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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO STRICTO SENSU


MESTRADO EM EDUCAÇÃO

CASSIANE GEMI

A PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PATO BRANCO


E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E EDUCACIONAL DA
REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ: 1960-1986.

CURITIBA
2012
CASSIANE GEMI

A PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PATO BRANCO


E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E EDUCACIONAL DA
REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ: 1960-1986.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, na linha de
pesquisa: História e Políticas da Educação,
como requisito parcial para obtenção de título
de Mestre em Educação.

Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Elisabeth


Blanck Miguel

CURITIBA
2012
Dados da Catalogação na Publicação
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR
Biblioteca Central

Gemi, Cassiane
G322p A primeira escola de formação de professores em Pato Branco e o
2012 desenvolvimento econômico, social e educacional da região Sudoeste do
Paraná : 1960-1986 / Cassiane Gemi ; orientadora: Maria Elisabeth Blanck
Miguel. – 2012.
133 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná,


Curitiba, 2012
Bibliografia: f. 110-115

1. Professores – Formação – Pato Branco (PR) – História. 2. Paraná,


Sudoeste – Condições sociais – 1960-1986. 3. Paraná, Sudoeste - Condições
econômicas – 1960-1986. I. Miguel, Maria Elisabeth Blanck. II. Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Educação.
III. Título.

CDD 20. ed. – 370.71098162


CASSIANE GEMI

A PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PATO BRANCO


E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E EDUCACIONAL
DA REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ: 1960-1986.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade


Católica do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________
Prof.ª Dra. Maria Elisabeth Blanck Miguel
Pontifícia Universidade Católica do Paraná

______________________________
Prof. Dr. Peri Mesquida
Pontifícia Universidade Católica do Paraná

______________________________
Prof.ª Dra. Teresa Jussara Luporini
Universidade Estadual de Ponta Grossa

Curitiba, _____ de ________ de 2012.


Aos meus queridos pais, Alexandre Gemi e
Nelci Lourdes Ampese Gemi, a quem eu devo
o dom da vida e tudo o que sou.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, a luz e fonte de inspiração, pela proteção em todas as


viagens que fiz para chegar à PUCPR.

À minha família, que ao longo de minha vida, sempre se fez presente e por seus ensinamentos
de verdade, ética e honestidade.

À minha orientadora, Prof.ª Dra. Maria Elisabeth Blanck Miguel, por ter aceitado a árdua
tarefa da orientação deste trabalho, pelos incentivos, puxões de orelha e afagos.

Ao Prof. Dr. Peri Mesquida, por ter sido um ponto de apoio e compreensão em todas as horas,
boas e ruins.

À Prof.ª Dra. Teresa Jussara Luporini, pelo incentivo e ajuda na escolha do tema de pesquisa e
pela participação na banca examinadora de qualificação e defesa deste trabalho.

Aos professores: Maria Lourdes Gisi, Neuza Bertoni Pinto, Pura Lucia Oliver Martins,
Romilda Teodora Ens, Rosa Lydia Teixeira Corrêa e Jorge Luiz Viesenteiner, pelos
ensinamentos.

Ao apoio, pelas entrevistas fornecidas, das ex-alunas da Escola Normal Colegial Dr. Xavier
da Silva: Dilva Gemmi Viccini, Dirce Maria Sfoggia Folle, pela compreensão e acolhimento,
especialmente à Prof.ª Neri França Fornari Bocchese, pelo fornecimento de material para
pesquisa e à Prof.ª Laurinha Luiza Dall´ Igna, pelo carinho especial que teve comigo, com
apoio e empréstimo de livros.

À Diretora do Colégio Vicentino Nossa Senhora das Graças, Irmã Tereza Pereira, pelo apoio,
especialmente à Irmã Theresinha Bortolini, por todo o carinho e atenção com que me recebeu.

À Diretora do Colégio Estadual de Pato Branco, Prof.ª Luiza Kupchak, e aos demais
professores do colégio, pelo incentivo e fornecimento dos documentos arquivados no colégio,
principalmente à Marlei Castro Tondo, pela ajuda na busca do material para pesquisa.
Aos agentes públicos do Arquivo Público do Paraná, Biblioteca Pública do Paraná, Conselho
Estadual de Educação, Biblioteca Pública Municipal de Pato Branco e Núcleo Regional de
Educação de Pato Branco, pela ajuda na coleta de dados e materiais para a pesquisa.

À comissão representante da CAPES, pela indicação da bolsa de estudos que recebi, com
ajuda de grande valia para que eu pudesse concretizar os meus estudos. Aos demais colegas
que realizaram suas pesquisas de Mestrado e Doutorado, junto à minha, pelo esforço,
dedicação e apoio um com o outro. Às colegas do Grupo de Pesquisa.
A educação, direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.

(BRASIL, 1988).
RESUMO

Esta pesquisa centrou-se na problemática relativa à importância da primeira escola de


formação de professores implantada em Pato Branco, Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva, no período de 1960 a 1986, analisando a legislação pertinente que normatizou a sua
criação e vigência. O que justifica a pesquisa é o papel fundamental que aquela escola
profissionalizante teve na formação de professores de Pato Branco e região próxima, do
sudoeste do Paraná. A Escola Normal foi criada na vigência da Lei Orgânica do Ensino
Normal (8.530/1946). Manteve-se com a lei que fixou as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, n.º 4.024/61, e sofreu as reestruturações impostas pela Lei n.º 5.692/71, passando
então a chamar-se Colégio Estadual José de Anchieta. Objetivou-se analisar o que a referida
escola significou para o desenvolvimento social e educacional de parte da região sudoeste do
Paraná onde havia, na década de 60, grande contingente de professores leigos atuando nas
escolas primárias; pois a procura para estudar na Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva
não era só de alunas que moravam em Pato Branco, mas de muitas outras cidades próximas
àquela. Buscou-se, também, analisar o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural
da região sudoeste do Paraná, que influenciou o surgimento de Pato Branco e sua educação. O
tipo de pesquisa utilizada para esta dissertação foi a pesquisa histórica documental, com
coleta de dados junto ao Arquivo Público do Paraná, Biblioteca Pública do Paraná, Biblioteca
Pública Municipal de Pato Branco-PR; Conselho Estadual de Educação e Colégio Estadual de
Pato Branco. Pesquisou-se ainda documentos oficiais do governo, leis, diários oficiais,
decretos de criação da escola. Obteve-se testemunhos de uma professora e quatro alunas que
estudaram naquela escola. Como embasamento teórico-metodológico, a pesquisa apoiou-se
em especial nas obras de: Arlette Farge (USP, 2009), Carlos Bacellar (CONTEXTO, 2008),
Marc Bloch (ZAHAR, 2001), Maria Elisabeth Blanck Miguel (UFPR, 1997), Marisa Vorraber
Costa (LAMPARINA, 2007), Otaíza de Oliveira Romanelli (VOZES, 1998). A investigação
científica constatou que a Escola Normal implantada em Pato Branco, no período de 1960 a
1986, foi fundamental para o desenvolvimento social e educacional daquele município e de
outros localizados na região sudoeste do Paraná.

Palavras-chave: Políticas educacionais. Formação de professores. Colonização do sudoeste


paranaense.
ABSTRACT

In this research focused on issues concerning the importance of the first training school for
teachers deployed in Pato Branco, Normal School College Dr. Xavier da Silva, in the period
1960 to 1986, analyzing the legislation that has standardized its inception, and term. What
justifies the research is the key role that the school had vocational training of teachers of Pato
Branco and nearby region, southwest of Paraná. The Normal School was established in the
presence of the Organic Law of Education Normal (8.530/1946). He remained with the law
that established the Guidelines and National Education, nº. 4.024/61, and suffered the
restructuring imposed by Law nº. 5.692/71, then going to be called the State College José de
Anchieta. The objective was to analyze that school meant for the social and educational
development of part of southwestern Paraná where there was, in the 60s, large numbers of lay
teachers working in primary schools, because the demand to study at the Normal School
College Dr . Xavier da Silva was not only the students who lived in Pato Branco, but many
other cities around. We sought to also examine the socioeconomic, political and cultural life
of southwest Paraná, which influenced the emergence of Pato Branco and education. The type
of research used for this dissertation was historical research document, with collection of data
from the Public Archives of Paraná, Paraná Public Library, Municipal Public Library of Pato
Branco, Paraná, State Board of Education and the State College of Pato Branco. The survey
is still official government documents, laws, gazettes, decrees creating of the school. We
obtained evidence of a teacher and four students who studied at school. As a theoretical-
methodological research was supported in particular the works of: Arlette Farge (USP, 2009),
Carlos Bacellar (CONTEXT 2008), Marc Bloch (Zahar, 2001), Maria Elisabeth Michael
Blanck (UFPR, 1997), Vorraber Marisa Costa (Lamp, 2007), de Oliveira Otaiza Romanelli
(VOICES, 1998). The research found that the Normal School established in Pato Branco in
the period of 1960 to 1986, was crucial to the social and educational development of that city
and others located in the southwest region of Paraná.

Key-words: Education policy. Teacher education. Colonization of the southwest Paraná.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APP Associação de Pais e Professores


BIPTS BInary DigiT proveniente das palavras digito binário
CADES Campanha de Aperfeiçoamento de Difusão do Ensino Secundário
CANGO Colônia Agrícola Nacional General Osório
CEE Conselho Estadual de Educação
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
CITLA Comercial Industrial e Territorial Ltda.
DEM Departamento de Engenharia Mecânica
FUNDEPAR Fundação Educacional do Estado do Paraná
GETSOP Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do Paraná
INIC Instituto Nacional de Imigração e Colonização
IRE Inspetoria Regional de Ensino
MEC Ministério da Educação
OSPB Organização Social e Política do Brasil
PREMEN Programa de Expansão e Melhoria do Ensino
PSD Partido Social Democrático
PUC Pontifícia Universidade Católica do Paraná
PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná
SEEC Secretaria de Estado da Cultura
SEED Secretaria de Estado da Educação
UFPR Universidade Federal do Paraná
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de São Paulo
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................13
2 A REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ E AS CAUSAS QUE INFLUENCIARAM O
SEU DESENVOLVIMENTO BEM COMO O SURGIMENTO DE PATO
BTANCO..................................................................................................................................19
2.1 ORIGEM A PATO BRANCO............................................................................................24
2.2 A POPULAÇÃO QUE DEU ORIGEM A PATO BRANCO.............................................27
2.3 O DESENVOLVIMENTO DE PATO BRANCO A PARTIR DE 1943 COM A
IMPLANTAÇÃO DA CANGO................................................................................................31
2.4 A REVOLTA DOS POSSEIROS NO SUDOESTE DO PARANÁ...................................36
2.5 O CICLO DA MADEIRA E AS ESCOLAS RURAIS EM PATO BRANCO..................46
2.6 PONTOS INTERLIGADOS DA MEDICINA, RELIGIOSIDADE, ESTRUTURA
ADMINISTRATIVA QUE INFLUENCIARAM A EDUCAÇÃO DE PATO BRANCO NO
PERÍODO PESQUISADO.......................................................................................................51
3 PRIMEIROS PASSOS DA EDUCAÇÃO PÚBLICA EM PATO BRANCO, NO
SUDOESTE DO PARANÁ....................................................................................................57
3.1 IMPLANTAÇÃO DA PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM
PATO BRANCO.......................................................................................................................64
3.2 FUNCIONAMENTO DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA
NO PERÍODO DE 1960 A 1984, SOB A DIREÇÃO DAS IRMÃS VICENTINAS, NO
INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, EM PATO BRANCO.......................66
3.3 O CORPO DOCENTE DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA.......................................................................................................................................69
3.4 PREVISÃO LEGAL E AS DISCIPLINAS ENSINADAS NA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...................................................................................72
3.5 ALUNAS QUE ESTUDARAM NA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA, EM PATO BRANCO..................................................................................................78
3.6 POR QUE A PROCURA PELA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA INTENSIFICOU-SE NO PERÍODO DE 1960 A 1970? E O QUE A REFERIDA
ESCOLA SIGNIFICAVA PARA PATO BRANCO E REGÃO?............................................81
3.7 AS PECULIARIEDADES E A INFLUÊNCIA DA ESCOLA NORMAL NA VIDA
PROFISSIONAL DAS ENTREVISTADAS............................................................................83
4 REESTRUTURAÇÃO DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA E DO COLÉGIO ESTADUAL COMERCIAL DE PATO BRANCO EM
COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA NA LEI N. 5.692/71..............................85
4.1 O COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA...........................................................87
4.2 RECONHECIMENTO DO CURSO DE 2º GRAU DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE
ANCHIETA............................................................................................................................100
4.3 A MUDANÇA DE SEDE DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, QUE
FUNCIONAVA NO INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, PARA O COLÉGIO
ESTADUAL DE PATO BRANCO, EM 1984.......................................................................103
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................106
REFERÊNCIAS....................................................................................................................110
APÊNDICE A - ENTREVISTA COM EX-PROFESSORA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................116
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................120
APÊNCIDE C - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................123
APÊNCIDE D - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................126
APÊNCIDE E - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL
COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA...............................................................................129
ANEXO - EMENTA DAS DISCIPLINAS ENSINADAS NO COLÉGIO ESTADUAL
JOSÉ DE ANCHIETA..........................................................................................................132
13

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa buscou elementos para analisar o contexto histórico da primeira


escola de formação de professores implantada em Pato Branco, no período de sua vigência,
1960 a 1986, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva1, na conjuntura da Lei Orgânica
do Ensino Normal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação n.º 4.024/61 e Lei n.º 5.692/71.
Para se adequar ao último aparato legal citado foi necessária a reestruturação da Escola
Normal Colegial Dr. Xavier da Silva e do Colégio Estadual Comercial de Pato Branco,
transformando-se, ambos no Colégio Estadual José de Anchieta. Foram consideradas as
peculiaridades da região, a influência do desenvolvimento econômico e a necessidade da
implantação da escola de formação de professores em Pato Branco, que representou um
significativo avanço educacional para a região.
O amparo para a presente pesquisa foram as leis aplicadas na educação paranaense no
período escolhido, especificamente para a implantação da escola de formação de professores
em Pato Branco.
É o que acontece na história da educação paranaense e brasileira: estudando as leis que
as regulamentaram ou regulamentam, é possível construir uma perspectiva sobre como
ocorreu a evolução da educação paranaense, principalmente inserida no contexto nacional. Foi
interesse da pesquisadora verificar como isso aconteceu especificamente na cidade de Pato
Branco.
Analisando o contexto histórico, econômico e educacional, entre outros fatores
relevantes que influenciaram na evolução dos paranaenses, objetivou-se buscar maior
compreensão sobre o modo como tudo isso ocorreu e como teria contribuído para a educação
paranaense e brasileira.
Pato Branco fica localizada na região Sudoeste do Paraná que apresenta peculiaridades
no seu desenvolvimento econômico e social diferenciado das demais regiões do Estado, o que
despertou interesse para que fosse desenvolvida a pesquisa especificamente na cidade de Pato
Branco.
Trata-se de uma região colonizada, em parte, tardiamente em relação às demais
regiões do Paraná. Essa só veio a ocorrer com maior intensidade nos anos 1940 e 1950, com a
extração de madeiras de pinho por gaúchos e catarinenses.

_______________
1
Francisco Xavier da Silva foi Governador do Estado do Paraná, eleito em 1892 e reeleito em 1900 e 1908.
14

Também por ser uma região distante da capital, os recursos financeiros a ela
destinados foram muito escassos, assim como os investimentos na educação, o que causou um
desenvolvimento tardio na construção de escolas de formação de professores.
O nexo da economia, da política, da educação e da história propriamente dita do
Paraná, como um todo, foi influenciado por características singulares: a extração do mate, os
campos de criação de gado e a extração de madeira. Decorrente disso, toda a história inicial
de desenvolvimento econômico e da colonização do Paraná estão relacionados a este eixo
econômico.
Os fatores acima enunciados ocorreram em diferentes fases de sua história, mas estão
interligados de forma ativa e caracterizaram todo o desenvolvimento cultural paranaense.
Devido ao vasto território e o diminuto número de habitantes que viviam em terras
paranaenses, e por ser um lugar destinado à exploração das culturas naturais que eram
encontradas, como o mate, o qual não dependia de maior fixação de vilas ou cidades, pois sua
extração era itinerante, as cidades foram desenvolvidas tardiamente, bem como a sua
urbanização.
Várias foram as formas de colonização do Paraná, em suas diversas regiões,
primeiramente pela exploração de ouro em Paranaguá e Curitiba em meados do século XVII.
Devido à falta de êxito, passou-se a explorar os campos com a criação de gado vindo do Rio
Grande do Sul para ser vendido em São Paulo e Minas Gerais, no decorrer do século XVIII,
período em que foram fundadas cidades como: Lapa (1769), Castro (1778), Ponta Grossa
(1823), bem como Guarapuava (1810) no centro do Estado, Palmas (1879) e Clevelândia
(1892) na região sudoeste e, posteriormente, Pato Branco (1951).
A fundação e o desenvolvimento das cidades, que primeiramente surgiram na região
sudoeste do Paraná, ocorreram devido à economia do gado tropeiro e também à extração do
mate. Mas boa parte das terras localizadas no sudoeste do Paraná encontrava-se em zona de
litígio e passaram a pertencer a Santa Catarina na Guerra do Contestado (1912-1916).
Desde a época da Província, o povo que habitava as terras paranaenses tinha a fama de
ser introvertido e tímido, que não lutava por seus ideais, que dependia das decisões das
demais Províncias e não tinha expressão política e nem cultural. Isso justificou a falta de luta
pelas terras disputadas na Guerra do Contestado com Santa Catarina, pois a recuperação delas
ocorreu na Justiça e não só por luta armada. Esta disputa das terras na Guerra do Contestado
causou maior interesse em integrantes da elite campeira para que se implantasse uma
universidade no Paraná, pois faltava a formação de lideranças intelectuais no Estado. Este foi
15

o principal motivo para a criação da Universidade do Paraná (1912) objetivando desenvolver


a educação e cultura do Estado.
Nas décadas de 1940 e 1950, a exploração de madeira foi a causa do desenvolvimento
da região sudoeste do Paraná, que ainda não tinha sido explorada, com isso ocorreu o
surgimento das cidades de Pato Branco e Francisco Beltrão e de outras cidades menores dessa
região, colonizadas por gaúchos e catarinenses.
A forma com que sucedeu o desenvolvimento do Sudoeste do Paraná, lentamente, com
levas de colonização e, consequentemente, uma urbanização tardia das cidades, provocou uma
demora no desenvolvimento escolar.
Assim, o contexto do desenvolvimento escolar no Paraná, como um todo, ocorreu de
forma lenta e precária, com uma péssima estrutura material na criação das escolas que
sofreram desde o seu surgimento com falta de verbas, o que pode ser constatado através da
obra de Lílian Anna Wachowicz, “Relação professor-estado no Paraná tradicional”, Cortez,
1984.
Essas, entre outras, são as características marcantes do início do desenvolvimento do
ensino público no Paraná. São aspectos singulares que merecem um estudo aprofundado.
Desse modo, buscou-se desenvolver essa pesquisa para melhor compreender o contexto da
educação no Paraná, de forma a contribuir com as demais pesquisas já desenvolvidas nessa
área2, fazendo a análise de alguns pontos relacionados à história e à política da educação,
especificamente, a história da educação pública no Paraná e a análise da legislação que
regulamentou a formação de professores, no município de Pato Branco, por meio da escola de
formação de professores, Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, no período de 1960 a
1986.
Este é o porquê do presente estudo: o interesse na análise do contexto histórico da
educação pública no Paraná e especificamente no Município de Pato Branco, localizado na
região Sudoeste do Estado, por ser o lugar em que a pesquisadora reside e atua
profissionalmente na docência. Trata-se de estudo de caso especifico sobre a primeira escola
de formação de professores implantada em Pato Branco, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier
da Silva. O interesse em pesquisar esta escola foi devido não existir, até o presente momento,

_______________
2
Algumas obras de autores que trataram do assunto educação no Paraná: MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. A
formação do professore e a organização social do trabalho. Curitiba: UFPR, 1997; PITON, Ivania Marini.
Políticas, reformas e conflitos docentes: globalização neoliberal na educação básica paranaense. Curitiba:
UNIPLAC, 2007; WACHOWICZ, Ruy Christovam. Universidade do mate: história da UFPR. Curitiba:
UFPR, 2006; WACHOWICZ, Lílian Anna. Relação professor x Estado no Paraná tradicional. São Paulo:
Cortez, 1984.
16

nenhum outro estudo sobre a mesma, e por ter sido a primeira escola de formação de
professores implantada em Pato Branco, o que representou um avanço na educação regional e
paranaense.
O presente estudo integra-se à linha de pesquisa: História e Políticas Públicas da
Educação, no grupo de pesquisa História e Políticas da Educação e a Formação de
Professores, coordenado pela Doutora Professora Maria Elisabeth Blanck Miguel, no
Programa de Pós-Graduação de Mestrado/Doutorado Stricto Sensu, da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Esta pesquisa tem o seguinte problema: qual a importância da Escola Normal Colegial
Dr. Xavier da Silva na formação de professores em Pato Branco e região, de 1960 a 1986, à
luz da legislação pertinente?
Com o objetivo geral de pesquisar a importância daquela escola, definiu-se os
objetivos específicos: pesquisar e analisar o contexto socioeconômico, político e cultural da
região sudoeste do Paraná, especificamente de Pato Branco, desde sua colonização até a
implantação e vigência da primeira Escola Normal - 1960 a 1986; analisar a legislação
cotejada com o contexto nacional, que determinou a implantação da primeira escola de
formação de professores no município de Pato Branco-PR, no período estudado; identificar o
funcionamento da escola, seus professores e alunos, disciplinas ensinadas métodos de
avaliação dos alunos e a importância que significou a implantação da Escola Normal para a
formação docente no município de Pato Branco e municípios vizinhos na região sudoeste do
Paraná no período de 1960 a 1986.
Para desenvolver a investigação, foi utilizada a pesquisa histórica documental
mediante coleta de dados no Arquivo Público do Paraná, na Biblioteca Pública do Paraná, na
Secretaria Estadual de Educação, na Biblioteca Pública de Pato Branco, no Colégio Estadual
de Pato Branco, no Núcleo Regional de Educação de Pato Branco, bem como por meio de
entrevistas elaboradas com doze questões cada, todas iguais, que foram respondidas por uma
professora e quatro alunas que estudaram na Escola Normal. O estudo centrou-se na região
Sudoeste do Paraná, especificamente no Município de Pato Branco, na implantação de sua
primeira escola de formação de professores no referido período. Por meio de análise
documental e testemunhal, foram coletadas informações sobre a implantação e vigência da
Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, focando na legislação que regulamentou a
implantação e vigência daquela escola, sempre observando o contexto histórico da região com
suas peculiaridades.
17

A investigação realizada em fontes históricas é conceituada segundo Bacellar (2008, p.


25):

a relação entre os historiadores e as fontes documentais, mais especificamente as


que se encontram em arquivos, não foi sempre a mesma, como nos mostram
importantes e divulgados trabalhos de Historiografia. Dos que viam nos documentos
fontes de verdade, testemunhos neutros do passado, aos que analisam seus discursos,
reconhecem seus vieses, desconstroem seu conteúdo, contextualizam suas visões,
muito se passou e, como foi dito, pode ser estudado na ampla bibliografia à
disposição sobre o assunto, de fácil acesso aos leitores.

Assim, foram utilizadas as fontes históricas primárias por meio da análise dos
documentos públicos, como: a Lei Orgânica de Ensino Normal n.º 8.530/1946, a lei que fixou
as Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 4.024/1961, com a posterior mudança para a
Lei n.º 5.692/71, entre outras leis, bem como por meio dos decretos de criação e autorização
de funcionamento da escola, ofícios e documentos oficiais do governo, e por meio da coleta
de dados com entrevistas, sob a forma de questionário.
Foram ainda consultadas pesquisas já desenvolvidas sobre o assunto por outros
estudiosos, como: livros, artigos, teses e dissertações. Indo ao encontro das fontes históricas
utilizadas, foi possível fazer um levantamento delas e questioná-las com embasamento
teórico-metodológico em especial nas obras bibliográficas de Marc Bloch (Zahar, 2001),
Arlette Farge (USP, 2009), Le Goff (Record, 2007, UNICAMP, 1996).
A reconstrução histórica foi desenvolvida por meio de fontes históricas, mas também
mediante testemunhos da época. Como esclarece Bloch (2001, p. 71):

sobre as crenças que se exprimem através desses ritos, seremos provavelmente


obrigados a nos remeter a testemunhas da época, caso existam, ou a proceder por
analogia, com a ajuda de outros testemunhos. Uma fé que não compartilhamos,
como então conhecê-la senão através das palavras de outro? É esse o caso, é preciso
repetir, de todos os fenômenos de consciência, a partir do momento que são
estranhos a nós.

Assim, como os testemunhos revelam muito do passado, os arquivos também


desempenham esse papel. Esse trabalho de busca em arquivos foi desenvolvido na pesquisa,
principalmente no Arquivo Público do Paraná. Segundo Farge (2009, p. 18):

o arquivo petrifica esses momentos ao acaso e na desordem; aquele que o lê, que o
toca ou que o descobre é sempre despertado primeiramente por um efeito de
certeza. A palavra dita, o objeto encontrado, o vestígio deixado tornam-se
representações do real.
18

Os passos seguidos para concretizar a pesquisa foram: primeiramente o levantamento


de todo o material necessário de fontes históricas junto aos órgãos públicos e a coleta de
dados por meio de entrevistas; em seguida foi analisado este material com fundamentação nas
leis e políticas públicas que regiam a educação da Escola Normal no período determinado
para o estudo, bem como com embasamento nos autores das obras utilizadas. O último passo
foi a conclusão da pesquisa.
A pesquisa desenvolvida foi dividida em três capítulos. No primeiro capítulo
enfatizou-se o contexto econômico, político, cultural e da colonização do sudoeste do Paraná,
principalmente da cidade de Pato Branco, demonstrando os principais acontecimentos que
influenciaram no desenvolvimento da região, como: a Guerra do Contestado, a implantação
da Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO), a colonização por gaúchos e
catarinenses, a extração da madeira e a Revolta dos Posseiros. O segundo capítulo foi focado
na Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, sua estrutura, seus professores e alunos,
métodos de ensino e formas de avaliação com embasamento nos documentos da escola e
através de entrevistas de uma professora e quatro alunas que estudaram naquela escola. No
terceiro capítulo descrevemos a reestruturação da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva
e do Colégio Comercial de Pato Branco, que se transformaram no Colégio Estadual José de
Anchieta por determinação da Lei nº. 5.692/71. Analisamos então a legislação pertinente a
reestruturação da escola.
19

2 A REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ E AS CAUSAS QUE INFLUENCIARAM O


SEU DESENVOLVIMENTO BEM COMO O SURGIMENTO DE PATO BRANCO

Esse capítulo estuda o município de Pato Branco na região Sudoeste do Paraná, desde
o seu surgimento no pós-Guerra do Contestado a partir do final dos anos 1918 (Colônias:
Bom Retiro e Vila Nova) a 1959, com o surgimento da primeira escola de formação de
professores. De uma forma ampla, faz-se uma análise do desenvolvimento regional:
econômico, social e educacional, o que possibilitou o surgimento da primeira escola de
formação de professores em Pato Branco a partir dos anos 1960, Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva.
É necessário tomar alguns pontos fundamentais que descrevem o desenvolvimento,
inicialmente do Paraná e da região sudoeste, para em seguida analisar como foi o surgimento
e a colonização de Pato Branco, saber sobre sua gente, seus interesses e desenvolvimento,
buscando amparo teórico nos autores que melhor retrataram essas questões.
Assim, buscou-se, primeiramente, desenvolver a análise do contexto socioeconômico e
cultural da região Sudoeste, principalmente de Pato Branco, para poder localizar o leitor
quanto à pesquisa.
O Paraná fez parte da 5ª Comarca de São Paulo e foi elevado à província em 1853,
tendo como seu primeiro presidente Zacarias de Góes e Vasconcelos. No início, a economia
paranaense destacou-se pela busca e coleta de ouro em Paranaguá e rios do litoral, no entanto,
o ouro encontrado no Paraná logo foi escasso, os explorares desse metal precioso e muito
cobiçado pela coroa portuguesa deixaram o litoral paranaense e dirigiram-se a Minas Gerais
onde foi descoberta grande quantidade de minas de ouro.
Paranaguá e Curitiba se destacaram nesse período inicial, bem como Guaíra, devido às
expedições de bandeiras às Sete Quedas do Iguaçu, pelo fato dos espanhóis estarem tentando
ocupar essa região de divisa entre Paraná e Argentina.
Pouco a pouco os rincões do Paraná passaram a ser colonizados, pois era um lugar
com muitos campos naturais e isso passou a despertar o interesse dos paulistas criadores de
gado. Os Campos Gerais passaram a representar importante papel no caminho das tropas de
muares, ligado pelo caminho de Viamão (RS) a Sorocaba (SP). Nas fazendas dos Campos
Gerais, os tropeiros encontravam um local para poder deixar seu rebanho para pastar e
pernoitar.
Os campos de Palmas, no sudoeste do Paraná, só foram ocupados posteriormente à
ocupação dos campos de Guarapuava. Surgiu a notícia que após os campos de Guarapuava
20

existiam outros campos propícios para a criação de gado; então houve o interesse de
fazendeiros pela ocupação dessas terras promissoras.
A economia paranaense daquela época, além das fazendas de gado, também se
destacava pela extração do mate. No início, os paranaenses não tinham conhecimento das
técnicas de extração e beneficiamento do mate e isso ocorreu somente em 1820, com a vinda
de Francisco de Alzagaray a Paranaguá, que lhes ensinou o fabrico, beneficiamento e
acondicionamento em surrões de couro. Assim, passou o Paraná a comercializar essa erva
nativa, representando o produto de exportação mais significativo durante a Província. Até
1920, foi o grande esteio da economia paranaense, o que fez do Paraná a terra da erva-mate.
Erva-mate, segundo Wachowicz (2001, p. 130):

[...], antigamente denominada de congonha, é uma árvore nativa das florestas


regionais. Sua utilização como bebida foi descoberta pelos índios paranaenses. Os
jesuítas das reduções do Guairá chamavam de erva do diabo, porque os índios
atribuíam-lhe poderes de descontrole das emoções. Em virtude disso, os jesuítas
chegaram a proibir sua utilização pelos indígenas.

A exportação do produto para a Argentina prevaleceu por um longo período e foi de


grande importância para o desenvolvimento da economia paranaense. No entanto, devido a
erva ser nativa e sua coleta ser sazonal, não ajudou na fixação do povo na terra, não trazendo
um resultado satisfatório na colonização do Paraná. Para Wachowicz (2001, p. 131):

em 1813, Francia, ditador do Paraguai, iniciando a política de isolamento do país na


comunidade sul-americana, proibiu a exportação da erva-mate para os mercados
consumidores de Buenos Aires e Montevidéu. Os comerciantes argentinos,
desesperados para conseguir essa matéria-prima, apelaram para outras regiões
capazes de abastecê-los. Vieram então representantes desse comércio platino até
Paranaguá, sabedores que eram da existência de ervais nativos no planalto
curitibano.

Na região das colônias Bom Retiro e Vila Nova (Pato Branco), argentinos que
comercializavam o produto em seu país se instalaram para comercializar o mate com os
produtores brasileiros. De acordo com Voltolini (2005, p. 66):

também para Bom Retiro e principalmente Villa Nova, o primeiro impulso de


progresso veio dos argentinos através da atividade da extração da erva-mate. A
empresa argentina Luiz Pastoriza explorava o produto na Colônia e, em Villa Nova,
contava com vários barbaquás, empregando mão de obra dos sitiantes. O
relacionamento entre argentinos e brasileiros era muito amistoso.
21

A região sudoeste do Paraná apresentava vasta riqueza natural que atraía os interesses
dos argentinos, assim as questões de fronteiras entre Brasil e Argentina foi motivo de disputa
entre os dois países. Pelo Tratado de Santo Ildefonso (1.777), foram definidas as divisões
entre as terras portuguesas e espanholas, mas devido ao desentendimento da localização
geográfica que indicava exatamente onde seria a divisa entre essas terras, houve a necessidade
de se resolver o impasse que Brasil e Argentina estavam enfrentando, por meio de arbitragem.
O árbitro para essa questão foi o então presidente norte-americano Grover S. Cleveland que,
em 1895, apresentou sua sentença favorável para que as terras do Contestado fossem do
Brasil. Para tanto, foi de grande ajuda os argumentos utilizados pelo Barão do Rio Branco3
para que o presidente norte-americano desse ganho de causa aos brasileiros.
Definida a questão de fronteira internacional entre Brasil e Argentina, no caso das
terras situadas na região sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, [região do Contestado],
surge a disputa interna de divisa entre os dois Estados. As leis, desde o tempo do império,
previam que as questões de divisa de fronteiras deveriam ser resolvidas política e não
juridicamente. Em 1901, Santa Catarina conseguiu levar o Paraná ao banco dos réus na
Suprema Corte, reivindicando a posse das terras do Contestado. O Paraná se deu conta do
problema que haveria de resolver, então o governo do Estado nomeou uma comissão para
estudar a questão e o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a Santa Catarina, em
1910.
O povo paranaense não aceitava a decisão de ser dirigido pelo governo de Santa
Catarina e começou a cogitar a ideia de criar um Estado próprio, nas terras do Contestado, que
passaria a se chamar Missões; até bandeira já haviam confeccionado e inclusive formado um
governo provisório em União da Vitória.
Segundo Voltolini (2005, p. 55):

formou-se uma Junta Governativa Provisória para concretizar a ideia do ‘Estado das
Missões’, cuja capital seria União da Vitória. Diante dessa reviravolta na solução do
litígio do ‘Contestado’, os estados envolvidos abandonaram o radicalismo, passando
a admitir um acordo que foi mediado pelo próprio Presidente da República,
Wenceslau Braz.

Vendo que a situação estava ficando tensa, o então presidente da república, Wenceslau
Braz, resolveu evitar o conflito armado, intervindo no caso. Assim, Santa Catarina aceitou

_______________
3
José Maria da Silva Paranhos Júnior – Barão do Rio Branco – diplomata brasileiro que atuou na questão da
disputa de terras do Contestado entre Brasil e Argentina.
22

fazer um acordo com o Paraná, dividindo parte das terras que conseguiu com o Contestado.
Segundo Wachowicz (2001, p. 196): “Desta forma, o Paraná recuperou o sudoeste (Palmas e
Clevelândia) e perdeu as terras da vertente do rio Uruguai. O Paraná contentou-se com 20.000
km² e Santa Catarina com 28.000 km²”.
A construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande, em 1908, comandada pelo grupo
econômico norte-americano denominado de Brazil Railway Company, que passava pelas
terras do Contestado, ligou União da Vitória, no Paraná, a Marcelino Ramos, no Rio Grande
do Sul.
A forma de pagamento do Brasil à empresa americana pela construção da ferrovia era
por meio de terras, no equivalente a 8 quilômetros de cada margem da ferrovia. As terras
passaram a pertencer aos norte-americanos e as populações caboclas que viviam por várias
gerações na posse dessas terras foram expulsas. Essas terras passaram a ser valorizadas e isso
despertou o interesse dos latifundiários. Segundo Wachowicz (2001, p. 1998):

abandonadas por todos, essas populações sertanejas começaram a revoltar-se e a


culpar o regime republicano por suas desgraças. No tempo do Império nunca
ninguém os havia incomodado. Permaneciam tranquilos em suas posses. Com o
advento da República, vieram os norte-americanos com sua política, a hostilidade
dos coronéis e as políticas do Paraná e Santa Catarina, que muitas vezes apareciam
na região para complicar suas vidas.

Os trabalhadores da ferrovia eram os imigrantes das colônias do Paraná e Santa


Catarina, mas também centenas de presidiários das prisões brasileiras, que trabalhavam na
ferrovia em troca da liberdade. Esse ambiente era carregado de frequentes assaltos e
assassinatos.

assim, os sertanejos se viam cercados de inimigos, não tinham ninguém para lhes
ajudar, até surgir um líder para a sua revolta, Miguel Lucena, o autodenominado
monge José Maria. Surgiram três figuras intituladas monges que percorriam os
sertões prometendo cura e dando conselhos aos caboclos. O que mais se destacou
foi o monge José Maria, que mais tarde liderou a revolta dos sertanejos pela posse
das terras. Após a morte do seu líder, esses sertanejos transformaram-se em
jagunços, que só após várias expedições o governo conseguiu dizimar
(WACHOWICZ, 2001, p. 1998).

Esses líderes religiosos usaram da força dos caboclos para tentar formar uma
monarquia sul-brasileira, mas que não deu certo, pois segundo Wachowicz (2001, p. 205):

com o início da luta, firmou-se entre algumas lideranças a ideia de uma monarquia
sul-brasileira, que compreenderia os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul e o Uruguai. O rico e influente fazendeiro catarinense Manoel Alves de
23

Assunção Rocha, que possuía grande ascendência sobre os fanáticos, fora inclusive
aclamado imperador da monarquia sul-brasileira, no retorno de Taquaruçu4.

O fim da Guerra do Contestado - 1912-1916 - ocorreu por meio de acordo judicial no


Supremo Tribunal Federal. Pela divisão das terras do Contestado, muitos paranaenses
passaram a se recusar, por vários motivos, a viver sobre o comando do governo catarinense,
assim, foi criada a colônia Bom Retiro, para acolher os caboclos advindos do Contestado.
Segundo Wachowicz (1987, p. 62):

em 1916, o Paraná perdia o oeste de Santa Catarina com a assinatura do acordo do


Contestado. Inúmeros eram os paranaenses descontentes, que por diversos motivos
não queriam permanecer sob jurisdição catarinense. Para melhor albergar essa gente
e tentar reunir no sudoeste a população cabocla do Contestado, o Paraná criou pelo
decreto de 382, de 7 de maio de 1918, a colônia de nacional Bom Retiro.

Foi criada a colônia Bom Retiro, que mais tarde deu origem à cidade de Pato Branco.
De acordo com Voltolini (2005, p. 54, grifo do autor):

bem, o primeiro movimento migratório propriamente dito para a região de Pato


Branco, todavia, prende-se a problemas ligados a um episódio que passou para a
história com o nome de O Contestado. Uma área de terras de aproximadamente 48
mil quilômetros quadrados, abrangendo o planalto catarinense, partes do Sul e todo
o Sudoeste do Paraná, apresentando como limites: ao Norte, os rios Negro e Iguaçu;
a Leste, os contrafortes da Serra do Mar; a Oeste, a fronteira com a Argentina; e ao
Sul, o rio Uruguai. Desde a emancipação, em 1853, o Paraná se considerava
legítimo dono dessa área, à vista de tê-la herdado da Província de São Paulo. Em
1901, no entanto, o Estado de Santa Catarina entrou com ação na Justiça Federal,
reivindicando oficialmente a posse da área, a que o Supremo Tribunal Federal deu
ganho de causa.

Assim no pós-guerra do Contestado foi criada a colônia de Bom Retiro que deu
origem a cidade de Pato Branco, como será analisado a seguir.
Para melhor situar o leitor, a região Sudoeste do Paraná onde fica localizada a cidade
de Pato Branco é composta atualmente por quarenta e dois Municípios: Ampere, Barracão,
Bela Vista da Caroba, Boa Esperança do Iguaçu, Bom Jesus do Sul, Bom Sucesso do Sul,
Capanema, Chopinzinho, Clevelândia, Coronel Domingos Soares, Coronel Vivida, Cruzeiro
do Iguaçu, Dois Vizinhos, Enéas Marques, Flor da Serra do Sul, Francisco Beltrão, Honório
Serpa, Itapejara D´Oeste, Manfrinópolis, Mangueirinha, Mariópolis, Marmeleiro, Nova
Esperança do Sudoeste, Nova Prata do Iguaçu, Palmas, Pato Branco, Pérola do Oeste, Pinhal
do São Bento, Planalto, Pranchita, Realeza, Renascença, Salgado Filho, Salto do Lontra,
_______________
4
Taquaruçu – reduto preparado para guerra que ficava localizado no município de Curitibanos.
24

Santa Izabel do Oeste, Santo Antonio do Sudoeste, São João, São Jorge D´Oeste, Saudade do
Iguaçu, Sulina, Verê e Vitorino5. A economia da região é predominantemente agrícola.

2.1 ORIGEM DE PATO BRANCO

Há várias versões sobre a origem da cidade de Pato Branco e elas divergem em alguns
detalhes, mas todas se fundamentam no pós-Guerra do Contestado. Segundo consta no livro
publicado em comemoração aos cinquenta anos da Comarca de Pato Branco, coordenado pelo
Desembargador Oto Luiz Sponholz (2004, p. 23-24):

em 1916, o Estado do Paraná acabou perdendo para Santa Catarina toda a porção
territorial que hoje se constitui no oeste catarinense. Com a assinatura do Acordo
do Contestado, muitos paranaenses debandaram da região, para não se submeter à
jurisdição catarinense. Tentando resolver a questão e reunir os retirantes no
sudoeste paranaense, o governo criou a Colônia Bom Retiro, através do Decreto n.º
382, de 7 de maio de 1918. O nome era uma homenagem à antiga propriedade rural
pertencente a Maria Isabel Belém e Almeida, assim denominada desde 1893. A
demarcação dos lotes da Colônia foi feita pelo engenheiro Francisco Gutierrez
Beltrão, que posicionou o teodolito entre os Rios Pato Branco e Vitorino. Em pouco
tempo, a sede do povoado Bom Retiro passou a ser chamado de Vila Nova e mais
tarde de Pato Branco.

Outra versão para a origem de Pato Branco foi relatada pelo Jornal Correio de
Notícias, publicado em 29 de novembro de 1984, no qual consta uma reportagem com o
título: Início do século: as primeiras histórias de Pato Branco (1984, p. 8-9):

esta região sempre foi área de muito conflito e disputa. Ainda nos finais do século
passado a Argentina pleiteava para si toda esta parte do País, que vai do Rio Grande
do Sul às barrancas do Rio Ivaí no Paraná. Em 1903 o presidente6 de Clevelândia
(SIC!), nos Estados Unidos, intermediou esta disputa de terras entre Brasil e
Argentina, dando ganho de causa ao Brasil. Ainda no começo do século a língua
aqui falada era o espanhol. Preocupado em manter a soberania desta área, o
governo brasileiro instalou em 1915 uma linha de telégrafo entre a Vila de
Clevelândia ao povoado de Barracão, na fronteira com a Argentina. No percurso
desta linha foram colocados vários postos telegráficos e aberto um picadão que
ligava um posto ao outro. Este picadão facilitou a chegada dos primeiros habitantes
ao Sudoeste, que foram se estabelecendo ao longo de seu trajeto. Já bem mais tarde,
nos anos trinta, o picadão de Clevelândia e Barracão foi o caminho utilizado pelos
comerciantes de erva-mate que iam vendê-la na Argentina. Ainda sobre a disputa
pelo domínio entre Brasil e Argentina, destas terras, comenta-se que o projeto de
_______________
5
As informações apresentadas sobre os Municípios que compõem a região Sudoeste do Paraná foram
encontradas no livro Sudoeste do Paraná 2. edição, publicado como complemento do jornal Diário do
Sudoeste em 14/12/2011.
6
Há um equívoco do Jornal Correio de Notícias ao usar a expressão: presidente de Clevelândia na reportagem.
Refere-se ao Presidente Grover S. Cleveland dos Estados Unidos da América, conforme já citado na página
19.
25

colonização General Osório, em 19257 (SIC!), feito no governo de Getúlio Vargas,


foi para ocupar com brasileiros, de uma vez por todas esta região. Uma das versões
sobre os primeiros habitantes de Pato Branco diz que eram refugiados da guerra do
Contestado que ocorreu em 19168 (SIC!), envolvendo parte do Paraná e Santa
Catarina. Este povo veio para a região, acampando, fazendo roça, colhendo e
seguindo mais pra frente. Somente na década de 40 é que se registrou a chegada de
uma grande leva de colonos gaúchos. Em 1924 já estava formado um povoado que
se denominou Vila Nova de Clevelândia. Em 1927, a localidade de Vila Nova foi
elevada à categoria de Distrito Judiciário, trocando o nome para Bom Retiro.
Comenta-se que este nome veio dos refugiados do Contestado que para não dizer
que eram fugitivos diziam que estavam fazendo um retiro espiritual por estes lados.
Diziam que aqui era um lugar onde se podia fazer um “Bom Retiro”. No entanto,
este nome não pegou, apesar de ser o oficial, o povo continuou chamando de Vila
Nova.

Mesmo sendo várias as versões sobre a origem de Pato Branco, existem pontos
convergentes que apontam a possível veracidade dos fatos, como a versão de que os caboclos
advindos do Contestado se refugiaram em Pato Branco. Outro ponto debatido refere-se à
instalação do telégrafo na região do rio Pato Branco, o que acabou dando o nome definitivo
para a região. Dessa forma, as versões apresentadas têm um fundamento verídico que
explicam de maneira diferente, mas sempre com a mesma essência, a história do surgimento
de Pato Branco.
A Colônia de Bom Retiro pertencia ao município de Clevelândia. No início da
colonização não havia cartório na Colônia e devido à elevada distância com o centro daquele
município, nascimentos e óbitos não apresentavam registros em cartório. Dessa forma, na
década de 1920, Bom Retiro foi elevado a distrito judiciário para suprir as necessidades
locais.
A criação do “Districto Judiciário de Bom Retiro”, nos anos de 1920, também marcou
o início da escolarização na Colônia, que até então não existia. Levou a cidadania à Colônia,
com a viabilidade de registros públicos, bem como a educação, por meio da escola pública.
Segundo Voltolini (2005, p. 287):

o ‘edifício da Escola Pública’, uma construção tão rústica quanto a dos moradores
de toda Villa Nova, foi erguido em local [...] em cujas proximidades seria levantada
também a primeira capela do povoado, em 1930. Ali surgiu o primeiro centro social
do distrito, localizando-se nas redondezas o maior número de moradores, até o final
dos anos 20 e meados da década seguinte.

_______________
7
Deve-se esclarecer que o primeiro Governo de Getúlio Vargas foi de 1930-1945.
8
Houve um equívoco do Jornal Correio de Notícias ao afirmar que a Guerra do Contestado foi em 1916, pois
aquela guerra ocorreu no período de 1912 a 1916.
26

Após ser implantado o Distrito Judiciário, a Colônia de Bom Retiro começou a se


desenvolver lentamente e se transformar aos poucos. Em 1929, ocorreu a disputa eleitoral
para eleição de deputado ao “Congresso Legislativo do Estado” e Bom Retiro recebeu uma
seção coletora de votos.
A partir dos anos de 1930, a Colônia começou a desenvolver seu setor administrativo
e de acordo com Sponholz (2004, p. 25):

o povoado voltou a florescer a partir da década de 30, conquistando, inclusive,


reforço da estrutura administrativa. O primeiro Juiz de Paz da localidade foi João
Ribeiro, o primeiro escrivão distrital Pedro José da Silva e o primeiro subdelegado
de polícia Pacífico Pinto de Lima. [...] Mas só em 10 de outubro de 1947, a Lei
Estadual n.º 2 elevou Pato Branco à categoria de Distrito Administrativo.

Em 1940, ocorreu a implantação de um destacamento policial para dar apoio ao


subdelegado na manutenção da ordem em Bom Retiro. Em 1945, instalou-se na Colônia uma
agência postal. Em 1949, foi fundado, por Antonio Pilar Cardoso, um jornal em Vila Nova,
chamado: “O Seminário do Oeste”. Isso tudo foi ajudando para que a vida na Colônia de Bom
Retiro/Vila Nova fosse ficando cada vez melhor, sempre avançando em seu desenvolvimento.
O topônimo Pato Branco surgiu na década de 1930, quando o governo Federal,
buscando manter elo com essa região, instalou um telégrafo em Bom Retiro. A linha
telegráfica saía de Ponta Grossa e cruzava os Campos Gerais, Guarapuava, Clevelândia,
atingindo Barracão, na fronteira com a Argentina. Esse posto de telégrafo era usado pelos
moradores de Bom Retiro e Vila Nova, para receberem notícias do Rio de Janeiro, então
capital da República, bem como do governo Estadual e das demais comunidades.
Segundo Bocchese (1999, p. 41-42):

no Mapa do Paraná de 1919, Pato Branco já está registrado, embora a referência seja
feita ao telégrafo que ficava distante do centro de Bom Retiro uns 15 km. Por isso é
preciso não esquecer que, junto ao rio Pato Branco, hoje município de Mariópolis,
localizava-se o Telégrafo, servindo de ponto de comunicação dessa vasta região. [...]
Esse telégrafo teve papel importante, pois servia de referencial português na
fronteira, a estrada (picada) já estava sendo usada até a Encruzilhada de Villa Nova
e o traçado, bem como os fios do telégrafo faziam ligação com Dionísio Cerqueira,
fronteira com a Argentina.

Devido às Colônias de Bom Retiro e Vila Nova apresentarem certa distância entre si,
em 1938, a linha telegráfica foi também instalada na Colônia de Vila Nova, o que facilitou a
vida da população dali, que era a maioria. Além do desenvolvimento social, os fios do
telégrafo também causaram a mudança do nome das Colônias Bom Retiro e Vila Nova para,
definitivamente, serem chamadas tão somente de Pato Branco. Esse nome faz referência ao
27

rio que fica próximo às Colônias, que se chama rio Pato Branco, pois os primeiros
desbravadores dessas terras, ao chegarem às margens do rio, teriam avistado um pato branco
nadando nele.

com os fios do telégrafo, instalou-se também a expressão ‘Pato Branco’. O nome


veio junto, sem cerimônia alguma. Para conservar a identidade, a princípio,
apresentava-se como Posto do Rio Pato Branco. Contudo, como o rio ficou a 15 km
de distância de Villa Nova, passou a ser chamado de ‘Posto de Pato Branco’
(BOCCHESE, 2004, p. 116).

Assim, as Colônias de Bom Retiro e Vila Nova passaram a se chamar,


definitivamente, Pato Branco, denominação usada pelos operadores dos telégrafos e muito
aceita pela população. Segundo a presente pesquisa esta teria sido a origem do nome Pato
Branco.

2.2 A POPULAÇÃO QUE DEU ORIGEM A PATO BRANCO

Os primeiros habitantes da extensa região sudoeste do Paraná foram povos indígenas,


afirma Sponholz (2004, p. 23): “O que hoje se conhece como o atual território do município
de Pato Branco foi inicialmente habitado por gente serrana da nação Tupi, o povo Bituruna”.
Esses povos indígenas viviam espalhados pelos vastos campos de Palmas.
Após a colonização dos portugueses, muitos caboclos passaram a viver espalhados
pelos rincões paranaenses. A população que originou Pato Branco foi cabocla, formada pelos
refugiados do pós-guerra do Contestado, a partir de 1918.
A Colônia de Bom Retiro também foi refúgio de fugitivos das revoltas do Rio Grande
do Sul. Segundo Sponholz (2004, p. 24-25):

em 1924, a região foi palco de duros combates entre tropas legalistas e


revolucionárias comandadas por Luiz Carlos Prestes. [...] O saldo dos combates
deixou ferida a economia regional. Os frequentes saques e a sensação de
insegurança causaram a desarticulação da produção e do comércio. O ritmo
desenvolvimentista só foi restabelecido anos mais tarde, quando as disputas entre
Chimangos e Maragatos, no Rio Grande do Sul, provocaram o êxodo de inúmeras
famílias que, em busca de segurança, acabaram por se instalar na região de Pato
Branco.

Não era só pela fuga de adversidades de questões políticas que os gaúchos procuravam
a região sudoeste do Paraná para se estabelecerem, mas também vinham em busca de terras
férteis e ricas em madeira. Esse também era o objetivo dos catarinenses, que foram
28

substituindo a população cabocla do sudoeste paranaense, pois reconheciam a riqueza dessas


terras e ofereciam valores irrisórios pela compra da terra dos caboclos. Estes não se
importavam com a quantia que recebiam dos sulistas, até ficavam satisfeitos com a venda das
terras, pois eram acostumados a migrar pelos campos sem se preocuparem em fixar residência
por muito tempo.
Assim a população que deu origem a Pato Branco foi bastante diversificada, no início
de sua colonização. Sobre a origem da população do Sudoeste do Paraná, segundo o Plano
Municipal de Educação de Pato Branco (2006-2012), coordenado por Barrionuevo (2006, p.
29):

desde os tempos do desbravamento, início do século XX (1901), as terras da região


de Pato Branco passaram por fases distintas pela origem da sua população. A
primeira fase, limitada entre 1901 a 1935, mais ou menos, a população era
acentuadamente de origem portuguesa e foi apelidada de ‘população cabocla’, vinda
do Rio Grande do Sul9, da região do Contestado (Oeste de Santa Catarina), de
Palmas, de Clevelândia. A presença indígena era rara. A segunda fase, de 1935 a
1970, mais ou menos, a população passou a ser de origem italiana e polonesa –
apelidada de ‘gringa’, vinda da colonização italiana do Rio Grande do Sul e
polonesa do Centro-Sul do Paraná. A mudança ocorreu porque os ‘gringos’ vieram e
compraram as posses da terra da maioria dos ‘caboclos’ que foram embora até
satisfeitos pela quantia de dinheiro que iam levando com a venda da terra, sendo a
população cabocla substituída pela gringa em quase 90%. A terceira fase, da década
de 1970 em diante, a população aumentou com gente vinda de todos os recantos do
Brasil-Sul e mesmo de outras regiões do país, composta das mais diversas etnias,
movidas pela oferta das boas perspectivas de vida do Município de Pato Branco e da
região.

Segundo informações do governo do Estado, por meio dos Atos do Poder Executivo
(PARANÁ, 1981, p. 64), “Na década de 1950, o fenômeno da ocupação territorial e
econômica ocorrido na região norte repetiu-se no Sudoeste paranaense. Migrantes vindos
principalmente de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul [...]”.
No final do século XIX houve a abertura e incentivos do governo brasileiro em
parceria com representantes de alguns países europeus para a imigração européia ao Brasil.
Isto ocorreu até o início da segunda Guerra Mundial (1914), principalmente de imigrantes
advindos da Itália ao Rio Grande do Sul, que se instalaram nas terras devolutas da serra
gaúcha que logo ficaram escassas. Assim, passou a ocorrer a migração interna no Sul do país,
com incentivos do governo principalmente para a região sudoeste do Paraná, que era muito

_______________
9
Há um equívoco da autora ao afirmar que a população vinda do Rio Grande do Sul para o sudoeste do Paraná
era apenas a população cabocla, pois conforme foi verificado pela pesquisa, também vieram do Rio Grande do
Sul colonizadores descendentes de europeus, principalmente de origem Italiana.
29

extensa e com baixa densidade demográfica. Sobre a migração de gaúchos ao sudoeste do


Paraná segundo Sumocoski (2011, p. 10):

através desse cenário, da rápida lotação da região da serra gaúcha, o governo


brasileiro passou a organizar um processo de migração, dentro da própria região
Sul. As regiões escolhidas pelo governo para deslocar esta leva excessiva de
imigrantes italianos são a região Oeste do Estado de Santa Catarina e a região
Sudoeste do Estado do Paraná. Porém, para que esse procedimento ocorresse de
maneira a alcançar o sucesso, o governo brasileiro faz algumas falsas promessas ao
migrante para que pudesse se deslocar ao Paraná. [...] Parte dos imigrantes italianos
que estavam no Rio Grande do Sul, sem a promessa realizada pelo governo
brasileiro, que era de tomar o imigrante italiano proprietário do seu lote de terra,
migram em processo interno em busca de efetivar seu sonho, a posse da terra.

A busca pela posse e propriedade da terra não era a única razão do deslocamento de
levas de imigrantes gaúchos procurarem o sudoeste do Paraná para se estabelecerem, também
havia o incentivo dos próprios familiares.

nesse processo de migração interna, onde as pessoas se deslocavam da região da


serra gaúcha por motivo de já estar lotada, e migravam ao Sudoeste do Paraná, uma
característica de muito valor nos chama a atenção, a família. Sendo que esta
instituição, núcleo de parentesco, sempre foi um lugar de refúgio, de conforto. As
pessoas buscam no seio familiar afagar suas angústias e ter a sensação de
segurança. Para os migrantes italianos que vêm ao Sudoeste do Paraná, a definição
não é diferente. As famílias que chegaram ao Rio Grande do Sul, após a densidade
demográfica já estar saturada, vêm ao Sudoeste do Paraná em grandes grupos,
reforçando a idéia de segurança, protecionismo. [...] Essas levas de pessoas que sob
a propaganda da “marcha para o Oeste” vêm ao Paraná iniciam o processo de
ocupação, buscando uma proximidade em se estabelecer com seus conhecimentos e
familiares (SUMOCOSKI, 2011, p. 10).

Assim, pode-se constatar que a colonização por gaúchos e catarinenses era muito forte
no Sudoeste do Paraná a partir dos anos 1940. Um pouco mais tarde, Pato Branco também
passou a ser destino de migrantes ucraíno-poloneses, pois foram significativas as levas que se
estabeleceram em Pato Branco e em colônias nos arredores, o que intensificou ainda mais a
diversidade cultural da região sudoeste.

Pato Branco não apontava somente para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Elegeu também como alvo preferencial o centro-sul do Paraná, atingindo a maior
colônia de cultura ucraíno-polonesa do Brasil. Dezenas e dezenas de famílias
ucranianas, concomitantemente com a movimentação migratória sulista, buscaram
estas terras na confiança de melhores dias. Etnia tradicionalmente unida no Brasil,
seja pelos usos, costumes e crenças particulares, seja pelas dificuldades da
comunicação linguística fora do grupo, conservou, em Pato Branco, esse hábito,
formando uma colônia própria na região [...] (VOLTOLINI, 2005, p. 123).
30

Com os imigrantes descendentes de europeus também vieram novos costumes de


cultivo da terra e de transporte por meio de carroções puxados por animais, o que ajudou no
desenvolvimento local.
Foram construindo uma sociedade de homens, as mulheres pioneiras que vieram com
seus maridos e filhos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina se aventurarem nas terras
promissoras do Sudoeste do Paraná, porém vazias de gente como daquela de sua terra natal,
tiveram uma vida de muito sofrimento. As mulheres das primeiras famílias de imigrantes
gaúchos e catarinenses que vieram morar no sudoeste do Paraná passaram por muitas
dificuldades devido ao completo isolamento em que viviam, diferente dos homens da família,
que saíam de casa para fazer negócios. As mulheres, devido às suas atividades domésticas e
ao cuidado com os filhos pequenos, não tinham contato com outras pessoas e viviam isoladas
em suas casas. Longe da família que deixavam no sul, sem contarem com vizinhos ou amigos,
a vida era dura, o que muitas vezes lhes causavam dores emocionais. De acordo com
Bocchese (2004, p. 48):

nesse período do desbravamento do Sudoeste, a mulher pioneira ocupou um lugar


especial na formação das cidades. A descendente de italianos, por exemplo, além de
todas as dificuldades, enfrentou a solidão da mata e a língua desconhecida. Tanto
uma como a outra traziam medo, seja pela exuberância da floresta, seja pelos
segredos que a língua, com muitos dialetos, guardava.

Ainda encontra-se referência à vida da mulher pioneira do sudoeste do Paraná no


Jornal Correio de Notícias, segundo depoimento de Merlo (1984, p. 9):

vida de mulher pioneira era de muito trabalho. Tanto dentro de casa como
trabalhando na roça e cuidando de um grande número de filhos longe de qualquer
conforto e facilidade dos centros urbanos. Médico na região não existia, só um
curandeiro conhecido por Vargas que receitava ervas e chás para os enfermos. Os
doentes que se encontravam em estado de saúde mais precário eram levados para
Porto União, divisa com Santa Catarina que ficava distante uns 15 dias, indo de
carroça. Por essas e outras é que Carmela Dalacorte Bortot, esposa de Pedro Bortot
aprendeu o ofício de parteira. Por suas mãos nasceram cerca de trezentas pessoas de
Pato Branco e região.

Outra questão que deve ser destacada sobre a época da colonização do sudoeste do
Paraná, especificamente de Pato Branco, refere-se ao banditismo e à violência, que era muito
marcada na época do início da migração. Muitos bandidos fugitivos e perseguidos políticos do
Rio Grande do Sul refugiavam-se na colônia de Bom Retiro em busca de tranquilidade, mas
todos viviam armados, buscando se proteger dos perigos apresentados por esses sertões. O
31

uso de armas era um costume comum, segundo o testemunho de um morador de Pato Branco
nos anos de 1950:

e eu lembro bem que o negócio era tão perigoso na época, na região, que havia
muito bandido, muito fugitivo do Rio Grande e tal, tinha muita coisa. Era uma
época meio braba. Tanto é que na praça de Pato Branco, no domingo de manhã, em
frente à igreja, era uma praça que a maioria da rapaziada lá [...]. E no domingo,
uma das ações preferidas da rapaziada, principalmente dos turistas, era se reunir na
praça, botava um litro lá em cima e ficava dando tiro no litro (CALDART, 2011, p.
3).10

Era muito comum nessa época a região sudoeste do Paraná ser o refúgio de
perseguidos da lei, pistoleiros, bandidos que assombravam as pessoas e que as autoridades
policiais do Paraná e do Rio Grande do Sul muitas vezes desistiam de ir em busca devido aos
perigos apresentados nesse interior do Estado. A violência não vinha só da bandidagem, mas
muitas vezes dos próprios representantes da polícia, deixando a população ainda mais
apavorada.
Esse é o retrato da população pioneira de migrantes que lutou para que as dificuldades
fossem vencidas em uma época de poucos recursos e muita coragem para sobreviver. Esses
foram os pioneiros de Pato Branco.
A partir da década de 1940, a infra-estrutura de Pato Branco foi remodelada, com
maiores investimentos feitos pelo governo federal através da CANGO, a Colônia de Pato
Branco saiu de seu quase total isolamento, o que é descrito a seguir.

2.3 O DESENVOLVIMENTO DE PATO BRANCO A PARTIR DE 1943 COM A


IMPLANTAÇÃO DA CANGO

A região sudoeste do Paraná passou por significativo desenvolvimento estrutural e


econômico a partir de 1943, com a chegada da Colônia Agrícola Nacional General Osório
(CANGO). Tratava-se de um projeto desenvolvido pelo então governo Federal, Getulio
Vargas, pelo Decreto n.º 12.417, de 12 de maio de 1943. O Decreto rezava que (BRASIL,
1943):

_______________
10
João Oswaldo Caldart, em entrevista ao Jornal de Beltrão, Francisco Beltrão, 23/04/2011, falando sobre o
sudoeste do Paraná nos anos de 1950, quando era secretário de obras da Prefeitura Municipal de Pato Branco −
PR.
32

DECRETO N. 12.417-DE 12 DE MAIO DE 1943


Cria a Colônia Agrícola Nacional ‘General Osório’, no Estado do Paraná.
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 74, alínea
a, da Constituição, e na conformidade do dispositivo no decreto-lei n. 3.059, de 14
de fevereiro de 1941, decreta:
Art. 1º Fica criada a Colônia Agrícola Nacional ‘General Osório’, no Estado do
Paraná, na faixa de 60 quilômetros da fronteira, na região Barracão – Santo
Antonio, em terras a serem demarcadas pela Divisão de Terras e Colonização, do
Departamento Nacional da Produção Vegetal, do Ministério da Agricultura.
Parágrafo único. A área a ser demarcada não será inferior a 300.000 hectares.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 12 de maio de 1943, 122º da Independência e 55º da República.
GETULIO VARGAS – Apolônio Salles.

Esse projeto buscou desenvolver as terras mais longínquas localizadas na faixa de


fronteira entre o Brasil e a Argentina. O governo Federal, por meio do projeto da CANGO,
custeou a abertura das estradas de acesso à região oeste e sudoeste do Paraná na faixa de
fronteira, bem como a criação e demarcação das colônias nacionais de terras. Um pouco antes
da instalação da CANGO, o governo já vinha demarcando as terras da região sudoeste do
Paraná, visando a sua colonização, por meio do 6ª inspetoria de terras do Departamento de
Geografia, Terras e Colonização, que criou as colônias de Missões e Chopim, comandada
pelo engenheiro responsável Duílio Trevisani Beltrão e sua equipe. Segundo relatório dos
serviços executados pelo Departamento de Geografia, Terras e Colonização durante o ano de
1942, apresentado ao secretário de Estado dos Negócios de Obras Públicas, Viação e
Agricultura, Ângelo F. Lopes, pelo engenheiro diretor do referido departamento, (PARANÁ,
1943, p. 127):

faixa de Fronteira – o Govêrno do Estado, bem compreendendo as elevadas


finalidades objetivadas com o povoamento das remotas regiões constitutivas da
faixa de fronteira, sua influencia direta e imediata com relação á Segurança
Nacional, tratou de incrementar e desenvolver os serviços de colonização,
obedecido um Plano Geral e bem orientado assegurador da possibilidade de exito,
que se realizaram sob a direção deste Departamento no que concerne a prévia
demarcação e consequente localização de Colônias Nacionais, obedecidas as
prescrições legais codificadas na legislação federal que regula a matéria.

Em 1943, o projeto da CANGO objetivava ser instalado na Colônia do Rio Marrecas


(atualmente município de Francisco Beltrão), devido à sua proximidade com a fronteira do
Brasil com a Argentina. Mas naquela época, a principal via de acesso àquela colônia, a
chamada estrada Estratégica11, não havia sido concluída pelos militares nos anos de 1940,
assim, o projeto da CANGO acabou sendo instalado, primeiramente, na colônia Bom Retiro

_______________
11
Estrada de acesso à região sudoeste do Paraná, cuja construção foi iniciada pelos militares nos anos 1940.
33

(Pato Branco) e permaneceu ali por quatro anos, tempo suficiente para que a estrada
Estratégica fosse concluída e o projeto pudesse seguir ao seu destino final.

o objetivo da CANGO não era Bom Retiro. Com o projeto o governo tencionava
colonizar, de forma ordenada, de modo especial com agricultores gaúchos e
catarinenses, no mínimo, 300 mil hectares da Gleba Missões, situada além do rio
Santana, rumo à fronteira. Para atender às suas finalidades, a administração da
CANGO veio para o Sudoeste, para se instalar na localidade de Rio Marrecas, de
onde haveria de comandar a ocupação da área que lhe fora destinada (VOLTOLINI
2005, p. 188).

Segundo Sponholz (2004, p. 38):

os Núcleos Agrícolas que haviam sido criados anteriormente vieram a ser


substituídos pelas chamadas Colônias Agrícolas Nacionais. Especial notoriedade no
Sudoeste do Paraná aconteceu quando foi criada a CANGO (Colônia Agrícola
Nacional General Osório) e este veio a se instalar, provisoriamente, em Bom
Retiro, para depois se deslocar até o rio Marrecas, localidade conhecida como
Fazenda Sant’Ana (hoje Francisco Beltrão).

Com a criação e implantação da CANGO, o governo federal passou a enviar recursos


financeiros para a abertura de estradas de acesso àqueles lugares até então esquecidos e pouco
desenvolvidos, bem como com o assentamento de agricultores nas Glebas Missões e Chopim.
Segundo relatório dos serviços executados pelo Departamento de Geografia, Terras e
Colonização, (PARANÁ, 1943, p. 127-128):

apezar disso, continuou o Estado, através deste Departamento, seu órgão


competente na superintendência dos serviços de colonização, a incrementar o
desenvolvimento dos Núcleos Coloniais abrangidos pela Faixa de Fronteiras, e
constituídos pela Colônia Chopim, no município de Palmas, e Colônia Pato Branco
no de Clevelândia. A Colônia Pato Branco é constituída por seis núcleos12, já
medidos e demarcados denominados: Bom Retiro abrangendo a extensão de
6.141,80 hectares; Pato Branco com 7.705,50 hectares; Fartura contendo 2.744,99
hectares e Ligeiro abrangendo 1.974 hectares.

Nos relatos dos historiadores que pesquisaram o sudoeste do Paraná, há uma


unanimidade das opiniões que a CANGO significou o início do efetivo desenvolvimento desta
região. Por meio da CANGO, o governo federal investiu em máquinas e na mão de obra local
para a abertura de estradas, bem como outras obras públicas foram realizadas. Esses
investimentos resultaram no desenvolvimento regional. Voltolini é um desses historiadores
(2005, p. 190): “Sem exagero se pode afirmar que o projeto da CANGO, nos anos em que
_______________
12
Consta no Relatório do Governo que a colônia de Pato Branco era dividida em seis núcleos, mas são
enumerados apenas quatro núcleos naquele documento.
34

aqui permaneceu, marcou o início da moderna cidade de Pato Branco, com sua sociedade e rol
das atividades que lhe dão sustentação, progresso e lhe acenam com um futuro risonho”.
Segundo Fèdre (2001, p. 18):

a partir da CANGO tornou-se inegável sua importância na colonização do Sudoeste


do Paraná, atendendo aos propósitos da política de assentamento de pequenos
produtores sem terra, atingindo os objetivos de povoar as fronteiras, pois, os limites
do Brasil com a Argentina e o Paraguai não existiam concretamente, razão pela
qual havia inúmeras incursões de produtores daqueles países na região, para
extração de erva-mate e madeira, onde instalavam-se provisoriamente, retornando
em seguida aos seu país de origem.

A implantação da CANGO visava ocupar o território brasileiro na faixa de fronteira,


fazendo, entre outras coisas, com que cessasse a extração de erva-mate e madeira por
paraguaios e argentinos naquela região.
Com o desenvolvimento trazido pela CANGO, empresas vieram se instalar em Pato
Branco. O comércio passou a se desenvolver de forma mais intensa, com muitos empregos, e
isso despertou maior migração e, consequentemente, significativo crescimento populacional,
bem como a instalação de funcionários públicos encarregados da administração das obras e
diferentes profissionais liberais. Foi afirmado no relatório dos serviços executados pelo
Departamento de Geografia, Terras e Colonização, (PARANÁ, 1943, p. 309):

a complexidade dos trabalhos, referentes às colônias de Pato Branco e Chopin,


reclamam mais funcionários e agrimensores, para evitar que sejam os trabalhos de
medição interrompidos e para que tenham um desenvolvimento maior.

Nas décadas de 1940 e 1950, grande contingente de gaúchos e catarinenses adquiriram


colônias de terras no Sudoeste do Paraná, influenciados pela promessa da conquista das terras
férteis com grande quantidade de pinheiros no Paraná. O incentivo pela conquista dessas
terras era feito também por meio do projeto da CANGO, que fornecia aos colonos ajuda com
material e sementes para o cultivo da terra. Argumenta Wachowicz que (2001, p. 219):

a criação da CANGO foi um gesto improvisado. O decreto federal que a criou não
estabelecia seus limites apenas determinava que sua extensão não poderia ser
inferior a 300 mil hectares. O objetivo prático da nova colônia era atrair o
excedente de mão de obra agrícola do Rio Grande do Sul para o sudoeste do
Paraná. Por isso, todas as condições necessárias foram criadas para fixar os
colonos.

A terra foi cedida para os colonos. No entanto, os títulos de compra das propriedades
não eram passíveis de registro em cartório no nome dos novos proprietários, o que resultou
35

mais tarde num problema para os colonos, desencadeando a revolta dos posseiros. Segundo
relatório dos serviços executados pelo Departamento de Geografia, Terras e Colonização:

nas Colônias de Nacionais mantidas pelo Estado, nos Municípios de Palmas e


Clevelândia, nos termos das instituições aprovadas pela Portaria n.º 180, de 30 de
junho de 1931, tem-se notado um crescente e acentuado desenvolvimento
econômico, fruto da organização imprimida pelo Governo do Estado aos Núcleos
que as integram e aos favores concedidos, fatores que influíram na constituição de
propriedades asseguradas da riqueza e abastança que usufruem seus detentores.
(PARANÁ, 1943, p. 126).

Ainda de acordo com o relatório dos serviços executados pelo Departamento de


Geografia, Terras e Colonização (Paraná, 1943, p. 311): “Agricultura – intensificou
sensivelmente nestes dois últimos anos os trabalhos agrícolas nas Colônias de Pato Branco e
Chopin”.
Devido ao incentivo do governo federal para a colonização do sudoeste do Paraná nos
anos de 1940, a procura dos agricultores vindos em busca de terras cultiváveis se intensificou
cada vez mais, como acima citado. Assim, os colonos que se instalaram no Sudoeste do
Paraná eram, na sua grande maioria, de origem europeia, principalmente de italianos e
ucranianos. A base cultural que carregavam fazia com que se preocupassem com duas coisas
quando passaram a se instalar na Colônia: a escola para seus filhos e a igreja para prática da
religião. A grande maioria, era constituída de católicos. A escola era construída pelos próprios
moradores, no núcleo da Colônia ou próximo às serrarias, pois de acordo com Voltolini,
(2005, p. 201), “Local para as práticas religiosas e para escolarizar as crianças tornara-se
imprescindível”.
Os colonizadores vindos do sul do Brasil, de pequenas cidades de Santa Catarina e do
Rio Grande do Sul, locais estes que já haviam sido colonizados, apresentavam uma estrutura
mais desenvolvida, com igreja e escola. Ao chegarem ao sudoeste do Paraná, esses colonos se
deparavam com um local que, apesar de rico economicamente, estava com tudo para ser feito.
A única coisa que os pioneiros encontravam quando chegavam ao sudoeste do Paraná eram
extensas áreas de pinheiros e nenhuma estrutura. É o que relata o filho de um dos primeiros
moradores de Pato Branco, em reportagem ao Jornal Correio de Notícias, Soares (1984, p. 8-
9):

em 1926, quando Pedro Antônio Soares chegou por essas bandas, vindo de
Soledade no Rio Grande do Sul, não existia nada em Pato Branco. O local era mata
de araucária fechada. Perdida entre a mata de araucária uma ou outra casa. Pedro e
seu irmão José Antonio Soares chegaram ao Paraná movidos pela força que
impulsionou grande parte dos pioneiros: a ambição de melhorar a vida. Haviam
36

escutado em conversas que corriam no Rio Grande, que pra estes lados do País,
existiam terras a perder de vista, todas cobertas por densas matas de pinheiros e
sem proprietários. Os perigos, a distância dos parentes e a solidão eram fracos
pretextos para deter estes homens ambiciosos e aventureiros [...].

Em Bom Retiro, no núcleo da Colônia havia uma capela, porém não havia nenhuma
estrutura de escola. Dessa forma, devido aos colonizadores atribuírem a importância da escola
para seus filhos, pois traziam consigo essa cultura, resolveram o problema por meio da
contratação de professor particular para ensinar seus filhos em suas casas. O professor mais
conhecido naquela época era Juvenal Loureiro Cardoso, que foi um dos pioneiros no ensino
em Pato Branco. Com o tempo, ele construiu uma escola em sua casa, sempre próxima à
igreja. Mas a procura pelas aulas foi sendo cada vez maior, então ele e o engenheiro Duílio
Trevisani Beltrão conseguiram verbas, em 1941, junto ao governo do Estado do Paraná, para a
criação de uma escola rural em Pato Branco. Assim, no ano de 1943, ocorreu a inauguração
da primeira escola rural mantida pelo governo estadual em Pato Branco, denominada Grupo
Escolar Professor Agostinho Pereira, criada pelo Decreto n.º 1948, de 18/05/1943 (PARANÁ,
1943).
Coincidência ou não, é fato que a partir de 1943, com a instalação da CANGO, a
escola mantida pelo governo também foi implantada em Pato Branco e a partir dessa época o
desenvolvimento econômico, social e educacional de Pato Branco passou a ser relevante para
a região sudoeste do Paraná.
A CANGO contribuiu significativamente para o desenvolvimento de Pato Branco,
principalmente por meio da demarcação e divisão das terras da Colônia e incentivos para o
plantio. No entanto, a CANGO transferia a posse da terra aos colonos, mas não emitia títulos
passíveis de serem registrados por aqueles e isso desencadeou mais tarde um grande problema
para os colonos, pois a forma mais comum de aquisição de terras no sudoeste do Paraná, nos
anos de 1940 e 1950, foi por meio da posse. Isso ocasionou a revolta dos posseiros em 1957,
devido ao fato de o governo buscar revender os terrenos aos colonos.

2.4 A REVOLTA DOS POSSEIROS NO SUDOESTE DO PARANÁ

A região Sudoeste do Paraná desenvolveu-se pacificamente desde o pós-Guerra do


Contestado (1912-1916) até os anos de 1950. Nessa década havia um contingente numeroso
de famílias vindas, principalmente, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que se
estabeleceram em pequenas propriedades adquiridas nessa região. Eram famílias numerosas
37

que viviam basicamente de atividades da economia familiar rural. Essas famílias vinham
atraídas pela aquisição de terras férteis cheias de pinheiros, com incentivo que a CANGO já
vinha desenvolvendo desde 1943, por meio da companhia colonizadora Comercial Industrial e
Territorial Ltda. (CITLA). Mas ao longo do governo de Bento Munhoz da Rocha, a CITLA
ficou parada devido a lides judiciais de órgãos governamentais para decidir a quem realmente
pertenciam as terras da CITLA. Enfatiza Wachowicz (2001, p. 221) que:

devido a esta atitude do governo Bento, a CITLA ficou quase imobilizada por todo
o período de seu governo (1951-1955). Enquanto isso, os colonos oriundos do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina afluíam em grande número para a região. Cada dia
entravam de 10 a 20 famílias só em Francisco Beltrão. O rápido crescimento
populacional fez aumentarem os problemas políticos, já existentes entre os grupos
de situação e de oposição ao governo do Estado.

Algumas dessas famílias detinham a posse do imóvel há 10, 15 anos. No entanto, não
possuíam o título de registro, apenas contratos de compra e venda ou, muitas vezes nem isso.
Moysés Lupion ganhou as eleições para governo do Estado em 1955 e sua influência
política interveio nas colonizadoras das terras do sudoeste do Paraná. Ainda segundo o autor
acima citado:

na eleição de 1955 foi esmagadora a vitória do PSD. Lupion voltou ao cargo de


governador e o seu partido conquistou todas as prefeituras do sudoeste. A proibição
do fornecimento da Sisa para as escrituras foi suspensa. Mas a CITLA foi obrigada
a aceitar mais duas imobiliárias formadas por elementos do chamado Grupo
Lupion: 1- a Companhia Comercial e Agrícola Paraná Ltda. (Comercial). 2- a
Companhia Colonizadora Apucarana Ltda. (Apucarana). Era preciso de qualquer
maneira vender e cobrar dos colonos as terras. Havia apenas três anos para isso,
pois esse era o tempo que restava da segunda administração Lupion. A CITLA
acelerou então a abertura da chamada Estrada de Integração que ligaria Pato
Branco, Francisco Beltrão e Barracão. Para angústia da imobiliária, a abertura dessa
estrada estimulou mais ainda a entrada de migrantes sulistas. Através dela
passavam de 20 a 30 famílias por dias (WACHOWICZ, 2001, grifo do autor, p.
222).

As terras das Glebas Missões e Chopim estavam sendo disputadas na justiça entre a
União e o Estado já há muito tempo. Quando novamente eleito, Lupion buscou realizar seu
plano de venda das terras, mas diante da negativa dos cartórios em registrar os imóveis para as
empresas colonizadoras, cientes da lide judicial, o governo estadual criou um cartório em
Santo Antonio do Sudoeste para efetivar os registros. Sobre isso escreve Wachowicz (2001, p.
220-221):

a aquisição pela CITLA da gleba Missões, embora realizada com inúmeras


irregularidades, só foi possível graças à interferência política do governador Moisés
38

Lupion. A CITLA tentou registrar a compra nos cartórios de terras da região.


Diante da negativa dos cartórios, o governo Lupion criou um cartório em Santo
Antonio do Sudoeste e a mesma foi imediatamente registrada.
1 – O Paraná disputava na instância judiciária a gleba com a União;
2 – A União propôs na justiça o cancelamento da escritura da CITLA;
3 – O Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) estava na justiça para
salvaguardar os direitos da CANGO;
4 – A Pinho e Terras também estava na justiça para salvaguardar os seus pretensos
direitos nos 11.500 alqueires adquiridos.

Após eleito, Moysés Lupion introduziu duas novas empresas colonizadoras as quais
detinham capital social, no Sudoeste do Paraná para, junto à CITLA, negociarem as terras
com os colonos posseiros. Por meio das empresas colonizadoras Apucarana e Comercial,
eram emitidos contratos de compra e venda das terras aos colonos. No entanto, o preço da
terra era exorbitante e os colonos não tinham o direito de explorar os pinheiros que havia nas
terras que adquiriam, sendo aqueles pertencentes às colonizadoras. Os colonos não
concordavam com as condições impostas pelas empresas e passaram a demonstrar resistência.
Isso fez com que as colonizadoras contratassem jagunços e matadores de aluguel para obrigar
os agricultores a assinarem os contratos, caso contrário atrocidades eram cometidas contra
eles e suas famílias. Os jornais do Paraná, do Brasil e também do exterior noticiavam as
violências sofridas pelos colonos e suas famílias, conforme noticiou o Jornal Tribuna do
Paraná sobre a invasão da residência de colonos a mando das colonizadoras, Jornal (1957, p.
9):

motivos da Invasão da Residência – conforme apurou nossa reportagem, em


contacto com pessoas vindas de Pato Branco, os motivos que determinaram a
invasão da residência dos colonos Zwicker, foi pretender esta família questionar em
juízo, contra as companhias de terras, tendo encaminhado um requerimento em que
solicitava abertura da ação possessória. Feridos três irmãos e desaparecido o chefe
da família. Entrando em luta com os agressores, foram feridos um menor de 14
anos e dois moços de mais ou menos 20 anos: Evaldo Helmuth e Roth. O chefe de
família se encontra desaparecido, nada se sabendo ainda sobre o mesmo. Volta a
conflagrar-se, novamente, a região sudoeste do Paraná, com novos atos de violência
praticados por jagunços da Companhia Comercial Agrícola Paraná, uma das que
operam na região, de acordo com a CITLA. Notícias procedidas de Pato Branco
revelam ter sido invadida a residência da família Zwicker, situado no distrito de
Verê, por bandidos pertencentes ao quadro de empregados da Companhia
Comercial Agrícola do Paraná, uma das organizações que operam a região, por
acôrdo com a CITLA.

Como visto, os colonos que resistiam às propostas das colonizadoras sofriam ameaças,
espancamentos, assaltos, saques, extorsões. Isso deixava as famílias apavoradas e centenas
delas fugiram para a fronteira, procurando refúgio na Argentina. Outras voltaram ao Rio
Grande do Sul e a Santa Catarina, de onde haviam saído.
39

A situação se agravou em setembro de 1957, quando colonos foram mortos em tocaia


preparada pelos jagunços contratados pelas colonizadoras no Sudoeste do Paraná. A
repercussão do caso foi extensa, amplamente divulgada pela imprensa nacional e
internacional. Devido à proximidade com a faixa de fronteira com a Argentina, muitos
colonos foram se refugiar no país vizinho. O Ministro das Relações Exteriores do Brasil na
Argentina prometeu ajudar a resolver a situação pela qual passavam os colonos. Enfatiza
Wachowicz (2001, p. 226-227) que:

centenas de brasileiros haviam se refugiado na Argentina. O Ministro da Guerra,


General Teixeira Lott, após ler o relatório do Cônsul, deu um intimatum, ao
Governador Lupion: ou fechava as companhias imobiliárias e acomodava os
colonos ou haveria intervenção federal na região. Decidiu então o governo
paranaense afastar, definitivamente, as companhias.

O então governador do Estado, Moysés Lupion, fazia “vistas grossas” para as


atrocidades que ocorriam no Sudoeste do Paraná, pois apoiava as empresas colonizadoras
visando obter lucro, sob pressão, passou a intervir no caso, assegurando que resolveria o
problema, sempre alegando questões de adversidades político-partidárias. Segundo
correspondência oficial do Serviço de Rádio Telegráfico do Governo do Estado Moysés
Lupion (PARANÁ, 1957, [f.1]):

Serviço Radio Telegráfico do Governo do Estado,


Curitiba 15/10/57,
General Mário Gomes da Silva
Palácio Tiradentes – Rio de Janeiro – D.F.
1.235
Comunico prezado amigo nesta data dirigi senhor Ministro das Relações Exteriores
seguinte rádio BIPTS cumpre-me levar alto conhecimento Vossência atitude
assumida Cônsul Brasileiro Pozadas vg Argentina vg Doutor A. Ayrton Guedes
Rosas cuja intromissão indébita assunto dizem respeito exclusivamente Estado
Paranah vem perturbando seriamente trabalho Governo vivamente empenhado
restabelecer ordem tranqüilidade Região Sudoeste pt Estou seguramente
informando referido Consul exorbitando suas funções assumiu vg junto posseiros
compromisso solucionar caso mesmos vg junto altas autoridades federais vg tendo
vg inclusive se dirigindo essa capital para aquele fim pt Nesta oportunidade vg
quero levar conhecimento Vossência situação aquela região estar perfeitamente
controlada graças ação pronta e eficiente tomada este executivo et Também
apresento Vossência protestos Governo Paranah contra atitude insólita referido
Consul cuja ação deve limitar-se exclusivamente sua Jurisdição dentro território
Argentino vg onde presentemente representa nosso país pt Certo prontas
providencias Vossência respeito assunto apresento-lhe ensejo meus respeitosos
cumprimentos pt Moyses Lupion vg Governador Paranah.
Seguiu idêntico para o Sem. Gaspar Velloso. 1.235 15/10/57.

A imprensa noticiava as atrocidades sofridas pelos colonos do sudoeste do Paraná,


feitas pelos jagunços contratados pelas colonizadoras, e essas notícias faziam, cada vez mais,
40

com que o governo do Estado fosse pressionado sobre a resolução da questão das terras do
sudoeste do Paraná, inclusive pelo governo federal. De acordo com a notícia do Jornal
Tribuna do Paraná, Jornal (1957, p. 11):

um mau brasileiro. Representando-se a outros fatos disse o orador que, agora com o
govêrno do Sr. Lupion, voltam a mazova a desordem, o dissídio, a luta e o
ensanguentamento da terra paranaense. O Paraná está ameaçado de uma maior
catástrofe, porque tem seu govêrno em mau administrador, um mau brasileiro e um
mau paranaense. Aí estão Arapoti, Momungava, Chopim e Missões para atestar que
êle é um mau brasileiro. A seguir, o orador fez um histórico completo da
composição da CITLA e provou o Sr. Moisés Lupion sócio fundador daquela
companhia. Mencionou os nomes dos componentes e o capital com que foi
constituída a firma, do qual faz parte o Sr. Cândido Machado de Oliveira, deputado
pelo PSD, que tanto tem procurado defender os interêsses das mesmas, na
Assembléia Legislativa. Declinou ainda mais nomes de prefeitos, escrivães e
tabeliões de notas que, são sócios da CITLA e membros do PSD, nos municípios de
fronteira.

O governador Moysés Lupion tentava se defender alegando que a situação das terras
do sudoeste do Paraná estava sob controle. Assim, mandou correspondência oficial para o
então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, segundo radiograma
transmitido pelo Serviço de Telecomunicação do Governo Moysés Lupion (PARANÁ, 1957,
[f.1]), que dizia o seguinte:

Chefatura de Polícia
Serviço de Telecomunicação
Radiograma Transmitido
15/10/57
Destinatário: Presidente – Juscelino Kubitschek de Oliveira
Palácio do Catete – Rio de Janeiro – D.F.
Tenho honra me dirigir Vossa Excelência afim (SIC!) lhe transmitir últimas
notícias sôbre ocorrências Zona Sudoeste dêste Estado vg em adiantamento meus
rádios anteriores vg sob nrs pt São os mais alviçareiros os informes ora posso
enviar-lhe vg pois vg desde tarde hoje situação município Santo Antonio está
inteiramente normalizada vg tendo colonos retornando suas residências vg bem
como voltando ao ritmo comum de vida todos setores atividades pt Sede aquela
comuna constituía último foco inquietação vg tendo elementos exaltados atacando
Delegacia Polícia vg ferindo Delegado Ordem Política Social vg enviado àquela
Zona para apurar responsabilidades tocaia havida dia 14 setembro pt Quando
morreram seis pessoas pt Após medidas postas em prática autoridades estaduais vg
acontecimentos foram superados vg resultando a ótima situação de que estou
cientificando Vossa Excelência pt Afim consolidar plena pacificação tôda Zona
Sudoeste vg fiz distribuir reforçados contingentes infantaria e cavalaria Polícia
Militar Estado vg sendo que ainda hoje chegaram Santo Antonio últimos elementos
enviados pt Acabo receber dali satisfatórias notícias alusivas estado espírito
população vg inteiramente identificada propósito segurança pública que
determinaram ao govêrno estadual remessa aquelas tropas pt Assim vg panorama
social de hoje apresentado Zona Sudoeste Paraná é de absoluta recomposição
pacífica vg e vem se evidenciar vg assim vg como chocante contraste à exploração
política dos adversários dêste governo vg através Tribunais Senado e Câmara vg
bem como jornais e emissoras dessa capital vg e junto autoridades pt Aliás vg êsse
41

reprovável procedimento se caracteriza como principal fator das graves agitações


ora debeladas vg fazendo-se vg desse modo vg merecedora máxima repulsa pt
Renovo a Vossa Excelência expressões alta consideração e distinta estima pt
Moysés Lupion – Governador Estado.
Telegrama nº. 1.243

Com a imprensa constantemente noticiando as atrocidades sofridas pelos colonos


posseiros e as manchetes de jornais percorrendo o país, o governo Moysés Lupion tentava
contornar a situação, sempre alegando que estava tudo sob controle, como pode ser constatado
em correspondência oficial do Serviço Radiotelegráfico do Governo Moysés Lupion enviado
ao Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Dr. Herber Moses (PARANÁ, 1957,
[f.1]):

Serviço Radio Telegráfico do Govêrno (SIC!) do Estado


Curitiba 15/10/57
Doutor Herber Moses – Presidente Associação Brasileiro de Imprensa
Rio de Janeiro – D.F.
1.247
Tenho prazer solicitar gentileza prezado amigo transmitir convite meu Governo vg
a jornalista desejosos visitar região Sudoeste meu Estado vg afim verificarem vg
pessoalmente vg real situação infelizmente deturpada notícias falaciosas de
elementos interessados intranquilidade meu Governo pt Antecipadamente grato vg
valho-me oportunidade enviar-lhe protestos elevado apreço e consideração pt
Moysés Lupion vg Governador Paranah pt.

Mas a situação da revolta dos posseiros tornou-se mais grave a partir do momento em
que as emissoras de rádio de Pato Branco e Francisco Beltrão passaram a convocar os colonos
posseiros para se unirem nas praças do centro dessas cidades, armados com o que tivessem
em casa, para atacar as empresas colonizadoras e defenderem suas famílias e posses. Foi o
momento decisivo da revolta dos posseiros nessas duas cidades.
Segundo Voltolini (2003, p. 163):

centenas de homens das mais diversas idades, desde avós até quase crianças, lá se
postaram, armados com o que tinham em casa: revólver, espingarda, faca, facão,
foice, machado, para integrar o exército de Pato Branco na cruzada de libertação do
Sudoeste da tirania das empresas colonizadoras.

O governo do Estado, ao par da situação delicada pela qual passava a região, pediu
reforço policial para retomar a ordem pública, na eminência de virar uma luta armada.
Segundo ofício do Governo Moysés Lupion ao Secretário do Interior e Justiça, Guataçara
Borba Carneiro (PARANÁ, 1957, [f.1]):
42

Estado do Paraná
551. 16 outubro de 57
Senhor Secretário:
Recomendo a Vossa Excelência as providencias necessárias no sentido de ser
organizado o 3º Batalhão da Polícia Militar, com efetivo aproximado de 492
homens e a ser sediado na cidade de Ponta Grossa. Essa nova unidade, porém, será
provisoriamente estacionada na localidade de Pato Branco, até que possa ser
substituído pelo 1º Regimento de Polícia Rural Montada.
A área de operações dessa tropa ficará circunscrita – exclusivamente a cinco
municípios da região Sudoeste do Estado ou sejam – Pato Branco, Francisco
Beltrão, Barracão, Santo Antonio e Capanema. A distribuição da mesma deverá
obedecer, rigorosamente, a sua organização militar: assim, a Primeira Companhia,
com 104 homens ficará com seu pôsto de comando (P.C.) em Pato Branco,
deslocando um pelotão para estacionar em Barracão; a Segunda Companhia com
efetivo idêntico, terá o seu (P.C.) em Francisco Beltrão e a Terceira Companhia,
com o mesmo número de homens das demais, será sediada em Santo Antonio,
deslocando um pelotão para destacar em Capanema.
À sua Excelência o Senhor Guataçara Borba Carneiro. Secretário do Interior e
Justiça.
A fim de atender patrimônios e distritos de cada um dos referidos municípios, os
respectivos comandos não deverão destacar praças isolados e sim em esquadras,
grupos ou pelotões, tendo em vista as circunstancias do movimento. Os Delegados
de Polícia dos municípios que integram esta região deverão recorrer, em caso de
necessidade de garantia da Segurança Pública ao comandante do Batalhão ou ao
comandante da Companhia de acordo com as exigências do momento.
Valho-me da oportunidade para renovar-lhe os protestos de mais elevado apreço e
consideração.
Moysés Lupion, Governador.

Ainda de acordo com o Serviço Radiotelegráfico do Governo Moysés Lupion para as


autoridades policiais da região sudoeste do Paraná (PARANÁ, 1957, [f.1]):

Serviço Rádio Telegráfico do Governo do Estado


Curitiba 14/10/57
As autoridades Policiais de: Capanema, Santo Antonio, Barracão, Francisco
Beltrão, Clevelandia, Pato Branco.
1.250
Comunico que o Senhor Tenente Coronel João Dias Paredes do meu Gabinete
Militar, foi designado para coordenar todas as providencias necessárias no sentido
do deslocamento de reforços Policiais para atender as medidas de Ordem Pública
na Região Sudoeste Estado vg bem como vg determino que acatem as suas ordens
ou iniciativas ressalvadas aquelas já pessoalmente tomadas pelo Senhor Doutor
Pinheiro Junior vg chefe Polícia Estado vg que ainda se encontra nessa região pt
Cumpra-se pt Moysés Lupion. Governador pt
Autoridades Policiais da Região Sudoeste do Estado 13/10/57.

Tendo em vista a situação do sudoeste do Paraná ter se agravado devido à Revolta dos
Posseiros, o governador Moysés Lupion solicitou reforço ao chefe do Departamento de
Produção de Obras, General Ângelo Mendes de Moraes, no Palácio da Guerra do então
Distrito Federal, de munição de armas para a Corporação que lá atuava, segundo ofício do
Governo (PARANÁ, 1957, [f.1]):
43

Estado do Paraná
556. 17 de outubro de 1957
Senhor General:
Face às últimas ocorrências havidas no Sudoeste dêste Estado vg necessita o
Govêrno melhor aparelhar a sua Polícia Militar vg afim (SIC!) de preservar e
manter a ordem pública pt Nessas condições vg tenho a honra de solicitar os bons
ofícios de Vossa Excelência vg no sentido de mandar fornecer vg àquela
Corporação vg a seguinte munição:
50.000 tiros – munição “INA” – CBC – Cal. 45
50.000 tiros – munição HP-7930 – ogival – Cal. 7mm. (para metralhadoras Hot
kiss)), de acordo com as amostras que vão juntas dêste.
Agradeço a valiosa colaboração de Vossa Excelência e valho-me da oportunidade
para transmitir-lhe os protestos do meu elevado apreço e estima pt
Moyses Lupion vg Governador
À sua Excelência o Senhor General Ângelo Mendes de Moraes
Digníssimo chefe do Departamento de Produção de Obras pt
Palácio da Guerra – Rio de Janeiro – DF.

Outra providência tomada pelo governo do Estado foi a solicitação do fechamento


das estações transmissoras de rádio de Pato Branco e Francisco Beltrão para que os radialistas
da época não pudessem mais convocar os posseiros para saírem às ruas armados, conforme
pode ser constatado pelo ofício enviado pelo Serviço Radiotelegráfico do Governo Moysés
Lupion ao presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (PARANÁ, 1957, [f.1]):

Serviço Radio Telegráfico do Governo do Estado


Curitiba – Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira
Palácio do Catete 18/10/57
Rio de Janeiro DF
1.269
Tenho honra solicitar superior interferência Vossência junto Ministério Viação
Obras Públicas vg sentido fechamento estações rádio existentes Pato Branco et
Francisco Beltrão vg neste Estado vg que tiveram por ocasião últimos
acontecimentos ocorridos Região Sudoeste Paraná vg atuaram forma subversiva et
deplorável sentido incitar Revolta et bulhevação contra autoridades constituídas
dificultando ação Governo pt Antecipo agradecimentos pt Moysés Lupion vg
Governador Paranah.

Foi enviado ofício pelo Serviço Radiotelegráfico do Governo Moysés Lupion ao


Ministro da Viação e Obras Públicas, Lúcio Meira, solicitando para que tomasse providências
para suspensão temporária das concessões das rádios Colmeia de Pato Branco e Francisco
Beltrão (PARANÁ, 1957, [f.1]):

Serviço Rádio Telegráfico do Governo do Estado


Curitiba 22/10/57
Ministro Lúcio Meira – Ministro Viação Obras Públicas – RJ DF
1.285
Reiterando nossos pedidos no sentido de temporariamente serem suspensas as
concessões das rádios vg Colméia de Pato Branco et de Francisco Beltrão sentido
paralisarem suas transmissões confiadas ao ardor irresponsável de locutores que
procuram novamente agitar a Região Sudoeste tentando perturbar a ordem pública
44

vg jah completamente restabelecida vg desde há dias vg em toda região pt


Agradecendo vg atenciosamente vg valho-me oportunidade enviar-lhe protestos
elevada estima et apreço pt Moysés Lupion vg Governador Paranah.

Sobre a Revolta dos Posseiros, segundo Caldart (2011, p. 3, grifo do autor), que em
1957 trabalhou como Secretário de Obras da Prefeitura Municipal de Pato Branco e foi
testemunha daquele episódio, comenta em entrevista concedida ao Jornal de Beltrão que:

Oswaldo – É, o (Ivo) Tomazoni era candidato da UDN, por quê? Porque o Ivo
Tomazoni, na revolta do Sudoeste, foi em 57 pra 58, ele era radialista, em uma das
únicas rádios da região, que era a Colmeia, e tinha os programas de futebol e uma
série de programas, e era a única rádio que se ouvia ali e a Guaíba, de Porto Alegre,
que entrava em toda parte. E aí o Tomazoni começou a campanha, começou a
visitar no interior e tal, e surgiu o problema quando veio aquele grupo da Comercial
lá do Norte do Estado, e já tinha feito loteamentos, tinham colonizado a região. Mas
eles colonizaram lá na base da bala! E quando chegaram ali, nas Glebas Missões,
Chopim, Marrecas e tal, eles encontraram a gauchada, e a gauchada já tinha tomado
posse, alguém já tinha pago pra outros que vendiam e tal, que estavam em cima do
terreno e começaram a botar essa jagunçada, fizeram coisas lá que não podiam ter
feito. E diziam que o Cândido Martins e o Lupion faziam parte da Citla. Bom, com
isso houve uma debandada pro lado do Ivo Tomazoni, por causa do movimento que
ele fazia pela rádio. Até que, numa altura, ele convocou o pessoal pra vir para a
praça, nós, eu e meus irmãos, tivemos de ficar até meio recolhidos. Minhas duas
irmãs foram desaforadas em plena praça de Pato Branco, por um cidadão chamado
Porto Alegre. Ele era vendedor da casa rádio (SIC!), ele visitava todos os colonos,
sabia da história e tal. Era amigo do Tomazoni e aliou-se com os posseiros, se bem
que nós nunca tivemos nada contra os posseiros, [...].

Com reforço policial a mando do governo para acalmar os ânimos dos colonos
posseiros que lutavam para defender o que lhes pertencia, suas terras e famílias, alguns dos
jagunços contratados pelas empresas colonizadoras foram presos e julgados, outros fugiram.
A situação foi controlada pela polícia e os colonos puderam voltar às suas propriedades. As
colonizadoras foram derrotadas pelos posseiros e o governo, amplamente pressionado pela
imprensa e pelas autoridades políticas, colocou fim à questão da disputa de terras com os
colonos do Sudoeste do Paraná. De acordo com Voltolini (2003, p. 194):

entre perder o Palácio Iguaçu, ou o rendoso negócio das terras das Missões, Lupion
optou por este, reconhecendo a razão do posseiro, determinando o fim das atividades
comerciais da CITLA, Apucarana e Comercial no Sudoeste, com fechamento de
escritórios e retirada do pessoal da área de operações.

O Serviço Radiotelegráfico do Governo Moysés Lupion enviou ao Ministro do Palácio


da Justiça, Nereu Ramos, as últimas notícias sobre a situação da Revolta dos Posseiros na
região sudoeste do Paraná (PARANÁ, 1957, [f.1]):
45

Serviço Radio Telegráfico do Governo do Estado


Curitiba 13/10/57
Ministro Nereu Ramos – Palácio da Justiça Rio DF
1.252
Referente situação reinante Região Sudoeste do Estado vg tenho a honra de levar
conhecimento Vossência que chefe de Polícia vg acompanhado observador
comando da Região vg Cel. Rubens Barra vg acaba de regressar dos municípios de
Pato Branco e Francisco Beltrão vg que se encontram em plena tranquilidade vg
embora tivessem vg dias atrás vg registrado alguma agitação vg provocada por
posseiros insuflados adversários políticos pt Neste momento temos conhecimento
apenas que o Município de Santo Antonio vg onde se apurava criminalmente
responsabilidades dos autores das emboscadas ali registradas em dias do mês
passado vg um grupo de posseiros procura agitar a cidade vg atacando Delegacia
Policia local pt Governo Estadual determinou o deslocamento de reforço
estacionados municípios visinhos afim (SIC!) de por termo ocorrido pt Assegura
Vossência vg como acabo afirmar Senhor Presidente da República que vg caso
situação se agrave vg me apressarei em solicitar ao Governo da União o auxílio que
for necessário ah manutenção da ordem e tranquilidade pública pt A Vossência
tenho a honra de apresentar protestos da minha solidariedade e estima pt
Saudações vg Moyses Lupion.
Governador do Paranah
General Teixeira Lott
Palácio da Guerra Rio DF 1.252.

O Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, queria resolver o


conflito do sudoeste do Paraná de forma pacífica, visando às eleições presidenciais de 1960.
Então, ele pressionou Lupion a retirar as empresas administradoras do sudoeste do Paraná.
Para Wachowicz (2001, p. 227, grifo do autor):

o Presidente Juscelino estava cauteloso [...]. Era preciso preservar esses votos para
a eleição de 1960. Por isso, ao invés da intervenção veio o ultimatum ao governo
paranaense para que resolvesse o problema das companhias e dos posseiros. Os
interesses econômicos do Grupo Lupion foram então sacrificados em benefício da
situação nacional do PSD.

Assim, depois de muita luta e sofrimento, os colonos da região conseguiram o que já


lhes pertencia por direito: a posse das terras nas quais muitos já moravam há anos com suas
famílias. A Revolta dos Posseiros relata as dificuldades que os desbravadores das terras do
sudoeste do Paraná tiveram que enfrentar lutando contra o próprio governo do Estado, mas o
ganho de causa foi dos posseiros.
Passada a revolta, tudo voltou ao normal, porém nada de concreto foi feito para que os
posseiros efetivassem os registros de suas terras. Somente mais tarde, no governo de João
Goulart, foi criado o Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do Paraná (GETSOP), que
buscou resolver a questão dos registros das terras, conforme relata Wachowicz (2001, p. 228):

haviam transcorrido quatro anos desde o levante dos posseiros e nenhuma solução
foi concretizada para o problema das posses. Pressionado pelo Governador Ney
46

Braga, o Presidente Jânio Quadros, que havia obtido esmagadora vitória no


sudoeste, acabou desapropriando as terras em litígio no sudoeste. Os governos
estadual e federal haviam desistido de seus direitos judiciais sobre estas terras e
começaram de comum acordo a resolver o problema. Após a renúncia do Jânio
Quadros, o novo presidente João Goulart criou o Grupo Executivo de Terras para o
Sudoeste do Paraná (GETSOP), a fim de executar a tarefa de titulação de terras.
Essa tarefa foi inteiramente realizada, sob a direção de Deni Schwartz. O maior
flagelo para o sudoeste foi o período de cinco anos entre o levante de 1957 e a
criação do GETSOP. Neste período de tempo, ninguém na região sentia-se
proprietário e nem posseiro. Foi então que houve a devastação sem precedente dos
pinheiros. Para titular as terras, o GETSOP reconheceu as divisas dos antigos
posseiros. A paz social voltou a reinar no sudoeste do Paraná, pelo menos por
algum tempo.

A revolta dos posseiros foi sem dúvida um confronto armado que marcou
profundamente a história da região sudoeste do Paraná. Envolveu questões políticas,
econômicas e sociais dos anos de 1950. Após o desencadeamento da revolta dos posseiros
ainda na década de 1950, o sudoeste do Paraná passou por uma transformação intensiva de
ordem econômica, o chamado ciclo da madeira.

2.5 O CICLO DA MADEIRA E AS ESCOLAS RURAIS EM PATO BRANCO

A primeira fase de industrialização do sudoeste do Paraná ocorreu por meio da


indústria madeireira. Tratava-se de região privilegiada pela natureza, com vasta floresta de
pinheiros, madeira nobre, que no início, com a colonização cabocla, representava um
incômodo para os seus roçados no cultivo de feijão, milho, arroz, mandioca, pois a mata de
pinheiro era densa, por isso, difícil de ser derrubada. O recurso usado era atear fogo na mata,
que muitas vezes permanecia durante dias queimando em brasas até ser consumido por
completo e dar lugar à roça de subsistência. Essa prática foi comum até os anos de 1930. Após
a migração dos gaúchos e catarinenses, a indústria madeireira passou a representar uma
significativa atividade econômica para a região. Segundo Voltolini (2000, p. 60): “os
migrantes, vindos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina trouxeram as primeiras serrarias
propriamente ditas para Bom Retiro. Eram, no entanto, engenhos primitivos, rudimentares
[...]”.
No período do pós-Segunda Guerra, o Paraná se destacou na exportação de madeiras
nobres para os países da Europa, Estados Unidos e Argentina. A madeira era transportada por
caminhões até os portos para seguir o destino da exportação. Na região sudoeste do Paraná,
isso foi possível devido à proximidade com Foz do Iguaçu. Segundo Lavalle (1981, p.1 8): “a
exportação de madeira por Foz do Iguaçu dependeu da exploração intensiva das matas do
sudoeste e extremo oeste do Paraná. Essa exploração cresceu após 1950”.
47

Essa significativa atividade econômica que dominava o sudoeste do Paraná nos anos
de 1950 necessitava de numerosa mão de obra. No início, as serrarias eram rudimentares, com
técnicas que empregavam força humana, em seguida com força das águas dos rios,
posteriormente era aplicada a força de máquinas a vapor e a partir dos anos de 1960 houve a
instalação de energia elétrica pública, que tocava as serrarias e servia ao núcleo de famílias
que se localizavam próximas a elas.
Havia uma parceria entre as serrarias e os agricultores donos de pequenas
propriedades rurais, com amplo benefício, pois o que os colonos precisavam para o cultivo da
terra era o espaço livre dos pinheiros e isso as serrarias lhes proporcionavam. Assim, ocorreu
a extração descontrolada e sem planejamento da madeira no sudoeste do Paraná.
Para tentar frear essa exploração audaciosa e descontrolada do pinheiro-do-paraná
(araucária), o governo federal criou, pela Lei n. 3.124/41, o Instituto Nacional do Pinho, mas
devido à morosidade na efetivação da lei, em contrapartida, a acelerada extração da floresta
fez com que seus exploradores ganhassem essa luta. A floresta de pinheiro foi explorada de
maneira descontrolada, sem nenhum planejamento. Isso fez com que, em aproximadamente
30 anos de exploração do pinheiro, ocorresse a quase extinção de sua área natural, o sudoeste
do Paraná. São poucos os exemplares que ainda existem. Tratava-se de uma economia
representativa para Pato Branco e região, mas efêmera devido à falta de planejamento
econômico de longo prazo.
De acordo com Bocchese (1999, p. 68):

as serrarias devastavam tudo, pois no primeiro momento o colonizador pensou em


fazer riqueza e ir embora de Pato Branco. Essa região era muito perigosa,
socialmente não oferecia tranquilidade para as famílias. Mas, o responsável mesmo
pelo não refazer da mata foi o governo, que cobrou das serrarias o imposto, mas
não fez reflorestamento no Estado. Também o agricultor que colocava fogo para
limpar e fazer as roçadas.

As empresas exploradoras do pinheiro eram itinerantes. O que buscavam era o lucro


com o desmatamento e a venda da madeira e não se importavam com as terras. Quando
exploravam toda a madeira de determinada área, partiam em busca de outra e levavam
consigo tudo o que lhes pertencia. Assim, o núcleo das famílias dos empregados das serrarias
partia em retirada para outro local para nova exploração, deixando abandonado o descampado
em que haviam sido retirados os pinheiros. Tratava-se de uma colonização efêmera.
Mas na fase áurea do ciclo da extração da madeira em Pato Branco, o
desenvolvimento populacional teve um aumento significativo. Segundo Voltolini (2000, p.
48

121): “eram precisamente 114, entre serrarias e laminadoras”. Todas essas empresas estavam
instaladas no Município de Pato Branco, nos anos 1950-1970, no ápice da extração da
madeira. Formavam-se grandes núcleos populacionais ao redor de cada uma dessas
madeireiras e o ritmo de cada comunidade era comandado pelo ritmo de trabalho da
madeireira. Essas pessoas eram empregadas da empresa com suas famílias que ficavam em
casas cedidas pelo empregador. De acordo com Voltolini (2000, p. 122):

pela aproximação, convivência, união de interesses, problemas comuns, acabava por


se transformar o aglomerado em pequena sociedade, em povoado. Vinha-lhe o apoio
religioso e até escola, se o número de crianças a comportasse. Existiam os locais de
lazer e encontros sociais e religiosos. Em concentrações maiores, até pequenos secos
e molhados apareciam. Aos gêneros de primeira necessidade o acesso era facilitado
pelos próprios donos da indústria, seja pelo fornecimento direto, com desconto em
folha; seja pela disponibilidade de veículo; caminhão para que os operários fizessem
suas compras, nos finais de semana, diretamente na cidade; seja pela presença do
comércio ambulante no pátio da serraria, os comerciantes ‘abastecedores de
serraria’. Muitas das hodiernas comunidades rurais de Pato Branco, quando não se
originaram dessas concentrações em torno da extração do pinheiro, delas receberam
substancial reforço social e populacional.

De qualquer forma, há de se destacar que o ciclo da madeira foi muito importante para
o desenvolvimento econômico e social de Pato Branco. A indústria madeireira que por ali se
instalou ocasionou uma geração significativa de empregos diretos e indiretos. Mas, o ciclo da
madeira foi efêmero, com sua atividade significativa nos anos 1950 a 1970. Após a
decadência da madeira e retirada das serrarias ocorreram reflexos negativos no
desenvolvimento econômico na região do sudoeste do Paraná.
Durante o ciclo da madeira, as serrarias ficavam localizadas no interior do Município
de Pato Branco e também nas proximidades da área urbana. Para que os filhos dos
funcionários e dos donos dessas serrarias pudessem estudar, havia, junto aos seus núcleos
escolas patrocinadas pelos donos das serrarias. Tudo indica que essas escolas particulares
mantidas pelos donos das serrarias foram criadas conforme a previsão legal do artigo 44, da
Lei n. 8.529/1946 – Lei Orgânica do Ensino Primário (BRASIL, 1946):

os proprietários agrícolas e empresas, em cuja propriedade se localizar


estabelecimento de ensino primário, deverão facilitar e auxiliar as providências que
visem a plena execução da obrigatoriedade escolar.

Essa era uma exigência do governo: manter escolas junto às serrarias, que eram de
classes multisseriadas. Segundo o depoimento de Brisol (2005, p. 59-60), que trabalhou como
professora nos anos de 1950 em uma dessas escolas relata:
49

iniciei a carreira profissional no magistério, em 1950, como professora particular.


Na época, eram os pais dos alunos que mantinham economicamente a professora e
a escola. Eu tinha 15 anos. Lecionava em um galpão, perto da casa em que morava.
O galpão havia sido construído pelo pai, que demonstrava muito orgulho da filha,
tão jovem já ser professora. As carteiras eram feitas de tábuas brutas, eram carteiras
compridas. Em cada banco sentavam de 6 a 7 crianças. Iniciei meu trabalho na
localidade da Fazendinha, no município de Mariópolis. No local havia apenas uma
serraria. Mais tarde se tornou um núcleo habitacional. Lá prestei serviços por 25
anos. Em 1953, a Serraria dos Simões, devido à uma Lei Nacional, construiu uma
pequena escola e pagava o meu salário. As aulas eram tanto para os filhos dos
proprietários, bem como para os filhos dos empregados da serraria. [...] As crianças
de classes sociais distintas estudavam todas juntas e todas precisavam aprender na
mesma igualdade social. A turma era multisseriada. Eu precisava ter uma vocação e
uma dedicação especial para realmente fazer com que a instrução e a educação
acontecessem.

Muitas professoras começaram suas atividades profissionais nos anos de 1950, nas
escolas mantidas pelas serrarias no interior do município de Pato Branco. Segundo o
depoimento da professora Sabino (2005, p. 35):

iniciei as atividades como professora primária em 1º de agosto de 1959, na escola


municipal Joaquim Nabuco. Escola extinta por não oferecer condições de trabalho.
A casa escolar ficava no terreno particular do senhor Dal Bosco, junto à Serraria –
Paraná Dourado, localizada no Bairro Cristo Rei.

As escolas mantidas nas serrarias ofereciam a única alternativa para que os filhos dos
empregados e dos donos delas pudessem estudar. Havia uma igualdade social entre os alunos.
É o que enfatiza a professora Zamodzki (2005, p. 41):

iniciei minhas atividades como professora na Escola da Serraria Pedro Girardel, em


1947, na cidade de União da Vitória. Por seis meses, os meus proventos foram
pagos pela própria Serraria que, obedecendo a uma Lei Nacional, obrigava todas as
serrarias a manter a escola e a professora. O bem maior dessa época era o
compromisso social, pois na mesma sala de aula estudavam os filhos dos
proprietários e os filhos dos operários, havendo assim uma igualdade sociocultural
na área do conhecimento. A escola e a professora serviam a todos no mesmo
horário, os que tinham e os que não tinham posses. O intelectual e a cultura eram
bens de apropriação dos alunos, sem que se olhasse para o calçado que as crianças
traziam nos pés.

Essas escolas mantidas nas serrarias eram particulares e ao longo do tempo foram
substituídas por escolas municipais ou simplesmente foram se extinguindo à medida que a
atividade madeireira foi se reduzindo. Poucas foram as escolas que continuaram suas
atividades, como é o exemplo citado por Voltolini (2005, p. 179):

a Escola Rural Municipal Maria Montessori atende às crianças, filhos dos poucos
empregados da serraria e, principalmente, de pequenos proprietários rurais da
50

periferia, uma vez que diminuiu sensivelmente o número de famílias a serviço de


Irmãos Martinello.

As escolas mantidas pelas indústrias madeireiras eram particulares. No entanto, antes


de Pato Branco ser emancipado, existiam escolas rurais mantidas pela sede municipal da
época, que era o Município de Clevelândia. Após a emancipação, essas escolas rurais
passaram a ser escolas municipais, mantidas pelo município de Pato Branco.
Em 1943, a 1ª escola rural mantida pelo governo do Estado do Paraná, criada no então
distrito de Pato Branco, foi o Grupo Escolar Professor Agostinho Pereira que passou a existir
oficialmente pelo Decreto n. 1948, de 18/05/1943. Foi a primeira construção de alvenaria feita
em Pato Branco. Levou dois anos para ser concluída e seus primeiros professores foram
Juvenal Loureiro Cardoso e sua esposa Noêmia Andrade Cardoso. Inicialmente eram noventa
alunos.
Essa escola foi construída por intermédio da solicitação do professor Juvenal Loureiro
Cardoso e do engenheiro Duílio Trevisani Beltrão, que souberam que o governo do Paraná,
Interventor Manoel Ribas, iria construir grupos escolares, assim, conseguiram verbas para que
fosse construído o Grupo Escolar Professor Agostinho Pereira, em Pato Branco.
No pós-Segunda Guerra Mundial, as políticas capitalistas norte-americanas foram
amplamente divulgadas e influenciaram o governo paranaense. Para a efetiva implantação
dessas políticas, a educação era fundamental. As diretrizes das Leis Orgânicas de Educação
Primária Normal de 1946 eram atendidas pelo governo do Paraná. Segundo Miguel (2010, p.
74):

no período de 1946 a 1961, o Paraná completou a ocupação de seu território: os


municípios que surgiram traziam consigo as demandas da população, entre as quais
estavam as de escolas. O governo paranaense, atendendo às diretrizes das Leis
Orgânicas de Educação Primária e Normal (1946), propôs cursos de formação de
professores em nível Normal Regional, cujo currículo e cujas atividades
objetivavam formar o professor como aquele que iria educar o habitante das zonas
rurais para a melhor produção às normas de desenvolvimento dentro da ordem
capitalista. A formação do professor para o meio rural se desenvolveu no Paraná
principalmente no período de 1930 a 1961, procurando atender às demandas da
população que crescia na medida em que se multiplicavam os municípios em
função da lavou cafeeira enquanto expansão da lavoura paulista. [...] Porém, outros
fatores concorreram para que tal acontecesse: as políticas estaduais do governo do
Paraná para a colonização do Estado, ou seja, políticas de migração e imigração
dirigidas; a transformação do capital agrícola do café capital financeiro [...]; as
políticas nacionais vinculadas às políticas internacionais de reordenação do mundo
ocidental capitalista sob a égide norte-americana no período pós 2º Guerra Mundial.
As políticas estaduais, assim como as nacionais, constituíam-se em expressões
regionais e nacionais do arranjo mais amplo do qual tomaram parte outros países da
América Latina.
51

Os cursos das Escolas Normais Regionais formavam professores para atuarem no


ensino rural. Nas escolas rurais, os alunos eram formados pelos professores visando uma
educação específica para o campo. De acordo com Miguel (2010, p. 75):

os Cursos Normais Regionais (Lei Orgânica do Ensino Normal), que objetivavam,


sobretudo, a formação no local de trabalho de professores já em serviço cuja
profissionalização formal era incompleta, tinham ainda como finalidade o
atendimento às necessidades dos alunos nos seus lugares de origem. Estas
necessidades eram entendidas pelo governo como as vinculadas à produção, ou
mais especificamente às atividades de agricultura e pecuária. As propostas
educacionais então implantadas assumiam tais finalidades como objetivos
educacionais.

As políticas públicas da educação implantadas no Brasil foram influenciadas pelo


México por meio das missões culturais, com experiências educativas de formar professores
para orientar as pessoas que viviam nas zonas rurais, no sentido de lhes proporcionar meios
para o desenvolvimento intelectual, higiênico e econômico.
Nos anos de 1940, Erasmo Pilotto, frente à política educacional paranaense, buscou
fontes inspiradoras nas experiências educativas vivenciadas na América Latina. Segundo
Miguel (2010, p. 76): “A influência do modelo mexicano das ‘missões culturais’ se constituiu
em uma das marcas nas propostas de práticas nos cursos de formação de professores para as
zonas rurais”.
Assim, a necessidade de implantação das escolas rurais no Paraná nos anos de 1940,
bem como pela formação de professores por meio dos Cursos Normais Regionais com o
objetivo de atingir amplamente a população dos mais longínquos polos de migração e
colonização atingidos pelo Paraná, buscava proporcionar uma educação mais próxima da
realidade daquela população. Assim também foi o caso das escolas rurais mantidas em Pato
Branco neste período, até a sua emancipação.

2.6 PONTOS INTERLIGADOS DA MEDICINA, RELIGIOSIDADE, ESTRUTURA


ADMINISTRATIVA QUE INFLUENCIARAM A EDUCAÇÃO DE PATO BRANCO NO
PERÍODO PESQUISADO

Até os anos de 1940, os recursos da medicina eram praticamente nulos nas colônias de
Vila Nova e Bom Retiro. Se alguém ficasse doente por aquelas bandas, estava condenado à
morte imediata, não fossem os curandeiros da região que eram, por isso, famosos, pois,
52

apresentavam o único recurso para os mais diversos casos de doenças, ou de acidentes, muito
comuns por tiros e emboscadas com pistoleiros.
Nos anos de 1930 apareceram os primeiros profissionais na área de saúde em Bom
Retiro, mas que na verdade eram apenas práticos, pois muitas vezes eram fugitivos de cidades
maiores; nunca ninguém ficava sabendo direito quem eram e de onde vinham.
Médico formado só existia mesmo em Clevelândia ou União da Vitória e as distâncias
eram muito grandes. Com a instalação provisória da CANGO a partir dos anos de 1943,
também veio o serviço médico-hospitalar, que atendia não só os funcionários da colonizadora,
mas a população de um modo geral, fornecendo medicamentos e atendendo os pacientes em
suas casas. Contudo esse atendimento foi passageiro e cessou com a retirada da CANGO.
O primeiro médico que se efetivou em Pato Branco após a saída da CANGO, em
1945, foi o Dr. Sílvio Coelho Vidal Leite Ribeiro, que veio do Rio de Janeiro e construiu o
primeiro hospital de Pato Branco, chamado “Hospital Santa Margarida”, em 1946. Segundo a
obra: Estatísticas Municipais 30 anos: Pato Branco 30 – histórico (1982, p. 33): “no ano de
1946 foi inaugurado o Hospital Santa Margarida, obra levada a efeito graças ao trabalho tenaz
do Dr. Sílvio Vidal, médico pioneiro do Sudoeste”. Mas havia dificuldade em encontrar mão
de obra especializada para o bom atendimento dos pacientes no hospital. Então, o Dr. Sílvio
Vidal trouxe, também do Rio de Janeiro, três religiosas: Irmãs da Congregação das Filhas da
Caridade de São Vicente de Paulo para o exercício de enfermagem no hospital. Além de
cuidar dos doentes, as Irmãs também se envolveram com a educação privada.
Em 1948 foi instalada em Pato Branco, por meio da Prelazia de Palmas, pelo Bispo
Dom Carlos Saboia Bandeira de Mello, a Paróquia São Pedro Apóstolo. Com a criação da
Paróquia, o bispo Dom Carlos Eduardo, com o apoio da população, buscou a criação de um
colégio de freiras em 1949, dando prioridade às Irmãs da Congregação das Filhas da Caridade
de São Vicente de Paulo, porque já trabalhavam na Vila. Assim, concretizou-se a criação de
uma casa de freiras e o Instituto Nossa Senhora das Graças em Pato Branco, o que representou
um grande avanço na área educacional. De acordo com a história do Colégio Vicentino Nossa
Senhora das Graças (2011), publicada na página do endereço eletrônico do colégio:

a ideia da realização de uma obra educacional religiosa em Pato Branco, foi do


Vigário Frei Corbiniano, apoiado pelo aval de Sua Excelência Reverendíssima
Dom Carlos Eduardo Saboia Bandeira de Mello – Bispo Diocesano. O sonho foi
concretizado com pleno apoio da população e da paróquia. A Congregação
Religiosa Feminina que aceitou o desafio foi das Irmãs Filhas da Caridade de São
Vicente de Paulo que estavam instaladas em Villa Nova (Pato Branco), com
serviços de enfermagem na Beneficência Médico-Hospitalar de Pato Branco, do Dr.
Silvio Vidal (atual Hospital São Lucas). Embora não se disponha de provas
53

documentais, pois nem no Tombo da Paróquia existem alusões ao fato, as


negociações entre as partes foram rápidas e bem-sucedidas, pois, a partir de 1949,
as Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo haveriam de oficialmente
iniciar em Villa Nova as atividades na área educacional.
Vencida a primeira tarefa, outras, se abriram para o vigário Frei Corbiniano, em
torno dessa iniciativa: alugou-se um sobrado (esquina da Rua Tocantins com a Rua
Itacolomi) de propriedade do Sr. João Giasson. Na parte térrea instalou-se a escola,
em dois varandões, e a cozinha das Irmãs que passaram a ocupar o andar superior
como residência reservada às Irmãs. Nesse lugar nasceu o Instituto Nossa Senhora
das Graças, oficialmente apresentado à comunidade em 03 de fevereiro de 1949,
início de suas atividades pedagógicas.

Houve estreita ligação entre a medicina, por meio do serviço de enfermagem do


primeiro hospital de Pato Branco “Santa Margarida”, criado pelo Dr. Sílvio Vidal, como era
conhecido, ao trazer as religiosas para cuidar dos enfermos, e a criação da Paróquia São Pedro
Apóstolo e o apoio da Igreja para a criação do Instituto Nossa Senhora das Graças,
amplamente apoiado pela população, que era largamente católica. A criação do “Colégio das
Irmãs” como até hoje é popularmente conhecido trazia maiores oportunidades para o ensino
em Pato Branco e toda a região, pois muitas internas eram educadas de acordo com a ordem
religiosa das Irmãs.
Esses dois pontos convergentes da medicina e da religião influenciaram a educação
em Pato Branco, pois a maioria dos colonizadores gaúchos e catarinenses era católica.
Quando chegaram os primeiros moradores vindos do sul, constataram que em Bom Retiro não
havia capela construída, apesar de os caboclos praticarem suas rezas, pois os freis
franciscanos, antes da década de 30, percorriam os rincões do sudoeste do Paraná e oeste de
Santa Catarina pregando seus ensinamentos. De acordo com a reportagem sobre os 40 anos da
Paróquia São Pedro Apóstolo do Jonal Diário do Sudoeste (1988, p. 14):

[...] assim também foram as sandálias franciscanas as primeiras a pisarem o chão


virgem do Sudoeste do Paraná, quando há mais de oitenta anos atrás vinham os
frades da longínqua Blumenau, Estado de Santa Catarina para dar assistência
religiosa a esta região, praticamente deserta.

Dessa forma, os pioneiros resolveram construir uma igreja para sua prática religiosa,
escolhendo como padroeiro São Pedro Apóstolo. Segundo o Jornal Diário do Sudoeste (1988,
p. 14):

no ano de 1930 foi construída a primeira capela nesta localizada (SIC!) de Vila
Nova. Até aquela data, o padre que vinha uma ou duas vezes ao ano de Palmas,
rezava a missa em casa particular, pois não tinha igreja nem capela onde pudesse
ser realizada a cerimônia. A comissão construtora da primeira capela escolheu por
padroeiro São Pedro Apóstolo, porque havia quatro homens com o nome de Pedro
na comissão que eram: Pedro Vieira, Pedro Soares, Pedro Bortot e Pedro Tato.
54

Com grande esforço e com auxílio direto da comunidade, foi erguida a primeira
Capela de Vila Nova, que seria festivamente inaugurada no dia 29 de junho de
1933, na festa do Padroeiro.

Em 1935 foi construída outra igreja, em local planejado pelo engenheiro Duílio
Trevisani Beltrão, ainda segundo consta no Jornal Diário do Sudoeste (1988, p. 14):

no dia 30 de junho de 1935, o engenheiro Duílio Trevisani Beltrão esquadrejou o


terreno onde seria construída a Nova Igreja, que com entusiasmo geral foi
começada incontinenti, pois a madeira necessária já estava pronta.

Sobre a construção das igrejas de Pato Branco, segundo depoimento de Merlo (1984,
p. 9):

em 1938 os quatro Pedros pioneiros, Pedro Vieira, Pedro Soares, Pedro Bortot e
Pedro Tato construíram e entregaram à cidade a primeira igreja que ficava no local
onde está a praça da matriz, entre as ruas Guarani e Tupi. Foram as famílias dos
quatro Pedros os primeiros festeiros da nova igreja. Pedro Bortot e Pedro Tato
deram a madeira para erguerem a igreja e os outros arrecadaram dinheiro e se
encarregaram da construção. Antes de 1938 havia apenas uma capela no povoado.
A maior distração do povo da colônia era rezar o terço na igreja aos domingos. A
igreja era um ponto de encontro onde os amigos botavam em dia os assuntos da
semana e os mais jovens aproveitavam para dar uma namorada. ‘Ir na igreja rezar o
terço aos domingos para nós era sagrado. Papai fazia a gente ir, tivesse chovendo
ou fazendo sol. As vezes tínhamos que levar os filhos nas costas, porque estava
tudo alagado da chuva’, recorda Rosa Merlo, os tempos em que a maior diversão
das moças do povoado eram os bordados e participar do coral da igreja. Festas
aconteciam duas vezes por ano. Em 29 de junho, dia de São Pedro e 21 de
novembro, dia de Nossa Senhora da Saúde. Nestas ocasiões vinha um padre de
Palmas rezar a missa. Era o frei Cassimiro que rezava as duas únicas missas que
havia durante o ano. Nos dias de São Pedro e Nossa Senhora da Saúde tinha festa o
dia inteiro. Durante o dia havia quermesse. À noite faziam baile de ramada, que era
uma armação de madeira coberta por galhos de árvores no teto. O resto ficava
aberto ao relento e o piso era de chão batido [..].

No dia 29 de junho de 1948, na festa em homenagem ao padroeiro, foi instalada a


Paróquia São Pedro Apóstolo, de Pato Branco, pelo bispo Dom Carlos Eduardo de Saboia
Bandeira de Mello, sendo o seu primeiro vigário frei Corbiniano Koesler. De acordo com
reportagem do Jornal Diário do Sudoeste (1988, p. 14): “Em 26 de junho de 1948, Dom
Carlos Eduardo dirigiu-se a Pato Branco, para no dia de São Pedro e São Paulo fundar a
Paróquia”.
Em 1958, quando Pato Branco já havia sido emancipado, a Igreja Católica e a
prefeitura municipal fizeram uma permuta de terrenos: o terreno onde ficava localizada a
igreja passou a pertencer ao Município que em seu lugar reconstruiu a Escola Estadual
Professor Agostinho Pereira, dirigida pelo professor Juvenal Loureiro Cardoso. Em
55

contrapartida, o terreno no qual ficava localizada a escola passou a pertencer à Igreja Católica,
que em 1965 inaugurou a construção da atual igreja matriz da Paróquia de São Pedro
Apóstolo de Pato Branco. Ainda de acordo com a reportagem do Jornal Diário do Sudoeste
(1988, p. 15): “Finalmente no dia 29 de junho, foi inaugurada solenemente a matriz com
grande festa, vindo o Bispo Diocesano D. Carlos e Frei Gonçalo que terminara as obras [...]”.
Assim, foi construída a atual igreja matriz de Pato Branco.
Quanto à emancipação de Pato Branco, esta ocorreu em 14 de novembro de 1952, com
a criação do Município pela Lei 790, sancionada pelo Governador Bento Munhoz da Rocha,
que criou o Município de Pato Branco. De acordo com o relatório dos Atos do Poder
Executivo, foi criada a divisa do novo Município de Pato Branco, desmembrado do Município
de Clevelândia Diário Oficial (PARANÁ, 1951, p. 2):

Atos do Poder Executivo


Divisão Administrativa do Estado no Quinquênio de 1952 a 1956.
Quadro que se refere a Lei n.º 790, de 14 de novembro de 1951.
Município de Pato Branco
I – Limites Municipais
Linha de Limites
1- Com o município de Mangueirinha;
2- Com o município de Clevelândia;
3- Com o município de Francisco Beltrão.
Curitiba 27/11/51.

Com a instalação do Município em 1953, o primeiro prefeito eleito foi Plácido


Machado, que se deparou com muitas dificuldades na administração devido à falta de verbas
públicas do governo federal. Por não mais contar com a ajuda do Município de Clevelândia,
buscou desenvolver-se por conta própria. Quanto à educação, comenta Voltolini (2002, p. 85):

embora rudimentar e limitada a educação e o ensino, através de escolas primárias já


vinham sendo praticadas em Bom Retiro. Existiam o Grupo Escolar Agostinho
Pereira, mantido pelo Estado, a Escola Nossa Senhora das Graças, de iniciativa
privada em Villa Nova, e um número não identificado de escolas em concentrações
rurais, mantidas por Clevelândia, herdadas pela administração de Plácido Machado.
Sem as mínimas condições financeiras para custear-lhes o funcionamento o Prefeito
levou o problema para o Governo do Estado, que se propôs a subvencioná-las.

No primeiro mandato de emancipação de Pato Branco, por meio do prefeito eleito


Plácido Machado, foram imensas as dificuldades da administração do município, devido à
falta de verbas e às manifestações partidárias da época, que eram muito fortes. Mas Pato
Branco aos poucos foi apresentando um polo educacional muito forte na região, com a
56

instalação do Instituto Nossa Senhora das Graças, bem como com a implantação do Colégio
Estadual Professor Agostinho Pereira.
No próximo capítulo é analisada a presença das instituições de ensino em Pato Branco,
desde a chegada da primeira professora que alfabetizava as crianças de Bom Retiro e Vila
Nova, a implantação da Escola Normal em Pato Branco.
57

3 PRIMEIROS PASSOS DA EDUCAÇÃO PÚBLICA EM PATO BRANCO, NO


SUDOESTE DO PARANA

Este capítulo identifica e analisa a trajetória da primeira escola de formação de


professores implantada em Pato Branco, desde o seu Decreto de criação em 1959 à sua
extinção em 1986. A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva criada através do Decreto
nº. 24721 de 27/07/1959. Analisando também a legislação pertinente que regulamentou a
Escola Normal durante seus 26 anos de funcionamento.
Como relatado no capítulo anterior, a pioneira atividade de exploração econômica
apresentada pela Colônia de Bom Retiro no início do século XX foi a extração da erva-mate,
vegetação nativa e abundante que existia em todo sudoeste e demais regiões do sul do Paraná.
Naquela época, os argentinos apresentavam elevado consumo do mate e vinham à região
sudoeste em busca dessa matéria-prima.
Na Colônia de Bom Retiro instalou-se a empresa argentina de Luiz Pastoriza, que
detinha ali seus barbaquás, denominação empregada a lugares próprios para o preparo do
mate por meio do seu sapeco, que facilitava o seu transporte para a Argentina. A empresa
trazia funcionários argentinos e paraguaios, especializados na poda das árvores, e o restante
da mão de obra era feito pelos caboclos que moravam na colônia Bom Retiro. Comenta
Bocchese (2004, p. 70) que “Luiz Pastoriza era argentino. Foi o primeiro empresário a se fixar
em Pato Branco. Tinha vários barbaquás e empregava os caboclos de Bom Retiro para a
extração da erva-mate”.
Segundo os estudos do historiador Sittilo Voltolini, foi nessa época que a Colônia de
Bom Retiro teve sua primeira professora, Ana Maria Cordeiro, casada com um dos
funcionários da empresa de Luiz Pastoriza. Estas informações estão presentes na obra do
professor Sittilo Voltolini, Retorno 1 – Origem de Pato Branco – (2005) e foram colhidas por
meio de entrevistas feitas com os pioneiros de Pato Branco, por meio de projeto histórico, nos
anos de 1995-1996. Segundo o autor, alguns desses moradores mais antigos foram alunos da
professora Ana Maria Cordeiro. À época, as colônias de Bom Retiro e Vila Nova não tinham
escolas públicas, assim, a primeira professora foi contratada pela empresa de Luiz Pastoriza,
“A primeira professora de Bom Retiro foi Ana Maria Cordeiro, esposa de Antônio Cordeiro,
condutor de tropas de animais de carga da empresa argentina Luiz Pastoriza” (Voltolini, 2005,
p. 287, grifo do autor).
58

As aulas da professora Ana Maria Cordeiro eram em espanhol para os filhos dos
empregados argentinos e paraguaios, que aqui moravam, e em português para os filhos dos
caboclos. Esclarece Bocchese (2004, p. 184) que:

os sitiantes de Bom Retiro, os filhos de argentinos e de paraguaios, que trabalhavam


na poda das ervateiras, frequentavam as aulas dessa professora. Osório Prates foi um
desses alunos e contou em entrevista que as aulas eram bilíngues, a professora
ensinava em português para as crianças brasileiras, filhas dos caboclos e, em
espanhol, para as crianças filhas dos argentinos e paraguaios que trabalhavam nos
barbaquás de Luiz Pastoriza.

Mas a partir de 1925, a empresa argentina foi suspendendo gradativamente as


atividades de extração de erva-mate no sudoeste do Paraná, retirando os seus empregados
argentinos e paraguaios, indo embora; com eles a professora Ana Maria Cordeiro.
Com a saída de sua primeira professora, Bom Retiro e Vila Nova não tinham ninguém
capacitado para substituí-la, pois a população na sua grande maioria era analfabeta, apesar de
todos saberem da significativa importância que a escola representava para a Colônia. Assim, a
administração municipal de Clevelândia, tendo como prefeito Estevão R. Nascimento Júnior,
com mandato de 1925 a 1930, buscou contratar um professor para aquela escola. Quem
assumiu foi o professor Joaquim Pinto. Comenta Voltolini (2005, p. 287) que:

um rapaz recém-dispensado do serviço militar, Joaquim Pinto, prontificou-se a ser


professor em Bom Retiro. Não aguentou muito tempo. Abandonou o magistério e
foi trabalhar com um comerciante em Palmas.

Novamente a escola estava à mercê do abandono, mas surgiu outro voluntário, o


professor Moacir Marcondes, que passou a dar aulas em sua casa. Infelizmente isso não durou
muito tempo, pois este professor também abandonou o ofício. Segundo Voltolini (2005, p.
288):

mas o professor Marcondes também não ‘emplacou’. Não ficou um ano sequer na
regência escolar em Villa Nova. Pessoa excêntrica, quando lhe dava certos acessos,
largava a escola e mandava-se para Clevelândia, demorando semanas para ir e
voltar, a pé, acompanhado da esposa.

Os moradores de Vila Nova queriam escola para seus filhos e buscava-se novamente
um professor que pudesse assumir essa tarefa, mas o apelo para os professores de Clevelândia
não seria atendido, pois certamente ninguém iria deixar o conforto da sede municipal para vir
59

para um lugar tão distante. Dessa forma, a solução foi encontrada em Vila Nova mesmo –
Noé Aires de Mello que era cartorário:

[...] cartorário e professor em Bom Retiro. Com pessoa da casa a coisa iria
funcionar. E funcionou, beneficiando a criançada de Villa Nova com professor que
haveria de permanecer no cargo até quando fosse necessário, para a tranquilidade
de todas as famílias locais (VOLTOLINI, 2005, p. 288).

Mas, mais uma vez não foi por muito tempo que Noé Aires de Mello lecionou em
Bom Retiro.
Até os anos de 1930, pouca coisa havia mudado em termos de desenvolvimento
educacional nas colônias. Contudo, a partir desta década, foi expressivo o contingente de
famílias que se deslocaram da sede do Município de Clevelândia para se instalarem na
Colônia de Bom Retiro. Foi o que aconteceu com Juvenal Loureiro Cardoso, que se mudou
com a família para morar em Vila Nova. Devido ao seu grau de instrução, supriu a carência de
professor na vila e construiu a escola em sua casa, que ficava próxima à primeira igreja
construída em Vila Nova.
Quando ocorreu a construção da nova igreja em 1935, na qual atualmente se encontra
o centro da cidade de Pato Branco, a escola também foi mudada. Ou seja, a escola sempre
ficava na casa do professor Juvenal Loureiro Cardoso, ao lado da igreja. A religiosidade e a
escola estavam interligadas nos anos iniciais do desenvolvimento de Vila Nova, conforme
argumenta Bocchese (2004, p. 186):

como em 1935 ocorreu a mudança da capela para uma elevação que corresponde
atualmente o lugar em que está a praça Presidente Vargas, determinou-se que ali
seria o centro de Villa Nova. Assim, em 1937, nesse lugar foi inaugurada a capela,
e a escola outra vez mudou para essa área. O tempo passou e a escola continuou
sempre nos arredores da igreja e da praça.

O professor Juvenal Loureiro Cardoso dava aulas particulares para as crianças das
colônias em sua casa. Relatos do filho mais velho de um dos pioneiros de Pato Branco, Pedro
Antônio Soares, e uma das primeiras pessoas nascidas em Pato Branco, diz como era a vida
na Colônia nos anos de 1930, bem como a sua experiência frequentando as aulas do professor
Cardoso, em reportagem ao Jornal Correio Notícias, Soares (1984, p. 8):

Unerval Soares, primeiro filho de Pedro Antônio Soares, hoje com 53 anos é uma
das pessoas mais antigas, nascida em Pato Branco. Morava com a família na altura
onde atualmente fica a Avenida Tupy. Diz que no começo dos anos 30, Pato
Branco era um povoado e moravam por aqui cerca de dez famílias. Não havia
escolas e as poucas crianças que eram alfabetizadas aprendiam a ler com
60

professores particulares. O primeiro professor da cidade foi Juvenal Cardoso.


Unerval assistia algumas aulas com ele, mas desistiu porque eram muitos os alunos.
Veio aprender a ler mais tarde, com a professora Nadir Inocêncio, filha de um casal
que veio de Palmas. A sua segunda professora foi Maria Alves que continua
morando na cidade até hoje. Para completar o primário, Unerval teve que ir estudar
em Palmas porque em Pato Branco não existia mais do que o nível de
alfabetização.

De acordo com as fontes citadas podemos constatar que além do professor Juvenal
Loureiro Cardoso, também havia mais duas professoras na Vila de Pato Branco, nos anos de
1930: Nadir Inocêncio e Maria Alves. Possivelmente eram professoras que davam aulas
particulares em suas casas, assim como o professor Juvenal Loureiro Cardoso. Conforme o
Relato constante no Jornal Correio Notícias de outra moradora da Vila de Pato Branco nos
anos de 1930, que também frequentou as aulas do professor Juvenal Loureiro Cardoso, Merlo
(1984, p. 9) diz que:

Rosa Ana Bortot Merlo, terceira filha do Pioneiro, foi trazida para o Paraná, com 12
anos de idade. Conta que não queria vir, porque desejava estudar no colégio em
Sananduva, onde sua irmã mais velha estudava. Foi consolada pelos pais que
prometeram que iria estudar no colégio em Palmas, mas depois de ter chegado a
Vila Nova, nunca mais frequentou a escola. Estudou mais dois anos com o único
professor que existia no povoado, Juvenal Cardoso, que dava aulas particulares.
Rosa diz que de 1932 a 1934, período que esteve estudando com o professor, tinha
na sua aula mais de 20 alunos.

Segundo a matéria publicada no jornal, pode-se verificar que no início dos anos 1930,
o professor mais conhecido que trabalhava em Vila Nova e Bom Retiro, alfabetizando as
crianças, era o professor Juvenal Loureiro Cardoso, com escola particular em sua residência.
Os depoimentos de Unerval Soares e de Rosa Ana Bortot Merlo representam dois
testemunhos de pessoas que viveram em Pato Branco, nos anos 1930, e vivenciaram os fatos
ocorridos naquela época, e ainda participaram das aulas do professor Juvenal Loureiro
Cardoso. Sobre o testemunho, Bloch enfatiza (2001, p. 74):

entretanto, quando os fenômenos estudados pertencem ao presente ou ao passado


muito recente, o observador, por mais incapaz que seja de forçá-los a se repetir ou
de infletir, a seu bel-prazer, seu desenrolar, não se encontra do mesmo modo
desarmado em relação a suas pistas. Ele pode, literalmente, dar vida a algumas
delas. São os relatos das testemunhas.

As testemunhas dos fatos ocorridos no passado dão vida novamente a eles.


A forma como o professor Cardoso dava aula era com muita rigidez, é o que consta na
obra de Voltolini (2005, p. 292):
61

o professor Juvenal não brincava em serviço. Mesmo fora da escola, ‘portando


sempre chapéu de palha enorme inspirava muito medo’, conforme afirmação da
mesma ex-aluna. Mas era na classe que externava todo o rigor. Nas primeiras três
séries, para escrita, usava-se somente a lousa. Escrita a tinta, em cadernos, só no
quarto ano. Porque, volta e meia, ocorria acidentes (SIC!) com crianças derramando
tinta pela sala, o professor determinou a presença de um só tinteiro, que ficava lá na
sua mesa. O aluno, para molhar a pena, tinha que se deslocar até à frente do
professor, sem fazer o mínimo barulho e nem pingar tinta pelo chão, no retorno. A
disciplina era severa. O uso da palmatória e a postura de joelhos junto à mesa do
professor para mantê-la, eram práticas presentes no dia a dia da escola e aceitas pela
própria sociedade. A palmatória também entrava em ação, quando o aprendiz
deixava muito a desejar, não sabendo tabuadas e errando operações aritméticas já
ensinadas e aprendidas.

Pelo relato, pode ser observada a rigidez e a disciplina em sala de aula da década de
1930. Nessa escola, a prática de castigos físicos, como a palmatória, era muito comum e
aceita pela sociedade daquela época.
Mas até 1943, segundo as fontes, só havia a escola do professor Juvenal Loureiro
Cardoso, em Pato Branco. O marco inicial da propagação da escola pública estadual no
sudoeste do Paraná, na colônia de Pato Branco, ocorreu em 1943, devido ao interesse do
professor Juvenal Loureiro Cardoso e do engenheiro Duílio Trevisani Beltrão. Estes pioneiros
angariaram recursos, junto ao Interventor Manoel Ribas, para a construção de uma unidade
escolar em Pato Branco.
Juvenal Loureiro Cardoso e Duílio Trevisani Beltrão, sabedores da notícia de que
seriam construídas escolas no Estado do Paraná pelo governo do Interventor Manoel Ribas,
desejosos de progresso, para isso, conscientes da importância da educação para o
desenvolvimento de Pato Branco, em 1941, dirigiram-se a Curitiba e conseguiram verbas para
a construção de um grupo escolar mantido pelo governo do Estado, o “Grupo Escolar
Professor Agostinho Pereira”. É o que se pode verificar pelo Decreto (PARANÁ, 1943, p. 2):

Atos da Interventoria Federal no Estado


Decreto n.º 1948
O Interventor Federal do Estado do Paraná na conformidade do disposto no art. 7º,
item I, do decreto-lei nº. 1.202, de 8 de abril de 1939, decreta:
Art. único – Fica criado no distrito de Pato Branco, município de Clevelândia, um
grupo escolar com a denominação de “Prof. Agostinho Pereira”, em atenção aos
relevantes serviços prestados ao magistério público primário do Estado, durante os
anos de 1886 a 1923 pelo saudoso educador. Revogadas as disposições em
contrário.
Curitiba, em 18 de maio de 1943, 122º da Independência o 55º da República.
(aa) Manoel Ribas, Cap. Fernando Flores.
62

Mais tarde, por um período determinado, foi cedida parte das dependências do Grupo
Escolar Professor Agostinho Pereira para instalação temporária do Colégio Estadual de Pato
Branco. Argumenta Bocchese (2004, p. 144-145) que:

de 1963 a 1978, o Grupo Escolar Agostinho Pereira cedeu as suas dependências, no


período noturno, para o Colégio Estadual de Pato Branco, para o ensino Ginasial e
Científico. As aulas eram realizadas à luz de lampiões pendurados no teto.

O Grupo Escolar Professor Agostinho Pereira abrangia somente o estudo de 1ª a 4ª


série do ensino primário13. Ao completar o 4º ano, as crianças de Vila Nova ficavam sem
opção para continuarem a desenvolver seus conhecimentos. Apenas os filhos das famílias
mais abastadas economicamente tinham a chance de dar continuidade aos estudos em cidades
mais desenvolvidas, como Palmas. Mas na realidade, a grande parcela da população não tinha
condições para custear os estudos dos seus filhos fora da vila.
Dessa forma, as famílias resolveram bancar uma escola particular apenas para os
filhos homens. Assim, mais uma vez entra em cena o professor Juvenal Loureiro Cardoso,
que foi contratado para trabalhar na escola particular chamada “Escola Antônio João”, a qual
teve vigência de apenas cinco anos e acabou sendo extinta.
No ano de 1949, surgiu em Bom Retiro o “Instituto Nossa Senhora das Graças”. Em
1950, a Paróquia São Pedro Apóstolo custeou a construção da sede própria do Instituto Nossa
Senhora das Graças e junto a ela também foi construída uma casa para as Irmãs que recebiam
alunas sob o regime de internato. A população em geral apoiava a instalação da casa das
Irmãs e ajudava nos custos da construção, bem como a sede do governo municipal de
Clevelândia. Sobre a criação do colégio, de acordo com Cardoso e Rost (1974, p. 21):

o Instituto Nossa Senhora das Graças foi fundado em 1949, quando vieram do Rio
de Janeiro, três irmãs para dar início à obra educacional, então, no longínquo rincão
do Sudoeste Paranaense. Irmã Tereza Chiesa, Primeira Diretora, Irmã Ermelinda
Barros, e Irmã Adalgisa Fonseca. Em 1949 foram matriculadas 120 crianças em
idade escolar e foram iniciadas as atividades escolares do ano letivo, em condições
muito precárias, segundo as possibilidades da época. Em 1954 foi criado o Ginásio
Nossa Senhora das Graças, segundo portaria do Ministério da Educação e Cultura,
para atender as aspirações do povo que ia crescendo. Sua primeira diretora foi a
Irmã Elizabeth Fonseca. Atualmente o Instituto Nossa Senhora das Graças fundiu
(SIC!) o primário e o Antigo Ginásio no Curso Fundamental pela lei nº. 5.692 da
Reforma do Ensino no país. Sendo o INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS
GRAÇAS seu nome jurídico e o nome comum, tradicionalmente dado pelo povo
“COLÉGIO DAS IRMÃS”. A Escola Normal Colegial e Estadual desde a sua
fundação passou a funcionar nas dependências do Instituto Nossa Senhora das

_______________
13
No período de 1943 a 1963.
63

Graças de maneira que até hoje funciona, regido dentro de uma filosofia
educacional integrada, em prol do desenvolvimento integral da pessoa humana. O
corpo docente e discente do Instituto está constituído atualmente de 30 professores
e 730 alunos. Por isso, quando da passagem do 25º aniversário de fundação do
Instituto Nossa Senhora das Graças a direção de PATO BRANCO EM REVISTA
não poderia deixar passar desapercebida esta tão importante data, e prestar uma
simples homenagem a estas que foram as pioneiras no ensino em Pato Branco..

Sobre o início das atividades pedagógicas das Irmãs em Pato Branco, comenta
Bocchese (2004, p. 190):

a diretora, Irmã Elizabeth Fonseca (nome de batismo Adalgisa), mais a secretária


Irmã Terezinha Chiesa, Superiora da casa, a (SIC!) três de fevereiro de 1949, deram
início às atividades pedagógicas com três turmas de alunos, com registro oficial da
Secretaria de Educação e Cultura datado de 30/11/49, sob n.º 245.

Em 1954, ocorreu a instalação do Ginásio Nossa Senhora das Graças, em Pato Branco.
Mas havia uma dificuldade imensa para encontrar profissionais da educação preparados para
trabalhar no Ginásio. Assim, a solução para o problema foi a contratação de profissionais
liberais que atuavam em diferentes atividades na vila de Pato Branco, como: juiz de direito,
médicos, advogados, que entre outros, foram contratados como professores para lecionar no
Ginásio Nossa Senhora das Graças.
Com a instalação do Instituto Nossa Senhora das Graças em Pato Branco, nos anos
1950, as Irmãs buscaram atingir não só o público na faixa escolar do primário, mas também
aquela do ginasial. O curso de admissão permaneceu em alta, durante o tempo em que era
exigido, como provas de ingresso ao curso ginasial. A procura do povo era grande, pois não
existia outro similar na região. Poucas eram as famílias mais abastadas que conseguiam
sustentar seus filhos sob o regime de internatos em outras cidades. Assim, o curso de
admissão era a melhor saída para que os pais ficassem mais tranquilos com seus filhos
estudando em Pato Branco mesmo. Foi em 1957 que ocorreu a formatura de sua primeira
turma do ginásio, o que representou um grande avanço para a educação de Pato Branco.
Mas havia a necessidade de formar professores para atuar nos colégios de Pato Branco
e em outros municípios vizinhos. Em 1958, o governador do Estado, Moysés Lupion,
autorizou a criação da Escola Normal no município pelo Decreto n.º 24721/59. Essa escola
funcionava junto às dependências do Instituto Nossa Senhora das Graças, cujo aluguel era
pago pelo governo do Estado às Irmãs Vicentinas, que eram responsáveis pela sua direção.
Assim, foi constituída a primeira turma de normalistas de Pato Branco por meio da Escola
Normal Colegial Dr. Xavier da Silva. Para beneficiar as classes menos favorecidas, o governo
64

do Estado garantiu a gratuidade do Curso Normal, assumindo as despesas com os professores


e manutenção dele.
Será feita uma abordagem minuciosa sobre a implantação da Escola Normal em Pato
Branco. Objeto desta pesquisa, a implantação da Escola Normal em Pato Branco e seu
desenvolvimento histórico será tratado nos itens seguintes.

3.1 IMPLANTAÇÃO DA PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM


PATO BRANCO

Até o final da década de 1950, a educação no município de Pato Branco abrangia


escolas primárias públicas e particulares. Também funcionava o Ginásio junto ao Instituto
Nossa Senhora das Graças, que era colégio particular. No entanto, havia a necessidade da
implantação de uma escola para formação de professores. Em 1959, o governador do Estado
publicou o Decreto de criação da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, em Pato
Branco, objetivando suprir essa falta de escola para formação de professores.
Pelo Decreto n.º 24721/59, foi criada a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva,
publicado pelo Diário Oficial do Paraná (PARANÁ, 1959, p.2), que reza:

O GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ, no uso de suas atribuições,


DECRETA:
Artigo único – Fica criada uma Escola Normal Secundária, em Pato Branco, para
funcionar no ano letivo de 1960.
Curitiba, em 27 de julho de 1959, 139º da Independência e 71º da República.
Moysés Lupion – Governador do Estado.

Desde o início foi grande a procura por essa escola profissionalizante que trouxe ótima
oportunidade de formação, inclusive para os professores que já vinham lecionando há muito
tempo, mas não tinham formação regularizada. A realidade no Estado do Paraná na década de
1960 apresentava um maior número de professores leigos atuando do que professores com
uma formação. Isso é o que assegurou o professor Véspero Mendes, Secretário de Educação e
Cultura, em Relatório apresentado ao Governador do Estado:

o magistério primário dispõe de 12.355 professores normalistas e de 13.791


professores sem habilitação, somando 26.146. Nota-se a presença marcante do
professor leigo, pela cifra desalentadora, fato comum em nossa Pátria, mesmo no
Ensino Médio. O referido professor apesar disso, é necessário, não só pela carência
de docentes habilitados, como pelas circunstâncias do longínquo interior onde
apenas se encoraja de morar quem é originário da região. Embora inabilitado,
heroica é, não raro, sua presença (MENDES, 1964, p. 7).
65

A Escola Normal passou a funcionar a partir de 1960, em prédio alugado pelo Instituto
Nossa Senhora das Graças ao governo estadual. As instalações da Escola Normal ficavam
junto àquela instituição devido ao fato de ela oferecer local apropriado, com várias salas de
aulas, bem como ao trabalho das Irmãs Vicentinas Filhas da Caridade de São Vicente de
Paulo, que era muito conhecido na educação de Pato Branco. As próprias Irmãs foram
encarregadas da direção, organização e lecionaram na Escola Normal por muitos anos.
Segundo Voltolini (1999, p. 101):

o Curso Normal Colegial, concretizado com a criação da Escola Normal Colegial


Estadual Dr. Xavier da Silva, nasceu de projeto do Governo do Paraná para difundir
em todo o Estado o ensino profissionalizante, nas áreas de magistério e de
contabilidade. [...]. Por instrumento de convênio a administração da Escola Dr.
Xavier da Silva foi entregue às Irmãs Vicentinas em cujas dependências físicas
haveria de ser abrigada e ali exercer as atividades pedagógicas. A solene instalação
deu-se em 23 de novembro de 1959, com a presença da Diretora da Divisão de
Ensino Normal da Secretaria de Educação, professora Diva Vidal, [...].

Concomitante com a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, também funcionava
em Pato Branco o Colégio Comercial Estadual de Pato Branco14, com curso de Contabilidade,
criado pelo Decreto n.º 20.989, de 30/12/1958, com autorização de funcionamento pela
Portaria n.º 69, de 02/03/62. Estes foram os primeiros cursos profissionalizantes que
funcionaram em Pato Branco (Voltolini, 1999).
A Escola Normal permaneceu durante 26 anos funcionando e surgiu no período da Lei
Orgânica n.º 8.530/1946, conhecida como Lei Orgânica do Ensino Normal, da reforma de
Gustavo Capanema. Em 1961 ocorreu a publicação da Lei n.º 4.024/1961, que fixou as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, vigente por dez anos. No entanto, em 1971, foi
aprovada a Lei n.º 5.692/1971, que promoveu a reforma do ensino de 1º e 2º graus, no Brasil.
Assim, a trajetória da Escola Normal de Pato Branco passou pela regência de todas essas leis,
cada uma com suas peculiaridades, assunto que será analisado a seguir.

_______________
14
Esse Colégio funcionava nas dependências físicas do Colégio Rocha Pombo, que também já foi extinto.
66

3.2 FUNCIONAMENTO DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA


NO PERÍODO DE 1960 A 1984, SOB A DIREÇÃO DAS IRMÃS VICENTINAS, NO
INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, EM PATO BRANCO

A Escola Normal foi instalada no prédio do Instituto Nossa Senhora das Graças por
uma questão de economia. Era mais fácil pagar aluguel do que construir uma sede própria. Foi
escolhido o “Colégio das Irmãs” por ser muito conhecido na educação da cidade de Pato
Branco15 e por oferecer amplas salas de aula, que ao todo eram cinco. Foi uma conquista para
as Irmãs Vicentinas acolherem a Escola Normal. Mas, antes de tudo, tal se deu devido àquele
colégio se enquadrar nos requisitos previstos pelos incisos dos artigos 40 e 42 da Lei
Orgânica do Ensino Normal (BRASIL, 1946):

Art. 40. Onde se torne conveniente, poderão os Estados outorgar mandato a


estabelecimentos municipais ou particulares de ensino, para que ministrem cursos
de ensino normal, do primeiro ou do segundo ciclo e que serão, assim, oficialmente
reconhecidos.

Art. 42. Os estabelecimentos, municipais ou particulares, que desejarem outorga de


mandato de ensino normal, deverão satisfazer às seguintes exigências mínimas:
a) prédio e instalações didáticas adequadas;
b) organização de ensino nos termos do presente decreto-lei;
c) corpo docente com a necessária idoneidade moral e técnica;
d) ensino de português, geografia e história do Brasil, entregue a brasileiros natos;
e) manutenção de um professor-fiscal, no estabelecimento designado pela
autoridade de ensino competente;
f) existência de escola primária anexa, para a demonstração e prática de ensino;
g) Parágrafo único. Não poderá ser concedido mandato para curso de segundo
ciclo do ensino normal, senão a estabelecimentos que já possuam magistério
oficialmente reconhecido.

Todas essas exigências trazidas pela lei foram cumpridas pelo Instituto Nossa Senhora
das Graças. Assim, a escola foi instalada e administrada pelas Irmãs Vicentinas. Segundo
reportagem do Jornal Diário do Sudoeste (1989, p. 9): “graças aos esforços e a dedicação com
que as irmãs se empenhavam pelo colégio, em 1959, foi criada a Escola Normal Colegial ‘Dr.
Xavier da Silva’, funcionando no mesmo prédio da escola e estando sob a direção das irmãs”
Devido a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva funcionar nas dependências
físicas do Instituto Nossa Senhora das Graças, e ser direcionado pelas Irmãs Vicentinas seguia
o mesmo regimento interno desta escola. A diferença era por ser escola pública. Junto ao

_______________
15
O Instituto Nossa Senhora das Graças era uma escola particular que também funcionava sob o regime de
internato. As famílias com melhores condições pagavam para que suas filhas estudassem naquela escola e
ficassem sob os cuidados das Irmãs Vicentinas.
67

material encontrado no arquivo da Escola Normal, há uma cópia do Regulamento de Conduta


que era seguido à época, mas nesse documento não há referência sobre em que ano foi
publicado. Contudo, representa uma prova de como foi regulada a escola, o que era permitido
e proibido e também retrata a realidade do comportamento seguido, a rigidez que as Irmãs
mantinham sobre os alunos na Instituição de Ensino.
A seguir, registra-se um extrato do regulamento de conduta formulado pelas Irmãs
Vicentinas para a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, quando funcionou junto ao
Instituto Nossa Senhora das Graças:

QUERIDO ALUNO – A VOCÊ, NOSSAS BOAS-VINDAS – Ao matricular-se


neste estabelecimento, você assume uma série de compromissos que serão de
grande valia para sua formação integral, que é o cumprimento de seu dever para
com DEUS, para CONSIGO MESMO e para com o PRÓXIMO.
Você é uma pessoa humana, criada a imagem e semelhança de Deus, portanto digna
de amor, respeito e compreensão. Para que estes princípios de convivência humana
sejam vividos na escola precisamos de sua colaboração.
É por isso que o Colégio estabelece normas que devem ser observadas:
01 – Ser respeitoso para com os colegas, funcionários, professores e Direção.
02 – Ser honesto, sincero e justo.
03 – Ser pontual nas aulas como na execução das tarefas.
04 – Comparecer às aulas devidamente uniformizado.
05 – Participar de todos os exercícios de Educação Física e outras atividades
promovidas pela escola, devidamente uniformizado (a).
06 – Colaborar na ordem e limpeza das salas de aula e outras dependências do
Colégio, indenizando os estragos.
07 – Dispensar toda a atenção às campanhas da A.P.P. do Colégio, do Grêmio e
efetuar o pagamento das devidas taxas.
08 – Zelar pelos livros e móveis da Biblioteca e Laboratório.
09 – Usar lápis nas pesquisas da biblioteca, indo sempre com a pesquisa
organizada, para evitar perda de tempo.
10 – Participar das comemorações Cívicas, Sociais e Religiosas organizadas pelo
Colégio.
11 – Participar dos cursos literários, artísticos e esportivos, promovidos pelo
Colégio.
12 - Manter silêncio nas salas de aula, nos corredores e outras dependências a fim
de não atrapalhar as aulas e a boa ordem.
13 – Permanecer até o final das aulas. Só poderá sair antes, com autorização da
Direção.
14 – Na troca de aula, aguardar o professor na sala.
15 - Entrar e sair do Estabelecimento sem correrias ou algazarras.
16 – Acatar os avisos e orientações que lhe são dadas, para o seu aproveitamento
pessoal e comunitário.
17 – Ser assíduo a todas as aulas, trazendo justificativa quando faltar.
18 – Apresentar a documentação solicitada pela Secretaria e o material escolar em
ordem.
19 – Comunicar a Direção as possíveis irregularidades existentes no Colégio.
O uniforme do 2º Grau – turno diurno é blusa branca, não transparente, saia azul
marinho de tergal ou calça (não calça Lee), sapato colegial. Não será permitida a
entrada de alunos com tamanco ou sapato de salto fino.
TURNO NOTURNO: Traje simples e sóbrio. Não é permitido roupa decotada,
transparente e nem sapato com salto fino ou tamanco.
É VEDADO AO ALUNO: - Realizar promoções como: rifas, festas, excursões,
etc., sem autorização da Direção.
68

- Trazer cigarros e fumar dentro das salas ou dependências do Colégio.


- Namorar no Colégio seja na sala, no portão ou na calçada.
Por este código de normas também fica sabendo que as faltas levam a diminuir a
nota do Bimestre e que o Colégio não se responsabiliza por objetos e joias perdidas.
A transgressão dos itens acima terá a seguinte penalidade:
a) – Advertência em particular
b) – Repressão perante os colegas.
c) – Comunicação aos pais ou responsáveis.
d) – Suspensão das aulas.
e) – Expulsão – Transferência em qualquer época.
QUERIDO ALUNO, CONSTRUA SEU FUTURO COM SEGURANÇA,
ESFORÇO PESSOAL.
“UMA GRANDE VIDA É UM PENSAMENTO DA MOCIDADE REALIZADA
NA VIDA MADURA” (REGULAMENTO, [19--], [f.1]).

Como pode ser observado, o regulamento de conduta visava orientar os alunos que
frequentassem as dependências da escola para que agissem de acordo com princípios
religiosos, morais e cívicos professados pela Congregação das Irmãs. Segundo o artigo 43 da
Lei 4.024/6 (1961): “cada estabelecimento de ensino médio disporá em regime ou estatutos
sobre a sua organização, a constituição dos seus cursos, e o seu regime administrativo,
disciplinar e didático”.
Pelo fato da escola ser de orientação religiosa, é possível perceber princípios de ordem
“moral”, como a proibição ao aluno de namorar nas salas de aula do Colégio, em seu portão
ou na calçada.
Os alunos usavam uniforme para irem à escola, não era permitido usar blusa decotada,
transparente, calça Lee16 e sapatos de salto fino ou tamancos. Todos os princípios previstos no
código de conduta demonstram como eram os costumes da época e as regras seguidas pela
escola.
A procura pela escola profissionalizante de formação de professores foi muito grande
desde a sua implantação, pois era a chance de muitas professoras que já trabalhavam nas
escolas de Pato Branco e do interior, nas cidades próximas, obterem formação em nível
Normal Colegial, pois muitas dessas professoras atuantes não tinham possibilidade de se
formar em outras escolas ou faculdades17. A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva era
uma excelente oportunidade para a formação daquelas professoras, bem como as alunas que já
estudavam no Instituto Nossa Senhora das Graças, após cursarem o Ginásio, continuavam
estudando na Escola Normal. A procura era imensa. Eram duas turmas de aproximadamente

_______________
16
Marca de roupa criada nos Estados Unidos.
17
A partir de década de 1970, foram abertas Faculdades em Palmas e Guarapuava.
69

50 a 70 alunas, divididas em dois turnos, diurno e noturno. Há de se destacar que prevalecia o


sexo feminino entre a clientela.

3.3 O CORPO DOCENTE DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA

A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva foi pioneira em Pato Branco como
escola de formação de professores. Mas de onde provinham os professores que atendiam
àquela escola e qual a sua formação? Esta foi uma das perguntas feitas às entrevistadas18,
conforme anexos.
Nas respostas à questão, todas as entrevistadas disseram que a maioria dos professores
que lecionava na Escola Normal era religiosa ou tinha formação recebida em Seminários ou
Colégios de Freiras, principalmente da própria Congregação Vicentina, como exemplo da
Irmã Theresinha Bortolini, que lecionava várias disciplinas. Os professores eram provenientes
de grandes centros, como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais, e tinham formação acadêmica. Os professores que não possuíam formação acadêmica
estavam fazendo cursos superiores nas faculdades de cidades próximas da Região,
principalmente em Palmas e Guarapuava, pois nos anos de 1970, essas eram as faculdades
mais procuradas por toda a região sudoeste, que ofereciam oportunidades de formação
acadêmica nos cursos de Filosofia, Pedagogia e outros.
Antes disso, eram poucos os professores com formação acadêmica em Pato Branco,
segundo consta no livro elaborado pelo Núcleo Regional de Educação de Pato Branco – PR,
coordenado por Ana Séres Trento Comin, em comemoração aos 39 anos de implantação do
Núcleo na cidade - Memorial - Núcleo de Educação de Pato Branco – PR, (2002). Nele, é
relatada a trajetória dos Inspetores Regionais do Núcleo de Educação de Pato Branco/PR
durante aquele período e as principais obras que cada um desses Inspetores desenvolveu,
como é o caso da Inspetora Regional Líris Guzela Vedana, com a primeira gestão no período
de 1968 a 1970, em que consta o início da trajetória da escola pública profissionalizante em
Pato Branco, entre outras, a Escola Normal Colegial “Dr. Xavier da Silva”. De acordo com
Comin (2002, p. 23-24):

sua administração, como Inspetora Regional de Ensino, foi marcada pela


reestruturação administrativa e pedagógica das escolas, com ênfase nos cursos de 2º
grau profissionalizantes, como o Curso Técnico em Contabilidade, Escola Normal e

_______________
18
A uma professora que lecionou na Escola Normal e cinco ex-alunas.
70

Curso Científico. Primou também pelo aperfeiçoamento do corpo docente das


escolas, pois não havia professores efetivos ou concursados. Eram oferecidos aos
professores da CADES (Campanha de Aperfeiçoamento de Difusão do Ensino
Secundário) cursos feitos em Curitiba, com a duração de 30 dias, em período de
férias. Com esse curso os professores recebiam autorização do Ministério da
Educação e Cultura, através da Inspetoria Seccional de Curitiba, para lecionar até a
próxima época dos exames de Suficiência. Em Pato Branco, até pelo ano de 1968
apenas três professores eram licenciados em Ensino Superior. Os demais
professores eram contratados como Professores Suplementaristas e dependiam
todos os anos de uma nova designação, através de portaria que, normalmente, só
era assinada no mês de agosto, enquanto as aulas se iniciavam no mês de março. Os
vencimentos desses professores só viriam depois da assinatura desta portaria.
Muitas vezes, só recebiam seus proventos no final do ano. Essa situação modificou-
se a partir da criação das faculdades de Educação nas cidades de União da Vitória,
Palmas e Guarapuava. Só depois da conclusão dos diferentes cursos escolhidos
pelos professores foi que aconteceu o primeiro concurso público presidido pelo 49ª
IRE.

Ainda segundo a mesma autora:

os estabelecimentos de 1º e 2º ciclos, ou seja, cursos ginasial, comercial e


científico, por falta de professores especializados, eram assistidos por profissionais
liberais, advogados, dentistas, contabilistas, que, durante o dia exerciam as
atividades normais de sua profissão e, à noite atendiam as escolas na parte
administrativa e docente. A Escola Normal Estadual Dr. Xavier da Silva, que
funcionava junto ao Ginásio Nossa Senhora das Graças, era uma exceção a esta
regra (COMIN, 2002, p. 26).

Nos anos de 1960, não havia professores formados para lecionarem nos cursos
profissionalizantes em Pato Branco. Por isso, eram contratados para atuarem como
professores, profissionais liberais que realizavam as atividades típicas de suas profissões
durante o dia e à noite davam aulas naqueles cursos. Na Escola Normal foi diferente devido
ao fato de as Irmãs se dedicarem, com exclusividade, às atividades pedagógicas.
No início só havia turmas do período diurno para a Escola Normal, mas, com o
decorrer do tempo, a procura foi aumentando e fez-se necessária a abertura também de turma
noturna para a Escola Normal, pois muitas alunas eram senhoras que já trabalhavam durante o
dia com atividades escolares. Ainda, algumas alunas cursavam a Escola Normal durante o dia
e no período noturno faziam o curso técnico em contabilidade no Colégio Comercial de Pato
Branco, que, por muito tempo, também funcionou junto ao Instituto Nossa Senhora das
Graças. As turmas da Escola Normal eram grandes, com 50 até 70 alunas, divididas entre os
dois turnos. Até a década de 1970 não havia concurso do Estado para contratação de
professores. Somente mais tarde passou a existir concurso, mas mesmo assim alguns
professores não eram vinculados ao Estado, os chamados suplementaristas. Como exemplo,
os professores Elsa Sachser Tondo (Educação Física); Erminda Cardoso Vargas (Educação
71

Artística); Sittilo Voltolini (Português); Isis Lemser Borcioni (Educação Física), contratados
em janeiro de 1975.
Alguns dos professores que lecionaram na Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva, além dos acima citados, foram: Adiles Maria Guardalben, Celita Maria da Silva
Bussetti, Iria Ambrósio Fiorentin, Marta Polaski, Neli W. Brandes, Paulina Rech, Salete
Ambrósio, entre muitos outros. Porém, não foi possível encontrar a listagem com os nomes de
todos os professores.
De acordo com o artigo 116 da Lei n.º 4.978/64, previsão legal do Sistema Estadual de
Ensino do Paraná, Conselho Estadual de Educação, sob a jurisdição de Lei 4.024/61,
(PARANÁ, 1964, p. 21):

Art. 116 – Somente poderão reger classes de ensino primário de qualquer


estabelecimento, oficial ou particular, sujeitos à legislação estadual, professores
registrados no órgão competente da Secretaria de Educação e Cultura.
Parágrafo único – Também poderão reger classes de ensino primário, em caráter
temporário e em substituição, alunos do último ano dos Institutos de Educação e
Escolas Normais.

Quanto à maneira de conduzir a turma, a didática aplicada em sala de aula e ao


material de apoio fornecido, pode-se ter uma ideia por meio da entrevista fornecida, em
19
05/07/2011, pela professora “A” , que lecionou no período de 1963 a 1976 na Escola
Normal de Pato Branco, nas disciplinas de: Sociologia, Psicologia, Prática de Ensino e Ensino
Religioso. Segundo a entrevistada, no período específico em que trabalhou naquela escola,
que era pública, o governo estadual não fornecia nenhum tipo de material didático para ser
usado nas aulas. Os professores é que criavam materiais com uso de cartolinas coloridas. A
entrevistada destacou a questão da disciplina e rigorosidade que a escola seguia, bem como o
fato de ela procurar modificar a localização das carteiras em sala de aula e por isso ter sido
criticada pelas outras Irmãs que também eram professoras da Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva. Segue a transcrição da entrevista:20 “como professora era muito rígida, fazia
os alunos se dedicarem bastante aos estudos. Naquela época não havia material didático
fornecido pelo governo, também não se adotavam livros, era dada a bibliografia e as alunas
deveriam procurar os livros. Não existia nenhum material didático de apoio, como vídeos e
cartazes, as próprias alunas deveriam elaborar o material. Faziam desenhos com cartolinas de
cores diferentes, com figuras, ou recortes de animais como peixes, ou frutas para ilustrar as
_______________
19
As entrevistadas tiveram seus nomes preservados. Foram usadas as letras do alfabeto para nomeá-las.
20
Fornecida em 05/07/2011.
72

aulas de matemática, por exemplo. Esta disciplina era apenas ‘decoreba’ e cada aluna fazia 6
joguinhos com os recortes das cartolinas, uns salteados e outros corridos. O governo não
proporcionava nenhum material didático era apenas o quadro-negro, giz e nada mais. Assim,
a professora deveria criar métodos de ensino. Eu era vista como ‘revolucionária’ pelas demais
professoras, principalmente as colegas Irmãs, porque em minhas aulas mudava o
posicionamento das carteiras em sala de aula, as carteiras eram tradicionalmente posicionadas
em fileiras, mas nas minhas aulas as alunas deixavam suas carteiras em formato de meia-lua
na sala de aula”.
Assim se constituiu o quadro docente da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva
de Pato Branco.
A seguir, será analisado o quadro curricular que foi implantado na Escola Normal de
Pato Branco.

3.4 PREVISÃO LEGAL E AS DISCIPLINAS ENSINADAS NA ESCOLA NORMAL


COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA

As disciplinas que constituíam o currículo da Escola Normal durante seus 26 anos de


vigência, tempo em que foi regida por três leis diferentes que regulamentaram a formação de
professores em nível médio, como segue.
A Lei Orgânica do Ensino Normal, publicada em 1946, previa em seu artigo segundo
que o ensino normal seria ministrado em dois ciclos: primeiro ciclo para curso de regentes de
ensino primário (período de quatro anos); segundo ciclo tratava-se de curso de formação de
professores primários (três anos). Previa ainda, em seu artigo terceiro, que o ensino normal
também compreendia cursos de especialização para os professores primários, bem como
cursos de habilitação para administradores escolares para o grau primário. Assim, a Escola
Normal era o estabelecimento destinado a dar o curso de formação de professores primários
(artigo 4º, § 3º, da Lei Orgânica).
As disciplinas previstas para curso de formação de professores primários, três séries
anuais, pela Lei Orgânica do Ensino Normal de 1946, constam no artigo 8º (BRASIL, 1946):

Art. 8º O curso de formação de professores primários se fará em três séries anuais,


compreendendo, pelo menos, as seguintes disciplinas:
Primeira série: 1) Português. 2) Matemática. 3) Física e química. 4) Anatomia e
fisiologia humanas. 5) Música e canto. 6) Desenho e artes aplicadas. 7) Educação
física, recreação, e jogos.
73

Segunda série: 1) Biologia educacional. 2) Psicologia educacional. 3) Higiene e


educação sanitária. 4) Metodologia do ensino primário. 5) Desenho e artes
aplicadas. 6) Música e canto. 7) Educação física, recreação e jogos.
Terceira série: 1) Psicologia educacional. 2) Sociologia educacional. 3) História e
filosofia da educação. 4) Higiene e puericultura. 5) Metodologia do ensino
primário. 6) Desenho e artes aplicadas. 7) Música e canto. 8) Prática do ensino. 9)
Educação física, recreação e jogos.

Estas eram as disciplinas previstas pela Lei Orgânica (BRASIL, 1946), que em seu
artigo 46, previa que: “A legislação de cada unidade federada poderá acrescer disciplinas à
seriação indicada nos artigos 7º, 8º e 9º, ou desdobrá-las, para maior eficiência do ensino”.
Dessa forma, delegava a competência para os Estados acrescerem disciplinas. A
documentação encontrada no arquivo da Escola Normal é muito pouco e não há material
suficiente para constatar quais disciplinas eram aplicadas na escola durante a vigência da Lei
Orgânica do Ensino Normal, mas podemos coletar dados por meio de entrevistas feitas com
ex-alunas da escola. A entrevistada “E”, que foi aluna da Escola Normal Colegial Dr. Xavier
da Silva no período de 1960 a 1962, em entrevista concedida à autora deste trabalho em
27/09/2011, indicou as disciplinas que eram ensinadas na escola: “Português, Didática,
Psicologia, Higiene, Ed. Física, Matemática, Física e Química, Anatomia, Biologia, OSPB,
Estudos Paranaenses, Geografia do Brasil, História, Filosofia da Educação, Desenho,
Educação Doméstica, e Religião, Conhecimentos Gerais [...]”.
A entrevistada indicou de maneira generalizada as disciplinas que estudou, no período
de 1960 a 1962 na Escola Normal, não identificando as disciplinas de cada série anual. Tudo
indica que a entrevistada equivocou-se ao mencionar a disciplina de OSPB (Organização
Social e Política do Brasil), que não era prevista pela Lei Orgânica do Ensino Normal. Na
disciplina Estudos Paranaenses, lecionavam-se história e geografia do Estado do Paraná.
Apesar da mudança ocorrida com a Lei n.º 4.024/1961, esta conservou a organização
dada pela Lei Orgânica, pois a educação do ensino médio continuou sendo ministrada em dois
ciclos: primeiro ciclo – ginasial – e o segundo ciclo – colegial –, abrangendo o curso
secundário de formação de professores para atuação no ensino primário e pré-primário. A lei
previa disciplinas e práticas educativas de acordo com cada ciclo. Assim, cabia ao Conselho
Federal de Educação estabelecer quais deveriam ser as disciplinas obrigatórias21 e aos
Conselhos Estaduais de Educação completar o número de disciplinas, bem como relacionar
aquelas que seriam de caráter optativo aos estabelecimentos de ensino.
Segundo os artigos 34 e 35 da Lei n.º 4.024/61 (BRASIL, 1961):
_______________
21
Até cinco disciplinas obrigatórias.
74

Art. 34. O ensino médio será ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial, e
abrangerá, entre outros, os cursos secundários, técnicos e de formação de
professores para o ensino primário e pré-primário.

Art. 35. Em cada ciclo haverá disciplinas e práticas educativas, obrigatórias e


optativas.
§ 1º Ao Conselho Federal de Educação compete indicar, para todos os sistemas de
ensino médio, até cinco disciplinas obrigatórias, cabendo aos conselhos estaduais
de educação completar o seu número e relacionar as de caráter optativo que podem
ser adotadas pelos estabelecimentos de ensino.
§ 2º O Conselho Federal e os conselhos estaduais, ao relacionarem as disciplinas
obrigatórias, na forma do parágrafo anterior, definirão a amplitude e o
desenvolvimento dos seus programas em cada ciclo.
§ 3º O currículo das duas primeiras séries do 1º ciclo será comum a todos os cursos
de ensino médio no que se refere às matérias obrigatórias.

Para o ingresso na primeira série do ginásio, a lei exigia a aprovação dos alunos em
exame de admissão. Para isso, o educando deveria ter 11 anos completos ou a completar no
decorrer do ano letivo. No entanto, para o aluno ser matriculado na primeira série do ciclo
colegial, deveria ter concluído o ciclo ginasial22 ou equivalente. A lei também previa que uma
das normas para a organização do ensino de grau médio era estabelecer processo educativo
que desenvolvesse a formação moral e cívica dos educandos. Dentro das disciplinas de caráter
optativo no 1º e 2º ciclos, era prevista a inclusão de uma disciplina vocacional, conforme as
necessidade e possibilidades locais.
De acordo com o artigo 40 da Lei 4.024/61 (BRASIL, 1961) quanto às disciplinas
obrigatórias:

Art. 40. Respeitadas as disposições desta lei, compete ao Conselho Federal de


Educação, e aos conselhos estaduais de educação, respectivamente, dentro dos seus
sistemas de ensino:
a) organizar a distribuição das disciplinas obrigatórias, fixadas para cada curso,
dando especial relevo ao ensino de português;
b) permitir aos estabelecimentos de ensino escolher livremente até duas
disciplinas optativas para integrarem o currículo de cada curso;
c) dar aos cursos que funcionarem à noite, a partir da 18 horas, estruturação
própria, inclusive a fixação do número de dias de trabalho escolar efetivo,
segundo as peculiaridades de cada curso.

Como se pode perceber, a lei delegava competência para os Conselhos Estaduais de


Educação organizarem a distribuição das disciplinas obrigatórias previstas pela lei maior.
As disciplinas do ensino secundário estavam previstas pela Lei 4.024/61 (BRASIL,
1961) segundo seus artigos:

_______________
22
Em Pato Branco, o ginásio era ministrado pelo Instituto Nossa Senhora das Graças.
75

Art. 44. O ensino secundário admite variedade de currículos, segundo as matérias


optativas que forem preferidas pelos estabelecimentos.
§ 1º O ciclo ginasial terá a duração de quatro séries anuais e o colegial, de três no
mínimo.
§ 2º Entre as disciplinas e práticas educativas de caráter optativo no 1º e 2º ciclos,
será incluída uma vocacional, dentro das necessidades e possibilidade locais.
Art. 45. No ciclo ginasial serão ministradas nove disciplinas.
Parágrafo único. Além das práticas educativas, não poderão ser ministradas menos
de 5 nem mais de 7 disciplinas em cada série, das quais uma ou duas devem ser
optativas e de livre escolha do estabelecimento para cada curso.
Art. 46. Nas duas primeiras séries do ciclo colegial, além das práticas educativas,
serão ensinadas oito disciplinas, das quais uma ou duas optativas, de livre escolha
pelo estabelecimento, sendo no mínimo cinco e no máximo sete em cada série.
§ 1º A terceira série do ciclo colegial será organizado com currículo aspectos
linguísticos, históricos e literários.
§ 2º A terceira série do ciclo colegial será organizada com currículo diversificado,
que vise ao preparo dos alunos para os cursos superiores e compreenderá, no
mínimo, quatro, e, no máximo, seis disciplinas, podendo ser ministrada em colégios
universitários.

Não foi possível encontrar material que pudesse fornecer informações precisas de
quais disciplinas eram adotadas pela Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, na vigência
da Lei 4.024/61, pois pelo decurso do tempo, muitos documentos da extinta Escola Normal se
perderam, devido a má conservação e a falta de interesse em conservá-los, já que foram
guardados em um depósito impróprio para a manutenção dos documentos.
Pode-se aplicar à conservação dessas fontes:

as intempéries não são boas conservadoras [...], alguns documentos permaneceram


por muito tempo em porões úmidos e absorveram as infiltrações de chuva antes de
serem cuidadosamente reinventariados e classificados. Isso torna difícil a leitura, e
as palavras escorridas ficam apagadas ou meio apagadas: o esfuminho do tempo
colocou seu véu (FARGE, 2009, p. 60).

Contudo, conforme entrevista de uma professora que deu aula naquela escola, bem
como de algumas ex-alunas, pode-se ter uma ideia de quais disciplinas eram ensinadas no
decorrer dos anos nos quais a escola funcionou.
Assim, segundo a entrevistada “A”, que foi professora da Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva, no período de 1963 a 1976, as disciplinas ensinadas eram: “Sociologia,
Psicologia, Didática, Prática de Ensino e Ensino Religioso (as demais disciplinas do curso
eram: Português, Literatura, Matemática, Estatística, Ciências Físicas e Biológicas, Filosofia,
OSPB, História, Geografia e Educação Física)”23. Ainda, enfatizou a entrevistada “A”: “A
Repercussão do povo da região sudoeste do Paraná com o episódio da Revolta dos Posseiros

_______________
23
Entrevista concedida em 05/07/2011.
76

foi muito grande. Foi o início da reforma agrária na região. As professoras de geografia e
história usavam aqueles fatos como exemplos nas aulas”. Pode-se perceber que os fatos
marcantes da Revolta dos Posseiros serviram para ilustrar as aulas de geografia e história,
devido àquele episódio ter contribuído com a reforma agrária da região sudoeste do Paraná.
Segundo a entrevistada “B”, que foi aluna da escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva no período de 1969 a 1972, as disciplinas ensinadas eram: “Português, Matemática,
História, Geografia, Ciências, Fundamentos de Educação, Prática de Ensino, Artes, Educação
Física e Estágio”.24
De acordo com a terceira entrevistada “C”, aluna daquela escola no período de 1970 a
197225: “do núcleo comum: Português, Matemática Básica (que as professoras aprendiam
para posteriormente ser ensinadas às crianças)”. Específicas: “Didática, Psicologia,
Sociologia, e as práticas de aulas que iniciavam na primeira série com observação. Depois
começávamos a regenciar uma sala de aula por uma ou duas aulas e por fim trabalhávamos
por dez a doze dias como professoras regentes de uma única sala de aula, a professora e a
orientadora do estágio assistiam quase o dia todas às aulas que nós preparávamos e
ministrávamos e faziam a avaliação”.
A entrevistada citou disciplinas do núcleo comum conforme previsão legal do artigo
4º, da Lei n.º 5.692/71, mas os pressupostos dessa lei só foram aplicados à Escola Normal de
Pato Branco mais tarde, quando a escola passou por uma reorganização, o que vai ser tratado
adiante. Assim, há um equívoco da entrevistada, pois a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva ainda estava sob a jurisdição da Lei n.º 4.024/61, no período em que a entrevistada
estudou naquela escola.
Para “D”, que estudou na escola no período de 1965 a 196726, as disciplinas ensinadas
eram: “obrigatórias: Português, Matemática, Ciências, História, Geografia. Complementares:
Fundamentos da Educação, Teoria e Prática, Educação Primária. Optativas: Higiene e
Puericultura, História da Educação. Psicologia Educacional, Desenho. Práticas Educativas:
Artes Femininas, Música e Canto Orfeônico, Educação Física”.
Observa-se que havia um núcleo comum de disciplinas, como Matemática, Português,
Ciências, História, Educação Física e outras disciplinas específicas para o curso Normal,
como Didática de Ensino, Psicologia Educacional, Fundamentos da Educação, bem como
outras disciplinas que eram optativas, como Artes, Religião e Canto. A disciplina de Canto
_______________
24
Entrevista concedida em 18/07/2011.
25
Entrevista concedida em 20/07/2011.
26
Entrevista concedida em 13/08/2011.
77

Orfeônico era prevista pela Lei Orgânica do Ensino Normal em seu artigo 7º, ao curso de
regentes de ensino primário.
Em relação à disciplina de Religião, esta era optativa aos alunos, mas a instituição
escolar era obrigada a oferecer a disciplina na organização do currículo e o horário, sendo
que, para o aluno inscrito na disciplina, era obrigatória a sua frequência. De acordo com a
previsão legal do Sistema Estadual de Ensino do Paraná, Lei n.º 4.978/64, em seu artigo 18, e
parágrafos do Conselho Estadual de Educação (PARANÁ, 1965, p. 6):

Art. 18 – O ensino religioso, no sistema estadual de ensino, constitui disciplina dos


horários das escolas oficiais e é de matrícula facultativa; será ministrado de acordo
com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu
representante legal ou responsável.
§ 1º - A formação de classe para o ensino religioso independe de número mínimo
de alunos;
§ 2º - O registro dos professores do ensino será realizado perante a autoridade
religiosa respectiva;
§ 3º - Os estabelecimentos de ensino público estaduais são obrigados a
assegurar, na organização dos currículos e horários, pelo menos uma hora de
aula semanal de ensino religioso, de frequência obrigatória para os alunos
inscritos;27
§ 4º - As normas para a matrícula facultativa, para os horários de aula e quantos à
forma sob a qual se ministrará o ensino religioso, serão fixadas pelo Conselho
Estadual de Educação, com audiência da autoridade religiosa competente.

Dessa forma, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, escola pública, localizada
em prédio de uma congregação religiosa, cumpria com a obrigação de oferecer aulas de
educação religiosa, como foi relatado pelas entrevistadas.
A avaliação dos alunos da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva era por meio
de provas orais e escritas e também era levado em conta o comportamento dos alunos.
Segundo a entrevistada “B”28: “A avaliação era através de prova escrita e oral, onde as alunas
eram escolhidas aleatoriamente para responderem perguntas oralmente junto ao professor e a
turma. Havia muita ‘docoreba’”.29
O estágio era obrigatório para as alunas que cursavam a Escola Normal Colegial Dr.
Xavier da Silva, segundo determinação do Decreto n.º 73.079/73, com previsão da Portaria nº.
3725/76, emitido pela Diretoria Geral da Secretaria de Habilitação para o Normal Colegial. O
estágio era supervisionado pelas professoras das matérias básicas. As alunas mestres

_______________
27
Grifo da pesquisadora, buscando enfatizar que devido ao fato de a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva,
escola pública, localizar-se junto ao Instituto Nossa Senhora das Graças, escola particular regida por religiosas,
era oferecido ensino religioso conforme relato das entrevistadas.
28
Entrevista concedida em 18/07/2011.
29
Estudou na Escola Normal no período de 1969 a 1972.
78

desempenhavam atividades visando o treinamento para a função, mediante três modalidades:


na 1ª série – observação; na 2ª série – participação; na 3ª série – regência e avaliação. De
acordo com entrevistada “B”30: “no estágio supervisionado, as alunas faziam joguinhos com
recortes de bichos com perguntas atrás dos mesmos para os aluninhos pegarem os recortes e
responderem as perguntas. O estágio era muito rigoroso com orientação na postura das alunas,
vestes, entonação de voz, letra redonda ao escrever no quadro-negro, as alunas deviam fazer
um planejamento de aula para cada disciplina que iriam dar, com desenvolvimento das
atividades que iriam aplicar”.
De acordo com relatos da entrevistada “A”31, ex-professora da Escola Normal, quanto
ao estágio das normalistas: “havia uma escola de aplicação prática para as normalistas, era a
Escola São Vicente de Paulo, que também fazia parte da congregação das Irmãs à época.
Havia 30 alunos em cada sala de aula”.
O estágio era um requisito necessário para que as normalistas pudessem pôr em prática
o aprendizado em sala de aula, mas muitas daquelas alunas já traziam uma vasta bagagem de
experiência, pois uma grande parcela era de professoras leigas, que só depois de já estarem
trabalhando com o magistério, tiveram a oportunidade de se qualificarem pela Escola Normal
Colegial Dr. Xavier da Silva.
As alunas que freqüentavam a Escola Normal de Pato Branco provinham desta cidade
e também das cidades vizinhas o que é descrito a seguir.

3.5 ALUNAS QUE ESTUDARAM NA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA


SILVA, EM PATO BRANCO

Buscou-se descobrir, por meio das entrevistadas, de onde provinham as alunas que
estudavam na Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva. Segundo suas respostas, a maioria
das alunas que frequentavam a Escola Normal de Pato Branco morava ali mesmo ou em
cidades próximas a Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, advindas de lugares onde ainda não
existiam Escolas Normais como as cidades de: Mariópolis, Coronel Vivida, Bom Sucesso do
Sul, que na época era distrito de Pato Branco, Verê, Itapejara D´Oeste, Vitorino, Chopinzinho,
Clevelândia, Pranchita e cidades do Estado de Santa Catarina, como São Lourenço do Oeste,
Campo Erê e outras.

_______________
30
Entrevista concedida em 18/07/2011.
31
Entrevista concedida em 05/07/2011.
79

Algumas alunas também vinham das cidades de Francisco Beltrão e Dois Vizinhos
locais onde já existiam Escolas Normais.
A procura pela Escola Normal era, na sua grande maioria, de pessoas do sexo
feminino. A feminização do magistério é um fenômeno que ocorreu no final do século XIX e
início do século XX no Brasil por vários fatores, como: organização fabril do trabalho com
influência da industrialização e urbanização das cidades, o que proporcionava aos homens
trabalhos com salários maiores e fazia com que as mulheres assumissem a instrução primária,
vendo no magistério uma atividade de continuação da função materna. Concomitantemente à
Escola Normal, existia o Colégio Comercial de Pato Branco, que oferecia o curso de técnico
em contabilidade, o qual atraía, predominantemente, alunos do sexo masculino.
Dentre as normalistas, muitas já haviam cursado o ginásio no Instituto Nossa Senhora
das Graças e davam sequência aos estudos na Escola Normal. Mas uma grande quantidade de
alunas já trabalhava como professora leiga e cursava aquela escola para obter uma formação
regular, segundo as informações coletadas em pesquisa realizada na região sudoeste do Paraná
em 1969, sobre o desenvolvimento econômico, social, educacional e crescimento das cidades
da região, coordenada por Paulo Ricardo Santos (engenheiro agrônomo) por meio do
Ministério da Agricultura – Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário e o Grupo
Executivo para as terras do Sudoeste do Paraná. A pesquisa descreveu, dentre outros dados,
quais Escolas Normais Colegiais públicas existiam em toda a região sudoeste do Paraná
referente ao ano de 1968 e o corpo docente de professores primários na região. Santos (1969,
p. 65) aponta que:

um dos problemas mais graves do sistema de ensino primário na região sudoeste


diz respeito à composição qualificativa do corpo docente, de vez que há municípios
que não contam com sequer um professor habilitado para a prática da educação. O
problema é tanto mais grave quanto se tomam em consideração os reflexos que tal
situação provoca, não só no que concerne à formação imperfeita e deficiente, como
também no que diz respeito ao problema da deserção escolar.

Sobre o índice de professores formados em Escolas Normais que atuavam no sudoeste


do Paraná em 1966, de acordo com quadro de composição qualitativa do magistério naquele
período, o mesmo autor afirma:

do exame do quadro de composição qualitativa do magistério-primário na região,


resulta a verificação de que, de um total de 2.291 professores, apenas 264
apresentam habilitação efetiva para o exercício da função e destas, somente a
reduzida parcela de 158 professores cursaram a Escola Normal de nível colegial,
enquanto 80 detêm o Normal Regional, correspondente ao 1º Ciclo do curso
secundário. Por outro lado no exame da distribuição dos professores sem
80

habilitação, verifica-se que o expressivo total de 1.364 professores apenas


concluíram o curso primário. Agregue-se a este fato a circunstância de que
lecionam no sistema escolar da região 279 professores que não chegaram, sequer, a
concluir o curso primário. O quadro evidencia, sem dúvida, o grave problema do
professor sem qualquer qualificação pedagógica atuando na educação, fenômeno
que vai determinar entre outros – o problema da evasão escolar. Tem havido,
entretanto, um esforço no sentido de melhorar o nível de capacitação do corpo
docente municipal, tanto através de cursos de treinamentos mensais, realizados
pelas Prefeituras ligadas às Inspetorias, como pela criação de Escolas Normais.
Cabe verificar a possibilidade dos Municípios de elevarem a remuneração dos
professores à medida que melhoram a sua qualificação. Com efeito, este nível de
remuneração, que em alguns municípios varia entre 30 e 50 cruzeiros novos
mensais, é impossível cogitar-se da substituição de pessoal leigo por pessoal
qualificado (SANTOS, 1969, p. 66-67).

Esta citação refere-se ao quadro quantitativo da 49ª Inspetoria Regional de Educação


que abrangia, entre outros, o Município de Pato Branco, que totalizou 33 professores
qualificados e 423 professores leigos, os quais atuavam em escolas estaduais, municipais,
convencionais e particulares no ano de 1966. Como se pode observar, havia um predomínio
de professores leigos atuando em sala de aula e as prefeituras buscavam converter esse índice.
Os dados foram fornecidos pela Fundação de Educação do Paraná (FUNDEPAR), que
somente iniciou este trabalho de estatística na área de educação em 1966, segundo o que
consta na análise feita por Santos, em 1969.
A pesquisa revela em quais cidades da região sudoeste do Paraná já haviam sido
implantadas, pelo governo Estadual, Escolas Normais Colegiais até o final da década de 1960
(Santos, 1969): Capanema, Santo Antonio do Sudoeste, Francisco Beltrão, Chopinzinho,
Coronel Vivida, Pato Branco, Clevelândia e Palmas. Havia, ainda, uma Escola Normal
particular em Realeza. No entanto, destaca-se que naquele período ainda não existiam Escolas
Normais nos municípios de: Dois Vizinhos, Itapejara D´Oeste, Mangueirinha, Vitorino,
Mariópolis, Verê. A clientela dessas cidades, devido a sua proximidade com o município de
Pato Branco, buscava a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva.

a rede de estabelecimentos de ensino médio, no Sudoeste do Paraná, contava em


1968 com um total de 50 unidades, distribuídas entre o 1º e 2º ciclos, dentre as
quais se contavam 15 estabelecimentos ginasiais mantidos pelo Estado, 13 ginásios
particulares, 1 ginásio agrícola, 8 escolas normais estaduais, 3 cursos colegiais e 10
cursos comerciais (SANTOS, 1968, p. 73).

Entre as Escolas Normais citadas na pesquisa, três estavam no contexto da 49ª


Inspetoria Regional de Ensino, que tinha sua sede em Pato Branco: Escola Normal Colegial
Dr. Xavier da Silva – no município de Pato Branco; Escola Normal Colegial Estadual Regina
81

Mundi – no município de Francisco Beltrão e Escola Normal Colegial Estadual de Dois


Vizinhos, pertencente a este município.
Assim, pode-se constatar que a Escola Normal de Pato Branco era frequentada por
alunas do próprio município, bem como por aquelas das cidades próximas a Pato Branco,
localizadas na região sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, onde ainda não havia
Escolas Normais implantadas.

3.6 POR QUE A PROCURA PELA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA
SILVA INTENSIFICOU-SE NO PERÍODO DE 1960 A 1970 E O QUE A REFERIDA
ESCOLA SIGNIFICAVA PARA PATO BRANCO E A REGIÃO?

Como mencionado, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva foi pioneira na
formação de professores no município de Pato Branco e para outras cidades menores
localizadas próximas àquela na região sudoeste do Paraná.
Conforme verificado, nos anos de 1960, o contingente de professores leigos nesta
região era muito grande. As escolas rurais municipais mantidas no interior dos municípios
eram significativas, pois a maior parcela da população vivia na zona rural e mantinha-se
praticando atividades econômicas tipicamente agrícolas, sendo a extração da madeira muito
explorada no sudoeste do Paraná a partir dos anos de 1950 a 1970. Foi uma época em que o
país passou por mudanças de ordem econômica e política, ocorrendo também o início da
urbanização das cidades brasileiras mais desenvolvidas industrialmente.
Nas décadas de 1960 e 1970, Pato Branco já se destacava dos demais municípios da
região Sudoeste do Paraná, pois apresentava um excelente desenvolvimento econômico. A
educação também era um diferencial daquele município, conhecida por sua qualidade e opção
de ensino. A Escola Normal de Pato Branco traduzia isso. Assim, sua procura foi muito
grande naquelas décadas.
Nas entrevistas aplicadas como parte desta pesquisa em relação ao que representou a
Escola Normal para a região sudoeste do Paraná a partir dos anos 60, a resposta da
entrevistada “A”32, que trabalhou naquela escola no período de 1963 a 1976, foi: “uma grande
repercussão na formação da educação e sua história no sudoeste do Paraná, considerando que
era a única escola da região. Na disciplina de OSPB era ensinado sobre política (no sentido de
política como educação do povo). Pessoas influentes que são políticos em Pato Branco e na
_______________
32
Entrevista concedida em 05/07/2011.
82

região sudoeste do Paraná estudaram nas escolas profissionalizantes nos cursos de Magistério
e de Técnico em Contabilidade. Houve um retorno muito grande para a sociedade pela
implantação daquelas escolas, ainda hoje seus ex-alunos são figuras que se destacam na
sociedade por influentes profissões como: prefeito da cidade de Pato Branco, médicos,
dentistas, deputado estadual, vereadores, diretoras de grandes escolas, professoras, secretário
do conselho municipal da ação social prefeitura municipal de Pato Branco. O curso normal
também serviu para as alunas se prepararem para os vestibulares da região, houve aprovação
de 97% das normalistas em vestibulares em um dos primeiros anos de implantação do curso, o
que provava a qualidade do ensino”.
Foram unânimes as respostas das demais entrevistadas no sentido de que a Escola
Normal trouxe a oportunidade de qualificação dos professores leigos que atuavam em Pato
Branco e demais municípios próximos àquela, na região sudoeste do Paraná. A procura das
mulheres pela Escola Normal significava que estas estavam começando a se inserir no
mercado de trabalho que, por muitos anos, era exclusivo aos homens. As mulheres estavam
deixando de atender apenas às atividades domésticas, de serem esposas, mães, e estavam
passando por uma fase inicial de ocupação do mercado de trabalho, o que ocorreu em
consequência das mudanças na maneira como se produzia a vida material da região.
Assim, uma opção oferecida às mulheres era ingressar na educação: configurava-se
como uma profissão muito bem vista e valorizada nos anos 60 e 70. A mulher tinha sua
importância na sociedade por cursar a Escola Normal. Era oportunidade de profissionalização,
bem como de mercado de trabalho, pois, ao acabar o curso, já estava empregada. E, ainda,
para as mulheres que pretendessem seguir carreira e cursar uma das faculdades da região, o
Curso Normal servia como preparatório para os vestibulares da época, pois grande
porcentagem das alunas era aprovada.
Um ponto positivo da procura pela Escola Normal se deve ao fato de ser anexa ao
Instituto Nossa Senhora das Graças e por muito tempo ser direcionado pelas Irmãs Vicentinas,
que dedicavam seu tempo dando aulas na escola, pois devido aos costumes da época, muitos
pais confiavam na educação oferecida pelas religiosas. Como a distância era grande entre as
cidades do interior, com estradas precárias e dificuldade nos meios de transporte, muitas
normalistas moravam como internas junto ao Instituto Nossa Senhora das Graças, para
poderem cursar a Escola Normal.
A rigorosidade da escola conduzida pelas Irmãs era muito grande, com cumprimento
de horários para estudo, leitura, tarefas domésticas, artes, religião etc. As normalistas, que
também eram internas do Instituto Nossa Senhora das Graças, vinham de famílias mais
83

abastadas economicamente, com condições para arcar com os custos de moradia de suas filhas
junto ao Instituto. No entanto, as normalistas cujas famílias não apresentavam condições
suficientes para custear sua moradia sob o regime de internato, eram designadas a efetivar um
maior número de tarefas domésticas, atuando na limpeza das salas de aula para ajudar a pagar
as despesas com moradia e alimentação às Irmãs, já que a Escola Normal em si era gratuita.
Essa forma de educação era muito bem vista pelas famílias de melhor poder aquisitivo
que aproveitavam a oportunidade de educarem, com qualidade, suas filhas. Assim, a educação
do Instituto Nossa Senhora das Graças e em anexo a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva era conhecida por sua “tradicionalidade”, em Pato Branco. Tradicional para aquela
época, dentro dos costumes da sociedade, era as moças poderem estudar, mas com os
“cuidados” e a “vigilância” das religiosas, para não transgredirem aos costumes morais da
época.

3.7 AS PECULIARIDADES E A INFLUÊNCIA DA ESCOLA NORMAL NA VIDA


PROFISSIONAL DAS ENTREVISTADAS

A Escola Normal foi um marco na vida profissional de todas as entrevistadas. Era uma
escola conhecida pela influência das religiosas, dos princípios cristãos, da responsabilidade,
do profissionalismo com a educação.
A escola era inovadora para a época, um diferencial para a região, já que a sociedade
enxergava com ótima perspectiva profissional as moças que estudavam na Escola Normal.
Elas sabiam a responsabilidade que carregavam, pois seriam as futuras professoras, habilidade
muito importante, já que iriam ensinar os filhos daquela sociedade.
Para as alunas que cursaram a Escola Normal, não se tratava só de aprender o que
continha nas disciplinas, muito mais, a questão da postura diante da sociedade, as roupas que
podiam usar, os relacionamentos pessoais, a higiene, a maneira como se comportavam, tudo
isso era ensinado pela escola e marcou as ex-alunas.
A importância da escola provinha do fato de ser uma das poucas opções oferecidas à
época para formação de professores, mas que era muito desejada por aquelas que queriam
obter seu reconhecimento profissional. A Escola Normal de Pato Branco significou um
avanço para a região, na profissionalização, principalmente, das mulheres que encontravam
naquela escola meios para obterem uma formação regularizada e consequentemente a
colocação no mercado de trabalho.
84

Todas as entrevistadas afirmam que não conheciam diretamente outra escola de


formação de professores na região sudoeste, apenas duas mencionaram que havia uma Escola
Normal na mesma época no município de Francisco Beltrão, mas não tinham certeza sobre
isso. A maioria achava ser a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva a única escola de
formação de professores do todo o sudoeste do Paraná. Existiam outras escolas, mas não tão
próximas a Pato Branco. Só a partir dos anos de 1970, com a abertura das Faculdades em
Palmas e Guarapuava, houve grande procura pela formação acadêmica, inclusive pelas
próprias normalistas, quando acabavam o curso. Enfim, a Escola Normal Colegial Dr. Xavier
da Silva era conhecida por sua rigorosidade e ensino de qualidade para os padrões da época
em que existiu.
As entrevistas feitas com uma ex-professora e quatro ex-alunas da Escola Normal
Colegial Dr. Xavier da Silva se encontram nos anexos. Foi por meio dos testemunhos das
entrevistadas que podemos obter mais informações sobre a escola, as quais ajudaram na
complementação da pesquisa histórica documental.
85

4 REESTRUTURAÇÃO DA ESCOLA NORMAL COLEGIAL DR. XAVIER DA


SILVA E DO COLÉGIO ESTADUAL COMERCIAL DE PATO BRANCO EM
COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA NA LEI Nº. 5.692/71

Neste capítulo analisaremos a reestruturação por que passou a Escola Normal Colegial
Dr. Xavier da Silva e o Colégio Estadual Comercial de Pato Branco para transformarem-se
tão somente no Colégio Estadual José de Anchieta devido às exigências da Lei 5.692/71, até a
extinção do Colégio em 1986.
A Lei de Reforma de Ensino n.º 5.692/71, que substituiu a Lei n.º 4.024/61, exigiu a
reestruturação das escolas profissionalizantes mantidas pelo governo do Estado do Paraná em
Pato Branco: Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva e Colégio Estadual Comercial de
Pato Branco, transformando-as no Colégio Estadual José de Anchieta.
A referida lei previa que:

Art. 2º O ensino de 1º e 2º graus será ministrado em estabelecimentos criados ou


reorganizados sob critérios que assegurem a plena utilização dos seus recursos
materiais e humanos, sem duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes.
Parágrafo único. A organização administrativa, didática e disciplinar de cada
estabelecimento de ensino será regulada no respectivo regimento, a ser aprovado
pelo órgão próprio do sistema, com observância de normas fixadas pelo respectivo
Conselho de Educação.

Art. 3º Sem prejuízo de outras soluções que venham a ser adotadas, os sistemas de
ensino estipularão, no mesmo estabelecimento, a oferta de modalidades diferentes de
estudos integradas por uma base comum e, na mesma localidade:
a) a reunião de pequenos estabelecimentos em unidades mais amplas;
b) a entrosagem e a intercomplementaridade dos estabelecimentos de ensino entre
si ou com outras instituições sociais, a fim de aproveitar a capacidade ociosa de
uns para suprir deficiência de outros;
c) a organização de centros interescolares que reúnam serviços e disciplinas ou
áreas de estudo comum a vários estabelecimentos (BRASIL, 1971).

Conforme previsão da nova lei, aquelas duas escolas de Pato Branco transformaram-se
em uma só, até mesmo por uma questão de economia de recursos. No entanto, apesar da lei
ter sido publicada em 1971, só após seis anos ocorreu a mudança prevista, pois foi em 9 de
dezembro de 1977 que o Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná aprovou o
projeto de implantação do ensino de 2º grau do Colégio Estadual José de Anchieta, com as
86

Habilitações Plenas33 de Técnico em Contabilidade, turno noturno e Magistério (período


diurno e noturno), com o funcionamento das primeiras turmas a partir do ano letivo de 1978.
Segundo Parecer n.º 216/77 (PARANÁ, 1977, p. 1-2):

O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO do Estado do Paraná, usando das


atribuições que lhe são conferidas por Lei, emite o presente Parecer nos termos do
decreto n.º 096/77 da Câmara de Ensino de 2º Grau, que a este se incorpora:
Pelo Processo protocolado sob o n.º 490/77, o Colégio ‘José de Anchieta’ – ensino
de 2º Grau, de Pato Branco, mantido pelo Governo do Estado, apresenta a este
Conselho, visando aprovação, Projeto de Implantação de Ensino de 2º Grau, com as
habilitações Plenas: Técnico em Contabilidade (turno noturno) e Magistério
(período diurno e noturno), com funcionamento a partir do ano letivo de 1978.
1. O Colégio em pauta reuniu a Escola Normal Colegial Estadual ‘Dr. Xavier da
Silva’ criado pelo Decreto de n.º 2472/59 e o Colégio Comercial Estadual de Pato
Branco, criado pelo Decreto de n.º 20.989/58.
2. O Processo baixou, preliminarmente, em diligência, através do Departamento de
Ensino de 2º Grau da SEEC, para que o Estabelecimento atendesse ao que se segue:
a) correção do mecanismo de avaliação; b) apresentação de provas documentais de
que, o Colégio ‘deverá’ receber o Laboratório de Física, Química e Biologia pelo
Programa de Assistência Técnica e Financeira as Unidades Federadas Convênio
MEC/DEM/SEEC, Paraná, bem como ‘Escritório Modelo’ completo; c)
substituoção do Parecer Final do Relatório da Comissão Verificadora em razão da
rasura do mesmo.
[...]
4. Os Planos Curriculares das duas Habilitações programadas estão estruturadas de
acordo com o Parecer n.º 45/72-CFE e demais instrumentos legais pertinentes,
inclusive Deliberações 066/74-CEE, 085/74-CEE e Parecer n.º 125/77-CEE.
5. Considerando que o Projeto mereceu Parecer favorável no Relatório da
Comissão Verificadora e que atende os pontos essenciais para a implantação do
ensino de 2º Grau, somos pela aprovação da matéria constituindo este Parecer num
dos elementos para instruir o processo de reorganização do estabelecimento junto
ao Governo do Estado.
6. Alerta-se, finalmente, de que o CEE está revendo as Diretrizes Curriculares, e
que a escola deverá, no que couber e no momento oportuno, ajustar o seu currículo
às normas específicas que forem editadas.
Sala das Sessões, em 09 de dezembro de 1977. ERNESTO KNAUER, presidente.

Em 1º de fevereiro de 1978, a Assessora Técnica da Secretaria de Estado da Educação


e da Cultura do Estado do Paraná, por meio do Departamento de Ensino de 2º Grau, Maria
Joane Tonczak, informou ao então Deputado Ivo Thomazoni as condições do Colégio
Estadual José de Anchieta em Pato Branco (PARANÁ, 1978, p. 1):

1 – Quanto do Seminário de Inspetores e Diretores para determinação das


habilitações a serem implantadas e local de funcionamento, a proposição dos
mesmos foi a seguinte: a) no prédio do Instituto ‘Nossa Senhora das Graças’
funcionariam as habilitações: Técnico em Contabilidade e Magistério, reorganizado
os Cursos Normal e de Contabilidade atuais, sob a denominação de Colégio ‘JOSÉ
DE ANCHIETA’ – Ensino de 2º Grau. b) No prédio do (PREMEN) funcionariam
_______________
33
A Lei n.º 5.692/71 transformou a formação do professor primário em uma das habilitações do segundo grau,
conforme previsto nos artigo 4º e 5º da referida lei.
87

as Habilitações Básicas: Crédito e Finanças, Saúde, Agropecuária e Construção


Civil, em substituição ao Curso Colegial atual;
2 – O Colégio ‘José de Anchieta’ – Ensino de 2º Grau, com as Habilitações de
Magistério (diurno e noturno) e Técnico em Contabilidade (noturno) já teve seu
Plano de Implantação aprovado pelo Parecer n.º 216/77. As classes de 2ª e 3ª série
do colégio Comercial deveriam funcionar no Colégio ‘José de Anchieta’.
3 – O Plano de implantação das Habilitações Básicas em Crédito e Finanças,
Saúde, Agropecuária e Construção Civil, turnos diurno e noturno, apresentado em
dezembro de 1977, foi encaminhado à consideração do Egrégio Conselho Estadual
de Educação. Aguardando seu pronunciamento. É a informação. Curitiba, 1º de
Fevereiro de 1978. Maria Joane Tonczak, Assessora Técnica.

Em 13 de março de 1978, o Diretor Geral da Secretaria de Estado da Educação e da


Cultura do Paraná, Sr. Eleutério Dallazem, enviou o Ofício n.º 134/78, para o então Presidente
da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, Ex. Sr. Deputado Ivo Thomazoni, solicitando
transferência das turmas da 2ª e 3ª séries do Colégio Comercial, que estava em processo de
extinção, para o Colégio Estadual José de Anchieta, ensino de 2º Grau, para permanecerem
sob a administração deste. Segundo Ofício (PARANÁ, 1978, p. 1):

consignamos o recebimento do Ofício n.º 24/77, através do qual Vossa Excelência


encaminha a esta Pasta, cópia xerográfica do ofício n.º 252/77 da 49ª. Inspetoria
regional de ensino, sediada em Pato Branco, traduzindo a conveniência de transferir
as turmas de 2ª e 3ª séries do Colégio Comercial em extinção, para o Colégio José
de Anchieta – Ensino de 2º Grau, daquele Município, ficando as mesmas
subordinadas à administração deste. Cumpre-nos encaminhar-lhe para
conhecimento de Vossa Excelência, informações exaradas pela Assessoria Técnica
do Departamento de Ensino de 2º Grau, desta Secretaria, enumerando as
proposições apresentadas por ocasião do Seminário de Inspetores e Diretores, para
determinações das Habilitações a serem implantadas no Município e o local de
funcionamento.

Assim, foram reorganizadas as escolas profissionalizantes, passando a funcionar tão


somente o Colégio José de Anchieta, em Pato Branco.

4.1 O COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA

Com as exigências trazidas pela Lei n. 5.692/71, na reestruturação da Escola Normal


Colegial Dr. Xavier da Silva e do Colégio Estadual Comercial de Pato Branco, transformando
as duas escolas profissionalizantes num só Colégio Estadual, com habilitações em Magistério
e Contabilidade, havia necessidade da escolha do seu nome.
Antes da autorização para o funcionamento do colégio, foi realizada uma reunião com
os professores daquelas escolas reestruturadas, que escolheram o nome do Colégio, segundo
consta na Ata:
88

aos seis dias do mês de junho do ano de mil, novecentos e setenta e sete, reuniram-
se as Direções e Professores do Colégio Estadual Comercial de Pato Branco e
Escola Normal Colegial Estadual “Dr. Xavier da Silva”, com a finalidade de
escolher o Patrono para o Colégio de 2º Grau que está sendo criado com a fusão
destes dois estabelecimentos de Ensino, o qual funcionará a partir de 1978, com
habilitações de Magistério e Contabilidade. Foram apresentadas várias sugestões
como: Rui Barbosa, Castro Alves, João XXIII, Costa e Silva, Castelo Branco, José
de Anchieta e outros grandes vultos da História. Após alguns comentários sobre os
nomes indicados, foi escolhido José de Anchieta, por ter sido o Apóstolo e Primeiro
Mestre do Brasil, que, fazendo do Amor a sua Pedagogia, foi e será sempre um
exemplo para a Educação. Nada mais havendo a tratar, a reunião foi encerrada
pelas Direções, agradecendo a presença dos professores. E, para constar, eu, Alice
Bertoldi, secretária da Escola Normal, lavrei a presente Ata que será assinada por
mim e pelos presentes (BERTOLDI, 1977, p. 1).

Em reunião para discutir e definir qual seria o nome do Colégio, surgido com a fusão
dos dois cursos profissionalizantes de Pato Branco, Contabilidade e Magistério, os diretores e
professores das antigas escolas, após cogitarem vários nomes, concordaram que o nome José
de Anchieta seria o ideal. A escolha do patrono foi para homenagear José de Anchieta, devido
à sua trajetória histórica ligada à educação e à catequização dos índios no Brasil, durante sua
colonização, por meio da Companhia de Jesus.
A autorização para o funcionamento do Colégio Estadual José de Anchieta teve sua
publicação no Diário Oficial nº. 358, de 07/08/1978, por meio do Decreto n.º 5330, do
Governo do Estado do Paraná, de acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971:

Diário Oficial, Curitiba, 2ª – Feira, 7/8/1978, DECRETO N.º 5330, O Governador


do Estado do Paraná, usando das atribuições que lhe confere o Art. 47, itens II e
XVI da Constituição Estadual, sob proposta da Secretaria de Estado da Educação e
da Cultura nos termos da Lei Federal n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971, que fixa
Diretrizes e Bases do Ensino de 1º e 2º Graus, do Parecer n.º 216-77, do Conselho
Estadual de Educação e satisfeitos os requisitos contidos nas Deliberações n.º 26-72
e 40-75 daquele Conselho, DECRETA:
Art. 1º – Fica autorizado a funcionar nos termos da legislação vigente, o COLÉGIO
‘JOSÉ DE ANCHIETA’ – ENSINO DE 2º GRAU do município de Pato Branco,
mantido pelo Governo do Estado do Paraná, resultante da reorganização da Escola
Normal Colegial Estadual ‘Dr. Xavier da Silva’ e Colégio Comercial Estadual de
Pato Branco, ambos do mesmo município.
Art. 2º – O Estabelecimento autorizado a funcionar por este Decreto, deverá
observar no que lhe for aplicável, os preceitos da legislação estadual de ensino e o
disposto no Art. 72, da Lei Federal n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971.
Parágrafo Único – fica ratificada a validade dos atos escolares anteriores ao
processo de reorganização desde que realizados por prévia e expressa autorização
da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura.
Art. 3º – Ficam mantidas as Funções Gratificadas já existentes nos referidos
estabelecimentos de ensino, as quais serão adaptadas à nova estrutura do
estabelecimento ora reorganizado.
Art. 4º – Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
Curitiba, em 02 de agosto de 1978, 157º da Independência e 90º da República.
JAYME CANET JUNIOR, Governador do Estado. Francisco Borsari Netto
89

Secretário de Estado da Educação e da Cultura (Ref. Prot. N.º 20.254-78 – SEEC)


(PARANÁ, 1978, p. 2).

Conforme previsão do decreto citado, o Colégio Estadual José de Anchieta teve sua
autorização para funcionamento a partir de agosto de 1978. Mas se a Lei 5.692/71, que entrou
em vigor a partir da data de sua publicação em agosto de 1971 – estabeleceu a reestruturação
das duas escolas mantidas pelo governo estadual em Pato Branco, por que só em 1978 houve
a autorização para o funcionamento do Colégio Estadual José de Anchieta?
Isso ocorreu conforme a previsão da própria lei, já que as mudanças por ela
estabelecidas seriam implantadas progressivamente, segundo o artigo 72, da Lei 5.692/71
(BRASIL, 1971):

a implantação do regime instituído na presente lei far-se-á progressivamente,


segundo as peculiaridades, possibilidades e legislação de cada sistema de ensino,
com observância do Plano Estadual de Implantação que deverá seguir-se a um
planejamento prévio elaborado para fixar as linhas gerais daquele, e disciplinar o
que deva ter execução imediata.
Parágrafo único. O planejamento prévio e o Plano Estadual de Implantação,
referidos neste artigo, deverão ser elaborados pelos órgãos próprios do respectivo
sistema de ensino, dentro de 60 dias o primeiro e 210 o segundo, a partir da
vigência desta lei.

Assim, em 2 de agosto de 1978 o Colégio Estadual José de Anchieta foi autorizado a


funcionar em Pato Branco, em conformidade com a Lei n.º 5.692/71, com habilitações em
Magistério e Contabilidade.
Analisamos as disciplinas que eram estudadas pelas normalistas no Colégio Estadual
José de Anchieta.
A Lei n. 5.692/71 determinou que os currículos do ensino de primeiro e segundo graus
deveriam ter um núcleo comum obrigatório nacionalmente, com as matérias fixadas para cada
grau pelo Conselho Federal de Educação e uma parte diversa que atendesse, na conformidade
das necessidades e possibilidades reais, as especificidades locais ao planejamento dos
estabelecimentos de ensino e às diferenças individuais de cada aluno. É o que previa em seus
artigos 4º e 5º:

Art. 4º. Os currículos do ensino de 1º e 2º graus terão um núcleo comum


obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme
as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais aos planos dos
estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos.
§ 1º Observar-se-ão as seguintes prescrições na definição dos conteúdos
curriculares:
I – O Conselho Federal de Educação fixará para cada grau as matérias relativas ao
núcleo comum, definindo-lhes os objetivos e a amplitude.
90

II – Os Conselhos de Educação relacionarão, para os respectivos sistemas de


ensino, as matérias as quais poderá cada estabelecimento escolher as que devam
constituir a parte diversificada.
III – Com aprovação do competente Conselho de Educação, o estabelecimento
poderá incluir estudos não decorrentes de matérias relacionadas de acordo com o
inciso anterior.
§ 2º No ensino de 1º e 2º graus dar-se-á especial relevo ao estudo da língua
nacional, como instrumento de comunicação e como expressão da cultura brasileira.
§ 3º Para o ensino de 2º grau, o Conselho Federal de Educação fixará, além do
núcleo comum, o mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional ou
conjunto de habilitações afins.
§ 4º Mediante aprovação do Conselho Federal de Educação, os estabelecimentos de
ensino poderão oferecer outras habilitações profissionais para as quais não haja
mínimos de currículo previamente estabelecidos por aquele órgão, assegurada a
validade nacional dos respectivos estudos.

Art. 5º As disciplinas, áreas de estudo e atividades que resultem das matérias


fixadas na forma do artigo anterior, com as disposições necessárias ao seu
relacionamento, ordenação e sequência, constituirão para cada grupo currículo
pleno do estabelecimento.
§ 1º Observadas as normas de cada sistema de ensino, o currículo pleno terá uma
parte de educação geral e outra de formação especial, sendo organizado de modo
que:
[...]
b) no ensino de segundo grau, predomine a parte de formação especial.
§ 2º A parte de formação especial de currículo:
a) terá o objetivo de sondagem de aptidões e iniciarão para o trabalho, no ensino
de 1º grau e de habilitação profissional, no ensino de 2º grau;
b) será fixada, quando se destine à iniciação e habilitação profissional, em
consonância com as necessidade do mercado de trabalho local ou regional, à
vista de levantamentos periodicamente renovados.
§ 3º Excepcionalmente, a parte especial do currículo poderá assumir, no ensino de
2º grau, o caráter de aprofundamento em determinada ordem de estudos gerais, para
atender a aptidão específica do estudante, por indicação de professores e
orientadores (BRASIL, 1971).

Quanto às disciplinas que formavam o núcleo diferenciado, eram estabelecidas pelos


Conselhos de Educação. Mas, no caso do ensino de 2º grau, além do Conselho Federal de
Educação fixar o núcleo comum das disciplinas, também analisava o mínimo de disciplinas
que seria exigido para cada habilitação profissional.
Era previsto pela lei, caput do artigo 4º, o núcleo comum para os currículos, com
determinação das matérias a serem ensinadas em cada grau pelo Conselho Federal de
Educação. No artigo 7º da referida lei (n. 5.692/71), havia previsão da obrigatoriedade das
instituições de ensino incluírem as disciplinas de Educação Moral e Cívica, Educação Física
etc. No entanto, eram disciplinas optativas aos alunos. A terceira camada dos currículos
tratava da parte diversificada, que o Conselho de Educação regularizava, quando poderiam ser
oferecidas disciplinas além das previstas no núcleo comum, isto é, depois de seguir a previsão
da obrigatoriedade dos currículos previstos pelos artigos 4º, I, II, e 7º, podiam essas
instituições de ensino oferecer disciplinas que melhor se ajustassem a seus planos. A quarta
91

camada, que foi definida ainda como parte diversificada, tratava das disciplinas destinadas às
habilitações profissionais do ensino de 2º grau.
Além das disciplinas do núcleo comum, previstas para todas as unidades de ensino do
país, para o ensino de 2º grau, como matemática, português, literatura, ciências e outras,
observam-se as disciplinas específicas ao curso de habilitação ao magistério34, que eram
ensinadas no Colégio Estadual José de Anchieta, por meio do material encontrado no arquivo
da escola.
Ainda em relação aos currículos, a Lei n.º 5.692/71, em seu artigo 7º, previa a
obrigatoriedade da inclusão de determinadas disciplinas (BRASIL, 1971):

será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação


Artística e Programa de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º
graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-lei n..869, de 12 de
setembro de 1969.
Parágrafo único. O ensino religioso, de matrícula facultativa constituirá disciplina
dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e 2º graus.

Essas disciplinas também eram previstas no Colégio José de Anchieta, bem como o
ensino religioso, devido aquele permanecer até 1984 junto ao Instituto Nossa Senhora das
Graças, direcionado pelas Irmãs Vicentinas.
Ainda de acordo com o artigo 8º da Lei n.º 5.692/71:

a ordenação do currículo será feita por séries anuais de disciplinas ou áreas de


estudo organizadas de forma a permitir, conforme o plano e as possibilidades do
estabelecimento, a inclusão de opções que atendam às diferenças individuais dos
alunos e, no ensino e 2º grau, ensejem variedade de habilitações.
§ 1º Admitir-se-á a organização semestral no ensino de 1º e 2º graus e, no de 2º
grau, a matrícula por disciplina sob condições que assegurem o relacionamento, a
ordenação e a sequência dos estudos [...] (BRASIL, 1971).

De acordo com a reestruturação política e econômica, pela qual passou o Brasil, na


década de 1970, e a Lei n.º 5.692/71, havia a necessidade de um maior aperfeiçoamento da
mão de obra do país, que estava passando por uma fase de adequação ao capitalismo
internacional. A escola, supostamente, seria o meio que ajudaria o país para avançar mais
rapidamente, qualificando a sua mão de obra. Assim, foi ampliado o número de cursos
técnicos profissionalizantes que possibilitavam acesso mais rápido ao mercado de trabalho.
Inúmeras habilitações eram previstas com grade curricular que pudesse adaptar-se às

_______________
34
A ementa das disciplinas ensinadas no Colégio José de Anchieta encontra-se nos anexos desta pesquisa.
92

necessidades de cada região e sua economia, ou seja, o que o mercado de trabalho mais exigia
na época.
Segundo Romanelli, (1998, p. 234):

quer-nos parecer que, para a primeira, a reformulação do ensino de 1º grau era mais
importante e atendia melhor aos interesses da retomada da expansão econômica
iminente, do que a reformulação do ensino de 2º grau. Essa expansão, num país
dependente, como o Brasil, exigiria um aumento do nível geral de escolaridade do
trabalhador, mas, por sua vez, esse aumento teria de ser concedido, de forma
compatível com a posição periférica de nossa economia: a industrialização
crescente exigia uma base de educação fundamental e algum treinamento, o
suficiente para o indivíduo ser introduzido na manipulação de técnicas de produção
e aumentar a produtividade, sem, contudo, ter sobre o processo nenhum controle,
nem mesmo qualquer possibilidade de exigências salariais que um nível mais
elevado de escolarização e qualificação acabaria por suscitar. Enfim, era
interessante para os meios empresariais que tivéssemos a mão de obra com alguma
educação e treinamento, bastante produtiva e, ao mesmo tempo, barata.

Assim, a lei regularizou o que, na prática, buscava-se oferecer, ou seja, um ensino que
pudesse desenvolver as habilidades para as exigências do mercado de trabalho daquele
período, impostas pela crescente industrialização do país e influenciadas pelo capitalismo
internacional.
Em 10 de agosto de 1978, na sala das Sessões do Conselho Estadual de Educação do
Estado do Paraná foi emitido o Parecer n.º 288/78, sobre o Processo n.º 631/78, de aprovação
da reformulação da grade curricular, para a vigência a partir do ano de 1978, proposta pelo
Colégio Estadual José de Anchieta – Ensino de 1º e 2º Graus, de Pato Branco, de Habilitação
para o Magistério turno noturno, para o mínimo de 2.250/horas/aula, conforme consta abaixo
(PARANÁ, 1978, p. 1):

O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO do Estado do Paraná, usando das


atribuições que lhe são conferidas por Lei, emite o presente Parecer nos termos do
Decreto n.º 150/78, da Câmara de Ensino de 2º Grau, que a este se incorpora:
Pelo presente Processo de n.º 631/78 a Direção do Colégio “José de Anchieta” –
Ensino de 1º e 2º Graus, de Pato Branco, submete à apreciação deste Conselho
reformulação de sua grade curricular referente à Habilitação para o Magistério,
turno noturno, para viger do presente ano letivo em diante.
A reformulação do plano de estudos, em pauta consubstancia-se, apenas, no ajuste à
Deliberação n.º 085/74 desta CEE, com a previsão mínima de 2.550/horas/aula35.
Face ao exposto, propomos a aprovação da matéria, alertando o Estabelecimento de
que deverá adaptar-se também, no que couber, à Deliberação n.º do CEE no que diz
respeito às Diretrizes Gerais e Específicas para Habilitação Magistério, que serão
editadas por este CEE.
Sala das Sessões, em 10 de agosto de 1.978.

_______________
35
Grifo da pesquisadora.
93

aa) – ERNESTO KNAUER, Presidente; Eduardo Rodrigues Machado, Relator;


[...].

A carga horária mínima para a grade curricular da habilitação ao magistério de 2.550


horas/aula, tal como o Colégio Estadual José de Anchieta havia proposto, atende ao artigo 22,
da Lei n.º 5.692/71 (BRASIL, 1971):

O ensino de 2º grau terá três ou quatro séries anuais, conforme previsto para cada
habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar
efetivo, respectivamente.
Parágrafo único. Mediante aprovação dos respectivos Conselhos de Educação, os
sistemas de ensino poderão admitir que, no regime de matrícula por disciplina, o
aluno possa concluir em dois anos no mínimo, e cinco no máximo, os estudos
correspondentes a três séries da escola de 2º grau.

O Conselho Estadual de Educação aprovou a grade curricular para o Colégio Estadual


José de Anchieta com a previsão mínima de 2.550 horas/aula para as atividades do curso de
magistério, pois a carga horária da grade curricular estava dentro da média prevista pela lei de
pelo menos 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar efetivo.
A nova Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (5.692/71) fundamentou a
educação por meio de categorias progressivas, ou seja, o primeiro grau era a base para o
desenvolvimento pelo qual o educando passaria para atingir o segundo grau. No segundo
grau, o estudante seria instruído visando a preparação para o exercício consciente da
cidadania e seria qualificado para o trabalho, tendo a formação necessária ao desenvolvimento
da suas potencialidades como elemento de autorrealização. Seriam esses os três aspectos
fundamentais enquadrados pela nova lei.
Sobre as habilitações profissionais, o artigo 4º, § 3º previa que (Brasil, 1971): “Para o
ensino de 2º grau o Conselho Federal de Educação fixará, além do núcleo comum, o mínimo a
ser exigido em cada habilitação profissional ou conjunto de habilitações afins”.
Na mesma forma segundo o artigo 4º, § 4º (BRASIL, 1971):

mediante aprovação do Conselho Federal de Educação, os estabelecimentos de


ensino poderão oferecer outras habilitações profissionais para as quais não haja
mínimos de currículo previamente estabelecidos por aquele órgão, assegurada a
validade nacional dos respectivos estudos.

Dessa forma, o Conselho Federal de Educação delegou aos estabelecimentos de ensino


a opção de oferecerem habilitações, em relação à parte de formação especial dos currículos,
no ensino de 2º grau, para que fossem adaptadas em relação às exigências do mercado de
94

trabalho local ou regional da época. Assim, era da competência dos estabelecimentos de


ensino escolherem as matérias que deviam constituir a parte diversificada de seus currículos e
adotavam, desde que aprovada pelo Conselho de Educação, outras habilitações para as quais
não havia mínimos de currículos previamente estabelecidos.
Com a vigência da Lei n.º 5.692/71, o Magistério passou a ser uma das habilitações
em nível de 2º Grau. O currículo apresentava um núcleo comum, que era obrigatório em todo
o país e uma parte destinada à formação especial, o qual representava o mínimo necessário à
habilitação profissional.
Segundo Borsari Netto (1971, p. 40):

a educação geral estará representada no currículo, pelas matérias que integram o


núcleo comum, acrescidas das citadas no artigo 7º da Lei; Educação Moral e
Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde.
Devem os estudantes de habilitações para o magistério:
- oferecer uma educação geral que possibilite a aquisição de um conteúdo básico
indispensável ao exercício do magistério e permita estudos posteriores mais
complexos;
- promover a correlação e a convergência das disciplinas;
- assegurar o domínio das técnicas pedagógicas, por meio de um trabalho teórico-
prático;
- despertar o interesse pelo autoaperfeiçoamento.
A educação geral, que terá como objetivo básico a formação integral do futuro
professor, deverá, a partir do 2º ano, oferecer os conteúdos dos quais ele se utilizará
diretamente na sua tarefa de educador. Em consequência da nova lei, este aspecto
relativo aos conteúdos será intensificado cada vez mais.
A formação especial constará de:
a) fundamentos da Educação.
b) Estrutura e Funcionamento do ensino de 1º Grau.
c) Didática, incluindo prática de ensino.
Em fundamentos da Educação serão realizados estudos de Psicologia, História e
Sociologia da Educação.

Objetivava-se a sondagem de aptidões aos alunos desde o 1º Grau para que eles
fossem encaminhados para uma das habilitações que eram oferecidas no 2º Grau. A Lei
5.692/71 previu que os professores que cursassem 4 anos em estabelecimento de 2º Grau
poderiam lecionar até a 6ª série do ensino de 1º Grau. Mas os professores que fizessem o
curso em três anos também podiam lecionar na 5ª e 6ª séries do 1º Grau, contudo, era
necessário acrescentar os “estudos adicionais” que correspondiam a um ano letivo, os quais
incluíam, se fosse o caso, formação pedagógica.
Sobre as Escolas Normais para formação de professores ao Magistério, na opinião de
Borsari Netto (1971, p. 51):

os antigos cursos normais, que formavam professores para o ensino primário, não
levavam suficientemente em conta que, além de concorrerem para a cultura geral e
95

a formação do professorado, deveriam ter caráter profissionalizante. Esse


procedimento, além de prejudicar o ensino, formando de maneira inadequada o
professor; permitia a má aplicação dos cursos, tendo em vista que muitos dos
formandos não ingressavam na força de trabalho, [...]. No que se refere à formação
de professores para o antigo ensino médio, ocorria que as Faculdades não
formavam de modo adequado e em número suficiente, levando a soluções de
emergência, tais como: exames de suficiência: concessão de registros provisórios e
permanentes, aproveitamento de professores formados nos cursos normais. Esses
aspectos extremamente negativos serão corrigidos pela Lei 5.692, quando torna
eminentemente profissionalizante a habilitação para o magistério nas escolas de 2º
grau e exige as licenciaturas de 1º grau e pleno, para a regência das últimas séries
do ensino de 1º e 2º graus.

A crítica do autor citado não procede no aspecto do presente estudo, nem de maneira
geral, pois, como foi constatado pelas entrevistas com as alunas que estudaram na Escola
Normal de Pato Branco, em períodos anteriores à vigência da Lei 5.692/71, em sua
unanimidade, concordaram que aquela escola foi importante para sua formação profissional,
ou seja, tinha caráter profissionalizante. Segundo a entrevistada “B”36, em relação à segunda
pergunta do questionário, sobre qual aspecto da Escola Normal de Pato Branco mais
influenciou a sua vida profissional, respondeu: “Foi muito importante, pois comecei a atuar na
escola logo após formada; trabalhei em escola primária e ginasial, posteriormente fiz
faculdade e pós em geografia e atuei no ensino médio”37.
A entrevistada “C”38, na indagação sobre por que as alunas estudavam na Escola
Normal, respondeu: “era uma escola só para moças, raramente tinha homens, era famosa
como Escola Normal e principalmente porque profissionalizava. Os professores naquela
época eram muito respeitados, pois você se tornava líder em sua comunidade. Não eram
muito bem remuneradas, mas era um salário teu. As meninas com seus 20 e poucos anos já
recebendo salário próprio naquela época era um privilégio de poucos”.39
Assim, pode-se concluir que a Escola Normal profissionalizava seus alunos não
somente por meio das habilitações previstas pela Lei 5.692/71, mas desde a vigência das leis
anteriores a de 1971.
A seguir analisamos como os alunos do Colégio Estadual de Pato Branco eram
avaliados.
Em 22 de julho de 1980, foi enviado à Diretora do Colégio José de Anchieta – Ensino
de 2º Grau de Pato Branco – Paraná, o Ofício n.º 1023/80, da Secretaria de Estado da

_______________
36
Entrevista concedida em 18/07/2011.
37
Estudou na escola no período de 1969 a 1972.
38
Entrevista concedida em 20/07/2011:
39
Cursou a Escola Normal no período de 1970 a 1972.
96

Educação, Departamento de Ensino de 2º Grau – Setor de Estudos e Projetos, por meio da


Diretora em Exercício – Lia Andrade Peixoto, comunicando que o sistema de avaliação do
Colégio “José de Anchieta” estava de acordo com as determinações legais (PARANÁ, 1980,
p. 1):

senhora Diretora: pelo presente informamos a Vossa Senhoria que recebemos o


Ofício n.º 26/80 deste Estabelecimento. O Sistema de Avaliação do Colégio José de
Anchieta está coerente com as determinações legais vigentes, regula e organiza as
formas de avaliação, competência, mínimos exigidos, recuperação, promoção e
conselho de classe. Desta forma encontra-se em condições de ser adotado.

De acordo com a previsão legal do artigo 14 da Lei 5.692/71 (BRASIL, 1971):

a verificação do rendimento escolar ficará, na forma regimental, a cargo dos


estabelecimentos, compreendendo a avaliação do aproveitamento e a apuração da
assiduidade.
§ 1º Na avaliação do aproveitamento, a ser expressa em notas ou menções,
preponderarão os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os resultados
obtidos durantes o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida.
§ 2º o aluno de aproveitamento insuficiente poderá obter aprovação mediante
estudos de recuperação proporcionados obrigatoriamente pelo estabelecimento.
§ 3º Ter-se-á como aprovado quanto à assiduidade:
a) o aluno de frequência igual ou superior a 75% na respectiva disciplina, área de
estudo ou atividade;
b) o aluno de frequência inferior a 75% que tenha obtido aproveitamento superior
a 80% da escala de notas ou menções adotadas pelo estabelecimento.
c) O aluno que não se encontre na hipótese da alínea anterior, mas com
frequência igual ou superior ao mínimo estabelecido em cada sistema de ensino
pelo respectivo Conselho de Educação, e que demonstre melhoria de
aproveitamento após estudos de recuperação.
§ 4º Verificadas as necessárias condições, os sistemas de ensino poderão admitir a
adoção de critérios que permitam avanços progressivos dos alunos pela conjugação
dos elementos de idade e aproveitamento.

Em documento encontrado no arquivo do Colégio Estadual José de Anchieta,


constatou-se a forma como era feita a avaliação dos alunos ([19--], p. 110):

a avaliação tem por objetivo a verificação da aprendizagem do aproveitamento e


desenvolvimento do educando, bem como a apuração do rendimento escolar para
fins de promoção.
Compete ao professor em cada disciplina, avaliar o aluno.
A avaliação será constante, global e sistemática.
A avaliação do rendimento escolar far-se-á mediante observação constante do
aluno, considerando-se os aspectos qualitativos e quantitativos da aprendizagem.
Para avaliação da aprendizagem, serão utilizados instrumentos e técnicas diversas.
a) – tarefas específicas;
b) – trabalhos de criação;
c) – testes orais e escritos;
d) – provas escritas;
Serão considerados no processo de aprendizagem os aspectos comportamentais:
a) – capacidade de observação;
97

b) – interesse;
c) – responsabilidade;
d) – cooperação;
e) – respeito.
A avaliação do aluno será contínua, conferindo-lhe média bimestral. Os resultados
da avaliação serão expressos através de notas numa escala de 0 a 100 (zero a cem).
Os resultados bimestrais serão comunicados aos alunos ou responsáveis, através de
entrega de boletim efetuada pelo professor regente de classe.

Para a aprovação dos alunos do Colégio José de Anchieta, levava-se em conta, além
da média de notas, o bom comportamento deles, o interesse e a frequência nas aulas. Pode-se
perceber que a rigorosidade permanecia no Colégio.
Para a promoção de um ano letivo para outro, eram consideradas a frequência do aluno
acima de 75% e a nota mínima acima de 65 pontos, segundo relatório encontrado no arquivo
do Colégio ([19--], p. 114):

será considerado aprovado: I – o aluno que obtiver frequência igual ou superior a


75% e atingir no mínimo a nota 65 (sessenta e cinco) em cada disciplina, obtida
através da média aritmética das notas bimestrais:
II – o que obtiver frequência igual ou superior a 75% e após a recuperação final
atingir a média Final, igual ou superior a 50 (cinquenta).
III – o que obtiver frequência inferior a 75% e igual ou superior a 50% e atingir a
média aritmética das notas bimestrais, superior a 80 (oitenta) em cada disciplina.
IV – o que obtiver frequência inferior a 75% e igual ou superior a 50% e após a
recuperação atingir a média final superior a 80 (oitenta).

Sem dúvida, um dos requisitos fundamentais para o aluno ser aprovado era a
frequência igual a 75%, conforme previsão legal.
Também foi analisado o Código de Regulamento de Conduta do Colégio como segue.
Em janeiro de 1981, o Diretor do Departamento de Ensino de 2º Grau, Sr. Ricardo
Luiz Knesebeck, da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná – Departamento
do Ensino de 2º Grau, enviou o Ofício n.º 1618/80 à Diretora do Colégio Estadual José de
Anchieta de Pato Branco – PR para cumprimentá-la pela elaboração do Código de Conduta
daquele Colégio.
No entanto, o Diretor do Departamento de Ensino de 2º Grau fez algumas sugestões ao
Código de Conduta40 elaborado, conforme Ofício (PARANÁ, 1981, p. 1):

senhor Diretor, vimos por este intermédio, cumprimentar Vossa Senhoria pela
elaboração do Código de Conduta desse Estabelecimento, o qual bem nos mostra
que o principal objetivo é dar ao aluno, as melhores condições possíveis dentro do
Colégio, com a colaboração direta e indispensável dele próprio. Outrossim,
_______________
40
Nesse ofício consta como Código de Conduta, mas a lei denomina como Regimento.
98

sugerimos que seja eliminado o item n.º 19 e, por outro lado, seja acrescentado em
seu lugar: Executar os exercícios e tarefas solicitados pelos professores das diversas
disciplinas. Sugerimos ainda, que sejam estabelecidos critérios para a aplicação das
penalidades e, eliminar a penalidade da letra b. Sem outro particular para a
oportunidade, usamos do ensejo para externar os protestos de elevado apreço e
consideração.

A elaboração do Código de Conduta está previsto no artigo 70, da Lei 5.692/71


(BRASIL, 1971):

as administrações dos sistemas de ensino e as pessoas jurídicas de direito privado


poderão instituir, para alguns ou todos os estabelecimentos de 1º e 2º graus por elas
mantidos, um regimento comum que, assegurando a unidade básica estrutural e
funcional da rede, preserve a necessária flexibilidade didática de cada escola.

A Lei de Diretrizes e Bases Educacionais n.º 5.692/71 permitiu que as escolas


formulassem seus próprios Regimentos Escolares, visando atender às suas necessidades, bem
como a regularização da sua didática de ensino e também as questões disciplinares seguidas
pelo estabelecimento. No entanto, o Regimento Escolar devia seguir os princípios norteadores
previstos pelo Departamento de Ensino de Primeiro Grau. O Regimento Escolar de cada
estabelecimento de ensino deveria considerar as peculiaridades da comunidade a que servisse.
Também foi constatado que o Conselho Estadual de Educação delegou à Secretaria de
Educação (SEED) a competência necessária para fazer a análise e a aprovação dos
Regimentos Escolares, tratando-se de um procedimento indispensável para o reconhecimento
do ensino naquele estabelecimento.
O Departamento de Ensino de Primeiro Grau publicou um documento que oferecia
subsídios para a elaboração dos Regimentos Escolares das escolas, até mesmo fornecendo um
modelo para ser seguido, compatível com a realidade das escolas paranaenses da época.
A obrigatoriedade imposta pela Secretaria de Estado da Educação fez com que fosse
publicada a Resolução n.º 2.585/81 (PARANÁ, 1981, p. 1-2):

O SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições:


RESOLVE:
Art. 1º – Os estabelecimentos estaduais de ensino de 1º e 2º graus, regular e
supletivo, que até a presente data não tenham Regimento próprio aprovado passarão
a reger-se por Regimento Escolar conforme o modelo anexo a presente Resolução.
§ 1º – Os estabelecimentos que devido às características especiais das suas
estruturas administrativas necessitarem de disposições regimentais específicas,
deverão encaminhar aos Departamentos que estão subordinados, propostas de
adequação do Modelo referido neste Artigo.
§ 2º – Aplicam-se a cada estabelecimento, das disposições do Modelo anexo,
apenas aquelas referentes e específicas às modalidades, níveis e tipos de cursos que
o mesmo está atualmente autorizado a ministrar.
99

Art. 2º – Determinar aos estabelecimentos de ensino que, até a data de 31 de março


de 1982, protocolem junto à Secretaria de Educação o Título III do Modelo anexo,
já com as alterações necessárias para sua caracterização.
Art. 3º – Ressalvar que os Regimentos Escolares dos estabelecimentos estaduais de
ensino deverão prever, em seu Título II, estrutura administrativa compatível com os
parâmetros estabelecidos na resolução n.º 2738/80, a qual será objeto de
implantação gradativa.
Art. 4º – Revogam-se as disposições em contrário.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, em 13 de novembro de 1981.

Desta forma, todos os estabelecimentos de ensino precisavam formular seus


regulamentos internos de acordo com o modelo apresentado pela Secretaria de Estado de
Educação.
As questões políticas dos anos 1980 assolavam as normas de formulação dos
Regimentos Escolares, até mesmo demonstrando o abuso de poder da época da ditadura pela
qual passava o país. Mas em 28 de janeiro de 1985, no contexto da redemocratização do país,
a Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná publicou a Resolução n.º 323/85, que
previa alterações nos Regimentos Escolares das escolas públicas mantidas pelo Estado do
Paraná, visando substituir algumas normas, que durante a ditadura do país possibilitavam
abuso de poder e autoritarismo:

A SECRETÁRIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições


legais, e
– considerando a necessidade de dar um sentido concreto ao nível das escolas, as
propostas e políticas e educacionais de governo;
– considerando que, as políticas da SEED preconizam o resgate do sentido político
da educação, através do exercício de formas de discussão e da participação
democrática de todos os segmentos da comunidade escolar;
– considerando que o momento político brasileiro revigora o direito de cada
cidadão de discutir as finalidades das instituições nacionais e das leis reguladoras
da cidadania;
– considerando que, os regimentos escolares vigentes nas Escolas são expressões de
um modelo político autoritário em questionamento e em processo de superação,
quer no que se relaciona a sua organização e funcionamento internos, quer no
relacionamento aos chamados órgãos cooperadores (grêmios estudantis, Associação
de pais e mestres, etc.), estando estes últimos submetidos a uma verdadeira tutela
opressiva;
– considerando que, os regimentos escolares são normatizadores da organização
escolar e devem estar de acordo com a escola democrática que se pretende.
I- Retificar a Resolução n.º 2585, de 13 de novembro de 1981, que aprovou o
modelo de Regimento Escolar para os Estabelecimentos da Rede Estadual de
Ensino, a fim de declarar que os dispositivos mencionados passam a vigorar com a
nova redação abaixo especificada:
REDAÇÃO ATUAL
Art. 10. A Congregação de Professores terá as seguintes atribuições:
III- votar modificações regimentais quando necessárias, para posterior aprovação
pelo órgão competente.
IV- apreciar, em grau de recurso os casos omissos no Regimento e deliberar sobre
as dúvidas que surjam em sua aplicação.
Art. 15. Ao Diretor compete:
XXII- autorizar matrícula de alunos ou determinar o seu cancelamento;
100

XXIII- aprovar os estatutos, regulamentos internos e manuais de serviço dos


diferentes órgãos do Estabelecimento;
XXIV- homologar os estatutos da Associação de Pais e Professores e demais
órgãos cooperadores;
Art. 18. são atribuições do Conselho Técnico – Administrativo:
I- propor modificações no Regimento Escolar, quando necessárias.
Art. 51. Dirigida por Diretoria própria, a Associação de Pais e Professores está
vinculada à Direção do Estabelecimento, a quem cabe homologar os atos ordinários
da entidade.
Art. 52. A organização e o funcionamento da Associação de Pais e Professores
estão definidas em estatutos próprios elaborados pela primeira diretoria, aprovados
em assembleia e homologados pelo Diretor.
Art. 53. É vedada a interferência direta da Associação de Pais e Professores na
administração do estabelecimento.
Art. 55 até 68.
Art. 155. Serão os seguintes os livros de registro e escrituração:
h)- Livro de ocorrência Disciplinadores onde serão anotadas as sanções aplicadas a
elementos do Corpo Docente, do Corpo Discente ou do Pessoal Técnico.
NOVA REDAÇÃO
Art. 10- A Congregação de Professores terá as seguintes atribuições:
III- votar modificações regimentais, quando necessário.
IV- apreciar os casos omissos no Regimento e deliberar sobre dúvidas que surjam
em sua aplicação.
Art. 15. Ao Diretor compete:
XXII- autorizar matrícula de alunos
XXIII- aprovar os regulamentos internos e manuais do serviço dos diferentes
órgãos do Estabelecimento;
XXIV-SUPRIMIDO
Art. 18. São atribuições do Conselho Técnico-Administrativo:
I- SUPRIMIDO
Art. 51. SUPRIMIDO
Art. 52. A organização e o funcionamento da associação de Pais e Professores estão
definidos em estatutos próprios.
Art. 53. SUPRIMIDO
Suprimido integralmente os artigos 55 a 68, inclusive.
Art. 155. Serão os seguintes os livros de registro e escrituração:
h)- SUPRIMIDO (PARANÁ,1985, p. 1, grifo do autor):

Pode-se perceber a ocorrência da mudança da intervenção do Estado nas instituições


escolares, com a queda da ditadura e a conquista do Estado Democrático de Direito.
Em 1982 o Colégio Estadual José de Anchieta teve seu reconhecimento como curso de
2º grau como foi analisado a seguir.

4.2 RECONHECIMENTO DO CURSO DE 2º GRAU DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE


ANCHIETA

Apesar de ter recebido autorização para funcionamento desde agosto de 1978, somente
em 15 de janeiro de 1982 foi publicado no Diário Oficial n.º 1210/82 a Resolução n.º
3.111/81, de Reconhecimento do Curso de 2º Grau Regular do Colégio Estadual José de
101

Anchieta – do município de Pato Branco – PR, ensino de 2º Grau com habilitações: plenas de
Magistério e Contabilidade:

DIÁRIO OFICIAL N.º 1210/82 DE 15.01.82


RESOLUÇÃO N.º 3.111/81
O SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso das atribuições que lhe
foram delegadas pelo Art. 1º, inciso V, letra d do Decreto n.º 3037, de 09 de
outubro de 1980, e tendo em vista o disposto no Art. 80 da Deliberação n.º 030/80,
do Conselho Estadual de Educação,
RESOLVE
Art. 1º – Fica reconhecido o Curso de 2º Grau – Regular, com as habilitações:
plenas Magistério e Contabilidade, do Colégio José de Anchieta – Ensino de 2º
Grau, no município de Pato Branco.
Art. 2º – Em decorrência do disposto no artigo anterior, fica reconhecido o Colégio
José de Anchieta – Ensino de 2º Grau, de Pato Branco, mantido pelo Governo do
Estado do Paraná.
Art. 3º – Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, em 21 de dezembro de 1981
(PARANÁ, 1982, p. 17).

Dessa forma, o reconhecimento do Colégio Estadual “José de Anchieta” foi mantido


pelo Governo do Estado do Paraná.
Em 10 de junho de 1983, o Conselho Estadual de Educação, na 5ª Reunião Ordinária,
com Parecer n.º 165/83, Processo n.º 168/83, aprecia o Relatório do Curso de
Aperfeiçoamento de Professores para alfabetização, em nível de 2º Grau, referente ao ano de
1982, na forma de estudos adicionais41, apresentado pelo Colégio Estadual “José de
Anchieta”. De acordo com o Parecer (PARANÁ, 1983, p. 1-4):

CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO


MATÉRIA APROVADA NA QUINTA (5ª) REUNIÃO ORDINÁRIA
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
Aprecia o Relatório do Curso de Aperfeiçoamento de Professores para
Alfabetização, na forma de Estudos Adicionais, em nível de 2º grau, referente ao
ano de 1982, apresentado pelo Colégio José de Anchieta – Ensino de 2º Grau, de
Pato Branco, mantido pelo Governo do Estado.
O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO do Estado do Paraná, usando das
atribuições que lhe são conferidas por Lei, emite o presente Parecer com base no de
n.º 068/83 da Câmara de Ensino de 2º Grau.
I – Histórico
O Colégio José de Anchieta – Ensino de 2º Grau, de Pato Branco, mantido pelo
Governo do Estado, encaminha a este colegiado, para apreciação, o Relatório dos
Estudos Adicionais – Curso de Aperfeiçoamento de Professores para Alfabetização,
em nível de 2º Grau, referente ao ano de 1982, em cumprimento às determinações
contidas nas Deliberações n.º 016/81 e 022/82 – CEE.
II – Apreciação

_______________
41
Estudos Adicionais – serviam para aprimorar o conhecimento do professor em nível de Magistério a um
conteúdo determinado.
102

Pelos fatos expostos no Relatório ora analisado, verifica-se que as condições de


funcionamento do Curso de Aperfeiçoamento de Professores para Alfabetização do
Colégio José de Anchieta, no aludido período, foram as seguintes:
1 – SITUAÇÃO DO CURSO
O Colégio em apreço obteve acolhida a Consulta Prévia por ele formulada, para
implantação do Curso acima referido, pelo Parecer n.º 201/81 – CEE.
Em 1982, apresentou o correspondente Projeto de Implantação, que foi aprovado
pelo Parecer n.º 049/82 – CEE, em caráter provisório, em decorrência de algumas
falhas nele constatadas.
Finalmente, pelo Parecer n.º 213/82 o referido Projeto foi aprovado sem restrições,
o que possibilitou o levantamento da provisoriedade a ele interposta pelo parecer
n.º 049/82 – CEE.
Pela Resolução n.º 835/82, o Curso foi autorizado a funcionar pelo prazo de dois
anos, a partir daquele ano letivo, inclusive.
Foram ofertadas 40 vagas anuais.
A duração do Curso, que funcionou no período matutino, foi de um ano letivo, com
990 horas-aula.
2 – SITUAÇÃO DO PRÉDIO
Funcionando em prédio alugado, pertencente às Irmãs Filhas da Caridade de São
Vicente de Paulo, localizado no centro da cidade, conta com sala de som, sala de
dança e ginástica, biblioteca, sala para educação artística, laboratório, ampla área
coberta, salão para reuniões, além de outras dependências necessárias.
3 – SITUAÇÃO PEDAGÓGICA
O plano curricular levado a efeito foi o aprovado pelo Parecer n.º 213/82. Encontra-
se no processo a distribuição semanal dos conteúdos curriculares adotada.
O estágio, descrito em detalhes, foi realizado em classes de 1ª a 4ª séries no período
da tarde, e de 5ª a 6ª séries no período noturno, em onze estabelecimentos de ensino
do Município de Pato Branco.
Inúmeras foram as atividades extraclasse desenvolvidas, demonstrando o interesse,
a criatividade, a colaboração e o espírito cristão que nortearam o trabalho escolar
desenvolvido pelo educandário, no período ao qual se refere o presente Relatório.
As dificuldades apontadas pelo estabelecimento foram duas: a elaboração do
projeto e a distribuição das aulas.
4 – SITUAÇÃO ADMINISTRATIVA
O estabelecimento sugere a designação de “um auxiliar de direção”, quer pelo fato
de o Colégio contar com aproximadamente, mil alunos, pelo fato de a diretora
(religiosa) apenas responder pela direção, por não ter vínculo com o Estado.
Todavia, dada a existência de uma vice-diretora, quer nos parecer, a necessidade
mais premente seja a de um supervisor escolar ou, como também é conhecido, de
um orientador pedagógico.
A situação na qual se encontra a documentação escolar e a forma como o
estabelecimento vem funcionando não foram objeto do relato.
5 – SITUAÇÃO DO CORPO DOCENTE
Não houve substituição de professores durante o ano letivo de 1982. Os que
ministravam aulas no Curso, naquele ano, foram todos aceitos por este Colegiado
pelos Pareceres n.º 049/82 e 130/82.
6 – SITUAÇÃO DO CORPO DISCENTE
Foram preenchidas 39 das 40 vagas disponíveis, razão pela qual não foi realizado o
teste de seleção previsto no Regulamento dos Estudos Adicionais.
Quatro alunas desistiram do Curso. Das 35 que o concluíram, 26 exercem o
Magistério na rede estadual, 5 atuam em estabelecimento particulares de ensino e 4,
apenas, não estão lecionando.
Contudo, o documento não especifica se as 31 concluintes que se encontram em
exercício no Magistério, ministram aulas de Educação Artística, fato esse que seria
interessante fosse explicitado.
III – CONCLUSÃO
Assim, diante do exposto, damos por apreciado o presente Relatório, apresentado
pelo Colégio José de Anchieta – Ensino de 2º Grau, de Pato Branco, referente à
execução do Curso de aperfeiçoamento de Professores para Alfabetização, na forma
de Estudos Adicionais, no ano de 1982.
103

Alertamos, todavia, ser de suma importância a este Colegiado a abordagem, nos


próximos relatos, de todos os itens exigidos na deliberação n.º 022/82 – CEE.
Sala Pe. José de Anchieta, em 10 de junho de 1983.

Este documento relata de forma detalhada como funcionou o Colégio Estadual José de
Anchieta em 1982 e mostra algumas de suas peculiaridades. Demonstra que o Estado
supervisionava as instituições de ensino e salienta, sobretudo, o papel do supervisor escolar,
considerado importante pelo Estado, pois eram os supervisores escolares que faziam o
monitoramento das escolas. Mostra, também, as condições físicas do estabelecimento de
ensino, muito bem aparelhado e com amplo espaço. Analisa a situação das alunas do Colégio,
constatando que a grande maioria delas, que cursava o Magistério ou concluía o curso, já
estava trabalhando na área.

4.3 A MUDANÇA DE SEDE DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, QUE


FUNCIONAVA NO INSTITUTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, PARA O COLÉGIO
ESTADUAL DE PATO BRANCO, EM 1984

Apesar da reestruturação da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva e do Colégio


Estadual Comercial de Pato Branco42, em 1978, implantada devido à mudança da Lei de
Diretrizes de Bases Educacionais, n.º 5.692/71, o que fez com que aquelas escolas fossem
reorganizadas e transformadas na Escola Estadual José de Anchieta, a habilitação ao
Magistério continuou a funcionar nas dependências do Instituto Nossa Senhora das Graças.
Só em 1984 tanto as habilitações ao Magistério como de as Técnico em Contabilidade foram
transferidas às dependências do Colégio Estadual de Pato Branco, popularmente conhecido
como Colégio “PREMEN”43. Colégio público construído pelo governo estadual em 1977,
com autorização para funcionamento a partir de 1978, para atender ao ensino de segundo grau
daquela época. Assim, no ano de 1986, foram implantadas, pela Resolução n.º 1042/86, as
habilitações ao Magistério e Técnico em Contabilidade para funcionarem junto ao Colégio
Estadual de Pato Branco, as quais foram reconhecidas pela Resolução n.º 4672/86 (PARANÁ,
1986 [f.1]).

_______________
42
Que também funcionou, por um período, nas dependências físicas cedidas pela Escola Rocha Pombo.
43
PREMEN: Programa de Expansão e Melhoria do Ensino. Escola polivalente de 2º grau, implantada em Pato
Branco pelo Decreto n.º 70.067/72, com autorização de funcionamento pelo Decreto n.º 53.26/78.
104

Após a retirada do Colégio Estadual José de Anchieta das dependências do Instituto


Nossa Senhora das Graças, as Irmãs Vicentinas continuaram trabalhando na área da educação
em Pato Branco, como fazem até os dia atuais44.
Essa mudança de estabelecimento ocorreu no mandato do Inspetor Regional da 49ª
Inspetoria Regional de Educação, Agostinho Barrionuevo, no período de 1984. De acordo
com Comin (2002, p. 45-46):

Outro problema a exigir solução e que demandava a tomada de medidas racionais,


decisivas, sem dispensar a ponderabilidade e diplomática argumentação, por parte
da Chefia do Núcleo foi a mudança de local de funcionamento dos Cursos de
Magistério e Contabilidade que, de espaço alugado pelo Estado, passaram a
funcionar no então “PREMEN”, atualmente, Colégio Estadual de Pato Branco.
Bem postas as justificativas do ato, no entanto, não geraram constrangimento
algum.

Nos seus últimos dois anos de vigência, o Colégio Estadual José de Anchieta
funcionou junto ao Colégio Estadual do Pato Branco45. Mas, logo o governo do Estado
decidiu cessar as atividades do Colégio Estadual José da Anchieta.
Assim, em 12 de setembro de 1986, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná,
por intermédio da Secretária Gilda Poli Rocha Loures, através da Resolução n.º 3.941/86,
cessou em definitivo as atividades do Colégio Estadual José de Anchieta – Ensino de 2º Grau
do município de Pato Branco:

O SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso das atribuições que lhe


foram delegadas pelo Artigo 1º, inciso V, do Decreto n.º 3.037, de 09 de outubro de
1.980, considerando os termos da Deliberação n.º 030/80, do Conselho Estadual de
Educação e o Parecer n.º 613/86, do Departamento do Ensino de 2º Grau,
RESOLVE:
Art. 1º – Cessar definitivamente as atividades escolares do Ensino de 2º Grau, no
Colégio Estadual José de Anchieta – Ensino de 2º Grau, do Município de Pato
Branco, mantido pelo Governo do Estado do Paraná, a partir do início do ano letivo
de 1.986.
Art. 2º – Em decorrência do artigo anterior fica extinto o Colégio Estadual José de
Anchieta – Ensino de 2º Grau, do Município de Pato Branco.
Art. 3º – Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, em 12 de setembro de 1986
(PARANÁ, 1986, [f.1]).

_______________
44
O Colégio Vicentino Nossa Senhora das Graças (Instituto Nossa Senhora das Graças) atende atualmente a
Educação Infantil, o Ensino Fundamental I (1ª ao 5ª ano), o Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries) e o Ensino
Médio.
45
Este Colégio Estadual continua funcionando na cidade de Pato Branco, com atuação no: Ensino Fundamental,
Médio, Profissionalizante e Normal, com: Técnico em Administração, Técnico em Enfermagem, Técnico em
Informática e Formação de Docentes.
105

Dessa forma, o Governo do Estado do Paraná resolveu cessar definitivamente as


atividades escolares de 2º Grau do Colégio Estadual José de Anchieta, bem como extinguiu
aquele Colégio.
106

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi desenvolvida objetivando responder ao problema: qual a importância


da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva na formação de professores em Pato Branco e
região, no período de 1960 a 1986, à luz da legislação pertinente?
O interesse em analisar a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva justifica-se por
haver sido esta a primeira escola de formação de professores implantada em Pato Branco em
1960. Foi feito um estudo de caso específico sobre esta escola, através da análise de
documentos da escola, das leis que a regulamentaram, encontradas nos arquivos do Colégio
Estadual de Pato Branco, no Núcleo de Educação de Pato Branco e da Secretaria de Educação
do Paraná.
Antes de aprofundar o estudo sobre a escola fizemos uma análise histórica de como foi
o desenvolvimento econômico e social do sudoeste do Paraná, como sua economia baseada na
extração do mate, nos campos de criação de gado e na extração da madeira ajudou no
desenvolvimento da região. Foram enfatizados os fatos históricos que tiveram destaque no
Sudoeste do Paraná como a Guerra do Contestado e a Revolta dos Posseiros, estes fatos
estiveram diretamente ligados ao desenvolvimento da região, assim como da cidade de Pato
Branco, nosso foco de pesquisa. Também buscamos ligar o desenvolvimento econômico e
social de Pato Branco com a evolução na educação do município.
Pato Branco até os anos de 1930 era pouco desenvolvido, mas com a implantação da
Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO) pelo governo de Getúlio Vargas,
contribuiu significativamente para o desenvolvimento do município principalmente com a
abertura de estradas que possibilitaram o acesso para outras cidades da região.
Devido a região sudoeste do Paraná ter uma baixa densidade demográfica nos anos de
1940, o governo federal fez campanhas para colonizar a região. Os gaúchos e catarinenses
descendentes de europeus, principalmente de italianos que viviam na serra gaúcha, devido a
escassez de terras cultiváveis para famílias numerosas, passaram a comprar as terras dos
caboclos do sudoeste do Paraná; grandes levas de colonos vindos do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina se estabeleceram em Pato Branco. Instalaram inúmeras serrarias onde
derrubavam e beneficiavam a madeira, que era muito abundante na região.
Os colonos exigiam escolas para seus filhos, existiam professores particulares que
davam aulas às crianças em suas casas. Só em 1941 foi implantado o Grupo Escolar Professor
Agostinho Pereira em Pato Branco, primeira escola pública mantida pelo Estado. Em 1949
chegaram do Rio de Janeiro as Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo que se
107

dedicaram aos cuidados dos doentes do Hospital Santa Margarida e a lecionar. Foi criado
pelas Irmãs o Instituto Nossa Senhora das Graças, escola particular. Em 1960 foi implantada a
primeira escola de formação de professores de Pato Branco, mantida pelo governo estadual,
mas dirigida pelas Irmãs Vicentinas. Nas décadas de 1960 e 1970, havia muitas escolas
primárias no interior do município de Pato Branco e de municípios próximos, com um grande
número de professores leigos atuando em sala de aula. Com a implantação da Escola Normal
em Pato Branco estes professores que já trabalhavam nas escolas, bem como os novatos que
visavam trabalhar na educação, viam uma excelente oportunidade de obterem uma formação
regular na Escola Normal.
A Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva foi importante porque significou um
avanço na educação de Pato Branco e do sudoeste do Paraná, pois os alunos vinham de
cidades próximas de Pato Branco para estudarem na Escola Normal. Nem todas as cidades da
região tinham escolas para formar professores.
A procura pela Escola Normal foi devido a mesma ser pública e por ter sido instalada
no prédio do Instituto Nossa Senhora das Graças e ter sido direcionado pelas Irmãs Vicentinas
que já eram muito conhecidas por trabalharem com a educação primária e ginasial em Pato
Branco. As Irmãs conduziam a escola com muita rigorosidade e exigência; isto fazia com que
a sociedade aprovasse a forma de educação das Irmãs Vicentinas, tratava-se de educação com
qualidade, e muito procurada naquela época.
As mulheres eram a maior clientela da Escola Normal de Pato Branco, elas estavam
ingressando no mercado de trabalho e viam a educação como uma forma de obterem um
emprego, com salário próprio e o respeito da sociedade, pois naquela época ser professor era
motivo de muito orgulho.
Analisamos a escola de formação de professores à luz da legislação pertinente no
período de sua vigência 1960 a 1986, destacando que a escola objeto da pesquisa foi
implantada durante a Lei Orgânica de Ensino Normal de 1946 (8.530/1946), passou pela lei
que fixou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (4.024/1961), e reestruturou a Escola
Normal Colegial Dr. Xavier da Silva e Colégio Estadual Comercial de Pato Branco em
Colégio Estadual José de Anchieta com a implantação da lei 5.692/1971. Foram as leis
nacionais, as leis estaduais, os decretos de criação, autorização de funcionamento e extinção,
que regulamentaram a Escola Normal de Pato Branco durante seus vinte e seis anos de
existência.
A resposta a nossa pergunta de pesquisa foi encontrado nos documentos pesquisados
sobre a escola, mas principalmente por meio de entrevistas feitas a uma professora que
108

lecionou na Escola Normal e de quatro alunas que estudaram naquela escola. Foram feitos
questionários com doze perguntas iguais respondidas pelas entrevistadas, os questionários e as
respostas encontram-se em anexo. Na sétima pergunta do questionário foi respondido pelas
entrevistadas sobre a importância da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva para a
região sudoeste do Paraná nos anos de 1960 e seguintes. As respostas foram que a Escola
Normal de Pato Branco significou o avanço na educação de Pato Branco e sudoeste do Paraná
a procura pela Escola Normal era muito grande, dois turnos foram abertos para poder acolher
toda a demanda de alunas. Não havia sido implantada outra Escola Normal antes em Pato
Branco era uma oportunidade para a formação dos professores leigos que já atuavam nas
escolas, bem como uma opção para quem desejasse atuar nessa área. Não existiam outros
cursos profissionalizantes a não ser a Escola Normal e o curso técnico em contabilidade, que
também era mantido pelo governo estadual, com grande procura pelos rapazes.
Na década de 1960 já haviam sido implantadas duas outras Escolas Normais na região
sudoeste do Paraná, nos municípios de Francisco Beltrão e de Dois Vizinhos, mas nas demais
cidades da região ainda não haviam sido implantadas estas escolas. Assim a procura pela
Escola Normal de Pato Branco foi por alunos daquele município, mas também por outros
municípios próximos do Sudoeste do Paraná e do Oeste de Santa Catarina como São
Lourenço do Oeste.
Através desta pesquisa foi constatado que a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da
Silva foi muito importante para a formação de professores de Pato Branco e região, ajudando
no avanço e qualidade do ensino paranaense, pois, quanto mais preparados os professores,
com uma formação regular, melhor poderiam desenvolver seu trabalho fazendo com que
ocorresse um avanço na educação fundamental da região. Apesar da colonização tardia do
sudoeste do Paraná, comparada com as demais regiões do Estado e dos poucos investimentos
feitos pelo governo estadual na educação em Pato Branco e região próxima, a implantação da
Escola Normal foi um marco na formação de professores da região; conseguiu superar as
dificuldade e obteve qualidade no ensino.
Assim, concluímos que a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva deu sua
contribuição fundamental em dois aspectos para Pato Branco e região: o social e o
educacional. Resultou num avanço na qualidade da educação para a formação de professores,
na sua profissionalização e consequentemente na melhoria da qualidade do ensino
fundamental. Também significou abertura do mercado de trabalho para as mulheres.
Esta pesquisa não se encerra neste trabalho, trata-se apenas de uma parte do estudo, já
que é vasto o campo de pesquisa. Foi a primeira vez que a Escola Normal de Pato Branco
109

serviu como objeto de pesquisa, ainda há possibilidade de aprofundar investigações


abrangendo além da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, todas as Escolas Normais
implantadas no sudoeste do Paraná. Também pode ser realizada investigação sobre a
feminização do magistério no sudoeste do Paraná.
O campo de pesquisa é vasto, buscamos contribuir através desta pesquisa com
a educação não só de Pato Branco e do sudoeste do Paraná, mas da educação paranaense
como um todo.
110

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026, 02.

PARANÁ. Serviço de Telecomunicação Radiotelegrama Transmitido.


Ofícios/Correspondências do governo n.1.250, Curitiba: 14 out. 1957. Documento
encontrado no Arquivo Público do Paraná, APPR PI 026, SP. SGE CA 57.10-B, Caixa PI
026, 02.

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Ofícios/Correspondências do governo n. 1.252, Curitiba: 13 out. 1957. Documento
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026, 02.

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116

APÊNDICE A - ENTREVISTA COM EX-PROFESSORA DA ESCOLA NORMAL


COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA46

Para coletar os dados sobre a Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva, foi
elaborado questionário com 12 perguntas discursivas, objetivando obter informações sobre o
funcionamento daquela escola.47

1.1. Primeira entrevista: “A” foi professora da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva,
no período de 1963 a 1976. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em
05/07/2011:

1) NOME DA ENTREVISTADA: Identificada como “A”.

2) PROFISSÃO/ATUAÇÃO: Professora aposentada.

3) EM QUE ÉPOCA LECIONOU NA ESCOLA NORMAL DR. XAVIER DA SILVA EM


PATO BRANCO?
No período de 1963 a 1976.

4) QUAIS DISCIPLINAS ERAM ENSINADAS?


Sociologia, Psicologia, Didática, Prática de Ensino e Ensino Religioso.
(As demais disciplinas do curso eram: Português, Literatura, Matemática, Estatística,
Ciências Físicas e Biológicas, Filosofia, OSPB, História, Geografia e Educação Física).
Como a professora era muito rígida, fazia os alunos se dedicarem bastante aos estudos.
Naquela época não havia material didático fornecido pelo governo, também não se
adotavam livros, era dada a bibliografia e as alunas deveriam procurar os livros. Não
existia nenhum material didático de apoio, como vídeos e cartazes, e as próprias alunas
deveriam elaborar o material. Faziam desenhos com cartolinas de cores diferentes, com
figuras, ou recortes de animais, como peixes, ou frutas para ilustrar as aulas de

_______________
46
São poucos os documentos arquivados sobre a Escola Normal de Pato Branco. Muita coisa se perdeu pelo
decurso do tempo. O que fundamenta os fatos são os testemunhos de ex-alunas e de uma das professoras que
lecionou naquela escola.
47
Em respeito à privacidade de todas as entrevistadas, elas foram identificadas pelas letras do alfabeto.
117

matemática, por exemplo. Esta disciplina era apenas “decoreba” e cada aluna fazia 6
joguinhos com os recortes das cartolinas, uns salteados e outros corridos. O governo não
proporcionava nenhum material didático, era apenas o quadro-negro, giz e nada mais.
Assim, a professora deveria criar métodos de ensino. Eu era vista como “revolucionária”
pelas demais professoras, principalmente as colegas Irmãs, porque em minhas aulas
mudava o posicionamento das carteiras em sala de aula, as carteiras eram
tradicionalmente posicionadas em fileiras, mas nas minhas aulas as alunas deixavam
suas carteiras em formato de meia-lua na sala de aula.

5) QUAL ERA A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAVAM NA ESCOLA


NORMAL E DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO)?
Apenas alguns professores tinham curso superior e vinham de Curitiba, Ponta Grossa e
de São Paulo. Os demais professores só tinham o ensino médio, e também provinham
daquelas cidades. Estes professores posteriormente fizeram curso superior nas
faculdades de Palmas-PR, inclusive eu, que me formei em Pedagogia.

6) DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO) AS ALUNAS QUE


ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?
As alunas vinham de Mariópolis, Clevelândia, Coronel Vivida, São Lourenço do Oeste-
SC, Bom Sucesso do Sul, Dois Vizinhos, Chopinzinho e de Pato Branco mesmo.

7) QUAL A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NORMAL PARA A REGIÃO SUDOESTE DO


PARANÁ NOS ANOS DE 1960 E SEGUINTES?
Uma grande repercussão na formação da educação e sua história no sudoeste do Paraná,
considerando que era a única escola da região. Na disciplina de OSPB era ensinado
sobre política (no sentido de política como educação do povo). Pessoas influentes que são
políticos em Pato Branco e na região sudoeste do Paraná estudaram nas escolas
profissionalizantes nos cursos de Magistério e de Técnico em Contabilidade. Houve um
retorno muito grande para a sociedade pela implantação daquelas escolas, ainda hoje
seus ex-alunos são figuras que se destacam na sociedade por influentes profissões, como:
prefeito da cidade de Pato Branco, médicos, dentistas, deputado estadual, vereadores,
diretoras de grandes escolas, professoras, secretário do conselho municipal da ação
social, prefeitura municipal de Pato Branco.
118

O curso profissionalizante de Magistério também serviu para as alunas se prepararem


para os vestibulares da região, houve aprovação de 97% das normalistas em
vestibulares em um dos primeiros anos de implantação do curso, o que provava a
qualidade do ensino.
A repercussão do povo da região sudoeste do Paraná com o episódio da Revolta dos
Posseiros foi muito grande, foi o início da reforma agrária na região, as professoras de
geografia e história usavam aqueles fatos como exemplos nas aulas.
Para cursar o Magistério, as alunas deviam fazer vestibular48 para entrar na Escola
Normal. Durante cinco anos ininterruptos havia dois turnos na Escola Normal (diurno e
noturno), a procura era muito grande. Algumas alunas já eram mais experientes, já
lecionavam em escolas do interior dos municípios da região, eram senhoras casadas que
procuravam completar sua formação no Magistério junto à Escola Normal. Mas
também havia as alunas mais jovens que estavam ingressando na área da educação,
acabavam o ginásio no Instituto Nossa Senhora das Graças e prosseguiam seus estudos
na Escola Normal, muitas dessas alunas eram internas do “Colégio das Irmãs”, como
popularmente era conhecido, e os pais matriculavam as suas filhas para estudarem no
período diurno, porque confiavam na qualidade do ensino, bem como nos cuidados das
Irmãs com suas filhas, numa época de muito tradicionalismo. Algumas eram de famílias
muito pobres e recebiam ajuda das Irmãs.

8) POR QUE AS ALUNAS ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?


A procura pela Escola Normal era devido àquela ser a única escola profissionalizante da
época e seu funcionamento ser no período diurno, o que agradava as famílias em colocar
suas filhas moças para estudarem na escola e porque era dirigida por Irmãs, assim,
pelas questões de tradição da época, as moças estudavam de dia e recebiam os
“cuidados” das Irmãs.

9) O QUE MAIS LHE CHAMAVA A ATENÇÃO NAQUELA ESCOLA?

_______________
48
Ocorreu um equívoco por parte da entrevistada ao afirmar que para ingressar na Escola Normal havia
necessidade de prestar vestibular. Segundo a previsão dos artigos 20, alínea “e”, e 21, da Lei Orgânica do
Ensino Normal (n. 8.530/1946), para admissão ao Curso Normal, entre outras condições previstas pela lei, o
candidato deveria ser aprovado nos exames de admissão, em que, para efetivar a inscrição ao segundo ciclo do
Ensino Normal, deveria apresentar o certificado de conclusão do primeiro ciclo ou certificado do curso
ginasial e idade mínima de quinze anos.
119

A estrutura, o funcionamento, e a repercussão da Escola Normal. Fui a primeira Irmã a


vir de Curitiba para trabalhar na escola. As Irmãs que haviam chegado anteriormente
eram todas do Rio de Janeiro.

10) QUAL ASPECTO DA ESCOLA NORMAL DE PATO BRANCO QUE MAIS


INFLUENCIOU EM SUA VIDA PROFISSIONAL?
O entusiasmo, os valores da profissão e da educação, o fortalecimento das convicções de
missionária e de ser professora, o carisma pelo pobre, de doação. Pois havia uma escola
de aplicação prática para as normalistas, era a Escola São Vicente de Paulo, que
também fazia parte da Congregação das Irmãs na época, havia 30 alunos em cada sala
de aula.

11) QUAIS OUTROS ASPECTOS MAIS MARCANTES DA ESCOLA NORMAL QUE A


SENHORA GOSTARIA QUE FOSSEM REFERENCIADOS?
O valor que esta escola teve, sob a proteção de Deus e de Nossa Senhora das Graças, teve
não só no município de Pato Branco, mas de todo o sudoeste do Paraná. A gratificação
pelo trabalho gratuito, bênçãos, alegria, entusiasmo do povo. Realização do sonho de ser
missionária, de se sentir missionária onde está.

12) NAQUELA ÉPOCA HAVIA OUTRAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES EM PATO BRANCO E REGIÃO SUDOESTE? SE HAVIA, QUAIS
ERAM?
Não havia outra escola na região.
120

APÊNDICE B - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL


COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA

1.2. Segunda entrevista: “B” foi aluna da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1969 a 1972. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 18/07/2011:

01) NOME DA ENTREVISTADA: Identificada como “B”.

02) PROFISSÃO/ATUAÇÃO: Professora aposentada.

03) EM QUE ÉPOCA ESTUDOU NA ESCOLA NORMAL “DR. XAVIER DA SILVA”


EM PATO BRANCO?
De 1969 a 1972.

04) QUAIS DISCIPLINAS ERAM ENSINADAS?


Português, Matemática, História, Geografia, Ciências, Fundamentos de Educação,
Prática de Ensino, Artes, Educação Física e Estágio.

05) QUAL ERA A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAVAM NA ESCOLA


NORMAL E DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO)?
A maioria dos professores era de Pato Branco mesmo, alguns formados nas áreas que
atuavam; outros de Curitiba e alguns ainda estudavam em faculdades – Palmas;
Guarapuava.

06) DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO) AS ALUNAS QUE


ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?
Pato Branco, Palmas, Clevelândia, São Lourenço do Oeste-SC, Itapejara D´Oeste, Verê,
Mariópolis, Bom Sucesso do Sul, Chopinzinho, Coronel Vivida, Vitorino e outras.

07) QUAL A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NORMAL PARA A REGIÃO SUDOESTE


DO PARANÁ NOS ANOS DE 1960 E SEGUINTES?
Foi de muita importância, pois os professores até então não possuíam formação
específica para o magistério. A grande procura dessa formação resultava em turmas
com grande número de alunas.
121

08) POR QUE AS ALUNAS ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?


Pela preocupação dos pais em estudar as filhas em colégios de freiras de dia, também
porque era uma profissão onde as mulheres predominaram e também era a única Escola
Normal da região.

09) O QUE MAIS LHE CHAMAVA A ATENÇÃO NAQUELA ESCOLA?


Muitas coisas. O convívio com alunas de vários municípios, pessoas de várias idades,
professoras já atuando, mas sem o Curso Normal. O rigor e a disciplina, a formação
religiosa, moral, social e política, artes e teatro.
Naquela época os livros didáticos eram comprados pelas próprias alunas. Havia
material didático, como projetor de slides, quadros com fotografias, mimeógrafo, havia
também um corpo humano de plástico desmontável.
Tudo era comprado pelas alunas, como o material didático e o uniforme que era uma
camisa branca, com gravatinha, saia com pregas bordô, meias brancas e sapatos pretos.
O regimento interno era o mesmo do Instituto Nossa Senhora das Graças das Irmãs
Vicentinas, pois eram elas que cuidavam da escola, havia muito rigor. A avaliação era
através de prova escrita e oral, onde as alunas eram escolhidas aleatoriamente para
responderem perguntas oralmente junto ao professor e a turma. Havia muita
“decoreba”. No estágio supervisionado, as alunas faziam joguinhos com recortes de
bichos com perguntas atrás dos mesmos para os aluninhos pegarem os recortes e
responderem às perguntas. O estágio era muito rigoroso com orientação na postura das
alunas, vestes, entonação de voz, letra redonda ao escrever no quadro-negro, as alunas
deviam fazer um planejamento de aula para cada disciplina que iriam dar, com
desenvolvimento das atividades que iriam aplicar. As normalistas eram incentivadas a
ler muito, despertavam o gosto pela leitura, muito bem dirigida para a literatura, depois
deviam fazer resumos das leituras.

10) QUAL ASPECTO DA ESCOLA NORMAL DE PATO BRANCO QUE MAIS


INFLUENCIOU EM SUA VIDA PROFISSIONAL?
Foi muito importante, pois comecei atuar na escola logo após formada; trabalhei em
escola primária e ginasial, posteriormente fiz faculdade e pós em geografia e atuei no
ensino médio.
122

11) QUAIS OUTROS ASPECTOS MAIS MARCANTES DA ESCOLA NORMAL QUE A


SENHORA GOSTARIA QUE FOSSEM REFERENCIADOS?
A escola foi e continua sendo de muita importância na evolução da cidade de Pato
Branco e da região. A grande maioria dos professores se formou ali.

12) NAQUELA ÉPOCA HAVIA OUTRAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES EM PATO BRANCO E REGIÃO SUDOESTE? SE HAVIA, QUAIS
ERAM?
Não havia.
123

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL


COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA

1.3. Terceira entrevista: “C” foi aluna da Escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1970 a 1972. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 20/07/2011:

01) NOME DA ENTREVISTADA: Identificada como “C”.

02) PROFISSÃO/ATUAÇÃO: Professora (atuante).

03) EM QUE ÉPOCA ESTUDOU NA ESCOLA NORMAL “DR. XAVIER DA SILVA”


EM PATO BRANCO?
Estudei na escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva na 1ª série no ano de 1970, a 2ª
série em 1971, e a 3ª série frequentei até a metade do ano de 1972, depois desisti de
estudar na escola para cursar o científico à noite porque este curso preparava para o
vestibular. Eu objetivava frequentar uma faculdade e a Escola Normal era
profissionalizante, mas apenas para atuar no magistério de primeira a quarta séria do
ensino fundamental.

04) QUAIS AS DISCIPLINAS ERAM ENSINADAS?


Do núcleo comum: português, matemática básica para serem ensinadas às crianças.
Específicas: didática, psicologia, sociologia, e as práticas de aulas que iniciavam na
primeira série com observação. Depois começávamos a regência em uma sala de aula
por uma ou duas aulas e por fim trabalhávamos por dez a doze dias como professora
regente de uma única sala de aula. A professora e a orientadora do estágio assistiam
quase o dia todo as aulas que nós preparávamos e ministrávamos e faziam a avaliação.

05) QUAL ERA A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAVAM NA ESCOLA


NORMAL E DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO)?
Os professores estavam cursando faculdade em Palmas-PR, ou em outros lugares, que
faziam nas férias ou uma vez por mês49. Mas muitos desses professores vinham de
colégios de “freiras ou de padres”. Eram pessoas que desistiam da vida religiosa e
_______________
49
Eram feitos alguns cursos nas férias, não a faculdade.
124

atuavam como professores, tinham uma base de cultura e experiência muito boa. As
Irmãs Vicentinas também eram professores na Escola Normal, é claro.

06) DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO) AS ALUNAS QUE


ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?
As alunas vinham de todas as cidades da região sudoeste do Paraná e do Oeste de Santa
Catarina, como São Lourenço do Oeste. A escola era boa, tinha fama, assim, era um
privilégio estudar na Escola Normal. Os pais colocavam as filhas, na maioria internas no
“Colégio das Irmãs” para estudar. Tinha também uma Escola Normal em Francisco
Beltrão-PR, pois, desta cidade não vinha ninguém para estudar na Escola Normal.

07) QUAL A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NORMAL PARA A REGIÃO SUDOESTE


DO PARANÁ NOS ANOS DE 1960 E SEGUINTES?
A importância era grande. No interior eram só professoras leigas, tinham o 4º ano
primário mal feito e tornavam-se professoras. Então os pais mais esclarecidos e que
tinham mais posses colocavam as filhas moças para estudarem e depois de formadas
voltarem para ensinar as crianças, substituindo as professoras leigas ou ajudando, uma
vez que as escolas eram multisseriadas.

08) POR QUE AS ALUNAS ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?


Era uma escola só para moças, raramente tinha homens, era famosa como Escola
Normal e principalmente porque profissionalizava. Os professores naquela época eram
muito respeitados, pois você se tornava líder em sua comunidade. Não eram muito bem
remuneradas, mas era um salário teu. As meninas com seus 20 e poucos anos já
recebendo salário próprio naquela época era um privilégio de poucos.

09) O QUE MAIS LHE CHAMAVA A ATENÇÃO NAQUELA ESCOLA?


A disciplina e a postura que as normalistas tinham que seguir. A Escola Normal era a
“menina dos olhos” da Irmã Theresinha (sua coordenadora) e ela não admitia nada que
fosse considerado mau exemplo para os outros alunos do ginásio e do primário. Tudo
tinha que ser perfeito. Ninguém entrava nas salas de aula sem uniforme, sapatos
brilhando, bem penteadas com os cabelos presos para trás. Ela dizia que cabelos soltos
atrapalhavam. Sem maquiagem. Não podíamos usar além de um desodorante, batom
claro e perfume fraco.
125

10) QUAL ASPECTO DA ESCOLA NORMAL DE PATO BRANCO QUE MAIS


INFLUENCIOU EM SUA VIDA PROFISSIONAL?
Acho que foi essa postura correta em todos os sentidos. Prometer só o que pode ser
executado, ser jeitosa, limpa e tratar todos com igualdade, mas principalmente fazer o
trabalho com amor, perfeição e nunca desistir. Procurar métodos diferentes para
ensinar os alunos que tenham dificuldades de aprendizado.

11) QUAIS OUTROS ASPECTOS MAIS MARCANTES DA ESCOLA NORMAL QUE A


SENHORA GOSTARIA QUE FOSSEM REFERENCIADOS?
Acho que a Escola Normal atualmente perdeu os valores que tinha antigamente e
tornou-se mais “comércio”. Antigamente também as meninas pensavam em ganhar
dinheiro, mas quando entravam na Escola Normal elas eram incentivadas para
ganharem seu dinheirinho, mas principalmente para serem boas educadores e ajudarem
na formação das crianças e dos futuros cidadãos. Nós, como estudantes e futuras
normalistas, tínhamos que dar bom exemplo em tudo que fazíamos. Éramos muito
cobradas. Até na rua nossas atitudes chamavam a atenção. O jeito de falar, se vestir,
andar, etc. Talvez fosse por ser um colégio de freiras, mas era assim.

12) NAQUELA ÉPOCA HAVIA OUTRAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES EM PATO BRANCO E REGIÃO SUDOESTE? SE HAVIA, QUAIS
ERAM?
Em Pato Branco e por perto não. Acho que tinha uma Escola Normal no colégio Nossa
Senhora da Glória, em Francisco Beltrão, mas a dificuldade de comunicação era grande
e não se sabia nada uma da outra. Sei que algumas moças de sua cidade foram estudar
nessa escola em Francisco Beltrão naquela época.
126

APÊNDICE D - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL


COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA

1.4. Quarta entrevista: “D” foi aluna da escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1965 a 1967. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 13/08/2011:

01) NOME DA ENTREVISTADA: Identificada como “D”.

02) PROFISSÃO/ATUAÇÃO:
Professora/UTFPR-Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Atuo na área de
Humanas com Humanidades III, Sociologia e Meio Ambiente. Nos cursos de
Engenharia. 5.º Período. Concursada em Geografia – Ensino Médio (1993).

03) EM QUE ÉPOCA ESTUDOU NA ESCOLA NORMAL “DR. XAVIER DA SILVA” EM


PATO BRANCO?
Comecei a Escola Normal Colegial Dr. Francisco Xavier da Silva em 1965 e terminei em
1967.

04) QUAIS DISCIPLINAS ERAM ENSINADAS?


Obrigatórias: Português, Matemática, Ciências, História, Geografia.
Complementares: Fundamentos da Educação, Teoria e Prática, Educação Primária.
Optativas: Higiene e Puericultura, História da Educação, Psicologia Educacional,
Desenho.
Práticas Educativas: Artes Femininas, Música e Canto Orfeônico, Educação Física50.

05) QUAL ERA A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAVAM NA ESCOLA


NORMAL E DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO)?

_______________
50
Deve-se enfatizar que houve um equívoco por parte da entrevistada ao afirmar em seu depoimento que as
disciplinas ensinadas no período que cursou a Escola Normal (1965 a 1967) eram divididas em: obrigatórias,
complementares e optativas. Naquela época a Escola Normal estava sob o regulamento da Lei n. 4.024/61, que
previa em seu artigo 35: “em cada ciclo haverá disciplinas e práticas educativas obrigatórias e optativas”. As
disciplinas obrigatórias eram definidas por competência do Conselho Federal de Educação que devia indicar
até cinco das disciplinas obrigatórias. Aos conselhos estaduais de educação cabia completar o número de
disciplinas relacionadas ao caráter optativo. Não havia disciplinas complementares.
127

O Prof. Sittilo era de Santa Catarina, o Cesário também. Tinham sido seminaristas. A
D. Sueli Palagi era de Pato Branco, a única professora formada. As Irmãs. Irmã
Theresinha era professora e fazia umas disciplinas com a turma. A D. Maria Pegoraro
morava em Pato Branco há muito tempo.
06) DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO) AS ALUNAS QUE
ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?
Algumas internas. A Maria hoje Yamamoto era de Marmeleiro. A Irene de Francisco
Beltrão. Tinha mais duas. Havia algumas de São Lourenço, duas delas moravam com
familiares aqui para estudar. A Iva era de Saltinho, SC. Os pais eram na maioria do Rio
Grande do Sul. Não sei se havia alguma nascida aqui. Eram de cidades gaúchas. A
Sandra era de Curitiba.

07) QUAL A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NORMAL PARA A REGIÃO SUDOESTE


DO PARANÁ NOS ANOS DE 1960 E SEGUINTES?
Era a oportunidade de estudar. A opção para as moças. Os professores que serviam
vinham das famílias mais abastadas. Ao concluir a Escola Normal era como um
doutorado dos dias de hoje. Foi o topo educacional por muito tempo. Terminava-se o
curso já trabalhando.

08) POR QUE AS ALUNAS ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?


Quase a totalidade das mulheres seguia esse caminho, pois só havia o curso Normal e de
Contabilidade (masculino). Nem todas as moças estudavam. Ainda era comum: pra que
mulher estudar? Os pais seguravam em casa para o trabalho na lavoura. Os filhos
ajudavam na renda doméstica.

09) O QUE MAIS LHE CHAMAVA A ATENÇÃO NAQUELA ESCOLA?


Era uma escola religiosa. Usava-se uniforme. Uma briga quase diária com a Irmã
Helena e antes com a Irmã Irene pelo comprimento da saia. Eram tantos palmos do
chão. A gente enrolava a saia na cintura e obrigada, abaixava. Na educação Física era
um calção cheio de pregas e para baixo do joelho, mais parecia uma saia. Havia quase
um controle também nas ações fora da sala de aula. Uma das alunas tinha um namorado
que a família não queria, a irmã menor vinha junto para a sala de aula para cuidar da
moça. Formava-se um grupo, a maioria estudou por 7 anos juntas. Fizemos um jogo de
futebol de moças. Foi um sucesso: o Estádio Frei Gonçalo lotou. Uma excursão até o Rio
128

de Janeiro. Muito boa foi a viagem (1967). A volta trouxe problemas, quase custou a
formatura. No último ano era preciso fazer um enxovalzinho com todas as peças
necessárias. Os cadernos de didáticas primavam mais pelos enfeites do que pelo próprio
conteúdo.

10) QUAL ASPECTO DA ESCOLA NORMAL DE PATO BRANCO QUE MAIS


INFLUENCIOU EM SUA VIDA PROFISSIONAL?
A própria formação. O estudo para os padrões da época eram excelentes. Eu sempre fui
autodidata. Gostava de estudar. Não se tinha muito a prática educacional. A caminhada
profissional é que foi ensinando. A formação ética, a experiência de vida marcava. A
diferença econômica era trazida para dentro da sala de aula. Muitas vezes era
humilhante para as com menos posses.

11) QUAIS OUTROS ASPECTOS MAIS MARCANTES DA ESCOLA NORMAL QUE A


SENHORA GOSTARIA QUE FOSSEM REFERENCIADOS?
Estudamos, trabalhamos juntas por muitos anos. Fizemos vários concursos. Com
algumas ainda nos encontramos. Foi mantido laços de amizade, iniciado nos bancos
escolares. Alguns anos atrás quando a Irmã Irene esteve em Pato Branco foi feito um
encontro das normalistas. Como tudo que passa e marca, deixou saudade.

12) NAQUELA ÉPOCA HAVIA OUTRAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES EM PATO BRANCO E REGIÃO SUDOESTE? SE HAVIA, QUAIS
ERAM?
Em Pato Branco, não. Bem mais tarde o Logos profissionalizou as professoras sem
formação. Na região não sei. Mas deve ter tido até por necessidade.
129

APÊNDICE E - ENTREVISTA COM EX-ALUNA DA ESCOLA NORMAL


COLEGIAL DR. XAVIER DA SILVA

1.5. Quinta entrevista: “E” foi aluna da escola Normal Colegial Dr. Xavier da Silva no
período de 1960 a 1962. Segue abaixo a transcrição da entrevista concedida em 27/09/2011:

01) NOME DA ENTREVISTADA: Identificada como “E”.

02) PROFISSÃO/ATUAÇÃO:
Professora com atuação nos três níveis de ensino: fundamental, ensino médio e ensino
superior.

03) EM QUE ÉPOCA ESTUDOU NA ESCOLA NORMAL “DR. XAVIER DA SILVA” EM


PATO BRANCO?
No ano 1960 a 1962, primeira turma do Curso Normal - segundo ciclo do ensino médio e
era feito exame de admissão para ingresso.

04) QUAIS DISCIPLINAS ERAM ENSINADAS?


Português, Didática, Psicologia, Higiene, Ed. Física, Matemática, Física e Química,
Anatomia, Biologia, O.S.P., Estudos Paranaenses, Geografia do Brasil, História,
Filosofia da Educação, Desenho, Educação Doméstica e Religião, Conhecimentos Gerais.
(As disciplinas curriculares eram com base legal da Lei Orgânica de Gustavo
Capanema, sob a responsabilidade do Estado).

05) QUAL ERA A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAVAM NA ESCOLA


NORMAL E DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO)?
Curso Normal, Científico e curso de aperfeiçoamento oferecido pelo MEC, atendendo a
expansão do ensino. O maior número de professores era religioso, embora a escola fosse
pública, estava anexa ao Colégio Religioso, sob a direção da Congregação Vicentina.
Oriundos dos diversos Estados do Brasil (Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul). Os demais da própria cidade, professores.

06) DE ONDE PROVINHAM (QUAIS CIDADES DA REGIÃO) AS ALUNAS QUE


ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?
130

Pato Branco, Coronel Vivida, Chopinzinho, Itapejara D´Oeste, Barracão, Mariópolis,


Clevêlandia, Pranchita, São Lourenço do Oeste, Campo Erê. Já que foi a primeira
Escola Normal da região Sudoeste do Paraná.
07) QUAL A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NORMAL PARA A REGIÃO SUDOESTE
DO PARANÁ NOS ANOS DE 1960 E SEGUINTES?

Relevante, porque qualificou os professores já atuantes em sala de aula na educação


básica em número de 40% que eram leigos, melhorando a qualidade de ensino-
aprendizagem. A criação de um maior número de Escolas Normais deve-se ao aumento
da clientela que as procuravam, considerando o crescimento quantitativo da escola
básica, fruto do desenvolvimento econômico, social e político do país, a partir dos anos
de 1950.

08) POR QUE AS ALUNAS ESTUDAVAM NA ESCOLA NORMAL?


Os avanços trazidos pela modernização dos anos 50 tiveram como consequência a
mudança de comportamento social, proveniente das camadas populares que passaram a
frequentar os cursos de formação do magistério, dando assim uma oportunidade
profissional. A antiga Escola Normal frequentada pelas mulheres das classes
privilegiadas que a buscavam como preparação para a função materna deixa aí de
existir. Como havia um número muito grande de professores leigos atuando em escolas
rurais no interior dos municípios da região, a Secretaria de Estado da Educação criou o
Logos I (que correspondia ao ginásio) e o Logos II (que correspondia ao magistério),
cuja função do curso era a qualificação dos professores leigos que já eram nomeados
pelo Estado e pelos municípios, a partir do final dos anos de 1960.

09) O QUE MAIS LHE CHAMAVA A ATENÇÃO NAQUELA ESCOLA?


A escola sob a administração religiosa da Congregação Vicentina imprimiu uma
formação ética e moral, o domínio do processo do conhecimento voltado na direção de
um profissional competente, com sólida formação nos conteúdos, crítico e apto à
compreensão do universo da criança e a sua realidade social.

10) QUAL ASPECTO DA ESCOLA NORMAL DE PATO BRANCO QUE MAIS


INFLUENCIOU EM SUA VIDA PROFISSIONAL?
131

A formação ética e moral compatível com o exercício da cidadania, a compreensão do


mundo do trabalho; a capacidade de intervenção na realidade social, na qual pautei
minha vida profissional ao longo dos anos, nos cargos que ocupei (professora de ensino
fundamental, professora de ensino de segundo grau na própria Escola Normal onde
estudei, após a formação nos cursos de Filosofia e Pedagogia com as habilitações de
supervisão e administração escolar, como professora nas disciplinas de História da
Educação, Filosofia da Educação e Sociologia), como professora do Estado do Paraná,
professora de ensino superior, presidente da fundação de ensino superior de Pato
Branco, mantenedora da faculdade de Ciências e Humanidades de Pato Branco, a qual
foi incorporada em 1993 ao Centro Federal de Educação Tecnológica – CRFET – do
Paraná, tornando-se a primeira Universidade Pública Federal do interior do Estado do
Paraná.

11) QUAIS OUTROS ASPECTOS MAIS MARCANTES DA ESCOLA NORMAL QUE A


SENHORA GOSTARIA QUE FOSSEM REFERENCIADOS?
O pioneirismo, o empenho das religiosas Vicentinas para consolidação da Escola Normal
e a filosofia Vicentina, tendo como princípio: amor ao próximo, respeito ao ser humano
e a caridade cristã.

12) NAQUELA ÉPOCA HAVIA OUTRAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES EM PATO BRANCO E REGIÃO SUDOESTE? SE HAVIA, QUAIS
ERAM?
Não. Só a partir de 1969 foi criada a faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em
Palmas-PR, a qual ofereceu na época os cursos de: Filosofia, História, Letras e
Pedagogia.
132

ANEXO - EMENTA DAS DISCIPLINAS ENSINADAS NO COLÉGIO ESTADUAL


JOSÉ DE ANCHIETA51

Biologia Educacional – I – Conceito de Biologia Educacional, Objetivos de Estudos


da Psicologia Educacional;
Unidade II – Genética, Unidade III – A 1ª Lei de Mendel, Unidade IV – Mesologia,
Unidade V – Infecções (infantis).
Biologia Educacional – Unidade I – Imunidade, Unidade II – Infestações, Unidade III
– Higiene física do escolar, Unidade IV – Higiene intelectual e moral do escolar (recreios,
horas de lazer, fadiga cerebral, recompensa e punições, higiene mental do escolar.
Disciplina – Formação Especial – Magistério, Psicologia Geral e Educacional (1ª – 2ª
e 3ª séries):
Unidade I – Psicologia, Unidade II – Fenômenos Psíquicos, Unidade III –
Consciência, Unidade IV – Personalidade, Unidade V – A base humana dos fenômenos
psicológicos.
Unidade I – Psicologia genética ou infantil, Unidade II – A infância, Unidade III –
psicologia do adolescente, Unidade IV – Desenvolvimento mental e emocional do
adolescente, Unidade V – Desenvolvimento social do adolescente. Unidade I – Psicologia da
aprendizagem, Unidade II – Distúrbios na aprendizagem, Unidade III – Diferenças
individuais, Unidade IV – Ajustamento social e pessoal, Unidade V – Avaliação da
aprendizagem.
Disciplina – Sociologia Educacional: Unidade I – Sociologia, Unidade II – Posição do
homem na sociedade, Unidade III – Mudança social, Unidade IV – Educação como processo
social, Unidade V – Educação e estrutura social, Unidade VI – desenvolvimento e educação.
Disciplina: Filosofia da Educação: Unidade I – introdução aos estudos filosóficos,
Unidade II – As grande categorias do pensamento filosófico, Unidade III – Posições
filosóficas no mundo atual. Disciplina: História da Educação, Unidade I – A educação através
do tempo, Unidade II – Fases da educação brasileira, Unidade III – Realidade educacional
brasileira e paranaense. Disciplina: Estrutura e funcionamento do ensino de 1º Grau. Unidade
I – Estrutura administrativa do ensino de 1º Grau no Brasil, Unidade II – Legislação do ensino
de 1º grau, Unidade III – Formação de professores e especialistas, Unidade IV – Currículos da
escola de 1º grau e sua diversificação, Unidade V – a administração escolar e a supervisão nas
_______________
51
Documento encontrado no arquivo do Colégio Estadual de Pato Branco, [19--], p. 94.
133

escolas de 1º grau. Disciplinas: Estatística educacional: Unidade I – Noções de estatística,


Unidade II – Levantamento estatístico, Unidade III – Representações gráficas, unidade IV –
Medida de posição, Unidade V – Medidas de dispersão. Disciplina: Didática Geral: Unidade I
– Objetivos educacionais e a didática, Unidade II – Métodos e técnicas de ensino, Unidade III
– Planejamento de ensino, Unidade IV – Motivação, Unidade V – Fixação e verificação da
aprendizagem, Unidade VI – Material didático. Disciplina de Didática: Unidade I –
Alfabetização, Unidade II – Didática de leitura, Unidade III – Didática de escrita, unidade IV
– Didática de redação, Didática – Unidade I – A matemática no ensino fundamental, Unidade
II – O desenvolvimento do raciocínio na escola fundamental, Unidade III – Planejamento de
matemática, unidade IV – Primeiros conceitos matemáticos, Unidade V – Sistema de
numeração, Unidade IV – operações fundamentais, Unidade VII – Números racionais,
Unidade VIII – Sistema monetário brasileiro, Unidade X – Geometria no ensino fundamental,
Unidade I – Estudos Sociais no Currículo da Escola Fundamental, Unidade II – Conteúdo
programático de estudos sociais no ensino fundamental, Unidade III – Técnicas e recursos
didáticos utilizados em estudos sociais. Unidade IV – Avaliação da aprendizagem em Estudos
Sociais, Unidade V – Confecção de materiais como sugestão para as aulas práticas. Didática:
Didática especial de Ciências, Unidade I – Ciências no Currículo da escola de 1º grau,
Unidade II – Conteúdo programático de ciências de 1ª a 4ª série do 1º grau, Unidade III –
Técnicas e recursos didáticos utilizados em ciências, Unidade IV – Avaliação da
Aprendizagem em Ciências.

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