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CASSIANE GEMI
CURITIBA
2012
CASSIANE GEMI
CURITIBA
2012
Dados da Catalogação na Publicação
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR
Biblioteca Central
Gemi, Cassiane
G322p A primeira escola de formação de professores em Pato Branco e o
2012 desenvolvimento econômico, social e educacional da região Sudoeste do
Paraná : 1960-1986 / Cassiane Gemi ; orientadora: Maria Elisabeth Blanck
Miguel. – 2012.
133 f. ; 30 cm
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________
Prof.ª Dra. Maria Elisabeth Blanck Miguel
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
______________________________
Prof. Dr. Peri Mesquida
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
______________________________
Prof.ª Dra. Teresa Jussara Luporini
Universidade Estadual de Ponta Grossa
À minha família, que ao longo de minha vida, sempre se fez presente e por seus ensinamentos
de verdade, ética e honestidade.
À minha orientadora, Prof.ª Dra. Maria Elisabeth Blanck Miguel, por ter aceitado a árdua
tarefa da orientação deste trabalho, pelos incentivos, puxões de orelha e afagos.
Ao Prof. Dr. Peri Mesquida, por ter sido um ponto de apoio e compreensão em todas as horas,
boas e ruins.
À Prof.ª Dra. Teresa Jussara Luporini, pelo incentivo e ajuda na escolha do tema de pesquisa e
pela participação na banca examinadora de qualificação e defesa deste trabalho.
Aos professores: Maria Lourdes Gisi, Neuza Bertoni Pinto, Pura Lucia Oliver Martins,
Romilda Teodora Ens, Rosa Lydia Teixeira Corrêa e Jorge Luiz Viesenteiner, pelos
ensinamentos.
Ao apoio, pelas entrevistas fornecidas, das ex-alunas da Escola Normal Colegial Dr. Xavier
da Silva: Dilva Gemmi Viccini, Dirce Maria Sfoggia Folle, pela compreensão e acolhimento,
especialmente à Prof.ª Neri França Fornari Bocchese, pelo fornecimento de material para
pesquisa e à Prof.ª Laurinha Luiza Dall´ Igna, pelo carinho especial que teve comigo, com
apoio e empréstimo de livros.
À Diretora do Colégio Vicentino Nossa Senhora das Graças, Irmã Tereza Pereira, pelo apoio,
especialmente à Irmã Theresinha Bortolini, por todo o carinho e atenção com que me recebeu.
À Diretora do Colégio Estadual de Pato Branco, Prof.ª Luiza Kupchak, e aos demais
professores do colégio, pelo incentivo e fornecimento dos documentos arquivados no colégio,
principalmente à Marlei Castro Tondo, pela ajuda na busca do material para pesquisa.
Aos agentes públicos do Arquivo Público do Paraná, Biblioteca Pública do Paraná, Conselho
Estadual de Educação, Biblioteca Pública Municipal de Pato Branco e Núcleo Regional de
Educação de Pato Branco, pela ajuda na coleta de dados e materiais para a pesquisa.
À comissão representante da CAPES, pela indicação da bolsa de estudos que recebi, com
ajuda de grande valia para que eu pudesse concretizar os meus estudos. Aos demais colegas
que realizaram suas pesquisas de Mestrado e Doutorado, junto à minha, pelo esforço,
dedicação e apoio um com o outro. Às colegas do Grupo de Pesquisa.
A educação, direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
(BRASIL, 1988).
RESUMO
In this research focused on issues concerning the importance of the first training school for
teachers deployed in Pato Branco, Normal School College Dr. Xavier da Silva, in the period
1960 to 1986, analyzing the legislation that has standardized its inception, and term. What
justifies the research is the key role that the school had vocational training of teachers of Pato
Branco and nearby region, southwest of Paraná. The Normal School was established in the
presence of the Organic Law of Education Normal (8.530/1946). He remained with the law
that established the Guidelines and National Education, nº. 4.024/61, and suffered the
restructuring imposed by Law nº. 5.692/71, then going to be called the State College José de
Anchieta. The objective was to analyze that school meant for the social and educational
development of part of southwestern Paraná where there was, in the 60s, large numbers of lay
teachers working in primary schools, because the demand to study at the Normal School
College Dr . Xavier da Silva was not only the students who lived in Pato Branco, but many
other cities around. We sought to also examine the socioeconomic, political and cultural life
of southwest Paraná, which influenced the emergence of Pato Branco and education. The type
of research used for this dissertation was historical research document, with collection of data
from the Public Archives of Paraná, Paraná Public Library, Municipal Public Library of Pato
Branco, Paraná, State Board of Education and the State College of Pato Branco. The survey
is still official government documents, laws, gazettes, decrees creating of the school. We
obtained evidence of a teacher and four students who studied at school. As a theoretical-
methodological research was supported in particular the works of: Arlette Farge (USP, 2009),
Carlos Bacellar (CONTEXT 2008), Marc Bloch (Zahar, 2001), Maria Elisabeth Michael
Blanck (UFPR, 1997), Vorraber Marisa Costa (Lamp, 2007), de Oliveira Otaiza Romanelli
(VOICES, 1998). The research found that the Normal School established in Pato Branco in
the period of 1960 to 1986, was crucial to the social and educational development of that city
and others located in the southwest region of Paraná.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................13
2 A REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ E AS CAUSAS QUE INFLUENCIARAM O
SEU DESENVOLVIMENTO BEM COMO O SURGIMENTO DE PATO
BTANCO..................................................................................................................................19
2.1 ORIGEM A PATO BRANCO............................................................................................24
2.2 A POPULAÇÃO QUE DEU ORIGEM A PATO BRANCO.............................................27
2.3 O DESENVOLVIMENTO DE PATO BRANCO A PARTIR DE 1943 COM A
IMPLANTAÇÃO DA CANGO................................................................................................31
2.4 A REVOLTA DOS POSSEIROS NO SUDOESTE DO PARANÁ...................................36
2.5 O CICLO DA MADEIRA E AS ESCOLAS RURAIS EM PATO BRANCO..................46
2.6 PONTOS INTERLIGADOS DA MEDICINA, RELIGIOSIDADE, ESTRUTURA
ADMINISTRATIVA QUE INFLUENCIARAM A EDUCAÇÃO DE PATO BRANCO NO
PERÍODO PESQUISADO.......................................................................................................51
3 PRIMEIROS PASSOS DA EDUCAÇÃO PÚBLICA EM PATO BRANCO, NO
SUDOESTE DO PARANÁ....................................................................................................57
3.1 IMPLANTAÇÃO DA PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM
PATO BRANCO.......................................................................................................................64
3.2 FUNCIONAMENTO DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA
NO PERÍODO DE 1960 A 1984, SOB A DIREÇÃO DAS IRMÃS VICENTINAS, NO
INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, EM PATO BRANCO.......................66
3.3 O CORPO DOCENTE DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA.......................................................................................................................................69
3.4 PREVISÃO LEGAL E AS DISCIPLINAS ENSINADAS NA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...................................................................................72
3.5 ALUNAS QUE ESTUDARAM NA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA, EM PATO BRANCO..................................................................................................78
3.6 POR QUE A PROCURA PELA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA INTENSIFICOU-SE NO PERÍODO DE 1960 A 1970? E O QUE A REFERIDA
ESCOLA SIGNIFICAVA PARA PATO BRANCO E REGÃO?............................................81
3.7 AS PECULIARIEDADES E A INFLUÊNCIA DA ESCOLA NORMAL NA VIDA
PROFISSIONAL DAS ENTREVISTADAS............................................................................83
4 REESTRUTURAÇÃO DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA E DO COLÉGIO ESTADUAL COMERCIAL DE PATO BRANCO EM
COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA NA LEI N. 5.692/71..............................85
4.1 O COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA...........................................................87
4.2 RECONHECIMENTO DO CURSO DE 2º GRAU DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE
ANCHIETA............................................................................................................................100
4.3 A MUDANÇA DE SEDE DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, QUE
FUNCIONAVA NO INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, PARA O COLÉGIO
ESTADUAL DE PATO BRANCO, EM 1984.......................................................................103
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................106
REFERÊNCIAS....................................................................................................................110
APÊNDICE A - ENTREVISTA COM EX-PROFESSORA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................116
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................120
APÊNCIDE C - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................123
APÊNCIDE D - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................126
APÊNCIDE E - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................129
ANEXO - EMENTA DAS DISCIPLINAS ENSINADAS NO COLÉGIO ESTADUAL
JOSÉ DE ANCHIETA..........................................................................................................132
13
1 INTRODUÇÃO
_______________
1
Francisco Xavier da Silva foi Governador do Estado do Paraná, eleito em 1892 e reeleito em 1900 e 1908.
14
Também por ser uma região distante da capital, os recursos financeiros a ela
destinados foram muito escassos, assim como os investimentos na educação, o que causou um
desenvolvimento tardio na construção de escolas de formação de professores.
O nexo da economia, da política, da educação e da história propriamente dita do
Paraná, como um todo, foi influenciado por características singulares: a extração do mate, os
campos de criação de gado e a extração de madeira. Decorrente disso, toda a história inicial
de desenvolvimento econômico e da colonização do Paraná estão relacionados a este eixo
econômico.
Os fatores acima enunciados ocorreram em diferentes fases de sua história, mas estão
interligados de forma ativa e caracterizaram todo o desenvolvimento cultural paranaense.
Devido ao vasto território e o diminuto número de habitantes que viviam em terras
paranaenses, e por ser um lugar destinado à exploração das culturas naturais que eram
encontradas, como o mate, o qual não dependia de maior fixação de vilas ou cidades, pois sua
extração era itinerante, as cidades foram desenvolvidas tardiamente, bem como a sua
urbanização.
Várias foram as formas de colonização do Paraná, em suas diversas regiões,
primeiramente pela exploração de ouro em Paranaguá e Curitiba em meados do século XVII.
Devido à falta de êxito, passou-se a explorar os campos com a criação de gado vindo do Rio
Grande do Sul para ser vendido em São Paulo e Minas Gerais, no decorrer do século XVIII,
período em que foram fundadas cidades como: Lapa (1769), Castro (1778), Ponta Grossa
(1823), bem como Guarapuava (1810) no centro do Estado, Palmas (1879) e Clevelândia
(1892) na região sudoeste e, posteriormente, Pato Branco (1951).
A fundação e o desenvolvimento das cidades, que primeiramente surgiram na região
sudoeste do Paraná, ocorreram devido à economia do gado tropeiro e também à extração do
mate. Mas boa parte das terras localizadas no sudoeste do Paraná encontrava-se em zona de
litígio e passaram a pertencer a Santa Catarina na Guerra do Contestado (1912-1916).
Desde a época da Província, o povo que habitava as terras paranaenses tinha a fama de
ser introvertido e tímido, que não lutava por seus ideais, que dependia das decisões das
demais Províncias e não tinha expressão política e nem cultural. Isso justificou a falta de luta
pelas terras disputadas na Guerra do Contestado com Santa Catarina, pois a recuperação delas
ocorreu na Justiça e não só por luta armada. Esta disputa das terras na Guerra do Contestado
causou maior interesse em integrantes da elite campeira para que se implantasse uma
universidade no Paraná, pois faltava a formação de lideranças intelectuais no Estado. Este foi
15
_______________
2
Algumas obras de autores que trataram do assunto educação no Paraná: MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. A
formação do professore e a organização social do trabalho. Curitiba: UFPR, 1997; PITON, Ivania Marini.
Políticas, reformas e conflitos docentes: globalização neoliberal na educação básica paranaense. Curitiba:
UNIPLAC, 2007; WACHOWICZ, Ruy Christovam. Universidade do mate: história da UFPR. Curitiba:
UFPR, 2006; WACHOWICZ, Lílian Anna. Relação professor x Estado no Paraná tradicional. São Paulo:
Cortez, 1984.
16
nenhum outro estudo sobre a mesma, e por ter sido a primeira escola de formação de
professores implantada em Pato Branco, o que representou um avanço na educação regional e
paranaense.
O presente estudo integra-se à linha de pesquisa: História e Políticas Públicas da
Educação, no grupo de pesquisa História e Políticas da Educação e a Formação de
Professores, coordenado pela Doutora Professora Maria Elisabeth Blanck Miguel, no
Programa de Pós-Graduação de Mestrado/Doutorado Stricto Sensu, da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Esta pesquisa tem o seguinte problema: qual a importância da Escola Normal Colegial
Dr. Xavier da Silva na formação de professores em Pato Branco e região, de 1960 a 1986, à
luz da legislação pertinente?
Com o objetivo geral de pesquisar a importância daquela escola, definiu-se os
objetivos específicos: pesquisar e analisar o contexto socioeconômico, político e cultural da
região sudoeste do Paraná, especificamente de Pato Branco, desde sua colonização até a
implantação e vigência da primeira Escola Normal - 1960 a 1986; analisar a legislação
cotejada com o contexto nacional, que determinou a implantação da primeira escola de
formação de professores no município de Pato Branco-PR, no período estudado; identificar o
funcionamento da escola, seus professores e alunos, disciplinas ensinadas métodos de
avaliação dos alunos e a importância que significou a implantação da Escola Normal para a
formação docente no município de Pato Branco e municípios vizinhos na região sudoeste do
Paraná no período de 1960 a 1986.
Para desenvolver a investigação, foi utilizada a pesquisa histórica documental
mediante coleta de dados no Arquivo Público do Paraná, na Biblioteca Pública do Paraná, na
Secretaria Estadual de Educação, na Biblioteca Pública de Pato Branco, no Colégio Estadual
de Pato Branco, no Núcleo Regional de Educação de Pato Branco, bem como por meio de
entrevistas elaboradas com doze questões cada, todas iguais, que foram respondidas por uma
professora e quatro alunas que estudaram na Escola Normal. O estudo centrou-se na região
Sudoeste do Paraná, especificamente no Município de Pato Branco, na implantação de sua
primeira escola de formação de professores no referido período. Por meio de análise
documental e testemunhal, foram coletadas informações sobre a implantação e vigência da
Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, focando na legislação que regulamentou a
implantação e vigência daquela escola, sempre observando o contexto histórico da região com
suas peculiaridades.
17
Assim, foram utilizadas as fontes históricas primárias por meio da análise dos
documentos públicos, como: a Lei Orgânica de Ensino Normal n.º 8.530/1946, a lei que fixou
as Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 4.024/1961, com a posterior mudança para a
Lei n.º 5.692/71, entre outras leis, bem como por meio dos decretos de criação e autorização
de funcionamento da escola, ofícios e documentos oficiais do governo, e por meio da coleta
de dados com entrevistas, sob a forma de questionário.
Foram ainda consultadas pesquisas já desenvolvidas sobre o assunto por outros
estudiosos, como: livros, artigos, teses e dissertações. Indo ao encontro das fontes históricas
utilizadas, foi possível fazer um levantamento delas e questioná-las com embasamento
teórico-metodológico em especial nas obras bibliográficas de Marc Bloch (Zahar, 2001),
Arlette Farge (USP, 2009), Le Goff (Record, 2007, UNICAMP, 1996).
A reconstrução histórica foi desenvolvida por meio de fontes históricas, mas também
mediante testemunhos da época. Como esclarece Bloch (2001, p. 71):
o arquivo petrifica esses momentos ao acaso e na desordem; aquele que o lê, que o
toca ou que o descobre é sempre despertado primeiramente por um efeito de
certeza. A palavra dita, o objeto encontrado, o vestígio deixado tornam-se
representações do real.
18
Esse capítulo estuda o município de Pato Branco na região Sudoeste do Paraná, desde
o seu surgimento no pós-Guerra do Contestado a partir do final dos anos 1918 (Colônias:
Bom Retiro e Vila Nova) a 1959, com o surgimento da primeira escola de formação de
professores. De uma forma ampla, faz-se uma análise do desenvolvimento regional:
econômico, social e educacional, o que possibilitou o surgimento da primeira escola de
formação de professores em Pato Branco a partir dos anos 1960, Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva.
É necessário tomar alguns pontos fundamentais que descrevem o desenvolvimento,
inicialmente do Paraná e da região sudoeste, para em seguida analisar como foi o surgimento
e a colonização de Pato Branco, saber sobre sua gente, seus interesses e desenvolvimento,
buscando amparo teórico nos autores que melhor retrataram essas questões.
Assim, buscou-se, primeiramente, desenvolver a análise do contexto socioeconômico e
cultural da região Sudoeste, principalmente de Pato Branco, para poder localizar o leitor
quanto à pesquisa.
O Paraná fez parte da 5ª Comarca de São Paulo e foi elevado à província em 1853,
tendo como seu primeiro presidente Zacarias de Góes e Vasconcelos. No início, a economia
paranaense destacou-se pela busca e coleta de ouro em Paranaguá e rios do litoral, no entanto,
o ouro encontrado no Paraná logo foi escasso, os explorares desse metal precioso e muito
cobiçado pela coroa portuguesa deixaram o litoral paranaense e dirigiram-se a Minas Gerais
onde foi descoberta grande quantidade de minas de ouro.
Paranaguá e Curitiba se destacaram nesse período inicial, bem como Guaíra, devido às
expedições de bandeiras às Sete Quedas do Iguaçu, pelo fato dos espanhóis estarem tentando
ocupar essa região de divisa entre Paraná e Argentina.
Pouco a pouco os rincões do Paraná passaram a ser colonizados, pois era um lugar
com muitos campos naturais e isso passou a despertar o interesse dos paulistas criadores de
gado. Os Campos Gerais passaram a representar importante papel no caminho das tropas de
muares, ligado pelo caminho de Viamão (RS) a Sorocaba (SP). Nas fazendas dos Campos
Gerais, os tropeiros encontravam um local para poder deixar seu rebanho para pastar e
pernoitar.
Os campos de Palmas, no sudoeste do Paraná, só foram ocupados posteriormente à
ocupação dos campos de Guarapuava. Surgiu a notícia que após os campos de Guarapuava
20
existiam outros campos propícios para a criação de gado; então houve o interesse de
fazendeiros pela ocupação dessas terras promissoras.
A economia paranaense daquela época, além das fazendas de gado, também se
destacava pela extração do mate. No início, os paranaenses não tinham conhecimento das
técnicas de extração e beneficiamento do mate e isso ocorreu somente em 1820, com a vinda
de Francisco de Alzagaray a Paranaguá, que lhes ensinou o fabrico, beneficiamento e
acondicionamento em surrões de couro. Assim, passou o Paraná a comercializar essa erva
nativa, representando o produto de exportação mais significativo durante a Província. Até
1920, foi o grande esteio da economia paranaense, o que fez do Paraná a terra da erva-mate.
Erva-mate, segundo Wachowicz (2001, p. 130):
Na região das colônias Bom Retiro e Vila Nova (Pato Branco), argentinos que
comercializavam o produto em seu país se instalaram para comercializar o mate com os
produtores brasileiros. De acordo com Voltolini (2005, p. 66):
A região sudoeste do Paraná apresentava vasta riqueza natural que atraía os interesses
dos argentinos, assim as questões de fronteiras entre Brasil e Argentina foi motivo de disputa
entre os dois países. Pelo Tratado de Santo Ildefonso (1.777), foram definidas as divisões
entre as terras portuguesas e espanholas, mas devido ao desentendimento da localização
geográfica que indicava exatamente onde seria a divisa entre essas terras, houve a necessidade
de se resolver o impasse que Brasil e Argentina estavam enfrentando, por meio de arbitragem.
O árbitro para essa questão foi o então presidente norte-americano Grover S. Cleveland que,
em 1895, apresentou sua sentença favorável para que as terras do Contestado fossem do
Brasil. Para tanto, foi de grande ajuda os argumentos utilizados pelo Barão do Rio Branco3
para que o presidente norte-americano desse ganho de causa aos brasileiros.
Definida a questão de fronteira internacional entre Brasil e Argentina, no caso das
terras situadas na região sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, [região do Contestado],
surge a disputa interna de divisa entre os dois Estados. As leis, desde o tempo do império,
previam que as questões de divisa de fronteiras deveriam ser resolvidas política e não
juridicamente. Em 1901, Santa Catarina conseguiu levar o Paraná ao banco dos réus na
Suprema Corte, reivindicando a posse das terras do Contestado. O Paraná se deu conta do
problema que haveria de resolver, então o governo do Estado nomeou uma comissão para
estudar a questão e o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a Santa Catarina, em
1910.
O povo paranaense não aceitava a decisão de ser dirigido pelo governo de Santa
Catarina e começou a cogitar a ideia de criar um Estado próprio, nas terras do Contestado, que
passaria a se chamar Missões; até bandeira já haviam confeccionado e inclusive formado um
governo provisório em União da Vitória.
Segundo Voltolini (2005, p. 55):
formou-se uma Junta Governativa Provisória para concretizar a ideia do ‘Estado das
Missões’, cuja capital seria União da Vitória. Diante dessa reviravolta na solução do
litígio do ‘Contestado’, os estados envolvidos abandonaram o radicalismo, passando
a admitir um acordo que foi mediado pelo próprio Presidente da República,
Wenceslau Braz.
Vendo que a situação estava ficando tensa, o então presidente da república, Wenceslau
Braz, resolveu evitar o conflito armado, intervindo no caso. Assim, Santa Catarina aceitou
_______________
3
José Maria da Silva Paranhos Júnior – Barão do Rio Branco – diplomata brasileiro que atuou na questão da
disputa de terras do Contestado entre Brasil e Argentina.
22
fazer um acordo com o Paraná, dividindo parte das terras que conseguiu com o Contestado.
Segundo Wachowicz (2001, p. 196): “Desta forma, o Paraná recuperou o sudoeste (Palmas e
Clevelândia) e perdeu as terras da vertente do rio Uruguai. O Paraná contentou-se com 20.000
km² e Santa Catarina com 28.000 km²”.
A construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande, em 1908, comandada pelo grupo
econômico norte-americano denominado de Brazil Railway Company, que passava pelas
terras do Contestado, ligou União da Vitória, no Paraná, a Marcelino Ramos, no Rio Grande
do Sul.
A forma de pagamento do Brasil à empresa americana pela construção da ferrovia era
por meio de terras, no equivalente a 8 quilômetros de cada margem da ferrovia. As terras
passaram a pertencer aos norte-americanos e as populações caboclas que viviam por várias
gerações na posse dessas terras foram expulsas. Essas terras passaram a ser valorizadas e isso
despertou o interesse dos latifundiários. Segundo Wachowicz (2001, p. 1998):
assim, os sertanejos se viam cercados de inimigos, não tinham ninguém para lhes
ajudar, até surgir um líder para a sua revolta, Miguel Lucena, o autodenominado
monge José Maria. Surgiram três figuras intituladas monges que percorriam os
sertões prometendo cura e dando conselhos aos caboclos. O que mais se destacou
foi o monge José Maria, que mais tarde liderou a revolta dos sertanejos pela posse
das terras. Após a morte do seu líder, esses sertanejos transformaram-se em
jagunços, que só após várias expedições o governo conseguiu dizimar
(WACHOWICZ, 2001, p. 1998).
Esses líderes religiosos usaram da força dos caboclos para tentar formar uma
monarquia sul-brasileira, mas que não deu certo, pois segundo Wachowicz (2001, p. 205):
com o início da luta, firmou-se entre algumas lideranças a ideia de uma monarquia
sul-brasileira, que compreenderia os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul e o Uruguai. O rico e influente fazendeiro catarinense Manoel Alves de
23
Assunção Rocha, que possuía grande ascendência sobre os fanáticos, fora inclusive
aclamado imperador da monarquia sul-brasileira, no retorno de Taquaruçu4.
Foi criada a colônia Bom Retiro, que mais tarde deu origem à cidade de Pato Branco.
De acordo com Voltolini (2005, p. 54, grifo do autor):
Assim no pós-guerra do Contestado foi criada a colônia de Bom Retiro que deu
origem a cidade de Pato Branco, como será analisado a seguir.
Para melhor situar o leitor, a região Sudoeste do Paraná onde fica localizada a cidade
de Pato Branco é composta atualmente por quarenta e dois Municípios: Ampere, Barracão,
Bela Vista da Caroba, Boa Esperança do Iguaçu, Bom Jesus do Sul, Bom Sucesso do Sul,
Capanema, Chopinzinho, Clevelândia, Coronel Domingos Soares, Coronel Vivida, Cruzeiro
do Iguaçu, Dois Vizinhos, Enéas Marques, Flor da Serra do Sul, Francisco Beltrão, Honório
Serpa, Itapejara D´Oeste, Manfrinópolis, Mangueirinha, Mariópolis, Marmeleiro, Nova
Esperança do Sudoeste, Nova Prata do Iguaçu, Palmas, Pato Branco, Pérola do Oeste, Pinhal
do São Bento, Planalto, Pranchita, Realeza, Renascença, Salgado Filho, Salto do Lontra,
_______________
4
Taquaruçu – reduto preparado para guerra que ficava localizado no município de Curitibanos.
24
Santa Izabel do Oeste, Santo Antonio do Sudoeste, São João, São Jorge D´Oeste, Saudade do
Iguaçu, Sulina, Verê e Vitorino5. A economia da região é predominantemente agrícola.
Há várias versões sobre a origem da cidade de Pato Branco e elas divergem em alguns
detalhes, mas todas se fundamentam no pós-Guerra do Contestado. Segundo consta no livro
publicado em comemoração aos cinquenta anos da Comarca de Pato Branco, coordenado pelo
Desembargador Oto Luiz Sponholz (2004, p. 23-24):
em 1916, o Estado do Paraná acabou perdendo para Santa Catarina toda a porção
territorial que hoje se constitui no oeste catarinense. Com a assinatura do Acordo
do Contestado, muitos paranaenses debandaram da região, para não se submeter à
jurisdição catarinense. Tentando resolver a questão e reunir os retirantes no
sudoeste paranaense, o governo criou a Colônia Bom Retiro, através do Decreto n.º
382, de 7 de maio de 1918. O nome era uma homenagem à antiga propriedade rural
pertencente a Maria Isabel Belém e Almeida, assim denominada desde 1893. A
demarcação dos lotes da Colônia foi feita pelo engenheiro Francisco Gutierrez
Beltrão, que posicionou o teodolito entre os Rios Pato Branco e Vitorino. Em pouco
tempo, a sede do povoado Bom Retiro passou a ser chamado de Vila Nova e mais
tarde de Pato Branco.
Outra versão para a origem de Pato Branco foi relatada pelo Jornal Correio de
Notícias, publicado em 29 de novembro de 1984, no qual consta uma reportagem com o
título: Início do século: as primeiras histórias de Pato Branco (1984, p. 8-9):
esta região sempre foi área de muito conflito e disputa. Ainda nos finais do século
passado a Argentina pleiteava para si toda esta parte do País, que vai do Rio Grande
do Sul às barrancas do Rio Ivaí no Paraná. Em 1903 o presidente6 de Clevelândia
(SIC!), nos Estados Unidos, intermediou esta disputa de terras entre Brasil e
Argentina, dando ganho de causa ao Brasil. Ainda no começo do século a língua
aqui falada era o espanhol. Preocupado em manter a soberania desta área, o
governo brasileiro instalou em 1915 uma linha de telégrafo entre a Vila de
Clevelândia ao povoado de Barracão, na fronteira com a Argentina. No percurso
desta linha foram colocados vários postos telegráficos e aberto um picadão que
ligava um posto ao outro. Este picadão facilitou a chegada dos primeiros habitantes
ao Sudoeste, que foram se estabelecendo ao longo de seu trajeto. Já bem mais tarde,
nos anos trinta, o picadão de Clevelândia e Barracão foi o caminho utilizado pelos
comerciantes de erva-mate que iam vendê-la na Argentina. Ainda sobre a disputa
pelo domínio entre Brasil e Argentina, destas terras, comenta-se que o projeto de
_______________
5
As informações apresentadas sobre os Municípios que compõem a região Sudoeste do Paraná foram
encontradas no livro Sudoeste do Paraná 2. edição, publicado como complemento do jornal Diário do
Sudoeste em 14/12/2011.
6
Há um equívoco do Jornal Correio de Notícias ao usar a expressão: presidente de Clevelândia na reportagem.
Refere-se ao Presidente Grover S. Cleveland dos Estados Unidos da América, conforme já citado na página
19.
25
Mesmo sendo várias as versões sobre a origem de Pato Branco, existem pontos
convergentes que apontam a possível veracidade dos fatos, como a versão de que os caboclos
advindos do Contestado se refugiaram em Pato Branco. Outro ponto debatido refere-se à
instalação do telégrafo na região do rio Pato Branco, o que acabou dando o nome definitivo
para a região. Dessa forma, as versões apresentadas têm um fundamento verídico que
explicam de maneira diferente, mas sempre com a mesma essência, a história do surgimento
de Pato Branco.
A Colônia de Bom Retiro pertencia ao município de Clevelândia. No início da
colonização não havia cartório na Colônia e devido à elevada distância com o centro daquele
município, nascimentos e óbitos não apresentavam registros em cartório. Dessa forma, na
década de 1920, Bom Retiro foi elevado a distrito judiciário para suprir as necessidades
locais.
A criação do “Districto Judiciário de Bom Retiro”, nos anos de 1920, também marcou
o início da escolarização na Colônia, que até então não existia. Levou a cidadania à Colônia,
com a viabilidade de registros públicos, bem como a educação, por meio da escola pública.
Segundo Voltolini (2005, p. 287):
o ‘edifício da Escola Pública’, uma construção tão rústica quanto a dos moradores
de toda Villa Nova, foi erguido em local [...] em cujas proximidades seria levantada
também a primeira capela do povoado, em 1930. Ali surgiu o primeiro centro social
do distrito, localizando-se nas redondezas o maior número de moradores, até o final
dos anos 20 e meados da década seguinte.
_______________
7
Deve-se esclarecer que o primeiro Governo de Getúlio Vargas foi de 1930-1945.
8
Houve um equívoco do Jornal Correio de Notícias ao afirmar que a Guerra do Contestado foi em 1916, pois
aquela guerra ocorreu no período de 1912 a 1916.
26
no Mapa do Paraná de 1919, Pato Branco já está registrado, embora a referência seja
feita ao telégrafo que ficava distante do centro de Bom Retiro uns 15 km. Por isso é
preciso não esquecer que, junto ao rio Pato Branco, hoje município de Mariópolis,
localizava-se o Telégrafo, servindo de ponto de comunicação dessa vasta região. [...]
Esse telégrafo teve papel importante, pois servia de referencial português na
fronteira, a estrada (picada) já estava sendo usada até a Encruzilhada de Villa Nova
e o traçado, bem como os fios do telégrafo faziam ligação com Dionísio Cerqueira,
fronteira com a Argentina.
Devido às Colônias de Bom Retiro e Vila Nova apresentarem certa distância entre si,
em 1938, a linha telegráfica foi também instalada na Colônia de Vila Nova, o que facilitou a
vida da população dali, que era a maioria. Além do desenvolvimento social, os fios do
telégrafo também causaram a mudança do nome das Colônias Bom Retiro e Vila Nova para,
definitivamente, serem chamadas tão somente de Pato Branco. Esse nome faz referência ao
27
rio que fica próximo às Colônias, que se chama rio Pato Branco, pois os primeiros
desbravadores dessas terras, ao chegarem às margens do rio, teriam avistado um pato branco
nadando nele.
Não era só pela fuga de adversidades de questões políticas que os gaúchos procuravam
a região sudoeste do Paraná para se estabelecerem, mas também vinham em busca de terras
férteis e ricas em madeira. Esse também era o objetivo dos catarinenses, que foram
28
Segundo informações do governo do Estado, por meio dos Atos do Poder Executivo
(PARANÁ, 1981, p. 64), “Na década de 1950, o fenômeno da ocupação territorial e
econômica ocorrido na região norte repetiu-se no Sudoeste paranaense. Migrantes vindos
principalmente de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul [...]”.
No final do século XIX houve a abertura e incentivos do governo brasileiro em
parceria com representantes de alguns países europeus para a imigração européia ao Brasil.
Isto ocorreu até o início da segunda Guerra Mundial (1914), principalmente de imigrantes
advindos da Itália ao Rio Grande do Sul, que se instalaram nas terras devolutas da serra
gaúcha que logo ficaram escassas. Assim, passou a ocorrer a migração interna no Sul do país,
com incentivos do governo principalmente para a região sudoeste do Paraná, que era muito
_______________
9
Há um equívoco da autora ao afirmar que a população vinda do Rio Grande do Sul para o sudoeste do Paraná
era apenas a população cabocla, pois conforme foi verificado pela pesquisa, também vieram do Rio Grande do
Sul colonizadores descendentes de europeus, principalmente de origem Italiana.
29
A busca pela posse e propriedade da terra não era a única razão do deslocamento de
levas de imigrantes gaúchos procurarem o sudoeste do Paraná para se estabelecerem, também
havia o incentivo dos próprios familiares.
Assim, pode-se constatar que a colonização por gaúchos e catarinenses era muito forte
no Sudoeste do Paraná a partir dos anos 1940. Um pouco mais tarde, Pato Branco também
passou a ser destino de migrantes ucraíno-poloneses, pois foram significativas as levas que se
estabeleceram em Pato Branco e em colônias nos arredores, o que intensificou ainda mais a
diversidade cultural da região sudoeste.
Pato Branco não apontava somente para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Elegeu também como alvo preferencial o centro-sul do Paraná, atingindo a maior
colônia de cultura ucraíno-polonesa do Brasil. Dezenas e dezenas de famílias
ucranianas, concomitantemente com a movimentação migratória sulista, buscaram
estas terras na confiança de melhores dias. Etnia tradicionalmente unida no Brasil,
seja pelos usos, costumes e crenças particulares, seja pelas dificuldades da
comunicação linguística fora do grupo, conservou, em Pato Branco, esse hábito,
formando uma colônia própria na região [...] (VOLTOLINI, 2005, p. 123).
30
vida de mulher pioneira era de muito trabalho. Tanto dentro de casa como
trabalhando na roça e cuidando de um grande número de filhos longe de qualquer
conforto e facilidade dos centros urbanos. Médico na região não existia, só um
curandeiro conhecido por Vargas que receitava ervas e chás para os enfermos. Os
doentes que se encontravam em estado de saúde mais precário eram levados para
Porto União, divisa com Santa Catarina que ficava distante uns 15 dias, indo de
carroça. Por essas e outras é que Carmela Dalacorte Bortot, esposa de Pedro Bortot
aprendeu o ofício de parteira. Por suas mãos nasceram cerca de trezentas pessoas de
Pato Branco e região.
Outra questão que deve ser destacada sobre a época da colonização do sudoeste do
Paraná, especificamente de Pato Branco, refere-se ao banditismo e à violência, que era muito
marcada na época do início da migração. Muitos bandidos fugitivos e perseguidos políticos do
Rio Grande do Sul refugiavam-se na colônia de Bom Retiro em busca de tranquilidade, mas
todos viviam armados, buscando se proteger dos perigos apresentados por esses sertões. O
31
uso de armas era um costume comum, segundo o testemunho de um morador de Pato Branco
nos anos de 1950:
e eu lembro bem que o negócio era tão perigoso na época, na região, que havia
muito bandido, muito fugitivo do Rio Grande e tal, tinha muita coisa. Era uma
época meio braba. Tanto é que na praça de Pato Branco, no domingo de manhã, em
frente à igreja, era uma praça que a maioria da rapaziada lá [...]. E no domingo,
uma das ações preferidas da rapaziada, principalmente dos turistas, era se reunir na
praça, botava um litro lá em cima e ficava dando tiro no litro (CALDART, 2011, p.
3).10
Era muito comum nessa época a região sudoeste do Paraná ser o refúgio de
perseguidos da lei, pistoleiros, bandidos que assombravam as pessoas e que as autoridades
policiais do Paraná e do Rio Grande do Sul muitas vezes desistiam de ir em busca devido aos
perigos apresentados nesse interior do Estado. A violência não vinha só da bandidagem, mas
muitas vezes dos próprios representantes da polícia, deixando a população ainda mais
apavorada.
Esse é o retrato da população pioneira de migrantes que lutou para que as dificuldades
fossem vencidas em uma época de poucos recursos e muita coragem para sobreviver. Esses
foram os pioneiros de Pato Branco.
A partir da década de 1940, a infra-estrutura de Pato Branco foi remodelada, com
maiores investimentos feitos pelo governo federal através da CANGO, a Colônia de Pato
Branco saiu de seu quase total isolamento, o que é descrito a seguir.
_______________
10
João Oswaldo Caldart, em entrevista ao Jornal de Beltrão, Francisco Beltrão, 23/04/2011, falando sobre o
sudoeste do Paraná nos anos de 1950, quando era secretário de obras da Prefeitura Municipal de Pato Branco −
PR.
32
_______________
11
Estrada de acesso à região sudoeste do Paraná, cuja construção foi iniciada pelos militares nos anos 1940.
33
(Pato Branco) e permaneceu ali por quatro anos, tempo suficiente para que a estrada
Estratégica fosse concluída e o projeto pudesse seguir ao seu destino final.
o objetivo da CANGO não era Bom Retiro. Com o projeto o governo tencionava
colonizar, de forma ordenada, de modo especial com agricultores gaúchos e
catarinenses, no mínimo, 300 mil hectares da Gleba Missões, situada além do rio
Santana, rumo à fronteira. Para atender às suas finalidades, a administração da
CANGO veio para o Sudoeste, para se instalar na localidade de Rio Marrecas, de
onde haveria de comandar a ocupação da área que lhe fora destinada (VOLTOLINI
2005, p. 188).
aqui permaneceu, marcou o início da moderna cidade de Pato Branco, com sua sociedade e rol
das atividades que lhe dão sustentação, progresso e lhe acenam com um futuro risonho”.
Segundo Fèdre (2001, p. 18):
a criação da CANGO foi um gesto improvisado. O decreto federal que a criou não
estabelecia seus limites apenas determinava que sua extensão não poderia ser
inferior a 300 mil hectares. O objetivo prático da nova colônia era atrair o
excedente de mão de obra agrícola do Rio Grande do Sul para o sudoeste do
Paraná. Por isso, todas as condições necessárias foram criadas para fixar os
colonos.
A terra foi cedida para os colonos. No entanto, os títulos de compra das propriedades
não eram passíveis de registro em cartório no nome dos novos proprietários, o que resultou
35
mais tarde num problema para os colonos, desencadeando a revolta dos posseiros. Segundo
relatório dos serviços executados pelo Departamento de Geografia, Terras e Colonização:
em 1926, quando Pedro Antônio Soares chegou por essas bandas, vindo de
Soledade no Rio Grande do Sul, não existia nada em Pato Branco. O local era mata
de araucária fechada. Perdida entre a mata de araucária uma ou outra casa. Pedro e
seu irmão José Antonio Soares chegaram ao Paraná movidos pela força que
impulsionou grande parte dos pioneiros: a ambição de melhorar a vida. Haviam
36
escutado em conversas que corriam no Rio Grande, que pra estes lados do País,
existiam terras a perder de vista, todas cobertas por densas matas de pinheiros e
sem proprietários. Os perigos, a distância dos parentes e a solidão eram fracos
pretextos para deter estes homens ambiciosos e aventureiros [...].
Em Bom Retiro, no núcleo da Colônia havia uma capela, porém não havia nenhuma
estrutura de escola. Dessa forma, devido aos colonizadores atribuírem a importância da escola
para seus filhos, pois traziam consigo essa cultura, resolveram o problema por meio da
contratação de professor particular para ensinar seus filhos em suas casas. O professor mais
conhecido naquela época era Juvenal Loureiro Cardoso, que foi um dos pioneiros no ensino
em Pato Branco. Com o tempo, ele construiu uma escola em sua casa, sempre próxima à
igreja. Mas a procura pelas aulas foi sendo cada vez maior, então ele e o engenheiro Duílio
Trevisani Beltrão conseguiram verbas, em 1941, junto ao governo do Estado do Paraná, para a
criação de uma escola rural em Pato Branco. Assim, no ano de 1943, ocorreu a inauguração
da primeira escola rural mantida pelo governo estadual em Pato Branco, denominada Grupo
Escolar Professor Agostinho Pereira, criada pelo Decreto n.º 1948, de 18/05/1943 (PARANÁ,
1943).
Coincidência ou não, é fato que a partir de 1943, com a instalação da CANGO, a
escola mantida pelo governo também foi implantada em Pato Branco e a partir dessa época o
desenvolvimento econômico, social e educacional de Pato Branco passou a ser relevante para
a região sudoeste do Paraná.
A CANGO contribuiu significativamente para o desenvolvimento de Pato Branco,
principalmente por meio da demarcação e divisão das terras da Colônia e incentivos para o
plantio. No entanto, a CANGO transferia a posse da terra aos colonos, mas não emitia títulos
passíveis de serem registrados por aqueles e isso desencadeou mais tarde um grande problema
para os colonos, pois a forma mais comum de aquisição de terras no sudoeste do Paraná, nos
anos de 1940 e 1950, foi por meio da posse. Isso ocasionou a revolta dos posseiros em 1957,
devido ao fato de o governo buscar revender os terrenos aos colonos.
que viviam basicamente de atividades da economia familiar rural. Essas famílias vinham
atraídas pela aquisição de terras férteis cheias de pinheiros, com incentivo que a CANGO já
vinha desenvolvendo desde 1943, por meio da companhia colonizadora Comercial Industrial e
Territorial Ltda. (CITLA). Mas ao longo do governo de Bento Munhoz da Rocha, a CITLA
ficou parada devido a lides judiciais de órgãos governamentais para decidir a quem realmente
pertenciam as terras da CITLA. Enfatiza Wachowicz (2001, p. 221) que:
devido a esta atitude do governo Bento, a CITLA ficou quase imobilizada por todo
o período de seu governo (1951-1955). Enquanto isso, os colonos oriundos do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina afluíam em grande número para a região. Cada dia
entravam de 10 a 20 famílias só em Francisco Beltrão. O rápido crescimento
populacional fez aumentarem os problemas políticos, já existentes entre os grupos
de situação e de oposição ao governo do Estado.
Algumas dessas famílias detinham a posse do imóvel há 10, 15 anos. No entanto, não
possuíam o título de registro, apenas contratos de compra e venda ou, muitas vezes nem isso.
Moysés Lupion ganhou as eleições para governo do Estado em 1955 e sua influência
política interveio nas colonizadoras das terras do sudoeste do Paraná. Ainda segundo o autor
acima citado:
As terras das Glebas Missões e Chopim estavam sendo disputadas na justiça entre a
União e o Estado já há muito tempo. Quando novamente eleito, Lupion buscou realizar seu
plano de venda das terras, mas diante da negativa dos cartórios em registrar os imóveis para as
empresas colonizadoras, cientes da lide judicial, o governo estadual criou um cartório em
Santo Antonio do Sudoeste para efetivar os registros. Sobre isso escreve Wachowicz (2001, p.
220-221):
Após eleito, Moysés Lupion introduziu duas novas empresas colonizadoras as quais
detinham capital social, no Sudoeste do Paraná para, junto à CITLA, negociarem as terras
com os colonos posseiros. Por meio das empresas colonizadoras Apucarana e Comercial,
eram emitidos contratos de compra e venda das terras aos colonos. No entanto, o preço da
terra era exorbitante e os colonos não tinham o direito de explorar os pinheiros que havia nas
terras que adquiriam, sendo aqueles pertencentes às colonizadoras. Os colonos não
concordavam com as condições impostas pelas empresas e passaram a demonstrar resistência.
Isso fez com que as colonizadoras contratassem jagunços e matadores de aluguel para obrigar
os agricultores a assinarem os contratos, caso contrário atrocidades eram cometidas contra
eles e suas famílias. Os jornais do Paraná, do Brasil e também do exterior noticiavam as
violências sofridas pelos colonos e suas famílias, conforme noticiou o Jornal Tribuna do
Paraná sobre a invasão da residência de colonos a mando das colonizadoras, Jornal (1957, p.
9):
Como visto, os colonos que resistiam às propostas das colonizadoras sofriam ameaças,
espancamentos, assaltos, saques, extorsões. Isso deixava as famílias apavoradas e centenas
delas fugiram para a fronteira, procurando refúgio na Argentina. Outras voltaram ao Rio
Grande do Sul e a Santa Catarina, de onde haviam saído.
39
com que o governo do Estado fosse pressionado sobre a resolução da questão das terras do
sudoeste do Paraná, inclusive pelo governo federal. De acordo com a notícia do Jornal
Tribuna do Paraná, Jornal (1957, p. 11):
um mau brasileiro. Representando-se a outros fatos disse o orador que, agora com o
govêrno do Sr. Lupion, voltam a mazova a desordem, o dissídio, a luta e o
ensanguentamento da terra paranaense. O Paraná está ameaçado de uma maior
catástrofe, porque tem seu govêrno em mau administrador, um mau brasileiro e um
mau paranaense. Aí estão Arapoti, Momungava, Chopim e Missões para atestar que
êle é um mau brasileiro. A seguir, o orador fez um histórico completo da
composição da CITLA e provou o Sr. Moisés Lupion sócio fundador daquela
companhia. Mencionou os nomes dos componentes e o capital com que foi
constituída a firma, do qual faz parte o Sr. Cândido Machado de Oliveira, deputado
pelo PSD, que tanto tem procurado defender os interêsses das mesmas, na
Assembléia Legislativa. Declinou ainda mais nomes de prefeitos, escrivães e
tabeliões de notas que, são sócios da CITLA e membros do PSD, nos municípios de
fronteira.
O governador Moysés Lupion tentava se defender alegando que a situação das terras
do sudoeste do Paraná estava sob controle. Assim, mandou correspondência oficial para o
então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, segundo radiograma
transmitido pelo Serviço de Telecomunicação do Governo Moysés Lupion (PARANÁ, 1957,
[f.1]), que dizia o seguinte:
Chefatura de Polícia
Serviço de Telecomunicação
Radiograma Transmitido
15/10/57
Destinatário: Presidente – Juscelino Kubitschek de Oliveira
Palácio do Catete – Rio de Janeiro – D.F.
Tenho honra me dirigir Vossa Excelência afim (SIC!) lhe transmitir últimas
notícias sôbre ocorrências Zona Sudoeste dêste Estado vg em adiantamento meus
rádios anteriores vg sob nrs pt São os mais alviçareiros os informes ora posso
enviar-lhe vg pois vg desde tarde hoje situação município Santo Antonio está
inteiramente normalizada vg tendo colonos retornando suas residências vg bem
como voltando ao ritmo comum de vida todos setores atividades pt Sede aquela
comuna constituía último foco inquietação vg tendo elementos exaltados atacando
Delegacia Polícia vg ferindo Delegado Ordem Política Social vg enviado àquela
Zona para apurar responsabilidades tocaia havida dia 14 setembro pt Quando
morreram seis pessoas pt Após medidas postas em prática autoridades estaduais vg
acontecimentos foram superados vg resultando a ótima situação de que estou
cientificando Vossa Excelência pt Afim consolidar plena pacificação tôda Zona
Sudoeste vg fiz distribuir reforçados contingentes infantaria e cavalaria Polícia
Militar Estado vg sendo que ainda hoje chegaram Santo Antonio últimos elementos
enviados pt Acabo receber dali satisfatórias notícias alusivas estado espírito
população vg inteiramente identificada propósito segurança pública que
determinaram ao govêrno estadual remessa aquelas tropas pt Assim vg panorama
social de hoje apresentado Zona Sudoeste Paraná é de absoluta recomposição
pacífica vg e vem se evidenciar vg assim vg como chocante contraste à exploração
política dos adversários dêste governo vg através Tribunais Senado e Câmara vg
bem como jornais e emissoras dessa capital vg e junto autoridades pt Aliás vg êsse
41
Mas a situação da revolta dos posseiros tornou-se mais grave a partir do momento em
que as emissoras de rádio de Pato Branco e Francisco Beltrão passaram a convocar os colonos
posseiros para se unirem nas praças do centro dessas cidades, armados com o que tivessem
em casa, para atacar as empresas colonizadoras e defenderem suas famílias e posses. Foi o
momento decisivo da revolta dos posseiros nessas duas cidades.
Segundo Voltolini (2003, p. 163):
centenas de homens das mais diversas idades, desde avós até quase crianças, lá se
postaram, armados com o que tinham em casa: revólver, espingarda, faca, facão,
foice, machado, para integrar o exército de Pato Branco na cruzada de libertação do
Sudoeste da tirania das empresas colonizadoras.
O governo do Estado, ao par da situação delicada pela qual passava a região, pediu
reforço policial para retomar a ordem pública, na eminência de virar uma luta armada.
Segundo ofício do Governo Moysés Lupion ao Secretário do Interior e Justiça, Guataçara
Borba Carneiro (PARANÁ, 1957, [f.1]):
42
Estado do Paraná
551. 16 outubro de 57
Senhor Secretário:
Recomendo a Vossa Excelência as providencias necessárias no sentido de ser
organizado o 3º Batalhão da Polícia Militar, com efetivo aproximado de 492
homens e a ser sediado na cidade de Ponta Grossa. Essa nova unidade, porém, será
provisoriamente estacionada na localidade de Pato Branco, até que possa ser
substituído pelo 1º Regimento de Polícia Rural Montada.
A área de operações dessa tropa ficará circunscrita – exclusivamente a cinco
municípios da região Sudoeste do Estado ou sejam – Pato Branco, Francisco
Beltrão, Barracão, Santo Antonio e Capanema. A distribuição da mesma deverá
obedecer, rigorosamente, a sua organização militar: assim, a Primeira Companhia,
com 104 homens ficará com seu pôsto de comando (P.C.) em Pato Branco,
deslocando um pelotão para estacionar em Barracão; a Segunda Companhia com
efetivo idêntico, terá o seu (P.C.) em Francisco Beltrão e a Terceira Companhia,
com o mesmo número de homens das demais, será sediada em Santo Antonio,
deslocando um pelotão para destacar em Capanema.
À sua Excelência o Senhor Guataçara Borba Carneiro. Secretário do Interior e
Justiça.
A fim de atender patrimônios e distritos de cada um dos referidos municípios, os
respectivos comandos não deverão destacar praças isolados e sim em esquadras,
grupos ou pelotões, tendo em vista as circunstancias do movimento. Os Delegados
de Polícia dos municípios que integram esta região deverão recorrer, em caso de
necessidade de garantia da Segurança Pública ao comandante do Batalhão ou ao
comandante da Companhia de acordo com as exigências do momento.
Valho-me da oportunidade para renovar-lhe os protestos de mais elevado apreço e
consideração.
Moysés Lupion, Governador.
Tendo em vista a situação do sudoeste do Paraná ter se agravado devido à Revolta dos
Posseiros, o governador Moysés Lupion solicitou reforço ao chefe do Departamento de
Produção de Obras, General Ângelo Mendes de Moraes, no Palácio da Guerra do então
Distrito Federal, de munição de armas para a Corporação que lá atuava, segundo ofício do
Governo (PARANÁ, 1957, [f.1]):
43
Estado do Paraná
556. 17 de outubro de 1957
Senhor General:
Face às últimas ocorrências havidas no Sudoeste dêste Estado vg necessita o
Govêrno melhor aparelhar a sua Polícia Militar vg afim (SIC!) de preservar e
manter a ordem pública pt Nessas condições vg tenho a honra de solicitar os bons
ofícios de Vossa Excelência vg no sentido de mandar fornecer vg àquela
Corporação vg a seguinte munição:
50.000 tiros – munição “INA” – CBC – Cal. 45
50.000 tiros – munição HP-7930 – ogival – Cal. 7mm. (para metralhadoras Hot
kiss)), de acordo com as amostras que vão juntas dêste.
Agradeço a valiosa colaboração de Vossa Excelência e valho-me da oportunidade
para transmitir-lhe os protestos do meu elevado apreço e estima pt
Moyses Lupion vg Governador
À sua Excelência o Senhor General Ângelo Mendes de Moraes
Digníssimo chefe do Departamento de Produção de Obras pt
Palácio da Guerra – Rio de Janeiro – DF.
Sobre a Revolta dos Posseiros, segundo Caldart (2011, p. 3, grifo do autor), que em
1957 trabalhou como Secretário de Obras da Prefeitura Municipal de Pato Branco e foi
testemunha daquele episódio, comenta em entrevista concedida ao Jornal de Beltrão que:
Oswaldo – É, o (Ivo) Tomazoni era candidato da UDN, por quê? Porque o Ivo
Tomazoni, na revolta do Sudoeste, foi em 57 pra 58, ele era radialista, em uma das
únicas rádios da região, que era a Colmeia, e tinha os programas de futebol e uma
série de programas, e era a única rádio que se ouvia ali e a Guaíba, de Porto Alegre,
que entrava em toda parte. E aí o Tomazoni começou a campanha, começou a
visitar no interior e tal, e surgiu o problema quando veio aquele grupo da Comercial
lá do Norte do Estado, e já tinha feito loteamentos, tinham colonizado a região. Mas
eles colonizaram lá na base da bala! E quando chegaram ali, nas Glebas Missões,
Chopim, Marrecas e tal, eles encontraram a gauchada, e a gauchada já tinha tomado
posse, alguém já tinha pago pra outros que vendiam e tal, que estavam em cima do
terreno e começaram a botar essa jagunçada, fizeram coisas lá que não podiam ter
feito. E diziam que o Cândido Martins e o Lupion faziam parte da Citla. Bom, com
isso houve uma debandada pro lado do Ivo Tomazoni, por causa do movimento que
ele fazia pela rádio. Até que, numa altura, ele convocou o pessoal pra vir para a
praça, nós, eu e meus irmãos, tivemos de ficar até meio recolhidos. Minhas duas
irmãs foram desaforadas em plena praça de Pato Branco, por um cidadão chamado
Porto Alegre. Ele era vendedor da casa rádio (SIC!), ele visitava todos os colonos,
sabia da história e tal. Era amigo do Tomazoni e aliou-se com os posseiros, se bem
que nós nunca tivemos nada contra os posseiros, [...].
Com reforço policial a mando do governo para acalmar os ânimos dos colonos
posseiros que lutavam para defender o que lhes pertencia, suas terras e famílias, alguns dos
jagunços contratados pelas empresas colonizadoras foram presos e julgados, outros fugiram.
A situação foi controlada pela polícia e os colonos puderam voltar às suas propriedades. As
colonizadoras foram derrotadas pelos posseiros e o governo, amplamente pressionado pela
imprensa e pelas autoridades políticas, colocou fim à questão da disputa de terras com os
colonos do Sudoeste do Paraná. De acordo com Voltolini (2003, p. 194):
entre perder o Palácio Iguaçu, ou o rendoso negócio das terras das Missões, Lupion
optou por este, reconhecendo a razão do posseiro, determinando o fim das atividades
comerciais da CITLA, Apucarana e Comercial no Sudoeste, com fechamento de
escritórios e retirada do pessoal da área de operações.
o Presidente Juscelino estava cauteloso [...]. Era preciso preservar esses votos para
a eleição de 1960. Por isso, ao invés da intervenção veio o ultimatum ao governo
paranaense para que resolvesse o problema das companhias e dos posseiros. Os
interesses econômicos do Grupo Lupion foram então sacrificados em benefício da
situação nacional do PSD.
haviam transcorrido quatro anos desde o levante dos posseiros e nenhuma solução
foi concretizada para o problema das posses. Pressionado pelo Governador Ney
46
A revolta dos posseiros foi sem dúvida um confronto armado que marcou
profundamente a história da região sudoeste do Paraná. Envolveu questões políticas,
econômicas e sociais dos anos de 1950. Após o desencadeamento da revolta dos posseiros
ainda na década de 1950, o sudoeste do Paraná passou por uma transformação intensiva de
ordem econômica, o chamado ciclo da madeira.
Essa significativa atividade econômica que dominava o sudoeste do Paraná nos anos
de 1950 necessitava de numerosa mão de obra. No início, as serrarias eram rudimentares, com
técnicas que empregavam força humana, em seguida com força das águas dos rios,
posteriormente era aplicada a força de máquinas a vapor e a partir dos anos de 1960 houve a
instalação de energia elétrica pública, que tocava as serrarias e servia ao núcleo de famílias
que se localizavam próximas a elas.
Havia uma parceria entre as serrarias e os agricultores donos de pequenas
propriedades rurais, com amplo benefício, pois o que os colonos precisavam para o cultivo da
terra era o espaço livre dos pinheiros e isso as serrarias lhes proporcionavam. Assim, ocorreu
a extração descontrolada e sem planejamento da madeira no sudoeste do Paraná.
Para tentar frear essa exploração audaciosa e descontrolada do pinheiro-do-paraná
(araucária), o governo federal criou, pela Lei n. 3.124/41, o Instituto Nacional do Pinho, mas
devido à morosidade na efetivação da lei, em contrapartida, a acelerada extração da floresta
fez com que seus exploradores ganhassem essa luta. A floresta de pinheiro foi explorada de
maneira descontrolada, sem nenhum planejamento. Isso fez com que, em aproximadamente
30 anos de exploração do pinheiro, ocorresse a quase extinção de sua área natural, o sudoeste
do Paraná. São poucos os exemplares que ainda existem. Tratava-se de uma economia
representativa para Pato Branco e região, mas efêmera devido à falta de planejamento
econômico de longo prazo.
De acordo com Bocchese (1999, p. 68):
121): “eram precisamente 114, entre serrarias e laminadoras”. Todas essas empresas estavam
instaladas no Município de Pato Branco, nos anos 1950-1970, no ápice da extração da
madeira. Formavam-se grandes núcleos populacionais ao redor de cada uma dessas
madeireiras e o ritmo de cada comunidade era comandado pelo ritmo de trabalho da
madeireira. Essas pessoas eram empregadas da empresa com suas famílias que ficavam em
casas cedidas pelo empregador. De acordo com Voltolini (2000, p. 122):
De qualquer forma, há de se destacar que o ciclo da madeira foi muito importante para
o desenvolvimento econômico e social de Pato Branco. A indústria madeireira que por ali se
instalou ocasionou uma geração significativa de empregos diretos e indiretos. Mas, o ciclo da
madeira foi efêmero, com sua atividade significativa nos anos 1950 a 1970. Após a
decadência da madeira e retirada das serrarias ocorreram reflexos negativos no
desenvolvimento econômico na região do sudoeste do Paraná.
Durante o ciclo da madeira, as serrarias ficavam localizadas no interior do Município
de Pato Branco e também nas proximidades da área urbana. Para que os filhos dos
funcionários e dos donos dessas serrarias pudessem estudar, havia, junto aos seus núcleos
escolas patrocinadas pelos donos das serrarias. Tudo indica que essas escolas particulares
mantidas pelos donos das serrarias foram criadas conforme a previsão legal do artigo 44, da
Lei n. 8.529/1946 – Lei Orgânica do Ensino Primário (BRASIL, 1946):
Essa era uma exigência do governo: manter escolas junto às serrarias, que eram de
classes multisseriadas. Segundo o depoimento de Brisol (2005, p. 59-60), que trabalhou como
professora nos anos de 1950 em uma dessas escolas relata:
49
Muitas professoras começaram suas atividades profissionais nos anos de 1950, nas
escolas mantidas pelas serrarias no interior do município de Pato Branco. Segundo o
depoimento da professora Sabino (2005, p. 35):
As escolas mantidas nas serrarias ofereciam a única alternativa para que os filhos dos
empregados e dos donos delas pudessem estudar. Havia uma igualdade social entre os alunos.
É o que enfatiza a professora Zamodzki (2005, p. 41):
Essas escolas mantidas nas serrarias eram particulares e ao longo do tempo foram
substituídas por escolas municipais ou simplesmente foram se extinguindo à medida que a
atividade madeireira foi se reduzindo. Poucas foram as escolas que continuaram suas
atividades, como é o exemplo citado por Voltolini (2005, p. 179):
a Escola Rural Municipal Maria Montessori atende às crianças, filhos dos poucos
empregados da serraria e, principalmente, de pequenos proprietários rurais da
50
Até os anos de 1940, os recursos da medicina eram praticamente nulos nas colônias de
Vila Nova e Bom Retiro. Se alguém ficasse doente por aquelas bandas, estava condenado à
morte imediata, não fossem os curandeiros da região que eram, por isso, famosos, pois,
52
apresentavam o único recurso para os mais diversos casos de doenças, ou de acidentes, muito
comuns por tiros e emboscadas com pistoleiros.
Nos anos de 1930 apareceram os primeiros profissionais na área de saúde em Bom
Retiro, mas que na verdade eram apenas práticos, pois muitas vezes eram fugitivos de cidades
maiores; nunca ninguém ficava sabendo direito quem eram e de onde vinham.
Médico formado só existia mesmo em Clevelândia ou União da Vitória e as distâncias
eram muito grandes. Com a instalação provisória da CANGO a partir dos anos de 1943,
também veio o serviço médico-hospitalar, que atendia não só os funcionários da colonizadora,
mas a população de um modo geral, fornecendo medicamentos e atendendo os pacientes em
suas casas. Contudo esse atendimento foi passageiro e cessou com a retirada da CANGO.
O primeiro médico que se efetivou em Pato Branco após a saída da CANGO, em
1945, foi o Dr. Sílvio Coelho Vidal Leite Ribeiro, que veio do Rio de Janeiro e construiu o
primeiro hospital de Pato Branco, chamado “Hospital Santa Margarida”, em 1946. Segundo a
obra: Estatísticas Municipais 30 anos: Pato Branco 30 – histórico (1982, p. 33): “no ano de
1946 foi inaugurado o Hospital Santa Margarida, obra levada a efeito graças ao trabalho tenaz
do Dr. Sílvio Vidal, médico pioneiro do Sudoeste”. Mas havia dificuldade em encontrar mão
de obra especializada para o bom atendimento dos pacientes no hospital. Então, o Dr. Sílvio
Vidal trouxe, também do Rio de Janeiro, três religiosas: Irmãs da Congregação das Filhas da
Caridade de São Vicente de Paulo para o exercício de enfermagem no hospital. Além de
cuidar dos doentes, as Irmãs também se envolveram com a educação privada.
Em 1948 foi instalada em Pato Branco, por meio da Prelazia de Palmas, pelo Bispo
Dom Carlos Saboia Bandeira de Mello, a Paróquia São Pedro Apóstolo. Com a criação da
Paróquia, o bispo Dom Carlos Eduardo, com o apoio da população, buscou a criação de um
colégio de freiras em 1949, dando prioridade às Irmãs da Congregação das Filhas da Caridade
de São Vicente de Paulo, porque já trabalhavam na Vila. Assim, concretizou-se a criação de
uma casa de freiras e o Instituto Nossa Senhora das Graças em Pato Branco, o que representou
um grande avanço na área educacional. De acordo com a história do Colégio Vicentino Nossa
Senhora das Graças (2011), publicada na página do endereço eletrônico do colégio:
Dessa forma, os pioneiros resolveram construir uma igreja para sua prática religiosa,
escolhendo como padroeiro São Pedro Apóstolo. Segundo o Jornal Diário do Sudoeste (1988,
p. 14):
no ano de 1930 foi construída a primeira capela nesta localizada (SIC!) de Vila
Nova. Até aquela data, o padre que vinha uma ou duas vezes ao ano de Palmas,
rezava a missa em casa particular, pois não tinha igreja nem capela onde pudesse
ser realizada a cerimônia. A comissão construtora da primeira capela escolheu por
padroeiro São Pedro Apóstolo, porque havia quatro homens com o nome de Pedro
na comissão que eram: Pedro Vieira, Pedro Soares, Pedro Bortot e Pedro Tato.
54
Com grande esforço e com auxílio direto da comunidade, foi erguida a primeira
Capela de Vila Nova, que seria festivamente inaugurada no dia 29 de junho de
1933, na festa do Padroeiro.
Em 1935 foi construída outra igreja, em local planejado pelo engenheiro Duílio
Trevisani Beltrão, ainda segundo consta no Jornal Diário do Sudoeste (1988, p. 14):
Sobre a construção das igrejas de Pato Branco, segundo depoimento de Merlo (1984,
p. 9):
em 1938 os quatro Pedros pioneiros, Pedro Vieira, Pedro Soares, Pedro Bortot e
Pedro Tato construíram e entregaram à cidade a primeira igreja que ficava no local
onde está a praça da matriz, entre as ruas Guarani e Tupi. Foram as famílias dos
quatro Pedros os primeiros festeiros da nova igreja. Pedro Bortot e Pedro Tato
deram a madeira para erguerem a igreja e os outros arrecadaram dinheiro e se
encarregaram da construção. Antes de 1938 havia apenas uma capela no povoado.
A maior distração do povo da colônia era rezar o terço na igreja aos domingos. A
igreja era um ponto de encontro onde os amigos botavam em dia os assuntos da
semana e os mais jovens aproveitavam para dar uma namorada. ‘Ir na igreja rezar o
terço aos domingos para nós era sagrado. Papai fazia a gente ir, tivesse chovendo
ou fazendo sol. As vezes tínhamos que levar os filhos nas costas, porque estava
tudo alagado da chuva’, recorda Rosa Merlo, os tempos em que a maior diversão
das moças do povoado eram os bordados e participar do coral da igreja. Festas
aconteciam duas vezes por ano. Em 29 de junho, dia de São Pedro e 21 de
novembro, dia de Nossa Senhora da Saúde. Nestas ocasiões vinha um padre de
Palmas rezar a missa. Era o frei Cassimiro que rezava as duas únicas missas que
havia durante o ano. Nos dias de São Pedro e Nossa Senhora da Saúde tinha festa o
dia inteiro. Durante o dia havia quermesse. À noite faziam baile de ramada, que era
uma armação de madeira coberta por galhos de árvores no teto. O resto ficava
aberto ao relento e o piso era de chão batido [..].
contrapartida, o terreno no qual ficava localizada a escola passou a pertencer à Igreja Católica,
que em 1965 inaugurou a construção da atual igreja matriz da Paróquia de São Pedro
Apóstolo de Pato Branco. Ainda de acordo com a reportagem do Jornal Diário do Sudoeste
(1988, p. 15): “Finalmente no dia 29 de junho, foi inaugurada solenemente a matriz com
grande festa, vindo o Bispo Diocesano D. Carlos e Frei Gonçalo que terminara as obras [...]”.
Assim, foi construída a atual igreja matriz de Pato Branco.
Quanto à emancipação de Pato Branco, esta ocorreu em 14 de novembro de 1952, com
a criação do Município pela Lei 790, sancionada pelo Governador Bento Munhoz da Rocha,
que criou o Município de Pato Branco. De acordo com o relatório dos Atos do Poder
Executivo, foi criada a divisa do novo Município de Pato Branco, desmembrado do Município
de Clevelândia Diário Oficial (PARANÁ, 1951, p. 2):
instalação do Instituto Nossa Senhora das Graças, bem como com a implantação do Colégio
Estadual Professor Agostinho Pereira.
No próximo capítulo é analisada a presença das instituições de ensino em Pato Branco,
desde a chegada da primeira professora que alfabetizava as crianças de Bom Retiro e Vila
Nova, a implantação da Escola Normal em Pato Branco.
57
As aulas da professora Ana Maria Cordeiro eram em espanhol para os filhos dos
empregados argentinos e paraguaios, que aqui moravam, e em português para os filhos dos
caboclos. Esclarece Bocchese (2004, p. 184) que:
mas o professor Marcondes também não ‘emplacou’. Não ficou um ano sequer na
regência escolar em Villa Nova. Pessoa excêntrica, quando lhe dava certos acessos,
largava a escola e mandava-se para Clevelândia, demorando semanas para ir e
voltar, a pé, acompanhado da esposa.
Os moradores de Vila Nova queriam escola para seus filhos e buscava-se novamente
um professor que pudesse assumir essa tarefa, mas o apelo para os professores de Clevelândia
não seria atendido, pois certamente ninguém iria deixar o conforto da sede municipal para vir
59
para um lugar tão distante. Dessa forma, a solução foi encontrada em Vila Nova mesmo –
Noé Aires de Mello que era cartorário:
[...] cartorário e professor em Bom Retiro. Com pessoa da casa a coisa iria
funcionar. E funcionou, beneficiando a criançada de Villa Nova com professor que
haveria de permanecer no cargo até quando fosse necessário, para a tranquilidade
de todas as famílias locais (VOLTOLINI, 2005, p. 288).
Mas, mais uma vez não foi por muito tempo que Noé Aires de Mello lecionou em
Bom Retiro.
Até os anos de 1930, pouca coisa havia mudado em termos de desenvolvimento
educacional nas colônias. Contudo, a partir desta década, foi expressivo o contingente de
famílias que se deslocaram da sede do Município de Clevelândia para se instalarem na
Colônia de Bom Retiro. Foi o que aconteceu com Juvenal Loureiro Cardoso, que se mudou
com a família para morar em Vila Nova. Devido ao seu grau de instrução, supriu a carência de
professor na vila e construiu a escola em sua casa, que ficava próxima à primeira igreja
construída em Vila Nova.
Quando ocorreu a construção da nova igreja em 1935, na qual atualmente se encontra
o centro da cidade de Pato Branco, a escola também foi mudada. Ou seja, a escola sempre
ficava na casa do professor Juvenal Loureiro Cardoso, ao lado da igreja. A religiosidade e a
escola estavam interligadas nos anos iniciais do desenvolvimento de Vila Nova, conforme
argumenta Bocchese (2004, p. 186):
como em 1935 ocorreu a mudança da capela para uma elevação que corresponde
atualmente o lugar em que está a praça Presidente Vargas, determinou-se que ali
seria o centro de Villa Nova. Assim, em 1937, nesse lugar foi inaugurada a capela,
e a escola outra vez mudou para essa área. O tempo passou e a escola continuou
sempre nos arredores da igreja e da praça.
O professor Juvenal Loureiro Cardoso dava aulas particulares para as crianças das
colônias em sua casa. Relatos do filho mais velho de um dos pioneiros de Pato Branco, Pedro
Antônio Soares, e uma das primeiras pessoas nascidas em Pato Branco, diz como era a vida
na Colônia nos anos de 1930, bem como a sua experiência frequentando as aulas do professor
Cardoso, em reportagem ao Jornal Correio Notícias, Soares (1984, p. 8):
Unerval Soares, primeiro filho de Pedro Antônio Soares, hoje com 53 anos é uma
das pessoas mais antigas, nascida em Pato Branco. Morava com a família na altura
onde atualmente fica a Avenida Tupy. Diz que no começo dos anos 30, Pato
Branco era um povoado e moravam por aqui cerca de dez famílias. Não havia
escolas e as poucas crianças que eram alfabetizadas aprendiam a ler com
60
De acordo com as fontes citadas podemos constatar que além do professor Juvenal
Loureiro Cardoso, também havia mais duas professoras na Vila de Pato Branco, nos anos de
1930: Nadir Inocêncio e Maria Alves. Possivelmente eram professoras que davam aulas
particulares em suas casas, assim como o professor Juvenal Loureiro Cardoso. Conforme o
Relato constante no Jornal Correio Notícias de outra moradora da Vila de Pato Branco nos
anos de 1930, que também frequentou as aulas do professor Juvenal Loureiro Cardoso, Merlo
(1984, p. 9) diz que:
Rosa Ana Bortot Merlo, terceira filha do Pioneiro, foi trazida para o Paraná, com 12
anos de idade. Conta que não queria vir, porque desejava estudar no colégio em
Sananduva, onde sua irmã mais velha estudava. Foi consolada pelos pais que
prometeram que iria estudar no colégio em Palmas, mas depois de ter chegado a
Vila Nova, nunca mais frequentou a escola. Estudou mais dois anos com o único
professor que existia no povoado, Juvenal Cardoso, que dava aulas particulares.
Rosa diz que de 1932 a 1934, período que esteve estudando com o professor, tinha
na sua aula mais de 20 alunos.
Segundo a matéria publicada no jornal, pode-se verificar que no início dos anos 1930,
o professor mais conhecido que trabalhava em Vila Nova e Bom Retiro, alfabetizando as
crianças, era o professor Juvenal Loureiro Cardoso, com escola particular em sua residência.
Os depoimentos de Unerval Soares e de Rosa Ana Bortot Merlo representam dois
testemunhos de pessoas que viveram em Pato Branco, nos anos 1930, e vivenciaram os fatos
ocorridos naquela época, e ainda participaram das aulas do professor Juvenal Loureiro
Cardoso. Sobre o testemunho, Bloch enfatiza (2001, p. 74):
Pelo relato, pode ser observada a rigidez e a disciplina em sala de aula da década de
1930. Nessa escola, a prática de castigos físicos, como a palmatória, era muito comum e
aceita pela sociedade daquela época.
Mas até 1943, segundo as fontes, só havia a escola do professor Juvenal Loureiro
Cardoso, em Pato Branco. O marco inicial da propagação da escola pública estadual no
sudoeste do Paraná, na colônia de Pato Branco, ocorreu em 1943, devido ao interesse do
professor Juvenal Loureiro Cardoso e do engenheiro Duílio Trevisani Beltrão. Estes pioneiros
angariaram recursos, junto ao Interventor Manoel Ribas, para a construção de uma unidade
escolar em Pato Branco.
Juvenal Loureiro Cardoso e Duílio Trevisani Beltrão, sabedores da notícia de que
seriam construídas escolas no Estado do Paraná pelo governo do Interventor Manoel Ribas,
desejosos de progresso, para isso, conscientes da importância da educação para o
desenvolvimento de Pato Branco, em 1941, dirigiram-se a Curitiba e conseguiram verbas para
a construção de um grupo escolar mantido pelo governo do Estado, o “Grupo Escolar
Professor Agostinho Pereira”. É o que se pode verificar pelo Decreto (PARANÁ, 1943, p. 2):
Mais tarde, por um período determinado, foi cedida parte das dependências do Grupo
Escolar Professor Agostinho Pereira para instalação temporária do Colégio Estadual de Pato
Branco. Argumenta Bocchese (2004, p. 144-145) que:
o Instituto Nossa Senhora das Graças foi fundado em 1949, quando vieram do Rio
de Janeiro, três irmãs para dar início à obra educacional, então, no longínquo rincão
do Sudoeste Paranaense. Irmã Tereza Chiesa, Primeira Diretora, Irmã Ermelinda
Barros, e Irmã Adalgisa Fonseca. Em 1949 foram matriculadas 120 crianças em
idade escolar e foram iniciadas as atividades escolares do ano letivo, em condições
muito precárias, segundo as possibilidades da época. Em 1954 foi criado o Ginásio
Nossa Senhora das Graças, segundo portaria do Ministério da Educação e Cultura,
para atender as aspirações do povo que ia crescendo. Sua primeira diretora foi a
Irmã Elizabeth Fonseca. Atualmente o Instituto Nossa Senhora das Graças fundiu
(SIC!) o primário e o Antigo Ginásio no Curso Fundamental pela lei nº. 5.692 da
Reforma do Ensino no país. Sendo o INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS
GRAÇAS seu nome jurídico e o nome comum, tradicionalmente dado pelo povo
“COLÉGIO DAS IRMÃS”. A Escola Normal Colegial e Estadual desde a sua
fundação passou a funcionar nas dependências do Instituto Nossa Senhora das
_______________
13
No período de 1943 a 1963.
63
Graças de maneira que até hoje funciona, regido dentro de uma filosofia
educacional integrada, em prol do desenvolvimento integral da pessoa humana. O
corpo docente e discente do Instituto está constituído atualmente de 30 professores
e 730 alunos. Por isso, quando da passagem do 25º aniversário de fundação do
Instituto Nossa Senhora das Graças a direção de PATO BRANCO EM REVISTA
não poderia deixar passar desapercebida esta tão importante data, e prestar uma
simples homenagem a estas que foram as pioneiras no ensino em Pato Branco..
Sobre o início das atividades pedagógicas das Irmãs em Pato Branco, comenta
Bocchese (2004, p. 190):
Em 1954, ocorreu a instalação do Ginásio Nossa Senhora das Graças, em Pato Branco.
Mas havia uma dificuldade imensa para encontrar profissionais da educação preparados para
trabalhar no Ginásio. Assim, a solução para o problema foi a contratação de profissionais
liberais que atuavam em diferentes atividades na vila de Pato Branco, como: juiz de direito,
médicos, advogados, que entre outros, foram contratados como professores para lecionar no
Ginásio Nossa Senhora das Graças.
Com a instalação do Instituto Nossa Senhora das Graças em Pato Branco, nos anos
1950, as Irmãs buscaram atingir não só o público na faixa escolar do primário, mas também
aquela do ginasial. O curso de admissão permaneceu em alta, durante o tempo em que era
exigido, como provas de ingresso ao curso ginasial. A procura do povo era grande, pois não
existia outro similar na região. Poucas eram as famílias mais abastadas que conseguiam
sustentar seus filhos sob o regime de internatos em outras cidades. Assim, o curso de
admissão era a melhor saída para que os pais ficassem mais tranquilos com seus filhos
estudando em Pato Branco mesmo. Foi em 1957 que ocorreu a formatura de sua primeira
turma do ginásio, o que representou um grande avanço para a educação de Pato Branco.
Mas havia a necessidade de formar professores para atuar nos colégios de Pato Branco
e em outros municípios vizinhos. Em 1958, o governador do Estado, Moysés Lupion,
autorizou a criação da Escola Normal no município pelo Decreto n.º 24721/59. Essa escola
funcionava junto às dependências do Instituto Nossa Senhora das Graças, cujo aluguel era
pago pelo governo do Estado às Irmãs Vicentinas, que eram responsáveis pela sua direção.
Assim, foi constituída a primeira turma de normalistas de Pato Branco por meio da Escola
Normal Colegial Dr. Xavier da Silva. Para beneficiar as classes menos favorecidas, o governo
64
Desde o início foi grande a procura por essa escola profissionalizante que trouxe ótima
oportunidade de formação, inclusive para os professores que já vinham lecionando há muito
tempo, mas não tinham formação regularizada. A realidade no Estado do Paraná na década de
1960 apresentava um maior número de professores leigos atuando do que professores com
uma formação. Isso é o que assegurou o professor Véspero Mendes, Secretário de Educação e
Cultura, em Relatório apresentado ao Governador do Estado:
A Escola Normal passou a funcionar a partir de 1960, em prédio alugado pelo Instituto
Nossa Senhora das Graças ao governo estadual. As instalações da Escola Normal ficavam
junto àquela instituição devido ao fato de ela oferecer local apropriado, com várias salas de
aulas, bem como ao trabalho das Irmãs Vicentinas Filhas da Caridade de São Vicente de
Paulo, que era muito conhecido na educação de Pato Branco. As próprias Irmãs foram
encarregadas da direção, organização e lecionaram na Escola Normal por muitos anos.
Segundo Voltolini (1999, p. 101):
Concomitante com a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, também funcionava
em Pato Branco o Colégio Comercial Estadual de Pato Branco14, com curso de Contabilidade,
criado pelo Decreto n.º 20.989, de 30/12/1958, com autorização de funcionamento pela
Portaria n.º 69, de 02/03/62. Estes foram os primeiros cursos profissionalizantes que
funcionaram em Pato Branco (Voltolini, 1999).
A Escola Normal permaneceu durante 26 anos funcionando e surgiu no período da Lei
Orgânica n.º 8.530/1946, conhecida como Lei Orgânica do Ensino Normal, da reforma de
Gustavo Capanema. Em 1961 ocorreu a publicação da Lei n.º 4.024/1961, que fixou as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, vigente por dez anos. No entanto, em 1971, foi
aprovada a Lei n.º 5.692/1971, que promoveu a reforma do ensino de 1º e 2º graus, no Brasil.
Assim, a trajetória da Escola Normal de Pato Branco passou pela regência de todas essas leis,
cada uma com suas peculiaridades, assunto que será analisado a seguir.
_______________
14
Esse Colégio funcionava nas dependências físicas do Colégio Rocha Pombo, que também já foi extinto.
66
A Escola Normal foi instalada no prédio do Instituto Nossa Senhora das Graças por
uma questão de economia. Era mais fácil pagar aluguel do que construir uma sede própria. Foi
escolhido o “Colégio das Irmãs” por ser muito conhecido na educação da cidade de Pato
Branco15 e por oferecer amplas salas de aula, que ao todo eram cinco. Foi uma conquista para
as Irmãs Vicentinas acolherem a Escola Normal. Mas, antes de tudo, tal se deu devido àquele
colégio se enquadrar nos requisitos previstos pelos incisos dos artigos 40 e 42 da Lei
Orgânica do Ensino Normal (BRASIL, 1946):
Todas essas exigências trazidas pela lei foram cumpridas pelo Instituto Nossa Senhora
das Graças. Assim, a escola foi instalada e administrada pelas Irmãs Vicentinas. Segundo
reportagem do Jornal Diário do Sudoeste (1989, p. 9): “graças aos esforços e a dedicação com
que as irmãs se empenhavam pelo colégio, em 1959, foi criada a Escola Normal Colegial ‘Dr.
Xavier da Silva’, funcionando no mesmo prédio da escola e estando sob a direção das irmãs”
Devido a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva funcionar nas dependências
físicas do Instituto Nossa Senhora das Graças, e ser direcionado pelas Irmãs Vicentinas seguia
o mesmo regimento interno desta escola. A diferença era por ser escola pública. Junto ao
_______________
15
O Instituto Nossa Senhora das Graças era uma escola particular que também funcionava sob o regime de
internato. As famílias com melhores condições pagavam para que suas filhas estudassem naquela escola e
ficassem sob os cuidados das Irmãs Vicentinas.
67
Como pode ser observado, o regulamento de conduta visava orientar os alunos que
frequentassem as dependências da escola para que agissem de acordo com princípios
religiosos, morais e cívicos professados pela Congregação das Irmãs. Segundo o artigo 43 da
Lei 4.024/6 (1961): “cada estabelecimento de ensino médio disporá em regime ou estatutos
sobre a sua organização, a constituição dos seus cursos, e o seu regime administrativo,
disciplinar e didático”.
Pelo fato da escola ser de orientação religiosa, é possível perceber princípios de ordem
“moral”, como a proibição ao aluno de namorar nas salas de aula do Colégio, em seu portão
ou na calçada.
Os alunos usavam uniforme para irem à escola, não era permitido usar blusa decotada,
transparente, calça Lee16 e sapatos de salto fino ou tamancos. Todos os princípios previstos no
código de conduta demonstram como eram os costumes da época e as regras seguidas pela
escola.
A procura pela escola profissionalizante de formação de professores foi muito grande
desde a sua implantação, pois era a chance de muitas professoras que já trabalhavam nas
escolas de Pato Branco e do interior, nas cidades próximas, obterem formação em nível
Normal Colegial, pois muitas dessas professoras atuantes não tinham possibilidade de se
formar em outras escolas ou faculdades17. A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva era
uma excelente oportunidade para a formação daquelas professoras, bem como as alunas que já
estudavam no Instituto Nossa Senhora das Graças, após cursarem o Ginásio, continuavam
estudando na Escola Normal. A procura era imensa. Eram duas turmas de aproximadamente
_______________
16
Marca de roupa criada nos Estados Unidos.
17
A partir de década de 1970, foram abertas Faculdades em Palmas e Guarapuava.
69
A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva foi pioneira em Pato Branco como
escola de formação de professores. Mas de onde provinham os professores que atendiam
àquela escola e qual a sua formação? Esta foi uma das perguntas feitas às entrevistadas18,
conforme anexos.
Nas respostas à questão, todas as entrevistadas disseram que a maioria dos professores
que lecionava na Escola Normal era religiosa ou tinha formação recebida em Seminários ou
Colégios de Freiras, principalmente da própria Congregação Vicentina, como exemplo da
Irmã Theresinha Bortolini, que lecionava várias disciplinas. Os professores eram provenientes
de grandes centros, como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais, e tinham formação acadêmica. Os professores que não possuíam formação acadêmica
estavam fazendo cursos superiores nas faculdades de cidades próximas da Região,
principalmente em Palmas e Guarapuava, pois nos anos de 1970, essas eram as faculdades
mais procuradas por toda a região sudoeste, que ofereciam oportunidades de formação
acadêmica nos cursos de Filosofia, Pedagogia e outros.
Antes disso, eram poucos os professores com formação acadêmica em Pato Branco,
segundo consta no livro elaborado pelo Núcleo Regional de Educação de Pato Branco – PR,
coordenado por Ana Séres Trento Comin, em comemoração aos 39 anos de implantação do
Núcleo na cidade - Memorial - Núcleo de Educação de Pato Branco – PR, (2002). Nele, é
relatada a trajetória dos Inspetores Regionais do Núcleo de Educação de Pato Branco/PR
durante aquele período e as principais obras que cada um desses Inspetores desenvolveu,
como é o caso da Inspetora Regional Líris Guzela Vedana, com a primeira gestão no período
de 1968 a 1970, em que consta o início da trajetória da escola pública profissionalizante em
Pato Branco, entre outras, a Escola Normal Colegial “Dr. Xavier da Silva”. De acordo com
Comin (2002, p. 23-24):
_______________
18
A uma professora que lecionou na Escola Normal e cinco ex-alunas.
70
Nos anos de 1960, não havia professores formados para lecionarem nos cursos
profissionalizantes em Pato Branco. Por isso, eram contratados para atuarem como
professores, profissionais liberais que realizavam as atividades típicas de suas profissões
durante o dia e à noite davam aulas naqueles cursos. Na Escola Normal foi diferente devido
ao fato de as Irmãs se dedicarem, com exclusividade, às atividades pedagógicas.
No início só havia turmas do período diurno para a Escola Normal, mas, com o
decorrer do tempo, a procura foi aumentando e fez-se necessária a abertura também de turma
noturna para a Escola Normal, pois muitas alunas eram senhoras que já trabalhavam durante o
dia com atividades escolares. Ainda, algumas alunas cursavam a Escola Normal durante o dia
e no período noturno faziam o curso técnico em contabilidade no Colégio Comercial de Pato
Branco, que, por muito tempo, também funcionou junto ao Instituto Nossa Senhora das
Graças. As turmas da Escola Normal eram grandes, com 50 até 70 alunas, divididas entre os
dois turnos. Até a década de 1970 não havia concurso do Estado para contratação de
professores. Somente mais tarde passou a existir concurso, mas mesmo assim alguns
professores não eram vinculados ao Estado, os chamados suplementaristas. Como exemplo,
os professores Elsa Sachser Tondo (Educação Física); Erminda Cardoso Vargas (Educação
71
Artística); Sittilo Voltolini (Português); Isis Lemser Borcioni (Educação Física), contratados
em janeiro de 1975.
Alguns dos professores que lecionaram na Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva, além dos acima citados, foram: Adiles Maria Guardalben, Celita Maria da Silva
Bussetti, Iria Ambrósio Fiorentin, Marta Polaski, Neli W. Brandes, Paulina Rech, Salete
Ambrósio, entre muitos outros. Porém, não foi possível encontrar a listagem com os nomes de
todos os professores.
De acordo com o artigo 116 da Lei n.º 4.978/64, previsão legal do Sistema Estadual de
Ensino do Paraná, Conselho Estadual de Educação, sob a jurisdição de Lei 4.024/61,
(PARANÁ, 1964, p. 21):
aulas de matemática, por exemplo. Esta disciplina era apenas ‘decoreba’ e cada aluna fazia 6
joguinhos com os recortes das cartolinas, uns salteados e outros corridos. O governo não
proporcionava nenhum material didático era apenas o quadro-negro, giz e nada mais. Assim,
a professora deveria criar métodos de ensino. Eu era vista como ‘revolucionária’ pelas demais
professoras, principalmente as colegas Irmãs, porque em minhas aulas mudava o
posicionamento das carteiras em sala de aula, as carteiras eram tradicionalmente posicionadas
em fileiras, mas nas minhas aulas as alunas deixavam suas carteiras em formato de meia-lua
na sala de aula”.
Assim se constituiu o quadro docente da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva
de Pato Branco.
A seguir, será analisado o quadro curricular que foi implantado na Escola Normal de
Pato Branco.
Estas eram as disciplinas previstas pela Lei Orgânica (BRASIL, 1946), que em seu
artigo 46, previa que: “A legislação de cada unidade federada poderá acrescer disciplinas à
seriação indicada nos artigos 7º, 8º e 9º, ou desdobrá-las, para maior eficiência do ensino”.
Dessa forma, delegava a competência para os Estados acrescerem disciplinas. A
documentação encontrada no arquivo da Escola Normal é muito pouco e não há material
suficiente para constatar quais disciplinas eram aplicadas na escola durante a vigência da Lei
Orgânica do Ensino Normal, mas podemos coletar dados por meio de entrevistas feitas com
ex-alunas da escola. A entrevistada “E”, que foi aluna da Escola Normal Colegial Dr. Xavier
da Silva no período de 1960 a 1962, em entrevista concedida à autora deste trabalho em
27/09/2011, indicou as disciplinas que eram ensinadas na escola: “Português, Didática,
Psicologia, Higiene, Ed. Física, Matemática, Física e Química, Anatomia, Biologia, OSPB,
Estudos Paranaenses, Geografia do Brasil, História, Filosofia da Educação, Desenho,
Educação Doméstica, e Religião, Conhecimentos Gerais [...]”.
A entrevistada indicou de maneira generalizada as disciplinas que estudou, no período
de 1960 a 1962 na Escola Normal, não identificando as disciplinas de cada série anual. Tudo
indica que a entrevistada equivocou-se ao mencionar a disciplina de OSPB (Organização
Social e Política do Brasil), que não era prevista pela Lei Orgânica do Ensino Normal. Na
disciplina Estudos Paranaenses, lecionavam-se história e geografia do Estado do Paraná.
Apesar da mudança ocorrida com a Lei n.º 4.024/1961, esta conservou a organização
dada pela Lei Orgânica, pois a educação do ensino médio continuou sendo ministrada em dois
ciclos: primeiro ciclo – ginasial – e o segundo ciclo – colegial –, abrangendo o curso
secundário de formação de professores para atuação no ensino primário e pré-primário. A lei
previa disciplinas e práticas educativas de acordo com cada ciclo. Assim, cabia ao Conselho
Federal de Educação estabelecer quais deveriam ser as disciplinas obrigatórias21 e aos
Conselhos Estaduais de Educação completar o número de disciplinas, bem como relacionar
aquelas que seriam de caráter optativo aos estabelecimentos de ensino.
Segundo os artigos 34 e 35 da Lei n.º 4.024/61 (BRASIL, 1961):
_______________
21
Até cinco disciplinas obrigatórias.
74
Art. 34. O ensino médio será ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial, e
abrangerá, entre outros, os cursos secundários, técnicos e de formação de
professores para o ensino primário e pré-primário.
Para o ingresso na primeira série do ginásio, a lei exigia a aprovação dos alunos em
exame de admissão. Para isso, o educando deveria ter 11 anos completos ou a completar no
decorrer do ano letivo. No entanto, para o aluno ser matriculado na primeira série do ciclo
colegial, deveria ter concluído o ciclo ginasial22 ou equivalente. A lei também previa que uma
das normas para a organização do ensino de grau médio era estabelecer processo educativo
que desenvolvesse a formação moral e cívica dos educandos. Dentro das disciplinas de caráter
optativo no 1º e 2º ciclos, era prevista a inclusão de uma disciplina vocacional, conforme as
necessidade e possibilidades locais.
De acordo com o artigo 40 da Lei 4.024/61 (BRASIL, 1961) quanto às disciplinas
obrigatórias:
_______________
22
Em Pato Branco, o ginásio era ministrado pelo Instituto Nossa Senhora das Graças.
75
Não foi possível encontrar material que pudesse fornecer informações precisas de
quais disciplinas eram adotadas pela Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, na vigência
da Lei 4.024/61, pois pelo decurso do tempo, muitos documentos da extinta Escola Normal se
perderam, devido a má conservação e a falta de interesse em conservá-los, já que foram
guardados em um depósito impróprio para a manutenção dos documentos.
Pode-se aplicar à conservação dessas fontes:
Contudo, conforme entrevista de uma professora que deu aula naquela escola, bem
como de algumas ex-alunas, pode-se ter uma ideia de quais disciplinas eram ensinadas no
decorrer dos anos nos quais a escola funcionou.
Assim, segundo a entrevistada “A”, que foi professora da Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva, no período de 1963 a 1976, as disciplinas ensinadas eram: “Sociologia,
Psicologia, Didática, Prática de Ensino e Ensino Religioso (as demais disciplinas do curso
eram: Português, Literatura, Matemática, Estatística, Ciências Físicas e Biológicas, Filosofia,
OSPB, História, Geografia e Educação Física)”23. Ainda, enfatizou a entrevistada “A”: “A
Repercussão do povo da região sudoeste do Paraná com o episódio da Revolta dos Posseiros
_______________
23
Entrevista concedida em 05/07/2011.
76
foi muito grande. Foi o início da reforma agrária na região. As professoras de geografia e
história usavam aqueles fatos como exemplos nas aulas”. Pode-se perceber que os fatos
marcantes da Revolta dos Posseiros serviram para ilustrar as aulas de geografia e história,
devido àquele episódio ter contribuído com a reforma agrária da região sudoeste do Paraná.
Segundo a entrevistada “B”, que foi aluna da escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva no período de 1969 a 1972, as disciplinas ensinadas eram: “Português, Matemática,
História, Geografia, Ciências, Fundamentos de Educação, Prática de Ensino, Artes, Educação
Física e Estágio”.24
De acordo com a terceira entrevistada “C”, aluna daquela escola no período de 1970 a
197225: “do núcleo comum: Português, Matemática Básica (que as professoras aprendiam
para posteriormente ser ensinadas às crianças)”. Específicas: “Didática, Psicologia,
Sociologia, e as práticas de aulas que iniciavam na primeira série com observação. Depois
começávamos a regenciar uma sala de aula por uma ou duas aulas e por fim trabalhávamos
por dez a doze dias como professoras regentes de uma única sala de aula, a professora e a
orientadora do estágio assistiam quase o dia todas às aulas que nós preparávamos e
ministrávamos e faziam a avaliação”.
A entrevistada citou disciplinas do núcleo comum conforme previsão legal do artigo
4º, da Lei n.º 5.692/71, mas os pressupostos dessa lei só foram aplicados à Escola Normal de
Pato Branco mais tarde, quando a escola passou por uma reorganização, o que vai ser tratado
adiante. Assim, há um equívoco da entrevistada, pois a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva ainda estava sob a jurisdição da Lei n.º 4.024/61, no período em que a entrevistada
estudou naquela escola.
Para “D”, que estudou na escola no período de 1965 a 196726, as disciplinas ensinadas
eram: “obrigatórias: Português, Matemática, Ciências, História, Geografia. Complementares:
Fundamentos da Educação, Teoria e Prática, Educação Primária. Optativas: Higiene e
Puericultura, História da Educação. Psicologia Educacional, Desenho. Práticas Educativas:
Artes Femininas, Música e Canto Orfeônico, Educação Física”.
Observa-se que havia um núcleo comum de disciplinas, como Matemática, Português,
Ciências, História, Educação Física e outras disciplinas específicas para o curso Normal,
como Didática de Ensino, Psicologia Educacional, Fundamentos da Educação, bem como
outras disciplinas que eram optativas, como Artes, Religião e Canto. A disciplina de Canto
_______________
24
Entrevista concedida em 18/07/2011.
25
Entrevista concedida em 20/07/2011.
26
Entrevista concedida em 13/08/2011.
77
Orfeônico era prevista pela Lei Orgânica do Ensino Normal em seu artigo 7º, ao curso de
regentes de ensino primário.
Em relação à disciplina de Religião, esta era optativa aos alunos, mas a instituição
escolar era obrigada a oferecer a disciplina na organização do currículo e o horário, sendo
que, para o aluno inscrito na disciplina, era obrigatória a sua frequência. De acordo com a
previsão legal do Sistema Estadual de Ensino do Paraná, Lei n.º 4.978/64, em seu artigo 18, e
parágrafos do Conselho Estadual de Educação (PARANÁ, 1965, p. 6):
Dessa forma, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, escola pública, localizada
em prédio de uma congregação religiosa, cumpria com a obrigação de oferecer aulas de
educação religiosa, como foi relatado pelas entrevistadas.
A avaliação dos alunos da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva era por meio
de provas orais e escritas e também era levado em conta o comportamento dos alunos.
Segundo a entrevistada “B”28: “A avaliação era através de prova escrita e oral, onde as alunas
eram escolhidas aleatoriamente para responderem perguntas oralmente junto ao professor e a
turma. Havia muita ‘docoreba’”.29
O estágio era obrigatório para as alunas que cursavam a Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva, segundo determinação do Decreto n.º 73.079/73, com previsão da Portaria nº.
3725/76, emitido pela Diretoria Geral da Secretaria de Habilitação para o Normal Colegial. O
estágio era supervisionado pelas professoras das matérias básicas. As alunas mestres
_______________
27
Grifo da pesquisadora, buscando enfatizar que devido ao fato de a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva,
escola pública, localizar-se junto ao Instituto Nossa Senhora das Graças, escola particular regida por religiosas,
era oferecido ensino religioso conforme relato das entrevistadas.
28
Entrevista concedida em 18/07/2011.
29
Estudou na Escola Normal no período de 1969 a 1972.
78
Buscou-se descobrir, por meio das entrevistadas, de onde provinham as alunas que
estudavam na Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva. Segundo suas respostas, a maioria
das alunas que frequentavam a Escola Normal de Pato Branco morava ali mesmo ou em
cidades próximas a Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, advindas de lugares onde ainda não
existiam Escolas Normais como as cidades de: Mariópolis, Coronel Vivida, Bom Sucesso do
Sul, que na época era distrito de Pato Branco, Verê, Itapejara D´Oeste, Vitorino, Chopinzinho,
Clevelândia, Pranchita e cidades do Estado de Santa Catarina, como São Lourenço do Oeste,
Campo Erê e outras.
_______________
30
Entrevista concedida em 18/07/2011.
31
Entrevista concedida em 05/07/2011.
79
Algumas alunas também vinham das cidades de Francisco Beltrão e Dois Vizinhos
locais onde já existiam Escolas Normais.
A procura pela Escola Normal era, na sua grande maioria, de pessoas do sexo
feminino. A feminização do magistério é um fenômeno que ocorreu no final do século XIX e
início do século XX no Brasil por vários fatores, como: organização fabril do trabalho com
influência da industrialização e urbanização das cidades, o que proporcionava aos homens
trabalhos com salários maiores e fazia com que as mulheres assumissem a instrução primária,
vendo no magistério uma atividade de continuação da função materna. Concomitantemente à
Escola Normal, existia o Colégio Comercial de Pato Branco, que oferecia o curso de técnico
em contabilidade, o qual atraía, predominantemente, alunos do sexo masculino.
Dentre as normalistas, muitas já haviam cursado o ginásio no Instituto Nossa Senhora
das Graças e davam sequência aos estudos na Escola Normal. Mas uma grande quantidade de
alunas já trabalhava como professora leiga e cursava aquela escola para obter uma formação
regular, segundo as informações coletadas em pesquisa realizada na região sudoeste do Paraná
em 1969, sobre o desenvolvimento econômico, social, educacional e crescimento das cidades
da região, coordenada por Paulo Ricardo Santos (engenheiro agrônomo) por meio do
Ministério da Agricultura – Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário e o Grupo
Executivo para as terras do Sudoeste do Paraná. A pesquisa descreveu, dentre outros dados,
quais Escolas Normais Colegiais públicas existiam em toda a região sudoeste do Paraná
referente ao ano de 1968 e o corpo docente de professores primários na região. Santos (1969,
p. 65) aponta que:
3.6 POR QUE A PROCURA PELA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA INTENSIFICOU-SE NO PERÍODO DE 1960 A 1970 E O QUE A REFERIDA
ESCOLA SIGNIFICAVA PARA PATO BRANCO E A REGIÃO?
Como mencionado, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva foi pioneira na
formação de professores no município de Pato Branco e para outras cidades menores
localizadas próximas àquela na região sudoeste do Paraná.
Conforme verificado, nos anos de 1960, o contingente de professores leigos nesta
região era muito grande. As escolas rurais municipais mantidas no interior dos municípios
eram significativas, pois a maior parcela da população vivia na zona rural e mantinha-se
praticando atividades econômicas tipicamente agrícolas, sendo a extração da madeira muito
explorada no sudoeste do Paraná a partir dos anos de 1950 a 1970. Foi uma época em que o
país passou por mudanças de ordem econômica e política, ocorrendo também o início da
urbanização das cidades brasileiras mais desenvolvidas industrialmente.
Nas décadas de 1960 e 1970, Pato Branco já se destacava dos demais municípios da
região Sudoeste do Paraná, pois apresentava um excelente desenvolvimento econômico. A
educação também era um diferencial daquele município, conhecida por sua qualidade e opção
de ensino. A Escola Normal de Pato Branco traduzia isso. Assim, sua procura foi muito
grande naquelas décadas.
Nas entrevistas aplicadas como parte desta pesquisa em relação ao que representou a
Escola Normal para a região sudoeste do Paraná a partir dos anos 60, a resposta da
entrevistada “A”32, que trabalhou naquela escola no período de 1963 a 1976, foi: “uma grande
repercussão na formação da educação e sua história no sudoeste do Paraná, considerando que
era a única escola da região. Na disciplina de OSPB era ensinado sobre política (no sentido de
política como educação do povo). Pessoas influentes que são políticos em Pato Branco e na
_______________
32
Entrevista concedida em 05/07/2011.
82
região sudoeste do Paraná estudaram nas escolas profissionalizantes nos cursos de Magistério
e de Técnico em Contabilidade. Houve um retorno muito grande para a sociedade pela
implantação daquelas escolas, ainda hoje seus ex-alunos são figuras que se destacam na
sociedade por influentes profissões como: prefeito da cidade de Pato Branco, médicos,
dentistas, deputado estadual, vereadores, diretoras de grandes escolas, professoras, secretário
do conselho municipal da ação social prefeitura municipal de Pato Branco. O curso normal
também serviu para as alunas se prepararem para os vestibulares da região, houve aprovação
de 97% das normalistas em vestibulares em um dos primeiros anos de implantação do curso, o
que provava a qualidade do ensino”.
Foram unânimes as respostas das demais entrevistadas no sentido de que a Escola
Normal trouxe a oportunidade de qualificação dos professores leigos que atuavam em Pato
Branco e demais municípios próximos àquela, na região sudoeste do Paraná. A procura das
mulheres pela Escola Normal significava que estas estavam começando a se inserir no
mercado de trabalho que, por muitos anos, era exclusivo aos homens. As mulheres estavam
deixando de atender apenas às atividades domésticas, de serem esposas, mães, e estavam
passando por uma fase inicial de ocupação do mercado de trabalho, o que ocorreu em
consequência das mudanças na maneira como se produzia a vida material da região.
Assim, uma opção oferecida às mulheres era ingressar na educação: configurava-se
como uma profissão muito bem vista e valorizada nos anos 60 e 70. A mulher tinha sua
importância na sociedade por cursar a Escola Normal. Era oportunidade de profissionalização,
bem como de mercado de trabalho, pois, ao acabar o curso, já estava empregada. E, ainda,
para as mulheres que pretendessem seguir carreira e cursar uma das faculdades da região, o
Curso Normal servia como preparatório para os vestibulares da época, pois grande
porcentagem das alunas era aprovada.
Um ponto positivo da procura pela Escola Normal se deve ao fato de ser anexa ao
Instituto Nossa Senhora das Graças e por muito tempo ser direcionado pelas Irmãs Vicentinas,
que dedicavam seu tempo dando aulas na escola, pois devido aos costumes da época, muitos
pais confiavam na educação oferecida pelas religiosas. Como a distância era grande entre as
cidades do interior, com estradas precárias e dificuldade nos meios de transporte, muitas
normalistas moravam como internas junto ao Instituto Nossa Senhora das Graças, para
poderem cursar a Escola Normal.
A rigorosidade da escola conduzida pelas Irmãs era muito grande, com cumprimento
de horários para estudo, leitura, tarefas domésticas, artes, religião etc. As normalistas, que
também eram internas do Instituto Nossa Senhora das Graças, vinham de famílias mais
83
abastadas economicamente, com condições para arcar com os custos de moradia de suas filhas
junto ao Instituto. No entanto, as normalistas cujas famílias não apresentavam condições
suficientes para custear sua moradia sob o regime de internato, eram designadas a efetivar um
maior número de tarefas domésticas, atuando na limpeza das salas de aula para ajudar a pagar
as despesas com moradia e alimentação às Irmãs, já que a Escola Normal em si era gratuita.
Essa forma de educação era muito bem vista pelas famílias de melhor poder aquisitivo
que aproveitavam a oportunidade de educarem, com qualidade, suas filhas. Assim, a educação
do Instituto Nossa Senhora das Graças e em anexo a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva era conhecida por sua “tradicionalidade”, em Pato Branco. Tradicional para aquela
época, dentro dos costumes da sociedade, era as moças poderem estudar, mas com os
“cuidados” e a “vigilância” das religiosas, para não transgredirem aos costumes morais da
época.
A Escola Normal foi um marco na vida profissional de todas as entrevistadas. Era uma
escola conhecida pela influência das religiosas, dos princípios cristãos, da responsabilidade,
do profissionalismo com a educação.
A escola era inovadora para a época, um diferencial para a região, já que a sociedade
enxergava com ótima perspectiva profissional as moças que estudavam na Escola Normal.
Elas sabiam a responsabilidade que carregavam, pois seriam as futuras professoras, habilidade
muito importante, já que iriam ensinar os filhos daquela sociedade.
Para as alunas que cursaram a Escola Normal, não se tratava só de aprender o que
continha nas disciplinas, muito mais, a questão da postura diante da sociedade, as roupas que
podiam usar, os relacionamentos pessoais, a higiene, a maneira como se comportavam, tudo
isso era ensinado pela escola e marcou as ex-alunas.
A importância da escola provinha do fato de ser uma das poucas opções oferecidas à
época para formação de professores, mas que era muito desejada por aquelas que queriam
obter seu reconhecimento profissional. A Escola Normal de Pato Branco significou um
avanço para a região, na profissionalização, principalmente, das mulheres que encontravam
naquela escola meios para obterem uma formação regularizada e consequentemente a
colocação no mercado de trabalho.
84
Neste capítulo analisaremos a reestruturação por que passou a Escola Normal Colegial
Dr. Xavier da Silva e o Colégio Estadual Comercial de Pato Branco para transformarem-se
tão somente no Colégio Estadual José de Anchieta devido às exigências da Lei 5.692/71, até a
extinção do Colégio em 1986.
A Lei de Reforma de Ensino n.º 5.692/71, que substituiu a Lei n.º 4.024/61, exigiu a
reestruturação das escolas profissionalizantes mantidas pelo governo do Estado do Paraná em
Pato Branco: Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva e Colégio Estadual Comercial de
Pato Branco, transformando-as no Colégio Estadual José de Anchieta.
A referida lei previa que:
Art. 3º Sem prejuízo de outras soluções que venham a ser adotadas, os sistemas de
ensino estipularão, no mesmo estabelecimento, a oferta de modalidades diferentes de
estudos integradas por uma base comum e, na mesma localidade:
a) a reunião de pequenos estabelecimentos em unidades mais amplas;
b) a entrosagem e a intercomplementaridade dos estabelecimentos de ensino entre
si ou com outras instituições sociais, a fim de aproveitar a capacidade ociosa de
uns para suprir deficiência de outros;
c) a organização de centros interescolares que reúnam serviços e disciplinas ou
áreas de estudo comum a vários estabelecimentos (BRASIL, 1971).
Conforme previsão da nova lei, aquelas duas escolas de Pato Branco transformaram-se
em uma só, até mesmo por uma questão de economia de recursos. No entanto, apesar da lei
ter sido publicada em 1971, só após seis anos ocorreu a mudança prevista, pois foi em 9 de
dezembro de 1977 que o Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná aprovou o
projeto de implantação do ensino de 2º grau do Colégio Estadual José de Anchieta, com as
86
aos seis dias do mês de junho do ano de mil, novecentos e setenta e sete, reuniram-
se as Direções e Professores do Colégio Estadual Comercial de Pato Branco e
Escola Normal Colegial Estadual “Dr. Xavier da Silva”, com a finalidade de
escolher o Patrono para o Colégio de 2º Grau que está sendo criado com a fusão
destes dois estabelecimentos de Ensino, o qual funcionará a partir de 1978, com
habilitações de Magistério e Contabilidade. Foram apresentadas várias sugestões
como: Rui Barbosa, Castro Alves, João XXIII, Costa e Silva, Castelo Branco, José
de Anchieta e outros grandes vultos da História. Após alguns comentários sobre os
nomes indicados, foi escolhido José de Anchieta, por ter sido o Apóstolo e Primeiro
Mestre do Brasil, que, fazendo do Amor a sua Pedagogia, foi e será sempre um
exemplo para a Educação. Nada mais havendo a tratar, a reunião foi encerrada
pelas Direções, agradecendo a presença dos professores. E, para constar, eu, Alice
Bertoldi, secretária da Escola Normal, lavrei a presente Ata que será assinada por
mim e pelos presentes (BERTOLDI, 1977, p. 1).
Em reunião para discutir e definir qual seria o nome do Colégio, surgido com a fusão
dos dois cursos profissionalizantes de Pato Branco, Contabilidade e Magistério, os diretores e
professores das antigas escolas, após cogitarem vários nomes, concordaram que o nome José
de Anchieta seria o ideal. A escolha do patrono foi para homenagear José de Anchieta, devido
à sua trajetória histórica ligada à educação e à catequização dos índios no Brasil, durante sua
colonização, por meio da Companhia de Jesus.
A autorização para o funcionamento do Colégio Estadual José de Anchieta teve sua
publicação no Diário Oficial nº. 358, de 07/08/1978, por meio do Decreto n.º 5330, do
Governo do Estado do Paraná, de acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971:
Conforme previsão do decreto citado, o Colégio Estadual José de Anchieta teve sua
autorização para funcionamento a partir de agosto de 1978. Mas se a Lei 5.692/71, que entrou
em vigor a partir da data de sua publicação em agosto de 1971 – estabeleceu a reestruturação
das duas escolas mantidas pelo governo estadual em Pato Branco, por que só em 1978 houve
a autorização para o funcionamento do Colégio Estadual José de Anchieta?
Isso ocorreu conforme a previsão da própria lei, já que as mudanças por ela
estabelecidas seriam implantadas progressivamente, segundo o artigo 72, da Lei 5.692/71
(BRASIL, 1971):
camada, que foi definida ainda como parte diversificada, tratava das disciplinas destinadas às
habilitações profissionais do ensino de 2º grau.
Além das disciplinas do núcleo comum, previstas para todas as unidades de ensino do
país, para o ensino de 2º grau, como matemática, português, literatura, ciências e outras,
observam-se as disciplinas específicas ao curso de habilitação ao magistério34, que eram
ensinadas no Colégio Estadual José de Anchieta, por meio do material encontrado no arquivo
da escola.
Ainda em relação aos currículos, a Lei n.º 5.692/71, em seu artigo 7º, previa a
obrigatoriedade da inclusão de determinadas disciplinas (BRASIL, 1971):
Essas disciplinas também eram previstas no Colégio José de Anchieta, bem como o
ensino religioso, devido aquele permanecer até 1984 junto ao Instituto Nossa Senhora das
Graças, direcionado pelas Irmãs Vicentinas.
Ainda de acordo com o artigo 8º da Lei n.º 5.692/71:
_______________
34
A ementa das disciplinas ensinadas no Colégio José de Anchieta encontra-se nos anexos desta pesquisa.
92
necessidades de cada região e sua economia, ou seja, o que o mercado de trabalho mais exigia
na época.
Segundo Romanelli, (1998, p. 234):
quer-nos parecer que, para a primeira, a reformulação do ensino de 1º grau era mais
importante e atendia melhor aos interesses da retomada da expansão econômica
iminente, do que a reformulação do ensino de 2º grau. Essa expansão, num país
dependente, como o Brasil, exigiria um aumento do nível geral de escolaridade do
trabalhador, mas, por sua vez, esse aumento teria de ser concedido, de forma
compatível com a posição periférica de nossa economia: a industrialização
crescente exigia uma base de educação fundamental e algum treinamento, o
suficiente para o indivíduo ser introduzido na manipulação de técnicas de produção
e aumentar a produtividade, sem, contudo, ter sobre o processo nenhum controle,
nem mesmo qualquer possibilidade de exigências salariais que um nível mais
elevado de escolarização e qualificação acabaria por suscitar. Enfim, era
interessante para os meios empresariais que tivéssemos a mão de obra com alguma
educação e treinamento, bastante produtiva e, ao mesmo tempo, barata.
Assim, a lei regularizou o que, na prática, buscava-se oferecer, ou seja, um ensino que
pudesse desenvolver as habilidades para as exigências do mercado de trabalho daquele
período, impostas pela crescente industrialização do país e influenciadas pelo capitalismo
internacional.
Em 10 de agosto de 1978, na sala das Sessões do Conselho Estadual de Educação do
Estado do Paraná foi emitido o Parecer n.º 288/78, sobre o Processo n.º 631/78, de aprovação
da reformulação da grade curricular, para a vigência a partir do ano de 1978, proposta pelo
Colégio Estadual José de Anchieta – Ensino de 1º e 2º Graus, de Pato Branco, de Habilitação
para o Magistério turno noturno, para o mínimo de 2.250/horas/aula, conforme consta abaixo
(PARANÁ, 1978, p. 1):
_______________
35
Grifo da pesquisadora.
93
O ensino de 2º grau terá três ou quatro séries anuais, conforme previsto para cada
habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar
efetivo, respectivamente.
Parágrafo único. Mediante aprovação dos respectivos Conselhos de Educação, os
sistemas de ensino poderão admitir que, no regime de matrícula por disciplina, o
aluno possa concluir em dois anos no mínimo, e cinco no máximo, os estudos
correspondentes a três séries da escola de 2º grau.
Objetivava-se a sondagem de aptidões aos alunos desde o 1º Grau para que eles
fossem encaminhados para uma das habilitações que eram oferecidas no 2º Grau. A Lei
5.692/71 previu que os professores que cursassem 4 anos em estabelecimento de 2º Grau
poderiam lecionar até a 6ª série do ensino de 1º Grau. Mas os professores que fizessem o
curso em três anos também podiam lecionar na 5ª e 6ª séries do 1º Grau, contudo, era
necessário acrescentar os “estudos adicionais” que correspondiam a um ano letivo, os quais
incluíam, se fosse o caso, formação pedagógica.
Sobre as Escolas Normais para formação de professores ao Magistério, na opinião de
Borsari Netto (1971, p. 51):
os antigos cursos normais, que formavam professores para o ensino primário, não
levavam suficientemente em conta que, além de concorrerem para a cultura geral e
95
A crítica do autor citado não procede no aspecto do presente estudo, nem de maneira
geral, pois, como foi constatado pelas entrevistas com as alunas que estudaram na Escola
Normal de Pato Branco, em períodos anteriores à vigência da Lei 5.692/71, em sua
unanimidade, concordaram que aquela escola foi importante para sua formação profissional,
ou seja, tinha caráter profissionalizante. Segundo a entrevistada “B”36, em relação à segunda
pergunta do questionário, sobre qual aspecto da Escola Normal de Pato Branco mais
influenciou a sua vida profissional, respondeu: “Foi muito importante, pois comecei a atuar na
escola logo após formada; trabalhei em escola primária e ginasial, posteriormente fiz
faculdade e pós em geografia e atuei no ensino médio”37.
A entrevistada “C”38, na indagação sobre por que as alunas estudavam na Escola
Normal, respondeu: “era uma escola só para moças, raramente tinha homens, era famosa
como Escola Normal e principalmente porque profissionalizava. Os professores naquela
época eram muito respeitados, pois você se tornava líder em sua comunidade. Não eram
muito bem remuneradas, mas era um salário teu. As meninas com seus 20 e poucos anos já
recebendo salário próprio naquela época era um privilégio de poucos”.39
Assim, pode-se concluir que a Escola Normal profissionalizava seus alunos não
somente por meio das habilitações previstas pela Lei 5.692/71, mas desde a vigência das leis
anteriores a de 1971.
A seguir analisamos como os alunos do Colégio Estadual de Pato Branco eram
avaliados.
Em 22 de julho de 1980, foi enviado à Diretora do Colégio José de Anchieta – Ensino
de 2º Grau de Pato Branco – Paraná, o Ofício n.º 1023/80, da Secretaria de Estado da
_______________
36
Entrevista concedida em 18/07/2011.
37
Estudou na escola no período de 1969 a 1972.
38
Entrevista concedida em 20/07/2011:
39
Cursou a Escola Normal no período de 1970 a 1972.
96
b) – interesse;
c) – responsabilidade;
d) – cooperação;
e) – respeito.
A avaliação do aluno será contínua, conferindo-lhe média bimestral. Os resultados
da avaliação serão expressos através de notas numa escala de 0 a 100 (zero a cem).
Os resultados bimestrais serão comunicados aos alunos ou responsáveis, através de
entrega de boletim efetuada pelo professor regente de classe.
Para a aprovação dos alunos do Colégio José de Anchieta, levava-se em conta, além
da média de notas, o bom comportamento deles, o interesse e a frequência nas aulas. Pode-se
perceber que a rigorosidade permanecia no Colégio.
Para a promoção de um ano letivo para outro, eram consideradas a frequência do aluno
acima de 75% e a nota mínima acima de 65 pontos, segundo relatório encontrado no arquivo
do Colégio ([19--], p. 114):
Sem dúvida, um dos requisitos fundamentais para o aluno ser aprovado era a
frequência igual a 75%, conforme previsão legal.
Também foi analisado o Código de Regulamento de Conduta do Colégio como segue.
Em janeiro de 1981, o Diretor do Departamento de Ensino de 2º Grau, Sr. Ricardo
Luiz Knesebeck, da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná – Departamento
do Ensino de 2º Grau, enviou o Ofício n.º 1618/80 à Diretora do Colégio Estadual José de
Anchieta de Pato Branco – PR para cumprimentá-la pela elaboração do Código de Conduta
daquele Colégio.
No entanto, o Diretor do Departamento de Ensino de 2º Grau fez algumas sugestões ao
Código de Conduta40 elaborado, conforme Ofício (PARANÁ, 1981, p. 1):
senhor Diretor, vimos por este intermédio, cumprimentar Vossa Senhoria pela
elaboração do Código de Conduta desse Estabelecimento, o qual bem nos mostra
que o principal objetivo é dar ao aluno, as melhores condições possíveis dentro do
Colégio, com a colaboração direta e indispensável dele próprio. Outrossim,
_______________
40
Nesse ofício consta como Código de Conduta, mas a lei denomina como Regimento.
98
sugerimos que seja eliminado o item n.º 19 e, por outro lado, seja acrescentado em
seu lugar: Executar os exercícios e tarefas solicitados pelos professores das diversas
disciplinas. Sugerimos ainda, que sejam estabelecidos critérios para a aplicação das
penalidades e, eliminar a penalidade da letra b. Sem outro particular para a
oportunidade, usamos do ensejo para externar os protestos de elevado apreço e
consideração.
Apesar de ter recebido autorização para funcionamento desde agosto de 1978, somente
em 15 de janeiro de 1982 foi publicado no Diário Oficial n.º 1210/82 a Resolução n.º
3.111/81, de Reconhecimento do Curso de 2º Grau Regular do Colégio Estadual José de
101
Anchieta – do município de Pato Branco – PR, ensino de 2º Grau com habilitações: plenas de
Magistério e Contabilidade:
_______________
41
Estudos Adicionais – serviam para aprimorar o conhecimento do professor em nível de Magistério a um
conteúdo determinado.
102
Este documento relata de forma detalhada como funcionou o Colégio Estadual José de
Anchieta em 1982 e mostra algumas de suas peculiaridades. Demonstra que o Estado
supervisionava as instituições de ensino e salienta, sobretudo, o papel do supervisor escolar,
considerado importante pelo Estado, pois eram os supervisores escolares que faziam o
monitoramento das escolas. Mostra, também, as condições físicas do estabelecimento de
ensino, muito bem aparelhado e com amplo espaço. Analisa a situação das alunas do Colégio,
constatando que a grande maioria delas, que cursava o Magistério ou concluía o curso, já
estava trabalhando na área.
_______________
42
Que também funcionou, por um período, nas dependências físicas cedidas pela Escola Rocha Pombo.
43
PREMEN: Programa de Expansão e Melhoria do Ensino. Escola polivalente de 2º grau, implantada em Pato
Branco pelo Decreto n.º 70.067/72, com autorização de funcionamento pelo Decreto n.º 53.26/78.
104
Nos seus últimos dois anos de vigência, o Colégio Estadual José de Anchieta
funcionou junto ao Colégio Estadual do Pato Branco45. Mas, logo o governo do Estado
decidiu cessar as atividades do Colégio Estadual José da Anchieta.
Assim, em 12 de setembro de 1986, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná,
por intermédio da Secretária Gilda Poli Rocha Loures, através da Resolução n.º 3.941/86,
cessou em definitivo as atividades do Colégio Estadual José de Anchieta – Ensino de 2º Grau
do município de Pato Branco:
_______________
44
O Colégio Vicentino Nossa Senhora das Graças (Instituto Nossa Senhora das Graças) atende atualmente a
Educação Infantil, o Ensino Fundamental I (1ª ao 5ª ano), o Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries) e o Ensino
Médio.
45
Este Colégio Estadual continua funcionando na cidade de Pato Branco, com atuação no: Ensino Fundamental,
Médio, Profissionalizante e Normal, com: Técnico em Administração, Técnico em Enfermagem, Técnico em
Informática e Formação de Docentes.
105
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
dedicaram aos cuidados dos doentes do Hospital Santa Margarida e a lecionar. Foi criado
pelas Irmãs o Instituto Nossa Senhora das Graças, escola particular. Em 1960 foi implantada a
primeira escola de formação de professores de Pato Branco, mantida pelo governo estadual,
mas dirigida pelas Irmãs Vicentinas. Nas décadas de 1960 e 1970, havia muitas escolas
primárias no interior do município de Pato Branco e de municípios próximos, com um grande
número de professores leigos atuando em sala de aula. Com a implantação da Escola Normal
em Pato Branco estes professores que já trabalhavam nas escolas, bem como os novatos que
visavam trabalhar na educação, viam uma excelente oportunidade de obterem uma formação
regular na Escola Normal.
A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva foi importante porque significou um
avanço na educação de Pato Branco e do sudoeste do Paraná, pois os alunos vinham de
cidades próximas de Pato Branco para estudarem na Escola Normal. Nem todas as cidades da
região tinham escolas para formar professores.
A procura pela Escola Normal foi devido a mesma ser pública e por ter sido instalada
no prédio do Instituto Nossa Senhora das Graças e ter sido direcionado pelas Irmãs Vicentinas
que já eram muito conhecidas por trabalharem com a educação primária e ginasial em Pato
Branco. As Irmãs conduziam a escola com muita rigorosidade e exigência; isto fazia com que
a sociedade aprovasse a forma de educação das Irmãs Vicentinas, tratava-se de educação com
qualidade, e muito procurada naquela época.
As mulheres eram a maior clientela da Escola Normal de Pato Branco, elas estavam
ingressando no mercado de trabalho e viam a educação como uma forma de obterem um
emprego, com salário próprio e o respeito da sociedade, pois naquela época ser professor era
motivo de muito orgulho.
Analisamos a escola de formação de professores à luz da legislação pertinente no
período de sua vigência 1960 a 1986, destacando que a escola objeto da pesquisa foi
implantada durante a Lei Orgânica de Ensino Normal de 1946 (8.530/1946), passou pela lei
que fixou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (4.024/1961), e reestruturou a Escola
Normal Colegial Dr. Xavier da Silva e Colégio Estadual Comercial de Pato Branco em
Colégio Estadual José de Anchieta com a implantação da lei 5.692/1971. Foram as leis
nacionais, as leis estaduais, os decretos de criação, autorização de funcionamento e extinção,
que regulamentaram a Escola Normal de Pato Branco durante seus vinte e seis anos de
existência.
A resposta a nossa pergunta de pesquisa foi encontrado nos documentos pesquisados
sobre a escola, mas principalmente por meio de entrevistas feitas a uma professora que
108
lecionou na Escola Normal e de quatro alunas que estudaram naquela escola. Foram feitos
questionários com doze perguntas iguais respondidas pelas entrevistadas, os questionários e as
respostas encontram-se em anexo. Na sétima pergunta do questionário foi respondido pelas
entrevistadas sobre a importância da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva para a
região sudoeste do Paraná nos anos de 1960 e seguintes. As respostas foram que a Escola
Normal de Pato Branco significou o avanço na educação de Pato Branco e sudoeste do Paraná
a procura pela Escola Normal era muito grande, dois turnos foram abertos para poder acolher
toda a demanda de alunas. Não havia sido implantada outra Escola Normal antes em Pato
Branco era uma oportunidade para a formação dos professores leigos que já atuavam nas
escolas, bem como uma opção para quem desejasse atuar nessa área. Não existiam outros
cursos profissionalizantes a não ser a Escola Normal e o curso técnico em contabilidade, que
também era mantido pelo governo estadual, com grande procura pelos rapazes.
Na década de 1960 já haviam sido implantadas duas outras Escolas Normais na região
sudoeste do Paraná, nos municípios de Francisco Beltrão e de Dois Vizinhos, mas nas demais
cidades da região ainda não haviam sido implantadas estas escolas. Assim a procura pela
Escola Normal de Pato Branco foi por alunos daquele município, mas também por outros
municípios próximos do Sudoeste do Paraná e do Oeste de Santa Catarina como São
Lourenço do Oeste.
Através desta pesquisa foi constatado que a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva foi muito importante para a formação de professores de Pato Branco e região, ajudando
no avanço e qualidade do ensino paranaense, pois, quanto mais preparados os professores,
com uma formação regular, melhor poderiam desenvolver seu trabalho fazendo com que
ocorresse um avanço na educação fundamental da região. Apesar da colonização tardia do
sudoeste do Paraná, comparada com as demais regiões do Estado e dos poucos investimentos
feitos pelo governo estadual na educação em Pato Branco e região próxima, a implantação da
Escola Normal foi um marco na formação de professores da região; conseguiu superar as
dificuldade e obteve qualidade no ensino.
Assim, concluímos que a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva deu sua
contribuição fundamental em dois aspectos para Pato Branco e região: o social e o
educacional. Resultou num avanço na qualidade da educação para a formação de professores,
na sua profissionalização e consequentemente na melhoria da qualidade do ensino
fundamental. Também significou abertura do mercado de trabalho para as mulheres.
Esta pesquisa não se encerra neste trabalho, trata-se apenas de uma parte do estudo, já
que é vasto o campo de pesquisa. Foi a primeira vez que a Escola Normal de Pato Branco
109
REFERÊNCIAS
AVALIAÇÃO. Colégio Estadual José de Anchieta, Pato Branco, [19--], p. 110. Documento
encontrado no arquivo do Colégio Estadual de Pato Branco.
BERTOLDI, Alice. [Ata de reunião para escolha do nome do colégio]. Pato Branco: 1978.
Documento encontrado no Núcleo de Educação de Pato Branco.
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Branco. Pato Branco: Imprepel, 2004.
BRASIL. Constituição Federal (1988). In. BARROSO, Darlan; ARAUJO JUNIOR, Marco
Antonio (Coord.). Vade Mecum, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
BRASIL. Decreto n. 12.417 – de 12 de maio de 1943. Coleção das Leis do Brasil de 1943, v.
4, Decretos de Abril a Junho. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943.
BRASIL. Decreto – Lei n. 8.530 de 02 de janeiro de 1946. Lei Orgânica do Ensino Normal,
Rio de Janeiro: 1946. Disponível em:
<http://www.soleis.adv.br/leiorganicaensinonormal.htm>. Acesso em: 19 maio 2011.
BRASIL. Lei n. 4.024 de 20 de dezembro de 1961. Lei que fixou as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Brasília: 1961. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4024.htm>. Acesso 02 jun. 2011.
CALDART, João Oswaldo. Pato Branco e o sudoeste dos anos 50. Jornal de Beltrão,
Francisco Beltrão, 23 abr. 2011. Paraná Sudoeste, p. 3.
COMIN, Ana Séres Trento (Coord.). Memorial: Núcleo Regional Educação de Pato Branco –
PR. Pato Branco: Imprepel, 2002.
CARDOSO. Maurício; ROST. Johny Willy. Instituto Nossa Senhora das Graças – 25 anos de
ensino. REVISTA Pato Branco em Revista. Pato Branco. ano 1, n. 1, nov. 1974.
COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Caminhos investigativos II: outros modos de pensar e
fazer pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.
EMENTA das disciplnas ensinadas no Colégio Estadual José de Anchieta. Pato Branco,
[19--], p. 94. Documento encontrado no arquivo do Colégio Estadual de Pato Branco.
FÉDER, Elias. 200.000 alqueires por uma caixa de fósforos: a verdadeira história da
colonização do sudoeste do Paraná. Campo Largo: Vieira e Nickel, 2001.
LIVRO DO TOMBO, Igreja São Pedro de Pato Branco. Paróquia São Pedro completa 40
anos. Jornal Diário do Sudoeste. Pato Branco, 8 dez. 1988, p. 14.
MERLO, Rosa Ana Bortot. Pioneirismo: a vida dos quatro Pedros. Correio de Notícias, Pato
Branco, 29 de nov. 1984, p. 9.
112
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Disponível em
<http://www.cvnsg.com.br/Default.aspx?system=conteudo&action=ler&id=1380>. Acesso
em: 1 maio 2011.
PARANÁ. Atos da Interventoria Federal no Estado. Decreto n. 1948, 18 maio 1943. In.
Diário Oficial do Estado n. 3.175, 21 maio 1943, Curitiba, 1943. p. 2. Documento
encontrado na Biblioteca Pública do Paraná.
PARANÁ. Atos do Poder Executivo, informações gerais sobre o Paraná. In. Diário Oficial n.
1.193, Curitiba, 17 dez. 1981. Documento encontrado na Biblioteca Pública do Paraná.
PARANÁ. Diário Oficial n. 3.175, 21 maio 1943, Curitiba: Paraná, 1943. Documento
encontrado no Arquivo Público do Paraná.
113
PARANÁ. Secretaria Estadual de Educação. Decreto n. 24721. In. Diário Oficial do Estado
n. 120, Atos do Poder Executivo. Curitiba, 1959. Documento encontrado no Núcleo de
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PARANÁ. Secretaria Estadual de Educação. Decreto n. 5330. In. Diário Oficial do Estado
n. 358, de 07 de agosto de 1978, Curitiba, 1978. p. 2. No Núcleo de Educação de Pato
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115
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______. Retorno 3: ciclo da madeira em Pato Branco. Pato Branco: Imprepel, 2000.
______. Retorno 4: Plácido Machado, primeiro prefeito de Pato Branco. Pato Branco:
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______. Retorno 2: Pato Branco na Revolta dos Posseiros de 1957. 2. ed. Pato Branco:
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WERLE, Flávia Obino Corrêa (Org.). Educação rural em perspectiva internacional. Ijuí:
UNISUL, 2007.
Para coletar os dados sobre a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, foi
elaborado questionário com 12 perguntas discursivas, objetivando obter informações sobre o
funcionamento daquela escola.47
1.1. Primeira entrevista: “A” foi professora da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva,
no período de 1963 a 1976. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em
05/07/2011:
_______________
46
São poucos os documentos arquivados sobre a Escola Normal de Pato Branco. Muita coisa se perdeu pelo
decurso do tempo. O que fundamenta os fatos são os testemunhos de ex-alunas e de uma das professoras que
lecionou naquela escola.
47
Em respeito à privacidade de todas as entrevistadas, elas foram identificadas pelas letras do alfabeto.
117
matemática, por exemplo. Esta disciplina era apenas “decoreba” e cada aluna fazia 6
joguinhos com os recortes das cartolinas, uns salteados e outros corridos. O governo não
proporcionava nenhum material didático, era apenas o quadro-negro, giz e nada mais.
Assim, a professora deveria criar métodos de ensino. Eu era vista como “revolucionária”
pelas demais professoras, principalmente as colegas Irmãs, porque em minhas aulas
mudava o posicionamento das carteiras em sala de aula, as carteiras eram
tradicionalmente posicionadas em fileiras, mas nas minhas aulas as alunas deixavam
suas carteiras em formato de meia-lua na sala de aula.
_______________
48
Ocorreu um equívoco por parte da entrevistada ao afirmar que para ingressar na Escola Normal havia
necessidade de prestar vestibular. Segundo a previsão dos artigos 20, alínea “e”, e 21, da Lei Orgânica do
Ensino Normal (n. 8.530/1946), para admissão ao Curso Normal, entre outras condições previstas pela lei, o
candidato deveria ser aprovado nos exames de admissão, em que, para efetivar a inscrição ao segundo ciclo do
Ensino Normal, deveria apresentar o certificado de conclusão do primeiro ciclo ou certificado do curso
ginasial e idade mínima de quinze anos.
119
1.2. Segunda entrevista: “B” foi aluna da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1969 a 1972. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 18/07/2011:
1.3. Terceira entrevista: “C” foi aluna da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1970 a 1972. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 20/07/2011:
atuavam como professores, tinham uma base de cultura e experiência muito boa. As
Irmãs Vicentinas também eram professores na Escola Normal, é claro.
1.4. Quarta entrevista: “D” foi aluna da escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1965 a 1967. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 13/08/2011:
02) PROFISSÃO/ATUAÇÃO:
Professora/UTFPR-Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Atuo na área de
Humanas com Humanidades III, Sociologia e Meio Ambiente. Nos cursos de
Engenharia. 5.º Período. Concursada em Geografia – Ensino Médio (1993).
_______________
50
Deve-se enfatizar que houve um equívoco por parte da entrevistada ao afirmar em seu depoimento que as
disciplinas ensinadas no período que cursou a Escola Normal (1965 a 1967) eram divididas em: obrigatórias,
complementares e optativas. Naquela época a Escola Normal estava sob o regulamento da Lei n. 4.024/61, que
previa em seu artigo 35: “em cada ciclo haverá disciplinas e práticas educativas obrigatórias e optativas”. As
disciplinas obrigatórias eram definidas por competência do Conselho Federal de Educação que devia indicar
até cinco das disciplinas obrigatórias. Aos conselhos estaduais de educação cabia completar o número de
disciplinas relacionadas ao caráter optativo. Não havia disciplinas complementares.
127
O Prof. Sittilo era de Santa Catarina, o Cesário também. Tinham sido seminaristas. A
D. Sueli Palagi era de Pato Branco, a única professora formada. As Irmãs. Irmã
Theresinha era professora e fazia umas disciplinas com a turma. A D. Maria Pegoraro
morava em Pato Branco há muito tempo.
06) DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO) AS ALUNAS QUE
ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?
Algumas internas. A Maria hoje Yamamoto era de Marmeleiro. A Irene de Francisco
Beltrão. Tinha mais duas. Havia algumas de São Lourenço, duas delas moravam com
familiares aqui para estudar. A Iva era de Saltinho, SC. Os pais eram na maioria do Rio
Grande do Sul. Não sei se havia alguma nascida aqui. Eram de cidades gaúchas. A
Sandra era de Curitiba.
de Janeiro. Muito boa foi a viagem (1967). A volta trouxe problemas, quase custou a
formatura. No último ano era preciso fazer um enxovalzinho com todas as peças
necessárias. Os cadernos de didáticas primavam mais pelos enfeites do que pelo próprio
conteúdo.
1.5. Quinta entrevista: “E” foi aluna da escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1960 a 1962. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 27/09/2011:
02) PROFISSÃO/ATUAÇÃO:
Professora com atuação nos três níveis de ensino: fundamental, ensino médio e ensino
superior.