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DESIGN DO

PRODUTO

PROFESSORA
Me. Sabrina Giselle Levinton
DESIGN DO PRODUTO

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


LEVINTON, Sabrina Giselle.
Design do Produto. Sabrina Giselle Levinton.
Maringá - PR.:UniCesumar, 2017.
136 p.
“Graduação em Design - EaD”.
1. Design. 2. Produto. 3. Ambientes Residenciais EaD. I. Título.

CDD - 22ª Ed. 728


CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza – CRB-8 - 6828

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha,
Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos
Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento
Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli, Gerência
de Produção de Conteúdo Juliano de Souza, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila
de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Sandra Franchini, Projeto Gráfico José Jhonny
Coelho, Editoração José Jhonny Coelho, Designer Educacional Isabela Agulhon, Lideranças de
área Angelita Brandão, Daniel Fuverki Hey e Hellyery Agda, Revisão Textual Kaio Vinicius Cardoso
Gomes, Ilustração Bruno Pardinho e Marta Kakitani, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande as demandas institucionais e sociais; a realização
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, de uma prática acadêmica que contribua para o
informação, conhecimento de qualidade, novas desenvolvimento da consciência social e política e, por
habilidades para liderança e solução de problemas fim, a democratização do conhecimento acadêmico
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência com a articulação e a integração com a sociedade.
no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: ser reconhecida como uma instituição universitária
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará de referência regional e nacional pela qualidade
grande diferença no futuro. e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume competências institucionais para o desenvolvimento
o compromisso de democratizar o conhecimento por de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos universitária; qualidade da oferta dos ensinos
brasileiros. presencial e a distância; bem-estar e satisfação da
No cumprimento de sua missão – “promover a comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica
educação de qualidade nas diferentes áreas do e administrativa; compromisso social de inclusão;
conhecimento, formando profissionais cidadãos que processos de cooperação e parceria com o mundo
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade do trabalho, como também pelo compromisso
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar e relacionamento permanente com os egressos,
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com incentivando a educação continuada.
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Diretoria Operacional de Ensino

Fabrício Lazilha
Diretoria de Planejamento de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível crescimento e construção do conhecimento deve
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores

Sabrina Giselle Levinton


Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (2015) seguindo
a linha de pesquisa Empreendedorismo, Inovação e Mercado. Especialista em
Criação e Produção de Moda pela Universidade do Estado de Santa Catarina
(2006). Graduação em Desenho Industrial - Projeto de Produto pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (2002). Possui aperfeiçoamento em Coolhunting
and Fashion Trends pelo Istituto Europeo Di Design, IED, Barcelona/Espanha
(2008). Atualmente é Analista de Negócio e Docente no SENAI Maringá. Trabalha
com desenvolvimento de consultoria em Gestão do Design, Desenvolvimento
de Produto, Planejamento e Desenvolvimento de Coleção e Coolhunting - Pes-
quisa de Tendências, além de ministrar disciplinas relacionadas à pesquisa e
desenvolvimento de moda.

<http://lattes.cnpq.br/1376813249141536>.
apresentação

Olá aluno(a)! bem vindo(a) ao mundo da Moda! Não é por acaso que, quando nos referimos
à essa área, falamos em “mundo”, isso porque lidamos com uma infinidade de situações,
processos e profissionais de várias áreas de conhecimento diferentes. Ao longo deste livro
você entenderá esse argumento e perceberá que desenvolver uma coleção de moda requer
muito mais conhecimento do que simplesmente ser criativo.
Este livro está dividido em cinco Unidades, cada qual com um conhecimento diferente e que
juntas, ao final, irão possibilitar a você desenvolver a capacidade de pesquisar e interpretar
os direcionamentos de moda com o intuito de organizar, planejar e desenvolver uma coleção
de moda direcionada para um determinado público-alvo. A seguir apresentamos o que você
irá estudar em cada Unidade.
Na Unidade I estaremos dentro do universo da pesquisa de moda. Nesta Unidade apren-
deremos a observar e organizar o que nos inspira, e também como interpretar os diferentes
níveis de uma tendência e qual a sua função. Uma pesquisa de moda bem feita é o primeiro
passo para um desenvolvimento produtivo e criativo de uma coleção.
Na Unidade II iremos aprender a planejar e estruturar uma coleção de moda. Antes de sair
por aí desenhando sem nenhuma referência ou direcionamento, é necessário estabelecer
parâmetros para a coleção. Assim, definir um prazo, orçamento e etapas para o desenvolvi-
mento competem à geração de um cronograma de desenvolvimento de coleção, definição
das cores e matérias-primas que serão utilizadas e quais as peças e o perfil delas em relação
ao público-alvo.
Na Unidade III abordaremos como direcionar o processo criativo de uma maneira assertiva
a partir da análise de venda de coleções anteriores, da estruturação de família de peças para
otimização de tecidos e, principalmente, estampas e como esse processo pode colaborar
ainda na criação de um portfólio de moda para o estilista/designer de moda.
Na Unidade IV faremos o acompanhamento de uma coleção por meio dos registros necessá-
rios para que as peças sejam produzidas corretamente, saberemos o que observar e analisar
durante uma prova de roupas com a peça piloto e aprenderemos também alguns possíveis
direcionamentos de mercado que uma coleção pode se enquadrar.
Por fim, na Unidade V, veremos estratégias de aproveitamento de materiais e coleções pas-
sadas, assim como conectarmos informações conceituais e inspiracionais de uma coleção
para outra.
Esperamos que aproveite ao máximo o conteúdo desta disciplina e que coloque em prática
os direcionamentos aqui apresentados para que o desenvolvimento de sua coleção tenha um
bom embasamento, tanto teórico quanto prático, ao ser lançada no mercado.

Ótimos estudos!
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
UNIVERSO DA PESQUISA GERENCIANDO E APROVANDO
DE MODA UMA COLEÇÃO DE MODA
14 COMO REALIZAR UMA PESQUISA DE MODA 90 GERANDO DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA
20 O QUE SÃO TENDÊNCIAS E QUAL A SUA 94 PROVA DE ROUPA E APROVAÇÃO DE
FUNÇÃO COLEÇÃO
24 COMO GERAR PAINÉIS ORGANIZATIVOS 98 DEFINIÇÕES MERCADOLÓGICAS E COMERCI-
E FINAIS DE MODA AIS DE UMA COLEÇÃO DESENVOLVENDO UMA
EXTENSÃO DE COLEÇÃO DE MODA
UNIDADE II
PLANEJANDO E ESTRUTURANDO UNIDADE V
UMA COLEÇÃO DE MODA DESENVOLVENDO UMA EXTENSÃO
42 COMO PLANEJAR E ORGANIZAR UM CRO- DE COLEÇÃO DE MODA
NOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE 116 GERANDO CONEXÕES ENTRE COLEÇÕES
COLEÇÃO
120 CUSTOMIZAÇÃO, UPCYCLING E DOWNCYCLING
46 DEFININDO ORÇAMENTO, CARTELA DE
CORES, MATERIAIS E ESTILO DA COLEÇÃO 124 DEFINIÇÕES MERCADOLÓGICAS E COMERCI-
AIS DE UMA EXTENSÃO DE COLEÇÃO
50 MIX DE MODA E MIX DE PRODUTOS DE UMA
COLEÇÃO

UNIDADE III
UNIVERSO CRIATIVO
E CRIAÇÃO DE MODA
68 UTILIZANDO INFORMAÇÕES DE COLEÇÕES
PRÉVIAS
72 CRIAÇÃO DE PEÇAS E FAMÍLIAS DE MODA
76 DESENVOLVIMENTO DE PORTFÓLIO DA
COLEÇÃO
UNIVERSO DA
PESQUISA DE MODA

Professor Me. Marcelo Cristian Vieira


Professora Me. Sabrina Giselle Levinton
Professora Esp. Ednar Rafaela Mieko Shimohigashi

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta Unidade:
• Como realizar uma pesquisa de moda
• O que são tendências e qual a sua função
• Como gerar painéis organizativos e finais de moda

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar os direcionamentos de estilo e comportamento que
influenciam a moda.
• Compreender a origem das informações e direcionamentos
associados às tendências.
• Organizar e selecionar as informações coletadas de uma pesquisa
de moda.
unidade

I
INTRODUÇÃO

Olá, seja bem-vindo(a) aluno(a)! Nesta Unidade daremos início às pri-


meiras atividades que correspondem a observar, compreender, selecio-
nar e interpretar as informações sobre moda, tendências e estilos. Iremos
aprender a realizar a pesquisa de moda de forma correta, produtiva e
coerente com o perfil do público alvo e do segmento selecionado pela
empresa, além de conhecer quais são as técnicas utilizadas pelos coolhun-
ters, profissionais especializados na observação e predição de tendên-
cias, para auxiliar no processo do entendimento dos direcionamentos da
moda. A pesquisa de moda é o primeiro passo para o desenvolvimento
de um produto ou coleção e, muitas vezes, é uma atividade constante de
um departamento em uma empresa. Veremos também, de onde vêm e
qual a função das tendências de moda para o desenvolvimento de uma
coleção e aprenderemos como utilizar esses direcionamentos de maneira
assertiva no desenvolvimento da coleção. Tão importante quanto realizar
uma pesquisa de moda correta é analisar, selecionar e filtrar as informa-
ções coletadas para, então, construir o conceito da coleção. Esse conceito,
caro(a) aluno(a), veremos detalhadamente como deve ser realizado por
meio da geração de painéis organizativos da pesquisa e painel conceitu-
al da coleção. Uma pesquisa de moda bem feita fornece todas as infor-
mações necessárias para o desenvolvimento de uma coleção de moda.
Quanto maior o número de informações, melhor é o processo de seleção,
porém, é preciso coerência na busca e muita atenção durante a escolha
e combinações das informações coletadas. Definir as fontes de pesquisa
também faz parte da organização dessa etapa, a qual deve ser planejada
e contemplada no cronograma de desenvolvimento de coleção para que
tenha um prazo final para acontecer e dar início, então, a próxima etapa,
o desenvolvimento. Portanto, nesta Unidade, aprenderemos a pesqui-
sar, organizar e selecionar as informações coletadas de uma pesquisa de
moda. Bons estudos!
DESIGN DO PRODUTO

COMO REALIZAR UMA


PESQUISA DE MODA
A pesquisa de moda é um processo contínuo uma registrar dados, além de, depois de coletadas, inter-
vez que há diariamente modificações no mercado e pretar e adaptar as informações à coleção. Conforme
lançamento de tecnologias que alteram as tendên- Sant’Anna e Barros (2010) argumentam, a pesquisa
cias de moda, além de ser uma etapa importante de tendências de moda é importante, uma vez que a
para que o designer possa desenvolver seu trabalho, inovação dos produtos de moda é direcionada pelas
de forma a criar uma coleção coerente com os dire- oportunidades de mercado em que as empresas ne-
cionamentos de estilo da temporada, mas também cessitam desenvolver produtos que os consumidores
que converse com seu público-alvo (TREPTOW, não só desejem, mas que também os adquiram, ou
2003). A pesquisa consiste em observar, consultar e seja, não ficando somente no patamar da admiração

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DESIGN

das criações ou coleções. “Desta forma, a pesquisa profunda sobre qual o tipo de tendência artesanal e,
de tendência é informação estratégica para os pro- também, poderá fazer uma pesquisa regional, para
cessos criativos de toda a cadeia produtiva de moda” verificar se há algum processo específico em sua
(SANT’ANNA; BARROS, 2010, p. 2). região que possa valorizar por meio da coleção. O
Diferentes tipos de pesquisa possibilitam dife- quadro a seguir apresenta os tipos de pesquisas que
rentes tipos de informações, assim o designer deve podem ser realizadas e qual o seu objetivo, porém,
identificar quais são as modalidades que lhe interes- não há uma obrigatoriedade de que todas as opções
sa, conforme o segmento, produto ou público que sejam utilizadas. Mais uma vez é preciso entender
deseja atuar. Imagine que uma das tendências que que o designer de moda deve saber quais são os ti-
estão em voga têm referências artesanais, automa- pos de pesquisa que deve desenvolver para o sucesso
ticamente o designer deverá fazer uma busca mais de sua coleção.

Tipo de Pesquisa Objetivo

Acompanhar hábitos de consumo e preferências de de-


Pesquisa de
terminado perfil da população, normalmente está ligado
comportamento
ao público-alvo da marca.

Verificar marcas concorrentes ou inspiracionais e suas


Pesquisa
estratégias em relação a produto, preço e mecanismos
de Mercado
de promoção.

Identificar direcionamentos para a estação propostos


Pesquisa
por órgãos especializados, feiras e outros designers/
de Tendências
marcas em relação a cores, tecidos e estilo.

Acompanhar lançamentos de tecnologias, maquinários


Pesquisa
ou processos que auxiliem a criação ou produção da
Tecnológica
coleção.

Pesquisa de Identificar processos ou matéria-prima que possa dife-


Vocações Regionais renciar a coleção por meio de técnicas alternativas.

Após definição do tema para a coleção, realizar levanta-


Pesquisa de
mento das informações que serão inspiracionais, como
Tema de Coleção
arquitetura, música, indumentária etc.

Quadro 1 - Tipos de pesquisa e seus objetivos


Fonte: adaptado de Treptow (2003, p. 78).

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DESIGN DO PRODUTO

SAIBA MAIS
Embora o designer deva selecionar quais os tipos
de pesquisa são importantes de serem realizadas, a
O benchmarking é um processo de pesquisa pesquisa de tendências precisa ser feita a cada mu-
que auxilia os profissionais de uma empre- dança de estação ou de ciclo de produto, pois é a que
sa ligados ao mercado a compararem: a) os
produtos oferecidos no mercado; b) as prá- oferece informações quanto às cores, formas e maté-
ticas empresariais definidas; c) os serviços ria-prima. Viajar, ir a exposições, frequentar lugares
oferecidos; d) as estratégias de comunicação culturalmente ativos, feiras, mostras e museus, ler
e/ou e) as metodologias utilizadas por outras
empresas, sendo estas, concorrentes diretas jornais e revistas sobre cotidiano e publicações espe-
ou indiretas com o intuito de aproveitar uma cíficas sobre desfiles e lançamentos de moda, além
informação ou estratégia que possibilite o seu de acompanhar as marcas nacionais e internacio-
crescimento ou melhoria. Existem vários tipos
de benchmarking que podem ser desenvolvi- nais, fazem parte das atividades para identificação
dos sempre com o objetivo de aumentar a de tendências.
competitividade da empresa que o desenvol-
Assim, com tantas opções de locais e atividades,
ve. Para saber mais sobre benchmarking e co-
nhecer as técnicas utilizadas pelas empresas Liger (2012) sugere que algumas etapas devem ser
para executá-lo, acesse o link disponível em: seguidas para que o processo seja facilitado. O qua-
<https://endeavor.org.br/benchmarking/>.
dro a seguir apresenta a sequência de etapas a serem
Acesso em: 18 out. 2016.
desenvolvidas na pesquisa de tendências.
Fonte: adaptado de ENDEAVOR (2015).

Etapas Objetivo

Selecionar quais jornais, revis-


tas, publicações e sites sobre
Definir as fontes
política, economia, moda, de-
da pesquisa
sign (nacionais e internacionais)
será feita a pesquisa.
Selecionar dados de curto, mé-
Coletar dados
dio e longo prazo.
Algumas tendências têm caráter
Conceituar a mais comportamental, é preciso
leitura em relação verificar qual o posicionamento
a tendências da população em relação a esse
tema.
Filtrar Identificar quais tendências de
informações para fato podem ser utilizadas para o
o público-alvo público-alvo da marca.
Utilização das informações
Aplicação filtradas da pesquisa servirão de
da pesquisa direcionamento para a concei-
tuação da coleção.
Quadro 2 - Etapas da pesquisa de tendências
Fonte: adaptado de Liger (2012, p.93).

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DESIGN

Todos os dados relacionados à pesquisa ser-


Seguindo as etapas sugeridas por Liger (2012), o vem como base conceitual de uma coleção
processo de pesquisa e organização das informações que corresponde ao target e esteja dentro do
pode ser inserido e planejado em um cronograma que está em destaque. Mas, quando a coleção
- o cronograma de desenvolvimento de coleção. As é criada, o tema é uma inspiração do estilista
e a tendência, nesse caso, funciona como base
principais ferramentas para a pesquisa de moda são norteadora. O estilista deve saber qual a ten-
uma máquina fotográfica e um caderno de anotações dência que se adapta às suas escolhas (LIGER,
ou tablete para as pesquisas de rua ou criar algumas 2012, p. 94).
pastas no computador para pesquisar digitais.
Cada designer ou estilista desenvolve suas pró- Como visto no início deste tópico, a pesquisa de
prias ferramentas, alguns preferem ainda o sistema moda engloba uma série de atividades e característi-
manual de ilustração e anotações e outros optam cas organizativas para que seja realizada da maneira
pela organização virtual. Independente das ferra- correta. Alguns profissionais se especializam em ob-
mentas, a pesquisa de moda é parte integrante do servar o mercado, pessoas, comportamentos e apre-
desenvolvimento de uma coleção e precisa ser estru- sentar possíveis direcionamentos às empresas que
turada de forma correta e eficiente. têm interesse em lançar produtos inovativos ou são
É muito importante entender como a pesquisa de as empresas que participam do lançamento de novas
moda auxilia no desenvolvimento da coleção. Duran- tendências, como produtores têxteis ou estamparias,
te a fase da concepção, é necessário já ter claramente esses profissionais são chamados de coolhunters, ex-
as informações e direcionamentos que podem ser uti- plicitamente seriam em português os “caçadores de
lizados e os que não há necessidade de inserir. tendências ou de coisas "legais".

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DESIGN DO PRODUTO

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DESIGN

O termo coolhunting surgiu no início dos anos teor de qualidade ou informação já proces-
90 e se utiliza de áreas de conhecimento como sada, mas sim, na popularização no sentido
psicologia evolutiva, antropologia, sociologia, que as tendências devem ser de fácil acesso,
pesquisa e etnografia. “Coolhunting é um termo facilmente compreensíveis, baratas e atrati-
do mundo do marketing que se refere à predição vas. Como exemplo em produtos podemos
de futuras tendências e mudanças no consumo” citar o pendrives e em serviços a compra via
(RIEZU, 2009, p. 6). internet.
Embora seja uma área de especialização comple- 3. A tendência é visível em mais de um lugar?
xa e externa ao processo de planejamento e desen- Se surgem indicações de determinada ten-
volvimento de coleção, até porque o objetivo final dência em mais de um lugar, por meio de de
não é a criação de uma coleção em si, como é o obje- diferentes segmentos ou indústrias, a ten-
tivo do designer, podemos aproveitar algumas técni- dência tem grande chance de se tornar uma
cas utilizadas pelos coolhunters para melhor realizar confirmação.
a pesquisa de moda para uma coleção e identificar
com maior facilidade alguns direcionamentos. “A As tendências são normalmente consideradas como
chave do coolhunting é buscar pessoas ‘cool’ primei- sequenciais ou lineares, o que nem sempre ocorre,
ro, e encontrar coisas ‘cool’ depois” (RIEZU, 2009, uma vez que o mercado pode sofrer variações inespe-
p. 15), ou seja, a comunicação e as tendências são radas. Assim, a pesquisa de moda, deve contemplar
sempre sobre pessoas, os produtos e serviços gera- essa imprevisibilidade também, ou seja, um direcio-
dos pela relação das pessoas é uma consequência. namento pode não se confirmar da maneira em que
Um dos pontos mais importantes que pode ser está sendo apresentado graficamente em um palestra,
utilizado durante uma pesquisa de moda é o ques- por exemplo, assim, vale a sensorialidade utilizada
tionamento. O coolhunter não aceita simplesmente pelos coolhunters para auxiliar a interpretação das
uma informação e, isso colabora com a percepção se pesquisas. A seguir, veremos com maior profundida-
é realmente uma tendência ou um fad, por exemplo. de sobre a origem e função das tendências.
Assim, três perguntas são úteis para serem realiza-
das quando de frente a uma possível tendência:
1. Quem está por detrás desta tendência? – quais
são os fundamentos sólidos que sustentam es-
sas tendências, como uma pessoa importante REFLITA
da música, um setor representativo como o de
alimentos ou farmacêutico, uma indústria re- A cada pouco tempo, uma novidade anula a
conhecida por ser inovadora etc. anterior sem que exista uma mediação entre
2. Quais são as possibilidade de acesso ao elas de causa nem relação visível ou razoável
entre elas.
mainstream (mercado de massa)? Aqui não
nos referimos como “mercado de massa” o (Maria Domínguez Riezu)

mercado de populares, no sentido de baixo

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DESIGN DO PRODUTO

O QUE SÃO TENDÊNCIAS


E QUAL A SUA FUNÇÃO
Antes de tudo, é preciso deixar claro que tendências çar tendências a cada estação” (SORGER; UDALE,
não são regras, são direcionamentos e, enquanto su- 2009, p. 16).
gestões de caminhos, podem sofrer alterações antes A pesquisa de tendências está baseada na bus-
de suas confirmações acontecerem ou simplesmente ca de informações quanto a padrões de comporta-
deixar de existir. Assim começa o trabalho do desig- mento, materiais e aviamentos. Isso porque as ten-
ner de moda, desenvolvendo sua pesquisa de moda dências oferecem indicativos para as cores, texturas
por meio do conhecimento das tendências para a es- e modelos da estação a que se referem, e os forne-
tação que pretende criar a coleção. “A moda move- cedores de matéria-prima, aviamentos e estampa-
-se rapidamente em comparação a outras indústrias rias já desenvolvem suas coleções considerando os
criativas e isso reflete na pressão constante para lan- direcionamentos apontados pelas tendências. Nes-

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DESIGN

sa etapa da pesquisa é importante identificar quais tineiras do nosso dia a dia, mudanças sociais e de
as tendências, o que está disponível para aquisição, comportamento, por exemplo. As macrotendências
quem vende ou fabrica e qual o custo disso para a podem ser identificadas nas mudanças políticas e
coleção, para que possa ser aproveitado (SORGER; novas tecnologias e tem duração de uma a duas dé-
UDALE, 2009). cadas; já as megatendências costumam durar mais
Para Liger (2012), existem três patamares da de duas décadas e podem ser identificadas por
tendência. O primeiro deles se refere à observação meio das mudanças na arquitetura e urbanização,
de movimentos da sociedade em vários âmbitos por exemplo, assim como comportamentos e po-
como econômico, social e comportamento, e esses sicionamentos ideológicos (LINDKVIST, 2010). A
movimentos são traduzidos em conceitos para que fad, ou moda passageira,
fabricantes de matéria-prima, aviamentos ou benefi- como o nome já indica,
ciamentos desenvolvam seus produtos. tem um tempo de duração
O segundo patamar considerado por Liger muito curto, são voláteis e
(2012) sugere que a tendência é proposta pelos es- surgem espontaneamen-
tilistas e designers de grandes marcas que utilizam te, normalmente estão
as informações do primeiro patamar e desenvolvem ligadas diretamente às ce-
suas coleções propondo o estilo para a determinada lebridades ou pessoas de
estação. E, por último, fazem parte do terceiro pata- grande alcance midiático
mar os produtos que resultam das informações dos e sua popularidade está
dois patamares anteriores e já foram confirmados ligada aos elementos que
por outras marcas e aceitos pelo público em geral. a tornam atraente ao pú-
Cada tipo de tendência têm durações diferen- blico (RIEZU, 2009).
tes. Podemos falar de tendências de moda, mas
também existem as macrotendências, as megaten- REFLITA
dências e o fad. Uma tendência de moda é um dire-
cionamento que pode durar até cinco anos e indica
Para compreender melhor as tendências e
a roupa que vestimos, os gadgets e as expressões de criar produtos de moda, é preciso ter uma
linguagem, por exemplo, que utilizamos (LINDK- boa cultura geral. No entanto, não me refiro
VIST, 2010). Essas tendem a mudar de estação para somente ao conhecimento contemporâneo,
refiro-me também a conhecer o passado.
estação.
As macrotendências e megatendências têm re- (Ilce Liger)

lação com a observação de mudanças, além das ro-

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DESIGN DO PRODUTO

A moda e as tendências estão ligadas à sazona- SAIBA MAIS


lidade ou algum aspecto temporal, portanto, pode-
mos dizer que acontecem em ciclos, desde sua as- Um exemplo é a tendência pesquisada pela
censão até o seu declínio. Conforme o perfil do ciclo, Lineapelle (feira italiana do setor de couro,
ele pode sofrer variações de duração, ou seja, alguns sintéticos, tecidos, componentes e modelos
para calçados, roupa de couro e decoração)
estilos duram mais tempo e outros popularizam e na passagem do novo milênio, quando foi si-
deixam de existir rapidamente. A Figura 1 apresenta nalizada uma sensação geral de temor, o que
um esquema da duração dos ciclos. refletia uma necessidade social de proteção
(cocconing). Essa sensação foi traduzida na
aplicação de materiais “protetores” (explo-
ração sensorial e não somente estética da
matéria) que transmitissem sensações de
prazer e segurança, como couros macios
ou materiais com acabamentos em película
Pico Pico protetora. Esse discurso vale também para
as cores ligadas às percepções sensoriais
De
clín
io Clássico en
são baseadas nas estações de referência e em
são

Asc
De

períodos históricos: um momento particu-


cen

clín

lar ligado à ecologia e aos bioaspectos, por


As

io

Modismo
exemplo, possivelmente terá predominân-
cia de cores da natureza com variedades de
verde e marrom.
Figura 1 - Comparação de Ciclos
Fonte: adaptado de Frings (2012). Fonte: Liger (2012).

Estilos considerados clássicos dificilmente saem de


moda ou são considerados ultrapassados, uma vez Já os estilos considerados como modismo são itens
que mantém uma informação estrutural ou concei- que podem influenciar um grupo de consumidores,
tual relativamente simples que permite ser repro- têm forte informação estrutural e são rapidamente
duzida em qualquer período ou não gera nenhum aceitos e rejeitados pelo mercado. Como exemplo de
tipo de interferência no estilo contemporâneo. Um modismo podemos citar o calçado chamado sneaker
exemplo que podemos citar é a calça jeans. com salto, popularizado entre 2012 e 2013.

22
DESIGN

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DESIGN DO PRODUTO

COMO GERAR
PAINÉIS ORGANIZATIVOS
E FINAIS DE MODA
Antes de se gerar um painel é preciso organizar e filtrar coleção, inclusive, na definição temática e conceitual.
as informações coletadas na pesquisa de moda, como Pode-se chamar de painel organizativo, um pai-
já estudamos anteriormente. Após selecionar efetiva- nel não muito utilizado, mas que pode facilitar o
mente quais direcionamentos e estilos gostaríamos de processo da interpretação da pesquisa de moda re-
utilizar na coleção, passamos a estruturar painéis, fí- alizada anteriormente. Graficamente, ele possibilita
sicos ou virtuais, com tais informações. Visualmente a visualização das principais características de uma
é uma ferramenta muito importante pois possibilita tendência de moda. A figura 2 apresenta a divisão de
uma visão holística das principais referências de uma campos de um painel organizativo.

24
DESIGN

Principais Modelagens/ Principais Cores e


Tendência
Formas Materiais

Figura 2 - Divisão de campos de um painel organizativo


Fonte: a autora.

O primeiro campo, o da “Tendência”, refere-se às fio condutor entre as peças e as tendências, ou seja, é
imagens e/ou textos sobre determinada tendência de o tema que permite a reunião das informações para
moda, pode-se inclusive colocar um painel semânti- que o contexto artístico permita o surgimento de
co da própria tendência caso ele já exista. Nos segun- uma coleção, caso contrário, teremos um amonto-
do e terceiro campos são desmembradas as principais ado de peças que seguem tendências de moda, mas
informações sobre modelagens, cores e materiais ou que se comunicam entre si. Portanto, não podem ser
matérias-primas que essa tendência engloba. Nesse definidas como uma coleção.
espaço, podem ser colocadas imagens ou fotos de Para escolher o tema de uma coleção, designers
desfiles que utilizaram essa tendência ou desenhos podem utilizar meios diferentes de inspiração. Pode
de peças de vitrines e estampas que personifiquem ser por meio de “um conceito abstrato por meio da
a tendência estudada. Esse estilo de painel é muito roupa (por exemplo ‘isolamento’), enquanto outros
prático para traduzir fisicamente informações das escolhem trabalhar com um enfoque mais visual
tendências e visualizar, por exemplo, quais marcas e (como ‘o circo’)” (SORGER; UDALE, 2009, p. 18). In-
como estas traduziram a tendência para sua coleção. dependente de qual tipo de inspiração o designer uti-
A etapa do desenvolvimento de uma coleção liza, o tema deve ser algo familiar ou de interesse do
contempla duas situações que podem acontecer si- profissional, ou seja, o tema precisa inspirar o estilista!
multaneamente ou sequencialmente. Ou o designer Utilizar uma tendência de moda como tema da co-
define o tema de sua coleção enquanto ainda está fi- leção é possível desde que esta se conecte com as outras
nalizando a pesquisa de moda e por consequência, tendências. Seguir somente uma tendência de moda
selecionando quais tendências de moda irá utilizar, ipsis litteris ao que foi apresentado em uma feira ou
ou ele define a temática após escolher as tendências. caderno de tendências não necessariamente define sua
O tema ou conceito de uma coleção tem uma função coleção como criativa, já que somente reproduz infor-
estratégica para o desenvolvimento das peças. Ele é o mações de uso comum e acessíveis a todas as marcas.

25
DESIGN DO PRODUTO

Alguns estilistas, com o intuito de diferenciar ou dei- Normalmente o painel conceitual é uma estrutu-
xar a coleção exclusiva, utilizam como temática algu- ra em forma de quadro que apresenta colagens, ima-
ma viagem que fizeram, seja de férias ou como pesqui- gens, desenhos e todas as informações pertinentes
sa de moda. Sua vivência e suas recordações, pessoais, ao tema escolhido, pode ser feito digitalmente tam-
sensoriais e fotográficas servem de material para o de- bém. Essa estrutura serve de apoio não só para que o
senvolvimento de modelagens, cartela de cores e mate- estilista respeite as seleções feitas previamente e não
riais e estampas. A marca brasileira Osklen, por exem- insira outros temas ou direcionamentos que não fo-
plo, definiu como seu tema para o Verão 2016/2017 ram contemplados na definição temática, mas tam-
uma história baseada em uma ilha imaginária baseada bém como fonte gráfica e visual para apresentações
em um dos últimos lugares visitados pelo estilista da em reuniões com o marketing ou com fornecedores
marca, Oskar Metsavaht, em que um casal cosmopo- de estampas ou tecidos, por exemplo. A figura 3 re-
lita se refugia (VASONE, 2016)2. Outros designers já presenta um painel conceitual. “Os tecidos e a cor
preferem selecionar algum movimento artístico ou neste painel de inspiração são baseados nas imagens
personalidade do momento. Após definido o tema e ao fundo; a imagem aquática evoca tecidos transpa-
as tendências, cria-se o painel conceitual. rentes e fluidos. O broche de plumas sugere cores
Também chamado de painel de inspiração ou pai- fragmentadas e um desenho de poás” (SORGER;
nel temático, o painel conceitual é uma extensão do UDALE, 2009, p. 26).
que foi visto durante a pesquisa de moda, porém já No painel conceitual ficam, então, registradas
com os filtros do que realmente será utilizado para a as informações que nortearão a coleção, sejam elas
coleção que pretende ser lançada. Muitas informações em cores, texturas, efeitos, temas e tendências. Mas
resultantes da pesquisa não acabam sendo aproveita- como unir tendências e tema? Como visto anterior-
das e, portanto, não participam do painel conceitual. mente, o tema é o fio condutor da coleção, é ele que
une, conceitualmente, as peças. Hoje, a moda nos
proporciona uma série de direcionamentos e um
estilista pode escolher um ou vários para usar em
sua coleção, portanto, a primeira etapa é selecionar
quais tendências farão parte da coleção. Na sequên-
cia, devemos interpretar as tendências e dividir as
informações, primeiramente, em “modelagens”, “co-
res”, “materiais” e “efeitos”. É uma análise estrutural
da tendência e permite visualizar objetivamente o
que e como será inserido na coleção.
Uma vez “traduzidas” as tendências, verificamos
qual a relação com o tema e como podemos inserir,
por exemplo, na cartela de cores alguma tonalidade
Figura 3 - Painel conceitual
que remeta ao conceito ou um efeito de modelagem,
Fonte: Sorger e Udale (2009). sem comprometer a coleção. Na figura 3, percebe-

26
DESIGN

mos que a explicação dos tecidos estava diretamente Não existe uma forma específica de que a conexão
ligada à proposta de fluidez que a imagem remetia. entre as tendências e o tema ocorra, por isso muitos
O mesmo pensamento deve ser adotado ao transpor estilistas têm dificuldade em trabalhar com as infor-
características do tema à coleção. Por exemplo, uma mações juntas. Porém, a prática deve ser realizada e
peça pode seguir os direcionamentos quanto à mo- mais importante ainda é que o tema seja de uma área
delagem da tendência, mas ser confeccionada com de interesse do criador. Isso porque um tema de co-
um tecido estampado personalizado que tem rela- nhecimento do estilista pode ser melhor aproveitado,
ção com o tema. Podemos também imaginar que a uma vez que há o conhecimento específico sobre ele;
matéria-prima da coleção se refere a uma tendência assim, mais detalhes podem ser aproveitados para de-
de moda com características minimalistas e o tema senvolvimento de peças, efeitos e estilos na coleção.
da coleção é “arquitetura moderna”. Então, a mode- Ao contrário, se um tema for desconhecido, pode ser
lagem das peças remeterá ao tema. que a coleção seja superficial em seu aproveitamento.

SAIBA MAIS

A estilista mineira Patricia Motta é reco-


nhecida por desenvolver suas criações em
couro e em entrevista para o site Fashion
Foward (2014, on-line)3, em abril de 2014,
contou como costuma se inspirar e qual a
temática para a coleção de Verão 2014/2015
apresentada durante o SPFW. Para Patrícia,
a natureza sempre é fonte de inspiração e
para a coleção de verão 2014/2015 utilizou
a tríade moda, arte e gastronomia como
direcionamento temático. Como resultado,
as estampas da coleção são estampas de
pitangueiras em diversos tamanhos dife-
rentes, isso porque a estilista estava em
um momento de reflexão embaixo de uma
pitangueira. A cartela de cores ganhou no- REFLITA
mes de frutas e a silhueta lady like (saias
amplas com a cintura marcada) e o uso de
zíper à mostra (tendências de moda para a A coleção de sucesso tem sempre algo novo
estação) fizeram parte da coleção. Os outros para propor, com linguagem coerente e uni-
diferenciais apresentados no desfile foram dade de estilo, destinada a fazer tendência
os trabalhos realizados por Patricia Motta desenvolvendo o tema com diversas solu-
em couro com desenhos vazados de renda, ções e, todas são condutíveis em relação ao
recortes e texturas imitando o linho. projeto de base.
Fonte: Duarte (2014, on-line)4. (Morixe)

27
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), esta Unidade tratou sobre as atividades que envolvem
o observar, compreender, selecionar e interpretar as informações sobre
moda, tendências e estilos. Aprendemos que a pesquisa de moda é uma
fase importante do desenvolvimento de coleção por todas as informa-
ções que se adquirem nessa fase para o início da criação e que deve ser conside-
rada no planejamento de coleção. Conhecemos também quais são as possíveis
etapas a serem seguidas para realizar a pesquisa de moda e como cada uma das
modalidades pode oferecer diferentes indicativos que serão úteis para a cole-
ção, portanto, cabe ao designer identificar quais etapas da pesquisa de moda são
prioritárias e secundárias para cada coleção ou desenvolvimento de produtos de
moda. Aprendemos sobre o especialista em predição de tendências, o coolhunter
e como uma das técnicas utilizada por esse profissional pode colaborar com a
agilidade da pesquisa de moda e conexão com o mercado. Conhecemos as moda-
lidades de tendências e a amplitude de interferência e duração de cada uma delas
para então compreender que as tendências de moda também sofrem alterações
e que é preciso organizar o processo da pesquisa de moda para acompanhar os
direcionamentos que o mercado propõe tanto em estilo quanto em comporta-
mento. Por fim, caro(a) aluno(a), vimos o passo a passo de como relacionar um
tema de coleção às tendências de moda e entendemos que essa ação possibilita
a diferenciação da coleção frente às marcas concorrentes, além de permitir que
o estilista possa exercer a criatividade na execução da coleção. O tema de uma
coleção é o fio condutor entre as diversas peças que serão desenvolvidas ao longo
do período em que a coleção estiver no mercado e esse conceito pode ainda ser
utilizado nos materiais de divulgação, promocionais e de comunicação da marca,
conferindo a todas as peças de marketing unidade de informação.

28
LEITURA
COMPLEMENTAR

Coolhunting e Arquétipos para a Indústria da Moda


* O texto escrito segue normas ortográficas de Portugal

1. Arquétipos: Aplicação dos Estudos de Tendências na Indústria da Moda


Os Estudos de Mercado e outras disciplinas possuem ferramentas e metodologias espe-
cíficas para a identificação de arquétipos de consumo, de públicos-tipo e de segmentos.
Neste ensaio, apresentamos o primeiro desenho do modelo ―Arquétipos através de
Tendências, ou Modelo AT, desenhado com o objetivo de identificar e segmentar arqué-
tipos e grupos de indivíduos, de acordo com as suas receções dos comportamentos e
dos objetos das tendências. Por outras palavras, o estudo da receção das mentalidades
e dos seus consequentes padrões de comportamento permite a identificação de arqué-
tipos de consumidores, em articulação com o conceito de tribos urbanas e a questão
da tribalização cultural. Neste sentido, a metodologia do Coolhunting continua a ser a
principal ferramenta capaz de estudar as relações entre público, objeto, comportamento
e tendência. Ela permite não só identificar a manifestação da tendência, como analisar a
sua disseminação e relação com manifestações semelhantes, bem como os públicos e os
espaços envolvidos. Não obstante, existem outras metodologias que podem articular-se
com o Coolhunting e os Estudos de Tendências, tais como, numa primeira fase, o estudo
do meme cultural, da parasitação e dos tópicos do zeitgeist, a par de atividades de visual
profiling; e, numa segunda fase, a gamification e o storytelling.
Importa sublinhar que este modelo não se limita apenas a um único campo, ou à análise
de uma sub-cultura ou grupo específicos, mas para efeito deste trabalho, a atenção irá
concentrar-se sobre o seu potencial no sector e na indústria da moda. Os pontos seguin-
tes desconstroem as várias metodologias do modelo e a sua articulação.

2. Identificação de Arquétipos: Receção de Mentalidades e Coolhunting


Não é possível falar do Coolhunting como componente de um modelo, sem antes refe-
rir e exemplificar esta prática emergente. O Coolhunting tem sido muito criticado como
prática “pouco científica” e séria. Isto advém do facto de a maioria dos indivíduos que diz
praticar o Coolhunting não ter formação nem experiência para tal, resultando em dados
recolhidos de forma aleatória e sem método, que muitas vezes apenas se resumem a
“coisas giras”. O Coolhunting, prática com ligações à etnografia, procura manifestações

29
LEITURA
COMPLEMENTAR

das tendências de mentalidade que sejam consideradas atrativas (que chamem a aten-
ção), que sejam inspiradoras (que promovam ação por parte dos indivíduos e que inspi-
rem ideias) e que tenham potencial de crescimento (replicação social). Tal como Carl Roh-
de sugere (vd. www.scienceofthetime.com), estes são os três elementos que se procuram
nas manifestações, ou seja, nos Cool Examples. A estes, acrescentamos a necessidade de
possuírem um carácter vanguardista.
Após se identificar um Cool Example, no mundo digital ou no terreno, o Coolhunter deve
registar o mesmo (anotando o espaço onde foi identificado, tirando um registo visual e
descrevendo os principais elementos do contexto em que o registo foi executado) para
posteriormente descrever o mesmo, de modo a ser útil para a geração de inovação. Uma
correta descrição do Cool Example deve possuir os seguintes elementos: a) Título que
descreva sumariamente o conteúdo; b) Registo visual (com a indicação da fonte se for
um registo de origem digital); c) Descrição do Cool Example, identificando as suas caracte-
rísticas e contexto; d) Justificação da natureza Cool (razão pelo qual se considera atrativo,
inspirador e com potencial de crescimento); e) Identificação das principais pistas de ino-
vação que podem ser transferidas; f) Identificação das principais tendências relaciona-
das; g) Identificação do Coolhunter ou do Analista de Tendências que executou o registo
e a descrição. Esta é a metodologia empregue pela rede holandesa Science of the Time,
uma das mais antigas redes de Coolhunting no mundo, e desenvolvida pela plataforma
Trends Observer em Portugal.
No campo da moda, os registos podem não ser tão rigorosos, mas sublinhe-se que a mes-
ma metodologia tem aplicação na identificação de tendências de estilo e gosto. Quando
um largo número de manifestações, ou Cool Examples, sugerem comportamentos ou a
geração de objetos semelhantes, então estamos perante a base para a identificação de
uma tendência. Não obstante, no que diz respeito ao modelo proposto, o Modelo AT, o
Coolhunting é a principal ferramenta, ou a primeira, na identificação de grupos segmenta-
dos. Tendo abordado a prática e o registo das manifestações que resultam do Coolhun-
ting, importa agora compreender como pode ir para além dos seus objetivos iniciais. Ao
terminar um, ou mais, Coolhunt, os Coolhunters e os Analistas de Tendências ficam na
posse de um largo número de manifestações e dos seus contextos. Se, ao invés de abor-
dar as mesmas com o objetivo de identificar tendências, o analista estudar os públicos, os
indivíduos e os espaços associados a cada Cool Example, então ele poderá compreender

30
LEITURA
COMPLEMENTAR

quais os grupos e tipos de indivíduos mais recetivos a determinadas manifestações e


qual foi o grau de receção por parte dos vários públicos. Por si só, estes dados e análises
podem ser suficientes, mas em articulação com as seguintes ferramentas, gera-se um
processo de confirmação múltipla das descobertas e dos segmentos, ou grupos, identi-
ficados.

Fonte: Gomes, Lopes e Alves (2016).

31
atividades de estudo

1. Ao longo da Unidade, estudamos que existem várias definições e perfis de tendên-


cias e cada uma com um tempo de duração diferente. Assinale a alternativa que
corresponde à associação de termo e conceito.
I. Tendência de Moda 1. Direcionamentos que duram mais de duas déca-
das e podem ser identificados por meio das mu-
danças na arquitetura e urbanização, assim como
comportamentos e posicionamentos ideológicos.
II. Macrotendência 2. Direcionamentos com um tempo de duração mui-
to curto, são voláteis e surgem espontaneamente,
normalmente estão ligadas diretamente às cele-
bridades.
III. Megatendência 3. Direcionamento que pode durar até cinco anos e
indicam a roupa que vestimos, os gadgets e as ex-
pressões de linguagem.
IV. Fad 4. Mudanças sociais e de comportamento que po-
dem ser identificadas nas mudanças políticas e
novas tecnologias e tem duração de uma a duas
décadas.
a. I – 3 / II – 4 / III – 1 / IV – 2.
b. I – 2 / II – 4 / III – 1 / IV – 3.
c. I – 4 / II – 3 / III – 1 / IV – 2.
d. I – 2 / II – 4 / III – 1 / IV – 3.
e. I – 3 / II – 2 / III – 1 / IV – 4.

2. Leia o texto abaixo e assinale a alternativa correspondente ao tipo de tendência apre-


sentado:
Um exemplo é a tendência pesquisada pela Lineapelle (feira italiana do setor de couro,
sintéticos, tecidos, componentes e modelos para calçados, roupa de couro e decoração)
na passagem do novo milênio, quando foi sinalizada uma sensação geral de temor, o
que refletia uma necessidade social de proteção (cocconing). Essa sensação foi traduzi-
da na aplicação de materiais “protetores” (exploração sensorial e não somente estética
da matéria) que transmitissem sensações de prazer e segurança como couros macios
ou materiais com acabamentos em película protetora. Esse discurso vale também para
as cores, ligadas às percepções sensoriais baseadas nas estações de referência e em
períodos históricos: um momento particular ligado à ecologia e aos bioaspectos, por
exemplo, possivelmente terá predominância de cores da natureza com variedades de
verdes e marrons.
Fonte: Liger (2012).

a. Cocconing pode ser considerado como uma tendência de moda, pois expressa ma-
teriais e cores.

32
atividades de estudo

b. Cocconing pode ser considerado uma macrotendência, pois representa uma mudança
comportamental.
c. Coccuning é uma fad baseada em uma sensação momentânea.
d. Coccuning é uma megatendência, pois apresenta características que serão duradouras.
e. Coccuning é uma tendência de moda porque direciona possíveis modelagens.

3. Considerando a afirmação de Sorger e Udale (2009, p. 16), “a moda move-se rapida-


mente em comparação a outras indústrias criativas e isso reflete na pressão constan-
te para lançar tendências a cada estação”, assinale a alternativa que corresponde a
uma análise verdadeira:
a. A pesquisa de moda precisa ser constante para poder acompanhar as novas tendên-
cias e as que ainda estão influenciando determinada estação.
b. A equipe de estilo não precisa se preocupar com as tendências, já que elas podem
se repetir por até cinco anos.
c. A cada estação surgem novas tendências que substituem todas as tendências ante-
riores, por isso há muita pressão.
d. A moda passageira pode durar até dez anos, igual a uma macrotendência.
e. Como a moda se move rapidamente nem todas as estações têm tendências de moda
para servirem de direcionamento.

4. Sobre as etapas da pesquisa de moda aprendidas na Unidade, leia as afirmações


abaixo e assinale a alternativa correta:
I. A pesquisa de moda deve ser realizada aleatoriamente e não seguir uma sequência
preestabelecida já que contempla o fator sensorial permitindo que as informações
fluam durante a busca.
II. A pesquisa de moda deve seguir uma estrutura preestabelecida para auxiliar na orga-
nização e filtro das informações o que torna o processo mais ágil.
III. A pesquisa de moda deve seguir uma estrutura rígida e imutável de atividades, inde-
pendente do perfil de informações.
a. F, V, V.
b. F, F, V.
c. V, F, V.
d. F, V, F.
e. V, F, F.

33
atividades de estudo

5. O painel semântico de uma coleção pode ser construído de várias maneiras e con-
templar diversas informações que sejam pertinentes para a coleção. Avalie as afir-
mações abaixo e assinale a alternativa correta:
I. Cores, Materiais e texturas podem expressar o tema de uma coleção.
II. Fotografias referentes ao tema podem indicar tanto uma estampa quanto um cená-
rio para o catálogo.
III. A Indicação das tendências de moda que serão utilizadas no painel semântico facilita
a conexão entre os temas.
a. Somente a alternativa I é Falsa.
b. Somente a alternativa II é Falsa.
c. Somente a alternativa III é Verdadeira.
d. Somente a alternativa I é Verdadeira.
e. Todas as alternativas são Verdadeiras.

6. Analise as afirmações abaixo e selecione qual a alternativa correta referente à fun-


ção do tema em uma coleção.
I. O tema de coleção é o fio condutor entre as peças e, por meio dele se conta uma
história que será representada nas cores, estampas, formas e materiais.
II. O tema de coleção é definido pela equipe de marketing depois que a coleção toda
está finalizada e, serve para orientar a produção do catálogo.
III. O tema de coleção é o mesmo que a tendência de moda que será utilizada na cole-
ção, isso facilita a estratégia de marketing.
a. V, V, F.
b. V, F, V.
c. F, F, V.
d. F, V, F.
e. V, F, F.

34
Pesquisa e Design
Simon Seivewright
Editora: Bookman
Sinopse: a pesquisa é fundamental para o sucesso de qualquer
design. Com explicações concisas e exemplos de projetos contem-
porâneos, Pesquisa e Design introduz os principais aspectos da
pesquisa de moda, discutindo o que é pesquisa, porque ela é tão
importante e onde buscar inspiração para desenvolver conceitos e temas para a sua coleção.
Comentário: esse livro apresenta diversas técnicas de compilagem da pesquisa por meio de
ilustrações e fotografia de trabalhos de estudantes e outros designers. Excelente material para
fazer parte da biblioteca pessoal de qualquer designer para ser consultado a qualquer hora.
referências

FRINGS, G. S. Moda: do conceito ao consumidor. Porto Alegre: Bookman Edi-


tora, 2012.
GOMES, N.; LOPES, M. V.; ALVES, P. E. Coolhunting e estudos de tendências
aplicados à moda: modelo de segmentação estratégica. ModaPalavra e-Periódi-
co, Florianópolis, v. 9, n. 17, p. 6-26, jan-jun, 2016.
LIGER, I. Moda em 360 graus: design, matéria-prima e produção para o merca-
do global. São Paulo: Senac, 2012.
LINDKVIST, M. O guia do caçador de tendências. São Paulo: Editora Gente,
2010.
RIEZU, M. D. Coolhunting: marcando tendências en la moda. Barcelona: Par-
ramón Ediciones, 2009.
SANT’ANNA, P.; BARROS, A. R. de. Pesquisa de tendências para moda. Anais.
VII Colóquio de Moda. São Paulo, 2010.
SORGER, R.; UDALE, J. Fundamentos de design de moda. Porto Alegre:
Bookman, 2009.
TREPTOW, D. Inventando moda: planejamento de coleção. D. Treptow, 2003.

Referências On-line
1
Em: <https://endeavor.org.br/benchmarking/> Acesso em: 16 de out. 2015.
2
Em: <http://ffw.com.br/desfiles/sao-paulo/verao-2017-rtw/osklen/1582874/>.
Acesso em: 05 ago. 2016.
3
Em: <http://ffw.uol.com.br/desfiles/sao-paulo/verao-2015-rtw/patricia-mot-
ta/839948/>. Acesso em: 21 out. 2016.
4
Em: <http://ffw.com.br/noticias/moda/o-estilista-fala-minha-inspiracao-sem-
pre-vem-da-natureza-revela-patricia-motta/> Acesso em: 25 out. 2015.

36
gabarito

1. A.
2. B.
3. A.
4. D.
5. E.
6. E.

37
PLANEJANDO E ESTRUTURANDO
UMA COLEÇÃO DE MODA

Professor Me. Marcelo Cristian Vieira


Professora Me. Sabrina Giselle Levinton
Professora Esp. Ednar Rafaela Mieko Shimohigashi

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Como planejar e organizar um cronograma de
desenvolvimento de coleção
• Definindo orçamento, cartela de cores, materiais e estilo da
coleção
• Mix de Moda e Mix de Produtos de uma coleção

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar e organizar as etapas referentes ao planejamento e
desenvolvimento de uma coleção.
• Desenvolver indicadores e referenciais para o desenvolvimento
de uma coleção.
• Estabelecer o mix de moda e de produto que a marca deve
adotar para sua coleção.
unidade

II
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a), bem-vindo(a)! Na Unidade II, iremos conhecer um pouco


mais sobre como ocorre o processo de planejar, organizar e estruturar
uma coleção de produtos de moda. Pense que uma coleção é o resultado
de muitas informações e processos de vários setores e caso a empresa
deseje reaproveitar essas informações, ou até parte delas, em outra cole-
ção, esses dados precisam estar acessíveis e de forma organizada e clara.
Portanto, com especial atenção ao desenvolvimento do cronograma e à
documentação dessa coleção, veremos quais conhecimentos operacio-
nais de registro dos produtos são necessários. O orçamento que a área
de estilo tem para realizar as aquisições da nova coleção é o resultado da
interação de outros departamentos como o comercial e marketing e, as-
sim, configura-se a primeira etapa do planejamento. Após coletar, filtrar
e interpretar as tendências de moda aprenderemos a compor as cartelas
de cores e de materiais de uma coleção. A compra e aproveitamento de
materiais para uma nova coleção dependem da seleção de cores e ma-
térias-primas realizada nesta etapa, assim, a visita dos representantes é
aproveitada e o estilista já tem direcionamentos do que espera utilizar em
sua coleção, otimizando a compra de produtos que mais tarde não seriam
utilizados. Conheceremos o passo-a-passo de como relacionar um tema
de coleção com as tendências de moda. Quando a marca desenvolve um
tema para sua coleção ela cria uma personalidade para as peças, conta
uma história por meio dos looks que “conversam” entre si, pois tem um
fio condutor que os une, ou seja, o tema da coleção. Também compreen-
deremos qual o objetivo e como criar o mix de moda de uma empresa,
o mix de produtos de uma coleção e etapas que ocorrem antes dos de-
senhos. Portanto, nesta Unidade, aprenderemos a planejar e estruturar
uma coleção de produtos. Vamos em frente. Bons estudos!
DESIGN DO PRODUTO

COMO PLANEJAR E
ORGANIZAR UM CRONOGRAMA
DE DESENVOLVIMENTO
DE COLEÇÃO
Parte do planejamento para uma coleção está as- Esse cronograma auxilia o acompanhamento das eta-
sociado à organização dos tempos, prazos e infor- pas do desenvolvimento da coleção, pois é possível
mações pertinentes de cada etapa que permeia a verificar em que fase alguns produtos se encontram
pesquisa, desenvolvimento, produção e comerciali- e prever possíveis alterações em prazos, entregas ou
zação de uma coleção ou de um produto específico. inclusões de acordo com o mercado. Também permi-
O cronograma é uma tabela que pode ser gerada em te verificar em que momento mais de uma coleção se
qualquer programa de computador ou manualmen- “encontram” na fábrica, já que, enquanto a produção
te, em que as informações de datas e atividades são está produzindo as peças de determinada estação, a
confrontadas (TREPTOW, 2003). equipe de estilo já está desenvolvendo e criando a

42
DESIGN

próxima. Esses “encontros” podem gerar problemas A estrutura de um cronograma é relativamente


chamados de “gargalos”, caso não sejam previstos com simples e pode ser dividida em meses, semanas ou
antecedência ou estruturados de maneira coerente. dias. Porém, quanto mais detalhada em relação a
Algumas empresas adotam estratégias de mer- dias e atividades, o controle sobre a/as coleção/ões
cado para suas coleções inserindo outras pequenas será melhor, uma vez que algumas datas são fixas.
coleções no meio de uma estação por exemplo, ou O cronograma deve ser sempre preenchido de trás
pequenas coleções temáticas; tecnicamente falare- pra frente, ou seja, à partir da data final como o
mos sobre elas nas próximas Unidades, porém essas lançamento da coleção por meio do desfile, por
inserções devem estar também previamente con- exemplo, ou o envio dos mostruários aos represen-
templadas e organizadas no cronograma de desen- tantes, até o início das atividades como a pesquisa
volvimento de coleção. de moda e de tendências. Isso porque a data final é
o limite máximo de entrega/lançamento da coleção
SAIBA MAIS e deve ser respeitado para que não interfira no tem-
po de exposição e venda dos produtos. À partir da
data final, começam a ser preenchidos os campos
A marca brasileira Richards lançou em maio
de 2016 uma coleção-cápsula que celebra com estimativas de prazos para a execução de cada
as Olimpíadas. A coleção feminina e mas- etapa, como por exemplo: tempo de execução de
culina de estilo esportivo fazendo alusão ao costura, tempo de execução do beneficiamento das
tema olímpico contempla características do
inverno da marca que se unem a detalhes peças, tempo de execução de modelagens por dia,
que homenageiam o velejador Torben Grael. tempo de execução da pesquisa de moda e assim
Atletas olímpicos fazem parte da campanha por diante. A Figura 1 representa um cronograma
de divulgação da coleção-cápsula.
com os primeiros meses do ano de 2016 feito no
Fonte: Vogue (2016, on-line)1.
programa Microsoft Excel®.

Figura 1 - Cronograma de Desenvolvimento de Coleção


Fonte: a autora.

43
DESIGN DO PRODUTO

Perceba com a Figura 2 que a coluna da esquer-


da indica o ano ao qual o cronograma se refere e as
atividades que compreendem o desenvolvimento da
coleção. Todas as atividades pertinentes e impor-
tantes de serem consideradas devem estar inseridas
nessa coluna; cada empresa conforme seu processo
de venda e distribuição preenche os campos. Assim,
o cronograma é desenvolvido conforme a realidade
da marca.
Ao longo da planilha estão os dias do ano. As colu-
nas marcadas com a cor cinza fazem referência aos
SÁBADOS e DOMINGOS e as colunas com a cor
alaranjada fazem referência aos FERIADOS. As co-
res podem ser escolhidas aleatoriamente, desde que
a pessoa que esteja construindo o cronograma possa
identificar rapidamente ao que se refere, mantenha
sempre a mesma formatação de cores e coloque uma
legenda para que outras pessoas possam também Figura 2 - Atividades de desenvolvimento de coleção
acompanhar. Fonte: a autora.

Figura 3 - Cronograma de coleção para 5 peças


Fonte: a autora.

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DESIGN

Como mencionado anteriormente, o cronogra- a criação e a modelagem. À medida que a criação


ma deve ser preenchido de trás pra frente. A Figura desenvolve as peças, elas vão sendo encaminhadas
3 ilustra como data de lançamento da coleção e o para a modelagem, não se espera finalizar toda a
percurso que uma coleção de 5 peças precisa percor- coleção para somente então passar para o próximo
rer ao longo do cronograma. departamento.
Os prazos devem ser coerentes com o tempo ne-
cessário para a execução de cada atividade. O recebi-
REFLITA
mento da matéria-prima adquirida para a produção
da coleção não é no dia seguinte da compra, portan-
to, é preciso ter a informação do representante para Dependendo de como é produzida e distribu-
ída, uma coleção pode levar prazo maior ou
acrescentar os dias de “espera” desse recebimento. menor para chegar ao consumidor. Indepen-
Algumas etapas são simultâneas porque os dente dos prazos de produção e distribuição,
departamentos trabalham em conjunto com ativi- o designer deve atentar para que a coleção
esteja disponível ao varejo no período certo.
dades diferentes ou porque à medida que um pro-
cesso vai sendo realizado já se passa para o outro (Doris Treptow)

departamento. É o que ocorre, por exemplo, entre

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DESIGN DO PRODUTO

DEFININDO ORÇAMENTO,
CARTELA DE CORES, MATERIAIS
E ESTILO DA COLEÇÃO
Definir os materiais, cores e efeitos de uma coleção do no primeiro momento de estruturação. Normal-
pode, à primeira vista, parecer uma tarefa fácil e pra- mente é definido pelo departamento comercial que
zerosa, mas ela engloba uma série de definições pré- considera qual o custo disponível para o desenvolvi-
vias que asseguram a manutenção do tema e coerên- mento das peças, qual a margem de lucro que cada
cia orçamentária que precisam ser consideradas em peça pode ter e qual será o ponto de equilíbrio da
uma infinidade de possibilidades apresentadas por empresa para determinada coleção, ou seja, até que
representantes comerciais de tecidos e aviamentos, ponto a coleção vendida paga seu investimento e em
prestadores de serviço de beneficiamento e estampa- que momento sequencial representa lucro.
ria, por exemplo. O orçamento de uma coleção é um Ao considerarmos a coleção, sabemos que ha-
item de extrema importância que deve ser consulta- verão estilos de peças diferentes conforme segmen-

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DESIGN

tação do mix de moda, item que aprofundaremos Uma vez estabelecido o orçamento disponível
detalhadamente no próximo tópico. Portanto, cada para cada coleção, o designer passa a buscar, dentre
estilo de peça deve ter seu custo calculado em re- suas pesquisas e com representantes comerciais, mate-
lação à matéria-prima utilizada, beneficiamento e riais e processos para desenvolver a coleção. A seleção
aviamentos. O equilíbrio de uma coleção está em e estruturação das cartelas de cores e materiais têxteis
oferecer uma margem de valores por grupos de pe- para uma coleção é uma atividade mais complexa do
ças, ou seja, peças “básicas” são mais baratas que pe- que escolher combinações. Está relacionada ao conhe-
ças de uma linha festa, por exemplo. Esse equilíbrio cimento sobre materiais têxteis, suas variedades, qua-
permite que um lojista, por exemplo, possa adquirir lidades e como podem ser aplicados aos modelos cria-
mais peças da coleção para sua loja, pois pode, den- dos. A estação que o designer está criando, por meio
tro de seu orçamento, escolher um pouco de cada das tendências de moda, irá direcionar a espessura,
estilo. Portanto, é importante que departamento de textura e caimento dos tecidos, assim como também
estilo e departamento comercial realizem uma reu- as cores em evidência. Cabe ao designer utilizar as in-
nião para alinhamento do orçamento para cada co- formações da pesquisa de moda e uní-las ao conceito
leção no início das atividades, incluindo disponibi- da coleção, para definir, então, os materiais e cores que
lidade financeira para aquisição de matéria-prima e utilizará (SORGER; UDALE, 2009).
prestação de serviços para a coleção.
SAIBA MAIS

A cor é dividida em três propriedades: matiz,


tom e intensidade. Cada uma dessas proprie-
dades da cor auxilia na composição da cartela
de cores de uma coleção que pode ser estru-
turada somente de tonalidades da mesma cor,
por exemplo. O matiz diz respeito a cor em si e
permite que diferenciemos uma cor da outra,
é o que se diz da cor “pura”. O tom já se refere
à variação da intensidade da luz na cor, ou
seja, se há mais branco, portanto, a cor é mais
clara, ou se há mais preto e a cor escurece. A
intensidade está associada à saturação de uma
cor, ou seja, se a cor tem brilho ou palidez.
As cores que chamamos na moda de “bebê”
são cores pálidas, por exemplo e, portanto,
têm baixa saturação. Para saber mais sobre
as propriedades das cores e a relação quanto
a sua classificação consulte a obra "Moda em
360: design, matéria-prima e produção para
o mercado global", da autora Ilce Liger (2012).
Fonte: a autora.

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DESIGN DO PRODUTO

As cores estão associadas à estação e também in- O designer tem a opção de selecionar as cores de fa-
fluenciam fortemente o aspecto emocional de uma bricantes de tecidos que desenvolvem sua coleção ba-
coleção. Pode se tornar um elemento decisivo em seada nas tendências, mas também pode optar pelo
uma venda, pois é o primeiro elemento que o con- desenvolvimento de uma cor especial, ou seja, uma
sumidor presta atenção quando vai em busca de um tonalidade ou cor específica que gostaria de ter na
produto (FRINGS, 2012). Normalmente, os desig- coleção por meio do tingimento de tecidos. Para que
ners de moda irão utilizar, além das cores apontadas isso aconteça, a empresa deve adquirir um lote míni-
pelas previsões nas feiras e publicações de tendên- mo do tecido e da cor, o que chamamos de barca. Esse
cias, suas próprias escolhas que tem relação ao tema mesmo processo pode ser realizado com fornecedores
que a coleção terá. de estamparia também, ou seja, o desenvolvimento de
A cartela de cores de uma coleção deve conter desenhos ou estampas exclusivas e personalizadas.
todas as cores que serão utilizadas, mesmo como
variantes, e contemplar o preto e o branco, normal-
REFLITA
mente considerados como cores “neutras”. Uma co-
leção em média é composta de 8 a 9 cores, podendo
variar esse número entre 6 e 12 cores (TREPTOW, O conhecimento sobre as cores e seus efei-
tos é muito importante para as pessoas que
2003). Quanto mais cores uma coleção tiver, mais trabalham com moda. Principalmente para
peças de tecido dessas tonalidades deverá adquirir a profissionais como designers que criam es-
empresa, portanto, encontrar o equilíbrio nas cores tampas, os art buyers e os personal stylists,
por exemplo.
selecionadas para a coleção e o estoque da empresa
é uma atividade que pode ser realizada em conjunto (Ilce Liger)

entre os departamentos pertinentes.

A estruturação da cartela de cores segue alguns dire-


cionamentos para uma melhor visualização das cores.
Em uma reunião de aprovação da coleção ou como
instrumento de venda de um representante comercial,
a cartela de cores precisa apresentar uma estética lim-
pa e organizada. É aconselhável que as amostras de cor
sejam todas da mesma matéria-prima, que sejam fixa-
das em uma placa ou base de fundo branco, para que
não haja a interferência do fundo na cor da amostra e
que elas sejam dispostas com pelo menos um interva-
lo de 1cm entre cada uma. O tamanho da amostra não
deve ser menor que 2x3 cm e todas as cores devem
estar especificadas com o nome da cor e código do
fornecedor ou código Pantone® (TREPTOW, 2003).

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DESIGN

O raciocínio sobre a seleção e montagem da nado tecido e quais as propriedades desse, caso seja
cartela de materiais que serão utilizados na coleção, necessário passar por algum tipo de beneficiamento,
segue o mesmo da cartela de cores. Quanto maior a como estamparia, por exemplo. O cálculo do custo da
variedade, maior deverá ser a aquisição dos elemen- peça está relacionado à quantidade de tecido que será
tos por parte da empresa. O estilista deve considerar, consumida para a sua execução. No momento da exe-
ao selecionar os tecidos para a coleção, a adequação cução da piloto, caso o estilista esteja utilizando um
deste à peça que pretende criar, tanto em relação tecido novo ou ainda não tenha muita experiência,
ao custo, mas também em relação às propriedades deve solicitar as informações à produção.
dessa matéria-prima, ou seja, se ela se adequa à pro- Selecionar quem serão os fornecedores também
posta. Vale acrescentar que a coleção é composta é uma atribuição do estilo, é preciso planejar a com-
também por aviamentos e outros itens que o estilis- pra e a entrega do artigo dentro do prazo estabele-
ta julgue pertinente incluir na coleção. Todos esses cido para a coleção no cronograma que foi gerado
outros itens podem ser acrescentados à cartela de no início. Antes de realizar o pedido, o estilista deve
materiais ou pode-se também executar uma carte- solicitar aos fornecedores de tecidos uma pequena
la à parte, desde que contenham relação com o que amostra para a execução de peça piloto ou testes que
se está considerando em termos de cores, texturas e definam se o artigo está adequado ao esperado em
efeitos para a coleção. termos de rendimento, maleabilidade e estilo.
Mais uma vez, o estilista deve filtrar algumas
informações e verificar a coerência entre os teci-
dos e as cores. Treptow (2003) indica a técnica do
cruzamento de informações em uma tabela em que
um lado corresponde às cores e o outro aos tecidos,
assim, é possível verificar quais cores existirão em
determinados tecidos e se a seleção está adequada
ao número de modelos e variantes que se pretende
desenvolver.
A seleção dos materiais utilizados pode ser di-
ferente conforme cada criador, Liger (2012) explica
que alguns designers optam por desenvolver suas
peças à partir de uma determinada matéria-prima,
enquanto outros preferem desenvolver suas criações
no papel primeiro e buscar, na sequência, qual ma-
Todo fornecedor de tecidos apresenta suas peças com téria-prima melhor se adapta à sua criação respei-
uma ficha técnica de informações que serão extrema- tando a compatibilidade com o estilo. Independente
mente importantes para o designer utilizar para as do raciocínio de cada designer para seu desenvol-
próximas coleções, mas principalmente fazer o custo vimento, a correta seleção da matéria-prima pode
prévio da peça que será confeccionada com determi- definir se a peça terá sucesso.

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