciaria, o açúcar possuía um alto valor – por ser
servidas com avelãs cortadas e assadas;
além de uma espécie de creme de ovos um produto raro e acessível somente ao clero
também preparado com mel. e à nobreza –. Além de ser considerado uma
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 15

iguaria, o açúcar também era comercializado qualidade semelhante –. No entanto, apenas


por boticários, uma vez que acreditavam em seu em 1812, que é criada a primeira usina de ex-
poder medicinal para o tratamento de epilepsia, tração desse açúcar. Hoje, a maioria do açúcar da
dores de cabeça e melancolia. Europa é proveniente da beterraba açucareira,
A partir do século XV é que se observa a sendo o norte da França o maior produtor.
difusão no uso do açúcar principalmente na Com a descoberta do açúcar, seja o de cana
Itália e em Portugal, países em que seu uso era ou de beterraba, a confeitaria passa a ser mais
predominante. Nesse mesmo século, surgem as elaborada. Para Suas (2011, p.12),
refinarias na Europa, instalando-se em Veneza, no século XVI graças à crescente oferta de
na Sicília e Valência. Com o crescente consumo, açúcar, o que trouxe um aprimoramento
os portugueses levaram especialistas na planta- às receitas com claras de ovos e natas
batidas. A partir dessas bases, surgiram
ção e no refino do açúcar da Sicília para a Ilha
as madalenas e os biscoitos de amêndoas,
da Madeira, que em poucos anos tornou-se o embora possivelmente não fossem tão
maior fornecedor do produto na Europa. refinados quanto aqueles apreciados hoje.
No início do século XVI, o açúcar passa a
ser uma das especiarias mais importantes do
Ocidente e, com a descoberta da América, foi
um dos primeiros produtos a ser exportado.
A descoberta do Brasil fez com que a produ-
ção aumentasse ainda mais. Para Flandrin e
Montanari (2009, p. 613), “tendo descoberto o
Brasil, em 1500, os portugueses multiplicaram,
a partir de 1530, a plantação de cana-de açúcar
nesse território; praticamente a totalidade da
produção era enviada para a Europa”.
Quase toda a produção de açúcar da Europa
era proveniente do Brasil ou das Ilhas do Caribe.
Uma alternativa para os europeus surge em
1747: o químico Andreas Marggraf descobre
a extração do açúcar da beterraba branca ou
beterraba açucareira, produto comum na Europa
– além de ser uma opção mais barata e com
Confeitaria Clássica e Brasileira

As primeiras confeitarias
A doçaria medieval se desenvolveu nos con-
ventos, principalmente em Portugal. A clara
de ovo era utilizada para clarificar o vinho ou
ainda para engomar os hábitos. Já as gemas
eram aproveitadas pelas freiras para o preparo
de doces que, desde a Idade Média, já levavam
muito açúcar na sua composição, além de várias
especiarias (FREIXA; CHAVES, 2008).
Algumas receitas desenvolvidas nessa
época são utilizadas até a atualidade, como: o
toucinho do céu, um bolo que utiliza a banha
de porco e amêndoas como alguns dos ingre-
dientes; fios de ovos, pão-de-ló, entre outros
preparos que são comuns em nosso dia a dia.
A farinha de amêndoas foi incorporada e, por
isso, novas tortas e biscoitos foram criados.
A Idade Média foi marcada por muitas
descobertas na confeitaria. É claro que a
maioria dos preparos sofreram modifica-
ções com o tempo. A evolução da confeitaria
acontece principalmente no século XVIII,
com a adição de novos ingredientes – entre
eles o cacau e o chocolate que chegaram à
Europa também por meio da descoberta da
América. Nesse mesmo século, já era possível
encontrar algumas confeitarias destinadas a
um público mais nobre. Mas foi apenas no
final do século que esses estabelecimentos
foram popularizados.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 17

A ideia de confeitaria existia desde as


primeiras civilizações. As verdadeiras
primeiras pâtisseries eram originalmente
salgadas; resultavam do pão cotidiano en-
riquecido de temperos, frutos secos e, mais
adiante, de ovos. A confeitaria teve sempre
uma conotação de oferenda (primeiramen-
te aos Deuses e em seguida às mulheres,
condecorando etapas importantes de suas
vidas) e se tornou doce posteriormente,
pela adição do mel. A manteiga e o açúcar
foram tardiamente adicionados à massa e
permitiram um grande desenvolvimento
da confeitaria.

Fonte: Sender e Derrien (2003 apud CORÓ,


2011, p. 204).
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 19

França:
O Berço da
Confeitaria Clássica

A França tem grande influência na gastronomia – e com a confeita-


ria não poderia ser diferente –. Várias técnicas e termos utilizados
são de origem francesa. A palavra pâtisserie, termo francês que se
refere à confeitaria, já se disseminou. Alguns exemplos de preparos
clássicos que se difundiram são o crème pâtissier (creme de confeitei-
ro), crème chantilly, mousses e éclairs (a nossa tradicional “bomba”).
Confeitaria Clássica e Brasileira

O início dessa influência se deu em 1533, No final da refeição, eram servidas as so-
bremesas feitas com açúcar, até então des-
com o casamento da aristocrata Catherine
conhecidas pelos franceses, que usavam
de Médici com o rei da França, Henrique mel. Assim, da confeitaria do palácio real
II. A jovem italiana levou para a França, saíam receitas como macarons, zabaiones,
além de seu requinte, seus cozinheiros e biscoito de amêndoas, frutas em calda ou
cristalizadas e até sorvetes consumidos
confeiteiros – entre eles Poppelini, famoso
como sobremesa no final da refeição.
por criar a pâte à choux, um clássico da con-
feitaria que utilizamos para a confecção de Em decorrência de várias manifestações culturais
bombas, carolinas, paris-brest e vários pre- no período Renascentista, aumentou-se o interesse
paros tradicionais. das elites sociais acerca da confeitaria. Os primeiros
Os franceses, ao contrário dos italianos e livros direcionados à confeitaria são publicados
portugueses, levaram um tempo maior para no século XVII. A título de exemplificação, pode-
substituir o mel pelo açúcar; apenas os nobres -se citar “Le Pâtissier françois” e “Le Confiturier
o utilizavam em pequenas quantidades. Para François”, ambos escritos por Fraçois Pierre de
Freixa e Chaves (2008, p. 82), la Varrene, um dos grandes chefs de sua época.

O famoso Crème Chantilly foi criado, em


1714, por um suíço chamado Fritz Karl Vatel,
durante sua estada na França – primeiro
como chef do castelo de Vaux-le-Vicomte,
pertencente ao intendente real Nicolas
Fouquet, e depois no Castelo de Chantilly,
pertencente ao marechal de Conde –.
Apesar de ter sido servido pela primeira
vez no castelo de Vaux-le-Vicomte, acabou
tomando o nome do castelo de Chantilly.

Fonte: Galvão (2014, on-line)¹.


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 21

O século XVIII é marcado pelo nascimento do


francês Marie Antoine Carême, considerado o
“rei dos cozinheiros”. Carême foi sublime em sua
vida profissional e sem dúvida foi um dos chefs
O vol-au-vent, invenção de Carême, tor-
que mais contribuiu para a confeitaria – sendo
nou-se um clássico da cozinha francesa.
intitulado de “pai da confeitaria”. Ele detinha co- Trata-se de uma massa folhada em forma-
nhecimento de arquitetura e desenho e aplicava to cilíndrico [...]. Feita de farinha de trigo,
esses aprendizados à gastronomia. Atribuem-se água, sal e manteiga, a massa é uma das
mais difíceis de se realizar na confeitaria
a ele várias invenções da confeitaria, como os
e também uma das mais leves. Conta-se
merengues, a reinvenção da famosa massa folhada que Carême, ao conseguir a leveza sem
e montagem de esculturas suntuosas em açúcar. igual da receita medieval, exclamou ‘elle
volle, elle volle’ (‘ela voa, ela voa’). Daí
Dois de seus livros sobre confeitaria, “Le Pâtissier
a expressão vol-au-vent, isto é, ‘voa ao
Royal” e “Le Pâtissier Pitoresque”, orientavam vento.
sobre a importância da estética para os doces.
Fonte: Freixa e Chaves (2008, p. 132).
Após a Revolução Francesa (1789-1799), houve
um crescimento no número de confeitarias ins-
taladas em Paris. Todavia, é somente no final
do século XIX que a França atinge seu apogeu
nesse segmento. Nesse período, inaugurou-se a O célebre chefe confeiteiro, fundador da escola
“Fauchon de Paris”, considerada a melhor confei- Lenôtre, revolucionou a confeitaria francesa,
taria do mundo, e também as primeiras escolas tornando-a mais leve, utilizando ingredientes
de gastronomia, Le Cordon Bleu e Ritz Escoffier. sazonais. Uma de suas grandes criações é a
No início do século XX, a confeitaria fran- famosa torta Ópera (torta em camadas, a base
cesa já era conhecida por sua maestria. Um dos de creme de café e chocolate).
representantes dessa fase é Gastón Lenôtre. Freixa e Chaves (2008) mencionam que
Para Curley e Curley (2015, p. 13), Lenôtre a famosa pâtisserie francesa se tornou a base
era conhecido pelos franceses como o técnica para a confeitaria mundial.
“Cavalheiro Pâtissier” e foi o chef confei- Sendo assim, fica claro que a confei-
teiro mais celebrado depois de Marie-
taria clássica nasceu na França e o país
Antoine Carême. Muitos acreditam que
Lenôtre foi responsável por renovar o tornou-se referência na área, influenciando
mundo da pâtisserie na década de 1960. em vários aspectos.
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 23

Confeitaria
Contemporânea

O século XX foi marcado por avanços tecnológicos, beneficiando


inúmeros campos, inclusive a confeitaria. Muitos utensílios e
equipamentos surgem nesse século. Os refrigeradores e fogões a
gás dão início a essa revolução tecnológica na cozinha. Métodos
de conservação dos alimentos são descobertos e aperfeiçoam o
processo de preparo e distribuição de alimentos. A partir da década
de 1950, outras tecnologias são inventadas, como as batedeiras,
as câmaras frias e os fornos elétricos.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Equipamentos cada vez mais sofisticados a gastronomia molecular, uma nova vertente da
foram introduzidos nas confeitarias, otimizan- gastronomia pautada nas investigações referentes
do tempo, qualidade e também segurança nos às reações e transformações nos alimentos. Todos
preparos elaborados. esses estudos influenciam a confeitaria e propor-
A exemplo disso, temos o ultracongelador cionam informações necessárias para obter um
utilizado para resfriamento e congelamento maior conhecimento de sua aplicação nos preparos,
imediato; esse equipamento possui tecnologia sendo possível, por exemplo, modificar texturas,
para não alterar as características organolépticas dar leveza e melhorar o sabor das preparações.
das preparações, mantendo sua textura e sabor. A inovação faz parte da confeitaria contem-
Outros equipamentos de tecnologia avan- porânea, desde técnicas aprimoradas até as com-
çada que otimizam o processo na confeitaria binações de ingredientes inusitados, aliadas ao
são as batedeiras e fornos industriais, câmaras paladar com a sofisticação. Um exemplo dessa
climáticas, processadores de alimentos e mixer. tendência é o estilo de confeitaria produzida hoje
no Japão. “Na década de 1980, houve uma enorme
proliferação da confeitaria no Japão, por influência
da França.” (CURLEY; CURLEY, 2015, p. 9)
Os preparos da confeitaria japonesa prezam
pela leveza e suavidade, priorizam o uso de pro-
dutos frescos, valorizam a aparência e utilizam
A Pâtisserie é um ofício preciso, uma forma
de arte que envolve um toque de elegân- moderadamente o açúcar.
cia, mas exige também a perfeição.
(Curley e Curley)

Além de tais inovações em equipamentos, em A confeitaria deve ser considerada uma


1988, inicia-se um estudo científico sobre os ciência exata, devemos nos atentar sempre
às proporções utilizadas, medindo e pe-
processos químicos e físicos que acontecem nos
sando os ingredientes com precisão, pois,
alimentos. Essas pesquisas originam-se com assim, conseguiremos obter resultados sa-
Nicholas Kurti, um físico húngaro, e Hervé This, tisfatórios ao fim de nossas preparações.
um físico-químico francês. Baseado nos trabalhos
desenvolvidos por ambos estudiosos, origina-se
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 25

A confeitaria é a coesão entre arte e ciência e


tornou-se uma área bastante expressiva na gas-
tronomia, crescendo em um ritmo acelerado.

Para aqueles que aspiram tornar-se um Para tornar-se um bom chef confeiteiro, de
pâtissier, devem estar preparados para modo geral, as atitudes são mais importan-
mergulhar em uma carreira que pode ser tes que as habilidades, pois uma atitude
desafiadora e gratificante em um ambien- adequada ajuda não somente a desen-
te que é quase sempre estimulante, mas volver novas habilidades, mas também a
às vezes exaustivo, para o profissional superar as dificuldades que você poderá
exercer com êxito suas atividades, alguns ter de enfrentar na sua carreira. Dominar
itens devem ser levados em consideração, a técnica, obviamente é essencial para o
entre eles, a curiosidade, criatividade e sucesso.
precisão, além disso, deverá estar pronto Fonte: Gisslen (2012, p. 11).
a participar de uma atividade dinâmica
que ofereça inúmeras especialidades e
variações regionais. (SUAS, 2011, p. 18)
Confeitaria Clássica e Brasileira

considerações finais

Caro(a) aluno(a), com a conclusão da primeira unidade é possível conhecer o


panorama histórico do início e das progressões da confeitaria.
Por meio dessa unidade, compreendeu-se a formação da confeitaria,
a influência do mel nos primeiros preparos doces, caracterizados por pães
doces rústicos.
Pudemos compreender que, por meio da descoberta do refino do açúcar
da cana e da beterraba, houve uma sofisticação na confeitaria, com surgi-
mento dos doces mais delicados, mas ainda assim com resultados diferen-
tes do que temos atualmente. A criação das confeitarias e a descoberta da
América trazem a incorporação de novos ingredientes, originando sabores
e inovando a confeitaria.
Tomou-se conhecimento acerca da influência francesa na confeitaria,
os primeiros livros destinados a essa arte e os grandes chefs influenciadores,
como o sublime Marie Antonin Carême – responsável pela descoberta e
aperfeiçoamento de preparos clássicos da confeitaria.
Vimos que após o crescimento do número de confeitarias pela França,
muitas são conhecidas até hoje, esse modelo gastronômico alcança o ápice e
se destaca na confeitaria mundial.
Nesta unidade, foi compreendida a influência dos avanços tecnológicos
em equipamentos para a confeitaria, bem como os estudos científicos desti-
nados a essa área e o uso de técnicas inovadoras.
Consequentemente, a partir do entendimento de toda a perspectiva
histórica acerca da confeitaria, será iniciada a segunda unidade – que será
mais prática e propiciará a compreensão das bases e técnicas da confeitaria.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 27

leitura complementar
O sabor doce e a subjetividade.

A sobremesa, grande representante do sabor doce, traduz clara e evidentemente a


afirmação de que o homem busca prazer ao alimentar-se. A sobremesa é muito mais
que o último prato de uma refeição, ela tem uma carga imaginária extremamente rica
em significados e símbolos. Sinal de recompensa, emblema do convívio e também
do conforto, ela é mais um objeto de desejo que um prato. Sobretudo, a sobremesa é
associada à nostalgia, ao gosto e às sensações de “ontem”, a recordações de épocas e
tempos passados. O homem obtém facilmente a energia necessária e suficiente para
sobreviver e desenvolver suas atividades diárias ao consumir alimentos que forneçam
calorias. Da mesma forma, a quantidade de açúcar necessária ao corpo humano pode
ser facilmente suprida pelo consumo de frutas, por exemplo. Quer dizer, uma bela fatia
de torta de chocolate ou uma maravilhosa mousse de frutas vermelhas não são exata-
mente necessárias ou essenciais ao homem. Aliás, o consumo de uma sobremesa se dá
exatamente por prazer, pela satisfação de um desejo; questões muito mais emocionais,
psicológicas e culturais que fisiológicas. Ao interessar-se particularmente pela aparência,
pela apresentação e pelo modo de preparo de um prato ou de uma sobremesa, tocamos
em conceitos que dizem respeito à gula. Não no sentido de exagero, privação, proibição
e desobediência (que são também ligados frequentemente ao consumo do doce), mas
ao outro significado que os franceses atribuem também à palavra gourmandise, que está
relacionado a “ser gourmet”, a saber degustar e apreciar um alimento, mas também o
momento e o contexto em que este está inserido. Segundo a TNS – Sofres12, a população
francesa traduz ou entende a gourmandise por expressões como “momentos gourmands”,
prazeres, bem-estar. Uma combinação de momentos e sensações com alimentos que são,
para dois terços dos franceses, doces. Na França, a “sobremesa dos sonhos” deve aliar o
prazer gustativo ao equilíbrio nutricional. Mas, para a maioria da população, a verdadeira
sobremesa dos sonhos é aquela de suas infâncias. Preferência e atração, desejo e prazer,
tentação e satisfação, somados a afeto, encantamento, compartilhamento e nostalgia,
traduzem todo o verdadeiro significado da sobremesa. Algumas delas oferecem mesmo
o sabor e a lembrança de um momento exato. Não se trata necessariamente de uma
sobremesa extraordinariamente elaborada, mas igualmente ou principalmente de uma
sobremesa simples, mas que remete a momentos inesquecíveis de intercâmbio sensorial
Confeitaria Clássica e Brasileira

leitura complementar

e emocional. Uma sobremesa é normalmente compartilhada, em inúmeros sentidos.


Comemos uma fatia de torta, uma colherada de mousse, uma parte de um todo que será
compartilhado. Raramente uma sobremesa é preparada para ser consumida por uma só
pessoa. O prazer que a sobremesa proporciona não é simplesmente o do gosto, trata-se
do prazer do convívio. Segundo Joanne Chen, “a sobremesa parece sempre ter enfatizado
o lado humano da refeição. [...] Ela sugere que as pessoas estão apreciando o momento
e a companhia dos demais participantes e querem estender este convívio”. A sobremesa
não é simplesmente um prato, e sim um momento carregado de sentimentos e símbolos.
Ela é igualmente e constantemente atrelada a festas e comemorações. Determinadas
sobremesas não são apenas associadas a celebrações, mas são o próprio símbolo destas.
Não se imagina, por exemplo, uma festa de aniversário sem o bolo e suas velas. Além de
tal conotação, as sobremesas são igualmente sinônimo de gratidão, afeto, recompensa
e conforto. Costuma-se retribuir um convite, trazendo ao anfitrião uma bela torta, um
belo doce, muito mais comumente que qualquer prato salgado. Preparamos, servimos
e oferecemos uma sobremesa para satisfazermos e reunirmos aqueles que amamos.

Fonte: Coró (2011, p. 193-226).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 29

atividades de estudo
1. Analise as alternativas abaixo e assinale a correta:
a. O açúcar, primeiro adoçante a ser utilizado pela humanidade, era um produto
raro e caro.
b. O mel era considerado o “alimento dos deuses” e foi o primeiro adoçante a ser
utilizado.
c. O açúcar da beterraba surgiu a partir do descobrimento do Novo Mundo, oriundo
das Ilhas do Caribe.
d. O açúcar da cana sempre foi um produto acessível, principalmente aos menos
favorecidos.
e. Todas as alternativas estão corretas.

2. Analise as afirmações abaixo:.


I. Antonin Carême, considerado o “rei dos cozinheiros”, escreveu os primeiros
livros destinados à confeitaria.
II. Poppelini, confeiteiro de Catherine de Médici, foi o criador da massa choux.
III. Antonin Carême foi o criador do merengue, um clássico da confeitaria.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas III está correta.
e. Nenhuma das alternativas está correta.

3. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) e em seguida escolha a alternativa correta:


( ) A confeitaria não deve ser considerada uma ciência, conseguimos executar os
preparos sem medidas exatas, obtendo um resultado satisfatório.
( ) O Japão está se destacando por sua confeitaria, uma característica dos seus
preparos é o uso moderado de açúcar.
( ) O profissional da confeitaria deve ser criativo e preciso em suas preparações.
Assinale a alternativa correta:
a. F - V - V c. V - F - F e. F - V - F
b. V - V - V d. F - F - F
Confeitaria Clássica e Brasileira

material complementar

PÂTISSERIE - ABORDAGEM PROFISSIONAL


Michel Suas

Editora: Cengage Learning


Sinopse: “Pâtisserie - Abordagem profissional” é um guia
abrangente direcionado a estudantes, profissionais e entu-
siastas. A obra buscou combinar fundamentos da tradição
e abordagem moderna de métodos e técnicas. É destinado
a ajudar professores, padeiros e chefs pâtissiers a acompa-
nharem os desenvolvimentos dos ingredientes, dos pro-
dutos e apresentações da indústria. As fórmulas/receitas
são baseadas em uma variedade de métodos e processos
considerados clássicos.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 31

referências
CORÓ, G. A sobremesa francesa dos anos 1950 aos anos 2000: evolução, consumo e patrimônio.
História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p. 193-226, jan./jun. 2011. Editora UFPR.
CURLEY, W.; CURLEY, S. Pâtisserie: arte e técnica para profissionais. Barueri, SP: Manole, 2015.
FLANDRI, J. L; MONTANARI, M. História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 2007.
FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2008.
GISSLEN, W. Panificação e confeitaria profissionais. Barueri, SP: Manole, 2012.
McGEE, H. Comida e cozinha: ciência e cultura da culinária. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
RIBEIRO, C. M. A. Confeitaria. São Paulo: Hotec, 2006.
SUAS, M. Pâtisserie: abordagem profissional. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

Referências on-line:
1
<http://essenciastudio.com.br/chantilly/>. Acesso em: 13 dez. 2015.
Técnicas da Confeitaria
CAROLINA CARMONA DIAS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Principais utensílios e ingredientes


• Técnicas profissionais e principais preparos básicos
• Grandes clássicos da confeitaria

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer e identificar os principais utensílios e ingredientes uti-
lizados na confeitaria, bem como aplicá-los de maneira adequada
ao preparo a ser elaborado.
• Desenvolver as técnicas profissionais aplicadas à confeitaria, co-
nhecer e elaborar os preparos básicos da confeitaria.
• Conhecer e elaborar os principais preparos da confeitaria.
35

Introdução
Olá, aluno(a)!
Nesta unidade, serão indicados os aspectos importantes sobre as produções na confeitaria.
Primeiramente, serão conhecidos os principais ingredientes utilizados, suas funções e especifi-
cidades, como, por exemplo, o uso do leite e seus derivados; os diversos tipos de açúcares e suas
características, a elaboração de caldas e caramelos; técnicas de como trabalhar com o chocolate
e os seus tipos encontrados hoje. Em seguida, será descrito o uso e a aplicação dos utensílios
utilizados na confeitaria, enfatizando suas funções.
Após o conhecimento desses dois aspectos relevantes para execução dos preparos com
habilidade, serão enfocados os aspectos mais práticos. A princípio, serão realizadas explicações
sobre as massas básicas clássicas, como as massas quebradiças (pâté sucrée, pâté sablée, pâte
brisée), as massas para bolos aeradas e cremosas, massas líquidas para crepes e waffles, massa
folhada, para o preparo de clássicos como o mil folhas e pâte à choux, massa versátil da confei-
taria, utilizada para o preparo de grandes clássicos como: éclairs, Paris-Brest, torta Saint-Honoré
e vários outros preparos.
Em seguida, serão informados ingredientes e os métodos de preparo dos merengues (francês,
italiano e suíço), explicando as principais diferenças entre os três; e cremes básicos, entre eles os
clássicos crème pâtissière, creme anglaise, creme chiboust, creme mousseline, creme de amêndoas,
creme de manteiga, crème légère.
Por fim, esta unidade será encerrada com a descrição sobre os preparos clássicos, sendo
possível perceber a utilização das bases estudadas para a execução de preparos tradicionais.
Assim, serão analisadas as bases utilizadas para o preparo e as finalizações de doces tra-
dicionais, como o mil folhas, bolo ópera, charlotte, mousses, soufflé, éclair, macarons e outras
sobremesas clássicas.
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 37

Principais
Utensílios
& Ingredientes

Aluno(a), veremos que utilizar ingredientes de qualidade é funda-


mental para obtermos um bom resultado nas preparações.
Cada ingrediente confere uma característica específica aos
preparos; em seguida conheceremos os principais ingredientes
utilizados na confeitaria e sua melhor utilização. Após estudar-
mos esses ingredientes, iremos compreender o uso dos utensílios
voltados para a confeitaria, suas funções e manuseamento.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Açúcares
Na unidade anterior, relatamos um pouco da
história do açúcar, a forma como ele influencia
na confeitaria e sua importância para a evolução.
Caramelização é o nome dado a uma reação
Atualmente, são encontrados diversos tipos de química que ocorre quando o açúcar é aque-
agentes adoçantes com características e finali- cido e suas moléculas começam a quebrar.
dades diferentes para cada preparo. Essa reação leva a uma cascata química na
qual formam-se centenas de novos e dife-
Com frequência usa-se o termo açúcar para
rentes componentes – alguns intensamente
referir-se aos tipos mais comuns de açúcar aromáticos, outros amargos e ainda compos-
refinado derivados da cana-de-açúcar ou da tos que apresentam cor, tornando o cara-
melo tão aromático e de cores tão variadas.
beterraba. O nome químico desses açúcares é
sacarose. No entanto, outros açúcares de es- Fonte: Bergamo (2009, p. 35).

trutura química diferente também são usados.


(GISSLEN, 2012, p. 67)
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 39

A seguir, alguns tipos de açúcares existentes: • Açúcar Demerara: açúcar escuro, porém
• Açúcar Cristal: é um açúcar branco com mais claro que o mascavo. Também é
cristais transparentes. É submetido a revestido por melaço, porém em menor
processo de refinamento e possui uma quantidade, cerca de 2%. Os grãos são
granulometria maior. Seu uso é muito cristais e maiores e apresentam menor
comum em caldas. umidade do que o açúcar mascavo.
• Açúcar Refinado: passa pelo processo de • Açúcar invertido: para produzi-lo, o
refinamento, deixando-o muito branco açúcar é misturado com água e adiciona-
e perdendo todas as suas vitaminas e do ácidos com uma enzima de sacarose.
sais minerais. Com granulometria menor A partir disso, ocorre uma reação em que
que o açúcar cristal, é um dos tipos mais há a quebra da enzima de sacarose, resul-
utilizados na confeitaria. tando em moléculas de frutose e glicose.
• Açúcar de Confeiteiro: é o açúcar branco Desse modo, resulta em um líquido não
mais refinado e fino entre todos os açú- cristalizado.
cares. São ideais para merengues e glacês. • Melaço: com sabor acentuado e bastante
• Açúcar Impalpável: é o açúcar de confei- doce, o melaço é o subproduto resultante
teiro que recebe um refinamento especial do refino do açúcar.
e é acrescido de amido. • Melado: produzido a partir da rapadura
• Açúcar Mascavo: açúcar escuro, produzi- solidificada ou diretamente do suco da
do do açúcar bruto da cana. Possui uma cana, também é chamado de “xarope
grande quantidade de umidade, cristais da cana”.
revestidos por cerca de 6% de melaço e • Mel: açúcar invertido natural, ele possui
sabor mais acentuado. Devido a grande acidez e pode existir variações de sabor
quantidade de umidade, deve ser guar- e cor de acordo com o local em que ele
dado em um recipiente hermético. é produzido.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Caldas e caramelos
Quando trabalhamos com caldas de açúcar e ca-
ramelos, devemos ter uma atenção especial com
as temperaturas adequadas para alguns preparos.
Os açúcares têm uma característica em
• Calda para umedecer: 100°C. comum, que deve ser compreendida por
• Mesma quantidade de açúcar e água. padeiros e confeiteiros: eles são higroscó-
picos. Isso significa que atraem e retêm a
• Ponto de bala mole: 116°C a 119°C.
água. Alguns açúcares são mais higroscó-
• Ponto de bala dura: 120°C a 127°C. picos que outros. A frutose, por exemplo,
• Caramelo claro (amarelado): 151°C a é muito mais higroscópica que a sacarose
160°C. (açúcar comum).

• Caramelo escuro (amargo): 161°C a Fonte: Gisslen (2012, p. 67).

170°C.

Farinha de trigo
Na confeitaria é empregada a chamada farinha
de trigo mole. Uma das características de tal
farinha é o baixo teor de proteínas e textura
macia. Já que as preparações confeiteiras são
mais delicadas, leves e não devem obter o desen-
volvimento do glúten, a farinha de trigo mole é
a ideal para a produção de receitas.

Aproveite o conteúdo estudado na discipli-


na de Panificação Clássica e aprimore seus
conhecimentos sobre os tipos de farinha.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 41

Ovos
Os ovos são ingredientes essenciais na con- Na maioria dos preparos, utiliza-se a clara em
feitaria, e o seu uso é bastante diversificado. ponto de neve. Para atingir esse ponto, deve-se
Podem ser usados inteiros (clara e gema), conhecer duas proteínas importantes: a albumina
somente a clara (clara em neve) ou ainda so- e a globulina. Por meio dessas proteínas é que se
mente a gema – de acordo com as caracterís- atinge o ponto de neve. No início, essas proteínas
ticas do preparo é que será definida a forma possuem formato de espiral e, quando empregada
de utilizá-los. força física (por meio das rotações da batedeira ou
Os ovos são um dos principais ingredientes fouet), o espiral vai desenrolando e incorporando
da pâte à choux, por exemplo. São responsáveis ar, estruturando, assim, a clara em neve. No en-
pelo crescimento dessa massa em que não é tanto, ao batermos demais a clara, ela vai desna-
utilizado nenhum tipo de agente fermentador. turando, liberando água e desestruturando toda a
Somente a umidade incorporada pelos ovos é clara batida. Nesse sentido, deve-se estar atento(a)
capaz de formar vapor no interior da massa, ao tempo em que a clara é batida para não perder
aumentando o seu volume. todo o trabalho e comprometer a preparação.

Leite e derivados
A seguir, detalha-se o leite e os seus derivados. • Manteiga: é produzida por meio de uma
• Leite: quase que a totalidade do leite emulsão do creme de leite que, após
e derivados utilizados na confeitaria é certo tempo, começa a desprender o
proveniente da vaca. Apenas algumas soro (leitelho) de uma massa compacta.
receitas muito específicas é que utilizam Ao retirar o soro, a massa, que possui
o leite de cabra, ovelha ou búfala. cerca de 80% de gordura, é a manteiga.
• Creme de leite fresco: ao batermos o creme São comercializadas manteigas com sal
de leite com açúcar, temos o creme chantilly. e sem sal. Entretanto, na maioria das
Rico em quantidades de gordura, difere-se preparações da confeitaria são utilizadas
em vários aspectos do creme de leite de cai- a manteiga sem sal.
xinha, sendo o fresco com uma qualidade • Leitelho: também chamado por butter-
superior. Nos preparos em que se utiliza milk, é o soro resultante do batimento
creme de leite, dê preferência ao fresco. do creme de leite para obter manteiga.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Possui uma acidez característica. É pos- conservação. Primeiramente, o chocolate deve ser
sível encontrar o leitelho industrializado armazenado em um local fresco, arejado e inodo-
ou, então, produzi-lo de forma artesanal. ro. O chocolate possui a capacidade de absorver
• Leite condensado: leite que teve 60% de todos os tipos de odores, os quais resultam em
seu líquido evaporado e acrescido de uma tornar o produto com sabor desagradável. Em sua
grande quantidade de açúcar – possui estocagem não deve haver umidade e oscilações
uma consistência cremosa –. Principal nas temperaturas, sendo a temperatura ideal de
ingrediente para a produção do tradi- armazenagem entre 18°C a 22°C. Portanto, nunca
cional brigadeiro. guarde chocolate na geladeira.
• Leite em pó: é o leite integral ou des- Detalham-se, a seguir, os tipos de chocola-
natado que passou pelo processo de de- tes encontrados no mercado:
sidratação, transformando-se em pó e • Manteiga de Cacau: é a gordura extraída
aumentando sua durabilidade. da massa pura de cacau (liquor).
• Chocolate Amargo ou Puro: composto
Chocolate por massa de cacau pura, também co-
Sobre o chocolate, Gisslen (2012, p. 91) explica que nhecida como liquor e manteiga de cacau.

O chocolate e o cacau em pó são obtidos a Não possui nenhum tipo de adoçante


partir das sementes do cacau. As sementes e sua coloração é mais escura que os
passam por um processo de fermentação demais tipos de chocolates.
e são torradas e moídas. O produto resul-
• Chocolate Meio-Amargo: composto por
tante, chamado de liquor, contém uma
gordura esbranquiçada ou amarelada, a massa de cacau pura (liquor), manteiga
manteiga de cacau (grifo da autora). de cacau e adoçado levemente.
• Chocolate Ao Leite: possui uma menor
Não há dúvidas de que o chocolate é um dos quantidade de massa de cacau pura, é
ingredientes mais marcantes da confeitaria. mais adoçado do que o chocolate meio
Por ser um produto complexo a ser trabalhado, amargo e acrescido de leite em pó.
muitos já tiveram problemas ao utilizá-lo. Por • Chocolate Branco: não possui massa de
isso, faz-se necessário desmistificar o processo cacau pura, é composto basicamente por
de manuseio e, assim, obter um bom resultado sólidos lácteos, açúcar e manteiga de cacau.
com esse ingrediente tão estimado. Algumas marcas utilizam outras gorduras
O chocolate é um produto delicado e que no lugar da manteiga de cacau, tornando
necessita de cuidados especiais para a sua perfeita um produto com qualidade inferior.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 43

• Cacau em pó: é produzido a partir da um cuidado especial. É possível realizar o der-


massa de cacau pura, no qual se extrai retimento em banho-maria ou micro-ondas.
uma porção de gordura com prensa hi- Caso opte pelo método em banho-maria, deve-
dráulica e que resulta em um produto -se tomar um cuidado especial para que a água
bastante ácido. Por isso, alguns passam do recipiente ou o vapor não entre em contato
por um processo de alcalinização suavi- com o chocolate, pois esse contato causa uma
zando seu sabor. reação chamada seizing, transformando-o numa
• Chocolate em pó: produzido a partir da pasta; se utilizar o micro-ondas para derretê-lo,
mistura de cacau em pó e açúcar. a potência do equipamento deve ser diminuída e
a cada 30 segundos o chocolate deve ser mistu-
Ao trabalhar com chocolate, o que mais gera rado até ficar totalmente líquido. Em ambos os
dúvidas e receio é a técnica chamada de tem- processos, é essencial que o chocolate deva estar
peragem ou têmpera. Por ser a pré-cristalização com temperatura entre 45°C a 50°C. Se exceder
do chocolate, é nessa etapa que ocorre a forma- essa temperatura, ele sofre um superaquecimen-
ção de cristais que serão responsáveis pelo seu to modificando seu sabor e sua textura.
endurecimento, brilho e textura no chocolate.
Dessa forma, a técnica é aplicada somente para
execução de alguns preparos que necessitem se
solidificar após o derretimento, como ovos de
páscoa, arabescos, bombons e também algumas
decorações; já para o preparo de cremes, caldas,
mousses e recheios com chocolate, não se faz
necessário o emprego da têmpera.
Suas (2011) descreve que o chocolate que
não passa pelo processo de temperagem leva
um longo tempo para endurecer e apresenta
um acabamento sem brilho e com aspectos
esbranquiçados.
O primeiro passo para uma têmpera de qua-
lidade é o derretimento do chocolate. Conforme
explanado anteriormente, o chocolate é um pro-
duto delicado e, sobretudo nesta etapa, requer
Confeitaria Clássica e Brasileira

Passo a passo da temperagem 1 2

Tablage
1. Corte o chocolate em tamanhos peque-
nos, para auxiliar no processo de derre-
timento. (imagem 1)
2. Derreta o chocolate em banho-maria ou
3 4
micro-ondas; a temperatura deve estar
entre 45°C a 50°C. (imagem 2)
3. Despeje o chocolate preferencialmente
em uma bancada de mármore e com o
auxílio de uma espátula e um termôme-
tro; conforme o chocolate vai resfriando,
5
ele começa a engrossar e os cristais co-
meçam a estabilizar. Resfrie até a tempe-
ratura indicada: chocolate branco 27°C,
chocolate ao leite 28°C e chocolate meio
amargo 29°C. Este é o método de tem-
peragem mais eficaz. (imagem 3,4 e 5.)

Existem outros tipos de temperagem, segue misture bem até que todo o choco-
abaixo o passo a passo de algumas delas: late esteja fluido. Assim o chocolate
estará temperado.
Indução
1. Corte o chocolate em tamanhos peque- Banho-maria invertido
nos, para auxiliar no processo de der- 1. Derreta o chocolate em banho-maria ou
retimento. Separe 20% desse chocolate micro-ondas, a temperatura deve estar
cortado e reserve. entre 45°C a 50°C.
2. Derreta os 80% restante do chocolate, 2. Adicione o chocolate derretido em um
em banho-maria ou micro-ondas, a tem- recipiente e faça um banho-maria inver-
peratura deve estar entre 45°C a 50°C tido (adicionar água gelada em um bowl
3. Adicione os 20% do chocolate reser- embaixo do recipiente em que está o cho-
vado aos 80% do chocolate derretido, colate), com o auxílio de uma espátula
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 45

e um termômetro. Resfrie o chocolate cobertura”. Esse produto é destinado para o


até a temperatura indicada: chocolate uso sem têmpera. Isso só é possível, pois nesse
branco 27°C, chocolate ao leite 28°C e ingrediente a manteiga de cacau é substituí-
chocolate meio amargo 29°C. Assim o da por outras gorduras, como óleo de palma.
chocolate estará temperado. Entretanto, seu sabor também sofre alterações,
não apresentando um paladar tão agradável
Uma pré-cristalização mal executada pode como o chocolate original.
causar um “defeito” no chocolate chamada fat
bloom. São traços esbranquiçados que aparecem Gelatina
no chocolate dando o aspecto de mofo, mas que Na confeitaria a maioria das receitas que utili-
na verdade indicam que a manteiga de cacau zam gelatinas fazem uso do produto incolor e
migrou para a superfície do chocolate. Porém, sem sabor. Gisslen (2012 p. 86) indica que
esse defeito é reversível. Ao derreter e realizar A gelatina é uma proteína solúvel em
a temperagem adequadamente, ele pode ser água extraída do tecido conjuntivo
utilizado novamente. de animais. Quando uma quantidade
suficiente de gelatina é dissolvida em
Outro “defeito” que pode acontecer ao cho-
água ou outro líquido quente, este se
colate é o sugar bloom. Tal problema ocorre solidifica. A gelatina engrossa e gelatini-
quando o chocolate está em contato com a za-se por causa da característica de suas
proteínas que, formam longas cadeias
umidade e forma gotículas de água. Em segui-
(grifo da autora).
da, a água condensa e o chocolate apresenta
cristais de açúcar na superfície, dando um Existem dois tipos de gelatinas incolores:
aspecto desagradável ao produto. Apesar da em pó ou em folha. As duas diferem-se
forma mais comum do sugar bloom aparecer em forma e quantidade para utilização.
por meio do contato com a umidade, o fenô- Todavia, para qualquer preparo é permitido
meno ocorre também quando um chocolate utilizar uma ou outra, ou seja, não há uma
armazenado em um local com baixa tempera- especificação, apenas uma preferência do
tura é retirado e levado para outro local com próprio confeiteiro.
temperatura mais elevada. Para substituir a gelatina em pó pela em
Devido à dificuldade de muitas pessoas folha, a proporção é de 2 ½ folhas para 2 colheres
trabalharem com a técnica de temperagem, (chá) de gelatina em pó. Vale ressaltar que 30 g
é possível encontrar no mercado alguns pro- de gelatina em pó têm um poder de gelificação
dutos que levam o nome de “chocolate para equivalente a 15 folhas de gelatina.
Confeitaria Clássica e Brasileira

As especiarias são comercializadas inteiras ou já


processadas, sendo que a segunda forma apre-
senta perda em seu aroma e sabor. Por isso,
sempre dê preferência para as especiarias in-
teiras, raladas ou moídas na hora.
Há uma infinidade de tipos de especiarias,
porém as mais utilizadas na confeitaria são a
canela, o cravo, o anis-estrelado, o cardamomo,
a erva-doce, o gengibre e a baunilha.
Considerada a especiaria mais utilizada na
confeitaria, a baunilha é originária de uma or-
quídea, a baunilheira (Vanilla planifolia). Dessa
Oleaginosas planta são retiradas favas que, em seguida, são
As oleaginosas são ingredientes bem presentes secas. Possuem em seu interior minúsculas
na confeitaria. Por serem ricas em gorduras, é sementes aromáticas que são adicionadas às
aconselhável tomar cuidado para que elas não preparações. Também é comum adicionar a fava
se tornem ranças. São encontradas inteiras, inteira para extrair o máximo de sabor dos pre-
laminadas, quebradas ou em outros formatos. paros. Outra forma de saborizar as preparações
Entre as oleaginosas mais utilizadas está a é utilizando o extrato ou a essência de baunilha,
amêndoa – ingrediente principal para vários prepa- formas mais econômicas de substituição da fava.
ros clássicos, como o marzipã (pasta de amêndoa)
–. Outros produtos que se enquadram nesse grupo
são os amendoins, castanha-do-brasil, castanha-de-
-caju, macadâmia, nozes, pistache, avelã, pinhole e
castanha-portuguesa. Das oleaginosas também são
obtidos subprodutos, como as pastas e as farinhas.

Especiarias
Utilizadas em todas as áreas da gastronomia,
as especiarias estão presentes para aromatizar
e saborizar os preparos. Com a confeitaria não
poderia ser diferente.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 47

Frutas Utensílios para confeitaria


As frutas são os produtos mais versáteis da con- Conhecer os utensílios, seus objetivos e seus
feitaria e podem ser encontradas frescas, secas, modos de manuseio é de grande relevância para
congeladas, cristalizadas e zestes (raspas das a perfeita execução das técnicas no preparo das
cascas de frutas, como laranja e limão). Sempre receitas. Cada preparação requer algum utensílio
opte pela utilização de frutas com boa qualidade específico – o uso adequado de cada utensílio
e, preferencialmente, as da estação – por serem auxilia e simplifica os métodos de preparo.
as mais saborosas e mais atrativas visualmente. A seguir, estão detalhados alguns desses
materiais e esclarecimentos de seus empregos.
Fermentos • Espátulas de silicone: um dos uten-
O bicarbonato de sódio é um agente fer- sílios mais utilizados; tem a finalida-
mentador, porém ele é uma mistura de sabor de de incorporar os ingredientes nos
alcalino e, para ter uma boa eficácia, é preciso preparos ou então de passá-los de um
estar em contato com um líquido e algum recipiente ao outro.
ácido no preparo. • Espátulas para confeitar: geralmente de
O fermento mais utilizado na confeitaria metal, e nos tamanhos pequeno, médio
é o fermento químico. Composto e grande, essas espátulas são utilizadas
por bicarbonato de sódio e principalmente para decorações de bolos.
alguns ácidos que • Raspadores: podem ser de plástico ou
potencializam metal usado para diversos fins, como
sua eficácia; sua trabalhar com chocolate e apoio ao sovar
ação só inicia ao algumas massas.
entrar em conta- • Fôrmas de silicone: formas flexíveis
to com os líquidos utilizadas para preparos mais delica-
da receita. No entanto, dos, encontradas em diversos tama-
apenas em contato com nhos e formatos.
altas temperaturas é que esse • Fôrmas para madeleines: pequenas formi-
tipo de fermento faz com que os nhas em formato de “concha”; formato
alimentos cresçam. original das famosas madeleines.
Os fermentos biológicos são leveduras que • Fôrma para bolo inglês: forma retan-
agem sobre os açúcares. São os ingredientes gular, encontrada em diversos tama-
mais utilizados na panificação. nhos e materiais.
Confeitaria Clássica e Brasileira

• Fôrma com furo no meio: utilizadas para para abrir massas e dar o formato de-
pudins, flans e também alguns bolos; sejado a elas.
existe uma variedade de tamanhos e for- • Rolo furador: usado para furar as massas,
matos, diversificando, inclusive, o fundo. impedindo que elas estufem durante o
• Fôrmas para bolo (assadeiras): tradi- forneamento. Usado principalmente nas
cionalmente com formato redondo ou massas de tortas e alguns preparos de
retangular, encontradas em diversos massa folhada.
tamanhos e materiais, como inox, alu- • Aros: são utilizados para montagem de
mínio, silicone e com laterais mais altas tortas, entremets, com formatos e tama-
ou mais baixas. O preparo é que definirá nhos variados. Encontrados em diversos
a assadeira mais adequada. materiais, como aço inox e plástico.
• Fôrmas de fundo removível: utilizadas • Cortadores: disponíveis em tamanhos
em sua maioria para preparar tortas; e formatos variados, os cortadores são
elas podem ser encontradas em diver- utilizados para o preparo de biscoitos,
sos tamanhos e são tradicionalmente decorações, tortas e entremets.
redondas. Porém, no mercado, já existem • Carretilha: utensílio para cortar ou
com bordas sextavadas e também em apenas marcar massas em geral.
formatos retangulares. • Facas: as mais utilizadas na confeitaria
• Batedor de arame: também chamado de são as facas do chef, de serra, de frutas
fouet, substitui em alguns casos a bate- e legumes. Dê preferência para as facas
deira; é usado para misturar os ingre- com material de qualidade, aumentando
dientes aos preparos. Possuem tamanhos sua durabilidade.
e materiais diversificados, sendo os de • Panelas: utilizadas para o preparo de
aço inox os mais resistentes. cremes, molhos, preparos delicados feitos
• Tapetes de silicone: ou silpat, são bastante em banho-maria, como o derretimento
funcionais, antiaderentes e substituem o do chocolate.
uso do papel manteiga para forrar as formas. • Bowls: termo muito empregado na
• Rolo de massa: utensílio imprescindível gastronomia; os bowls são tigelas de
para qualquer confeiteiro. É utilizado vários tamanhos, muito utilizados não
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 49

só na confeitaria, como em qualquer


área da gastronomia.
• Grade de metal: utilizada para banhar
tortas, entremets, monopoções com
caldas ou chocolates tortas. A grade fica
na base do preparo evitando o acúmu-
lo da calda em suas bordas, dando uma
uniformidade na finalização.
• Maçarico: usado para flambar e carameli-
zar. Um dos preparos mais comuns para
a utilização do maçarico é o Crème Brûlée.
• Bailarina: suporte giratório que apoia
bolos e tortas para a sua decoração.
• Peneiras: utilizada para peneirar ingre-
dientes secos, principalmente nos pre-
paros mais delicados.
• Termômetros: usados na temperagem
do chocolate, nos preparos de cremes,
caldas e caramelos.
• Bicos de confeitar: há uma grande va-
riedade de bicos de confeitar, cada um
com formato e aplicações diferentes, mas
utilizados sobretudo na decoração de
bolos e tortas.
• Saco de confeitar: usado juntamente com
os bicos de confeitar, o saco de confei-
teiro serve como suporte para os cremes
que irão ser utilizados para decorar os
bolos ou tortas.
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 51

Técnicas Profissionais
& Preparos Básicos

Neste tópico, o objetivo será conhecer as técnicas aplicadas aos


principais preparos da confeitaria. Estudaremos as principais
massas da confeitaria, seus ingredientes e método de preparo,
bem como suas aplicações.
Em seguida, será descrito os cremes clássicos e sua composição.
Aqui, será possível compreender as bases clássicas da confeitaria,
suas diferenciações e aplicabilidade.
Confeitaria Clássica e Brasileira

método faz com que a manteiga impermeabili-


ze o grão da farinha de trigo, tornando a massa
arenosa e quebradiça. A adição dos líquidos ao
final do processo impede o desenvolvimento
do glúten para essa massa.
No método crémage (ou método cremoso)
combinam-se a manteiga e o açúcar, que são ba-
tidos até formar um creme. Após, adicionam-se
os líquidos da receita, como a água e ovos. Por
último, os secos são agregados e misturados
até se obter uma massa uniforme. Esse método
resulta em uma massa mais delicada. A mistura
cremosa do início e os secos adicionados ao
final fazem com que os líquidos não absorvam
a farinha tão rapidamente, evitando, assim, a
formação do glúten.
Entre as massas quebradiças existem
três tipos:
Massas quebradiças • Pâte brisée (método sablage): o termo
Inicialmente, será focado como assunto as em francês significa “massa quebrada”.
massas quebradiças, ideais para o preparo de É mais resistente do que as demais.
tortas, biscoitos e petit fours. • Pâte sucrée (método crémage): o termo
Para o preparo das massas quebradiças, exis- em francês significa “massa açucara-
tem duas técnicas básicas, o método sablage e da”, muito parecida com a pâte brisée,
o método crémage. porém com uma quantidade maior de
Para executar o método sablage (ou açúcar e ovos.
método arenoso) misturam-se os ingredien- • Pâte sablée (método sablage): em francês
tes secos (farinha e açúcar) com a manteiga. o termo significa “massa aerada” e é uma
Essa mistura é feita com a ponta dos dedos de massa rica que deve ser trabalhada de
forma bem delicada até atingir uma aparência forma delicada, com menos quantidades
de areia. Somente depois são adicionados os de açúcar – se comparada à pâte sucrée –.
líquidos até obter uma massa homogênea. Esse Ideal para biscoitos e tortas.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 53

Massa Folhada
Em francês, usa-se o termo Pâte feuilletée por
ser uma massa que apresenta várias finas ca-
madas de massa.
Para obter um melhor resultado, é muito
Essas camadas são criadas ao adicionar man- importante que a massa fique um tempo
teiga sobre a massa e, em seguida, são realizadas de repouso na câmara frigorífica. Durante
a cocção, a gordura presa entre as diversas
as dobras necessárias para as lâminas da massa
camadas de massa se derrete, incorporan-
folhada. Intercalando massa e manteiga, quando
do-se a ela. A umidade contida na massa e
a massa for assada, a manteiga derrete e gera na gordura se vaporiza sob a ação do calor e
vapor, fazendo com que as camadas sejam ex- fica presa na rede formada pela coagulação

pandidas, tornando-se uma massa leve e delicada. do glúten e pela gelatinização do amido
presente na farinha de trigo utilizada.
Deve-se tomar o devido cuidado para que,
ao abrir a massa, não a rasgue, pois assim a man- (Sebess)

teiga não fica aprisionada e acaba escapando,


dando um aspecto de massa “crua”.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Para Sebess (2010, p. 51), a manteiga é aquela folhados, à venda nos bons supermercados.
que dá melhor sabor à massa, porém existe Existem três tipos de massa folhada:
uma margarina termoestável, própria para

folhado simples

1. Abra a massa em formato de cruz e adicione a manteiga em formato quadrado no centro da massa.
Feche as extremidades da massa, cobrindo toda a manteiga.
2. Abra a massa de maneira uniforme, em formato retangular, e faça as dobras de maneira a folhar a massa.

dobra simples
1. Dobre a massa em três partes iguais, levando as extremidades em direção ao centro.
2. Abra a massa de maneira uniforme, em formato retangular, e repita a dobra simples. Para um folhado
de qualidade, o procedimento deve ser repetido, totalizando seis voltas simples.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 55

dobra dupla
1. Dobre a massa em formato de “ livro”, levando as duas extremidades em direção ao centro.
2. Dobre a massa ao meio, assim temos uma volta dupla.

folhado invertido
1. Acrescente farinha à manteiga.
2. Sove os dois ingredientes, até a mistura ficar homogênea.
3. Abra essa mistura em formato retangular e leve à geladeira.
4. Adicione a massa sobre a mistura de manteiga e farinha e abra em formato retangular.
5. Faça as voltas simples ou as voltas duplas.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Massas batidas
As massas batidas são utilizadas para o preparo algum ingrediente que produza gás car-
de bolos, como pão de ló, genóise, madeleines, bolo bônico, como o fermento químico.
mármore e outros preparos. Elas são divididas
em dois grupos: cremosas e aeradas. A seguir, Exemplos:
conheça as diferenças entre cada uma delas. • Madeleines: pequeno bolo francês
• Massas batidas cremosas: neste método, em formato de concha – seus ingre-
comece a bater a manteiga com o açúcar dientes são: farinha, ovos, açúcar e
até obter um creme. Após essa mistu- fermento químico.
ra, adicione os ovos, os líquidos e, por • Bolo mármore: feito a partir de duas
último, os secos. São massas mais pe- massas (uma branca e uma de chocola-
sadas e, por não possuírem nenhuma te) – as massas são misturadas, dando
estrutura aerada, é necessário o uso de característica mesclada ao bolo.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 57

Exemplos:
• Génoise: bolo aerado – o agente fer-
mentador da receita são as claras bati-

A massa da madeleine precisa obriga-


das em ponto de neve; finaliza-se com
toriamente descansar, fazendo com que manteiga derretida.
o fermento possa ter sua primeira ação • Pão-de-ló: bolo tradicional português, feito
completa, para, então, finalizar seu pro-
com farinha, açúcar e ovos (grande quan-
cesso no forno, formando a característica
almofadinha (ou barriguinha) da made- tidade de ovos) – o agente fermentador da
leine. Sem esse descanso, a madeleine receita tradicional também são as claras
se torna um bolinho comum, assado em
batidas em neve, embora muitas receitas
formato de concha.
atuais façam uso de fermento químico.
(Galvão)¹
• Biscuit à la cuillère: massa aerada, com-
posta por açúcar, amido, ovos e farinha
de trigo, não se utiliza nenhum fermento
químico – a massa fica aerada apenas
• Massas batidas aeradas: pode-se iniciar pela ação da clara em neve; pode ganhar
o preparo das massas aeradas batendo forma com saco de confeitar.
os ovos com o açúcar, até se obter uma • Biscuit Joconde: massa aerada, próxi-
espuma cremosa e aerada. Adicionam- ma ao pão-de-ló, acrescida de farinha
se os líquidos e os secos ao final, com de amêndoas.
delicadeza. Outra forma de preparar-
mos as massas aeradas é batendo a clara
em neve separadamente e adicioná-la
ao final do preparo da massa. Essas
massas possuem texturas mais leves
e, algumas vezes, não é necessário o
uso de agente fermentador (como o
fermento químico), pois a própria es-
trutura aerada faz a massa expandir
quando assa. Por ser um preparo bas-
tante delicado, deve-se tomar cuidado
ao misturar os ingredientes.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Massas líquidas e semilíquidas • Blini: para Sebess (2010, p. 64), os blinis


As massas líquidas e semilíquidas são simples são importantes para a dieta alimentar
de serem feitas e são utilizadas nos preparos de russa; têm 10 cm de diâmetro e 1 cm de
panquecas, crepes, waffle, blini e beignet. espessura. A receita autêntica é feita com
• Panquecas: massas feitas com farinha trigo sarraceno, mas hoje em dia, para
de trigo, leite, açúcar, ovos e manteiga; um resultado mais leve, acrescenta-se
mistura-se com um batedor de arame farinha de trigo. A massa de blini é feita
(fouet) e em seguida é cozida na frigideira à base de fermento biológico, farinha de
untada com manteiga. trigo, ovos, manteiga derretida e sal; ele
• Waffle: a massa de waffle se difere da massa pode ser servido com mel.
de panqueca, pois se acrescenta fermento • Beignet: massa semilíquida, própria para
químico e claras em neve; a massa é des- ser frita, feita à base de ovos, leite, amido
pejada sobre a máquina de waffle, dando de milho, sal e claras em neve – algumas
o formato característico do preparo. Pode receitas ainda fazem o uso de cerveja na
ser servido com sorvete, mel, chocolate, massa –; pode ser utilizada para recobrir
entre outros acompanhamentos. frutas para em seguida serem fritas.

Seu preparo é feito em duas etapas:


1. Cozinha-se a massa com água/leite, man-
teiga, açúcar e sal. Em seguida, adiciona-
-se a farinha de trigo.
2. Realiza-se a adição dos ovos, um a um,
em uma batedeira. Na massa choux não
se utiliza nenhum agente fermentador,
pois é o vapor liberado pela própria massa
durante a cocção que exerce essa função.
Pâte à choux A cocção da massa choux deve ser iniciada
Uma das massas mais versáteis da gastronomia, em temperatura alta (190°C a 205°C) e,
a massa choux é utilizada para vários preparos após os primeiros cinco minutos, a tem-
clássicos da confeitaria. peratura deve ser diminuída para 165°C.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 59

Os clássicos da confeitaria que utilizam a Existem três tipos de merengues, os quais irão
massa choux são: éclairs, carolinas, paris-brests, se diferenciar no modo de preparo e não há
religieuse, profiteroles. variação na proporção entre os ingredientes:
• Merengue francês: as claras são bati-
das na batedeira até atingirem o ponto
de picos firmes. Imediatamente, ainda
com a batedeira em funcionamento, vá
adicionando o açúcar aos poucos. O da-
cquoise, base para muitas sobremesas,
Quando preparada e assada adequada-
mente, a pâte à choux tem uma cor doura-
é um merengue francês, acrescido de
da definida, em virtude da alta proporção farinha de amêndoas.
de ovos. Mesmo quando é assada, essa • Merengue italiano: é feita uma calda
cor não muda drasticamente. Quando é
de açúcar em ponto de fio. A calda,
preparada de modo correto, fica perfei-
tamente seca, sem gotas de umidade dos ainda quente, é adicionada às claras
lados ou em cima, e multiplica várias vezes que estão sendo batidas na batedeira
seu volume original enquanto assa. na velocidade mínima. Após despejar
(Instituto Americano de Culinária) toda a calda, aumentar a velocidade
da batedeira e bater até que a mistura
esfrie por completo.
• Merengue suíço: bate-se levemente a
Cremes e recheios clara com o açúcar. Depois, sobre uma
da confeitaria panela com água, leva-se para cozi-
Tão importantes quanto as massas básicas, nhar, em banho-maria, a mistura, que,
os cremes compõem preparos clássicos da ao mesmo tempo, deve ser batida com
confeitaria. um batedor de arame (fouet) até atingir
uma temperatura entre 45°C e 50°C.
Merengues Em seguida, volte a mistura de claras
É uma mistura constituída por claras e açúcar. e açúcar à batedeira para formar picos
A proporção deve ser de 1 (uma) parte clara firmes. Deve-se tomar o devido cuida-
para 2 (duas) partes de açúcar, por exemplo: do para que não se ultrapasse a tempe-
se utilizar 100 g de claras, deve-se acrescentar ratura indicada, pois, assim, as claras
200 g de açúcar. começam a coagular.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Pâte à bombe baunilha. Por ser de sabor mais suave, não deve
Mistura feita com gemas e calda de açúcar batida ter uma quantidade significativa de açúcar.
na batedeira. Como a pâte à bombe permite aerar,
os preparos têm bases que requerem leveza, Creme Chiboust
como as mousses. Creme delicado que tem como base o creme
de confeiteiro acrescido de gelatina e meren-
Creme de manteiga gue italiano.
Composto por pâte à bombe e manteiga, também
pode haver variações, substituindo a pâte à Creme chantilly
bombe por merengue italiano. Creme de leite fresco batido com açúcar até
formar picos firmes. Para bater o creme chan-
Crème Pâtissière ou creme confeiteiro tilly, o creme de leite deve estar bastante gelado.
Conhecido por ser um creme base para outras Cuidado para não bater além do necessário, pois,
receitas, é composto por leite, gemas, açúcar assim, a gordura do creme de leite começa a se
refinado, farinha de trigo ou amido e fava de desprender, virando manteiga.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 61

Crème fouettée Bavaroise


Muitos confundem esse creme com o creme chan- A bavaroise é feita a partir do creme inglês, acres-
tilly, pois o modo de preparo deles são parecidos. cida de gelatina e crème fouettée.
Porém não adicionamos açúcar a esse creme – que
deve ser batido até formar picos médios. Creme zabaione
É obtido batendo-se gemas, líquido (café, lico-
Crème Légère ou creme diplomata res, vinhos) e açúcar em banho-maria até ficar
Creme confeiteiro acrescido de crème fouettée. bem cremoso.

Creme Mousseline Ganache


Creme de confeiteiro acrescido de manteiga, A ganache é a mistura de creme de leite com
batido até adquirir uma consistência leve. chocolate, podendo também ser saborizada
com purê de frutas, licores, especiarias e ervas
Creme de amêndoas frescas, como hortelã e menta.
Creme feito à base de manteiga, ovos, farinha
de amêndoas. Tudo batido na batedeira. Coulis de frutas
Molho doce, feito a partir de frutas frescas,
Creme de Frangipane acrescido de açúcar ou não, possui textura mais
Esse creme é feito a partir do creme de confei- líquida do que a geleia.
teiro, acrescido de creme de amêndoas.
Creme Caramelo
Crème Anglaise ou creme inglês Creme feito à base de açúcar derretido até o
Também é um creme base para muitos preparos. É ponto desejado do caramelo, em seguida se
mais líquido que os demais cremes e tem como base acrescenta creme de leite; mistura-se até obter
as gemas, creme de leite ou leite e açúcar refinado. um creme homogêneo.
Serve como base para sorvetes, mousses e bavaroise
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 63

Grandes Clássicos
da Confeitaria

Após conhecermos as bases utilizadas na confeitaria, iremos estu-


dar os doces clássicos, que em sua maioria utilizam massas e cremes
básicos em suas composições. A partir deste tópico conheceremos
a elaboração desses clássicos. Além disso, contamos ao final da
unidade com uma receita especial: Entremet de limão, morango e
muffin de castanha de caju, em que você, caro(a) aluno(a), poderá
acessar por meio do aplicativo de leitor QR Code diretamente pelo
seu dispositivo móvel e assistir o passo a passo do preparo. Mire
na imagem e divirta-se!
Confeitaria Clássica e Brasileira

Mousses clientes dessa forma e fizeram muito su-


O termo em francês significa espumosa, aerada. cesso. A sobremesa é composta por massa
São preparações delicadas feitas a partir de um folhada, maçãs caramelizadas
agente aerador, seja ele merengue, pâte à bombe,
zabaione ou creme batido (crème fouettèe). Cheesecake
Além desse agente, outro componente O cheesecake é uma sobremesa de origem
da mousse são os cremes leves, como o purê americana, muito famosa na cidade de Nova
de frutas ou cremes bases. Pode ser utilizada York; é composto por um creme à base de
como sobremesas e recheios. cream cheese (um leve creme de queijo) e
tem como estrutura uma fina camada de
Tarte Tartin massa quebradiça, finalizada com um coulis
Conta a história que essa torta surgiu de ou geleia de frutas vermelhas.
um erro da irmãs Stéphanie e Caroline Hoje, o cheesecake possui várias releituras,
Tatin, em um pequeno hotel. Quando como: cheesecake com calda de damasco, goiabada
Caroline foi tirar a torta de maçãs do forno, e até mesmo maracujá, além de levar na compo-
a sobremesa caiu de cabeça para baixo. sição de seu creme, doce de leite e em algumas
No entanto, as irmãs serviram a torta aos receitas ainda acrescentam creme de avelã.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 65

Mil-folhas Fraisier
Doce aperfeiçoado por Marie Antonin Carême; é Clássica sobremesa de morango, tem em
composto por três camadas de massa folhada inter- sua base genóise, creme mousseline e pasta de
caladas com crème pâtissière e finalizado com açúcar amêndoas (marzipan), decorados com moran-
de confeiteiro, e seu formato tradicional é retan- gos ao redor.
gular. Saldanha (2015, p. 188) nos informa que o
mil-folhas foi aperfeiçoado por Carême – na receita Crème Brûlée
original, de sua autoria, o doce tem 729 camadas de Sobremesa tradicional francesa, o termo brûlée,
massa intercaladas com 729 camadas de manteiga; em francês, significa queimado.
existe um mil-folhas oval, conhecido como Napoleon. A origem do creme brûlée é inten-
samente debatida entre os ingleses,
espanhóis e franceses, todos reivin-
dicam para si a criação desse prato
clássico, um creme suave com açúcar
caramelizado por cima. O creme
brûlée é imprescindível no cardápio
de muitos restaurantes hoje e é apre-
sentado em uma rica variedade de sa-
bores. (SUAS, 2011 p. 289)

A composição do creme é: creme de leite fresco,


fava de baunilha, gemas, ovos e açúcar. Por
ser um preparo delicado, deve ser assado em
banho-maria.
Éclair No momento de servir o creme, pulverize
Conhecida no Brasil como bomba, a éclair é feita uma camada de açúcar sobre o creme e, em se-
a base de pâte à choux, com recheios variados, guida, queime o açúcar com um maçarico.
sendo a mais clássica com recheio de crème pâ-
tissière e também com creme de café. Pavlova
Sobremesa criada em homenagem a bailaria
Entremets Ana Pavlova, é composta por merengue fran-
O termo em francês significa “entre meios”. É cês acrescido de vinagre para que o miolo fique
uma sobremesa composta por vários elementos macio, com recheio de creme diplomata e fina-
com texturas e formatos diferentes. lizada com frutas.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Soufflê
Preparo muito aerado à base de um creme sa-
borizado. Podendo ser chiboust, ganache, purê
de frutas, mas acrescido de claras em neve (in-
dispensável, pois é o agente aerador da receita).
Após assado, deve ser servido imediatamente.
É possível encontrar o soufflê gelado, que tem
como base o merengue italiano.

Saint-honoré
Torta criada pelo confeiteiro francês Chiboust,
em homenagem ao santo padroeiro dos con-
feiteiros, Saint Honoré. A torta é composta
por massa folhada, creme chiboust (que leva o
nome do confeiteiro) e carolinas passadas na
calda de caramelo.

Mont Blanc
Sobremesa feita em homenagem à famosa
montanha Mont Blanc. É composta da seguin-
te forma: base de dacquoise, creme chantilly e
Verrines creme de castanhas portuguesas.
Preparações montadas em copos ou taças. Seu
nome faz referência à palavra francesa “copo”. Bolo ópera
São dispostas em camadas, dessa forma apre- Tem como base o biscuit joconde, creme de
sentando um grande apelo visual. manteiga com café, ganache de chocolate meio
amargo e calda de café.
Charlotte
Sobremesa francesa, à base de biscuits a la Paris-brest
cuillère e recheada por creme bavaroise – algu- Feito por um confeiteiro para homenagear uma
mas receitas substituem o biscuits a la cuillère corrida de bicicleta que ia de Paris à Brest, a so-
por bolacha champanhe. bremesa é um clássico. Feita com pâte à choux e
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 67

recheada com creme de amêndoas, tem o forma- Sfogliatella


to redondo, lembrando a roda de uma bicicleta. Doce italiano tradicional, feito com massa fo-
lhada e recheado com creme de ricota; possui
Macarons formato triangular.
Doce tipicamente francês em formato arre-
dondado à base de merengue francês e farinha Crepes
de amêndoas, sua maior característica são as Massa líquida de preparação descomplicada, à
casquinhas crocantes, coloridas, com recheio base de farinha, ovos, manteiga, açúcar, leite e
cremoso, que pode ser uma ganache saboriza- sal. Seus recheios são variáveis, sendo o Crêpe
da, creme de amêndoas, castanhas, coco, entre Suzette, o mais clássico entre os franceses – com
outros sabores. recheio de laranja, flambado no licor de laranja.

Pithivier
Torta feita de massa folhada, redonda e com as
bordas em formato de conchas, recheada tradi-
cionalmente com creme de amêndoas, porém
já possui variações em seu recheio.

O delicioso doce macaron, uma espécie


de suspiro à base de amêndoas em pó,
crocante por fora e macio por dentro, fez
muito sucesso na corte do rei Luís XVI.
O nome original do docinho era macche-
rone e chegou à França com a comitiva de
Catherine de Médicis, a famosa aristocrata

Petit four florentina que regeu a França no século XVI.

Pequenos doces, biscoitos, recheados ou não, Fonte: Freixa e Chaves (2008, p. 109).

servidos como acompanhamento de um chá


ou café.
Confeitaria Clássica e Brasileira

considerações finais

Prezado(a) aluno(a), com a conclusão da segunda unidade, já foi possível conhecer os


conceitos básicos da confeitaria clássica. Identificar os principais ingredientes utilizados e
suas aplicações, os diferentes tipos de açúcar, assim como os variados tipos de chocolate,
seus “defeitos” e os métodos para evitá-los.
Você pôde perceber que os ingredientes de qualidade são fundamentais para um
preparo de qualidade.
Ao conhecer os utensílios e suas finalidades, esclareceu-se que eles proporcionam
o aperfeiçoamento das técnicas a serem aplicadas.
No decorrer da unidade, foi realizada a compreensão das principais massas da con-
feitaria, a identificação das diferenças entre os três tipos de massas quebradiças (pâte
sucrée, pâte brisée e pâte sablée) e as diferentes massas batidas (aerada e cremosa), massas
líquidas e semilíquidas, bem como seus métodos de preparo. Além disso, possibilitou o
reconhecimento da massa folhada e também a massa choux (pâte à choux).
Estudou-se os cremes clássicos da confeitaria, bem como seus ingredientes e modo
de preparo. Sendo assim, pode-se distinguir com facilidade o creme anglaise do creme de
confeiteiro e principalmente as diferenças do creme chantilly para o creme fouettée – que
são comumente confundidos.
Após tomar conhecimento das bases da confeitaria separadamente, pode-se en-
tender os preparos clássicos que utilizam as massas e os cremes já estudados em sua
composição, como a pavlova (tem como base o merengue francês) e a torta fraisier (que
possui como base a genóise e o creme chiboust).
A seguir iniciaremos nossa terceira e última unidade, que abrangerá os aspectos da
confeitaria brasileira.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 69

de limao, morango e muffin


de castanha de caju
CHEF | L UCA S CORAZZA

Objetivos: Realizar o preparo de uma sobremesa em camadas, bem


como uma glaçagem, com um toque de modernidade.
Metodologia: Confeitaria Moderna
Acesse por meio do aplica-
Tipo de prato: Sobremesa de vitrine tivo de leitor QR Code,
Code dire-
Rendimento: (quantidade / porção): 1 un. tamente do seu dispositivo
Preparo: 8 horas aproximadamente. móvel e assista ao passo a
Utensílios: passo do preparo.
• Forma removível;
• Aro com diâmetro um pouco menor que a forma
(conforme demonstrado em aula);
• Filme plástico;
• Espátula de silicone;
• Panela;
• 2 Espátulas;
• 1 Assadeira;
• Grelha;
• 1 Prato;
• 1 cornet (papel manteiga);
• Bowl;
• Termômetro;
• Mixer;
• Batedeira.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Para o Coulis de morango


120 g de açúcar;
200 g de morango;
10 g de suco de limão;
4 g de gelatina hidratada (4 g gel + 24 g de água).

Para o Muffin de castanha de caju


115 g de farinha de trigo;
165 g de açúcar;
3 g de sal;
8 g de fermento em pó;
50 ml de óleo;
70 g de castanha de caju triturada;
5 claras;
80 g de açúcar;
Gotas de limão.

Para o Mousse de limão


60 g de suco de limão;
25 g de creme de leite fresco;
50 g de manteiga pomada;
40 g de glucose;
2 g de zest de limão;
40 g de açúcar refinado;
4 g de amido de milho;
65 g de ovos (1 ovo);
21 g de mix de gelatina
(3 g gelatina em pó hidratada com 18 g de água);
15 ml de gelatina derretida.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 71

Glaçagem de chocolate branco


150 g de água;
300 g de açúcar refinado;
300 g de glucose de milho;
200 g de leite condensado;
140 g de mix de gelatina (20g de gelatina com 120g de água);
300 g de chocolate branco;
Corante a gosto.

Para o Coulis de morango


1. Pegue o aro sem a parte de baixo. Com um filme plástico cubra
a parte de cima da forma e passe-a sobre o fogo baixo até que
o plástico grude na lateral da forma (conforme demonstrado
na aula conceitual);
2. Em uma panela, leve ao fogo o morango, a água e o açúcar para
cozinhar até que atinja 40oC. Deixe os morangos amolecerem;
3. Desligue o fogo e adicione o suco de limão e a gelatina hidratada
na panela;
4. Despeje dentro da forma removível, já com o filme plástico,
espalhando os ingredientes;
5. Mantenha refrigerado até a hora do uso.

Para o Muffin de castanha de caju


1. Em um bowl, mexa as castanhas de caju, o açúcar, a pitada de
sal e o fermento em pó;
2. Bata as claras em neve com açúcar até atingir o ponto de picos
macios;
3. Adicione suco de limão nas claras;
Confeitaria Clássica e Brasileira

4. Com o auxílio de uma espátula, adicione os secos mexendo


delicadamente, envelopando os ingredientes para não empelotar;
5. Por fim, adicione o óleo, lembrando sempre de mexer debaixo
pra cima para não empelotar as claras;
6. Pegue a assadeira untada com farinha;
7. Espalhe com uma espátula para ficar lisa e uniforme e leve ao
forno pré-aquecido a 170ºC.

Para o preparo do mousse de limão


1. Em uma panela, ao fogo baixo, misture a glucose, o creme de
leite, a manteiga, as raspas da casca de limão e o suco de um
limão (taiti, verde);
2. Coloque o ovo, o açúcar e o amido de milho em outro recipiente,
bem mexidos;
3. Depois que ferver um pouco, despeje a mistura do limão quente
sobre a de ovos, peneirando para remover as zests;
4. Retorne ao fogo e deixe cozinhar por 3 min. até engrossar;
5. Remova do fogo e leve para a batedeira adicionando aos poucos
os 25 g do mix de gelatina.

Montagem do Entremet
1. Bata o creme de leite antes de chegar ao ponto do chantilly;
2. Reservar na geladeira;
3. Desenformar o bolo e retirar as laterais de modo que fique com
aproximadamente 21 cm de diâmetro;
4. Colocar a gelatina derretida no creme de limão. Misturar bem;
5. Forre a forma de fundo removível com filme plástico. Corte as
lateria da massa e coloque dentro da forma forrada de maneira
que haja uma sobra nas laterais;
6. Incorporar o chantily no creme de limão. Espalhar uma parte do
creme na forma, cobrindo a superficie da massa e as laterias;
7. Colocar o coulis de morango congelado;
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 73

8. Encaixe-o e espalhe o restante do mousse de limão em cima


da superfície do coulis de morango;
9. Deixe de 5 a 6 horas no congelador;
10. Depois retire o entremet do congelador e posicione sobre a grelha;
11. Coloque a glaçagem no entremet deixando assentar a calda para
que, em seguida, comece a fazer decoração.
Para a Glaçagem:
1. No fogo, coloque a glucose, o açúcar e a água a 103ºC;
2. Cozinhe misturando e removendo a espuma com a espátula;
3. Adicione o chocolate branco e o leite condensado na calda que
está a 103ºC no fogo;
4. Continue mexendo com o termômetro na medida certa de 103ºC;
5. Despejar a gelatina hidratada no chocolate branco e usar o
mixer para bater tirando as bolhas de ar até deixar homogêneo;
6. Adicionar corante amarelo em uma parte da calda e em outra
a cor verde.
Finalização da decoração
1. Faça a decoração com a glaçagem de cor verde usando o cornet
(ensinado na aula prática).
2. Transfira o entremet para um prato grande, no qual será servido.
3. Decore com morangos e flores comestíveis.

Entremet de limão.
Confeitaria Clássica e Brasileira

leitura complementar

Massa para Pâtisserie


A palavra francesa pâte (massa) é classicamen- amêndoas, especiarias e extratos aromáticos.
te empregada para descrever uma categoria de Normalmente, utiliza-se uma pequena quan-
produtos que são a base de muitas criações tidade de farinha de amêndoas na pâte sucrée
tradicionais e contemporâneas. As massas e na pâte sablée e também fava de baunilha em
são tão importantes que há tradicionalmente vez do extrato para intensificar sabor da massa.
uma seção responsável pela sua produção em A massa de pâtisserie sem açúcar ou neutra
confeitarias ou padarias. Quem trabalha nessa tem uma série de funções e pode ser usada para
seção é conhecido como tourier. Esta é uma salgados e doces. Dependendo do recheio, é
profissão importante, porque o cuidado em melhor que a base não seja tão doce, mesmo
misturar e manusear adequadamente as várias se utilizado um recheio com nível mais acen-
preparações de massas determina definitiva- tuado de doçura. Uma torta de pâte sucrée com
mente a qualidade dos produtos finais de uma recheio de limão, por exemplo, teria um sabor
confeitaria ou padaria. muito diferente se o creme de limão servisse
Há inúmeros tipos diferentes de massas de recheio para uma torta feita de pâte á foncer.
para pâtisserie. Embora cada uma delas tenha Ambas podem ser boas, mas serão notada-
uma textura própria, muitas são feitas com mente diferentes. O equilíbrio do adocicado,
farinha, gordura, açúcar, um líquido, como da maciez, do esfarelado e da crocância são
água, leite e/ou ovos em proporções variadas. aspectos considerados importantes na criação
A textura de cada massa é o resultado dos in- de sobremesas e de pâtisseries.
gredientes usados, da maneira como a gordura A massa folhada é um clássico da pâtisserie
foi incorporada à massa e de quanto o glúten francesa, com uma longa história. Considerando
foi desenvolvido. suas formas mais primitivas, está em evidência
A quantidade de açúcar na massa e sua in- desde o século XV. É uma massa laminada, mas
fluência nos sabores determinam não somente não é considerada tecnicamente viennoisserie. A
sua textura, como também o uso que normal- massa folhada não é fermentada e normalmente
mente se faz dela. não leva açúcar. É considerada enriquecida por
[...] causa da grande quantidade de manteiga usada
As variações no sabor, bem como na tex- para criar as camadas finíssimas de massa, que
tura, podem ser obtidas com o uso de farinhas depois de assadas tornam-se crocantes e leves.

Fonte: Suas (2011, p. 133).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 75

atividades de estudo
1. Descreva o processo de têmpera do chocolate.

2. Explique a diferença entre creme chantilly e creme fouettée.

3. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) e em seguida escolha a alternativa correta:


( ) A composição da ganache é: creme mousseline e chocolate.
( ) As finas camadas da massa folhada se compõem assim devido ao uso de fer-
mento químico no preparo da massa.
( ) O creme chiboust é composto por creme de confeiteiro acrescido de gelatina e
merengue italiano.

a. V- V - V
b. V - F - F
c. F-F-V
d. F - V - V
e. V - V - F
Confeitaria Clássica e Brasileira

material complementar

TÉCNICA DE CONFEITARIA PROFISSIONAL


Mariana Sebess

Editora: Senac Nacional


Sinopse: “Técnicas de Confeitaria Profissional” ensina passo
a passo a preparação de inúmeros doces, tortas, bolos e
cremes, desde as mais tradicionais até as mais sofisticadas
e inovadoras receitas da confeitaria contemporânea.

CHOCOLATE
2001
Sinopse: Vianne Rocher (Juliette Binoche), uma jovem mãe
solteira, e sua filha de seis anos (Victorie Thivisol) resolvem se
mudar para uma cidade rural da França. Lá decidem abrir uma
loja de chocolates que funciona todos os dias da semana,
bem em frente à igreja local, o que atrai a certeza da popu-
lação de que o negócio não vá durar muito tempo. Porém,
aos poucos Vianne consegue persuadir os moradores da
cidade a desfrutar seus deliciosos produtos, transformando
o ceticismo inicial em uma calorosa recepção.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 77

referências
BERGAMO, M. Apostila de confeitaria. São Caetano do Sul, SP: Faenac, 2009.
FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2008.
GISSLEN, W. Panificação e confeitaria profissionais. Barueri, SP: Manole, 2012.
INSTITUTO AMERICANO DE CULINÁRIA. Chef profissional. 2. ed. São Paulo: Senac, 2009.
SALDANHA, R. M. Histórias, lendas e curiosidades da confeitaria e suas receitas. Rio de Janeiro:
Senac nacional, 2015.
SEBESS, M. Técnicas de confeitaria profissional. 2. ed. Rio de Janeiro: Senac, 2010.
SUAS, M. Pâtisserie: abordagem profissional. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

Referências on-line
1
<http://essenciastudio.com.br/a-brevidade-de-uma-madeleine/>. Acesso em: 14 fev. 2016.
Confeitaria Brasileira
CAROLINA CARMONA DIAS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Formação da confeitaria brasileira


• Doces tradicionais
• A valorização da confeitaria brasileira

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer a história e formação da confeitaria brasileira.
• Conhecer, identificar e elaborar doces tradicionais brasileiros.
• Compreender o avanço da confeitaria brasileira, conhecer ingre-
dientes e técnicas aplicadas na confeitaria nacional.
81

Introdução
Prezado(a) aluno(a), após com o estudo acerca da confeitaria clássica e suas bases e técnicas
aplicáveis, será iniciada a última unidade, que tratará sobre a confeitaria brasileira.
Com uma rica formação gastronômica, o Brasil é conhecido como o país da diversidade.
Tendo inicialmente influências indígenas, portuguesas e africanas, nosso país possui uma
cultura miscigenada e, por isso, rico em ingredientes – possuindo muita autenticidade –. São
todas as influências e tradições que o fazem tão único e sublime. Essas características esten-
deram-se também à confeitaria.
Nesta unidade, será descrita a formação da confeitaria brasileira: as grandes influên-
cias que os portugueses e africanos tiveram sobre a nossa confeitaria. Compreenderemos,
também, a história e influência dos doces de mosteiros e conventos; as frutas e ingredientes
incorporados pelos africanos; a importância da grande produção de açúcar no Brasil, a partir
do século XVI, e também da produção cafeeira, a partir do século XIX; veremos que a vinda
dos imigrantes italianos, árabes e alemães para trabalharem nas grandes fazendas de café
trouxeram importantes contribuições para nosso país, entre elas diversos tipos de doces que
foram agregados a nossa cultura.
Estudaremos os doces brasileiros tradicionais, sua história e curiosidades, pois eles revelam
a formação do nosso povo. Do quindim aos doces cristalizados, passando pelas compotas de
frutas e, é claro, o nosso amado brigadeiro.
Após nos deleitarmos nesse incrível mundo doce, concluiremos nossa unidade enfati-
zando a valorização da nossa confeitaria e suas várias vertentes, pois temos ingredientes tão
peculiares, que merecem uma atenção especial. Afinal, são produtos nossos, de qualidade e
devem ser valorizados.
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 83

Formação da
Confeitaria Brasileira

Não há dúvidas de que o brasileiro é um grande apreciador de


doces. Todo esse apreço se deve à influência dos colonizadores
portugueses. Portugal sempre possuiu grande notoriedade nos
doces, caracterizados pelo uso exorbitante de açúcar e, ao chegarem
em solo brasileiro, trouxeram consigo toda essa tradição.
Confeitaria Clássica e Brasileira

O
s mais famosos doces portugueses Os portugueses, ao chegarem ao Brasil,
surgiram nos mosteiros e conventos, viram na cana-de-açúcar uma forma de enri-
onde, a princípio, as claras dos ovos quecimento. Segundo Freixa e Chaves (2008),
eram usadas para clarificar os vinhos para entender o motivo de Portugal ver na
ou, então, engomar os hábitos usados pelas frei- produção de cana-de-açúcar uma forma de en-
ras. Como toda a gema era descartada, as freiras riquecer a Coroa, é importante lembrar que,
passaram a utilizá-las para o preparo de doces. nessa época, o açúcar era considerado espe-
Se analisarmos a composição de inúmeras sobre- ciaria de luxo na Europa.
mesas portuguesas tradicionais, constataremos Com o início das plantações da cana no nor-
a grande quantidade de gemas em seu preparo, deste, o Brasil logo tornou-se o maior produtor
como, por exemplo, os pastéis de nata, clássico mundial de açúcar. Os locais em que eram feitos
da cozinha lusitana, feitos com massa folhada e o plantio, colheita e refino eram chamados de
um creme à base de gemas, leite e açúcar. “engenho”. O dono da fazenda era o senhor do
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 85

engenho. Com o crescimento do plantio da ca- A marmelada, o caju e a goiabada


tornaram­-se, desde os tempos coloniais,
na-de-açúcar e a necessidade de mão de obra,
os grandes doces das casas­-grandes. A
deu-se início ao processo de trazer escravos da banana assada ou frita com canela,
África. A chegada dos africanos ao país também uma das sobremesas mais estimadas
trouxe muitos ingredientes que foram incorpo- nas casas patriarcais, ao lado do mel de
engenho com farinha de mandioca, com
rados as nossas tradições, sendo o coco um dos
cará, com macaxeira; ao lado do sabon-
mais apreciados até hoje. go e do doce de coco verde e mais tarde
A partir das influências portuguesas, indíge- do doce com queijo – combinação tão
saborosamente brasileira. (FREYRE,
nas e africanas, os doces brasileiros começam a
2007 p. 50)
“tomar forma”. A exemplo disso, temos o quin-
dim, feito com gemas (influência portuguesa), Novos produtos começam a chegar ao Brasil.
açúcar e coco (influência africana). Outro doce Ingredientes como amêndoas, nozes, avelãs,
comum até hoje é a rapadura – feito a partir do frutas secas e manteiga passam a fazer parte
melaço extraído do caldo de cana que passava dos hábitos das famílias ricas, sofisticando
por processo de cozimento e resfriamento, tra- seus costumes.
dicional da região nordeste. A partir do século XIX, o Brasil passa por
Freixa e Chaves (2008, p. 182) mencionam um enfraquecimento em sua economia. Freixa
as grandes quantidades de frutas brasileiras, e Chaves (2008, p. 202) mencionam que
como caju, goiaba, mamão, maracujá e abacaxi,
No alvorecer do século XIX, sérias di-
que substituíram as europeias no preparo de ficuldades financeiras caracterizaram
receitas clássicas da doçaria dos conventos, a vida econômica brasileira. O ouro de
como a dos doces cristalizados. As receitas tra- Minas Gerais estava escasseando e o
açúcar não tinha condições de concorrer
dicionais portuguesas, ensinadas pelas sinhás
com os engenhos das Antilhas e de Cuba,
às escravas, eram adaptadas com ingredientes além do que a Europa já produzia açúcar
disponíveis por aqui. Sendo assim, como já era de Beterraba. Nesse momento, apareceu
hábito em Portugal, no Brasil também passou um novo produto de exportação que sus-
tentaria o desenvolvimento do Brasil:
a ser comum o uso de muito açúcar. A farinha
o café. Foi com a riqueza do chamado
de trigo, ainda escassa, era substituída pela
“ouro verde” que a industrialização do
farinha de mandioca – ingrediente genuina- país teve impulso, sobretudo no estado
mente brasileiro. de São Paulo.
Confeitaria Clássica e Brasileira

O café torna-se um produto rentável, prosperan-


do a economia brasileira. Nas fazendas de café
não podia faltar para os barões preparos como
geleia de laranja, bolo de fubá e sequilhos. Nessa
Um dos pontos de encontro dos endinhei-
época, o Brasil recebeu muitos imigrantes para rados na capital brasileira era a Confeitaria
trabalharem nas fazendas de café, entre eles Colombo, toda em estilo art nouveau, um
retrato da Belle Époque carioca. A Colombo
os italianos, alemães e árabes. A partir desse
foi sucesso desde a inauguração, em 1894,
momento, o país obtém novas influências, mis- com seus espelhos belgas, bancadas em
cigenando ainda mais a nossa cultura. Muitos mármore italiano, molduras e vitrines de
doces são trazidos na bagagem dos imigrantes, jacarandá.

como, por exemplo, os folhados com mel (influ- No fim da tarde, mulheres que retorna-
vam das compras ali paravam para tomar
ência dos árabes).
um chá completo, composto de diversos
A maior parte dos imigrantes italianos e tipos de infusões, café, salgados, como a
alemães vão para o sul do país, área ainda pouco coxa creme e o camarão empanado, além
povoada, e levam consigo toda sua bagagem de docinhos, como o pastel de Belém
e o famoso casadinho. Jornalistas, inte-
cultural e costumes.
lectuais, como o político Rui Barbosa,
Ao final do século XIX, muitos negros e artistas, como o poeta Olavo Bilac e
baianos migram para o Rio de Janeiro em o compositor Villa-Lobos, passavam as
tardes em longos debates sobre os mais
busca de empregos e muitas negras, exce-
variados assuntos. Até hoje a Colombo
lentes “quituteiras”, passam a vender pelas mantém seu glamour, e no comando da
ruas da cidade seus quitutes em tabuleiros, cozinha, sempre estiveram chefs de alto
sendo conhecidos, até os dias atuais, como “o gabarito.

tabuleiro da baiana”. Hoje, ao caminhar pelas Fonte: Freixa e Chaves (2008, p. 208).

ruas de Salvador, encontram-se baianas com


tabuleiros, vendendo seus quitutes e, entre
os mais conhecidos, está a cocada.
Ainda nesta época, começam a surgir, nas Já na metade do século XX, houve um au-
cidades do Rio de Janeiro (capital do país, nesse mento no número de confeitarias instaladas
período) e São Paulo, luxuosas casas de chás e pelas ruas das grandes capitais do país, porém
confeitarias – entre essas refinadas confeitarias espaços ainda destinados a quem tinha um
está a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro. maior poder aquisitivo.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 87

A partir da década de 1950, muitos con- registro no Instituto do Patrimônio Histórico e


feiteiros franceses e austríacos vieram para o Artístico Nacional (IPHAN) para tornarem-se
Brasil, difundindo técnicas, como a do creme patrimônio cultural imaterial.
chantilly e da massa folhada.
Hoje, a confeitaria brasileira destaca-se em
vários aspectos, como as doceiras de Goiás.
Na cidade de Goiás Velho, os doces – normal-
mente feitos em tachos de cobre – têm os mais
variados sabores, desde alfenins (doce que leva
As mãos de fada que confeccionam doces
só açúcar, água, limão e polvilho e é utiliza- artesanais com tanto esmero preservam
do para modelar), frutas cristalizadas, doce a memória cultural de Goiás. E têm como
de abóbora, doce de limão recheado e fitas de fonte de inspiração uma de suas repre-
sentantes ilustres, a poetisa Cora Coralina,
mamão verde glaçadas ao famoso pastelinho:
que se julgava mais doceira do que poeta.
uma tortinha com massa quebradiça e recheio De tachos de cobre saem doces de frutas
de doce de leite. cristalizadas, como cajuzinho do cerrado,
e compotas, como a de limãozinho reche-
Outra cidade brasileira que também se des-
ado com doce de leite. Do forno, espe-
taca pela sua doçaria, é a cidade gaúcha chamada cialidades, como o pastelzinho – um tipo
Pelotas. Com receitas herdadas de imigrantes de tortinha de doce de leite –. Moldados
alemães, portugueses, italianos, pomeranos e à mão, um a um, os alfenins (de origem
árabe) são confeitos de açúcar e polvilho
africanos, as doceiras da cidade produzem desde
feitos em formas de bichos e flores. Se este
doces finos a coloniais. A cidade conta com um doce tiver formato de pomba, chama-se
evento anual para promover a cultura local, a Verônica e é moldado para ser distribuído
na festa do Divino.
Feira Nacional do Doce (Fenadoce). São dezeno-
ve dias de feira que ocorrem normalmente no Fonte: Freixa e Chaves (2008, p. 244).

mês de junho. Atualmente, os doces pelotenses


são patrimônio estadual e estão em processo de
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 89

Doces
Tradicionais

Como já estudado, a confeitaria brasileira teve inúmeras influências.


Com uma riqueza de ingredientes, nossos doces foram adaptados
com produtos aqui disponíveis, além de inúmeros preparos que
foram surgindo com o tempo, tornando a confeitaria brasileira tão
única e especial. Ingredientes como a mandioca, o leite de coco, o
coco, o açúcar, o leite e os ovos enriqueceram nossos doces.
Confeitaria Clássica e Brasileira

O primeiro preparo com farinha de trigo foi Bom-bocado


o bolo pão-de-ló, receita tradicional portu- Doce de influência portuguesa, foi adaptado
guesa, que caiu no gosto dos brasileiros e com ingredientes brasileiros. De sua receita ori-
é a base para muitos preparos até hoje. A ginal só sobraram o leite, ovos e o açúcar. Hoje
seguir conheceremos os doces tradicionais é feito à base de leite (às vezes substituído por
da nossa confeitaria. leite de coco), ovos, coco ralado, açúcar, man-
dioca e queijo.
Ambrosia
Doce à base de leite, ovos e açúcar, sobreme- Bolo Souza Leão
sa tradicional portuguesa, muito apreciada Bolo cremoso, tradicional de Pernambuco, reco-
nos estados de Minas Gerais e Rio Grande nhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial
do Sul. de Pernambuco. Atribui-se a receita a Dona Rita
de Cássia Souza Leão Bezerra Cavalcanti, casada
Arroz doce com um coronel, senhor de engenho; é, porém,
Também conhecido como arroz de leite, é um difícil de identificar a receita original, Freyre
doce cremoso, feito à base de arroz, leite ou (2007, p. 60) confirma:
leite de coco e açúcar. Comum nas festividades Consegui várias receitas desse manjar,
juninas, algumas receitas ainda acrescentam mas todas se contradizem, a ponto de
leite condensado ou creme de leite e finalizam me fazerem duvidar da existência de um
bolo Sousa Leão ortodoxo. Consegui­-as
com canela em pó.
quase como quem violasse segredos ma-
Saldanha (2015, p. 43) menciona que o doce çônicos. Também veio parar as minhas
chegou ao Brasil junto com os portugueses, que mãos esta preciosidade: o velho caderno
de receitas do dr. Gerôncio Dias de Arruda
receberam dos árabes, por ocasião da invasão
Falcão, o último senhor do Engenho
da Península Ibérica, em 711, os quais, por sua Noruega. Diante das receitas numerosas
vez, os herdaram dos persas. e contraditórias do bolo Sousa Leão pensei
no que disse uma vez o Anatole: que, em
história, a dúvida começa com a abundân-
Baba de moça
cia dos documentos. Os fatos tranquilos
Uma adaptação do doce português “ovos moles”, são os pobremente documentados.
a baba de moça é à base de leite de coco, gemas
e açúcar. Freyre (2007) menciona que este doce Atualmente, esse bolo é feito à base de massa de
seria o preferido do ex-presidente Juscelino mandioca, açúcar, grande quantidade de gemas
Kubitschek. e leite de coco.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 91

Bolo de rolo base desta receita é mandioca crua, coco ralado,


Também reconhecido como Patrimônio Cultural queijo (de preferência o queijo da serra da ca-
e Imaterial de Pernambuco, é um bolo feito com nastra), açúcar, leite e manteiga.
camadas finíssimas de pão-de-ló e enrolado (é
considerado uma ofensa aos pernambucanos se Brigadeiro
comparado ao rocambole) com recheio de goia- Brigadeiro só existe no Brasil. É uma instituição
bada. Esse bolo foi derivado do bolo português nacional, assim como o futebol, a caipirinha e
conhecido como “colchão de noiva”, porém esse o carnaval (MOTTER, 2010, p. 11).
era recheado com creme de amêndoas. O brigadeiro, doce genuinamente brasilei-
ro, ficou conhecido nas eleições presidenciais
Bolo Mané Pelado em 1945, quando, o então brigadeiro, Eduardo
Bolo repleto de lendas, Galvão (2015, on-line)¹ Gomes se candidatou à presidência. Várias de
conta que: suas eleitoras faziam o doce preferido do can-

A primeira delas explica que o Mané, didato para arrecadar fundos para a campanha
por puro exibicionismo, ou até mesmo – um doce até então desconhecido por muitos,
loucura, colhia mandioca pelado. Outros que levou o nome de brigadeiro –. Eduardo
dizem que era por conta do calor, ou para
Gomes perdeu a disputa eleitoral, porém o do-
não sujar a roupa de terra.
cinho caiu no gosto de todos.
Outro causo conta que o Mané andava
de olho em uma vizinha que morava so- Diz a lenda que, antes de se chamar
zinha, e fazia muitas propostas indeco- brigadeiro, o docinho de leite conden-
rosas para a moça. No dia do aniversário sado, chocolate, manteiga e gemas tinha
do Mané, a fim de se vingar, convidou outro nome: negrinho. Tudo indica que
toda a família do rapaz e, dizendo ser ele teria sido inventado no Rio Grande
uma festa surpresa, escondeu o povo do Sul, possivelmente por uma dona
todo no seu quarto. Quando o capiau de casa muito loira que achou exótica a
chegou, avisou que iria até o quarto se cútis marronzinha do doce. Os gaúchos,
arrumar e assim que estivesse pronta ao que parece, não fizeram muita festa
o chamaria. Depois de um tempo lá foi para o chocólatra Eduardo Gomes. O
o Mané, PELADO, no quarto em que Rio Grande do Sul é o único estado do
sua família o aguardava com um bolo de Brasil que ainda chama o brigadeiro de
aipim para cantar os parabéns. negrinho. (MOTTER, 2010, p. 10)

O fato é que o bolo é uma tradição brasileira, Os ingredientes desse doce tão amado pelos
principalmente nos estados de Minas Gerais brasileiros são: chocolate em pó, manteiga e, o
e Goiás, principalmente em datas festivas. A principal deles, o leite condensado.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Cartola
Considerado Patrimônio Cultural Imaterial
do Estado de Pernambuco, seus ingredien-
tes são a banana madura, queijo manteiga,
Os primeiros carregamentos de leite
condensado chegaram ao Brasil a partir açúcar e canela.
de 1890 e inicialmente eram utilizados
Originária das casas-grandes dos enge-
apenas como bebida. O “leite milkmaid”,
nhos, sua receita é resultado da mistura
que ninguém conseguia pronunciar direi-
de ingredientes, técnicas e hábitos cul-
to, acabou sendo chamado de “o leite da
turais dos colonizadores portugueses,
moça”, porque na embalagem havia a figura
dos indígenas que aqui viviam e dos
de uma vendedora de leite. Tempos depois,
escravos africanos, uma mostra da
após campanhas de reposicionamento do
miscigenação dos três principais povos
produto, o leite condensado chegou à co-
que formaram a cultura do Nordeste
zinha como ingrediente para o preparo
do Brasil.
de doces. O alimento ganhou, então, uma
força extraordinária entre as donas de casa, [...]
transformando-se em um produto indis- É provável que o nome Cartola seja
pensável nos lares brasileiros. por causa do seu formato alto, pela
Em 1921, a Nestlé iniciou no Brasil a pro-
superposição de camadas de banana
dução do leite condensado (mais tarde co-
e queijo, além da cor escura devido à
nhecido oficialmente como “Leite Moça”).
canela. (GASPAR, 2012, on-line)³
A paixão nacional pelos doces, herdada
dos portugueses, acabou por transformar
o “Leite Moça” em um dos produtos mais Cocada
populares e conhecidos pelos brasileiros, Doce típico brasileiro, famoso por estar pre-
assim como o brigadeiro. sente nos “tabuleiros das baianas”, tradicio-
Fonte: Galvão (2015, on-line)². nalmente feito a base do coco fresco ralado,
acrescido de açúcar e água. Hoje possui inú-
meras receitas, entre elas a cocada com gemas,
cocada com leite condensado, cocada preta,
Canjica cocada baiana, entre outras.
Canjica para os sulistas, mugunzá para os A cocada é o doce do povo, é o doce pa-
nordestinos, sobremesa feita à base de leite, triótico e democrático, e é a sobremesa
dos pobres e, além disto, tem a particula-
açúcar, coco ralado e milho branco; doce
ridade de excitar o prazer de se beber um
comum nas festividades junina, havendo va- bom copo de água fresca [...] (CASCUDO,
riações no seu preparo. 2004, p. 614).
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 93
Confeitaria Clássica e Brasileira

Compotas nas festividades juninas, em várias regiões do


Doce feito à base de frutas e açúcar, comum Brasil. Em alguns lugares no Brasil, paçoca é um
desde a época do Brasil Colônia. Freyre (2007) prato salgado de origem indígena.
menciona diversos tipos de compotas comuns
à época, entre elas: compota de cidra, melão, Papo de anjo
abacaxi, laranja e caju. Há uma infinidade de Doce típico português, originário das Ilhas dos
receitas para este doce, as compotas são muito Açores. Foi produzido por freiras nos conventos
comuns no estado de Minas Gerais. e é composto por gemas e açúcar – acompanha
uma calda aromatizada com rum e especiarias.
Cuca
Com textura próxima a um bolo, a cuca é Pé de moleque
um doce típico alemão, muito consumido Doce genuinamente brasileiro, criado com ingre-
no estado do Rio Grande do Sul – à base de dientes acessíveis, à base de rapadura ou caramelo
manteiga, farinha de trigo, ovos e fermento e amendoim. Presente nas festividades juninas.
biológico –. É finalizada com uma massa que-
bradiça adocicada. Possui inúmeras variações Quindim
em suas receitas. Doce criado em terras brasileiras, porém com
forte influência portuguesa, feito à base de
Doce de leite gemas, açúcar, manteiga e coco. Seu nome é
Doce à base de leite e açúcar, normalmente feito de um dialeto africano, que significa “dengo”,
em tachos – comum na região de Minas Gerais, “encanto”. Podemos perceber que o quindim
onde é encontrado puro, com coco e ameixa e reflete bem a miscigenação brasileira, com seu
pode ser cremoso ou de corte –. É muito utili- nome africano e sua base portuguesa – além de
zado em sobremesas tradicionais. Esse doce não ser um doce típico brasileiro.
é uma exclusividade brasileira, também é um
doce comum na Argentina e Uruguai, porém as Queijadinha
texturas e características se diferem. Doce de origem portuguesa, porém ao chegar ao
Brasil o queijo foi substituído por coco ralado.
Paçoca de amendoim Embora seu nome faça referência ao uso do
Doce feito à base de amendoim, farinha de queijo, somente algumas receitas fazem a utili-
mandioca e açúcar. Faz parte da alimentação zação de queijo. Doce muito apreciado na região
caipira do estado de São Paulo. Está presente centro-oeste.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 95

Toucinho do céu da mandioca), é um doce sutil na quantidade


Doce de tradição portuguesa, originário dos de açúcar, sobressaindo o sabor do vinho tinto.
conventos. Com formato redondo de torta, é O sagu de vinho é como um caviar doce,
um doce cremoso, feito à base de farinha de cheio bolinhas púrpuras, monocromá-
amêndoas, gemas, farinha de trigo e açúcar. No tico, de sabor intenso, porém delicado,
com gosto firme e bem definido. O sagu é
Brasil, muitas receitas substituem as amêndoas aquele tipo de iguaria que não deixa dúvi-
por castanhas de caju ou castanhas do Brasil. das, sabemos do que é feita e ponto final.
Não há a necessidade de fechar os olhos
para buscar na nossa memória gustativa
Sagu os ingredientes que entram nessa receita.
Sobremesa tradicional do Rio Grande do Sul, por Mas se fechá-los, mesmo a distância o
influência dos imigrantes italianos. Feito com aroma é inconfundível. E, num primei-
ro olhar, na primeira colherada ele nos
vinho tinto, açúcar, especiarias (cravo e canela) e remete imediatamente ao gosto da uva e
sagu (bolinhas brancas, produzidas com o amido do vinho tinto. (PECCINI, 2007, on-line)4

Como se pode perceber, em várias receitas,


o uso do leite de coco é muito comum.
Para melhorar a qualidade dos doces, faça
você mesmo seu próprio leite de coco, além
de ser mais saboroso, é muito prático. Você
só precisará de:
• 200 gramas de coco fresco ralado.
• 240 ml de água (pode ser a água do
próprio coco).
No liquidificador, bata o coco com a água,
em seguida, passe o suco para um musseli-
ne (pano fino) e esprema bem para extrair
todo o líquido. Utilize o leite para as recei-
tas e aproveite o bagaço para fazer doces.
Confeitaria Clássica e Brasileira
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 97

A Valorização da
Confeitaria Brasileira

Assim como a nossa gastronomia, a confeitaria brasileira é


rica e extraordinária. Os mais variados doces e ingredientes
são encontrados de norte a sul do país. Atualmente, muitos
chefs de cozinha e confeiteiros levantam a bandeira por uma
valorização da nossa gastronomia, ações de grande valia, para
que nosso país seja reconhecido internacionalmente pelos ex-
celentes produtos aqui encontrados.
Confeitaria Clássica e Brasileira

Durante a década de 1970 e 1980, muitos chefs Ao invés de usar ingredientes de outros
de cozinha europeia vieram para o Brasil para li- países nos preparos de doces, você pode subs-
derar as cozinhas de restaurantes internacionais tituir por ingredientes próprios do Brasil.
e hotéis, entre eles estavam: Laurent Suaudeau, Trocar a farinha de amêndoas do macaron, por
Claude Troisgros, Emanuel Bassoleil e Erick exemplo, por farinha de castanha do Brasil;
Jacquin. Aqui, eles perceberam o quão variada substituir frutas importadas, como a frambo-
e rica era a nossa culinária. A vinda desses chefs esa e a cereja, por frutas nossas. Nosso país
ao Brasil contribuiu para uma maior valorização possui uma enorme variedade de frutas, do
da nossa gastronomia, pois eles aliavam técnicas qual na maioria das vezes não conhecemos
da gastronomia internacional a ingredientes nem 80% dos tipos.
típicos do nosso país.
Toda essa contribuição teve reflexos na nossa Ingredientes brasileiros
confeitaria. Muitos grandes chefs confeiteiros Nosso país é riquíssimo em ingredientes e
brasileiros valorizam a nossa confeitaria, respei- frutas nativas, com sabores peculiares e tão sa-
tando nossas raízes e utilizando somente ingre- borosos como as encontradas em outros países.
dientes brasileiros. Grandes exemplos são os chefs Barreto (2008, p. 171) afirma que, seguramen-
Flávio Frederico e Diego Lozano, que preparam te, o Brasil possui uma das maiores variedades
receitas da confeitaria clássica com um toque bem de frutas do hemisfério. Sua superfície e sua
brasileiro. Das cozinhas deles já saíram macarons diversidade climática, além de características
de cupuaçu, rapadura e butiá, éclairs de açaí, ca- do solo, permitem cultivar praticamente todos
rolinas de cajá, entre outros doces. os tipos de fruta.
É claro que unir técnicas francesas com Você já ouviu falar da “baunilha da
ingredientes brasileiros não representa a nossa Amazônia”, conhecida como cumaru? As favas
confeitaria. A confeitaria brasileira é formada de cumaru foram descobertas por chefs brasilei-
por doces tradicionais do nosso país, como já ros há pouco tempo. Muito utilizada na perfu-
mencionados anteriormente, mas é possível maria, seu manuseio requer alguns cuidados,
valorizar nossos ingredientes utilizando técnicas pois assim como algumas especiarias se usada
estrangeiras, trazendo uma característica mais em exagero pode ser tóxica. Em reportagem, a
brasileira aos preparos clássicos. revista “Prazeres da Mesa” informa que:
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 99

É novidade, tem potencial, mas não


dá para sair usando só porque está nos estados de Minas Gerais, Bahia, Alagoas,
na moda. Tanta preocupação tem Pernambuco e Sergipe. O sabor do licuri remete
explicação: a semente é fonte de cuma- à mistura de coco com castanha, podendo ser
rina e, Segundo a Embrapa, 1 grama
dessa substância pode ser tóxica e can-
o substituto desses ingredientes em receitas.
cerígena. 'Por isso, pesquisar, antes de Quando retirada a casca, a amêndoa pode ser
usar qualquer produto desconhecido, é consumida in natura, também podem ser tor-
tão importante', afirma o chef [Thiago
radas e moídas, produzindo a farinha do licuri
Castanho, do restaurante “Remanso do
Peixe”, em Belém], apressando-se em – excelente para o preparo de bolos, biscoitos,
dizer que isso não é motivo para taxá-lo cremes, entre outros preparos.
de nocivo. “Até o cravo-da-índia, o anis- O Buriti, palmeira originária do cerrado bra-
-estrelado e a canela, dependendo da
sileiro, em algumas regiões recebe o nome de
quantidade, passam de erva a veneno.”
Só não se pode exagerar na quantidade. Muriti. Sua polpa é utilizada para o preparo de
(ROCHA, 2009, on-line)5 doces, sorvetes e cremes com sabores fascinantes.
Outra palmeira que rende excelentes frutos
Outro ingrediente em potencial é a baunilha do é o Butiá. Nativa do sul do país, seus frutos são
cerrado. Maior que a baunilha tradicional, aroma amarelos, parecidos com coquinhos. A polpa é
e sabor mais complexos – já está sendo utilizada utilizada para o preparo de doces, licores, vi-
por muitos chefs de cozinha, principalmente nagre e também um tipo de “vinho” de Butiá.
pelos que chefiam as cozinhas de restaurantes Fruta da região nordeste, o cajá possui casca
em Brasília. lisa e cor amarelada; pode ser utilizado fresco,
A priprioca, planta local da Amazônia, é no preparo de sorvetes e doces e depois de fer-
utilizada em larga escala na indústria de cos- mentado torna-se um ótimo licor.
mético. Porém, a raiz da planta é a parte que Grumixama é uma árvore nativa da nossa
utiliza-se na gastronomia. Muitos chefs usam mata Atlântica, com frutinhas que podem ser
a raiz da priprioca para fazer infusões e, em se- pretas, vermelhas ou amarelas. Sua polpa é
guida, utilizam essas infusões para recheios. Seu utilizada para o preparo de geleias, doces,
modo de aplicação é parecido com o da baunilha. cremes e sorvetes.
Licuri, também conhecido como coco- A mangaba, pequeno fruto da mangabeiro,
-cabeçudo, é a amêndoa do fruto de uma pal- produzida na região nordeste, pode ser consu-
meira típica do nosso país. São encontradas mida como fruta de mesa, em sorvetes, doces
Confeitaria Clássica e Brasileira

e geleias. Também é muito utilizada para o pre- Esses são alguns exemplos de frutas bra-
paro de licor. Por ser muito refrescante, é muito sileiras. Existe uma infinidade delas, como
utilizada no preparo de sucos. os mais conhecidos: cupuaçu, açaí e gabiro-
A uvaia é uma fruta amarela, proveniente ba – que podemos substituir pelas frutas es-
da região sul do país, apresenta polpa suculenta, trangeiras e passar a valorizar mais os nossos
ideal para o preparo de doces, cremes, sorvetes, ingredientes –. Barreto (2008, p. 171) faz a
entre outras sobremesas. seguinte observação:

Vale a pena visitar os mercados e feiras livres das cidades do Norte e Nordeste e conhecer a
enorme diversidade que possuímos. Infelizmente, algumas são extremamente perecíveis e não
suportam deslocamentos; a solução é substitui-las pelas polpas; outras são consideradas por
demais populares para constar no cardápio de um restaurante.
Outro aspecto a considerar é o excessivo valor dado às frutas estrangeiras, em detrimento das nossas.

Ao contrário do que muitos acreditam, não há excelente qualidade – ainda estamos contribuindo
nenhuma dificuldade em utilizar ingredientes para o desenvolvimento econômico de diversas
brasileiros. Muito pelo contrário, além de estar famílias brasileiras, que fazem da produção e co-
valorizando nossa terra – nossos produtos são de mercialização desses produtos fonte de renda.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 101

considerações finais
Caro(a) aluno(a), com o encerramento da terceira unidade você pode estudar
a formação da confeitaria brasileira e todas as influências que contribuíram
para a sua formação. Possibilitou-se, também, compreender o quanto nossos
doces são miscigenados e como a nossa cultura doceira é rica, assim como
tantos outros aspectos do Brasil.
O que torna a confeitaria, assim como a gastronomia brasileira, fantás-
tica é a diversidade encontrada de norte a sul do país. Diferentes tipos de
ingredientes, com influências indígenas, portuguesas, africanas, italianas,
alemãs e várias outras etnias que contribuíram para a formação da história
do nosso país.
A partir do século XX, foi possível perceber que as confeitarias e casas
de chás multiplicaram-se pelas grandes cidades do Brasil; a vinda de con-
feiteiros estrangeiros trouxe o uso de novas técnicas, difundindo, aqui, a
confeitaria internacional.
Você pôde conhecer a história e algumas curiosidades de tantos doces que
nos agradam. Vimos que alguns deles são considerados Patrimônio Cultural
Imaterial de alguns estados, bem como a contribuição que eles tiveram para
a formação da nossa cultura, e também conhecemos as cidades que possuem
grandes tradições doceiras em nosso país.
A partir do último tópico você pôde analisar e perceber que a gastronomia
e, consequentemente, a confeitaria brasileira estão passando por um processo
de mudança. Chefs e confeiteiros tentam difundir a gastronomia brasileira
internacionalmente, sobretudo, estão almejando que os brasileiros sejam
capazes de valorizar e apreciar mais o que é nosso.
Assim, finalizamos a última unidade, com a qual se pôde estudar e com-
preender um pouco mais da história da confeitaria brasileira – e perceber a
importância sociocultural atrelada a ela.
Confeitaria Clássica e Brasileira

leitura complementar

Comentários do autor sobre depoimentos


de estrangeiros acerca de frutas e doces do Brasil.
Em meados do século XIX, James Wetherell, que foi vice c­ ônsul de Sua Majestade Britânica
(na Bahia e na Paraíba), anotava – em cartas de considerável interesse sociológico (além
de histórico) – sobre o Brasil a voga dos doces de frutas agrestes – Stray notes from Bahia
(Liverpool, 1860).
Da pitanga – “ácida e levemente amarga, muito agradável ao paladar” – informa que
se fazia excelente (most excellent) geleia. Costume que desapareceu dos hábitos doceiros
da região. Também de pitanga se faziam no Nordeste “pudins e tortas [...] compotas”.
Outra voga que desapareceu dos costumes doceiros da região.
Do “araçá­guaçu”, era costume – que também declinaria – fazer­-se doce: “for making
doce”. Quanto ao maracujá – o açu –, registra Wetherell que, segundo soube, era “ótimo
quando cortado em pedaços e usado como fruta nas tortas”. Outro costume da primeira
metade do século passado que não foi conservado nem desenvolvido no país.
Outro registro de Wetherell de interesse para a história e para a sociologia do doce
no Brasil – particularmente o doce do Nordeste –: a muita exportação que então se fazia
da rapadura, do mesmo Nordeste, para as “províncias do Sul do Império”. Além do quê,
sob a forma de garapa, a rapadura era no Nordeste açucareiro – o de numerosa população
escrava – a delícia dos negros.
Do mamão, escreve no seu livro – hoje raríssimo – o observador inglês – particu-
larmente familiarizado com a Bahia e com a Paraíba – ser “delicioso [...] dá excelentes
tortas quando verde”. Utilização, essa, do mamão ainda verde na doçaria do Nordeste,
que não se desenvolveu. Ao contrário: declinou.
Quanto à banana, informa que era, então, “um grande item da dieta, cru, frito, em
tortas e doces [...]”.
Do abacate: “[...] quando devidamente misturado com açúcar e vinho, ou suco de
limão, dá um ótimo creme, de sabor extremamente delicado [...]”.
Quanto ao milho: “Fazem um prato muito gostoso de milho chamado ‘canjica’”. Dá-se
a seguinte receita: “[...] simplesmente moendo o milho e misturando a gosto a farinha
com açúcar e especiarias, cozinhando a massa no leite; quando frio, parece uma geleia
e é delicioso quando comido como mingau ou assado, da maneira como preparamos o
pudim”. Refere-se à canjica à moda do Nordeste.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 103

leitura complementar
Do abacaxi, registra Wetherell que o fato de o de Pernambuco ser fresco, superior
ao da Bahia, não acrescenta qualquer informação sobre a sua utilização como compota
ou refresco. Omissão que não se explica.
Das freiras – a presença das freiras no desenvolvimento da arte brasileira, em geral,
nordestina, em particular, do doce, merece estudo especializado, ao mesmo tempo de
história, de sociologia e também de psicologia – confirma que eram, então, no Nordeste
do Brasil, “grandes fazedoras de doces, assim como de compotas, frutas secas etc.”.
Faziam, por encomenda, “os mais elaborados tipos de confeitos [...]”. Inclusive: “Pratos
com variada ornamentação para centro de mesa e sobremesas são lindamente monta-
dos”. Mais: “O papel, cortado com tesoura, é muito empregado para decorar os pratos.
Alguns adornos são elaboradíssimos e, dada a finura do papel, deve ser difícil cortá-lo.
Vi belos exemplares de variadíssimos modelos com o nome de uma pessoa cortado no
meio, entre os arabescos de outras figuras e ornamentos”. Pormenores interessantes,
estes, para a história do enfeite de doces e de bolos, no Brasil, com papel rendilhado:
toda uma arte em si.
Grande a voga dos “suspiros” no Brasil do meado do século XIX observado pelo inglês
Wetherell: “[...] um belo tipo de doce [...]”. Deles informa que, muito frágeis e sem valor
nutritivo, seu gosto era, entretanto, “very delicious [...]”. Mais: “[...] nos feriados há grande
demanda destes por parte dos vendedores de doces”. Outro pormenor interessante, este,
para o folclore do doce no Brasil: o dos suspiros terem sido, no século XIX, uma espécie
de doce polivalente para os dias santos ou de festas.
Alguns anos antes de Wetherell, o francês Ferdinand Denis, no seu Brésil (Paris,
1739), observara a frequência, no Brasil de então, como sobremesa de “arroz-doce frio
polvilhado de canela” e do que chamou “pudim de laranja”. Mas sem deixar de registrar
“a reconhecida habilidade de certos conventos na arte de inventar novas confeituras,
todo esse luxo de doces, que outrora maravilhava os estrangeiros”; e de como que la-
mentar que essa originalidade brasileira, essa capacidade inventiva dos brasileiros na
arte do doce, estivesse sendo prejudicada pela presença, pode­se dizer – em comentário
a Denis – que descaracterizadora, dos “confeiteiros franceses e italianos”. Sobretudo com
relação a sorvetes, sem que, entretanto – novo comentário a Denis –, as frutas tropicais
brasileiras deixassem de resistir, desde aqueles dias, a essa descaracterização no setor
dos gelados, para acabarem triunfando na composição dos mesmos sorvetes.
Confeitaria Clássica e Brasileira

leitura complementar

Destaca-se que Denis também se refere à perícia das freiras brasileiras do meado do
século XIX como “inventoras” de doces e bolos – inventoras ou inovadoras nesse setor
e não conservadoras puras e simples de preciosas heranças que foram principalmente
elas que trouxeram da Europa.
Contribuíram assim, pela sua atividade como em laboratórios bem equipados de
matéria-prima, como ovos, leite, quer de vaca, quer de coco, frutas, cravo, canelas,
vinhos, farinhas, açúcar, como eram então alguns dos conventos, para a especialidade
em que a doçaria se constituiu dentro da cultura brasileira. Contribuição valiosíssima foi
a dessas religiosas – umas por vocação, outras por imposição de suas famílias – para o
desenvolvimento, no Brasil, especialmente no Nordeste, de uma arte do doce que antes
das afirmações literárias dos José de Alencar, na prosa, dos Gonçalves Dias, na poesia,
dos Carlos Gomes, na música, definiram­se como expressão da capacidade brasileira para,
em setor, delicado como o da culinária, inventar, inovar, criar, ou recriar, valendo­se as
inventoras de matéria prima brasileira ou tropical e combinando-a com tradições ibé-
ricas ou europeias. Teve assim o seu lazer ou ócio de religiosas uma expressão criadora
valiosa para a cultura brasileira.

Fonte: Freyre (2007, p. 110).


GASTRONOMIA • UNICESUMAR 105

atividades de estudo
1. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) e em seguida assinale a alternativa correta:
( ) A confeitaria brasileira teve influências apenas dos portugueses e africanos.
( ) A doçaria portuguesa influenciou de maneira significativa na nossa confeitaria.
( ) Um ícone da confeitaria brasileira, até hoje, são os tabuleiros das baianas,
encontrados principalmente pelas ruas da cidade de Salvador.
a. F - V - F
b. V - F - F
c. V-V-V
d. F - V - V
e. F - F - F

2. Assinale a resposta correta:


a. O brigadeiro, doce americano, chegou com os imigrantes ao Brasil.
b. O bolo de rolo é um rocambole, típico do Rio Grande do Sul.
c. O bolo Souza Leão tem como ingrediente principal a mandioca e é um bolo de
origem pernambucana.
d. A paçoca de amendoim é um doce típico português, preparado com amendoim,
ovos e açúcar.

3. Descreva três ingredientes típicos brasileiros e sua utilização na confeitaria.


Confeitaria Clássica e Brasileira

material complementar

AÇÚCAR - UMA SOCIOLOGIA DO DOCE, COM


RECEITAS DE BOLOS DO NORDESTE DO BRASIL
Gilberto Freyre

Editora: Global
Sinopse: Em seu “Manifesto Regionalista” (1926), Gilberto
Freyre chamava antecipadamente a atenção para a estética
e as tradições regionais de doces e bolos. Em “Casa-grande
& senzala” (1933), explicitou a importância das influên-
cias portuguesa, indígena e africana, para a formação dessa
nossa culinária. Em “Açúcar” (1939), finalmente, completa
sua obra nesse campo, recolhendo e valorizando receitas
regionais que “se mantiveram em segredo pelas mulheres
como tesouros precisos”.

HISTÓRIAS, LENDAS E CURIOSIDADES DA


CONFEITARIA E SUAS RECEITAS
Roberta Malta Saldanha

Editora: Senac, Rj
Sinopse: Leve, alegre e interessante como o premiado
“Histórias, lendas e curiosidades da gastronomia”, esta obra
reúne textos que revelam a origem e as particularidades
de diversas receitas da confeitaria. Nesta nova incursão no
mundo da gastronomia, Roberta Malta Saldanha revela que
por trás de cada história há uma receita, e por trás de cada
receita, uma história. É a gastronomia brasileira que, com a
chegada dos chefs franceses e a abertura do mercado para as
importações, sofre mudanças e precisa se valorizar. Com esses e muitos
outros fatos combinados às suas próprias receitas, bem como às de
família, de amigos, de profissionais e do dia a dia, em “Histórias, lendas
e curiosidades da confeitaria e suas receitas” a autora comprova a posi-
ção de destaque do açúcar na sociedade e proporciona uma agradável
viagem à história da confeitaria nas mais diferentes épocas e países.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 107

referências
BARRETO, R. L. P. Passaporte para o sabor. São Paulo, 2008.
CASCUDO, L. da C. História da alimentação no Brasil. 3. ed. São Paulo: Global, 2004.
FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Senac
Nacional, 2008.
FREYRE, G. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos do nordeste do Brasil.
São Paulo: Global, 2007.
SALDANHA, R. M. Histórias, lendas e curiosidades da confeitaria e suas receitas. Rio
de Janeiro: Senac nacional, 2015.
MOTTER, J. O livro do brigadeiro. São Paulo: Panda Books, 2010.

Referências on-line:

1
<http://essenciastudio.com.br/mane-e-quem-confunde-com-manue-a-lenda-do-bo-
lo-mane-pelado/>. Acesso em: 8 fev. 2016.
2
<http://essenciastudio.com.br/quando-o-leite-condensado-virou-brigadeiro-uma-his-
toria-do-doce-mais-famoso-do-brasil/>. Acesso em: 5 fev. 2016.
3
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&-
view=article&id=898:cartola-culinaria&catid=38:letra-c>. Acesso em: 10 fev. 2016.
4
<http://www.historiadaalimentacao.ufpr.br/artigos/Artigos_PDF/Sagu.pdf>. Acesso
em: 11 fev. 2016.
5
<http://prazeresdamesa.uol.com.br/cheiro-da-selva/>. Acesso em: 11 fev. 2016.
Confeitaria Clássica e Brasileira

UNIDADE 1
gabarito

1. B
2. B
3. A

UNIDADE 2
1. O primeiro passo para uma têmpera de qualidade é o derretimento do chocolate. O chocolate é um pro-
duto delicado e, sobretudo nesta etapa, requer um cuidado especial. É possível realizar o derretimento
em banho-maria ou micro-ondas. Caso opte pelo método em banho-maria, deve-se tomar um cuidado
especial para que a água do recipiente ou o vapor não entre em contato com o chocolate, pois esse
contato causa uma reação chamada seizing, transformando-o numa pasta. Se utilizar o micro-ondas para
derretê-lo, a potência do equipamento deve ser diminuída, e a cada 30 segundos o chocolate deve ser
misturado até ficar totalmente líquido. Em ambos os processos, é essencial que o chocolate esteja com
temperatura entre 45°C a 50°C. Se exceder essa temperatura, ele sofre um superaquecimento, modifi-
cando seu sabor e sua textura.
Após o derretimento o chocolate deve estabilizar os cristais da manteiga de cacau, resfriando a tempe-
ratura indicada, o chocolate branco deve ser resfriado a 27°C, o ao leite 28°C e o meio amargo a 29°C.
2. Ambos são elaborados a base de creme de leite fresco e posteriormente batidos, porém o creme chan-
tilly é acrescido de açúcar e seu ponto é mais firme que o creme fouetée, que é feito somente à base de
creme de leite sem acréscimo de açúcar e seu batimento é mais rápido, pois sua textura é mais cremosa.
3. C.

UNIDADE 3
1. D
2. C
3. Licuri, também conhecido como coco-cabeçudo, é a amêndoa do fruto de uma palmeira típica do nosso
país; seu sabor remete à mistura de coco com castanha, podendo ser o substituto desses ingredientes
no preparo de doces.
Baunilha do cerrado, ingrediente genuinamente brasileiro, pode substituir a baunilha tradicional em
preparos, como cremes clássicos e outros doces.
Cupuaçu, fruta de sabor marcante, muito utilizada na região norte do país, é um excelente ingrediente
para preparar cremes, flans e pudins, e também sorvetes.
GASTRONOMIA • UNICESUMAR 109

Conclusão
Prezado(a) aluno(a), é com grande satisfação, que finalizamos o material de
confeitaria clássica e brasileira. Por meio deste exemplar você pode conhecer
mais uma vertente da gastronomia.
Foi possível tomar conhecimento sobre toda a história que envolve a
confeitaria, as descobertas de ingredientes que hoje são de uso fundamental,
entre eles o açúcar. Pudemos perceber toda a influência francesa nessa arte e
os grandes chefs que marcaram história.
Após esse estudo feito sobre a história que influenciou a confeitaria
clássica, analisamos também a confeitaria contemporânea, suas inovações,
aplicações de ingredientes ainda desconhecidos à gastronomia, a revolução
tecnológica em equipamentos para cozinha, otimizando, padronizando e
aperfeiçoando as preparações.
Aprendemos a função de cada ingrediente usado na confeitaria e a sua
melhor utilização, assim como suas funções. Ao aprofundarmo-nos no assunto
referente às bases clássicas da confeitaria, estudando massas, técnicas aplicadas
e ingredientes, você já consegue diferenciar todos os tipos de massas bases,
bem como os cremes clássicos e suas aplicações. Ainda com relação à confeitaria
clássica, reconhecemos os grandes preparos em que são utilizadas as bases
clássicas estudadas, acompanhadas dos cremes clássicos; verificamos também
como se dá a composição de uma mousse e tantos outros preparos clássicos.
Após conhecermos as técnicas clássicas, pudemos percorrer a história
da confeitaria brasileira e perceber o quão diversificada e surpreendente é a
nossa confeitaria, nossos doces, assim como nossos ingredientes. Já que co-
nhecemos melhor nossas sobremesas e produtos, somos capazes de valorizar
ainda mais a nossa confeitaria.
Agora, aluno(a), basta colocar em prática todos os ensinamentos descritos
neste material. Torço para que você tenha apreciado as páginas discorridas
sobre essa arte que tanto me agrada. Desejo muito sucesso a você, aluno(a),
nessa nova empreitada profissional.

Você também pode gostar